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ORIA SOBRE A rt DE DE ABOLIR A INTRODUGLO ESCRAVOS aPRic Nos NO BRASIL; SOBRE 'O ” ho com QUE ESTA ABOLIGAO “ SOBRE d TEfos 2 REM Ee A FALTA DE BRACOS BELA POPE OCASIONAR. ¥ on : ojo deuéce DA. COSTA, Do Cm dexSua Hagestadle > Refural da Cidade Mariana em Minas Gerais, e/ , OFERECIDA AOS BRASILEIROS. SEUS COMPATRIOTAS, COIMBRA; NA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE. 1821, «5. Ricn ne met plus prés de la condition. des bétes que de voir toujours des hommes libres ct de ne U'cwre pas, De telles gens sont des ennemis naturels de te société , ez leur nombre serait dangerenz. z= Te eri pour Pesclavage est donc le cri du Ince et de la volupté , et non pes celui de Uamour de la félicité publiques Montesquieu, Esprit des Lois Liv. XV. Chap, 9. et 13. De l'esclapages Optandum erat quod in re adeo grapi convenirent guoquo modo inter se Konestatis rationes et civiles. Pascoaz Jost ps Meto, Instit. Jur. Civs Lus, Lib. Il, Tits 16° §, 126 in Not. de liberis et sorvis, ADVERTENCIA EB Sta Memoria esteve licenciada na tipografia do Rio de Janeiro desde 3 de Julho de 1820 até quasi Abril do corrente ano sem que the xegasse a sua vez, Esta advertencia é neces- saria, porque mititas coisas que nela se axao fordo escritas com relagdo ao Brasil e ao estado das coisas entdo, as quais ndo fot possivel ao autor emendar. Os motivos que determindrao a compositdo delas subirdo de quilate com a nova Organisacaa politica da Monarguia, porque , entre outras consideragois , basta lembrar que mal se pode casar uma Constituigao livre com 0 trafico de comprar e vender homens , injurioso d humae nidade. ¢E que materia mais digna da atengdo do Soberano Congresso, na qual tanto vai da prosperidade e mesmo da seguranca d’aquela parte tdo importante desta vastissima jMo- narquia? Aa We ED Ce ‘MEMORIA Sobre a necessidade de abolir a introdugGo dos escravos Africans no Brasil; sobre 0 modo e condigis com que esta aboligéa se deve fazer ; e sobre os meios de remediay a falta, de bragos gue ela ocasionara, - a PREAMBULGQ. ae Er opinifo corrente que 4 filantropia do celebre Domi=: nico Las-Casas, Bispo de Chiapa, em favor dos Indigenas da America se devis.a ideia fatal da introdugao dos Africanos, por ter ele aconselhado que se substituissem- estes: dqueles nos trabalhos que emprehendiio os Conquistadores. Hespanhois. Esta opiniao., fortemente combatida pelo Senador. Francez, Mr. Grégoire, e ja. por alguns. Escritores posteriores, principia a perder de credito, Seja‘o-que for, é-certo que os Portugue- zes.,. conquistado o Brasil., seguirio o mesmo plano, e esta bela ¢ vastissima Regio se inundou de. escravos Afticanos,. que: hoje nos embaracio. (1) (1) O Senador Gregorio (antigo Bispo de Blois) em uma Memoria inti- tulada — pologie de B. de Las-Casas — que vem no tomo 4 da- Classe: das YScienctas morais e politicas clo Instituto, mostra vitoriosamente-, 2 nosso ver , qee tal conselho nunca Las-Gasas: dera; que & uma imputacdo que lhe faz Her- rera , seu desateicoado-, copiada sem eisame pelos Escritores posteriores , impu= tdcio desmentida pelo. silencio dos- contemporaneos-, pelo interesso que tomou muitas vezes-o mesmo Las-Casas pelos Afticanos , cuja- sorte deplorava energi- camente , por documentos coevos que produz etc. etc. Mr. Dauxion-Lavaysse segue a opinido do Senador, oa sustenta (na sua Visgem-d. Trindade ,. Tabago- Rte, etc. i (6) Naqueles tempos’ pareceu que nada se podia fazer de melhor. Os Conquistadores nao virdo outra coisa senio anes cessidade de aproveitar facil ¢ prontamente os tesoiros imensos que oferecia prodigamente a natureza, ¢ abracdrao avida e cegamente os meios de o conseguir. Na verdade, se o Brasil nZo aspirasse a outra coisa mais do que a ser uma Feitoria da Europa, a cavar minas, ¢ lavrara terra, para enviar-lhe seus metais preciosos, ¢ as materias prtimcitas para alimentarem sua industria. e comercio, nada mais tinha que fazer do que aumentar o numero dos seus trae balhadores 4 proporcao do consumo dos seus produtos, ¢ isto até um ponto indefinido, conservando-se desta sorte na per- petua depeadencia da industria Europeia. : Mas sendo o Brasil hoje uma Potencia, que ja grande, ainda na infancia, tem proporgois para vir a serum dos maio- res Imperios da terra, nfo ha duvida que o sistema Colonial que Ihe convinha até agora, no lhe convem mais, ¢ que de» vemos seguir a marxa que a Politica nos ensinz , para elevalo 4 prosperidade e grandeza que lhe marcou a Divina Provis dencia, a qual de certo nao o dotou dé tanta e tio variada riqueza , nao o talhou de tantos ¢ tao soberbos rios, nao lhe abriu tantos, tio vastas ¢ tio seguros portos, sendo para desa- fiar a industria humana a cultivalo, e povoalo e desfru- talo. (1) ESSE (1) O mondo parece com efeito 0 teatro preparado pela Divina Sabedoria com os despertadores necessarios para o homem desenvolver nele sua rasio e levar sea ente 4 perfectibilidade de que ele € capaz, aprendendo a firar partido dae coisas creadas © acomodalas aos seus usos, donde deve resultar om profundo reconhecimento aos beneficios do Senhor e Creador de tudo. A imaginacio se confande qoando pretendercos reunir n'um quadro estreito toda a cistensio dos foturos destinos da America. Quaado somente encaramos com o soberbo Ama (7) Mas aeste grande fim obsta essencialmente o sistema de trabalho por escravos, o qual ofende os direitos da huma- nidade, faz infcliz uma parte do genero humano, poe em perpetua guerra uns.com os outros homens, e paralisa a industria, que nunca péde prosperar solidamente senio em mios de gente livre. Ao que acresce o risco iminente ¢ inevitavel que corre a seguranca do Estado com a multiplie cacao indcfinida d’uma populacio heterogenea, desligada de todo vinculo social, e por sua mesma natureza ¢ condicio , inimiga da classe livre. . Os Anglo-Americanos sentirio os inconvenientes desta: populacao recrutada na Africa , e aproveitdrao-se-da sua revo= lugio politica para embargarem o progresso d’ela ; operacio que rematdrfio com dificuldade, apesar das facilidades que: Thes subministrava o scu sistema.de colonisagio mitito diferente do nosso; ainda. assim vem-se mititos escravos.nas Provin« cias do Sul, onde ha o gosto de cultivar os generos coloniais.,. e cles vem bem, (1) . Os Inglezes fizerio o mesmo, ainda que mais tarde, nas suas Colonias, ¢ forgdrio aos Francezes e Holandezes a fa~ zonas, cortando quasi todo o Continente d'Este a Oueste , lavando terrenos tao preciosos em todo genero de riquezss naturais, no podemos crer que clle-fosse destinado pelo Creador para somente acarretar e precipitar no Oceano as reli- quias do Reino animal e vegetal. Parece provavel que o Pert esgotard por aquele grande vehiculo suas imensas riquezas para a Europa, e que até as mer= cadorias Asiaticas axardo por ali uma saida que o Istmo de Panama Ihes tem até. hoje denegado. (2) Mr, Bonnet estima os escravos das Provincias do Sul desile Maryland até os confins da Euisianc em um milh3o e duzentos mil — Lubleau des Etats- Unis de UV Amérique. Paris, 1816 —; ¢ apesar de todas as vigilancias ali so ine- troduzem ainda por contrabando, (8) zerem outro tanto mas suas Colonias das Antilhas, De certo, por filantropia somente, estas duas Nagdis nao deixario de cultivar com escravos Africanos estas preciosas possessOis ; mas Inglaterra quiz decididamente a eistin¢gio d’esse sistema de trabalho, que dera nome 4 Martinica, Guadelupe , Sio- Domiagos e Surinam , e foi quanto bastou , empregando para. isso a sua nfo equivoca preponderancia nas celebres conven gdis com que se fexou a scena dos desastres, causados pela guerra da revolucio. Portugal estava cm situagio mifito diferente. Convindo no interesse de adotar o sistema de trabalho por bracos livres, nao podia convir na abolicfo imediata da introduce dos escravos sem preparo, e¢ sem um praso arrasoado para tomar suas medidas , sob pena de arruinar a agricultura e comercio dos scus Estados. Assim, concedeu o' mais que podia con ceder, ¢zeloso de dar provas de humanidade e filantropia , materia com que Inglaterra involve a questo, prometeu tomar _Medidas para a abolicio d’este comercio de homens, que ja ferira o coragao do Soberano e de seus Ministros, conhecendo perfeitamente os inconvenientes d’ele. - - Porem os Jornais Inglezes tem mais de uma vez anunciado que a epoca d’esta aboli¢ao total no Brasil esta miiito procima ; e esta noticia inquieta os proprietarios , como temos observado ; uns, porque intendem que o sistema de cultura por escravos € 0 que nos convem eisclusivamente; outros, porque nao vem (dizem eles) os meios prontos de substituirem novos trabalha~ dores aos escravas, E’ preciso desabusar uns, e animar outros, E por quanto prejuizos nacionais nao se destroem com a forga, sento sé com as luzes, ¢ pareceusnos que fariamos servico ao Rei ed Patria ém comunicar, por este meio que (9) xeya a todos’, nossas fracas-mas milito sinceras tefledis sobre a materia ; emprehendemos este trabalho, piqueno em‘ volume, mas fertil e grande em resultados, e bem capaz de dar que. pensar aos homens intendidos ¢ previstos ,. porque trata-se de sua sorte futura ¢ de seus filhos , da seguranga, aumento ¢- prosperidade do nosso Imperio. os Niio nos é possivel descermos a miudezas, como > quereras, mos ¢ por ventura conviria, porque nao nos sobra tempo para rascunhar obra volumosa: contentamo-nos por isso’em dar. idejas getais , que abro caminho.a ulteriores indagagdis a quem se resolver a ocuparese de tao interessante materia. Eisaqui a marxa que s¢guiremos no discurso: mostraremos 1.° que o comercio dos escravos , com quanto:contrario 4 hue manidade , nio é tio horrivel como o pinto seus antagonistas = 2.° eisaminaremios que motivos teré Inglaterra para instar com tanto afinco na aboli¢ao universal d’ele : 3.° mostraremos. “que a introdugio dos escravés Africanos , indefinida quanto 20 numero d’eles e quanto ao tempo de sua duracgao, é contraria a seguranga e‘prospéridade do Estado: 4.° diremos guando/ devera verificar-se-a abolicio total da introdugao'dos mesos ¢ analisaremos: os efeitos..que naturalmente sedevem esperar dela: 5,° indicaremos os meios pelos quais se poderd mantet © nosso trabalho agricola independente dos escravos Africanos ¢ 6.° desinvolveremos sumariamente cadatim delles: 7.°décidi« remos as duas questGes ; 1.*se o. trabalho agricola do Brasil’ & incompativel com as forgas fisicas e constituicio dos trabae Ihadores Europeus ; 2.*se a cultura e trabalhos feitos por escravos sio mais lucrosos que por homens livres: 8.