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A Arte do Sopro Desvendando a técnica dos instrumentos de bocat por J. Angelino Bozzini pea ANO 2.006 Gopal bylbArzaiy 10 Bozzin reitos resorvados MPRESSO NO. KEYBOARD EDITORA MUSICAL LTDA. POSTAL 300 JUNDIAI-SP CEP 13201-970 Site: Keyboard.art.br O apoio Para executarmos um instrumento musical necessitamos de uma energia muito maior do que aquela que utilizamos para falar ou respirar normalmente. Se quiséssemos que nosso diafragma fizesse todo o trabalho estariamos sobrecarregando-o, Precisamos entiio dar um apoio a sua atuagdo. Sobre o apoio tem-se escrito coisas muito controvertidas, mas, se entendermos como ele funciona, nao serd dificil aprender a usé-lo de maneira correta e eficaz, Quando tentamos empurrar um mével muito pesado, onde a forga dos nossos bragos no ¢ suficiente, geralmente procuramos apoio numa parede. Nesse momento, fazemos forga em dois sentidos opostos: armario <=: —O—* ‘> parede Esse ¢ 0 principio da alavanca. Como a parede é fixa, deslocamos 0 armario utilizando a forga de uma forma mais equilibrada, pois a forga aplicada contra a parede fixa “volta” no sentido do armario, (Lembrant-se da frase daquele herdi mitologico que disse ser capaz de levantar o mundo com uma alavanca?) Oapoio do diafragma funciona da mesma maneira, s6 que a parede que usamos éaparede abdominal, Enrijecendo os masculos da parede abdominal temos um apoio suficiente para o diaftagma durante a expiragdo. Se observarmos a musculatura abdominal de um bom instrumentista de sopro, veremos que ela ¢ forte como uma “parede”. Af reside o segredo ea base da execugao dos instrumentos de sopro! ay, > Ga o jaan Figura 4 ~ Para apoiara coluna de ar, devemos inspirar pensando em enviar o ar na diregio do umbigoe “sustenté-la” coma cintura muscular mais os musculos da regio inguinal Devemos ficar com a barriga sempre dura quando tocamos? ‘Tocar um instrumento de sopro é uma tarefa muito mais sutil do que empurrar armérios, Um armério tem um peso fixo que nfo se altera enquanto o estamos empurrando. Jé, numa frase musical, cada nota, dependendo de sua altura ou intensidade, requer uma energia 7 A Arte do Sopro Desvendando a téenica dos instrumentos de Bacal ‘Nenhuma parte deste livro poderd ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios: eletrSnico, fotografico, gravacao ou quaisquer outros sem a permissao explicita por escrito do autor, J. Angelino Bozzini Bozzini, J. A. A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal. Jundiai, S40 Paulo: Keyboard Editora Musical Ltda, 2.006, p41 Didético/Pedagégico ISBN n°: 85-86981-26-5 Copyright © 2.006 by Keyboard Editora Musical Ltda., Todos 0s direitos reservados _ R. Rangel Pestana 1044 - Jundiai - SP - SP CEP: 13201-000 E-mail: editkey@terra.com br Editoracio Helofsa Carolina Godoy Fagundes Marcelo Dantas Fagundes Capa Plano 1 Figuras J. Angelino Bozzini Editado e Impresso por Keyboard Editora Musical Ltda. Registrona Fundacao BIBLIOTECA NACIONAL MINISTERIO daCULTURA ESCRITORIOS de DIREITOS AUTORAIS N®: 85-86981-26-5 Autor: J. Angelino Bozzini Titulo da Obra: A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal, Caro estudante de Mdsica: Este livro foi propositalmente encadernado com espiral visando seu manuseio em suportes especificos para o estudo da musica e/ou para os suportes existentes em instrumentos musicais como o piano ou teclado, evitando assim, o inconveniente que os. livros em brochura apresentam, como por exemplo, o fechar de suas paginas durante o seuestudo, Sobre o Autor José Angelino Bozzini iniciou seus estudos de piano com a Prof. Maria Luiza Damico em 1970. Ingressou na Escola Municipal de Miisica em 1972 estudando violino com 0 Prof. George Salim e trompa com o Prof. Enzo Pedini Comegou 0 curso de Composigdo na Universidade de Sao Paulo em 1975 transferindo-se para a Nordwestdeutsch Musikakademie Detmold , na Alemanha em 1976, onde concluiu 0 curso de Licenciatura em musica ¢ bacharelou-se em trompa com o Prof. Michael Héltzel. Integra desde 1982 a Orquestra Sinfonica Municipal de Sao Paulo. Participou de diversos festivais nacionais ¢ internacionais de musica Foi professor de técnicas de reparo de instrumentos musicais no projeto Pré- Bandas da FUNARTE, Foi professor do Festival de Mitsica de Londrina e do Festival de Inverno de Saio Jodo Del Rey e Campos (RI). Foi 0 primeiro colocado de trompa no concurso “Jovens Instrumentistas da Misica Brasileira” promovido pela Funarte em 1983. Participa de varios grupos de camera como o “Grupo Alamo” (sexteto de trompas), o Quinteto de Metais da OSM e a banda renascentista PARAPHERNALIA. Tem realizado intimeros recitais com piano e outras formagées. Foi regente de diversas orquestras infanto-juvenis, entre elas a da Escola Waldorf Rudolf Steiner de Sao Paulo. Executou intimeras primeiras audiges de pecas originais para trompa de compositores brasileiros. ‘Vem trabalhando em parceria com a firma Weril no aperfeigoamento das trompas por ela produzidas. Paralelamente exerce uma intensa atividade pedagogica e de articulista, sendo colaborador de Revista Weril ha mais de 20 anos. Caro estudante, ‘Novamente numa parceria bem sucedida entre a Keyboard Editora Musical ea Weril Instrumentos Musicais, langamos este maravilhoso livro “A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal” com 0 mesmo sucesso da Colegio DA CAPO; 12 livros para os Instrumentos de Banda, colegio esta que dispensa apresentacdes € que mudou o cenério da Pedagogia Musical no Brasil Hoje as principais escolas de musica do pais utilizam esta colegao brilhantemente escrita pelo maestro Joel Luis Barbosa Nao tenho diividas que este novo langamento, “4 Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal”, escrito por J. Angelino Bozzini, também terd 0 mesmo sucesso. Com uma linguagem dinamica ¢ de facil compreengdo, 0 autor Ihe apresentard todas as dicas para executar seu instrumento de sopro com consciéncia, técnica, beleza principalmente uma sonoridade propria e de destaque Espero que este novo titulo o ajude a resolver aquelas pequenas dificuldades encontradas durante o aprendizado musical, Ihe proporcionando uma leitura muito prazerosa Com certeza estaremos sempre buscando novos titulos que Ihe ajudardo a se tornar um miisico profissional com uma carreira brilhante. Visite sempre o site da Weril (www. weril.com.br) e também o site da Keyboard Editora Musical (www: keyboard art br), para conhecer as novidades do mundo da misica. Desejo-Ihe uma excelente leitura. Maestro Marcelo Dantas Fagundes 0 editor Sumario Introducdo Qual omodo correto? Todos enenhum! ..., Existe uma formula magica? As partes do sistema Odiafragma -a fonte de energia Acoluna dear -0 condutor daenergia Os labios - 0 corpo vibrante Bocal - um pré-amplificador O corpo do instrumento- uma “corda de ar” vibrando por simpatia ‘A campana ou pavilhao - a amplificagdo final do som... Arespiragdo Respiragao, fonte da vida Devemos aprender uma coisa que jé fazemos?.. Como funciona a respiragio Qual a methor forma de respirar? A respiragdo na execugo musical Oapoio Devemos ficar com a barriga sempre dura quando tocamos?. Como aprender a usar corretamente a respiragaio e 0 apoio? A pratica da respitacio.... “Desaprender” para aprender O fortalecimento da musculatura Perdendo a barriga ... Afinandoacintura Inspiragdio X expiracao Em quantos dias se faz 0 miisico Enahoradetocar? O funcionamento da embocadura A embocadura - o gerador de som ............ Como colocar os labios em vibragiio? ‘A técnica da pressto Aitéenica do sorriso O que seria o ideal? ww 12 we 12. 13 13 we 4 14 14 14 15 15 16 oo 16 17 AT ww AB Como desenvolver os masculos da embocadura? A preparagao muscular ‘Um espelho e maos a obra ‘A primeira vibragio ‘Obocal entra na historia .... Descobrindo 0 instrumento Funcionamento e importincia do uso correto da lingua O queso mais importante? Para que serve a lingua? Potencidmetro musical Lingua X garganta Graves, médios e agudos - em um sé alto-falante Qual o porqué de tudo isso? Ealingua nessa historia? Oataque Exercicios praticos para o desenvolvimento e controle da lIfngua ...... As fung6es da lingua aatunnnT Orelaxamento - como preparagiio 20 desenvolvimento da lingua A lingua como reguladora da presto Controlando a pressio na pratica A lingua como controladora da passagem do ar Efeitos especiais na execug§o ‘Técnica como expresso X téenica como matabarismo ... Efeitos X técnica de base Ovibrato Como executar 0 vibrato? A respiragdo permanente Arespirago continua na pratica Conhecimento nunca é demais Preparativos de viagem Por onde comegar? A técnica basica ‘A individualidade de cada instrumento Completando a formagiio Sem desculpas Bibliografia Introduc§jo Desde a idealizag&o dos primeiros instrumentos de sopro pelo homem pré- historico até os dias de hoje a técnica de execuedo evoluiu muito. Porém, as leis da fisica que possibilitam o fenémeno do som e a quais 0 funcionamento do nosso corpo esta sujeito continuam as mesmas. O que mudou é a nossa compreensdo sobre elas e a forma de aplica~ -las. Um instrumentista de sopro hoje tem ao seu dispor a consciéncia conquistada por incontaveis geragSes de individuos que. apés descobrirem que era possivel produzir-se um som soprando-se num tubo de bambu, numa concha, num chifre ou numa folha entre os dedos, comegaram a construir a linguagem da Miisica. Podemos dizer que a origem da Miisica acontece nos primeiros momentos da origem do homem como ser social e, hoje, ¢ impossivel conceber-se a espécie humana sem a linguagem da Masica. Da mesma forma que o aparelho fonador teve de evoluir ¢ adaptar-se aos requisitos fonéticos da linguagem humana que se forjava, assim também os instrumentos musicaise a forma de tocé-los teve de evoluir para atender & evolugdo da linguagem da Masica. No caso dos instrumentos de sopro de bocal prevaleceu por muito tempo uma_ técnica baseada na forma mais intuitiva de se produzir um som: pressionar 0s labios contra obocal e soprar com vigor através deles, Se dermos um instrumento de bocal a alguém que nunca tocou e pedirmos para que tente emitir um som com certeza essa vai ser a primeira forma experimentada. Anos de estudo podem melhorar a aparéncia de esforgo exagerado que esse tipo embocadura produz na face da pessoa que o emprega, mas ndo muda o principio: a forga. E claro que para se produzir um som é necessdria uma