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} j ‘uma parte importante do folelor, da literatura orl, da visio de ‘mundo de um povo indigena que hoje, quate noventa anos depos, ja se encontra itremediavelmente transformado pelo ‘contato com nossa cvlzagio. Ra-Le u-ni-lu- permanece sob ‘esse aspect uma imensa mins de informagées reeupera dare interpretar Son Perini, read Wind, So: words oe yeine Higen - Ki Taube: Mien, One Spend Hee 4. AS DUAS LINGUAS DO BRASIL. (qual € mesmo o lingua que folamos?) As lingua dferem muito pouco no que diz respeito a suas capacidades express (vero ensaio“O reckportugués), Mas, como é evident, dferem muitssimo quanto asia importinda cultural, politica e comercial. Temos, por um lado, lnguas como inglés, o espanol, o1uss,o chins, francs (¢, mais modes- tamenteo portugués) que server a vstas comunidades sendo imtensivamente utlizadas na politica, na TV ena imprensa, na ‘nei, na literatura ete Blas sto chamadas, um tanto recon ceituosamente "Tinguas de cvlizagio". Porouto ldo, exster Hnguas de interes parame local como oaavante ocaxinau ente 0s fos bros a maria das lingua afficans, muitos diaetos lei da Europace da Asia, « assim por diane. Esaslinguas'nem sempre sio fladss por comunidades diminutas:embora algumas 86 tetham algumas centens de fants, outras como o ass, na Nigra © 0 qu chus, no Pere na Bolivia) tm virios milhées. O que as opde linguas de vilzaic € que no so usadasintensvamente em toda a gama das atvidades el vida moderna. quihus, o que pesem, ‘seus muitos lates, ndo€veculo uilzado a grande imyprensa, ‘nem em obras cients, tem umafieratura bastante esti, a ( i o cast einige i Sai Ee Ea pln pe ere nm nro cap deme Tyee cmp cence eee atin es supe em Spat Rage chon eQLOEENS Seren cmp jo precisa ser absolut). E o caso do xavante, do changana Mains deren tm Bean no norte da Ilia), de muitas pequenas linguas da india. Heme i le egw ste un bacon som arg ae Ei te aio sandr dase sera tt do dsb rm il seta encom ed ple See c= mat de en fh iS Raa satanic sein eaten " eer ope qa snag Seconds ga Nn oe san ied deMensin eon lame nas Han ens gato eve own ingens oslo ae see SSE ade dmc ‘Vamos muda de assunto agora; masta, fenaremos n= ticlo ao que foi dito acima. Nosso segundo tema é 0 seguinte: ‘Que Kngua se fila no Brasil? "Mas seri que vale a pena fazer essa pergunta? Todo mando {todoo mundo) sabe que alingoa do Brasil 60 portgues. Alémn 2 do mais, é una lingua de cvilizasio, segundo a definigdo que vimos. Basta pegar um onal, gar a TV, pasar 08 olbos nat pra- teleiras de uma livaria sala 4 visa que o portugues € Kngua do Brasil. ‘Nao hi dvida de que a lingua de cvlizaso que nos seve 0 portagués. Aléa do eis, ela no esti nem um pouco em erigo de perder essa posi privilegiaa:apesar do que se fala dos progressos do inglés em certs reas, 0 portagus contin firme como o vtculo de todos os aspectos da cultura brasileira. A imensa maior da populago (incluindo os univeritcis) & incapaz de se exprimir,e mesmo dele, em qualgueroutealin~ gua. Logo, como se pode ter dsida sobre a posgso do por- suds na comunidade brasil? ‘Mas notem que eu no perguntei qual ert lingua de cvi- lieagao do Brasil. Pexguntei que Kaya se fete no Brasil, Expli- ‘cando melhor: seri que falamos a mesma lingua que escrevemos «lemos? ‘Maita gente tem opinio sobre isso; mas para formar nossa propria opinigo vamos coher alguns dados. Digamos que esta~ ‘mos usando um binécalo durante ojago de futebol eum amigo também queira dar uma olbada. Ele chega e dia: — Me empresa ee af um minuto ‘importante observa que et uma forma cred lar sngucl loeatenaquele moment. E ue peur pessoa pode ‘a tlzar ama fase como esa (no apenas as cara ps toa nc) fae cima fr pare do seperti ng co de todos os brasileiro; em vm paiva € asim que ns flamoxPodemor exrever deen (pr explo, enrete-me sm mina) as Elamosdaqul jt. Trmaginemor ote asi una senor extn conte sia encomendando again di a i i — Voce pode fize eles pra sibudo? A festa val ser domingo, mas domingo eu nia posta vim aqui porque o bltro que ea mono & muito longe, meu marido vai no jogo e vai levar o caro. Ate Dbusco eles no sibado, se voce tive de acordo, Timagines pesos anda ever que ena ila ¢perfctamen- ‘natural. Ma exrtaela choca um pouea porque est cade tras que no costumamos encontrar em textos eerie 2 preposigio pr (em vex de pass © infitvo vim em verde 4 costrgio Bere qu eu mao (rave de baer onde ue eu mor, tego nope (em vex de eat a gh as express ze eles em verde fasta) e aoe (em ver de oa 09 mesne, Deus nos ie, ore). 