° dites mos que providencias se darifo sobre nossas possessOis Afrie canas, B (10 J) Esta simples enumeracao de materias prova a importancia da obra digna da pena de tantos homens instruidos que pos- suimos. Seria para nds uma nfo piquena recompensa deste insignificante trabalho, se ele fosse capaz de tiralos a terreiro. para nos comunicarem suas ideias ¢ arbitrios n’este ponto interessante , no qual so indispensaveis socorros de‘eisperiencia, ¢ prudencia de miiitos. E’ um tributo, ¢ bem lisonjeiro, que pagio os homens de bem, que cultivargo seu espirito, ao’ Servico do Rei e da Patria, Confessamos ingenuamente que é este o- motivo que: nos animou 4 pegar na pena, e nao o-desejo: de gloria literaria ;. sabemos que ele énobre e.louvavel, como capaz. de esporear ohomem a grandes e arduas. emprezas literarias em. proveito da sociedade , mas: nem. essa gloria. se adquire a t@o piquena: custo, nem foi esse o primeiro'movimento do nosso coracio quando , em conversacois familiares , observimos que'a opiniao quasi geral , mesmo de gente instruida, dissentia absolutamente da nossa. ; Porque yazao (eisclamava ‘ja n’outro tempo um Filosofo) se hio-de atribuir. todas as.produg@is literarias a um esteril amor da gloria eisclusivamente? 3 O-amor da humani~ dade nio é taobem uma paixdo dominante no coragio do homem bem educado? ; Nao é ele bem capaz de eiscitar o homem a refletir e a comunicar 0 fruto de suas lucubracdis? zO doce praser ¢ satisfagao de ser util a seus-similhantes nio pésa incomparavelmente mais na balanca da rasao do que esse esteril amor de sobresair em conhecimentos e instrugio? Ne (11) cee aaa §. 18 © comercio dos escravos, com quanto contrario & bumanidade , nao é tao borrivel como o figurao os seus anlagonistas. Comprar e vender homens ofende sem duvida a humani« dade, porque os homens nascem livres. ¢ Mas que argumento se pode tirar daqui? Nés sabemos, pela historia, que de todo tempo eles abusdrdo d’essa liberdade original , € até com ella traficdrao. ; Tais sao as fraquezas, miserias ¢ calamidades a que eles estio sujeitos sobre a terra! Nacio houve que, intendendo que uma parte dos homens asce para servir a outra , fez entrar a escravidao na sua orgae nisacio politica: Outra, intendendo que a liberdade era a moeda equivalente ao valor da vida, ¢ que a vitoria Ihe dava direito 4 dos vencidos, fazia com eles essa comutagio: Tal intendeu que o homem podia fazer parte d’um predio cultivado como os animais de trabalho, e admitiy os servos adidos 4 terra —adscripti glebae —: Estoutra , intendendo que o homem péde alienar temporariamente sua liberdade , paga as despezas de transporte aos emigrados d’outros paizes, faz certos avangos , ‘e tem-nos como hipotecados até o resgate. Isto quanto ao mundo civilisado , porque no resto , e como na Africa mesmo, tudo so horrores, e a escravidio tem o lugar de humanidade. EQue milito pois que os barbaros e ferozes Africanos sejéo transplantados de seus areais ardentes para o belo clima do Brasil , ¢ ahi empregados no suave trabalho da agricultura ? Parece-nos que a questo devia reduzir-se a, saber , sc cles perdem ou ganhao na transplantacio. Ba (12) Os Aitagonistas deste comercio eisagerio. os males. dos Africanos na America , ¢ atenudo os que eles sofrem na Africa; até pretendem que a venda d’eles aos estrangeitos é a causa Bas guerras que se fazem mutuamente os Regulos para a pilhaz gem d’homens. com que alimentem o comercio eisterior. O estudo imparcial das obras d’uns e d’outros, ¢ nossa propria eisperiencia , nos decidem a sustentar 1.° que-o estado dos Afticanos em sua triste patria (se é que este nome merece) é horrivel, porque vivendo sem asilo seguro, sem moral, sem leis , em continua guerra , e guerra de barbaros , veget‘io quasi sem elevagio sensivel acima dos irracionais, sofrem cruel cativeiro, € sio vitimas dos caprixos dos seus Despotas, a @ quem pagio com a vida as mais ligeiras faltas, 2° Que podendo ser que algumas vezes , ¢ em alguns lugares, o comercio com os estrangeiros: estimule os Regulos 4 maior pilhagem d’homens para venderem, é com tudo de notoriedade historica que a Africa ardeu sempre em guerras de eisterminagZo e horreres, mesmo em pontos do territorio onde o comercio com estrangeiros é impossivel. Sabe-se mais que a facilidade de eisportar os cativos feitos nas “guerras tem evitado uma horrivel carnicaria humana, porque sendo elas ordinariamente feitas por amor da seguranca reciproca y o assassinato dos vencidos é de necessidade. ° Que sendo inegavel que alguns Senhores maltratao: seus escravos, tdobem o é que as leis os punem por eiscessos criminosos ; que esses fates perdem-se na grande maioridade dos que praticio tantas outros Senhores em favor dos seus escravos, tratando-os como homens, e olhando para eles Corno para uma parte principal de suas fortunas , que ninguem € tho desatinado que deseje arruinar ¢ perder. 7 foot (13) 7 “4.8 Que por toda parte os grandes: proprietarios ‘que tein estabelecimentos regulares, como os Senhores- de--Engenho, nutrem, vestem, curao das infermidades seus escravos ; nZo os obrigio a trabalhos superiores a suas forcas; dao-lhes folgas para seus divertimentos, ‘e até, conduzindo-se eles bem, os recompensio com a liberdade, e os ajudio depois a viver. 5.° Que os escravos sao instruidos nos deveres da Religifo quanto permite sua capacidade , e que militos sc axfo , entre elles, tementes a Deus, inclinados ao bem, obedientes e afcicoados a seus Senhores. (t} ” 2A’ vista disto, em-que distancia estio ja os Africanos, transplantados ao Brasil, da barbaridade em que vivem na Africa? Louvemos pois milito-embora o zelo dos- amigos da humanidade, que abrasados no fogo d’ela, tem advogado ‘esta causa tio energicamente; mas eles nos perdoem se disser= mos que tem visto os males do cativeiro dos Africanos na America por vidros de engrossar, ¢ se sustentamos que a introdugo d’eles deve ainda durar algum tempo entre nos por amor da causa publica. (2) - - Oferece-se aqui naturalmente ao espirito 0 indagar que grandes motivos impelem o Governo Britanico rio sé a advo- gar a abolicio universal do comercio dos escravos , senZo a (1} N&o tomaremos sobre nis a apologia dos Holandezes , aos quaes se atribtiem atrocidades contra os escravos. Nao sabemos tiobem até que ponto merecem credito essas acusacdis, tendo ja piquena confianca em relacdis de Siujantes, : . (2) Todo mundo sabe que o Abade Raynal tinba interesses: no comercio dos escravos. Africanos que fazido as casas de D... de Nantes, e de Sollier de Mare sclha, — Noticias deste genero sio o melhor preservativo que se péde aplicar 3 wuocos ineispertos contra o veneno oculto nas fogosus @ pateticas declamacdis de “Autores incendiarios , como o Abade Raynal, (4) pretender obrigar Principes Soberanos a consentirem prontas mente n’cla, Este cisame fara o objeto do paragrafo seguinte, ' 8O 9S D088 §. 22 Que motives tera o Governo Britanico para instar com tanto afinco pela abolicéo universal do comercio dos escravos Africanos, Sed mera filantropia, um puro e desinteresado desejo de ver feliz 0 imenso povo Africano? Péde ser. O Governo Inglez tem mais perto de si um belo teatro para eisercitar a filantropia , e nao eisercita. A Irlanda geme e clama, diga : cadaum o que quizer da justica das condigdis que lhe propie Inglaterra; ¢ os povos da India nao sao filantropicamente governados , se merecem credito seus mesmos Escritores, Mititos motivos de interesse podem descobrir-sc no projeto da abolicic do comercio dos escravos pelo qual tanto insta Inglaterra, . Todo mundo sabe a que ponto de prosperidade xegou a agricultura das Antilhas em mios dos Francezes e Holandezes, que deu nome e celebridade 4 Martinica, Guadelupe, S, Domingos ¢ Surinam , cujas. produgGis faziao uma concurs rencia ruinosa pata os gencros da mesma natureza tirados da . India pelos Inglezes ; donde resultava preponderancia comer - cial em favor das duas Nagiis, ¢ facilidade de formarem uma | formidavel Marinha de Guerra (que acompanha sempre a prosperidade da Mercante), a qual em maos d’aquelas duas Nagdis rivaes e industriosas no podia deixar de inquietar os Inglezes , que pretendem dominar ecisclusiyamente em todog (15 } os mares. Arruinar pois a agriculura das Antithas em mos: estrangeiras era para Inglaterra um objeto essencial; tirara lhe os bragos, o meio fundamental : isso obteve, Verdade € que ela deu.o eisemplo em suas Colonias ; com ele pode argumentar, € nfo sem forca , porque todo mundo sabe que uma tal mudanga, e tao rapida, nfo podia fazer-se sem grandes sacrificios ; e Inglatcrra os fez. (1) Alem disto, nao é ja um segredo que Inglaterra pretende colonisar'a Africa, e por um modo tio’ liberal, que provavel- mente seré obrigada a mudalo, como improprie para povos Barbaros , que é preciso conduzir ao estado de civilisagio por mieios insensiveis e graduais. D’esta sorte abre o Governo- Inglez e prepara novos mercados 4 industria nacional , os:quais nio podem deixar de ser infinitamente lucrativos' em umi paiz que principia, de tudo carecente, e de cujo trabalho podem iirar imensas materias primeiras para alimentarem sua in- dustria os Inglezes fabricantcs, Esta eperagio politica insta tanto mais,. por isso’ que- as NacSis: Europeias, dando uma- fortissima impulsio progressiva’ 4 sua industria, consoriem’ hoje muito menos os produtos da Ingleza: Ora, oplario da’ colonisagio da Africa é cssencialmente contiariado- pela con- tinvagao do comercio dos escravos com o qual estio engodados’ os Regulos Africanos, Nao é menos présumivel qué no: seu'plano -de dominio universal sobre o mar, o Governo Britanico procure estabe~ lecer-se solidamente- nas Costas Africainas-do Atlantico, para fexar o circulo dentro do qual devem-mover-se as nutmerosas- (2) Quem quizer ver bem'desehvolvide o plano do Governo Britanico a este respeito, péde-ler o Tratado de Economia politica e Comercio das Colonias dq Mr, P. F. Page, obra rica em averiguacdis miudas o, -profundas; (16 ) Esquadras que tem, capazes de avassalarem o mundo inteirod Assim vemos que ela tem no mar do Norte Helgoland ; no. Norte da America o Canada e outras possessdes consideraveis ; no Golfo do Mexico os pontos os mais importantes ; Demerary ¢ Berbice no Centinente ; no Mediterraneo Gibraltar e Malta que dominio o comercio do Levante; Santa Helena, Serra: Leda, Cabo da Béa Esperanga , ¢ a Ilha de Franca, xave do comercio da India; n’ela um Imperio imenso; no Grande Oceano os melhores pontos , indispensaveis para entreter 0, comercio oriental como Pera, o Mexico ete. ; ¢ sé Ihe falta um ponto na embocadura do Rio da Prata , que é ¢ ha-de vir a ser o vehiculo de imensa riqueza, (1) : - Pode mesmo ser que Inglaterra nfo veja sem receio crears se, Com o aumento da nossa agricultura, uma grande Marinha Mercante , e apds d’ela a de Gueria correspondente , e isto tao rapidamente como péde ser igualmente rapido esse aumento da agricultura com uma introdugio de bragos Africanes inde~ finida , e com a impulsio progressiva que deu ao Brasil a Pree senga do nosso Augusto Soberano, Pai da Patria e Protetor da industria, O Gabinete Britanico é miito previsto, e sabe pres patar ou acautelar os successos miiito d’antemio. O Atlantico guardado, em toda sua cistensio do Norte ao Sul, pelos dois grandes Imperios Anglo-Americano e Brasileiro cujas costas banha, talvez nZo queira reconhecer em seu scio vastissimo Soberania eisclusiva a nenhuma NacZo Europeia. . Se devemos crer a historia do tempo, sabe-se que os homens de bem, ha miiito, fazem votos pela aboligio do (1) Honva muito quem pensasse que a esse fim se destinava-a