energia que vem do trabalho de nossa musculatura; a questdo é: quanta energia é necessaria? Vamos abordar a seguir os principios basicos da técnica dos instrumentos de sopro, principalmente os de bocal, segundo a escola chamada de “baixa presséo”! Ela nao tem um criador unico ¢ € fruto da pesquisa de varios misicos, principalmente no pés-guerra, que buscavam uma forma de se obter um desempenho maior em seus instrumentos (solicitado pela linguagem do Jaz ¢ pelas grandes orquestras que se consolidavam entio), mas com um esforgo reduzido, que no colocasse em risco 0 fisico do instrumentista, e possibilitasse um controle maior sobre o instrumento. ‘Na prtica, femos hoje em dia uma série de escolas diferentes coexistindo simultaneamente. Oassuntoé bem controvertido. Enquanto, por exemplo, adeptos de uma determinada escola postulam que os masculos abdominais devem ser projetados para fora no momento da execugao, os de outra “escola” dizem que eles devem contrair-se para dentro. Enquanto uns dizem que os labios devem ser esticados como num sorriso, outros acham que eles devem ser arredondados como num beijo. Em inglés conhecia por ‘non pressure ' gm pressio, a quo é um equivoso de nomenclatura, pois se nfo houvesse pressfo alguma oa sari pelas lterais das labios. im 4 Arte do Sopro~Desvendando aitéenica dos instrumentos de Bocal Qual 0 modo correto? Todos e nenhum! Cada tipo de postura facilita a execugo do instrumento em alguns aspectos, ¢ dificulta em outros. A atitude mais adequada, portanto, é a de se saber a flngdio exata de cada uma das partes de nosso corpo e do instrumento implicadas no ato da execugao e quais efeitos elas produzem alterando-se a forma de empregé-las. Existe uma Formula Magica? Muitos instrumentistas de sopro passam a vida atrés de uma formula magica que 08 faga dominar seu instrumento: um bocal “que vende nos Estados Unidos”, uma “pomada alema”, um “método suigo”, um banho de deo no instrumento, etc, ete, etc. Uma série de esperangas seguidas por desilusdes que, freqiientemente, terminam em afirmagdes do tipo: “se eu tivesse os labios de fulano”, “ se minha arcada dentiiria fosse de tal modo” ou, a pior de todas: “eu nao nasci pra isso!”. Mas alguns conseguem achar a formula; ¢ ela é muito simples: conheeimento + trabalho. Sé isso! Um conhecimento profundo do nosso corpo e do nosso instrumento (que pode as vezes ser substituido pela intuigdo) aliados a um trabalho constante e diligente é a formula magica que tantos procuram e que poderd fazer com que qualquer pessoa normal (e mesmo com alguns problemas — quem ndo os tem?) domine seu instrumento. A base do conhecimento estara aqui, 0 trabalho fica por sua conta! As partes do Sistema ‘Vamos, primeiramente, analisar como funciona um instrumento de bocal e compari-lo.a outros sistemas sonoros. O Diafragma - A fonte de energia Para que exista som, € necessario que alguma forga coloque algum corpo em movimento, Este, por sua vez, transmite suas vibragdes para o ar; as vibrag6es do ar fazem com que.a membrana de nossos timpanos entre em vibragao; essa vibragaio ¢ transmitida pelo nervo auditivo para o nosso cérebro que decodifica e processa esses sinais, Esse é, em poucas palavras, © esquema de funcionamento de qualquer sistema sonoro, Essa forga inicial pode ter varias origens dependendo do sistema, Num tambor ela vem da forga produzida pelos musculos do brago do instrumentista; num 6rgao eletrOnico ela vem da energia elétrica que aciona os geradores de soim, num érgo de tubos ela vem da energia produzida pelo compressor de ar e assim por diante. J. Angelino Bozsini Nos instrumentos de sopro a energia que os fard soar origina-se num musculo em forma de clipula situado entre o trax e 0 abdémen chamado diafragma. Esse misculo, auxiliado por uma série de outros envolvidos no processo respiratorio, ¢ o gerador de forga dos instrumentos de sopro. O bom funcionamento do diaftagma e seus auxiliares 6 0 fundamento da téenica de qualquer instrumento de sopro. A coluna de ar ~ 0 condutor da energia Dificilmente a fonte geradora de energia atua diretamente sobre o corpo que ira vibrar. No caso do tambor, por exemplo, a forca do musculo do brago ¢ transmitida & “pele” do instrumento através da baqueta; no caso do orga eletrénico a energia elétrica é transmitida pelos fios; num violino, pelo arco; ¢ etc. No caso dos instrumentos de sopro a energia produzida pelo diafragma e seus auxiliares, é transmitida até os labios por uma coluna de ar delimitada pelos canais do nosso sistema respiratorio. Ou seja, 0 ar que estd em nosso corpo, entre a base dos pulmées e nossos labios, a0 ser empurrado para fora passando entre nossos labios, funciona de maneira anéloga ao arco de um violino passando pelas cordas. Os l§bios ~ O corpo vibrante Em qualquer sistema sonoro, existe um ou mais corpos fisicos que vibram. No tambor é a “pele”; no violino sdo as cordas; num érgao eletronico ¢ 0 cone do alto-falante; numa clarineta é a palheta e assim por diante. Nos instrumentos de metal 0 que vibra so os labios. Bocal - Um pré-amplificador Geralmente, na maior parte dos sistemas sonoros, 0s corpos que vibram no tém poténcia suficiente para gerar um som forte o bastante para serem utilizados praticamente como instrumentos musicais necessitando, portanto, de uma amplificagdo. A maneira mais natural que existe de se amplificar um som é a de fazé-lo ressoar dentro de um espago semi- fechado. Assim, temos nos tambores a caixa de ressondincia formada por suas laterais; num violino, temos 0 corpo do instrumento funcionando como caixa de ressondncia para as cordas; num instrumento eletrénico temos a caixa-acistica funcionando como caixa de ressonédneia para os alto-falantes, e ete. Num instrumento de metal a situago é um pouco mais complexa. Podemos dividir 0 ressoador em trés partes: a érea intema do bocal, a dtea interna do corpo do instrumento e do pavilhao, Analisando-se o sistema como um todo podemos considerar ainda a cavidade formada pela boca e garganta como um quarto ressoador. © bocal funciona como uma espécie de “pré-ressoador”, ou pré-amplificador. O som produzido pela vibrago dos labios coloca em vibrag&o primeiramente o ar contido na caixa de ressondncia formada pela taga do bocal que depois, passando pelo orificio interno do bocal, coloca em vibragao o ar interno do corpo do instrumento. B A Arte do Sopro -Desvendando a téenica dos nstrumentos de Bocal O corpo do Instrumento Uma “corda de ar’ vibrando por simpatia A maneira mais ficil de compreender 0 que acontece dentro de um instrumento de metal ¢ a de imaginar a coluna de ar em seu interior como sendo uma “corda de ar”. Alids, seu comportamento muito semethante ao de uma corda. Se vocé abrir a tampa de um piano , abaixando o pedal da dieita, cantar uma determinada nota dentro de sua caixa de ressondncia, podera observar que.a corda correspondente 4 nota que vocé cantou estard vibrando, Se voce cantar uma nota bem grave poderd notar que além da nota que vocé cantou também estarfio vibrando uma série de notas acima dela - ¢a chamada série harménica. A série harménica esté para.o som, assim como o arco iris esta para a luz, é um fendmeno fisico, que se manifesta em todo corpo que vibra. Quando os seus labios vibram, acontece algo semelhante a quando vocé canta dentro do piano: a “corda de ar” existente dentro do instrumento vibra por simpatia a partir das vibragdes de seus labios. A campana ou Pavilhgo - A amplificagio final do som A tiltima parte cOnica do instrumento, que corresponde a 50% do comprimento de um trompete, 39% de um trombone, e 28% de uma trompa é.a principal responsdvel pelo timbre do instrumento ¢ pela amplificagao final do som que foi produzido pelos labios. Prova disso é que introduzindo-se uma surdina no pavilhdo de um instrumento altera~se drasticamente seu timbre e volume sonoro, praticamente sem interferir em sua afinacdo Juntando-se as pegas vocé pode ir se conscientizando do funcionamento desse complexo sistema que se inicia no seu diafragma, ¢ termina na saida do pavilhao de seu instrumento (pode-se mesmo dizer que esse sistema termina nas paredes da sala onde voce esta tocando). ‘Vamos agora analisar em detalhe cada uma das partes desse sistema. A Respiraggo Respiracio, fonte da vida Oato de respirar ¢ condigao primeira para que haja vida de qualquer espécie. Em muitas Jinguas as palavras que designam o ser humano ou sua esséneia esto diretamente ligadas aArrespirago. Namnossa vida agitada de hoje em dia muitas vezes nos esquecemos da importéincia, doato de respirar, ¢ muito comum até ouvirmos a frase “ndo tenho tempo nem para respirar!”. Mas, quem quiser usar sua respirago para tocar um instrumento de sopro tera de ficar atento sua respiragdo, aprendendo a usi-la primeiramente para viver de forma saudavel e, entdo, para tocar seu instrumento. “ J. Angelino Bozzini Precisamos aprender algo que {4 fazemos? Todas as pessoas e animais nascem sabendo respirar da melhor maneira posstvel. Infelizmente, todas as repreensdes, frustragdes, tensdes ¢ medos por que passamos ¢ desenvolvemos durante 0 nosso crescimento agem diretamente sobre nossa respiragao de forma negativa, bloqueando o fluxo natural de nossa energia respiratoria, Podemos ouvir um bebé chorando ou um cachorro latindo a uma distincia muito grande; ja para muitos instrumentistas ou cantores conseguirem se fazer ouvir por alguma pessoa sentada na ultima fila de um teatro parece ndo ser uma tarefa tio facil. A tnica solugao para recuperar aquelas habilidades que nés jé possuimos um dia e perdemos sera aprendermos novamente como respirar de uma forma mais natural e efetiva. Como funciona a respiraco principal misculo responsavel pela respiragao ¢ o diafragma. Esse misculo, em forma de ab6bada, esta localizado horizontalmente na parte inferior da caixa torécica logo abaixo dos pulm6es, separando o térax do abdomen, Quando inspiramos, ele faz um movimento para baixo, aumentando a area dos pulmées, Esse aumento da area dos pulmdes provoca uma diminuigdo interna da pressao do ar, o que faz com que o ar que esta do lado de fora, com uma pressdo maior, entre nos pulmes. Quando expiramos, ocorre 0 processo inverso: 0 diafragma comprime o ar que esti nos pulmées, provocando um aumento da pressdo interna que expulsa oar. A essa respiragdo, damos o nome de respiragdo abdominal, Figura 1 ~Localizagio do diafragma ‘Figura 2 - Localizago