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Vv CONSTITUICAO DE 1933 CONSTITUICAO DE 11 DE ABRIL DE 1933 1 CONSTITUICAO (*) PARTE I DAS GARANTIAS FUNDAMENTAIS TITULO I : DA NACAO PORTUGUESA ARTIGO 1° © territério de Portugal 0 que actualmente Ihe pertence ¢ compreende: (*) Texto publicado no Didrio do Governo, de 22 de Fevereiro de 1933, nos termos do Decreto n.° 22241, dessa data; submetido a piebiscito em 19 de Marco. de 1933; ¢ entrado em vigor em 1] de Abril de 1933 com a publicagta no Didrio do Governo da acta da assembteia geral de apuramento dos resultados do plebiscite. 1.°—Na Europa: o Continente e Arquipélagos da Madeira e dos Agores; 2.9 Na Africa Ocidental: Arquipélago de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé ¢ Principe ¢ suas dependéncias, S. Joao Baptista de Ajud4, Cabinda e Angola; 3.° — Na Africa Oriental: Mogambique; 4.°—Na Asia: Estado da India ¢ Macau e¢ respectivas dependéncias; 5.°— Na Ocenia: Timor ¢ suas dependéncias. § Unico — A Nagao nao renuncia aos direitos que tenha ou possa vir a ter sobre qualquer outro territério. ARTIGO 2.° Nenhuma parcela do territério nacional pode ser adquirida por Governo ou entidade de direito publico de pais estrangeiro, salvo para instalag&o de representacAo diplomatica ou consular, se existir reciprocidade em favor do Estado Portugués. ARTIGO 3° Constituem a Nag&o todos os cidados portugueses residentes dentro ou fora do seu territério, os quais sio considerados depen- dentes do Estado e das leis portuguesas, salvas as regras aplicdveis de direito internacional. § tinico —- Os estrangeiros que se encontrem ou residam em Portugal esto também sujeitos ao Estado e as leis portuguesas, sem prejuizo do preceituado pelo direito internacional. ARTIGO 4.9 A Nac&o Portuguesa constitui um Estado independente, cuja soberania s6 reconhece como limites, na ordem interna, a moral e 0 direito; ¢, na internacional, os que derivem das convengdes ou trata- dos livremente celebrados ou do direito consuctudinario livremente aceite, cumprindo-lhe cooperar com outros Estados, na preparagio ¢ adopro de solugdes que interessem A paz entre os povos ¢ ao Progresso da humanidade. § nico — Portugal preconiza a arbitragem, como meio de diri- mir os litigios internacionais. ARTIGO 5.0 © Estado portugués ¢ uma Repiblica unitdria ¢ corporativa, baseada na igualdade dos cidadaos perante a Ici, no livre acesso de todas as classes aos beneficios da civilizago e na interfertncia de todos os elementos estruturais da Nagao na vida administrativa e na feitura das leis. § tinico — A igualdade perante a iei envolve o dircito de ser provide nos cargos piiblicos, conforme a capacidade ou servicos prestados, © a negacio de qualquer privilégio de nascimento, nobreza, titulo nobilidrquico, sexo, ou condigio social, salvas, quanto 4 mudher, as diferengas resultantes da sua natureza e do bem da familia, e, quanto aos encargos ou vantagens dos cidaddos, as impostas pela diversidade das circunstncias ou pela natureza das coisas. ARTIGO 6° Incumbe ao Estado: 1.°— Promover a unidade moral e estabelecer a ordem juridica da Nagao, definindo e fazendo respeitar 0s direitos ¢ garantias resul- tantes da natureza ou da lei, em favor dos individuos, das familias, das autarquias locais e das corporagdes morais e econmicas; 2.°— Coordenar, impulsionar ¢ dirigir todas as actividades sociais, fazendo prevalecer uma justa harmonia de interesses, dentro da legitima subordinagdo dos particulares ao geral; 3.° — Zelar pela melhoria de condigSes das classes sociais mais desfavorecidas, obstando a que aquelas descam abaixo do m{nimo de existéncia humanamente suficiente. T{TULO II DOS CIDADAOS ARTIGO 7.5 A lei civil determina como se adquire ¢ como se perde a quali- dade de cidaddo portugués. Este goza de direitos ¢ garantias consig- nadas na Constituigio, salvas, quanto aos naturalizados, as restrigdes estabelecidas na lei. § tnico — Dos mesmos direitos ¢ garantias gozam os estrangei- ros residentes em Portugal, se a lei nao determinar o contrdrio. Exceptuami-se 08 direitos politicos ¢ os direitos puiblicos que se tra- duzam num encargo para o Estado, observando-se porém, quanto aos-tltimos, a reciprocidade de vantagens concedidas aos stibditos portugueses por outros Estados. ARTIGO 8.° Constituem direitos e garantias individuais dos cidadaos portugueses: 1.° —O direito A vida ¢ integridade pessoal; 2.°— O direito ao bom nome ¢ reputacio; 3.0 — A liberdade e a inviolabilidade de crengas e praticas reli giosas, nfo podendo ninguém por causa delas ser perseguido, pri- vado de um dircito, ov isento de qualquer obrigagio ou dever cfvico. Ninguém seri obrigado a responder acerca da religido que professa, a no ser em inquérito estatistico ordenado por lei. 4.°— A liberdade de expressio do pensamento sob qualquer forma, 5.°— A liberdade de ensino; 6.°—A inviolabilidade do domictlio ¢ o sigilo da correspon- d@ncia, nos termos que a lei determinar; 7.0 — A liberdade de escolha de profissdo ou género de traba- Iho, inddstria ou comércio, salvas as restrigdes legais requeridas pelo bem romum € os exclusivos que s6 0 Estado e os corpos admi- nistrativos poderdo conceder nos termos da lei, por motivo de reco- nhecida utilidade publica; 8.° — No ser privado da liberdade pessoal nem preso sem culpa formada salvos os casos previstos nos §§ 3.° ¢ 4.°; 9,° — Nao ser sentenciado criminalmente sendo em virtude de lei anterior que declare puniveis 0 acto ou omissio; 10.° — Haver instrucHio contraditéria, dando-se aos arguidos, antes ¢ depois da formagdo da culpa, as necessdrias garantias de defesa; 11.° — No haver penas corporais perpétuas, nem a de morte, salvo, quanto a esta, o caso de beliger4ncia com pais estrangeiro, e para ser aplicada no teatro da guerra; 12,°— Nao haver confisco de bens, nem transmissdo de qual~ quer pena da pessoa do delinquente; 13.° — Nao haver prisiio por falta de pagamento de custas ou selos; 14.°— A liberdade de reunidio e associagdo; 15.°— O direito de propriedade e a sua transmissdo em vida ou por morte, nas condigées determinadas pela iei civil; 16.° — Nao pagar impostos que no tenham sido estabelecidos, de harmonia com a Constituigio; 17.°—O direito de reparagio de toda a leso efectiva con- forme dispuser a lei, podendo esta, quanto a lesées de ordem moral, prescrever que a reparago seja pecunidria; 18.° — O direito de representagio ou peti¢io, de reclamagio ou queixa, perante os érgios da soberania ou quaisquer autoridades, em defesa dos seus direitos ou do interesse geral; 19.° —- O direito de resistir a quaisquer ordens que infrinjam as. garantias individuais, se no estiverem legalmente suspensas, ¢ do repelir pela forga a agressio particular, quando nao seja possivel recorrer & autoridade publica; 20.° — Haver revis&o das sentengas criminais, assegurando-se 0 direito de indemnizagio de perdas ¢ danos pela Fazenda Nacional, ao réu ou seus herdeiros, mediante processo que a lei regularé. § L.°— A especificacdo destes direitos ¢ garantias no exclui quaisquer outros constantes da Constituigdo ou das leis, entendendo-se que os cidadios deverdo sempre fazer uso deles sem ofensa dos direitos de terceiros, nem lesfo dos interesses da socie- dade ou dos principios da moral. § 2.°— Leis especiais regularfio o exercicio da liberdade de expresso do pensamento, de ensino, de reunifo e de associagao, devendo, quanto & primeira, impedir preventiva ou repressivamente a perverséo da opinido pitblicas na sua fungio de forga social, salvaguardar a integridade moral dos cidadfios, a quem ficara asse- gurado o dircito de fazer inserir gratuitamente a rectificagdo ou defesa na publicagdo periédica em que forem injuriados ou infama- dos, sem prejuizo de qualquer outra responsabilidade ou procedi- mento determinado na lei. § 3.° — E autorizada a prisdo, sem culpa formada, em flagrante delito ¢ nos seguintes crimes consumados, frustrados ou tentados: contra a seguranga do Estado; falsificagio de moeda, notas de Banco e titulos de divida piblica; homicidio voluntdrio; furto doméstico ou roubo; furto, burla ou abuso de confianga, praticados por um reincidente; faléncia fraudulenta; fogo posto; fabrico, deten- go ou emprego de bombas explosivas ¢ outros engenhos semelhantes. § 4.9 —- Fora dos casos indicados no pardgrafo antecedente, a prisio em cadeia publica ou detencdo cm domicilio privado ou esta- belecimento de alienados sé podera ser levada a efcito mediante ordem por escrito da autoridade competente, e nfo sera mantida oferecendo o incriminado caugio idénea ou termo de residéncia, quando a lei o consentir. Poderd contra o abuso de poder usar-se da providéncia excep- cional dos Habeas Corpus, nas condiges determinadas em lei especial. ARTIGO 9." ‘A qualquer empregado do Estado, dos corpos ¢ corporacées administrativas ou de companhias que com um ou outros tenham contrato é garantido o direito ao lugar durante o tempo cm que for obrigado a prestar servigo militar. ARTIGO 10° F vedado aos érgdos da Soberania, conjunta ou separada- mente, suspender a Constituicdo, ou restringir os direitos nela con- signados, salvo os casos na mesma previstos. TITULO II DA FAMILIA ARTIGO 112 © Estado assegura a constituigio ¢ defesa da familia, como fonte de conservagio e desenvolvimento da raga, como base primé- ria da educagio, da disciplina e harmonia social, ¢ como funda- mento de toda a ordem politica pela sua agregagdo e representagdo na freguesia ¢ no municipio. ARTIGO 12° A constituigdo da familia assenta: 1.9. No casamento ¢ filiago legitima; 2.