Esquadra contra Baanos-Ayres comandada pelo General Whitclocke , cuja forga do. desembargea : perecea no ataque dirijido por Lord Beresford, oe ie (17 ) comercio de escrayos Afticanos; mas nem os bons descjos, nem os clamores da filosofia ¢ da Religiio, puderao sufocar 0 ‘amor do lucro que dos bragos d’eles percebiiio as Nagéis da ‘Europa ; e nem o negocio da aboli¢ao estaria tio avangado, se nao fora a subversio total que sofreu aquela parte do mundo politico com a espantosa revolugio que acaba de a assolar. Sabemos tdobem que os primeiros tragos para a eisecugio deste grande projeto devem-se ao genio vasto, sublime ¢ _previsto do imortal Pitt, vario merecedor do reconhecimento da Nagao Ingleza, no seu arduo e glorioso Ministerio. Pitt previu qual seria, mais tarde mais cedo, a sorte das Colonias trabalhadas por escravos; conheceu quam precarios erio os beneficios que d’elas se tiravio por esse sistema de trabalho, em comparacZo dos que nascem do trabalho d’uma populacdo livre , ainda que mais tardias ; ¢ seguro em seus calculos ¢ combinag@is politicas , nao hesirou em sacrificar as Colonias atuais 4 futura prosperidade do Imperio Britanico, proclae mando a abolicZo do comercio dos escravos , e defendendo a introdugio d’elles; d’onde resulta que adorado na Europa por seus Compatriotas , era- este grande Ministro detestado pelos proprietarios das Colonias, Voltou ento seus olhos penetrantes para o Continente Africano, ¢ a colonisagio e civilisacio d’ele oferecério 4 sua brilhante imaginacgio um quadro magnifico de interesses ao comercio, e de gloria para a Nagiio, mitito acima d’esses interesses coloniais sacrificados, Fisaqui o que sabemos. Seja porem o que for, se entra sinceramente nos planos de Inglaterra colonisar a Africa, o projeto é grande , é nobre, é digno d’uma grande Nacao. Com efeito , tantos milh3cs d*homens ganhados para aRcligiao e para a brilhante socicdade das Nagdis civilisadas, ¢ uma cme c (318). preza que dilata, ¢ faz trasbordar de praser “0 coracio dos sinceros amigos da humanidade. Se é cobiga, se é ambicHo de riquezas ; feliz cobiga, feliz ambi¢io , (diriamos nés) que sabem combinar com os meios de se satisfazerem, o bem e felicidade do genero humano! ! ; Que bela, que nova tatica a de conquistar Nagdis barbaras para a civilisagio com o engédo do comercio: ede saber assim aproveitar as riquezas de todo mundo !! ; Que rios de sangue ¢ lagrimas se terifo poupado 4 especie humana , se os Conquistadores que senhom rearao Africa, Asia e America, se tivessem limitado ao co- mercio !! Fazendo agora aplicagio do cisposto 4 nossa situacio, p3rece-nos que, pondo de parte a perscrutagiio dos verdadeiros motivos que impelem a Nagao lagleza a trabalhar com tanta ancia para concluir a abolicio do comercio dos escravos , devemos ocupar-nos em eisaminar se esta aboli¢io convem ow Zo a6 nosso territorio, para tomarmos com tempo ec sizuda- mente as medidas adequadas. A.boa Politica nos ensina que nao podendo um Estado dirijir, e comandar os. sucessos 4 sua voniade , deve procurar tirar d’eles o melhor partido possivel. NGs intendeinos , ¢ ousamos sustentar que a intraducio de escravos Africanos no Brasil, indefinida quanto ao numero d'eles e quanto ao tempo de sua duracio, é contraria 4 segue ranga do Estado, e 4 sua prosperidade; e que, independente das solicitagdis do Governe Britanico , deveriamos nés mesmos Ptocurar evitar. Eis a materia do paragrafo seguinte. (19 ) EEE aE §. 3° 4 inirodugéo dos escravos Africanos, indefinida quanto ao numero deles ¢ quanto ao tempo de sua duragio, € contvaria & segue ranca e prosperidade do Estado Quem othar superficialmente para este imenso territorio ja descortinado e trabalhado ; mflitas e grandes Vilas fun- dadas ; rios navegaveis frequentados; outros em vespcras de Oserem; uma grande agricultura propagada; ricos tesoiros roubados 4 terra; e¢ emfim um movimento de vida social difundido em todo oImperio, que promete um desenvolvi- mento incalculavel ; e sonber que todo este imenso trabalho foi feito pelos bragos Africanos ; sera tentado a concluir que a indefinida multiplicagio deles é indispensavel , nao s6 util. Mas quem conhece a marxa natural da prosperidade dos Imperios ; quais sfo as bases solidas da sua riqueza e forga ; como na complicada maquina da sociedade civil tudo é ligado e combinado ; pensa d’outra sorte’, e através d’essa: prospe- tidade superficial e enganadora descobre um vicio radical , cujos.estragos , ainda que retardados por circunstancias parti- culares , nem por isso deixario de aparécer mais tarde, ¢ talvez por isso mesmo fagio a catastrofe mais horrivel. A verdadeira populagio , a que faz a solida grandeza e forga d’um Imperio, no consiste ei manadas de escravos negros , barbaros por nascimento,, educagio e gencro de vida , sem pessoa civil, sem propriedade » sem interesses nem rela- dis sociais , conduzidos unicamente pelo medo do castigo, ¢ C2 (20) por sua mesma condi¢ao inimigos dos brancos; mas sim em grande massa de Cidadios , interessados na conservagio do Estado e prosperidade nacional, e nascidos da propagacio patria, favorecida por Leis sabias ¢ justas, e por um Governo paternal. Ha n’um Imperio, desde a xarriia até o Trono, uma cadeia bem tecida de Cidadaos de difcrentes classes e condi- gGis, os quais, trabalhando , para assim dizer,-cadaiim na sua esfera , concorrem insensivelmente , ¢ quasi sem o sabte rem, para o bem geral. O Lavrador tira da terra o sustento para si e para os outros; colhe as materias primeiras que passa aos Artifices ; estes as amoldao aos usos sociais, e dio-lhes novo valor; o Comerciante mete estes produtos em circulagio, transporta-os d’umas para outras Provincias , e mesmo aos paizes estran= geiros , d’onde nos traz o que d’eles precisamos; 0 Sabio estuda a natureza, furta-lhe os segredos preciosos com que facilita e aperfeigoa os trabalhos , e¢ produz primores da artes o Soldado defende o Estado ¢ a Patria contra os inimigos que pretendem oprimila ou perturbala ; 0 Eclesiastico. ensina e pratica a Religigo, unica base solida da Moral ; o Magistrado dirime as contendas que as palxGes elevdo entre seus Conci« dadios ; a Nobreza rodeia o Trono, habilita-se por uma educagio conveniente para servir na paz e na guerra, para derramar o sangue pelo Suberano, e dar aos piquenos os mais brilhantes eisemplos d’amor e fidelidade pela sua Sagrada Pessoa. Todos sao ligados pelo intcresse. comum, sd os escravos 820 desligados de todo vinculo social, e por consequencia perigosos. Em todas as Nagois civilisadas é a classe do povo quem forma a grande maioridade de individuos, ¢ é por consequencia (a1) n’egsa classe que reside a forca fisica nacional, ¢ é d’cla que se tirda os defensores da patria. No Brasil, por efeito do maldito sistema de trabalho por escravos, a populagio é composta de mancira, que nao ha uma classe que constitua verdadeiramente o que s¢ xama povo; e este defeito deve infalivelme nte influir mitito no metodo de governo, O Clero que é bem composto, nao goza todavia da consideragio politica necessaria, A Nobresa, que é pouca, esté no mesmo caso; de sorte que nao vemos outra populagio senZo a dos individuos que compdem a classe media entre a Nobreza eo pavo, como sio os enrpregados nos diferentes ramos do servico publico, os ocupadas no comercio, os proprietarios que desfrutao seus rendimentos , ¢ todos os que se aplicio ao cstudo das sciencias e artes: o resto que devia corresponder ao baixo povo, éuma enorme massa de negros escravos. ¢ de libertos ,. que fazem ordinariamente causa comum entre si. Com tal populagio, o estado nio tem um apdio contra os devarios da classe media , a quem dio calor fortunas e instrugfo, ¢ todo o Corpo. social estd 4 discrigio d’aquela em que reside a forca fisica. Roma teve que combater dez vezes seus escravos (que ao menos tinhdo outra civilisagio e€ costumes) e venceu ; §.. Domingos sucumbiu. « Dai-me um mapa eisato da popu- lagdo. dos, paizes trabalhados por escraves Africanos , diz Mr. de Pradt, ¢ eu vos marcarci sem erro sensivel, o dia em que'eles sacudirio o jugo. » Em quanto a populacao estiver semeada a grandes distancias n’um vasto territorio, o mal scrd paleado; mas com a introdugio indefinida dos Africanos , esta situagio muda , € 0 raio nos ameaca perpendicularmente sobre a cabeca, Se a populacio livre cresce, cresce tiobem a dos escravos, € sempre n’uma propor¢io desventajosa:. porque 1.° cada ho» (22 mem livre n3o péde dispensar 20 menos um escravo, ¢ os que se ocupio d'agricultura e d’outros trabalhos lucrativos, pos- suem centenas: 2.° porque a classe livre aumenta-se pelo meio lento da propagagao, ¢ os escravos recrutio-se por milhares nas Costas d’Africa. Assim vemos que a proporcio, em S. Domingos , era de 25G)009 brancos contra 5009000 escravos ; na Guyana Franceza, onde a introducio d’cles sempre foi minguadissima, é€ de go7 contra 11@)791; ¢ do Brasil sabe- mos, que em 1798 os brancos erdo 800g)000 € os escravos 1:5300q@)990. Este calculo nao pode ser eisato quanto ao Brasil, pois sabe todo mundo que os meios por que se firzem tais recenseamentos sio milito faliveis. (1) Hoje depois da passa- gem da Cérte para o Rio de Janeiro, péde-se calcular onumero dos brancos ent um milhao, eo dos escravos em mais de dois. Ora, supondo que a populagio cresceria somente n’esta mesma proporcio, (0 que nio é provavel vista a impulsio que tem recebido a industria n’estes ultimos anos) assim mesmo veria~ {x} O nosso respsitavel Ssbio o Sr. José Correia da Serra citado pelo Bardo de Humboldt, foi quem comanicon este calculo, fundado no rerenseamento @aquele ano que nao se publicou. O Sr. Dr. Francisco Pereira Santa Apolonia, natoral de Minas Gerais , Chantre na Catedral de Mariana, vardo benemerito pelo sea saber, e solicito investigador das coisas da Patria, comunicouenos um apa statistico circunstanciado ¢ bem fundameatade , onde a populacao geral do Brasil é clevada a 5:2403)o00 habitantes, a saber: Brancos «6 - 11010@ 000 Indios.» . 4 250@ov0 Libertos . . . — 4o6@)oo0 Pardos escravos . 221000 Negros escravos « 1:361Q)oco Total . 