do diafragma em relagdio aos (1) pulmes, (2) figado e (3) estomago Existem ainda duas outras formas de respiragdo: a intercostal ea clavicular. Na intercostal, também chamada de torécica, provocamos o aumento da érea intema dos pulmdes, afastando lateralmente as costelas. Na clavicular, também chamada de toricica superior, provocamos o aumento da Area interna dos pulmées elevando-se a clavicula, o esterno ¢ as costelas superiores 18 A Ante do Sopro- Desvendando a éenica dos instrumentos de Bocal Qual a melhor forma de respirar? Para a execugao dos instrumentos de sopro a forma mais indicada ¢ a abdominal, porque através dela: 1 ~ Conseguimos utilizar a maior parte da capacidade respiratéria do pulmao (60% a 70%), 2 Conseguimos um maior controle na expiragio. A forma intercostal é muito utilizada no canto e no teatro, porque aumentando- sea caixa toracica aumenta-se a area de ressonancia para voz, A forma clavicular ¢ a mais anti-natural e a mais prejudicial. E ela que requer 0 maior esforgo fisico de todas, utiliza um minimo da capacidade do pulmao (10% a 15%) e permite um controle minimo da expiragao. Além disso, a respiragdo clavicular provoca uma tensdo muito grande na regido dos musculos do pescogo. Infelizmente, é essa respiragdo que ‘vemos muitas vezes ser ensinada em aulas de educago fisica e constatamos nos desfiles de bandas e fanfarras. Inspiragio Expiragio — Espinha Diafragma 7 Figura 3 ~ As fases da respiragdo A tespiraco na execugjo musical Ohomem, pela sua evolucdo, esté perfeitamente adaptado para andar ereto, 0 que no impede que existam acrobatas. Podemos fazer uma analogia disso com a respiragao. Onosso sistema respiratério esta perfeitamente adaptado para a fonagdo e para suprira demanda natural de ar do ser humano. Porém, se quisermos usé-lo para a execucdio de instrumentos musicais, deveremos submeté-lo a um treinamento adequado, caso conirario, correremos 0 risco de “quebrar a cara”, como alguém que quisesse fazer acrobacias sem um treinamento prévio, Para isso devemos trabalhar conscientemente cada aspecto envolyido no sistema respiratdrio. 6 J. Angelino Bozsini diferente para a sua execugdo, Poresse motivo, a tenso dos misculos abdominais deve variar segundo o trecho executado, Em via geral, vale a seguinte regra: 0 apoio é proporcional & altura e intensidade de uma nota, ou seja, quanto mais forte ou mais aguda uma nota, maior 0 apoio que ela necessitara, Podemos representar isso graficamente, da seguinte forma grave médio agudo © apoio (+) pp mf ff No caso de uma nota grave no fortissimo ou de uma nota aguda no pianissimo prevalece o elemento que necessita de maior apoio, no caso o fortissimo ou o agudo; ambas necessitardo, portanto, de um grande apoio. Como aprender a usar corretamente a respiragdo ¢ Oo apoio? primeiro, paso para isso é tomar consciéncia de como funciona todo 0 processo da respiragio e do apoio. © segundo ¢ exercitar individualmente cada misculo implicado no proceso Vejamos agora uma série de exercicios para o desenvolvimento do diafragma e dos masculos abdominais e sua aplicagao pritica na execucdo de trechos musicais. A pratica da respiraggo Como desenvolvera musculatura implicada no processo da respiragao “Desaprender” para aprender primeiro passo do nosso treinamento sera o de tentarmos livrar nosso corpo das tensdes ¢ condicionamentos errdneos que impedem o correto funcionamento dos miisculos. O exercicio mais simples para isso ¢ 0 de relaxamento por contraste. 1. Deite no cho ou sobre uma superficie dura com a barriga para cima e os bragos ao longo do corpo 2. Contraia com a maior forga possivel os dedos do pé direito por alguns segundos € depois relaxe-os completamente. 3. Faga o mesmo com os misculos do pé, depois com a barriga da pemna, a coxa e, assim, sucessivamente, trabalhando com cada grupo de musculos até chegar A nuca. J. Angelino Boscint Normalmente € muito dificil termos conscigncia que estamos tensos, porém, se contrairmos fortemente um miusculo além de sua tensio normal, sera facil sentirmos 0 contraste entre o estado de tensio e o de relaxamento. Nas primeiras vezes que vocé praticar 86 sera possivel trabalhar com blocos de miisculos; com a pratica, vocé sera capaz de trabalhar com cada misculo individualmente. Esse é um exercicio basico de relaxamento; em livros especializados voeé poder encontrar outros ou até mesmo inventar seus proprios. No comego, Procure praticar num lugar calmo, de preferéncia ao acordar ou antes de dormir; com o tempo voc poder praticar 0 relaxamento a qualquer momento do dia, mesmo enquanto esta tendo outra atividade. O Fortalecimento da Musculatura Quando voeé comegar a se sentir mais leve e descontraido, est na hora de ‘por seus: musculos a trabalhar. O primeiro misculo a ser fortalecido é 0 diafragma. Vejamos alguns exercicios: 1. Depois de uma sesstio de relaxamento, deitado no chao coloque um livro grande e bem pesado sobre o abdémen e respire lenta e profandamente. — Nao tente forgar a respiragdo, deixe que seus misculos movimentem-se por conta propria, Concentre-se somente na sensagao do ar entrando ¢ saindo de seus pulmdes. 2. Sentado ou de pé, inspire profundamente. — Expire pronunciando um longo sssssssss, intenso e regular. ~ Tente ser o mais constante possivel. 3. Coloque uma vel acesa a um metro de distancia. ~ Inspire profundamente. ~ Expire dirigindo 0 sopro para a chama da vela, tentando manté-la inclinada pelo maior tempo possivel — Em cada nova tentativa tente afastar um pouco mais a vela 4, Inspire profundamente. — Expire pronunciando uma sequéncia de sss sss sss ss$ sss, como se vocé estivesse imitando uma bomba de encher pneu de bicicleta 5, Relaxe bem a musculatura abdominal ~ Inspire e expire rapidamente pela boca como se voce estivesse imitando um cachorro ofegante. — Arespiragao deve ser rapida e regular. Vocé pode variar esses exercicios de varias formas, o importante é que vocé se concentre em duas coisas: na intensidade e na regularidade do movimento. rt A Arte do Sopro- Desvendando atéenica dos instrumentos de Bacal Perdendo a barriga ‘Como dissemos na sesso anterior, a musculatura mais importante para o apoio €ada parede abdominal, Exercitando esses muisculos vocé melhorara sua execucdo além de diminuir sensivelmente a flacidez de ‘sua barriga (se esse for 0 seu caso! ©). 1, Deitado de costas no chao, as maos cruzadas sob a nuca, erga lentamente 0 tronco sem Ievantar as pernas do chao até ficar sentado ~ Volte lentamente & posig&o inicial 2. Namesma posigao do exercicio anterior, erga as pernas lentamente até um dngulo de vinte ou trinta graus do solo — Mantenha-se nessa posigo por algum tempo e volte lentamente & posigdo inicial. 3. De pé ou sentado, contraia a barriga para dentro com muita forga por uns seis segundos — Relaxe. Afinando a cintura Outros muisculos muito importantes para 0 apoio s8o os miisculos laterais do abdomen. 1. De pé, com os pés bem afastados, inspire levantando os bragos até a altura dos ombros. — Curve o tronco lateralmente para a direita até tocar o pé direito com a mao direita. — Apéie o brago esquerdo, sempre esticado, sobre a cabega ~ Volte lentamente o tronco e os bragos para a posig: inicial expirando. ~ Repita do outro lado. 2. Fique em pé com o lado direito paralelo a uma parede, a uns 30 em de distancia dela ~ Levante o brago esquerdo por sobre a cabeca e pressione energicamente a parede por alguns segundos. ~ Relaxe. ~ Repita do outro lado. Inspiracdo versus Expirac3o Na respiragao normal, a inspiragao & um processo ative e a expiragdo um Processo passivo, Ou seja, realizamos um trabalho muscular para colocar o ar dentro dos pulmdes ¢ relaxamos a musculatura abdominal e tordciea para que o ar saia. E importante lembrar que nesse tipo de respirago sempre fica uma quantidade signifiativa dear “velbo” dentro dos pulmoes ¢ «que € ums habito muito saudével, conscientemente, de empos em fempos,expelir esse resto de ar usado detuando que o ar dos pulmdes se renove totalmente, 20 J Angelino Bozzini e e e e e = Nos instrumentos de sopro a inspirag&o deve ocorrer somente com 0 trabalho do diafragma, mantendo-se toda musculatura abdominal relaxada! [sso ¢ muito importante, pois é esse relaxamento que vai garantir que nossa garganta ndo se contraia, atrapalhando o fluxo de ar, na expiracao. A expirago, ao se tocar um instrumento, ¢ ativa, pois o diafragma deve contar como apoio de toda musculatura da parede abdominal e da cintura para manter a pressio ea constincia do fluxo de ar. Se nés contrairmos essa musculatura de apoio jé na inspirago, alm do stress desnecessirio, teremos como consequéncia a contragao das cordas vocais (pereebidas pornés como garganta), ssa contrago faz com que a energia conduzida pela coluna de ar, em vez de chegar ao instrumento fica represada dentro do corpo do miisico, causando uma queda geral de desempenho. > Em quantos dias se faz um masico? Dizem alguns que Deus levou sete dias para fazer 0 mundo; outros que ele levou milhées de anos. Qualquer que seja o tempo exato o fato é que nada surgiu instantaneamente. Nem omundo nem o musico. Nao tente aprender em um dia aquilo que vocé nao soube (ou nao quis saber) por muitos anos! Esses exercicios atuam diretamente sobre as fung6es vitais do corpo humano; principalmente sobre o sistema circulatério. Por esse motivo, comece praticando levemente alguns exercicios por um curto periodo de tempo e va aumentando a intensidade e a quantidade aos poucos, conforme vocé for se sentindo mais fortalecido ¢ seguro. E na hora de tocar? E muito simples e interessante trabalhar todos esses musculos que estiio implicados na respiragao individualmente. Porém, no momento da execugdo eles devem funcionar todos automaticamente e nossa atengo deve estar voltada para o fraseado e a interpretagdo, Existem alguns exercicios simples que nos ajudam a aplicar a técnica da respiracdo corretamente na hora da execugio’ 1. Tocar uma nota por 10 segundos ou mais em piano. Deve-se mantera afinagao ea intensidade constantes do comego ao fim da nota 2. Atacar uma nota pianéssimo e lentamente crescer até 0 fortissimo. E muito importante que o crescendo seja uniforme e que a nota termine no volume maximo 3. Atacar uma nota sforzzatissimo, caindo para um pianissimo stibito e, em seguida, crescer até um fortissimo 4. Comegar a soprar suavemente no bocal aumentando a velocidade do ar até que umaa nota comece a soar