°—Na igualdade de dircitos c deveres dos dois cénjuges, quanto a sustentagao ¢ educacHo dos filhos legitimos; 3.9 — Na obrigatoriedade de registo do casamento ¢ do nasci- mento dos filhos. § 1.°—A kei civil estatui as normas relativas As pessoas ¢ bens dos cénjuges, 20 patrio poder ¢ seu suprimento, aos direitos de sucesso na linha recta ou colateral e a0 direito de alimentos. § 2.°—E garantida aos filhos legitimos a plenitude dos direitos exigidos pela ordem ¢ solidez da familia, reconhecendo-se aos ilegi- timos perfilhaveis, mesmo os nascituros, direitos convenientes a sua situago, em especial o de alimentos, mediante investigagao acerca das pessoas a quem incumba a obrigagéo de os prestar. ARTIGO 13° Em ordem a defesa da familia pertence ao Estado ¢ autarquias Jocais: 1.°— Favorecer a constituigéo de lares independentes © em condigées de salubridade, a instituicéo do casal de familia; 2.°— Proteger a maternidade; 3.°— Regular os impostos de harmonia com os encargos legiti- mos da familia e promover a adop¢ao do salério familiar; 4.°— Facilitar aos pais 0 cumprimento do dever de instruir e educar os filhos, cooperando com eles por meio de estabelecimentos oficiais de ensino e correcciio, ou favorecendo instituigées particula~ res que se destinem ao mesmo fim, 5.°— Tomar todas as providéncia no sentido de evitar a cor- rupeiia dos costumes. TITULO IV DAS CORPORAGOES MORAIS E ECONOMICAS ARTIGO 149 Incumbe ao Estado reconhecer as corporacdes morais ou eco- némicas ¢ as assaciagSes ou organizagdes sindicais, ¢ promover € auxiliar a sua formagho. ARTIGO 15.2 As corporacties, associaghes ou organizagées a que se refere 0 artigo anterior visario principalmente objectivos cientificos, literd- ios, artisticos ou educagao fisica; de assisténcia, beneficiéncia ow caridade; de aperfeigoamento técnico ou solidariedade de interesses, € serfio reguladas, na sua constituiclo ¢ exercicio das suas fungées, por normas especiais. ARTIGO 16° Podem fazer parte das referidas corporagées, associagdes ou organizagées, nos termos que a lei determinar, os estrangeiros domi- ciliados em Portugal; é&Ihes, porém, vedado intervir no exercicio dos direitos politicos as mesmas atribuidos, TITULO V DA FAMILIA, DAS CORPORACOES E DAS AUTARQUIAS COMO ELEMENTOS POLITICOS ARTIGO 17.9 Pertence privativamente as familias 0 direito de eleger as juntas de freguesia. § Unico — Este direito & exercido pelo respectivo chefe. ARTIGO 18° Nas corporagées morais e econdmicas estardo organicamente representados todos os elementos da Nagao, competindo-lhes tomar parte na cleig&o das cAmaras municipais e dos conselhos de provin- cia ¢ na constituicio da Camara Corporativa. ARTIGO 19° Na organizagdo politica do Estado concorrem as juntas de fre- guesia para a eleicdo das camaras municipais ¢ estas para a dos conselhos de provincia. Na Camara Corporativa havera representa- go de autarquias locais. TITULO VI DA OPINIAO PUBLICA ARTIGO 20° A opinigo publica é elemento fundamental da politica ¢ admi- nistragio do Pais, incumbindo ao Estado defendé-la de todos os factores que a desorientem contra a verdade, a justiga, a boa admi- nistragio ¢ o bem comum. ARTIGO 21° ‘A imprensa exerce uma fungdo de cardcter publico, por virtude da qual nao poderd recusar, em assuntos de interesse nacional, a insergo de notas oficiosas de dimensées comuns que Ihe sejam enviadas pelo Governo. TITULO VII DA ORDEM POL{TICA. ADMINISTRATIVA E CIVIL + ARTIGO 229 Os funciondrios puiblicos esto ao servigos da colectividade no de qualquer partido ou organizagao de interesses particulares, incumbindo-lhes acatar ¢ fazer respeitar a autoridade do Estado. ARTIGO 23” Esto sujeitos & disciplina prescrita no artigo anterior os empregados das autarquias locais e corporagées administrativas, € bem assim os que trabalham em empresas que explorem servigos de interesse ptiblico. ARTIGO 24° ‘A suspensio concertada de servigos piblicos ow de interesse colectivo importaré a demissio dos delinquentes, além de outras responsabilidades que a lei prescrever. ARTIGO 25.9 Nao ¢ permitido acumular, salvo nas condigées previstas na Ici, empregos do Estado ou das autarquias locais, ou daquele ¢ destas. § 1° — O regime das incompatibilidades, quer de cargos pibli- cos, quer destes com o exercicio de outras profissdes, sera definide em lei especial. § 2° —Ser&o dificultadas, como contririas A economia ¢ moral ptiblicas, as acumulagdes de lugares em empresas privadas. ARTIGO 26° Todos os cidaddos sio obrigados a prestar ao Estado e As autarquias locais cooperagao ¢ servigos em harmonia com as leis, ¢ a contribuir, conforme os seus haveres, para os encargos piblicos. ARTIGO 27." © Estado concederé distingdes honorificas ou recompensas aos cidadaos que se notabilizarem pelos seus méritos pessoais, ou pelos seus feitos civicos ou militarcs, ¢ ainda aos estrangeiros por conve- nigncias internacionais, estabelecendo a lei as ordens, condecora- ges, medalhas ou diplomas a isso destinddos. ARTIGO 28.2 O registo do estado civil dos cidad&os 6 da competéncia do Estado. TITULO VIII DA ORDEM ECONOMICA E SOCIAL ARTIGO 29° A organizagio econémica da Nagdo deverd realizar 0 méximo de produg&o ¢ riqueza socialmente util, ¢ estabelecer uma vida colectiva de que resultem poderio para o Estado ¢ justica entre os cidadaos. ARTIGO 30 O Estado regularé as relagdes da economia nacional com a dos outros paises em obediéncia ao principio de uma adequada coopera- ¢4o, sem prejuizo das vantagens comerciais a obter especialmente de alguns ou da defesa indispensdvel contra ameacas ou ataques externos. ARTIGO 31.9 © Estado tem a direito e obrigaciio de coordenar ¢ regular superiormente a vida econémica € social com os objectivos seguintes: 1.°— Estabelecer 0 equilibrio da populagao, das profissées, dos empregos, do capital ¢ do trabalho; 2.°— Defender a economia nacional das exploragdes agricolas, industriais e comerciais de carécter parasitério ou incompativeis com os interesses superiores da vida humai 3.¥ — Conseguir o menor prego ¢ 0 maior salirio compativeis com a justa remuneracdo dos outros factores da produgfo, pelo aperfeigoamento da técnica, dos servigos ¢ do crédito; 4.° — Desenvolver a povoagio dos territérios nacionais, prote- ger os emigrantes e disciplinar a emigragio. ARTIGO 32° © Estado favorecerd as actividades econdémicas particulares que, em relativa igualdade de custo, forem mais rendosas, sem pre- juizo do beneficio social ¢ da protecco devida as pequenas indus- trias domésticas. ARTIGO 33.2 © Estado sé pode intervir directamente na geréncia das activi- dades econémicas particulares quando haja de financié-las e para conseguir beneficios sociais superiores aos que seriam obtidos sem a sua intervengao. § Gnico — Ficam igualmente sujeitas 4 condigo prevista na Ultima parte deste artigo as exploragdes de fim lucratiyo do Estado, ainda que trabalhem em regime de livre concorttneia. ARTIGO 34° © Estado promoverd a formagio ¢ desenvolvimento da econo- mia nacional corporativa, visando a que os seus elementos ndo ten- dam a estabelecer entre si concorréncia desregrada ¢ contréria aos justos objectivos da sociedade ¢ deles prdprias, mas a colaborar mutuamente como membros da mesma colectividade. ARTIGO 35° A propriedade, o capital e 0 trabalho desempenham wma fun- g40 social, em regime de cooperagio cconémica e solidariedade, podendo a lei determinar as condicées do seu emprego ou explora- Go conformes com a finalidade colectiva. ARTIGO 36. © trabalho, quer simples quer qualificado ou téenico, pode ser associado & empresa pela maneira que as circunstancias aconselharem. ARTIGO 37° As corporagdes econémicas reconhecidas pelo Estado podem celebrar contratos colectivos de trabalho, sendo nulos os que forem celebrados sem a sua intervengao. ARTIGO 38° Os litigios que se refiram as relagdes colcctivas do trabalho so da competéncia de tribunais espec ARTIGO 39.2 Nas relagdes econémicas entre o capital e o trabalho no é per- mitida a suspensio de actividades por qualquer das partes com 0 fim de fazer vingar os respectivos interesses. ARTIGO 40. E direito e obrigacdo do Estado a defesa da moral, da salubri- dade da alimentacdo ¢ da higiene publica. ARTIGO 41° 0 Estado promove ¢ favorece as instituigées de sotidariedade, previdéncia, cooperagio ¢ mutualidade. TITULO IX DA EDUCAGAO, ENSINO E CULTURA NACIONAL ARTIGO 42° A educago ¢ instrugdio s&o obrigatérias ¢ pertencem a familia ¢ aos estabelecimentos oficiais ou particulares em cooperagéo com ela. ARTIGO 43° Estado manteré oficiatmente escolas primarias, complemen- tares, médias ¢ superiores e institutos de alta cultura. § 1.°—0O ensino primério elementar é obrigatério, podendo fazer-se no lar doméstico, em escolas particulares ou em escolas oficiais. § 2.°— As artes ¢ as citncias serfio fomentadas e protegidas no seu desenvolvimento, ensino e propaganda, desde que sejam respei- tadas a Constituicéo, a hierarquia e a acco coordenadora do Estado. § 3.