3:28o@)ooo © calcalo de 179% nao comprekende sendo brancos e negros, Podem-se con- ciliar om com 6 outro. ( 23 ) mos, em breve, a Africa transplantada pata o Brasil, ¢ 2 classe escrava nos termos da mais decidida preponderancia. ¢ Que faremos pois nds desta maioridade. de populagio hete- rogenea, incompativel com os brancos, antes inimiga decla» rada ? Se felizes circunstancias tem até agora afastado das nossas raias a empestada atmosfera que derramou ideias contagiosas de‘liberdade ¢ quimerica igualdade nas cabegas dos Africanos das Colonias Francezas , que as abrasdrao e perdério, ; esta remos nés inteira ¢ eficazmente preservados? Nao. Os enera gumenos filantropos nfo se cistinguirao ainda; e uma récova de perdidos ¢ insensatos , vomitados pelo Inferno, nao axio outro meio de matar a fome senZo vendendo blasfemias em moral e pulitica , despresadas pelos homens de bem e instrui= dos, mas talvez aplaudidas pelo povo ignorante. Todavia nio é isto o que por ora nos assusta mais. Um contagio de idcias falsas ¢ perigosas nao ganha tao rapidamente os individuos do baixo povo, que uma boa Policia Ihe nio possa opor corretivos poderosos ; mas o que parece de dificilimo remedio é uma insurreigio subita, assoprada por um inimigo estrangeiro e poderoso, estabelecido em nossas fronteiras, € com um pendio de liberdade arvorado ante suas linhas, Este receio nao é quimerico, pois que a eisperiencia nos acaba de desenganar que o xamado Direito das Gentes é um Protto que toma as formas que Ihe querem dar, ¢ serve unicamente: para quebrar a cabcga dos homens de letras. (1). Quando- acontecer um tal desastre, gde que nos servirio as nossas (1) Principalmente depois da guerra de 1740, tempo em que a Politica rompeu inteiramente com os principios da Moral, ¢ 0 Mundo civilisado pria- ciptoa a ver os maiores esuandulos politicos, . ( 24) forcas militares? ; Que resistencia faremos ao inimigo eisterior, estando a bragos com o interior, ¢ composto de escravos -barbaros e ferozes? Um grande Imperio, com este lado tio -fraco, sera. na verdade a Estarua de Nabucodonosér de pés d’argila. : Nao passaremos revista aos horrores praticados nas Colonias Francezas , pois que 0 cora¢ao se furta a isso, ¢ andio livros xeios, escritos com lagrimas. Recolha porem o Leitor todas as suas forcas, ¢ s¢ € que pdde encarar com tal espetaculo, contemple a Hha de Sio Domingos, primor da cultura colo= nial, a joia preciosa das Antilhas, fumando ainda com o sacrificio de vitimas humanas ¢ inocentes,... Observe sem lagrimas, se péde, dois Tronos levantados sobre os ossos de Senhores legitimos para servirem de recompensa aos Vinga- dores de Toussaint Louverture.... (1) Contemple a sangue frio, se pode, a aprasivel Barbadas inda cuberta de luto e ensanguentada com a catastrofe eiscitada por escravos.... Estas quatro linhas que de propasito nao adiantamos mais , por ser materia esta que tem lugar mais proprio em nossos coragdis que nos escritos, decidem, a nosso vér , a questo terminantemente, ¢devem merecer a mais seria atengio aos habitantes do Brasil. ‘Todas as outras consideracdis sao subor- Ginadas a esta , e ndo podem emparelhar com ela. Corramss pois véo a esta scena de horror, e passemos a ocupar-nos de outros argumentos, os quais ainda que de grande importancia tiobem , nao abafao todavia o espirito (1) Nao é sem indignecdo que 0s homens de bem observ3o a imoralidade com que as Nacdis, que podigo dar fim a um tal escandulo, no 86 0 nio fazem , mas até protejea aqueles Barbaros, que vio creando um novo Argel piaqucle Golfo. Eisoqui o que se xama Politica modernamente, (25) com tio medonhas sombras. Nés vamos eisaminar se a nossa industria péde .prosperar, quanto convem, em méaos de escravos. . , A rasio e eisperiencia conspirio a provar que a devemos confiar a bragos livres, porque nenhum grande aperfeicoae mento se péde esperar de homens, que trabalhando para seus Senhores, forgados, descontentes, e sem emulagao , procurio unicamente fazer quanto baste para evita 0 castigo, ¢ com 0 menor incomodo pessoal possivel. O corpo péde ser domi- nado, nfo a vontade ; ¢ onde esta falta, morre a industria. A forga péde obrigar 0 escravo ao trabalho, mas a vontade niio admite coagao, e desgragadamente os meios com que a dos homens livres se estimula, sio inaplicaveis aos escravos. Sabemos mesmo por eisperiencia que os da Africa sao destix tuidos de talento; no que sdo inferiores aos nossos Indios , que tem provada habilidade para officios mecanicos, (1) O pior de tudo é que o trabalho industrial, relegado na classe dos escravos, sc aviltara aos olhos da multiddo, e por isso a classe livre o detestard , como acontece ja entre nés com o trabalho agricola, que na opiniao geral, .é s6 para escravos, « O trabalho, (eisclama Herrenschwand justamente apaixos ‘nado) este amigo do homem, este bemfeitor da humanidade e da sociedade civil, este presente do Céo, mescabado entre os homens!!!» (2) ;E que esperanca podemos ter de que (2) © que dizemos da falta de talentos dos Alricanos mio ¢ porque lhes atribuamos uma organisacio inferior & dos Europeus ¢ mais Nucdis, como alguns tem avangado , mas julgamos ser efeito de causas morais que os modificio tanta nu Africa como nos paizes para onde si0 vendidos. (2) A-sciencia Economico-politica nascente e tratada sem metodo até Her= fenschwand asou n'ele um Geometra, Conhecemos d’ele — Discours fondainentag D ( 26 ) prospere a industria em um paiz onde o trabalho, alma d’ela ede toda riqueza , ¢ infamante e indecoroso ? A historia dos progressos da industria nos tempos feudais mostra bem claramente que a condi¢io servil dos homens She opée grandes barreiras; ora, a condigio dos Afticanos entre nods é miiito pior, porque est no ultimo grau da escala da servidio, Os homens instruidos desejario ver animado o trabalho no nosso Imperio pelo brio, pela emulacio, pelo Honesto interesse, nao pelo castigo corporal, que € a mola que move os escravos. ; Quem poder preferir aos motivos Morais que anim3o o povo industrioso de Inglaterra, os vergalhos que fazem .trabalhar os cativos em Argel? Nem se diga que o Brasil nao deve ocupar-se tao cedo de industria, antes deve ser ainda milito tempo puramente agri- cola, com o fundamento de nao estar ainds a agricultura generalisada em todo seu imenso territorio , e de estarmoas nds a sur la population — Economic politique et moral de Uespéce humaine — ddresse auz ¢rais hommes de bien — Discours sur le commerce extéricur — Discours sur. da division des cerres, ~ Em todos estes escritos é admiravel a preciséo ¢ ligacio de ideizs e principios, ¢ como tais, apesar da opaixonada censura do ~ Critical Review — sao citados com.sespeito nor Sirs. Ganilh , Arnould ¢ outros. Seu estilo € arido e fatigante, como ele mesmo reconhece, pela natureza do metodo max tematico. Arrastado pela forca do sistema, nao viu as ventajens do comercio eisterior , e concluiz dundo preferencia quasi cisclusiva ao interior , o que ¢ erro grave, e com tudo nao destroe o merecimento de suas obras, Persuadide que _axdra nm nexo necessario entre a Economia-politice, como elle a concebe, © os destinos do homem sobre a terra, tomou o tom d'um inspirado que vem anunciar, verdades soperiores 4 capacidade comum dos homens, © que lhe eiscitou censuras jestas, ¢ ele buscon evitar, por conselho d’amigos, na Obra —— «fdresso anz, srais hommes de bien. — Nao se tome por afetagio o fazermos @ darmos nosso juizo sobre os diferentes autores , porqoe a mocidade gauha nisso ; um homem Tido, falando do mesmo Herrenschwand , nos‘disse que era couluso © sem metodo, . (27) ainda to atrasados em conhecimentos, que nZo poderemos produzir ‘generos industriais nem tao bons, nem tio barates como os estrangeiros , sendo por isso mais proficuo compralos do que fabricalos, : Nés_pensamos d’outra sorte. Uma analise miuda da -rarxa da riqueza nos Estados modernos seria o meio de destruir solidamente uma doutrina tio perigosa ; mas nao cabendo cla nos limites d’este, papel, contentar-nos-hemos com ideias gerais, resultado da analise, que é quanto basta para og imbuidos nos principios da sciencia economica. Primeiramente , querer separar a prosperidade da agricul~ tura da da industria, no sistema atual das Nac@is civilisadas , é um‘engano palpavel. Uma grande Nac&o puramente agricola, € por consequencia escrava d’outras mais avancadas no que toca’ 4 industria, € um ente imaginario ; porque nao péde haver solida grandeza sem industria ¢ comercio; e por toda parte onde a agricultura no for apoiada e sustentada por uma industria proporcionada e progressiva, seri sempre mesquinha € precaria ; c as Nacdis que se derem eisclusivamente a ela, nfo avangario, nem em riqueza, nem em forca , nem em Civi« lisagio. Baste para eisemplo a desgracada Polonia , que parece ter perdido para sempre sua liberdade e independencia politica. z E que outra coisa éa agricultura mesma, istoé, a que merece este nome, senio uma filha da industria e¢ civilie sacio? (1) Por tanto o meio solido e eficaz dé protejer-a —_— (1) 4prés ce qu'on appelle les beaux-arts et les professions libérales , it nly a peut-ctre pas d'emploi qui exige une aussi grande yaridté de connaissances et autant d'expcrience ; diz Smith , que é grande antotidade na materia, Este Genio Creador, que aprendendo na Escola dos Economistas Francezes , ‘pode elevar-se acima deles, combater © refutar os principios fundamentacs de sew D2 (28). aagricultura é protejer a industria; nao ha que separar uma da outra, ¢ Quercis um paiz cultivado? dai-lhe fabricas, que val tanto como dizer, dai consumidores numerosos e certos aos produtos da sua agricultura, Com este metodo se gran~ geifio, cultivio e povo%o estercis xarnccas e aridas montanhas, Pretender pois que uma Nagao principiante se ocupe, ao principio , da agricultura cisclusivamente , ¢ que. se nao divirta para a industria sendo quando 0 ultimo canto do seu territorio. se axar cultivado, e a cultura levada 4 maior perfeicao, ¢ correr apds d’uma quimera; é supor causa aquilo que nao é genio efcito ; € ignorer a marxa natural da riqueza ¢ prospe~ ridade das Nacdis modernas. Isto sao principios elementares, Verdade €, que, a respeito do Brasil, concebe-se miito bem que aumentando-se inijefinidamente o numero de bragos pelo meio forgado, iniquo e impolitico da introdu¢io dos escravos Afticanos , a cultura dos generos xamados coloniais, que alimentZo o comercio eisterior, pode ser levada a uma eistensio taéobem indefinida ; ;mas seri por ventura essa a 2 prosperidade agricola que nos convem? ; Estard ella solidae mente fundada nos brags d’uma tal populagio? ; Serio os estrangeiros os unicos consumidores que devemos dar-lhe ? z Uma guerra, ou qualquer mudang¢a na economia das Na¢ois consumidoras dos nossos produtos nfo poderao arruinar subi- tamente a nossa cultura? ¢ Uma indefinida populagio Africana ocupada em cultivar assucar, algodio , café, cacau etc, etc. ——————— sistema, no ousa separar os solidos progressos da agricultara do indispensavel apoio da industria e do comercio. Enganon-se quando afirmou quo 6s capitais empregados na agricoltura dao maicres benelicios ; assim como se engana em outros muitos. pontos de doutrina. Nada porem faré esquecer os assinalados _servigos que lhe deve a Sciencia Economico-politica, Facile est inpentis addere, (29) em um paiz imenso€ fertilissimo, nao produzira em fim uma tal quantidade d’esses generos, que inundados os mercados da Europa, haja uma consideravel depreciagio-?. ; Nao seremos envio forcados a procurar uma nova direc3o aos capitais'e trabalhos nacionais , ¢ por meio de sacrificios e desordens que acarreta infalivelmente um tal estado de-cojsas?. (1); Nao é ‘por tantoda situagio forcada, ¢ com o sistema ruinoso e impolitico de trabalho por escravos adotado no Brasil , que se deve argurentar contra os principies gerais , ¢ reconhecidos ¢ cisperimentados da Sciencia ; pelo contrario sio eles os que nos devem arrumar. para buscarmcs os meio e modos de emendar sua situacSo atual., embaragada € precaria: vestilo 4 Europeia, para assim nos cisplicarmos ,-e