em piannissimo. Crescer até um fortissimo e decrescer suavemente a até um pianissimo quase imperceptivel Todos esses exercicios devem ser feitos o mais lentamente possivel, comegando-se na regio central e posteriormente ampliando-os para as regies grave e aguda > ssa questio ¢ trabalhads exaustivamente na obra do grande trompetista alomio Malte Burba 4 A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Boca Lembre-se sempre de inspirar relaxadamente e assoprar com apoio. Apés se obter um bom controle no ataque e sustentagao de notas, trabalha-se o apoio em escalas e arpeggios, seguindo- seo esquema dado no capitulo anterior: quanto mais aguda ou forte uma nota mais apoio e vice-versa, Esses exercicios de respirago e apoio devem fazer parte da rotina de aquecimento de todos os musicos, sejam eles prineipiantes ou profissionais. A pratica diaria desses exercicios proporciona uma base técnica muito sélida para a uma boa execugao musical O funcionamento da embocadura A embocadura - O gerador de som Dentro do sistema total que comega com os miisculos de apoio do diaftagma indo até a reverberago no local de execucdo, 2 fungo da embocadura ¢ a de gerar o som. Como ja vimos nos capitulos anteriores a energia para se gerar esse som é produzida pelo diafragma e seus misculos de apoio. Vamos agora analisar tecnicamente o funcionamento da embocadura, bem como as principais técnicas existentes. Figura 5 ~ Masculos da face (visto frontal) 1. Orbicular da boca; 2. Levantador dos labios © das asas do nariz; 3, Levantador do labio superior, 4, Levantador do angulo da boca; 5. Zigomético menor; 6, Zigomitico maior; 7. Bucinador; 8a. Risério; 8b. Risério; 9. Abaixador do angulo da boca; 10, Abaixador do labio inferior; 11. Mentual; 12. Orbicular da boca \ Figura 6 - Misculos da face (visio lateral): 1, Orbicular da boca; 2. Levantador dos labios € das asas do nariz; 3. Levantador do labio superior, 4, Levantador do Angulo da boca; 5. Zigomatico menor, 6. Zigomatico maior, 7. Bucinador; 8a. Risorio; 8b. Risério; 9. Abaixador do éngulo da boca; 10, Abaixador do lébio inferior, 11. Meotual; 12, Orbicular da boca J. Angelino Bocsini Como colocar os l{bios em vibracio? Para que haja vibragdo é necessério haver tensio. Por exemplo: uma corda de volo ou uma pele de tambor precisam estar esticadas para produzir som; da mesma forma um sino derretido no produz som, é necessério que ele esteja rigido para poder vibrar. Se voce parar e pensar um pouco ira observar que todos os sons que o rodeiam so produzidos ou por objetos rigidos ou por objetos moles colocados sob tensio como a pele do tambor. Dai se deduuz que para que os labios vibrem é necessirio que eles estejam tensionades Existem varias formas de se tensionar os labios, cada uma delas determina uma escola diferente de execugao. Vamos agora analisar detalhadamente as trés principais técnicas existentes, A Técnica da Pressdo Essa técnica ¢ considerada a mais antiga de todas. Acredita-se que tenha sido usada pelos primeiros tocadores de trompa de chifre nas épocas pré-historicas. Hoje em dia ela ainda é muito usada por pessoas que aprenderam sozinhas a tocar seu instrumento ou que tiveram formago coletiva, em bandas e fanfarras, por exemiplo, sem uma orientago adequada. Ea mais simples de todas as técnicas, por ser originada da forma com que quase qualquer pessoa instintivamente tenta tirar som de um instrumento de bocal. Ao mesmo tempo em que &a mais simples das técnicas, é a mais prejudicial para os labios e a satide do instrumentista. Ela pode ser resumida na seguinte citagdio: “Os sons sdo obtides comprimindo- se fortemente o bocal de encontro aos ldbios, de forma que 0 lébio superior se oponha mais acentuadamente ao bocall: em seguida comprimindo-se mais fortemente possivel sobre a dentadura, e expelindo o ar com mais vivacidade," (N. B. Tisel) Para explicar o que ocorre, podemos imaginar que cada célula dos Kébios funciona como um baldo de ar semi-murcho. Se o pressionarmos entre as mos, fazendo com que o ar que est em seu interior ocupe um espago menor, a tensdo do ar comprimido tensionard as paredes do baliio. O mesmo ocorre com nossos labios pressionados entre o bocal os dentes. Nessa técnica, quase todo o controle do som esté a cargo da pressto do bocal contra os labios. Quanto mais aguda a nota a ser executada mais presso, quanto mais grave ‘menos presso. Podemos consideri-la como uma técnica passiva, pois os misculas dos labios praticamente nao atuam na produgao da tensio que é produzida pela forga dos misculos dos bragos forgando o instrumento contra os labios. Para compreendermos quiio perigosa essa técnica pode ser para a saiide dos libios dos dentes podemos fazer um pequeno experimento: pegue um bife de filé mignon (que mesmo sendo tenro, ainda é muito mais resistente que nossos labios) que seja da espessura de seu labio; coloque-o sobre uma superficie dura que fard o papel de seus dentes; usando a forga de seus dois bragos, como vocé usa normalmente para tocar, pressione o bocal contra 0 bife. Vocé poder observar que até uma determinada presstio, ao se retirar 0 bocal, 0 bife volta & sua forma anterior, pois as células animais tém uma certa flexibilidade porém, se voce passar de um determinado ponto as células romper-se-fo e 0 nosso bife ndo voltara a sua forma antiga. Com o bife essa técnica ndo vai atrapalhar seu almogo, mas com seus labios ela poder comprometer seriamente sua vida profissional e sua estrutura dentaria 3 A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Bocal Voe8 j comegou a pensar com mais carinho em seus labios? Faga-o enquanto ainda hé tempo! E nfo se esquega também que, embora seus dentes sejam duros, o tecido que os une a0 maxilar nao ¢ tio duro quanto eles e podem ser seriamente afetados pela presso excessiva do bocal! A Técnica do Sortiso Tentando-se eliminar os problemas causados pela técnica anterior desenvolveu- se uma técnica na qual a tenso dos labios é obtida esticando-os pelas extremidades como se fossem uma corda de violfo, utilizando-se principalmente os misculos Risérios Podemos facilmente reconhecer as pessoas que utilizam essa técnica, pois elas parecem estar sorrindo quando esto tocando, Com essa técnica produz-se um timbre brilhante e obtém-se uma ceria facilidade na regido aguda. Porém, as pessoas que a.utilizam normalmente @m pouca resisténcia e pouca flexibilidade na mudanga de registros do grave para o agudoe vice-versa. A baixa resisténcia ¢ devida ao fato de os labios ficarem muito delgados ao serem esticados pelas extremidades ea fina camada de carne que fica entre o bocal e os dentes no oferece protegdo suficiente aos nervos dos labios. Estes, sob a pressio do bocal que, embora menor, ainda & necesséria nessa técnica, se extenam em pouco tempo. Essa técnica ainda & muito usada por miisicos mais idosos que tiveram professores italianos, franceses ou russos, paises onde ela era muito empregada, O que seria o ideal? Neste século, varios misicos ¢ cientistas em diversas partes do mundo empreenderam pesquisas tentando aperfeigoar uma técnica que ao mesmo tempo: #% Compromeiesse 0 menos possivel a saiide do musico; 4% Permitisse um maximo de resisténcia possibilitando aos profissionais trabalharem durante varias horas didrias; % Possibilitasse um controle do timbre, do ataque ¢ da flexibilidade em toda extensdo do instrumento, % Fosse simples o bastante para que o miisico, durante a execugdo, pudesse se concentrar na expressio das idéias musicais e ndio em como conseguir determinada nota. Essa técnica, com pequenas variagées, ¢ utilizada pelos principais instrumentistas da atualidade. Seu principio é bem simples: produzir a tensio necessaria A vibragao dos labios, quase que exclusivamente através do uso dos miusculos dos préprios labios e seus circunvizinhos. Nessa técnica s6 é necessaria uma pequena pressfio do bocal para no permitir que escape ar pelos lados, sé isso! Os labios so esticados em diregdes opostas como a pele de um tambor. Podemos resumir 0 conjunto de misculos utilizados em trés grupos basicos: 1. 0 grupo encabegado pelos misculos Risérios que esticam os lébios horizontalmente para fora; 2.) O grupo encabegado pelo Abaixador do Libio inferior que estica os labios verticalmente para baixo: 3.) Os Orbiculares da boca, (a parte vermelha do lébio) que, tencionam-se circularmente para dentro como num assobio, produzindo um movimento contrério a todos os outros miiscullos 0mesmo tempo em que, pelo fato de estarem enrijecidos, formam como que uma almofada entre 0 bocal ¢ os dentes aumentando muito a resisténcia. Figura 7 - Miisculos da embocadura 1. Orbivular da boca; 2. Levantador dos labios e das asas do nariz; 3, Levantador do labio superior. 4. Levantador do angulo da boca; 5. Zigomatico menor, 6. Zigomatico maior, 7. Bucinador, 8. Abaixador do angulo da boca: 9, Abaixador do canto da boca; 10. Abaixador do lébio inferior; 11. Mentual; 12. Orbicular da boca Essa técnica ¢ mais trabalhosa para ser aprendida e leva mais tempo para apresentar resultados, mas, uma vez adquirida, proporciona muita seguranga e expressividade na execugaio Como desenvolver os misculos da embocadura A Preparacio Muscular Para termos uma embocadura eficiente devemos ter os miscutos que acompdem bem treinados e sob controle, Para podermos adquirir controle sobre eles & necessirio trabalhar cada miiseulo isoladamente. Normalmente, para uma pessoa adulta, é umm tanto dificil controlar seus misculos isoladamente, pois, normalmente, utilizamo-los em “blocos”, sem ter consciéncia exata de quais misculos estamos empregando numa determinada postura Os trés pares de mésculos que formam a embocadura so 0s do queixo, 0s dos cantos do lébio, ¢ os que formam a parte vermelha do lébio. Esses muisculos, para poderem criar a tensdio necesséria nos labios para que vibrem, trabalham em sentidos opostos + O queixo para baixo 3 Os cantos do lébio para fora % O anel do lébio circularmente para dentro. 