°—O ensino ministrado pelo Estado ¢ independente de qualquer culto religioso, no o devendo porém hostilizar, e visa, além do revigoramento fisico e do aperfeigoamento das faculdades intelectuais, & formagao do cardcter, do valor profissional e de todas as virtudes civicas ¢ morais. § 4." — No depende de, autorizagio o ensino religioso nas escolas particutares. ARTIGO 44° F livre o estabelecimento de escolas particulares paralelas as do Estado, ficando sujeitas a fiscalizagho deste ¢ podendo ser por cle subsidiadas, ov oficializadas para o efeito de concederem diplomas, quando os seus programas ¢ categorias do respective pessoal docente nfo forem inferiores aos dos estabelecimentos oficiais similares. TITULO X DAS RELACOES DO ESTADO COM A IGREJA CATOLICA E DEMAIS CULTOS ARTIGO 45. E livre 0 culto pitblico ou particular de todas as religiGes, podendo as mesmas organizar-se livremente, de harmonia com as normas da sua hierarquia e disciplina, constituindo por essa forma associagdes ou organizacdes a que o Estado reconhece existéncia civil e personalidade juridica. § unico — Excepiuam-se os actos de culto incompativeis com a vida e integridade fisica da pessoa humana ¢ com os bons costumes. ARTIGO 46° Som prejuizo do preceituado pelas concordatas na esfera do Padroado, 0 Estado mantém o regime de separago em relagio a Igreja Catélica e a qualquer outra religido ou culto praticado dentro do territério portugues, ¢ as relagdes diplométicas entre a Santa Sé e Portugat com reciproca representagéo. ARTIGO 47.° Nenhum templo, edificio, dependéncia ou objecto do culto afecto a uma religifo podera ser destinado pelo Estado a outro fim. ARTIGO 48° Os cemitérios puiblicos t#m cardcter secular, podendo os minis- tros de qualquer religifo praticar neles livremente os respectivos ritos. TITULO XI ~ DO DOMINIO PUBLICO E PRIVADO DO ESTADO ARTIGO 49.9 Pertencem ao dominio ptiblico do Estado: 1.°—Os jazigos minerais, as nascentes de Aguas minero- medicinais e outras riquezas naturais no subsolo; 2. — As dguas maritimas, com os seus leitos; 3.9 — Os lagos, lagoas ¢ cursos de 4gua navegaveis ou flutua- veis, com os respectivos Icitos ou dlveos e bem assim os que, por decreto especial, forem reconhecidos de utilidade publica como aproveitaveis para produgdo de energia eléctrica, nacional ou regio- nal, ou para irrigagio; 4.° — As valas abertas pelo Estado; 5.°— As camadas uéreas superiores ao territério, para além dos limites que a lei fixar em beneficio do proprietario do solo; 6.° — As linhas férreas de interesse publico de qualquer natu- reza, as estradas e caminhos publicos; 7.° — As zonas territoriais reservadas para a defesa militar; 8.°— Quaisquer outros bens sujeitos por lei ao regime do dominio piblico. § 1.°-—Os poderes do Estado sobre os bens do dominio publico € © uso destes por parte dos cidadaos so regulados pela lei € pelas convengGes internacionais celebradas por Portugal, ficando sempre ressalvados para o Estado os seus direitos anteriores e para os particulares os direitos adquiridos, podendo estes porém ser objecto de expropriagio determinada pelo interesse publico ¢ mediante justa indemnizagao. § 2.° — Das riquezas indicadas no n.° 1.° sio expressamente exceptuadas as rochas ¢ terras comuns e os materiais vulgarmente empregados nas construgées, § 3.°— O Estado procedera A delimitacdo dos terrenos que, constituindo propricdade particular, confinem com bens do domf- nio ptblico, ARTIGO 50° A administragéo dos bens que estéo no dominio privado do Estado pertence no Continente e Ihas Adjacentes ao Ministério das Finangas, salvo 05 casos de expressa atribuigo a qualquer outro. ARTIGO 51° Nao podem ser alienados quaisquer bens ou direitos do Estado que interessem ao seu prestigio ou superiores conveniéncias nacionais. ARTIGO 52° Esto sob a proteccio do Estado os monumentos artisticos, histéricos ¢ naturais, e os objectos artisticos oficialmente reconheci- dos como tais, sendo proibida a sua alienagio em favor de estrangeiros. TITULO XII DA DEFESA NACIONAL ARTIGO 53.” © Estado assegura a existéncia e 0 prestigio das instituicées militares de terra e mar exigidas pelas supremas necessidades de defesa da integridade nacional e da manuteng&o da ordem ¢ da paz pablica. § nico — A organizacao militar € una para todo o territério. ARTIGO 54° O servigo militar é geral ¢ obrigatério. A lei determina a forma de ser prestado. ARTIGO 55° A lei regulard a organizagiio geral da Nag&o para o tempo de guerra, em obediéncia ao principio da naglo armada. ARTIGO 562 © Estado promove, protege ¢ auxilia instituigdes civis que tenham por fim adestrar ¢ disciplinar a mocidade em ordem a prepard-la para o cumprimento dos seus deveres militares ¢ patridticos. ARTIGO 57° Nenhum cidadao pode conservar ov obter emprego do Estado ou das autarquias locais se nio houver cumprido os deveres a que estiver sujeito pela lei militar. ARTIGO 58° © Estado garante proteccfio e pensdes Aqueles que se inutiliza- rem no servigo militar em defesa da Patria ou da ordem, ¢ bem assim & familia dos que nele perderem a vida. TITULO Xilt DAS ADMINISTRAGOES DE INTERESSE COLECTIVO ARTIGO 59,9 Sto consideradas de interesse colectivo e sujeitas a regimes especiais de administracSo, concurso, superintendéncia ou fiscaliza- g&o do Estado, conforme as necessidades da seguranga publica, da defesa nacional ¢ das relagdes econémicas e sociais, todas as empre- sas que visem ao aproveitamento e exploragio das coisas que fazem parte do dominio piblico do Estado. ARTIGO 60° Obedecerdo a regras uniformes, sem prejuizo, em pontos secun- darios, das especialidades necessérias: 1.°— O estabelecimento ou transformagéio das comunicagdes terrestres, fluviais, maritimas e aéreas, qualquer que seja a sua natu- Teza ou fins; 2.° — A construgdo das obras de aproveitamento de Aguas ou carvées minerais para produg&o de energia eléctrica, e bem assim a construgio de redes para o transporte, abastecimento ou distribui- gio da mesma, e ainda as obras gerais de hidraulica agricola; 3.°— A explorag&o dos servicos publicos relative as mesmas comunicagées, obras ¢ redes. ARTIGO 61° O Estado promovera a realizagio dos melhoramentos piiblicos mencionados no artigo anterior, designadamente o desenvolvi- mento da marinha mercante nacional, tendo sobretudo em vista as Figagdes com os dominios ultramarinos ¢ os paises onde forem numerosos os portugueses. ARTIGO 62° As tarifas de exploragdo de servicos publicos concedidos esto sujeitas & regulamentagio ¢ fiscalizagdo do Estado. TITULO XIV DAS FINANCAS DO ESTADO ARTIGO 63° © Orgamento Geral do Estado para o Continente ¢ Ilhas Adja~ centes € unitério, compreendendo a totalidade das receitas e despe- sas piblicas, mesmo as dos servigos auténomos, de que podem ser publicados parte desenvolvimentos especiais. § tinico — Cada colénia organizaré o seu orgamento em obe- digncia aos principios consignados neste artigo. ARTIGO 64° © Orcamento Geral do Estado é anualmente organizado e posto em execugiio pelo Governo, em conformidade com as disposi~ Bes legais em vigor ¢ em especial com a lei de autorizag&o prevista no n.° 4. do artigo 91.9. ARTIGO 65° As despesas correspondentes a obrigagdes legais ou contratuais do Estado ou permanentes por sua natureza ou fins, compreendidos os encargos de juro e amortizagio da divida publica, devem ser tomadas como base da fixacdo dos impostos outros rendimentos do Estado. ARTIGO 66° © orgamento deve consignar os recursos indispensdveis para cobrir as despesas totais, ARTIGO 67° N&o pode recorrer-se a empréstimos senfio para aplicagdes extraordindrias em fomento econémico, aumento indispensavel do patriménio nacional ou necessidades imperiosas de defesa e salva- gio pitblica. § unico —— Podem todavia obter-se, por meio de divida flu- tuante, os suprimentos necessdrios, em representagao de receitas da geréncia corrente, no fim da qual deve estar feita a liquidagae ou 0 ‘Tesouro habilitado a fazé-la pelas suas caixas, ARTIGO 68° O Estado nao pode diminuir, em detrimento dos portadores dos titulos, 0 capital ou o juro da divida publica fundada, podendo porém converté-la, nos termos de dircito. ARTIGO 69° Nao podem ser objecto de consolidacdo forgada os débitos por depésitos efectuados nas caixas do Estado ou nos estabelecimentos de crédito que Ihe pertengam. ARTIGO 702 A lei fixa os principios gerais relativos: 1.° — Aos impostos; 2.° — As taxas a cobrar nos servicos piblicos; 3.°—A administragio e exploracio dos bens ¢ empresas do Estado. § 1.° — Em matéria de impostos a lei determinard: a incidencia, a taxa, as isengdes a que haja lugar, as reclamagdes ¢ recursos admi- tidos em favor do contribuinte. § 2.° — A cobranga de impostos estabelecidos por tempo inde- terminado ou por periodo certo que ultrapasse uma geréncia de- pende de autorizagio da Assembleia Nacional. PARTE II DA ORGANIZACAO POLITICA DO ESTADO TITULO 1 DA SOBERANIA ARTIGO 71" ‘A soberania reside na Nag&o ¢ tem por érgaos o Chefe do Estado, a Assembleia Nacional, o Governo ¢ os Tribunais. T{TULO II DO CHEFE DO ESTADO CAPITULO I DA ELEICAO DO PRESIDENTE DA REPUBLICA E SUAS PRERROGATIVAS ARTIGO 72.2 © Chefe do Estado ¢ 0 Presidente da Repiiblica eleito pela Nagao. § 1.2 —O Presidente € eleito por sete anos. § 2.9 — A eleigao realiza-se no domingo mais préximo do 60.