modelar sua marxa economica pela das. Nagdis cultas, salvo’o desconto- das localidades , deve ser nosso empenho.e disvelo. Pretender hoje reduzir um povo inteiro ao mancio da xarria, (apezae da doce influencia que se atribue ao -trabalho agricola no moral dos homens). é sistema errado ; ao contrario, tirar- da’ terra o maior produto possivel com:o-menor numero de bracos postivel, é 0 grande problema. pratico da-Sciencia economica;’ A industriosa ¢.soberba Inglaterra péde servir-nos de modela! neste, Como em outros militos yeneros, dados taobem os: descontos que pede sua particular situagio, “(Agora mesmo acontece muitas vezes axstem-se os mercados da Europa. Hio obstruidos ,. que rodos os geueros do Brasil ali enviados ni s6 no dio Jucroy mas até dao perda.. A imensa,quansidade Wassuear ¢ algodéa da India niio fe ja uma terrivel concurrenciu na Europa contra os produtos Americanos do mesma gencro? {E que seri quanilo Caracas e Provincias adjacentes principiarem a tras balhar do veras? ¢ Que diremos dos Estados-Unidos? Ein 1803" ‘visportdrao eles. algoilio indigena 57,713)079 librus, (Mrs Gullatiu Mavistro de Finances.) . ( 30 ) Nao somos taobem d’opinido que prefiramos comprar 03 produtos de manufacuras estrangeiras a fabricalos nés mesmos , pela rasio de nos faltarem os meios de obtelos 140 bons ¢ tag baratos. . : Pais por isso que nos faltao as facilidades para .obter a mesma qualidade e barateza, devemos cruzar os bragos, ¢@ “submeter muito resignadamente nossa perfectibilidade 4 dependencia das NagGes. mais avangadas? Seria um conselha tal bem digno d’um Fabricante Inglez. Nés dariamos outro mais Portuguez , ¢ vem a ser: que por isso que nos faltZo os meios de rivalisar com os estrangeiros na bondade .¢ barateza dos produtos industriais , devemos empregar os maiores esfore gos e sactificios para conseguilo. — Nem conhecemos eiscegao nenhuma a esta regra senZo quando o solo patrio se negar de tal sorte 4 creagao das produtos que pretendemos aproveitar, que as despezas para obtelos ciscedio, sem esperanga de melhoramento , os beneficios que d’eles se possio esperar. (1) A rasio fundamental desta doutrina é evidentissima, e nos parece que pode cifrarese em. poucas palavras: € porque 1.° nfo pode ser indiferente. para o bem da populagio, riqueza ecivilisagio nacionais, que paguemos a estrangeiros, ainda mesmo com os produtos da nossa agricultura , os salarios € beneficios industriais que podiado ficar em miaos dos nossos Compatriotas: 2.° porque ha uma suma desigualdade de interesses em fornecer materias brutas para recebelas: manu faturadas. As primeiras conservao um prego quasi constante e dio por consequencia um proveito estacionario ¢ muitas (x) Neohama das Nac@is cultas da Europa quer o mais barato das outras em cos que prem manufatarar , ¢¢ 86 nds é que o devemos querer? : (31) wezes retrogrado, € as manufacturas treplicio , decéplio de valor por causa da industria, E estamos convencidos que ‘pode renunciar ao estudo da Sciencia economica quem nio ‘for capaz de axar no desenvolvimento d’esta Proposigio uma verdade fundamental, . Acresce que ess¢ inconveniente de comprarem os consu- midores nacionais mercadorias menos boas e menos baratas das nossas fabricas, nio pode ser senao passajeiro, porque 0 o Governo, que tem sempre ante os olhos o termometro economico , vem em socorro da industria nacional pelos militos meios que tem 4 sua disposicio. (1) E’ para salvar a industria nacional, ainda nascente , contra aconcurrencia da estrangeira, que devem servir as Alfan- ‘degas, ou impondo dircitos bem calculados , que sem destruir ‘a-emulacio entre os produtores' nacionais ¢ estrangeiros, deem ‘mais facilidades aos primeiros que aos segundos; ou prohie indo inteiramente os produtos estranhos, como pratica judi- ciosamente Inglaterra: E’ para protejer a industria nacional, ‘ainda nascente, que o Governo Britanico descubriu as recom- ‘pensas € premios, de que tem sabido tirar tao grandes ven« ‘tajens pelo bem calculado valor de que os compée, e pela discreta aplicagio d’eles: E’ para salvar a industria nacional, ainda nascente, que o Governo deve estar continuamente atalaia para procurar-lhe todas as comodidades e facilidades possiveis. (1) “Resta ainda por decidir se é verdadeira a observagio que faz Mr. Canard: @ Que todas as vezes que uma Nacio compra ao estrangeiro algumas mercadorias em vex de as fabricar, ¢ porque nisso axa ventajem.v Parecesnos quo seria facil Mostrar que aqui se conlande a Nac3o com um punhado de negociantes ; e em mil hipoteses podem ganhar trinta on corenta aegociantes n’um ramo de comercio lids ruinoso a Nucao, ( 32 ) Verdade € que contra estas restri¢dis que se fazem: nag Alfandegas, se tem novamente levantado cclebres Escritores, caracterisanda-as de monopolistas, porque evitado a livre con- currencia das mercadorias estrangeiras , donde podia nascer amelhoria e barateza dos produtos industriais em beneficie dos consumidores. Taes sic, entre os mais modernos, Joao Baptista Say ¢ David Ricardo, Discipulos tao dignos do grande Smith , como. perigosos quando propagio alguns dos pontos erroneos da doutrina d’aquelle grande Mestre ; coma € o de que tratamios. © O erro nasce: principalmente de se pretender aplicar ao comercio de Nagao para Nagao a regra d’uma absoluta ¢ ili- mitada liberdade , que s6 convem ao comercio interior de Provincia para Provincia da mesma Naso; e ja se vé que aquilo que péde ser miiito util na primcira hipotese, pode ser miico prejudicial na segunda, e vice versa. Ter em vista eisclusivamente o bem dos consumidores, procurando que eles no comprem ‘sendo o melhor e mais barato, importando pouco que o beneficio passe a estrangeiros ou nacionais, ¢ manifestamente tomar uma questdo tio importante , ¢ de tio vastos resultados, por um s6 lado. 3; Nao se faz conta senio do interesse dos consumidores, e no valem nada os intereases dos produtores e os do Estado? Mas, se édemonstrado que da industria protejida e universalisada no territorio’ patria depende a riqueza, a populacao e a forga dos Estados mo~ dernos ; como pode caber em rasdo que sejamos consumis dores de industria alheia, e nao produtores? Se para obter, este fim importantissimo é preciso por limites 4 concurrencid da industria estrangeira com a nacional , porque o nao faze mo3? Se para esse mesmo fim é preciso que a Nagio toda ( 33 ) faca um sacrificio, 3 porque o nao fazemos? ; E se o Governo empregar os meios possiveis para adiantar -os conhecimentos auciliares , de maneira que possamos cisceder , ou igualar as outras Nag@is ,'ou ao menos marxar a pouca distancia d’elas , nio desaparecerio esses sacrificios, que tanta bulha fazem na cabega dos cisagerados amigos dos consumidores ? (1) Seria curioso ver demonstrar quais sio esses grandes emba= racos , esses obstaculos invenciveis que temos nds para empre=" hender, sem esperanga de sucesso , estabelecimentos industriais. Nio vemos o motivo por que niio poderemos fabricar eiscé- lentes panos de li, algodio, linho e séda; que profundos conhecimentos nos faltem para eistrahir, preparar e fundir o ferro. das riquissimas minas que temos; para fundar cordoarias dos militos -e variados gencros naturais de que abundamos ; para fabricar xapeus, lonas, brins; para preparar breu , alcatrio, e aproveitar infinitas gomas e rezinas, e emfim outros militos produtos de consumo geral e de facil manipu- lagio. g Mas quando nos faltem mcios ¢ Mestres; porque os nfo mandaremos vir dos estrangeiros? ; Nao praticio assim as mais cultas NagGis, aproveitando.se mutuamente das descu~ bertas umas das outras? Que haja escolha nos generos de manufaturas por onde principiemos , parece-nos conveniente, porque nfo julgamos igualmente facil e lucrativo comegar por trabalhos minuciosos e complicados , e por fabricar coisas que (1) A teoria tio gabada e to plausivel d’uma livre e reciproca circulucto de prodatos entre todas as Nacdis , parece-nos mito flosofica , mas tio inletiz na -aplicacio como o projeto da paz perpetua do filuntropo Saint Pierre. Seria preciso que se cistinguissem os Ciumes Nacionuis ; que todos os Governos seguissem uma marxa uniforme ; que adotzssem ama politica filantropica e cordial; ge quando veremos isto no Mundo? Deos ¢ sabe, E ( 34 ) sirvdo a um luxo eisquisito , e nao por trabalhos mais simples e faceis, e por fabricar coisas de um consumo mais universal. Mas a digressio tem sido longa, inda que nao destituida de interesse para o bem publico, ¢ € tempo de soldarmos o fio ao discutso, e tornar ao objeto principal. (1) Alem dos males ponderados que nos tem provindo do siste~ ma de trabalho por escravos , ga quem, senfo a ele, devem as “casas e fortunas do Brasil sua caducidade? ; Onde estio tantas familias , que neste paiz fizer3o servigus assinalados ao Estado , pelos quais merecério foros e grandes recompensas? Desapa- recérZo ¢ confundirao-se na poeira do esquecimento com as riquezas precarias de que dependia a conservagio de seu esplendor ; ¢ essas riquezas acabdrao, pela maior parte, por falta de escravos , que davao valor ds propriedades ; falta, que mil acidentes podiao ocasionar, e de milito dificil reparacao , pelo volumoso cabedal necessario para repovoar de numero suficiente de escravos grandes propriedades, e em tempos em que a circulagao de valores nao podia ser consideravel.:; Quem haveré meamente instruido nas coisas da Patria, que nao conhega a eisistencia do mal que deploramos ? ; Quem haverd tio pouco amante da sua descendencia, que nao deteste um sistema de trabalho , que faz to precaria ¢ tao falivel a sorte futura d’ela ? ¢E nao valer4 nada, para entrar taobem em linha de conta, oabastardamento total da bela raca d’homens Portuguezes , confundida com os imensos Africanos, cuja mistura com os primeiros é inevitavel ? ; E consentiremos nds que este magnie (1) Mereceremos desculpa ao Leitor subendo que esta opiniao contra a creacao de manufaturas atcalmente no Brasil é msito acreditada , e por isso pareceu-nos bom insistic sobre a materia, — (35) fico Imperio de tal sorte se inunde da raca d’eles, que com o rodear dos anos, venha o Brasil a confundir-se com a Africa? A Franca no maior entusiasmo e delirio da sua igualdade Republicana, recusou admitir a propagac3o dos Africanos cm seu seio; ends que trabalhemos para fundar n’estas deliciosas Regidis, tGo invejadas pelas outras Nacois, um Reino de Congo!!! Nao: os nossos Compatriotas nio serio de tal opinigo, Como ficis Vassalos do Soberano que adoramos,— devemos empregar todas as forcas para dar ao seu Trono Glorioso valentes Cidadios do nosso proprio sangue, daquele que recebemos dos famosos e imortais Lusitanos , que souberao derramalo nas quatro partes do Mundo em servigo do Rei ¢ da patria. (1) Sem dados statisticos autenticos sobre o numero dos escravos que possuimos, por essas mesmas informagGis par- ticulares que temos, e gue nos parecem diminutas , podemos asseverar que cle é j4 assds crescido para que nos ocupemos em procurar evitar uma indefinida introdugao d’eles, ¢ para gue principiemos com anticipagao a tomar medidas prepara- (1) Fortes