2 A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Bocal Um espelho e m§os 4 obra ‘Com um pequeno espelho de bolso, muita paciéncia e dedicagéio em pouco tempo vyoré terd controle sobre seus musculos faciais Primeiramente trabalhe o seu queixo — Com todos os miisculos da face relaxados tente lentamente mover seu queixo para baixo e de volta a posiggio de repouso sem que nenhum outro musculo se contraia, Pense que os dois misculos que puxam 0 queixo para baixo funcionam como dois tirantes, como esses gue sustentam as antenas. A sua funcao é extremamente importante, pois sem eles tudo pode “desabar”! (Obs.: Nao confunda queixo com mandibula; queixo é a parte de carne que esté na ponta da mandibula, portanto ao mexer o queixo sua mandibula deve estar parada!), —Em seguida, trabalhe o misculo que forma o anel labial (a parte vermelha do lébio). Embora esse seja o misculo mais importante da embocadura ele é muito pouco usado pela maioria das pessoas. ~Tente contrai-lo para o centro como se estivesse assobiando, mas sem projeté-lo para frente. Se colocarmos a ponta do nosso indicador sobre o labio poderemos sentir se ele est se contraindo ou ndo. — Uma outra forma de treiné-lo ¢ tentar abracar com ele fortemente alguma coisa redonda como um lapis, a parte posterior do bocal ou mesmo 0 nosso préprio dedo. — Quando esse musculo esté bem treinado, ele nao sé facilita muito a execugao do registro agudo como também aumenta a resisténcia da embocadura. — Por iiltimo treinaremos os miisculos dos cantos do labio. Enquanto contraimos nossos labios para 0 centro esses musculos funcionam como dois tirantes laterais contraindo-se em sentido oposto ao dos ldbios — Com a face relaxada contraia os misculos do canto da boca para fora como num sorriso de palhaco. Pense que vocé quer levar o canto de cada ldbio até a orelha correspondente. ~ Esses exercicios devem ser feitos com muita calma Assim que se conseguit movimentar os musculos para as posigdes corretas devemos sustenti-los por periodos cada vez mais Jongos nessas posigdes a fim de que eles adquiram forga e resisténcia A primeira vibracgo O préximo passo ¢ colocar os labios em vibragéo. Recordando o primeiro capitulo, a vibragdo é produzida pela presto da coluna de ar que tenta forgar a passagem através dos labios. Estes, tentando resistir, cedem a uma determinada pressio abrindo-se. Ao se abrirem deixam passar uma quantidade maior de ar 0 Duranie meu tempo de estodantena Alemanh andei durante seis meses com um pequeno espelho no bol, acada oportunidad seemava um pouco a embocadura (usando 0 espeTho para conrolar) aé os misculos irem eutomaticamente para a posipdo coreta A cxsbocadura pode ser praticada em qualquer lugar. 2 J. Angeline Boccini que faz cair a pressio. Como a presstio cai eles diminuem novamente a sua abertura 0 que faz aumentar a pressio da coluna de ar. Esse ciclo ao repetir-se produz a vibragdo dos labios Comece a assoprar e va contraindo os misculos da embocadura na maneira indicadanos exercicios anteriores. Se vooé estiver com um bom apoio, ¢ contraindo os muiseulos corretamente seus labios comegardio a vibrar. Como noss0s labios so 0 “gerador de som” do nosso sistema, a qualidade do nosso som no instrumento vai depender muito da qualidade dessa vibragdo pura inicial Depois que conseguir colocar seus labios em vibragaio, deverd exercitar um controle sobre essa vibragdo. A fluxo de ar deve sair para frente e nao para baixo. Vocé pode checar isso colocando a palma da mao em frente sua boca. Os dois labios devem vibrar na mesma freqiiéncia como se vocé estivesse cantando uma nota. Adquirindo um certo controle sobre a vibragao de seus labios, vocé pode educé-los estudando intervals, escalas ¢ arpeggios somente com a vibragdo dos labios sem bocal. Os métodos de solfejo cantado so, em geral, muito bons para praticar isso Vocé poder observar a importéncia dessa pritica executando uma determinada passagem musical somente com os lébios e, logo apés, no instrumento, Vocé notara que a execugdio ficard muito mais ficil e segura O Bocal entra na historia Depois de praticar bastante s6 com os labios, chegou a hora de praticar com 0 bocal. Vocé deve lembrar-se sempre de uma coisa: quanto maior 0 controle que vocé tiver sobre os musculos de seus labios para fazé-los vibrar independentemente do bocal tanto menor serd a pressio que vocé necessitard exercer com o bocal contra os labios para poder tocar. Praticando com o bocal, vocé deve ter sempre consciéncia do seu espago interno; dele dependerd a porgao de labio que vocé devers colocar em vibragao. Um trombonista usaré uma porgiio de lébio muito maior que um trompetista. E muito facil de observar se vooé esté usando 2 porgao correta, Vibre seus labios em frente ao espelho e observe: se a porgiio de labio que estiver efetivamente vibrando for maior que 0 didmetro interno do bocal vocé, com certeza, nd esta contraindo suficientemente ‘© misculo que forma o ane! labial e, certamente, também ird necessitar de muita presséo para poder tocar no registro agudo. Figura 8 - Corte lateral da embocadura eum trompetista mn A Arte do Sopro~ Desvendando a téenica dos instrumentos de Bocal Descobrindo o instrumento ‘Ao tocarmos no instrumento, existe um novo fator em jogo: a resisténcia da coluna de ar existente dentro do proprio instrumento. Essa resistencia faz com que vocé, 20 tocar no instrumento, necessite de um apoio maior do que aquele usado para fazer os labios vibrarem livres ou no bocal. Mas, 20 mesmo tempo em que ela exige uma press#o maior da coluna de ar para vencer a resisténcia, ela também funciona como um colchdo dear, diminuindo ‘© esforgo de seus labios. ‘A primeira coisa a fazer com o instrumento ¢ “sentilo”, da mesma forma que um pianista faz com as teclas ou um guitarrista com os trastes. As nots, em todos 0s jnstrumentos de metal, encontram-se em “lugares” determinados no instrumento como as teolos de um piano, adiferenga é que nos instrumentos de metal nds no podemos ver onde as malas estao localizadas s6 podemos sentir esses “lugares” com os nossos labios e com 8 pressa0 da coluna de ar necessaria para atingi-los. esas notas sto determinadas pela série harménica (caracteristica fisica da matéria ao vibrar, equivalente ao arco-iris para a luz). No bocal ¢ possivel tocar-se uma nota qualquer e, aumentando-se. tensto dos labios, ir subindo sua frequéncia de mancira continua como numa sirena, Jé no instrumento se vocé tocar uma nota e, pouco @ pouco, aumentar & tenedo dos ldbios ¢ a pressio do ar notard que a vibragdo saltaré para o proximo harm@nico Vood nfo seri capaz de tocar as notas que ficam entre duas notas da série harm@nica. como se o instrumento se “recusasse” a tocar essas notas, A partir dessa caracteristica fisica da série harm@nica a “corda de ar” do instrumento pode vibrar em algumas frequéneias determinadas, sea vibragdo que voce produz ‘com seus labios for equivalente a algum dos harménicos a coluna de ar intemado instrumento comegara a vibrar por simpatia e essa vibragdo sera amplificada pela campana do instrumenton 56 com o controle desses dois fatores: pressdo do ar e tensfo dos labios voce poderé percorrer toda. série harménica. Apés “sentir” onde esto as notas da série harmonica proximo exercicio ¢ 0 seguinte: Vocé deveri ter notado que cada nota tem certa margem de tolerancia para cima para baixo na afinagto, Trabalhando bastante ¢ com atengdo vocé encontraré para cada notso punto ideal onde ela estd mais afinada e com o som mais claro; dizemos que anotaesta centrada, -Essas posigdes devem ficarregistradas em sua meméria muscular ¢, a0 “passeat” pela série harmdnica, vocé deve tentar ir diretamente a esses pontos “ideals” Esses so 0s prinefpios basicos do funcionamento da embocadura J. Angelino Bozsini Funcionamento e a importgncia do uso corteto da lingua O que é o mais importante? Se fizermos uma pesquisa entre os instrumentistas de metal sobre o que seria o mais importante dentro de todo sistema da execugo, a maioria, sem divida nenhuma, responderé que é a embocadura, logo seguida pela respiragGo. A lingua so é mencionada quando se fala do ataque. Na realidade, podemos afirmar que, dentro da hierarquia do sistema, a lingua vem logo apos a respiracdo em escala de importincia e que muitos dos problemas que so normalmente atribuidos a embocadura, s4o na realidade, causados por uma mé utilizagdo da lingua. Figura 9 ~ Corte lateral da face: 1, Styloglossus; 2, Dorso; 3. Misculo Geniogloss0; 4. Génio-hiedide; 5. Hioglosso; 6. Palato duro/Maxilar, 7. Mandibula; 8. Osso hidide; 9. Capsula temporomandibular 1 aS miisculos da lingua; 6 a 9 0s50s onde esses misculos tém inser¢ao. Figura 10 - Corte lateral da cabega 1, Osso frontal; 2. Seio frontal; 3. Osso esfendide; 4, Seio esfenoidal; 5. Vértebra cervical, 6. stimo orofaringeo; 7. Es6fago; 8, Traquéia; 9. Pregas yocais; 10, Pregas vestibulares, 11. Cartilage cricdide; 12. Cartilage tireoidal; 13, Osso hidide; 14. Epiglote; 15. Musculo milohidide; 16. Misculo g@nio-hidide; 17. Mandibula; 18, Parte faringea do dorso da lingua; 19, Palato mole; 20.Dorso da lingua; 21. Ponta da lingua; 22, Dente incisivo central inferior, 23. Dente incisivo central superior, 24, Palato duro; 25. Osso occipital Para que serve a lingua? Na opinitio de mais de 90% dos instrumentistas, a fund da lingua é somente a de produzir 0 “ataque” (emisstio) das notas. Porém, deniro do sistema, a sua Fungo é muito mais importante, pois € ela que funciona como valvulareguladora da pressdo do ar bem como dacaixa de ressondncia formada pela cavidade bucal. Vamos agora analisar suas fungdes em detalhe. » A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Bocat Potencidmetro musical Podemos comparar 6 caminho da coluna de ar no momento da execugdo com um cireuito elétrico. O principal gerador da energia é o diafragma e seus misculos de apoio. O fornecimento de energia depende dele, da mesma forma que dependemos da companhia de eletricidade. Dependendo da finalidade essa energia pode variar. Para tocar um trecho em ‘fortissimo precisamos de uma quantidade maior de energia que para tocarmos um trecho em ‘mezzo- forte, da mesma forma que, em nossas casas, o chuveiro elétrico € outros equipamentos que consomem muita energia precisam de uma instalagdo a parte. Se observarmos nosso liquidificador, por exemplo, veremos que ele pode trabalhar em diversas velocidades como iniumeros outros aparelhos; e todos sao ligados mesma fiagiio, Essas pequenas variagdes de energia empregadas em cada aparelho so conseguidas através de um componente chamado potenciémetro, Veja bem: ndo variamos a corrente principal, mas somente a intensidade no interior de cada aparelho. As diferentes notas de um trecho musical, para serem executadas com perfeigao, necessitam de diferentes press6es de ar. Essas diferengas so pequenas