° dia anterior ao termo de cada periodo presidencial, por sufrigio directo dos cidadaos eleitores. § 3.9 —O apuramento final dos votos ¢ feito pelo Supremo Tribunal de Justica que proclamard Presidente o cidaddo mais votado. ARTIGO 73. S6 pode ser eleito Presidente da Republica o cidadao portugues maior de trinta ¢ cinco anos, no pleno g0z0 dos seus direitos civis politicos, que tenha tido sempre a nacionalidade portuguesa. § anico — Se o eleitor for membro da Assembleia Nacional perdera ‘0 mandato. ARTIGO 74° So inelegiveis para o cargo de Presidente da Repitblica os parentes até ao 6.° grau dos reis de Portugal. ARTIGO 752 O Presidente eleito assume as suas fungdes no dia em que expira o mandato do anterior ¢ toma posse perante a Assembleia Nacional, usando a seguinte formula de compromisso: «Juro manter e cumprir leal e fielmente a Constituigao da Repiblica, observar as leis, promover o bem gerai da Nago, sus- tentar e defender a integridade e a independéncia da Patria Portuguesa». ARTIGO 76° O Presidente da Reptblica sé pode ausentar-se para pais estrangeiro com assentimento da Assembleia Nacional e do Governo. § unico — A inobservaincia do disposto neste artigo envolve, de pleno direito, a perda do cargo. ARTIGO 77° O Presidente da Repiblica recebe um subsidio, que sera fi- xado antes da sua elei¢do, e pode escolher duas propriedades do Estado que deseje utilizar para a Secretaria da Presidéncia ¢ para sua residencia e das pessoas de sua familia. ARTIGO 78° Presidente da Repiblica responde directa e exclusivamente perante a Nagao pelos actos praticados no exereicio das suas fun- oes, sendo o exercicio destas e a sua magistratura independentes de quaisquer votagdes da Assembleia Nacional. § Unico — Por crimes estranhos ao exercicio das fungées, 0 Presidente s6 responderd depois de findo 0 mandato, ARTIGO 79." O Presidente da Republica pode renuncizr ao cargo em mensa- gem dirigida 4 Nac&o e publicada no Didrio do Governo. ARTIGO 80° No caso da vagatura da Presidéncia da Repdblica, por morte, renincia, impossibilidade fisica permanente do Presidente ou ausén- cia para pais estrangeiro scm assentimento da Assembleia Nacional e do Governo, o novo Presidente sera eleito no prazo miximo de sessenta dias, § 1.°—A impossibilidade fisica permanente do Presidente da Repiiblica deve ser reconhecida pelo Conselho de Estado, para esse _ eleito convocado pelo Presidente do Conselho de Ministros que, em caso afirmativo, fara publicar no Didrio do Governo a declaracho de vagatura da Presidéncia. § 2.° — Enquanto se nao realizar a ¢leigdo prevista neste artigo, ou quando, por qualquer motivo, houver impedimento transitério das fungdes presidenciais, ficard 0 Governo, no seu conjunto, inves- tido nas atribuigdes do Chefe do Estado. CAPITULO II DAS ATRIBUIGOES DO PRESIDENTE DA REPUBLICA ARTIGO 81° Compete ao Presidente da Repiblica: 1.9 — Nomear o Presidente do Conselho e os Ministros de entre os cidadaos portugueses, ¢ demiti-los; 2.° — Dirigir mensagens A Assembleia Nacional, enderecando- as ao presidente, que deverd Ie-las na primeira sessiio posterior ao seu recebimento; 3.°— Marcar, em harmonia com a lei eleitoral, o dia para as cleigées gerais ou suplementares de Deputados; 4.°— Dar a Assembleia Nacional poderes constituintes, nos termos do artigo 134.%; 5.° — Convocar extraordinariamente, por urgente necessidade publica, a Assembleia Nacional para deliberar sobre assuntos deter- minados, ¢ adiar as suas sessGes, sem prejuizo da duragio fixada para a sessfio legislativa em cada ano; 6.° — Dissolver a Assembleia Nacional quando assim 0 exigi- rem os interesses superiores da Nacdo; 7.9 Representar a Nagao ¢ dirigir a politica externa do Estado; ajustar convencdes internacionais e negociar tratados de paz ¢ alianga, de arbitragem e de comércio, submetendo-os & apro- vagiio da Assembleia Nacional, 8.° — Indultar ¢ comutar penas. O indulto nio pode ser conce- dido antes de cumprida metade da pena; 9.9 Promulgar e fazer publicar as leis ¢ as resolugdes da Assembleia Nacional e expedir os decretos, regulamentos ¢ instru- g6es que Ihe forem propostos pelo Governo. ARTIGO 82° Os actos do Presidente da Repiblica devem ser referendados pelo Ministro ou Ministros competentes ou por todo 0 Governo, sem 0 que scrao nulos de pleno direito. § Gnico — Nao carecem de referenda: 1.¢— A nomeag&o ¢ demissio do Presidente do Conselho; 2.9 — As mensagens dirigidas A Assembleia Nacional, 3.2 — A mensagem de rendncia ao cargo. CAPITULO TL DO CONSELHO DE ESTADO ARTIGO 83° Junto do Presidente da Republica funciona o Conselho de Estado, composto dos seguintes membros: 1.9 — 0 Presidente do Conselho de Ministros; .° O da Assembleia Nacional; .° — O da Camara Corporativa; .° — O do Supremo Tribunal de Justica; © Procurador-Geral da Repiblica; Cinco homens pitblicos de superior competéncia, nomea- dos vitaliciamente pelo Chefe do Estado. ARTIGO 84° © Conselho de Estado seré ouvido pelo Presidente da Rept- blica antes de serem exercidas as atribuigGes a que se referem os n.°* 4.9, 5.9 ¢ 6,° do artigo 81.° o § tinico do artigo 87.° e em todas as emergéncias graves da vida do Estado, podendo igualmente ser con- vooado sempre que o Presidente o julgue necessirio. TITULO IT DA ASSEMBLEIA NACIONAL CAPITULO L UIGAO DA ASSEMBLRIA NACIONAL ARTIGO 85° ‘A Assembleia Nacional composta de noventa deputados elei- tos por sufragio directo dos cidadaos eleitores, durante o seu man- dato quatro anos, § [.° — Em lei especial sero determinados os requisitos de cle- gibilidade dos deputados, a organizag&o dos colégios eleitorais € o processo de eleicio. § 2.°—Ninguém pode ser ao mesmo tempo membro da Assembleia Nacional e da Camara Corporativa. § 3.°— As vagas que ocorrerem na Assembleia Nacional sio preenchidas por eleigio suplementar, expirando os novos mandatos com o termo da Icgislatura. ARTIGO 86° Compete A Assembleia Nacional verificar ¢ reconhecer os pode- res dos seus membros, eleger a sua mesa, elaborar o seu regimento interno ¢ regular a sua policia. ARTIGO 87° Se a Assembleia Nacional for dissolvida, as eleigdes devem efectuar-se dentro de sessenta dias, pela lei eleitoral vigente ao tempo da dissolucdo. As novas Camaras reunirao dentro dos trinta dias seguintes ao encerramento das operagées eleitorais, se nio esti- ver concluida a sessio legislativa desse ano, e duram uma Iegislatura completa, sem contar o tempo que funcionarem cm complemento da sessfo legislativa anterior e sem prejuizo do direito de dissolugao. , § anico — O prazo de sessenta dias fixado neste artigo pode ser prorrogado até seis meses, se assim o aconselharem os superiores interesses do Pais. ARTIGO 88." Depois da iltima sesso legislativa ordindria do quadriénio, a Asscmbleia Nacional subsistiré até ao apuramento do resultado das novas eleigdes gerais. CAPITULO IT DOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA NACIONAL ARTIGO 89.2 Os membros da Assembleia Nacional gozam das seguintes imu- nidades ¢ regalias: a) Sio invioléveis pelas opinides e votos que emitirem no exer- cicio do seu mandato, com as restrigdes constantes dos §§ 1.° e 2.% b) Nao podem ser jurados, peritos ou testemunhas sem autori- zagdo da Assembleia; c) Nao podem ser nem estar presos sem assentimento da ‘Assembleia, excepto se 0 forem em flagrante delito, ou por crime a que corresponda pena maior ou equivalente na escala penal; d) Se algum Deputado for precessado criminalmente e pronun- ciado, o juiz comunicé-lo-4 4 Assembleia, que, fora do caso previsto na dltima parte da alinea c) deste artigo, decidird se 0 Deputado deve ou nfo ser suspenso, para efeito do seguimento do proceso; e) Tém direito a um subsidio nos termos que a lei eleitoral estabelecer. § 1.° — A inviolabilidade pelas opinides e votos nfo isenta os membros da Assembleia Nacional da responsabilidade civil ¢ crimi- nal por difamagdo, calinia ¢ injaria, ultrage & moral publica ou provocagdo pablica ao crime. § 2.°—A Assembleia Nacional pode retirar 0 mandato aos Deputados que emitam opinides contrarias a existencia de Portugal como Estado independente ou por qualquer forma incitem a subver- so violenta da ordem politica ¢ social. § 3.° — As imunidades ¢ regalias estabelecidas nas alineas 4), c), d) € e) subsistem apenas durante o exereicio efectivo das fungoes legislativas. ARTIGO 90.2 Aos membros da Assembleia Nacional é vedado: 1.° — Celebrar contratos com o Governo ou aceitar deste, ou de qualquer Governo estrangeiro, emprego retribuido ou comissio subsidiada. Exceptuam-se desta disposigao: a) As missées diplométias de Portugal; 4) As comissées ou comandos militares do Continente ¢ Iihas Adjacentes e das Colénias ¢ os governos ultramarinos; c) Os cargos de acesso € as promogées legais; d) As nomeagées que por lei sio feitas pelo Govern prece- dendo concurso, ou sob proposta de entidades a quem Iegalmente caiba fazer indicag&o ou escolha do funciondrio. 2.0 —- Exercer og seus respectivos cargos, durante o funciona- mento efectivo da Assembleia Nacional, se forem funcionarios puiblicos, civis ou militares; 3.° — Servir lugares de administraciio, geréncia e fiscalizacho, que ndo sejam exercidos por nomeagdo do Governo, ou de consulta juridica ou téenica em empresas ou sociedades constituidas por contratos ou concessées especiais do Estado, ou que deste hajam privilégio nao conferido por lei geral, ou subsidio ou garantia de rendimento ou juro; 4.