creantur fortibus et bonis: Est in juvencis, est in equis patrum Virtus ; neo imbellem feroces Progenerant aquilae columbam. Hon. & Para que misturar ¢ confandir ragas? O Africano pdde ser tao homem de bem, como os Americanos, os Asisticos e Europeus, e muitos se conliecem eiscelentes, mas conserve-se cadaim na esfera que Ihe coube cm sorte; nem eistremar as cores altera em nada as ventajens politicas sociais, Se um cataclismo viesse perturbar subitamente o nosso Plancta, tndo se confuniiria, mas resia~ belecida a ordem, a andoriaha buscaria sua antiga morada , a pomba seu ninho , a aguia os altos roxedos solitarios, © mesmo passa na ordem moral. E2 (36 ) torias para cistinguir, um dia, até o nome de escravidao entre nds. (1) Esta reforma-, com o numero de escravos que’ jé temos, eos que devem ainda introduzir-se, talvez custe seculos de trabaiho e providencias ; mas nem por isso devemos desanimar , porque os individuos morrem, nfo as Nacdis; e nossos vin= doiras tem direito a esperar de nés um patrimonio melhorado. Eles nos cobririo de suas bengdis, e nds viviremos imortais em sua memoria. Este sentimento de amor pelos nossos vine doiros é sem duvida inspirado pelo mesmo Creador para confortar-nos € animar-nos nos trabalhos da vida, necessarios 4 prosperidade e felicidade do genero humano, quanto ele pode ser feliz n’este Planeta, onde sua MZo Omnipotente 0 com locou. Este‘sentimento anima o octogenario , quando transpore tandaese ds idades que ele nao ha-de conhecer, planta arvores cujos frutos no podem vir em seus dias. D’um lado seus Maiores, isto €, suas lembrangas, fazem-no tocar os seculos passados: d*outro lado, suas esperancas, isto é, seus filhos, © transportio aos seculos por vir. Na ordem fisica, os indivi- duos perecem; as especies so duradoiras. Na ordem social , as familias apresentfo o mesmo carater. : Os grandes Legisladores souberao estender suas vistas & remota posteridade ; as Nagdis cultas sempre a contemplio nas suas grandes emprezas, trabalhando com zelo e constancia para a futura grandeza e prosperidade nacionais. Assim o faz (1) Eistingnir aintrodacio de escraves Africanos nao é o grande ponto qua mais incomodon os Americanos do Norte, mas sim o abolir a escravidao dentro do paiz: mil plancs se apresentirao, e & notavel que a opiniao do celebre Jefferson era que se eisportassem os negtos para fora do territorio. Isto serve ao. nosso proposito. fs At MERCI Rm ta ata EN tet RAI a‘soberba.(1) Inglaterra , modelo de patriotismo’e dé politica: assim faremos nés taobcm , destinados visivelmente pela Pro- videncia a figurar entre os maiores Imperios da terra. §. 4° Do tempo que deve ainda durar a. introdugas dos Afticanos we nosso territoria » com que condiciis se. fara a abolicao, e qual serd sen resultado. Provato que o-sistema de trabalho por-escravos. nos nio- convem , seguc-se eisaminar quando, € como ‘se deve abolir. Fixar esta epoca nio é coisa facil, como dependa de miiitos dados, que nio esto ao alcance d’um simples particular, e seja negocio essencialmente ligado aos planos politicos Ministe- tiais , que nio ousamos perscrutar..O Soberano conhece mefhor que ninguem os interesses de sua poderosa: Monarquia ,. e no seu Paternal Disvelo devemos depositar todos. a mais ilimitada confianga, como é mitito obrigagio nossa; . Seja-nos. porem permitido.aventurar-nossas ideas , que nfo passio de hipoteses ;. que imagina quem discorre. . E inquestionavel que sendo a nossa populacdo: branca inda- mflito-diminata, e estando. todo nosso trabalho, em getal, confiado a bragos Africanos, se nos faltasse subitamente o recrutamento d’eles, teriamos de sofrer uma-desordem incale __ (t) Quando damos 4 Inglaterra o epiteto de soberba , qneremos designar aquele-orgullto nacional. sem o qual nio ha que esporar gtandes coisas, Toma- ramos nds uma grande ddése aos Portuguezes, e¢ que eles se considerassem a primeira Nacio do Mundo, teabalhando para mereccrem um tal titulo, ( 38 ) culivel. Deshabituar os homens de coisas geralmente adotadas, e em que eles axZo , ou imaginao axar seu interesse , ¢ empreza dificilima , assim como é arduo, ¢ mesmo perigoso, pretender dar nova direcao 4 industria e trabalhos d’um povo intciro. Todas as medidas rapidas e diretas so desaconselhadas pela Politica ; mostrar aos homens o interesse, ¢ aplanar os caminhos para xegarem aele, parece ser a mola mestra da operacao, Quando o Congresso Americano, nadando em filantropia, quiz abolir por Lei geral a introdugdo dos Africanos. em todo © seu territorio, os Estados do Sul, que se havido dado 4 cuitura dos generos xamados Coloniais, repugndrao nervosa« mente subscrever 4 tal medida, ¢ propuserio e conseguirao um praso de vinte anos. E” provavel que esta suplica fosse calculada sobre a situacio politica dos mesmos Estados, quetemos dizer, que eles tivessem em vista aproveitar as despezas ja avangadas com a cultura, a dificuldade de axac prontamente trabalhadores livres pata substituir aos escravos, e de dar nova diregio & sua industria e trabalhos subitamente. Ora, sabe todo mundo que aquele paiz se axava em Cirs cunstancias mijito mais favoraveis que o Brasil: Entusiasmo geral por ideias liberais ¢ filantropicas ; grande diferenga no metodo de colonisagio; maior populagio branca relativa ; mifito maior facilidade em adquirir povoadores estrangeiros pela natureza de sua Constituicao; emfim Colonia Ingleza , isto é, uma grande povoacio de Inglezes , no degenerados pela diferenca do clima, mas com o mesmo temperamento e j energia , e participando do avancgamento politico da Metropole Europeia. Se pois, apesar de tantas ventajens , no ousou o filan- tropo Governo Americano abolir subitamente a introdugio dos ine eee arenas ( 39) bragos Africans nas Provincias dadas 4 cultura ‘dos generos Coloniais, antes concedeu o longo praso de vinte anos; é manifesto que nfo podemos nés, menos avancados em conhe« cimentos ; sem‘esperanga bem fundada de podermos adquirir uma rapida populagao branca, sem outra nenhuma industria senio a cultura dos mesmos generos Coloniais , abandonar. sue bitamente , d’um dia para outro, o sistema geralmente esta- belecido do trabalho por escravos , sem nos eispormos a grandes embaracos e desordem universal. De certo, esse ramo unico de nossa atual industria retrogradaria , e a Nacao inteira, eo Estado mesmo se ressentirifo desse atrasamenito ; ninguem poderia calcular como. nos sairiamos do embaracgo, nem se poderiamos jamais recobrar o mesmo grau de superioridade gue hoje temos no mercado dos generos Coloniais ; principal~ mente quando outras Nagdis industriosas , come a Franca, ¢€ a mesma Inglaterra , concorrem- comnosco,.€ preparao novos projetos de grande cultura, Convindo pois na necessidade de mudar o metodo de trabalho por escfavos,. parece-nos todavia indispensavel que se. faca a mudanga de maneira que a nossa industria atual, se no aumentar, ao menos nao retrograde ; que haja tempo suficiente para que os proprietarios possio cobrir-se das despezas avangadas, € para bnscarem novos trabalhadores , ou darem nova direcio a scus capitais, ¢ bem assim para que as providencias auciliares que se esperio’do Governo possio produzir o fruto desejado. (1): (t) Parece-nos muito provavel que com a nova Constituicio liberal no Brasil , 4 populaco branca aumentar-so-ha rapidamente com a emigracio dos Europeus; entio poderese-ha acclerar mais a aboliggo da introducio dos Africanoy, ( 49) Seja -porem qual for o praso que se fixe, findo o qual - cessaraé a introdu¢Zo das escravos, haverd sempre medidas importantes que tomar, E’ provavel que, durante ele, o pedido de escravos aurmente consideravelmente, e que o amor do ganho estimule os especuladores d’este genero de comercia a introduzir tio grande numero d’eles, que o mal que receamos d’uma ciscessiva populagao escrava, ¢ tanto. mais perigosa quanto introduzida como d’aluvifo, haja de verificar-se. Conviria por tanto fixar o numero de individuos que fosse permitido introduzir cad’ano, calculado de modo que , findo o praso , nos nao axassemos embaragados com uma tal populagio milito desproporcionada, : Supondo v. gr. que se fixava o praso de 20 anos, 40 admitiriamos-em cadaiim senao de 25 a 30 mil escravos; desta sorte, findo o praso, teriamos, dando desconto 4 mortalidade, entre quatracentas e quinhentos mil sobre.es-que ja temos; numero, que sendo na verdade mii crescido, é ainda supor tavel vista a grande eistensio do nosso territoric. (1) Seria porem necessario , para atenuar o mal que -nos ameaca, fazer dos individuos cad’ano introduzidos uma judiciasa distribuicZo pelas diferentes Capitanias 4 propor¢io de sua cistensdo , ¢ trabalho de seus habitantes , vedando absolutamente a acumulagio d’elles nas Vilas e Cidades mari~ timas, O motive d’esta providencia aparece por si mesmo. () O Bardo d'Hambolde que di aos Estados-Unidos um mithio somente de eseravos, que diz ser o 6." da populacio livre, assim mesmo ji considera embaracados os mesmos Estados. Essad politique sur le Royaume de la Nonpelle Espagne, Livte1.° Chap. t. pag, 221 ( 41 ) Parecesnos que nesta distribuicio deveria ser menos aquie nhoada quanto fosse possivel a Capitania Geral do Rio Grande do Sul. A natureza do seu clima, o genero de industria de seus habitantes , que consiste em crear o gado grosso cuja carne eisportio, ¢ em cultivar os Cereais, estao clamando que cla seja a primeira vestida 4 Europeia; que para ella se mandem Colonias de trabalhadores Europeus ; e que n’cla se adote a, marxa eco= nomica que seguem.as NagGis cultas, Se a imaginagio nos nao ilude , temos esperanga que a dita Capitania, protejida, se elevaré a um ponto de prosperidade invejado pelas outras. Os que nos atroao as orelhas com planos para aumento da ‘nossa agricultura , e enganados talvez com o aparato de grande numero de embarcag6is que vem buscar nosso algzdio c outras | materias brutas, assentio que marxamos para uma solida prtosperidade , levario miito a mal esta restricfo no numero dos escravos importados cad’ano , como um meio de restrinjir taobem o aumento da cultura que desejio aumentada. A reposta esté dada nos principios que temos desenvolvido até aqui. Separai (diriamos nds) do progresso da yossa agri. cultura (tal qual ela é) os males horriveis do sistema de tra~ ‘balho por escravos , ¢ nds vos daremos uma liberdade indefinida de aumentala. Mas sendo, como sao, duas coisas inseparaveis , é um dever imperioso da Politica proscrever esse sistema perigoso, € ocupar-se em buscar os meios adequades para xegar a uma solida prosperidade, A forca do mal é tao grande, anossos olhos, que parece absorver todas as outras conside= zagdis de interesses ¢ ventajens secundarios, : E porque temos visto tanta gente, mesmo da classe -instruida , eistasiar-se com o progresso da nossa cultura atual, “somos tentados a fazer sobre ela algutnas observagois. F ( 42) Sabemos todos que o primeiro ¢ principal objeto da agri- cultura deve ser a subsistencia nacional , e que nenhuma Na= sao, podendo-a tirar do seu proprio territorio, deve confiala aos acasos do comercio cisterior : Sabemos iguaimente que 0 assucar, café, algodao etc. podem produzir dinheiro, mas nao servem de alimento , € que acobicga daquele tem de tal modo ganhado os agricultores do Brasil, que ocupados unicae mente na cultura dos generos comerciais , abandonio inteira« “mente a dos‘viveres necessarios 4 vida ; donde resulta que a maior parte da nossa subsistencia, em pio, nos venha do estrangeiro, ¢ seja por isso eistremamente precaria. A man dioca mesmo, que é o pio da plebe ¢ da escravatura , nao é cultivada pelos grandes proprietarios, ¢ por isso qualquer acidente na regularidade das Estagdis produz uma fome devastadora , de que tem sido vitima frequentes vezes a bela Provincia Paranambucana. Perguntariamos nés agora, se esta direcio da nossa agri- cultura para os generos comerciais ilimitada merece uma protecio absoluta -e irrefletida. Péde 0 povo sofrer privagdis em todo genero, mas sem alimento nio se vive, ¢ cada indi+ viduo d'uma Nacao ha-de por forca ter seu quinhdo de alimento, ¢ o Estado deve necessariamente segurar-lho. ; Nao seria pois conveniente quartar essa imoderada tendencia para a agricultura, quasi eisclusiva, dos generos de comercio eisterno, ¢ dirijila para a cultura dos cereais ¢ mesmo dos legumes, que fazem por toda parte a base da subsisrencia da grande maioridade do povo , segurando-a no nosso territcrio , e derramando sobre ele as somas imensas que nos leviio ‘estrangeiros ? Milhdis de bragos ocupados com cntusiasmo em lavrar a terra para alimentarem o luxo eisquisito ¢ as ( 43) manufaturas da Europa , pagando ao estrangeiro o pio de que vivem , ¢ cispostos a morrerem de fome , é das maiores cistrae vagancias que pode conccber 0 cspirito humano. A leitura da interessante Obra do Professor Malthus desenganara os incre= dulos na materia. (1) Sabemos taobem que o amor do ganho tem arrastado um povo imenso «cultura do algodio. ; Mas como se faz cla? Uma caterva de vagabundos, mititas vezes sem bastantes. bracos para aproveitarem_ as colheitas que prepardo ,: tem feito uma calamitosa irrucdo contra matas riquissimas , e as tem devastado, para fazerem rogados ,que abandoniio depois das, primeiras colheitas. Madciras de construgio, de marceneria » de tinturaria preciosas, como a do Péu Brasil, tem sido der ribadas e¢ condenadas ao fogo pelas barbaras mos da populaga: em uma imensa eistensao, ¢ em todas as Capitanias , princi~ palmente nas de Paranambuco e Paraiba do Norte. Sao raros os cultivadores que escolhem terreno, n’ele se fixio , ¢ pro. curio tirar d’ele por meio do estudo e da eisperiencia o partida’ possivel; os mcsmos que obtem Sesmarias, em quanto ha matas que derribar, fazem todos os anos novos rogados, Por: tal metodo jamais a cultura se aperfeigoard , porque o homem: nio emprega diligencia alguma, e tudo é obra da natureza; € em poucos anos o paiz. apresentard um aspeto cadaverico, s¢ nos podemos cisplicar assim , como ja acontece em algumas Capitanias ; nfo teremos. dado um sé passo para a perfei¢io da agricultura ; nem teremos créado aquela porcao de povo, que (1) da Essay on the principle of population, Obra cheia de preciosas discussdis ¢ de samo trabalho , mas com principios erroneos sobre a formacao da riqueza, ¢ contrarios 4 doutrina de Smith , que dea neste ® poate graudee Passos. Fa ( 44 ) ligado 4 terra pelo amor do trabalho e do suér n’ela detrac’ mado, forma por toda a Europa a populacio mais solida e vigorosa. ; E esta agricultura , (se tal nome merece) grosseira , vagabunda e devastadora, serd por ventura a que nos convem , € a que devemos protejer tao absoluta ¢ indistintamente ? Ninguem o diré. Ora, a respeito da agricultura (figura.se-nos que dirio os _ taciocinadores) embora dispensaremos os bracos dos Africanos, porem a respeito das minas, forca é que se abandoncm de todo. Nio pensamos d’este modo; somos de acdrdo, com os homens intendidos na materia, que uma reforma geral deve empregar novo metodo de mineragio dirijido por miss habeis, sem o que tal ramo d’industria, inteiramente dependente do acaso, e sem oaucilio das infinitas invengdis que facilitio o trabalho , e simplificao as operagdis , ser sempre ruinoso para quem o emprehender. Feita esta reforma, nao nos inquietaria o receio de falta de bragos, porque nenhuma duvida hd cm empregarmos os Eu~ ropeus n’este genero de trabalho ja cultivado e aperfeicoado na Europa. Nao vemos taobem a rasfo por que nao tiraremos grande partido dos bracos. dos nossos Indigenas , que nao sio menos robustos que os Mexicanos, sobre os quais pésa todo 0 trabalho da mineragao. Sao bem conhecidos os n’ele empre~ gados com o nome de Feuateros: os quais , segundo afirma Mr. de Humboldt, sao tao robustos que aguentdo, cinco, stis horas a fio, 0 péso de 226 a 350livras; faro que desmente a opinigo d’alguns Escritores que declamio sobre a degeneragio da nossa Especie na Zona torsida, ea incapacidade dos Indi- genas para trabalhos penosos. Alem disto imensos anos ainda depois de cessar a introdugio dos Afticanos durard a raga (45) trioula d’eles, igualmente robusta, ¢ ja afeita ao trabalho; 0 aso esta sabela conservar ¢ adiantar. Nem somos da opiniZo de militos que pensio que o ter ritorio da riquissima Capitania das Minas seria melhor apro= yeitado com.a agricultura , levando a eisageragio até o ponto: de julgarem perniciosa a eistragio do oiro, Esta opiniZo xeira ainda a encanecida doutrina dos Economistas , que nia concee bifio riqueza féra dos produtos, da agricultura ; opinido que, depois de Smith , seria-ociosidade refutar. - O-interesse. da eistragZo- dos. metais é-reconhecido univer- salmente ; mas é desgraga que os homens correndo cegamente apds dos metais preciosos , desprezem a.eistracgio dos: outros. nio menos interessantes, ¢ alguns até indispensaveis aos usos da vida, como. o ferro; ¢- que seja preciso que Gs nossos Antipodas no-lo-venhao trazer para ecistrahirmos o mesmo oiro, tendo-o nds em quantidade prodigiosa. até junto 4s minas d’aquele metal precioso. - Alem disto a lavra dos metais nao eisclue a agricultura, e © Mexico nos oferece d’isto uma prova incontrastavel. Ali os: Mineiros:sio por toda parte acompanhados pelos Agricultores , porque estes axfo consumidores certos e numerosos na gente imensa empregada na. mineracio. Enganar-se-ha grosseirae. mente quem pensar que as minas do Mexico so as fontes principais de sua riqueza, porque realinente ele tem uma. agricultura imensa ,. que obteve um melhoramento sensivel dos fins do.scculo passado para cé, a qual nfo é fundada em. producdis a que-o luxo Europeu tem assinado um valor arbi- trario e variavel, mas sim na cultura dos. cereais e d’outros gencros que servem para.a subsistencia. © mesmo-se. principia. a praticar na Capitania de Minas, ¢ a sua agricultura. marxa ( 46 ) progressivamente , importando ja nesta Capital nao sé materias ptimeiras p2ra o comercio, senio militos e variados generos de subsistencia. D’onde se infere que nao sio as minas que cmpobrecem 0, paiz, mas a falta de merodo na lavra delas. O que nos aflije € ver que nem acisperiencia da desgraga universal, nem os clamores dos homens intruidos tenhZo podido desenganar os Mineiros, ¢ fazer-Ihes sentir que sendo a mineragio uma arte’ e complicada , sao indispensaveis para cla conhecimentos teoricos, (1) E este € 0 caso em que uma escola de mineraciio n’aquela Capitania seria muito proveitosa, e mereccria o eterno reconhecimento de seus habitantes. Os Mexicanos conhecérao. esta ventajem. (2) (t) D’esta obstinacio se queixa em uma Memoria apresentada a Academia 0 B. d'Fschwege , que acompankou ao nosso ilustre Sabio o Sr. Desembargadar Josq Bonifacio d'Andrade quando veio crear a Cadeira de BMetalurgica em Coimbra y “ecom ele estudou. {2) Depois de cscrita esta Memoria tivemos ocasio de viajar pelo centro nurifero de Minas Gerais nossa Patria que deisaramos bavia 55 anos, ¢ jalgamos que nio desagradaré a qaem a nio conhece um quadro breve do que aximosy Tado ali ¢ admiravel : o clima delicioso, o terreno Jertilissimo e capaz de todaa as prodacdis das oatras partes do mundo: a riqueza em todo genero de metais imensa, o ferro é o dominaute: ha muitas e varias pedras preciosas até 0 diamante, o qaal se axa em muitos ontros lugares além do Strro do Frio. Ocorre 20 observador o paralelo entre este psiz ¢ 0 Mexico.¢ Perd ; mestes porem a WNatereza trabalhon mais em grande ; tudo ali é colossal e inspira uma admiracio respeitosa, Nas Minas Gerais a0 contrario a Natureza é¢ amena e risonka; 2 a riquera dos 3 Reinos mais variada; niio ha essas montanhas qae parecem conspiradas contra o Ceo, vomitando torrentes de fogo ¢ fumo na regido das mavens , nfo ha terremotos nom memoria deles e nem vestigios recentes. A sgricaltura tem tide um aumento de espantar, ¢ duas mil bites muares 5 ao menos, andZo empregadas no comercio do Kio de Janeiro com o interior. Algolio em plumae tecido, o calé, asola, o tabaco, as carnes de porco & ( 47 ) Remataremos a materia dos resultados da abolicao da intro= dugio dos Africanos observando que, com providencias ade- butros viveres, sio os principuis generos que remetem as Minas em trdca dos generos Europeus que recebem do Rio; o gado vacum é hoje taobem am dos generos mais lucrosos , criado nas belas e imensas campinas de S. Joio d'EiNei ¢ visinhancas. Dionde resulta que as Minas recebem jé da Cypital um saldo yolumoso em numerario. A industria principia , mas Tuta com as dificuldades inseparaveis de um pais falto de capitais e¢ que tudo recebe do estrangeito, Consomem-se todavia muitos tecidos d'ulgoddo como fastdis, metins, gangns , toalhas de meza, panos de la, xapeos , obra de fabricas Minviras, as quais se servem de muitas tintas minerais e vegetais desconticcidas na Europa. Ha 5 ou 6 Fabricas de ferro, umas que trabalho ja, outras que principiio; a mais famosa é a que fundou junto ao Sabard Mr, de Monlevad, habil quimico, estimado dos bubitantes por sua coniduta e pela generosa Sranqueza com que comunica suas idejas 0s que desejao instruir-sc, como nos informou, entre outros, o Sr. Manuel José Pires du Silva Pontes, que std muito rico em conhecimentos mincralogicos e metalurgicos. . Quanto 4 eistracio do oiro, é este um dos ramos que esto em decadencia, ea falta de bracus ¢ a principal causa, O alto prego a que tem subido os escravos , a mortalidade deles por erros de higiene, 0 pouco cuidado da propagacio domestica deles ¢ da mocidade crioula , ¢ emfim a divisio das familias, preduzem esse grande mal. Faltiio tiobem aos Minciros os conbecimentos necessarios, inda que eles se supoem assis instruidos, Nao vimos trabalhos que anunciassem ideius de Mecanica e Hidraulica que tanto os simplificio e «breviio 3 a0 contrario, aparecendo Gificuldades ou para acompanbar 03 veeiros ¢ fildis , ou para sustentar as terras cajdicas, ou para esgotar as aguas quando si Javras, De Metalurgica nfio ha nem as ideiss mais trivi abundantes , abandonio-se ricas iss Os Mineiros no conhecem genio 0 oiro qhe veem , ¢ nem ao menos empregio o Mercurio, de maneira que perdem uma incrivel riqueza que vio veem. A mesma apuragio e lavagem 6¢ feita pelo