e devem ocorrer com rapidez, duas coisas que seriam dificeis de controlar com o diafragma. Bis ai a primeira e mais importante fungo da lingua: ela funciona exatamente como o potenciémetro dos aparelhos eléiricos, ou se preferirem, como o polegar na ponta de um esguicho. Conforme ela estreite oualargue a passagem do ar na boca, ela estard aumentando ou diminuindo a sua pressto de aida. Assim, com o seu controle, poderemos obter a presstio ideal para cada nota Lingua X Garganta Muitos misicos utilizam-se da garganta par executar essa tarefa, a do controle dapresstio da coluna de ar. O uso da garganta tem algumas desvantagens em relag0 ao uso da lingua, Em primeiro lugar, nés podemos controlar muito mais facilmente a lingua do que a garganta de maneira consciente e, em segundo lugar, o uso da garganta, se exagerado, estrangula a passagem do ar, produzindo um som espremido. Além disso, 0 uso da garganta gera uma tens%o muito grande na regitio do pescogo. Portanto, mantenha sua garganta aberta e relaxada Geixando a regulagem da pressfo paraa lingua Inspiragio —-Expiragao ; profunda profunda Respiragio 6 Durante a fala Figuta 11 - A Laringe: Funcionamento da laringe e progas Vocais em diferentes situagdes: 1. Lingua: 2. Epiglote; 3. Pregas vocais (cordas vocais verdadeiras); 4. Rima glottidis; 5. Musculo anitenGide, 6, Prega vestibular (falsas pregas Vocais); 7. Cartilagem comiculada, 8, artilagem cuneiforme. Graves, médios e agudos - em um sé alto-falante Se voce abrir uma eaixa acistica de boa qualidade poder observar que ela tem geralmente tds alto-flantes: um para os graves (0 maior), um para os médios e um para os agudos (o menor). Se voc8 comparar um violino com um violoncelo © com um contrabaixo ‘era que, embora todos tenham a mesma forma, cada um tem uma caixa de ressondneia de tamanho diferente, conformea tessitura do instrumento. Voeé poderd observar também que se tum violino tocar em sua regio mais grave e 0 violoncelo tocar em unissono com ele, no violoncelo soard tudo mais “cheio” ¢ sonoro. Por outro lado, se o violoncelo tocar em sua regido aguda em unissono com o violino, aqui seré0 violino que soaréi melhor Qual o porqué de tudo isso? Como explicamos no inicio, utilizamos nos sistemas sonoros uma caixa de ressonfncia que funciona como amplifieador das vibragGes. Cada tamanho de caixa de essondncia amplifica melhor os sons contidos numa determinada faixa de frequéneias, Por isso as caixas actisticas, para poderem reproduzi com fidelidade os sons de uma orquestra, precisam de alto-falantes de tamanhos diferentes e, as de melhor qualidade, possuem compartimentos isolados de tamanhos diferentes dentro de si E a lingua nessa historia? ‘Ao mesmo tempo em que a lingua regula a pressto do ar ela modifica o tamanho dacavidade bocal, podendo regular o tamanho ideal para cada registro, [ como se tivéssemos tum alto-falante que esticasse e encolhesse conforme a altura dos sons que estivess reproduzindo. O ataque A outra funcdio da lingua é ade produzir o “ataque”, ou a emissio, das notas, Muitas pessoas pensam que a lingua deve dar um golpe nos labios no momento do.ataque para que ele possa comegar a vibrar. Isso s6 faz sentido para pessoas que tocam com muita pressto e que néo conseguem controlar os misculos da embocadura para conseguir & tensdo correta para cada nota. Sea embocadura estiver com a tensio exata para produzir a nota que queremos executar, a simples passagem do ar com pressdo adequada produzird.a vibragdo e, portanto, nl sera necessério que a lingua golpeie os labios esse caso, para o ataque, a fungo da lingua ¢ simplesmente a de interromper 8 passagem do ar para separar cada nota. No momento em que 0 ar €solto ele produziré oataqus O movimento da lingua nao deve se parecer ao de um martelo quando bate um prego, mais sim ao de nossos dedos quando queremos ver se um ferro de passar roupa e est quente E um movimento que toca recuando ¢ ndo empurrando. ‘Como quem na realidade produz.o ataque ¢ 0 ar, a fngdo da lingua serd ento a de regular as emissBes de ar a ‘A Arte do Sopro~ Dessendando atéenica dos instrumentos de Bocal Fred Fox, um professor de trompa norte-americano, chama esse processo de ‘feito salame”. Ele compara a coluna de ar a um salame, e a lingua a um cortador de frios. A fungo da lémina, ou da lingua, é a de produzir fatias regulares desse “salame de ar”. Devemos dizer ainda que ela pode cortar o ar de diferentes formas, produzindo assim diferentes gradagdes deataque. Existem miisicos que conseguem atacar uma mesma nota de mais de quinze diferentes formas, Essa diferenciagdo € muito iitil na interpretagdo de diferentes estilos musicais, mais isso ¢ um outro capitulo da musica. Figura 12 - Posigfio da lingua no “ataque” de notas graves/médias e das notas agudas Exercicios praticos para o desenvolvimento e controle da lingua Detodas.as partes do sistema a lingua é uma das mais faceis de serem trabalhadas, pois seus musculos ja sio bem desenvolvidos pelo processo da fala. Embora nés, brasileiros, tenhamos algumas dificuldades na articulagdo de alguns sons ndo existentes na lingua portuguesa que so muito titeis na execugao dos instrumentos de metal (como o “i” do alemiio — lingua na posigao do “i”, lébio na posigto do “u”), com um pouco de exercicio eles serio facilmente conseguidos. As fungées da lingua Como vimos no capitulo anterior a lingua tem duas fungdes basicas: controlar a presso doar interrompera coluna de ar produzindo 0 “ataque”, Podemos dividir otreinamento da lingua em trés partes: exercicios de relaxamento, de fortalecimento e de controle. © relaxamento - Como preparacdo ao desenvolvimento da lingua Normalmente, por té-la trabalho de forma err6nea ou por usarmos.a garganta no controle da presséo da coluna de ar a nossa lingua fica com seus musculos muito tensos perdendo assim mobilidade e flexibilidade. Assim, antes de iniciarmos com qualquer tipo de exercicio para desenvolver a lingua, devemos relaxé-la, 2 J. Angelino Bozzint 1. Oexercicio mais simples para relaxar a lingua € bocejar, da maneira mais exagerada possivel 2. O segundo exercicio é escancarar a boca a0 maximo e colocar a lingua para fora © mais esticado que se conseguir. — Primeiro para frente — Depois em diagonal. — Paracima — Para baixo. Durante a execugio desses exercicios deve-se sustentar 0 misculos no maximo de tensio possivel e em seguida relaxé-los completamente. £ uma boa pritica fazer esses exercicios de relaxamento antes do inicio de cada segao de estudo. A lingua como reguladora da pressio A principal funedo da lingua, como jé vimos num item anterior, éa de controlar a pressdo da coluna de ar. Esse controle é obtido variando-se a posi¢20 do dorso da lingua. Se examinarmos as vogais existentes na lingua portuguesa veremos que elas so produzidas (articuladas) de formas diferentes, Se tentarmos pronunciar a sequéneia de vogais: ‘a-6-0~ Ww’ veremos que elas sdo conseguidas pelo fechamento gradativo dos labios. Ao pronunciarmos aseqiiéncia: ‘a -é -€ -i? veremos que elas so produzidas pelo envergamento progressivo do dorso da lingua. E essa sequéncia que iremos utilizar no trabalho da lingua. 1. Primeiramente devemos pronunciar a seqliéncia ‘a - é-8-i- @- é~ a’ de maneira bem articulada e sem mover a mandibula fazendo que todo o trabalho de articulagao fique por conta do dorso da lingua. Para termos um controle maior devemos encostar a ponta da lingua atrés dos incisivos inferiores. O ideal ¢ fazer esse exercicio em frente a um espelho para podermos observar se a lingua esté se movendo independentemente da mandibula (isso &muito importante, pois 36 com essa independéncia o movimento da lingua nfo influird no dos labios). 2. Depois que tivermos controle na prontincia da seqiiéncia acima e que consigamos pronuncia- la sem mover a mandibula podemos acelerar gradativamente o movimento da lingua até que o resultado final seja algo como ‘aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai’ - sempre sem que o movimento da lingua interfira na posicao da mandibula.* Controlando a press§o na pratica Apés dominarmos os movimentos necessarios para a lingua executar 0 controle da presstio da coluna de ar podemos aplicar esses movimentos em exercicios praticos no instrumento 1. Primeiramente devemos exercitar a lingua fazendo ligaduras entre dois sons da série har- ménica de cada posigdo® individualmente ‘os ives de Malte Burb podemos encontrar viriosexereicos par edcapo da linge As sete posigdes de chave dos instramento de metal so: D/ 2/1 / 12/23/ 13/12 3 A Arte do Sopro~ Desvendando atéeniea dos instrumentos de Bocal A regra de base é a seguinte: quanto mais aguda a nota mais fechada deverd sera ‘vogal que utilizaremos em sua articulago, quanto mais grave mais aberta, Pratique os exercicios seguintes lentamente cuidando para que as ligaduras saiam 0 mais limpo possivel 2.A velocidade vird com o tempo, o mais dificil €alimpeza. Depois de praticarmos em ligaduras individuais podemos aplicar a mesma técnica em arpejos. O uso da lingua como controladora da presstio aplica-se também no estudo de escalas, seguindo o mesmo padrao dos exercicios anteriores. A lingua como controladora da passagem do ar ‘Além de controlar a pressaio da coluna de ar a lingua pode também controlar a passagem do ar, interrompendo-a de diversos modos e produzindo assim os diversos tipos de ataque. Para treinarmos a lingua para essa fungZo, seu movimento deve estar totalmente independente do movimento da mandibula. 1. Oprimeiro exercicio ¢ 0 de promunciarmos, com a mandibula imével, uma série de “tatatatata’s’; depois ‘nanananana’s’ c ‘dadadada’s’, Esse exercicio ¢ para fortalecer 0 musculo da lingua e treind-laa obstruir a coluna de ar com sua ponta tocando entre o palato € 08 incisivos superiores 2. Uma segunda forma de treinar a lingua para o ataque € ode apoiara sua ponta atrés dos incisivos inferiores e de pronunciar as mesmas seqiléncias do exercicio anterior, articulando ‘0s sons com o dorso da lingua e nfo com a ponta. Depois de treinarmos a lingua separadamente podemos aplicar esses movimentos na execucto. 