° — Ser concessiondrio, contratador ou sdécio de contratado- res de concessdes, arrematagées ou empreitadas piblicas, ou partici- pante em operagées financeiras do Estado. § 1.° — As nomeagées nos casos previstos nas alineas 2) eb) do n.° 1.°, ou noutros que envolvam a necessidade de serem exercidas as fungées respectivas fora do Continente, determinam a extingio do mandato. § 2.°— A inobservancia dos preceitos contidos neste artigo importa, de pleno direito, perda do mandato ¢ nulidade dos actos ¢ contratos nele referidos. CAPITULO Tt DAS ATRIBUICGOES DA ASSEEMBLELA NACIONAL ARTIGO 91° Compete & Assembleia Nacional: 1° — Fazer leis, interpreté-las, suspendé-las e revogé-las; 2.°— Vigiar pelo cumprimento da Constituigao ¢ das leis; 3.°— Tomar as contas respeitantes a cada ano econdmico, as quais the sero apresentadas como o relatério e decisfio do Tribunal de Contas e os demais elementos que forem necessdrios para a sua apreciagio; 4.9 — Autorizar 0 Governo a cobrar as receitas do Estado ¢ a pagar as despesas puiblicas na geréncia futura, definindo na respec- tiva lei de autorizagao os princfpios a que deve ser subordinado o Orgamento na parte das despesas cujo quantitative ndo € determi- nado em harmonia com leis preexistentes; 5.°— Autorizar 0 Governo a realizar empréstimos © outras operagées de crédito que ndo sejam de divida flutuante, estabele- cendo as condigdes gerais em que podem ser feitos; 6.°— Autorizar 0 Chefe do Estado a fazer a guerra, se niio couber 0 recurso a arbitragem, ou esta se malograr, salvo caso de agressdo efectiva ou iminente por forcas estrangeiras, ¢ a fazer a paz; 7.9 — Aprovar, nos termos do n.° 7.° do artigo 81.°, as conven- gies e tratados internacionais; 8,° — Declarar o estado de sitio, com suspensio total ou par- cial das garantias constitucionais, cm um ou mais pontos do territ6- rio nacional, no caso de agresso efectiva ou iminente por forgas estrangeiras ou no de a seguranca e a ordem piiblicas serem grave-, mente perturbadas ou ameacadas; 9.° — Definir os limites dos territérios da Nagao; 10.° — Conceder amnistias; 11.°—Tomar conhecimento das mensagens do Chefe do Estado; 12.° — Deliberar sobre a revisdo constitucional, antes de decor- rido 0 decénio; 13.° — Conferir ao Governo autorizagées legislativas. ARTIGO 92° ‘As leis votadas pela Assembleia Nacional devem restringir-se a aprovacdo das bases gerais dos regimes juridicos, no podendo porém ser contestada, com fundamento na violagio deste principio, a legitimidade constitucional de quaisquer preceitos nelas contidos. ARTIGO 93° Constitui, porém, necessariamente matéria de lei: a) A organizagio da defesa nacional; 4) A criagko ¢ suspensao de servigos publicos; ©) O peso, valor ¢ denominagao das moedas; @) O padtdo dos pesos € medidas, e) A criagdo de bancos ou instituigdes de emissaio e as normas a que deve obedecer a circulagio fiduciaria, ~) A organizagio dos Tribunais. CAPITULO IV DO FUNCIONAMENTO DA ASSEMBLEIA NACIONAL E DA PROMULGAGAO DAS LEIS E RESOLUCOES ARTIGO 94° A Assembleia Nacional realiza as suas sessdes em Lishoa ¢ com a duragdo anual de trés meses improrrogaveis, a principiar em 10 de Janeiro de cada ano, salvo o disposto no n.° 5.° do artigo 81.°, ARTIGO 95° ‘A Assembleia Nacional funciona em sessdes plenas ¢ us suas deliberagées so tomadas & pluralidade de votos, achando-se pre- sente a maioria absoluta do niimero legal dos seus membros. § nico — As sessdes so piblicas, salvo resolugio, em contré- rio, da Assembleia ou do seu Presidente. ARTIGO 962 Os membros da Assembleia Nacional podem ouvir, consultar ou solicitar informagaes de qualquer corporacdo ou estacao oficial acercas de assuntos de administragdo piiblica; as estagdes oficiais porém ndo podem responder sem prévia autorizagio do respectivo Ministro, ao qual s6 ¢ Iicito recusd-la com fundamento em segredo de Estado. ARTIGO 97" A iniciativa da lei compete indistintamente ao Governo ou a qualquer dos membros da Assembleia Nacional. ARTIGO 98. Os projectos aprovados pela Assembleia Nacional serdo envia~ dos ao Presidente da Repablica, para serem promulgados como lei dentro dos quinze dias imediatos. § anico — Os projectos nfo promulgados dentro deste prazo serio de novo submetidos a apreciagdo da Assembleia Nacional, e, s¢ enti forem aprovados por maioria de dois tergos do mimero Iegal dos seus membros, o Chefe do Estado nao poderé recusar a promulgacao. ARTIGO 99° A promulgagio ¢ feita com esta férmula: Em nome da Nagdo, a Assembleia Nacional decreta e cu pro- mulgo a lei (ou resolucdo) seguinte: § Unico — Sao promulgadas como resolugdes: a) As ratificagdes dos decretos-leis expedidos nos casos de urgencia e necessidade publica; A) As deliberagées a que se referem os n.° 3.°, 6.9, 7.9, 8.9 € 12.9 do artigo 91.9. ARTIGO 1002 As propostas ou projectos apresentados & Assembleia Nacional e niio discutidos na respectiva sessiio nfio carecem de ser renovados nas seguintes, da mesma legislatura, e, quando definitivamente rejei- tados, ndo podem ser renavados na mesma sesso legislativa, salvo 0 caso de dissolugdo da Assembleia Nacional. ARTIGO 101° Do regimento da Assembleia constard: a) A limitago de tempo para usar da palavra; 6) A proibigéo de preterir a ordem do dia por assunto nao anunciado com antecedéncia, pelo menos, de vinte e quatro horas; ¢) A obfigacao de subir o orador a tribuna para usar da pala- vra sobre a ordem do dia. CAPITULO V DA CAMARA CORFORATIVA ARTIGO 102° Junto da Assembleia Nacional funciona uma Camara Corpora- tiva composta de representantes de autarquias locais ¢ dos interesses sociais, considerados estes nos scus ramos fundamentais de ordem administrativa, moral, cultural e econdmica, designando a lei aque- les a quem incumbe tal representagio ou 0 modo como serdo esco- thidos ¢ a duragao do seu mandato, § 1.°— Quando vagarem cargos cujos sorventuarios tenham, nessa qualidade, assento na Camara Corporativa ou hajam sido abrangidos pela incompatibilidade prevista no § 2.° do artigo 85.° serfio os respectivos interesses representados pelos que legal ou esta- tutariamente os devam substituir. § 2.°— Fora da hipdtese prevista no pardgrafo anterior, as vagas ocorridas na Camara Corporativa s&io preenchidas pela forma por que forem designados os substituidos. § 3.°—- Aos membros desta Camara é aplicivel o disposto no artigo 89.° © seus paragrafos. ARTIGO 103." Compete 4 Camara Corporativa relatar ¢ dar parecer por escrito sobre todas as propostas ou projectos de lei que forem pre- sentes @ Assembleia Nacional, antes de ser nesta iniciada a discussio. § 1.° — O parecer sera dado dentro de trinta dias, ou no prazo que a Assembleia fixar, se o respectivo projecto de lei for pelo Governo considerado urgente. § 2.9 — Decorridos os prazos a que se refere o parigrafo ante- rior, sem que 0 parecer tenha sido dado, pode a Assembleia Nacio- nal iniciar imediatamente a discussdo dos respectivos projectos de lei. ARTIGO 404." ‘A Camara Corporativa funciona durante 0 periodo das sessdes da Assembleia Nacional e por secgdes especializadas, podendo con- tudo reunir-se duas ou mais secgdes ou todas elas, se a matéria em estudo assim o reclamar. § 1.° — Na discussfo das propostas ou projectos de lei podem tomar parte 0 Ministro ou Ministros competentes ou seus represen- tantes € o membro da Assembleia Nacional que deles houver tido a iniciativa. § 2.9 — As sessdes da Camara Corporativa no sao piblicas. ARTIGO 105.2 A CAmara Corporativa € aplicdvel o preceituado nos artigos 86.° e 101.°, alineas a) ¢ 4), sendo também reconhecida as respecti- vas secgdes a faculdade conferida no artigo 96.° aos membros da Assembleia Nacional. TITULO iV DO GOVERNO ARTIGO 106." © Governo ¢ constituido pelo Presidente poderd gerir os negécios de um ou mais Ministros. § 1.° — O Presidente do Conselho ¢ nomeado e demitido livre- mente pelo Presidente da Reptiblica. Os Ministros e os Subsecretd- tios de Estado, quando os haja, sio nomeados pelo Presidente da Repiiblica, sob proposta do Presidente do Consclho, ¢ as suas nomeagées por este referendadas, bem como as exoneragdes dos Ministros cessantes. § 2.° — As fungdes dos Subsceretérios de Estado cessam com a exoneragao dos respectivas Ministras. Jo Consetho, que érios, © pelos ARTIGO 107. © Presidente do Conselho responde perante 0 Presidente da Repablica pela politica geral do Governo e coordena e dirige a acti- vidade de todos os Ministros, que perante ele respondem p\ mente pelos seus actos. ARTIGO 108° Compete ao Governo: 1.° — Referendar os actos do Presidente da Reptiblica; 2.° — Elaborar decretos-leis no uso de autorizagdes legistativas ou nos casos de urgéncia € necessidade publica; 3.°— Elaborar os decretos, regulamentos ¢ instrugdes para a boa execugao das leis; 4.° — Superintender no conjunto da administragio publica, fa- zendo executar as leis e resoluges da Assemblcia Nacional, fiscali- zando superiormente os actos dos corpos ¢ corporagdes administra tivas e praticando todos os actos respeitantes 4 nomeacdo, transferéncia, exonerag’o, reforma, aposentagao, demissdo ou rein- tegragdo do funcionalismo ou militar, com ressalva para os interessados do recurso aos tribunais competentes. § 1.° — Os actos do Presidente da Republica e do Governo que envolvam aumento ou diminuig&o de receitas ou despesas so sem- pre referendados pelo Ministro das Financas. § 2.