2 webo ter fem verde tr. Aor, uns exeaplostindos da morfolgi. A stratus do verbo na lingua que flanos 6 bem diferente da que se encon- tran lingua que exrevemo, Assim, bi formas que nunca spa secem na fla, comer, 0 mais-que-prtia simples (zea, gstraman fra, 0 far do present fre, gutremoy, i). NN lingua fda em Minas, também: raramente ocore 0 presente do sujuntvo (frame, gem, of ents fora so, tent asi no Nore e Noreste do Brat verbo fla dere do verbo eseito em outros deals Asm caceve-e (tale eaten a rama ram que secon) guandeeu er. Ma afl esa expresso ¢ if a denne lon quand cate ver. grandes aia que present overb rte forma iment ines ogee sa. Na fala, cla, sr vemoy aa rset ee psrad, “ [Natila,o pronome més cada vez mais ubstituide por agents «,paralelamente, a formas de primeira pesson do plural ize: sme, gstames, am) Yao indo em desuso, Ha pessoas que no as usam pratiamente nunca, (Qucreen mais? Na fla 2 marca de plural nio precisa apare~ ‘cerem todos 6 elementosdosintagens. Assim, formas como est menino leoado (ou mesmo, pelo menos em Minas, quer menino ‘evade existem na fala de todas as pessoas, Na esrits, natural= ‘mente, a marca de plural é sempre obrigatéria em todos os le~ rmentosflexionives: exe: meninas vader. ‘Mais um exemplo: impectivo se forma de mancitadistinta nafalacnacscric, Fabio dizemos wom af mas escctemos:twnht «ato Nordesteesta forma é também afiada). atonal, olo- ‘amos com toda lberdade o pronome oliquo no iniio da ese ‘me macbugucina guinada meaescrevenso, ten de set cbgaei- ‘me na gina da mesa. Mais oat: filanda, ner sempre asi08 0 artigo depois ce esa das meninas em eligi na exci, deve ser: todas a mena. Aho que mo € necessirio continua. As diferengas so maui- tas, como todos sabemos. Fla construe uma das difiuldades rinipais que enffetamos na escola, ao eras produc textoscsei- 1s. Alis, por que temos tanta dificuldade em escrover textos eon portugués? Nao éa nossa Kingua materna? Aresposta é simples, mas pode surpreender alguns: no, 0 pornuguts (que aparece nos textos escrtoe) nao € a nossa lingua smaterna. A lingua que aprendemos com nossos pais, ios © av6s & x mesma que falamos, mas no é que escrevemos, As diferenga sio bastante profundss, ponto de, em certo 2805, = Jimpedir« comunicaco (que cinga de cinco anos entende ompret-ti) Em outa pales, hi dus ings no Brasil uma qu cscrore equ esbeo nome de “portigne eta ques fla {aque ct denpresca que nem tem nome) EGesaiima que sling maters dos brain «ote (0 “porta tm Ae ser aprendda ncaa, 2 maior pare da popula aunea hog a domini-laadoqundament. Vamos chara liga fade no Brasil e ermal Bre ive, paca sees implement vernal). Assi, ie ‘nos que no Brasil se esceve em portgus, una lingua ie também funciona com lingua de liao rn Portugal ecm alguns pases de Aftca, Masa lingua que fla no Ball € o verniculo bras, que no vst nem em Portal nem a Afsica. © portugués © 0 venéculo so, é claro inguas muito pare- cides, Mas nia soem absolut idéntcas. Ninguém names ten tou fazer uma avaliacio abrangente de suas diferengas, mas ex suspeto que sto to diferentes quanto portugués eo expanhel, ‘ou quanto o dinamarques eo norvegut. Ist 6, podesiam ser con sideradaslinguasdistinas, e ambas fossem linguas de civiliza~ 80 ¢ oficalmente reconhecidas. ‘Mas send as coisas como so, tendemos.apensir que over~ él €simplesmente uma forma errada de falar portugués, 6 que, para que © verndcula fosse “trade”, teria de exstirtam- them uma forma “cert” de falar; mas no Brasil no s fala, nem se pode falar portugues. Imaginem 0 seu