3. Toque uma nota longa e, em momentos diversos nao regulares, interrompaa coluna de ar com golpes de lingua. Mantenha o fluxo de ar constante, deixe que sua lingua interrompao fluxo de ar e nao o diafragma que deve fazer uma pressio constante. ‘Conforme a posigdo da lingua e a consoante utilizada na articulagao, teremos um tipo diferente de ataque. A maneira mais interessante de aperfeigoarmos esse aspecto é 0 de ouvirmos gravagées de bons intérpretes ¢ tentar descobrir qual tipo de articulagao foi usada. em cada ocasiao. Efeitos especiais na execu¢go Técnica como expresso X Técnica como Malabarismo Muitas pessoas lutam por conseguir fazer algo de diferente no instrumento, para poder parecerem melhores que os outros. Essas pessoas confundem a arte da musica com 0 malabarismo, onde a destreza técnica ¢ o principal objetivo a ser alcangado. Na musica o objetivo ultimo ¢ expressar da maneira mais fiel, rica e original possivel as idéias musicais do compositor recriadas pelo intérprete. Nessa arte, a técnica é um meio ¢ no um fim em si Assim sendo, todo esforco para se dominar tecnicamente o instrumento deve ter como objetivo a expresso apurada das idéias musicais préprias ou de outros compositores ¢ néo um virtuosismo oco. aM J. Angelino Bassin Efeitos X Técnica de Base Geralmente o misico principiante ou amador costuma ficarfascinado com alguns efeitos, como a respiracdo permanente, por exemplo, que muitos profissionais conseguem obter ém seus instrumentos. Pensam que se conseguirem produzir os mesmos efeitos alcangaro o mesmo nivel desses profissionais. Isso é uma iluso que pode algumas vezes ser até mesmo nociva, causando problemas mais ou menos graves, O que indica realmente a qualidade de um misico é sua técnica de base, ou seja: sonoridade, dindmica, emissio e controle da extensao associados a uma cultura musical que 0 possibilite expressar da melhor maneira possivel as idéias musicais das obras que executa, Todos os efeitos além da técnica de base devem servir exclusivamente ao aprimoramento da expresso artistica ¢ nao ao exibicionismo do ego do instrumentista. Vamos neste capitulo analisar dois efeitos que podem contribuir muito para uma melhor interpretacao da musica: o vibrato ea respiragdo permanente ou continua O Vibrato Muitos misicos hoje em dia, principalmente dos iristrumentos de madeira (flauta, oboé, fagote, ete.), consideram 0 vibrato como uma caracteristica que deve fazer necessariamente parte do som. Se vocé tiver oportunidade de ter em maos algum tratado de ornamentagiio ou mesmo algum método de instrumento da época barroca poderd observar que o vibrato era, entiio, considerado um ornamento, da mesma forma que 0 “trinado’, o “mordente’, 0 “grupeto” e etc, Sob esse ponte de vista, o vibrato ¢ um efeito que pode “ormamentar’ certas notas: ‘de um trecho musical ¢ néo algo como uma chave de érgio eletrnico que a ligamos € fica o tempo todo funcionando. O vibrato, usado com parciménia ¢ colocado inteligentemente em determinadas notas, pode contribuir para ressaltar 0 contorno das frases musicais tomando sua estrutura mais clara para o ouvinte, mesmo que de forma inconsciente. Normalmente, usa-se o vibrato 1nos pontos culminantes de uma frase musical O vibrato também é um importante elemento de caracterizagao dos estilos musicais. Por exemplo, um trompetista devera executar uma sinfonia de Beethoven praticamente sem vibrato; um concerto de Ravel com um vibrato sutil em determinados momentos e, talvez, com muito vibrato em alguma peca de Gershwin. Um bom conhecimento da historia da musica apoiado pela audigao de bons intéxpretes mostrard qual 0 melhor caminho a seguir. Como executar o vibrato? Existem inumeras formas de se executar o vibrato. Para os instrumentos de metal, existem duas que so mais aconselhadas do que as outras: o vibrato de lingua eo de mandibula. vibrato de lingua é produzido pronunciando-se durante a emiss8o de uma nota um ‘ai-ai- ai-ai-ai’ na velocidade desejada. ES A Arte do Sopro- Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal O vibrato de mandibula produzido pela movimentaao da mandibule verticalmente para cima e para baixo, sem que esse movimento interfira nos outros miscues daembocadura. © importante no vibrato é que ele seja “controlado”, s6 ocorrendo no momento ena velocidade desejada pelo intérprete. Muitas pessoas comegam a tocar com vibrato e perdem o controle sobre ele, nfo sendo mais capazes de emitir um som puro e sem vibrato. Para poder controlé-lo deve-se estudar de forma muito ritmica, de preferéncia com 0 auxilio de um metronomo; muito lento no comego e aumentando-se a velocidade de maneira gradativa A Respiragdo permanente Outro efeito muito util na exeougdio de frases longas ¢ a respiragdo permanente. Existe uma mistiea em torno dela como sendo algo conseguido s6 por poucas pessoas. Na verdade ¢ algo muito parecido com andar de bicicleta; demora-se a conseguir mas, uma vez aprendido, nao se esquece nunca mais Respiragdo permanente é a habilidade de se controlar o armazenamento eo fhuxo dearnacavidade bucal coma parte posterior da lingua durante a expiracdo. No momento em que oar vindo dos pulmdesestiver chegando ao fim, enche-se a boca de ar (com oar ue ainda resta nos pulm@es), fecha-se seu findo da boca com a parte posterior da lingua, continua se por um momento assoprando com o ar contido na boes e, enquanto isso, inspira-se pelo nariz, ‘Uma vez cheios os pulmdes, abre-se a cavidade bucal baixando-se lingua ¢ continua-se assoprando, agora com 0 ar vindo dos pulm@es. Esse ciclo pode ser repetido ad etermum. ‘Tudo isso deve ocorrer sem que haja movimentos bruscos ou alteragdes nos misculos da embocadura ou na pressdo do ar. Parece complicado mas nao é? Leia mais uma voz, vagarosamente, o paréprafo acima tentando imaginara sequéncia dos movimentos.Etudo muito mais simples do que parece. Vocé j4 imaginou como seria tentar explicar com palavras como andar de bicicleta ou como assobiar? A Respiracdo continua na Pratica Se voeé fizer os exercicios que se seguem vera que nao ¢ tio dificil assim. gE importante que vocé sé passe para o exercicio seguinte quando tiver dominado totalmente 0 anterior, pois 0 sucesso de cada passo depende do anterior. Vamos Id entao?! 1, Feche a boca e, de uma forma descontraida, inspire e expire pelo nariz. (Parece simples demais nao? O verdadeiro exercicio aqui € conseguir que a respiragiio ocorra de forma totalmente independente dos misculos da boca). 2. Continue respirando da mesma forma que no exercicio anterior, mas, agora, com a boca hela dear. (Vood deve exagerar, estufando as bochechas. A respiragdo deve continuar sempre independente da boca) 3, Continuando a respirar, sempre de maneira regular e descontraida, va, agora, lentamente, soltando 0 ar que esta preso em sua boca, (Lembre-se que o fundo da boca deve permanecer fechado com o auxilio da lingua e que esse ar que vocé vai soltando é somente o ar que esta contido na boca. O movimento da boca deve ser independente da respiragao). Voo8 irk observar que é muito mais fécil soltar 0 ar contido na boca durante a expiragtio do que durante @ inspiragdo. Ai esté o ponto chave de tudo, onde voc deve trabalhar com paciéncia: soltar 0 ar da boca enquanto vocé inspira pelo nariz. No comego sera dificil expirar continuamente o ar da boca sem dar trancos, mas, com paciéncia, tudo se resolve 4. Quando voce estiver dominando o exercicio anterior, tente rapidamente, quando o ar contido nna boca estiver chegando ao fim, abrir o fundo da boca baixando a lingua e enché-la com ar dos pulmées, fechando o fundo da boca logo em seguida. 5. Dominando o exercicio anterior, tente fazé-lo na sequéncia, repetindo-o continuamente como numa bicicleta, uma pedalada depois da outra, Uma vez adquirida a habilidade basica, ‘yoo’ poders praticar com um canudinho tentando produzir bolinhas de ar continuamente ‘num copo com Agua, 6. O proximo passo ¢ executando uma nota no instrumento. Comece no registro médio em piano, Embocadura relaxada, No comego o som saira horrivel. Nao desanime! Pouco a pouco vocé vai conseguir controlar melhor a sonoridade e, quando menos esperar, estara expirando “continuamente”, sem interrupedes para inspirar. Conhecimento nunca é demais Indicaremos agora alguns livros que ajudarao vocé a se aprofundar no assunto. Preparativos de viagem bora o mercado editorial brasileiro tenha se desenvolvvido muito nos tiltimos anos a bibliografia especifica, no que diz respeito a técnica de instrumentos de metal, deixa ainda muito a desejar. O leitor encontrar poucos titulos 4 disposigfi e, se quiser aprofundar- se mais no assunto, tera que recorrer a livros importados. ‘Temos ai um primeiro problema! O que fazer se vocé sé fala portugués? Meu conselho: voeé tem agora um étimo motivo para, finalmente, aprender uma lingua estrangeira, Caso vocé, mesmo assim, ache que no vale a pena, resta sempre a saida: a ajuda “daquele amigo que sabe uma outra lingua”. O fato é que s6 com o portugués vocé estar em uma itha cultural nessa sua viagem em busca de informacao. Segundo problema: “Mas como aprender sem o auxilio de um bom professor?” Em primeiro lugar, no culpe seu professor, pois ele teve as mesmas dificuldades que voc€ para ter acesso & informagao e, se ele jé estiver numa idade avangada, sem duvida nenhuma, paraele, as coisas foram muito mais dificeis do que esto sendo para vocé agora! Em segundo lugar, lembre-se que 0 melhor professor que podemos ter é nés mesmos. Vocé s6 vai conseguir realizar algo com perfeig&o no seu instrumento, quando sua consciéncia compreender a fundo e, uma vez compreendido, ensinar ao seu corpo 0 qué ¢ como fazer. Exisiem algumas pessoas que conseguem apreender muitas coisas de maneira intuitiva dispensando a fase consciente, mas isso nao vale para tordos. De qualquer forma, quanto mais profundamente vocé compreender o funcionamento de todo o processo do ato da execugdo mais facilmente vocé tera controle sobre ele. 37 A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Bocal Por onde comegar? O primeiro passo para aperfeicoarmos nossa execugao num instrumento de metal é conhecermos € desenvolvermos 0 nosso corpo. Devemos primeiramente ter consciéneia desse corpo para posteriormente desenvolvé-lo. Um excelente livro sobre esse assunto ¢ “Consciéncia pelo Movimento” de Moshe Feldenkreis. Nesse livro 0 autor analisa como se forma a imagem que temos de nds mesmos, 0 modo como ela ¢ influenciada pela hereditariedade, pela educagio e pela auto- educago, Ele nos ensina a tomarmos consciéncia dessa auto-imagem e a modificé-laa fim de podermos modificar nossa ago. E um livro excelente para quem tem problemas de postura, equilibrio corporal e coordenacao