° — As autorizagées legislativas, exceptuadas as que, por forga dos seus proprios termos, importarem uso continuado, néo podem ser aproycitadas mais de uma vez. Pode no entanto o Governo utiliza-las parcelarmente até as esgotar. § 3.° — Quando o Governo fizer uso da faculdade constante da Ultima parte do n.° 2.°, apresentaré num dos cinco primeiros dias de sesso da Assembleia Nacional a proposta para a ratificagdo dos decretos-leis que houver publicado. Recusando-se a Assembleia Nacional a conceder a ratificagio pedida, deixard 0 decreto-lei de vigorar desde o dia em que sair no Didrio do Governa o ayiso a tal respcito expedido pelo Presidente da Assembleia. A ratificagio pode ser concedida com emendas. Neste caso sera © decreto, sem prejuizo da vigéncia, transformado em proposta de lei. § 4.9 — A nomeagdo dos governadores das colénias é feita em Conselho de Ministros. § 5.° — Todos 0s actos que revistam a forma de deoreto devem ser assinados pelo Presidente da Repablica, sem o que nfo terfio validade. ARTIGO 109. Os Ministros n3o podem acumular o exercicio de outra fungdo publica ou de qualquer emprego particular. § 1.°— Aplicam-se aos Ministros as demais proibicées pre- ceitos do artigo 90.°. § 2.°— Os membros da Assembleia Nacional ou da Camara Corporativa que uceitarem 0 cargo de Ministro nfo perdem o man- dato, mas nao poderdo tomar assento na respectiva Camara. ARTIGO 110" © Conselho de Ministros retine-se quando o seu Presidente ou 9 Chefe do Estado o julguem indispensdvel. Quando 9 mesmo Pre- sidente ou © Chefe do Estado assim o entenderem, a reunido sera sob a presidéncia deste, ¢ sé-lo- obrigatoriamente quando 0 Chefe do Estado tenha de usar das atribuicdes que Ihe so conferidas pelos n. 2.9, 3.2, 4.9 5.9, 6.9 € 8.9 do artigo 81.°. ARTIGO 111° © Governo & da exclusiva confianga do Presidente da Repi- blica e a sua conservagio no Poder n&o depende do destino que tiverem as suas propostas de lei ou de quaisquer votagdes da Assem- bicia Nacional. ARTIGO 112° © Presidente do Conselho enviard ao Presidente da Assembleia Nacional as propostas de lei que 4 mesma hajam de ser submetidas, bem como as explicagées pedidas ao Governo ou que este julgue convenientes. ARTIGO 113” Cada Ministro é responsavel politica, civil e criminalmente pelos actos que legalizar ou praticar. Os Ministros so julgados nos tribunais ordindrios pelos actos que importem responsabilidade civil ou criminal. § unico -- Se algum Ministro for processado criminalmente, chegado a0 proceso até & promincia, inclusive, 0 Supremo Tribu- nal de Justica, em sessiio plena ¢ com a assisténcia do Procurador- Geral da Repitblica, decidiré se o Ministro deve ser imediatamente julgado, ficando em tal caso suspenso, ou se 0 juigamento deve realizar-se depois de terminadas as suas fungées. ARTIGO 114" S&o crimes de responsabilidade os actos dos Ministros ¢ Subse- cretérios de Estado e dos agentes do Governo que atentarem: 1.°— Contra a existéncia politica da Nagao; 2° — Contra a Constituigao ¢ 0 regime politico estabelecido; 3,0 Contra 0 livre exereicio dos drgdos da Soberania; 4° — Contra 0 gozo e 0 exercicio dos direitos politicos & individuais; 5.9 — Contra a seguranga interna do Pais; 6.° — Contra a probidade da administragao; 7.9 — Contra a guarda ¢ emprego constitucional dos dinheiros pablicos; 8.°-— Contra as leis da contabilidade publica. § tinico — A condenago por qualquer destes crimes envolve a perda do cargo ¢ a incapacidade para exercer fungées publicas. TITULO V DOS TRIBUNAIS ARTIGO 1152 ‘A fungSo judicial ¢ exercida por tribunais ordindrios € especiais. S80 tribunais ordinarios: 1.° — O Supremo Tribunal de Justiga; 2.°—Os tribunais de 2.* instincia, nos distritos judiciais do Continente ¢ IIhas Adjacentes ¢ das Colénias, 3.0 — Os tribunais judiciais de 1.* instdncia, nas comarcas de todo 0 territério nacional. § 1.° —A lei pode admitir juizes municipais de competéncia limitada, em julgados compreendidos nas comarcas. § 2.°—- Siio mantidos os juizes de paz. ARTIGO 116" Nao é permitida a criagdio de tribunais especiais com competén- cia exclusiva para julgamento de determinada ou determinadas cate- gorias de crimes, excepto sendo estes fiscais, sociais ou contra a seguranga do Estado. ARTIGO 117" © Estado é representado junto dos Tribunai 1.9 — Pelo Procurador-Geral da Repiblica; 2.9 — Pélo Procurador da Republica junto de cada Relago; 3.9 — Pelo delegado do Procurador da Republica junto de cada tribunal de 1.* instancia; ‘4,0 — Pelos representantes legalmente designados junto dos tri- bunais especiais. ARTIGO 118° Os juizes dos tribunais ordindrios so vitalicios ¢ inamoviveis, fixando a lei os’ termos em que se faz a nomeagio, promogao, demissio, suspenséo, transferéneia e colocagao fora do quadro, e ndo podem accitar do Governo outras funges remuneradas, sem prejuizo da sua requisigfio para comissGes permanentes ou temporarias. ARTIGO 119." Os juizes sfo irresponsaveis nos seus julgamentos, ressalvadas as excepgdes que a lei consignar. ARTIGO 120° As audiéncias dos Tribunais sfo ptblicas, excepto nos casos especiais indicados na lei ¢ sempre que a publicidade for contraria & ordem, aos interesses do Estado ou aos bons costumes. ARTIGO 121° Na execugdo dos sus despachos ¢ sentengas os Tribunais tem direito A coadjuvacio das outras autoridades, quando dela carecerem. ARTIGO 122° Nos feitos submetidos a julgamento nfo podem os Tribunais aplicar leis, decretos ou quaisquer outros diplomas que infrinjam o disposto nesta Constituigio ou ofendam os principios nela consignados. § 1.° — A constitucionatidade da regra de direito, no que res- peita competéncia da entidade de que dimana ou forma de ela- boragio, s6 poderd ser apreciada pela Assemblcia Nacional ¢ por sua iniciativa ou do Governo, determinando a mesma Assembleia os efeitos da inconstitucionalidade, sem ofensa porém das situagdes criadas pelos casos julgados. § 2.°—A excepodo constante do parégrafo anterior abrange apenas os diplomas emanados dos érgios da sobcrania. ARTIGO 123.4 Para a prevengdo e repressiio dos crimes haverd penas ¢ medi- das de seguranga que terdo por fim a defesa da sociedade c tanto quanto possivel a readaptagiio social do delinquente. TITULO VI DAS CIRCUNSCRICOES POLITICAS E ADMINISTRATIVAS E DAS AUTARQUIAS LOCAIS ARTIGO 124° O territéria do Continente divide-se em concelhos, que se for- mam de freguesias ¢ se agrupam em distritos ¢ provincias, estabele- cendo a lei os limites de todas as circunseri¢des. § 1.2 — Os concethos de Lisboa ¢ Porto subdividem-se em bait- ros ¢ estes cm freguesias. § 2.° — A divisdio do territério das Ilhas Adjacentes ¢ a respec- tiva organizagéo administrativa sero reguladas em lei especial. ARTIGO 125° Os corpos administratives so as camaras municipais, as juntas de freguesia ¢ 08 conselhos de provincia. ARTIGO 126° Leis especiais regulario a organizaco, funcionamento ¢ com- petncia dos corpos administrativos, ficando a vida administrativa das avtarquias locais sujeita & inspecgao de agentes do Governo, ¢ podendo as deliberagoes daqueles ser submetidas a referendum. ARTIGO 127° Para a execucio das suas deliberagdes ¢ demais fins especifica- dos nas leis, 0s corpos administrativos t@m o presidente ou comis~ s6es delegadas nos termos das mesmas leis. ARTIGO 128° As deliberagdes dos corpos administrativos 56 podem ser madi- ficadas ou anuladas nos casos e pela forma previstos nas leis administrativas. ARTIGO 129.2 Os corpos administrativos tém autonomia financeira, nos ter- mos que a lei determinar, sendo porém as cimaras municipais obri- gadas a distribuir pelas freguesias, com destino a melhoramentos rurais, a parte das receitas fixada na lei. ARTIGO 130° Os regimes tributdrios das autarquias locais serio estabelecidos por forma que nfo seja prejudicada a arganizagéo fiscal ou a vida financeira do Estado, nem dificultada a circulagio dos produtos ¢ mercadorias entre as circunscrig¢des do Pais. ARTIGO 131° Os corpos administrativos s6 podem ser dissolvidos nos casos ¢ nos termos estabelecidos nas leis administrativas, devendo as novas eleigSes realizar-se em prazo ndo superior a noventa dias, contados da data da dissolugdo. Os corpos dissolvidos ser&o substituidos por comissées administrativas de nomeagdo do Governo, enquanto néo tomarem posse os novamente eleitos. TITULO VI DO IMPERIO COLONIAL PORTUGUES ARTIGO 132.9 Sao consideradas matéria constitucional as disposi¢des do Acto Colonial, devendo o Governo publicd-lo noyamente com as altera- Ges exigidas pela presente Constituicéo. DISPOSICOES COMPLEMENTARES a) Revisdo constitucional ARTIGO 133 _ A Constituigdo serd revista de dez em dez anos, tendo para esse efeito poderes constituintes a Assembleia Nacional cujo mandato abranger a época de revisdo. § 1.°— A revisio pode ser antecipada de cinco anos, se for aprovada por dois tergos dos membros da Assemblcia Nacional, ¢, neste caso, contar-so-4 da data da revisto antecipada o novo periodo de dez anos. § 2.° — Nao podem ser admitidas como objecto de deliberagao propostas ou projectos de revisiio constitucional que nao definam precisamente as alteragdes projectadas. ARTIGO 1342 Independentemente do preceituado no artigo anterior, pode o Chefe do Estado, quando o bem publico imperiosamente o exigir, depois de ouvido o Conselho de Estado c em decreto assinado por todos os Ministros, determinar que a Assembleia Nacional a eleger assuma poderes constituintes e reveja a Constituigfo em pontos indicados no mesmo diploma. b) Disposigées especiais e transitérias ARTIGO 135. Para execucdo do § tinico do artigo 53.