companhiro de ests- dio de futebol dizendo: = Empreste-mo um minuto % (Ou entio uma mocinha dizendo para a melhor amiga: —Sceuaviramanhi, devolver-he-e estas velhasfitade video, E.evidente que esas pessoas fcaran, no minimo,com fama de peda. ‘As dus linguss do Brasil tém cada uma seu dominio padprio ma pritca, io interferem uma na utr. vernécula se ust em aera na fia informal e em certos textos estos, como em pesas de teatro, onde o realsmo ¢ important; jo portugués¢ usado a esrita formal, se fla mesmo em situagées engravatadas ‘como dscurss de formatura ou de posse em cargo pblicos. Assim, 0 ert" (sto 6 0 aceito pela convenges soca) & ‘screves ports eflarvernéclo. Ndo pode hiver roc: €"erra~ do" escrever vemiculo e€ também “erado" falar porrugués. Nio sei se gosto dese siraagto; mas ¢ um fito arraigado em nossa cultura temos de conviver com ck Agora, uma observgio:o verneuo angus matema de mis de cento cnglentamilhses de pessoas, que o utiliza constan- temente no conhecem outra lingua. Mas no seesceve a nfo serem ocasies particulars no aparece aa grande imprensae nao tem grande radio litera: além disso, no 6 econhecid coro lingua oficial Isso faz do vernculo ums lingua graf, com as {que eaminamos na primeira parte deste ensuio, Nao isso, mas com toda probabilidade a maior lingua égrafa do mundo, ‘Hi howve tentativas, ou pelo menos sugestées, de que se passusse a escrever em vernéculo no Bras. Mio de Andrade passou viris anos escrevendo urna Gramatiguinha da fla brasi~ ‘ira, que nunca chegou a publica, e que concebia como “parte cde um projeto mais amplo, de redescobertae defiigo do Bra- sil (Edith Pimentel Pint, em sua edigio da Cramaciuinbe). Como se sabe, Miso utlzava uma linguagern muito mas proxi- sma do vemiculo do queo potugeds escrito atual. Como cise ele 1Nio pensetn que vou defender Portugal e me tornarsimpatico ros portugasnacionalstas nfo, Nocott nono dingo mene to ont Con timuamos a esceverem portugiés¢a consideraro veméculo uma ‘manera errada de fala. Pessoalmente, no tenho grandes obje- es quanta ase escrever portugues; mas acho importante que seentenda que ele é (pelo menos no Brasil) apenas uma lingua crit, Nossa lingua marerna no € o portugues, 60 vernal brasileiro — isso nfo € um slogan, nem uma posi politica & ‘o simples reconhecimento de um fato. ‘Assim no s cogita de subir o portugués pelo vernal tna excita. Mas, nos tkimos anos, tem bavido um aumento noré~ ‘ede interes pelo wescalo como inguaa ser estudada, Ome amigo ecolega Ataliba de Casio coordena hoje um grupo de Tingstas que vem reaizando um trabalho muito interesante de dss da stata do verde. Hepsi porta de ‘que dentio de alguns anos, se poss dispor de gramitissadequay das da nossa nga mater, por tanto tempo igorada,negada © esprcvada * 5. O ADJETIVO E © ORNITORRINCO. (gilemas de closticogbo dos polavras) Grande parte do labor ieniic consist em casiica enti- dds elaborarjusificaiva panessacasifcags. A cnc nto se limita aso, evidentemente: uma ctnciaé muito masque wma lasifcagzo de objetos. Mas,em geal, depend de clasiticaybes, até-mesmo para possblitar o dilogo entre o cients. Por exemplo, os 2oslogos divider os animais em diversas categorias: mamiferos, pte, peizes,ineetos, aves, anfbios, ceassim por diante, Sem essa categorias seria muito dill fazer ‘ootogia, ou mesmo falar de zoologia, pois clas permitem so ientistareferie-se ares de animais, em vex de releit-se a cada animal (ou a eada espécie)individulmente, Assim, pode mos encontrar trahalhos desritivos sobre os mamiferor da ‘América do Sul, ou sobre 2 evolu;io dos épteis, ou sobee a fsiologia dos isetos ee, Essestsbalhos, emuitissenos outros, dependem da clasificagio prévia dos animais (em clases, ‘ordens, familias, gincros espécies) para a dfinigio de seu campo de interese; nesse sentido, odo o trabalho da zoolo~ sia epousa sobre classificagoes, E preciso, naturamente,dspor de critviosobjetivos pars colo- ‘ar um animal nesta ou naguela classe. Assim, os mamtferos se

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