motora. Todos os conceitos expostos so acompanhados de exercicios priticos. Como jé haviamos dito num dos capitulos anteriores: qualquer trabalho muscular deve partir do relaxamento. Nem todas as pessoas conseguem se relaxar da mesma forma. O livro “Técnicas de Relaxamento” de Petho Sandor apresenta varias das técnicas atualmente utilizadas para a obtengao de um relaxamento corporal efetivo. Para os que querem entender a fundo como funciona nossos musculos, saber como treiné-los para conseguir mais forga e controle com um menor esforgo, 0 livro ideal & “Atlas de Anatomia do Movimento” de Rol Wirhed. Para aqueles que tém dificuldade em controlar o processo respiratério e tém 0 “diaftagma preso” existe um excelente livro de José A. Gaiarsa: “Respiragdioe circulagéo”. Nese livro o autor analisa a respiracdo nao s6 em seu aspecto fisiologico mais também na sua relagdo com o funcionamento corporal como um todo e sua influéncia na formagao e estado psicolégico do individuo. Escrito em linguagem poética, esse livro, numa primeira abordagem, parece estar muito pouco relacionado com os problemas praticos que um instrumentista tem deresolver, porém, se for estudado de uma maneira mais aprofundada o leitor encontrard nele caminhos para resolver problemas que antes pareciam ser insoluiveis. Para os que tém problemas dentarios ow nao conseguem manter uma higiene bucal adequada aconselhamos 0 livro “Higiene Bucal” de Giorgio de Micheli, Carlos Eduardo ‘Aun. Michel Nicolau Youssef. Nesse livro so abordadas as principais moléstias dentarias e é apresentada também, de maneira muito didatica, a forma de se manter uma higiene bucal satisfatéria. Finalizando a parte relativa ao corpo, para aqueles que esto “fora de forma” e um pouco “enferrujados” e que necessitam trabalhar a musculatura corporal como um todo, aconselhamos 0 livro “Movimentos Basicos” de Laura Mitchell ¢ Barbara Dale. © livro apresenta nao s6 uma série muito grande de exercicios praticos, como também explica a fungao decada um deles, quais misculos sao trabalhados durante o exercicio, quais precaugdes devem ser tomadas para que ndo haja leses musculares e qual a melhor forma de progredir com cada exere{cio, Na primeira parte do livro as autoras nos explicam ainda o funcionamento mecdnico de nosso corpo e sua relagéio com a gravidade. A Técnica Basica No que se refere a técnica basica dos instrumentos de metal aconselho trés livros. O primeiro trata a técnica do ponto de vista fisiolégico dando-nos uma abordagem médica do assunto, o segundo aborda a técnica relacionando-a com aspecto espiritual do individuo; 0 terceiro aborda os problemas téenicos de uma maneira simples e pritica do ponto de vista de um instrumentista ‘The Embochoure” (A Embocadura) de Maurice M. Porter. Nesse livro 0 autor faz um estudo profundo da embocadura abordando sua estrutura Ossea € dental bem como todos os misculos nela envolvidos. © autor relaciona ainda o funcionamento da embocadura com o da garganta e com a respirago. Na parte final do livro 6 autor relaciona a utilizago especifica da embocadura a fim de se obter diversos efeitos musicais como 0 staccato € © legato, apresenta varios problemas patolégicos que podem ocorrer com a embocadura bem como solucioné-los e, finalmente, da uma série de conselhos tteis para preservé-la em bom estado de saiide e funcionamento. Olivro “Traité Méthodique de Pédagogie Instrumeniale" (Tratado metédico de Pedagogia Instrumental) de Michel Ricquier, trata da reparagao e da embocadura mas com uma abordagem completamente diferente dos outros livro. Ele relaciona os aspectos técnicos com o lado psivoldgico e espiritual do instrumentista, Existem no livro varios exercicios de relaxamento, concentragio ¢ revigoramento espiritual (especialmente itil para 6s que tém “trauma” da regidio aguda). Trata-se de um livro sério e muito interessante de ser Nido. “Essentials of Brass Playing” (Fundamentos da Técnica dos Instrumentos de Metal) de Fred Fox trata de varios aspectos da técnica dos instrumentos de metal abordando- os de maneira simples e pritica, Para aqueles que nao esto muito preocupados com detalhes © querem atingir rapidamente 0 objetivo esse ¢ 0 livro ideal. A individualidade de cada instrumento Embora.a técnica de base dos instrumentos de metal seja a mesma para todos os instrumentos cada um deles tem suas peculiaridades, Existem muitos livros nessa drea; indicaremos aqui os basicos, Para trompa existe um clissico “The Art of French Horn Playing” de Philip Farkas, Outro livro também muito interessante é “Horn Technique" de Gunther Schuler. Para o trompete temos 0 livro “Trumpet Technique” de Delbert A. Dale. Outro livro muito importante, que também traz muitos exercicios priticos é 0 "ASA Methode de Rolf Quinque. Para o trombone temos “Trombone Technique” de Denis Wick. Existem varios periédicos especificos para cada instrumento. Um dos mais famosos que trata sobre todos instrumentos de metal é “Brass Bulletin”. Completando a formagio Duas coisas ainda so muito importantes na formagdo de um instrumentista: conhecer a aciistica e desenvolver sua musicalidade. » Arte do Sopra Desvendando atéenica dos instrumentos de Bacal Para aciistica existe um livro muito interessante escrito em linguagem muito clara “Sopros, gordas e Harmonia” de Arthur H. Benade. Quanto 0 desenvolvimento da musicalidade o caminho ¢ muito mais complexo, existe um livro de Philip Farkas que poder auxilid-lo muito nessa caminha: “The Art of Musicianship”. Para se chegar a dominar tenicamente um instrumento 0 caminho pode ser muito longo e desencorajador, mas se vocé enfrentélo com coragem verd que a cada passo voce tend mais seguranga no andar e que aquilo que antes parecia ser uma barreira intransponivel se transformara em um simples passo de um caminho fascinante. Sem desculpas Até poucos anos atrés, conseguir um livro de miisica do exterior era uma tarefa nada ficil, Hoje em dia, através da Internet, podemos em poucos minutos localizar o livro que estamos procurando, encomendé-lo e, em algumas semanas, teremos o livro em mos entregue em nossa casa Para comegar suas buscas indicamos alguns enderegos de partida: Livros em inglés http://wwwamazon,com/ Livros em francés http:/Awww.alapage fi/ Livros em italiano http://www intemetbookshop ivhme/hmepge.asp Livros em alemio http://www mailorder-kaiser de/ Livros em inglés http://www barnesandnoble,com/ Livrosemespanhol _httpy/es livra.com/ Brass Bulletin http://Awww.brass-bulletin,ch/ Partituras http:/Awww.amadeus-musicmedia.de/ Acompanhamentos —_ http://www: musicminusone.com/ {indice de editoras htty:/Avww.webcom,convmusies/catalogs html J Angelino Bozzini Bibliografia Técnica especifica 1- (a) “Técnica da Trompa” - Gunther Schuller; (b) “7éenica de Trompete” - Delbert A. Dale; (¢) Técnica de Trombone” - Denis Wick Oxford University Press London, New York, Toronto. 2- “Método de Respiracdo, Apoio e embacadura” - Rolf Quingue, 1980, éditions Bim (Jean-Pierre Mathez) CH. 1630 Bulle/Suisse 3 - “4 Arte de Executar Trompa”’- Philip Farkas, 1956, Summy - Bichard Company Evanston, illinois 60204. Musicalidade: 1- “A Arte da Musicalidade” -Philip Farkas, 1976, Musical Publications PO. Box 66 - Bloomington, Indiana 47401. Consciéncia e Desenvolvimento corporal 1- “Higiene Bucal" -Giorgio de Micheli Carlos Eduardo Aun Michel Nicolau Youssef , 1986, Editora Atica S. A. Rua Bardo de Iguape, 110 Tel. (PABX) 278-9322 Caixa Postal 8656 - So Paulo. 2- “Técnicas de Relaxamento” - Petho Sandor e outros, 1982, Vetor -Editora Psico-Pedagogica Lida, Av. Paulista 2. 518 Tel. 259-9779 CEP 01310 - Sao Paulo. 3- “Consciéncia pelo Movimento” - Moshe Feldenkrais, 1977, Summus Editorial Ltda. Rua Cardoso de Almeida, 1. 287 Tel. 65-1356 e 263-4499 Caixa Postal 13. 814 CEP 05013 - Sao Paulo. 4- “Movimentos Basicos” - Laura Mitchell Barbara Dale, 1984, Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 CEP 01325 - Sao Paulo. 5. (tlas de Anatomia do Movimento” -Rolf Withed , 1986, Editora Manole Ltda. Rua 13 de Maio, 1. 026 Tel. 287-0746 CEP 01327 -Sao Paulo. 6- “Respiragiio e circulagao" - José A. Gaiarsa, 1988, Editora Brasiliense Rua General Jardim, 160 Tel, 231-1422 CEP 01223 - Sao Paulo. Acastica 1- “Sopros, Cordas e Harmonia” - Arthur H. Benade, 1967, Edart - So Paulo - Livraria Editora Ltda. Rua Conde de Sarzedas, 38 S40 Paulo. Técnica Geral: 1- “A embocadura” -Maurice M. Porter, 1980, Boosey and Hawkes Music Publishers Limited 2 - ‘Fundamentos de Execugao dos Instrumentos de Metal” Fred Fox 1974, Volkwein Bros. , Inc. Pittisburgh, Pa 15212. 3- “Tratado Metédico da Pedagogia Instrumental” - Michel Ricquier 1982, Gérard Billaudot, éditeur 14,rue del” échiquier, 75010 -Paris. Malte Burba ~ Podem set obtidos na loja Amazon via internet: 1 - Malte Burba: Brass Master-Class ~ Die Methode fliralle Blechblaser. Der logische Weg zu grenzenloser Sicherheit, Ausdauer und Hohe. Mainz, Schott-Verlag, Neuausgabe 2005) Schott ED 8335 + Com DVD em alemao¢ inglés: Combinagao Livro/DVD: Schott ED 8335-01 + S6DVD : Malte Burba, “Brass Master Class”, Schott SMS 124 2-Malte Burba: Brass Master Class / Method for brassplayers (engl... Mainz, Schott-Verlag 1996 3-Malte Burba: Symmetrische und pentatonische Skalen. Trompete / Hom. EMR 180, Crans-Montana (Schweiz), Edition Marc Reift 2004; pode ser obtido por e-mail: reift@tvs2net.ch 4~- Malte Burba: Omnibus. Brassworkshop Compact - Workout fiir Blechblaser - Skalen, EMR 181. Crans-Montana (Schweiz), Edition Mare Reift 2003; pode ser obtido por ¢-mail:reift@tvs2net,ch 5- Malte Burba: Teach your body to blow (em trés idiomas: alemo, inglés e francés). Edition BIM, CH- Bulle 1987 wwwedit a A Arte do Sopro~ Desvendando atéenica dos instrumentos de Bacal Aprender um instrumento é uma aventura. bce Re ie Rees TR ieee nn ao enon eee ee eee eS ae es ee aR eC? E nesse caminho também que, ao nos defrontarmos com nossas proprias limitagdes, temos a chance de enfrenté-las uma a uma. Esse processo quase infindo faz com que cada passo que damos pela conquista de intimidade e dominio do instrumento seja também um passo rumo 0 auto-conhecimento ¢ aprofundamento do artista que trazemos no peito. Pee ea aran een st cance eu eee eT Gee atten ate tcc CIRC oe occa Beet ene Se ee nn Re ea Oe eRe Ret gegen CRU e cao a oces ec Meee est Merrett GT As A ce see sl ec ca ora rainy WUE in)

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