° sera adoptado um regime de transicio, com as restrigGes tempordrias julgadas indispensaveis. ARTIGO 136° Enquanto néo estiver conclufda a organizagio das corporagées morais ¢ econémicas serao adoptadas formas transitérias de dar cumprimento ao espirito de representagao organica, estabelecido no titulo V da parte I ARTIGO 137° actual Presidente da Repiiblica é reconhecido por esta Cons- tituigdo, durando o seu mandato sete anos, contados da data em que tomou posse da Presidéncia. ARTIGO 138° A primeira Assembleia Nacional terd poderes constituintes. ARTIGO 139." ‘As leis e decretos com forca de lei que foram ou vierem a ser publicados até a primeira reuniio da Assembleia Nacional conti- nuam em vigor e ficam valendo como leis no que explicita ¢ implici- tamente ndo seja contrario aos principios consignados nesta Constituigao. ARTIGO 1406 As leis e decretos-leis referidos no artigo anterior podem, porém, ser revogados por decretos regulamentares em tudo que se refira A organizagao interna dos servigos ¢ n&o altere a situagao juridica dos particulares ou 0 estatuto dos funciondrios. § tinico — As restrigdes contantes deste artigo niio abrangem as leis e decretos-leis que preceituem o que neles constitui matéria legislativa, nem 0 que est exceptuado por forca do § 1.° do artigo 70.9 ¢ do artigo 93.°. ARTIGO 141.9 Enquanto nao forem publicadas as leis necessdrias 4 execucao do preceituado no titulo VI da parte I], a administragao local conti- nuard regulada pela legislacdo vigente, inclusive no que se refere 4 nomeacio ¢ demissio de comissdes administrativas das autarquias locais. ARTIGO 142.9 Esta Constituigdio enteard em vigor depois de aprovada em ple- biscito nacional c logo que o apuramento definitivo deste seja pul cado no Didrio do Governo. 2 ACTO COLONIAL (*) TITULO I DAS GARANTIAS GERAIS. ARTIGO 1° A Constituigo Politica da Repiiblica, em todas as dispasicées que por sua natureza se no refiram exclusivamente 4 metrépole, & aplicavel As colénias com os preceitos dos artigos seguintes. ARTIGO 2° F. da ess@ncia organica da NacHo Portuguesa desempenhar a fungao histérica de possuir ¢ colonizar dominios ultramarinos ¢ de civilizar as populagées que neles se compreendam, exercendo tam- bém a influéncia moral que Ihe é adstrita pelo Padroado do Oriente. ARTIGO 3.9 - Os dominios ultramarinos de Portugal denominam-se colénias ¢ constituem o Império Colonial Portugues. (*) Nova publicagio, em cumprimento do artigo 132.° da Constituig&o, feita no Diério do Governo, de 11 de Abril de 1933, nos termos do Decreto-Lei 22465 desta data. O territério do Império Colonial Portugués é 0 definido nos n.% 2.° a 5.° do artigo 1.° da Constituigao. ARTIGO 4° S&o garantidos a nacionais ¢ estrangeiros residentes nax colé- nias os, direitas concernentes A liberdade, seguranca individual ¢ propriedade, nos termos da lei. A uns ¢ outros pode ser recusada a entrada em qualquer colénia, ¢ uns € outros podem ser expulsos, conforme estiver regulado, se da sua presenca resultarem graves inconvenientes de ordem interna ou internacional, cabendo uni mente recurso destas resolugdes para o Governo, ARTIGO 5.° O Império Colonial Portugues é soliddrio nas suas partes com- ponentes ¢ com a metrépole. ARTIGO 6° A solidariedade do Império Colonial Portugués abrange espe- cialmente a obrigado de contribuir pela forma adequada para que sejam assegurados os fins de todos os seus membros e a integridade e defesa da Nagi. ARTIGO 7. © Estado nao aliena, por nenhum modo, qualquer parte dos territérios e direitos coloniais de Portugal, sem prejuizo da rectifica- so de fronteiras, quando aprovada pela Assembleia Nacional. ARTIGO 8° Nas coldnias nao pode ser adquirido por governo estrangeiro terreno ou edificio para nele ser instalada representacéo consular sendo depois de autorizado pela Assembleia Nacional e em local cuja escolha seja aceite pelo Ministro das Colénias, ARTIGO 9° Nao sio permitidas: |.° — Numa zona continua de 80 metros além do maximo nivel da preiamar, as concessées de terrenos confinantes com a costa maritima, dentro ou fora das baias; 2.° — Numa zona continua de 80 metros além do nivel normal das Aguas, as concessdes de terrenos confinantes com lagos navega- veis ¢ com rios abertos & navegacdo internacional; 3.0 — Numa faixa no inferior a 100 metros para cada lado, as concessées de terrenos marginais do perimetro das estagées das linhas férreas, construidas ou projectadas; 4.9 — Outras concessdes de terrenos que nfio possam ser feitas, conforme as leis que cstejam presentemente em vigor ou venham a ser promulgadas. §§ nico — Em casos excepeionais, quando convenha aos imte- resses do Estado: a) Pode ser permitida, conforme a lei, a ocupaciio temporaria de parcelas de terrenos situadas nas zonas designadas nos 1." 1.°, 2.9 ¢ 3.0 deste artigo; 6) Podem as referidas parcelas ser compreendidas na area das povoagdes, nos termos legais, com aprovagao expressa do Governo, ouvidas as instancias competentes; ©) Podem as parcelas assim incluidas na area das povoagbes ser concedidas, em harmonia com a ei, sendo também condigao indis- ponsivel a aprovagio expressa do Governo, ouvidas as mesmas instancias. ARTIGO 10.° Nas areas destinadas a povoagdes maritimas das colénias, ou & sua natural expansiio, as concessGes ou subconcessées de terrenos ficam sujeitas as seguintes regras: |.o — N&o poderdo ser feitas a estrangeiros, sem aprovacdo em Conselho de Ministros; 2.0 -- Nao poderao ser outorgadas a quaisquer individuos ou sociedades sendo para aproveitamentos que tenham de fazer para as suas instalagdes urbanas, industriais ou comerciais. § 1° — Estas proibigdes so extensivas, nas colonias de Africa, a todos os actos de transmisstio particular que sejam contrarios aos fins do presente artigo. § 2.° — Silo imprescritiveis os direitos que este artigo ¢ o artigo anterior asseguram ao Estado. ARTIGO 11° De futuro a administragdo € exploragéo dos portos comerciais das colénias sdo reservadas para o Estado. Lei especial regulard as excepgdes que dentro de cada porto, em relagéo a determinadas instalagdes ou servigos, devam ser admitidas. ARTIGO 12.9 O Estado nao concede, em nenhuma coldnia, a empresas singu- lares ou colectivas: 1.° — O exercicio de prerrogativas de administragio publica; 2.9 — A faculdade de estabelecer ou fixar quaisquer tributos ou taxus, ainda que seja em nome do Estado; 3.9 — O direito de posse de terrenos, ou de areas de pesquisas mineiras, com a faculdade de fazerem subconcessdes a outras empresas. § tinico — Na colénia onde actualmente houver concessdes da natureza daqueles a que se refere este artigo observar-se-d 0 seguinte: a) Nao poderio ser prorrogadas ou renovadas no todo ou em parte; b) O Fstado exerceré o seu direito de rescisio ou resgate, nos termos das leis ou contratos aplicdveis; 6) O Estado terd em vista a completa unificagao administrative da colénia. ARTIGO 13° ‘As concessdes do Estado, ainda quando hajam de ter efeito com aplicagdo de capitais estrangeiros, serdo sempre sujeitas a con~ digdes que assegurem a nacionalizagdo ¢ demais conveniéncias da economia da colénia, Diplomas especiais regulariio este assunto para os mesmos fins. ARTIGO 14° Ficam ressalvados, na aplicacio dos artigos 8. 9.9, 10. 12.°, os direitos adquiridos até & presente data. TITULO IT DOS INDIGENAS ARTIGO 15° © Estado garante a proteccao ¢ defesa dos indigenas das colé- nias, conforme os principios de humanidade e soberania, as disposi- gdes deste titulo e as convengées internacionais que actualmente vigorem ou venham a vigorar. ‘As autoridades coloniais impedirao e castigario conforme a lei todos os abusos contra a pessoa ¢ bens dos indigenas. ARTIGO 16 © Estado estabelece instituigdes piblicas e promove a criagéo de instituigdes particulares, portuguesas umas ¢ outras, em favor dos direitos dos indigenas, ou para a sua asistencia. ARTIGO 17° ‘A lei garante aos indigenas, nos termos por ela declarados, a propriedade ¢ posse dos seus terrenos e culturas, devendo ser respei- tado este principio em todas as concessées feitas pelo Estado. ARTIGO 182 © wabalho dos indigenas em servico do Estado ou dos corpos administrativos € remunerado. ARTIGO 19.2 Sio proibidos: 1.° — Todos os regimes pelos quais o Estado se obrigue a for- necer trabathadores indigenas a quaisquer empresas de exploragfo econémica; 2.° — Todos os regimes pelos quais os indigenas existentes em qualquer circunscrigfio territorial sejam obrigados a prestar trabalho as mesmas empresas, por qualquer titulo. ARTIGO 20° © Estado somente pode compelir os indigenas ao trabalho em obras publicas de interesse geral da colectividade, em ocupagdes cujos resultados Ihes pertencam,em execugdo de decisdes judiciarias de cardcter penal, ou para cumprimento de obrigagées fiscais. ARTIGO 21.9 © regime do contrato de trabalho dos indigenas assenta na liberdade individual no direito a justo saldrio e assisténcia, inter- vindo a autoridade ptiblica somente para fiscalizaco. ARTIGO 22° Nas colénias atender-se~4 ao estado de evolugZo dos povos nativos, havendo estatutos especiais dos indigenas, que estabelecam para estes, sob a influéncia do direito publico e privado portugues, regimes juridieos de contemporizagio com os seus usos e costumes individuais, domésticos ¢ sociais, que ndo sejam incompativeis com a moral e com os ditames de humanidade. ARTIGO 23." O Estado assegura nos seus territdrios ultramarinos a liberdade de consciéncia € 0 livre exercicio dos diversos cultos, com as restri- goes exigidas pelos direitos ¢ interesses da soberania de Portugal, bem como pela manutengdo da ordem publica, e de harmonia com os tratados € convengées internacionais. ARTIGO 24” ‘As missdes religiosas do ultramar, instrumento de civilizagao € de influencia nacional, e os estabelecimentos de formagio do pes- soa} para os servigos delas ¢ do Padroado Portugués terdio persona~ lidade juridica e serdo protegides ¢ auxiliados pelo Estado, como instituigdes de ensino. TITULO III DO REGIME POLITICO E ADMINISTRATIVO ARTIGO 25." ‘As colonias regem-se por diplomas especiais, nos termos deste titulo. ARTIGO 26.” Sdo garantidas as colénias a descentralizacdo administrativa € a autonomia financeira que sejam compativeis com a Constituicao, © seu estado de desenvolvimento € os scus recursos préprios, sem prejuizo do disposto no artigo 47.°. § finico — Em cada uma das colénias seré mantida a unidade politica pela existéncia de uma s6 capital ¢ de um s6 governo geral ‘ou de colénia. ARTIGO 27.2 Sido da exclusiva competéncia da Assembleia Nacional, mediante propostas do Ministro das Colénias, apresentadas nos ter mos do artigo 112.° da Constituic&o: 1.° — Os diplomas que estabelegam ow alterem a forma do governo das colénias; 2.°— Os diplomas que abrangerem: 4) Aprovacdo de tratados, convengées ou acordos com nacdes estrangeires; 4) Autorizagio de empréstimas ou outros contratos que exijam caugo ou garantias especiais; ©) Definigéio de competéncia do Governo da metrépole e dos governos coloniais quanto A drea ¢ ao tempo das concessées de ter- Tenos ov outras que envolvam exclusivo ou privilégio especial. § unico — Em caso de urgéncia extrema, 9 Ministro das Colé- nias, com voto afirmativo do Conselho Superior das Colénias, em sesso por ele presidida, poderd legislar sobre as matérias a que se referem 0 n.° 1.° ¢ as alineas a) e b) do n.° 2.° do presente artigo, fora do periodo das sessées da Assembleia Nacional ou se esta niio resolver 0 assunto no prazo de trinta dias a contar da apresentacdo da respectiva proposta de ki. ARTIGO 28° Os diplomas nao compreendidos na disposigiio do artigo ante- cedente sio da competéncia do Ministro das Colénias ov do governo da colénia, conforme for regulado nos diplomas a que se refere o n.° | do artigo anterior. Fica porém estatuido o scguinte: 1.° — Dependem da aprovagio do Ministro das Colénias os acordos ou convengées que os governos coloniais devidamente autorizados negociarem com outras coldnias, portuguesas ou estrangeiras. 2.° — Os governos coloniais nao podem estabelecer ou modifi- car os regimes relativos 4s matérias abrangidas pelos artigos 15.° 2 24.9, ARTIGO 29° ‘As colénias si serfio governadas por governadores gerais ou governadores de colénia, nfo podendo a uns ¢ outros ser confiadas, por qualquer forma, atribuigdes que pelo Acto Colonial pertencam & Assembleia Nacional, ao Governo ou ao Ministro das Colonias, salvo as que restritamente Ihes sejam outorgadas, por quem de direito, para determinados assuntos em circunstancias excepcionais. § tinico — Nido poderdo ser nomeados governadores quaisquer interessados na direcgdo ou geréncia de empresas com sede ou actividade econdmica na respectiva colénia. ARTIGO 302 ‘As fungBes legislativas dos governadores coloniais, na esfera da sua competéncia, so sempre exercidas sob a fiscalizaglio da metr6- pole ¢ por via de regra com o voto dos conselhos do governo, onde havert representagho adequada as condigdes do meio social ARTIGO 31° ‘As fungdes executivas em cada colénia sio desempenhadas, sob a fiscalizagio do Ministro das Colénins, pelo governador, que nos casos previstos nos diplomas a que se refere 0 n.° 1.° do artigo 27.° ¢ assistido de um corpo consultivo, composte por membros do Con- selho do Governo. ARTIGO 32° ‘As instituigdes administrativas municipais e locais so represen- tadas nas colénias por cimaras municipais, comissdes municipais ¢ juntas locais, conforme a importancia, desenvolvimento © popula- do europeia da respectiva circunscrisio, § 1.2 — A criago ou extingfo das cAmaras municipais buigo do governador da colénia, com voto afirmativo do Conselho do Governo ¢ aprovagdo expressa do Ministro das Colénias. § 2.° — Os estrangeiros com residencia habitual na colénia, por tempo nfo inferior a cinco anos, sabendo ler e escrever portugués, podem fazer parte das cfimaras ou comissGes municipais e juntas locais, até ao maximo de um tergo dos scus membros. ARTIGO 33° £ supremo dever de honra do governador, em cada um dos dominios de Portugal, sustentar os direitos de sobrevivencia da Nagdo ¢ promover o bem da colénia, em harmonia com os princi- pios consignades no Acto Colonial. TITULO IV DAS GARANTIAS ECONOMICAS E FINANCEIRAS ARTIGO 34° A metrépole e as colénias, pelos seus lagos morais ¢ politicos, tém na base da sua economia uma comunidade e solidariedade natural, que a lei reconhece. ARTIGO 35° Os regimes econémicos das colénias so estabelecidos em har- monia com as necessidades do seu desenvalvimento, com a justa reciprocidade entre elas ¢ os paises vizinhos ¢ com os direitos legitimas conveniéncias da metrépole e do Império Colonial Portugués. ARTIGO 36° Pertence A metrépole, sem prejuizo da descentralizacSo garan- tida, assegurar pelas suas decisdes a conveniente posic&io dos inte- nesses que, nos termos do artigo anterior, devem ser considerados em conjunto ‘nos regimes econémicos das col6nias. ARTIGO 37° Cada uma das colénias & pessoa moral, com a faculdade de adquirir, contratrar e estar em juizo. ARTIGO 38° Cada colénia tem o seu activo e 0 seu passive préprios, competindo-lhe a disposigio das suas receitas € a responsabilidade das suas despesas, dos seus actos € contratos ¢ das suas dividas, nos termos da lei. ARTIGO 39° Sao considerados propriedade de cada coldnia os bens mobilid- rios € imobilidrios que, dentro dos limites do seu territério, nao pertengam a outrem, os que ela tenha adquirido legalmente fora daquele, os titulos publicos ou particulares que possua ou venha a possuir, os seus dividendos, anuidades ou juros ¢ as participagdes de lucros ou de outra espécie que Ihe sejam destinadas. § iinico — $6 ao Tesouro Nacional ou 4 Caixa Geral de Depé- sitos, Crédito e Previdéncia podem ser cedidas, ou dadas em penhar, as acgdes ¢ obrigagdes de companhias concessionarias per- tencentes a uma colénia, ¢ s6 também podem ser consignados as mesmas entidades os rendimentos desses titwlos em qualquer opera- cio financei ARTIGO 40.9 Cada colénia tem o seu orgamento privativo, elaborado segundo um plano uniforme. § 1.°—O orcamento geral da coldnia depende da aprovagio expressa do Ministro das Coldnias, nao podendo ser neie incluidas despesas ou receitas que n&o estejam ao abrigo de diplomas legais. § 2.° — Quando, por circunstancias anormais, 0 orgamento for enviado ao Ministério das Colénias fora do prazo estabelecido, ou quando 0 Ministro das Coldnias o no aprovar, continuario provi- soriamente em vigor por duodécimos, s6 quanto A despesa ordina- ria, o orgamento do ano antecedente e os créditos sancionados durante ele para ocorrer a novos encargos permanentes. § 3.°—A accao do Ministro das Coldnias quanto a0 orga- mento de cada colonia € exercida pela verificaga quer do cOmputo das receitas quer da legalidade e exactidio das despesas, devendo fazer-se as consequentes correccées. Existindo situac&o deficitaria ou risca de a haver, sao feitas no orgamento as modificagdes neces- sarias para o restabelecimento do equilibiro. ARTIGO 41° Os diplomas referidos no n.° 1.° do artigo 27.° estabelecerdo: 1.2 — As despesas que sfio encargo das colénias e as que sio da metrépole; 2.0. "As regras e restrig6es a que devem estar sujeitos os governos coloniais para salvaguarda da ordem financeira. ARTIGO 42° A contabilidade das colénias ser organizada como a da metré- pole, com as modificagdcs que se tornem indispensdveis por circuns- tancias especiais. ARTIGO 43° As colénias enviarao ao Ministro das Colénias nos prazos fixa- dos na lei as suas contas anuais. ARTIGO 44° A metrépole presta assist¢ncia financeira 4s colénias, mediante as garantias necessdrias. ARTIGO 45 ‘As colénias nio podem contrair empréstimos em paises estrangeiros. § tinico — Quando seja preciso recorrer a pragas externas para obter capitais destinados ao governo de uma colénia, a operacio financeira sera feita exclusivamente de conta da metrépole, sem que a mesma colonia assuma responsabilidades para com elas, tomando-as, porém, plenamente para com a metrépole, 4 quem prestar as devidas garantias ARTIGO 46.9 Os direitos do Tesouro da metrépole ou da Caixa Geral de Depésitos, Crédito ¢ Previdencia por dividas pretéritas ou futuras das colénias so imprescritiveis. ARTIGO 479 ‘A autonomia financeira das colénias fica sujeita as restrig6es ocasionais que sejam indispensiveis por situagdes graves da sua Fazenda ou pelos perigos que estas possam envolver pata @ metrépole.

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