asetodlo o mais grosseiro. Na rica lava do Sr. Padre Antonio Pereira de Freitas, nosso amigo, e um dos mais ricos Mineiros talvez de toda a Comarca de Sabard, um vizinho vive somente de aproveitar as arcias que o dito Gr. abandona depois de bem lavadas ¢ apuradas, Seria nossa opiniao que na distribuicio que propomos dos escravos introduzidos ‘de novo pelas diferentes Provincias, a de Minas fosse a mais bem aquinhoada, para ficar a agriculiura para os noyos trabalhadores Europcus que procurarem o Brasil- ( 48 ) quadas, a diminuicio, e a falta mesmo dcles, poderia pre< duzir assinaladas ventajens para a nossa industria, ¢ isto por uma saudavel reacdo do genio industrioso da Nagio Portus gueza, : . . Quando uma Nacio tem capitais e xega a saborear os beneficios da industria e do comercio, o amor do ganho faz prodigios: os obstaculos ¢ dificuidades se arenuio , os beneficios se eisagerdo , e como torrente que represada, filtra , rompe ¢ abate as barrciras , assim a industria animada ¢ inquieta corre todo o mundo, vai buscar interesses por toda parte, ¢ toma infinitas direcdis Iucrativas, Daqui nasce que os mesmos impostos, (que J. B, Say diz serem sempre um mal) quando sio bem escolhidos e¢ assentados em um povo industrioso, em vez de paralisar , promovem a industria, em rasio do esforco que fazem os contribuintes para pagalos sem incomodo, Assim vemos tfobem que onde a vida se ganha facilmente, ahi esté o Reino da Priguica. Ora, cessando a facilidade eistrema que ha entre nés de cultivar os generos comerciais, porque nada mais é necessario que comprar negros , abater matos, queimar, plantar e colher, provavelmente os Capitalistas procurarizo nové emprego a seus fundos, e a industria ganharia muito; e nés ja vimos que esta nova dire¢ao seria d’um proveito mais solido e mais conveniente 4 prosperidade nacional , ¢ nao ha para que repetir demonstracGis. Acrescentaremos somente que a creacgao d’uma industria nacional nos parece o unico ¢ solide meio de ligar a indispen~ savel comunicagio entre as diferentes capitanias. ; Onde se viu jamais um corpo social sem um movimento e jogo harmonico entre todas as suas partes? As. Provincias d’am (49 ) Imperio reunidas fazem a forga d’ele ; entretanto vemos que as do Brasil sem mutuas relacdis sociais , trabalhando cadauma na agticultura do seu territorio, nao conhecem outros mere cados , nem outros consumidores senio os da Europa. O comercio de Cabotagem , que foi sempre a melhor escola para crear uma grande Marinha, é quasi nenhum, e apenas a populagao crescente da Capital, com a presenca da Corte, atrahe para o seu porto dos circumvizinhos as coisas neces= sarias 4 vida, Nao aconteceria porem assim se em cadauma das Capitanias se creassem manufaturas diferentes com judi- ciosa escolha, que alimentassem uma troca reciproca, ja que quasi todas possuem os mesmos produtos agricolas. Assim as fabricas dalgodoaria pertenceriio a Paranambuco; as dos diferentes linhos para fornecerem cordas ¢ velame 4 Marinha , se estabelecerifo ria Capitania Geral de Portalegre; o Parad daria em troca seu caciu, seu cstimadissimo café da Vigia, seus eiscelentes azcites de tartaruga ¢ d’andiroba etc. etc., € este mutue comercio interno, absolutamente livre e favore= cido, daria uma nova impulsio e vida ao nosso vastissimo Continentc, ¢ nds deixariamos de ser os Colonos da Europa (1). (1) Os imensos e incriveis recursos pecuniarios que apresenton a soberba Inglaterra durante arevolucio Franceza , vo passa que as mais vastas e poderosas Monarquias Continentais se axavdo esgotadas, desenganirdo aos Soberanos d'elas que nao se podem sustentar guerras sem muitos teares , porque é com cles que o Povo, xamulo Afercador, salvon a independencia da Europa, Hoje que por toda parte a industria tem recebido urua cistragidinaria impulsio progressiva , & indispeasavel que a Europa procure novos mercados. A prevista Inglaterra os abordar 5 busca e prepara por toda a parte onde ha homens e seus navios pack as ontras N. vio atraz, O Canadi, os Estados-Unidos mesmo, as Antillas , a America [espanhola de ambos os mares, 0 Brasil, a Asia, a Aftica , serdo os teatros onde se debaterd a indusisia Enropeia para obter preferencias. G Duasil G ( 50) a 9 9 9 SSS OOOO oS §. 5.° Por que waeios se pederé manter 0 xosso trabalbs agricola indepena dente das bragos dos escravss Africanss. Somes segados 4 grande dificuldade , que é axar bracos para substituir aos dos Africanos. Nos presentimos que este artigo serd o primeiro buscado , e o primeiro lido pelos curios sos. « Vejamos se o autor sabe tac bem edificar como destruir , » seré a linguagem comum. Os proprictarios acostumados ao recrutamento facil e pronto dos escravos no grande viveiro d’Africa, quererZo uma subsiitui¢io de trabalhadores livres , igualmente facil e pronta. Todos os meios indicados que nio enxerem estas duas condigdis sera julgados quimericos , € 0 autor d’eles tratado despiedadamente de entusiasta e projetista temerario, Assim pensara o comum dos Leitores, nao os homens instruidos, Primeiramente , no se trata aqui d’um projeto que acone selhe ; trata.se d’um mal que é preciso evitar: Pede o bem do Estado que cesse a introducio dos escravos Africanos, € € que eferece uma Mina de mais variada riqueza, e mais facil de lavrar, pela sun Xeniajosa posicdo geosrafica , mansid3o de suas costas, seguranca de seus portos , stlubridede de sea clima, ¢ a tranquilidade politica de que gosa e gosird. As is qze cenhecem seas interesses , ambicionio nossa alianca; e admira que a Fronca, a quem tantos moti s politicos forc#o a unir-se estreitamente coms noseo, setenha disso descuidado. Entretanto € preciso que facamos forca para repelis o jogo indasirial que nos prepardo as Nacdis cultes, e saibamos tirar ae gl . . A ‘ partido da ccncarrencia delas no nosso mercado, até que nossa industria nos faca independentes, (51) procurfo-se os meios de remediar a falta que este sucesso deve ocasionar : esta considerag¢io somente altera essencialmeite o estado da questio. Nao tendo outros meios de que nos ajudemos seniio os que esto ao alcance da humanidade’, pede a rasio que nos aco~ modemos com eles, e que nao esperemos.milagres nas obras dos homens. Bem pelo contrario, qual é a obra d’cles em que nao aparega o ferréte da nossa fragilidade ?, De certo, nfo temos um viveiro d’homens livres d’onde mandemos buscar a troco de barris d’agua ardente , pacotes de tabaco , carapugas encarnadas e¢ outros artigos d’esta qua~ lidade, os trabalhadores de que precisamos; é necegsario atra- hilos pelos meios que fazem obrar o homem livre, que de necessidade hao-de ser lentos e tardios, mas por isso mesmo mais seguros e duradoiros , como nunca serio os que forem filhos da violencia ¢ da forga. A eisperiencia, nossa melhor mestra em arranjamentos politicos, ja nos tem posto de prevencio bem fundada contra grandes prosperidades feitas repentinamente , € contra os projetistas que as inculcio e afiancio, Demolir um edificio é facil, recoristruilo, dificil : desmoralisar uma Nagiio, pronto; levantar os costumes descai+ dos. tardio : a descida para o mal suave, a subida para o bem, agra e escabrosa ; 0 éardiora sunt remedia quam mala do grande Tacito, é uma eterna verdade em Politica. E nem nos amesquinhemos pelos embaragos cm que nos axamos, atribuindo-os somente 4 falta de .conhecimentos , como é mania militoordinaria, Os Anglo-Americanos trabae lhérZo miflito n’esta mesma materia, ¢ aparecério planos de toda estéfa. ; E nfo vimos nés as Nagdis que supomos mais cultas, 4s cabecadas, ¢ engatinhando como criangas., scm G2 (52) saberem de que modo organisariio um Governo? Tudo quanto pessuem hoje de melhor as que tanto gabio suas instituigdis , compriricno carissime, e devemno 4 mio do tempo e da eisperiencia , ¢ nao a teorias. Suposhamos que nossa posicio era ao principio embara+ gada, (o que nao esperamos que acontega) os embaragos nao podem ser duraveis, nem terZo proporgio0 nenhuma com a habilidade , genio creador , e constancia da Nagao Portugueza principalmenie quando ela tem para desenvolver sua industria um tio vasto, tao fertil e tao rico territorio. Os seus fastos espantosos conservao a memoria das virtudes heroicas que the atribuimos, nos quais péde sem escrupulo, nem pendao de vangloria, rever-se e¢ pavoncar-sc. Busquemos de coracao .os mcios de nos tirarmos do passo dificil em que nos axamos, péde-se afiancar que nio so sairemos com a empreza, senao que os resultados irao mitito além das esperangas. Com este longo preparatorio, tendente a atenuar a sofregui« dio dos que pretenderem uma nova ordem de coisas d’um dia para cutro , como se mudéo rapidamente as vistas d’um teatro, passemos a cisaminar por que meios poderemos manter o nosso trabalho agricola independente do recrutamento dos A fricanos. Lembrio-nes quatro: 1° poupar os escravos eisistentes, ¢ promover a propagag¢io entre eles ; 2.° inspirar o amor do trabalho nos homens livres da classe do povo de todas as cores , e forcalos mesmo a isso ; 3-° empregar os povos Indigenas, tanto os que ja estdo avilados , como os que se puderem atrahir ; 4° procurar trabalhadores Europcus. Cadaum d’estes artigos daria matcria para longas paginas , € seria mesmo provcitoso desenyolycla; mas nio o permite a estreiteza do discurso,’ € por tanto contentar-nos-hemos com propor idcias mijito gerais. §. 62 Eisposicéo sumavia de cadaum dos metos inditados. Artico 1.° P Oupar os eseravos , e. promover entre eles 0 casamento. Nio é.dificil de conceber quanto ganharifio os Senhores se os escravos xegassem vigorosos ao termo da vida que vivemos hoje comumente. Vinte anos de bom trabalho que désse cadaum, avyultaria muito. Mas n’esta materia nio é s6-o interesse que nds devemos consultar, porque a huma- nidade ¢ a Religido nos impéem rigorosa obrigacdo de tratay bem nossos similfiantes: os escravos sio homens, ¢ filhos de Creador de tudo. A perda anual d’eles é calculada nas Antilhas, e mesmo no Continente, a 6 e 7 por cento; perda enorme, e.que uma severa Policia poderia diminuir mfiro, principalmente em paizes onde nao ha molestias endemicas. Assim mesmo, a populacZo escrava durard militos anos depois da aboli¢ao toral dela. Para isto porem seria preciso tomar medidas ajustadas © severas, . - O primeiro objeto digno da mais escrupulosa vigilancia seria o tratamento dus recem.xegados d’Aftica, desembar- cando-os para Lazaretos preparadas , vigiados ¢ administrados por Professores habeis ¢ zclosos, Conservar os doentes a bordo € condenalos 4 morte certa, como deve ter mostrado a ( 54) cisperiencia, Mas neste genero , pela sua importancia , seria preciso que a Policia nada deixasse ao interesse particular sémente, antes tudo vigiasse e resistasse. Toda despeza para um fim tio sagrado é uma divida‘rigorosa ," mas é preciso que ela nao seja distrahida do seu verdadciro destino , alias tais estabelecimentos degenerio em méros beneficios para os Em. pregados. ;E que meihores proporgdis se podem descobrit do que as do porto desta scherba Capital , todo semeado de Mhotas , a boa distancia umas das outras, ¢ cobertas de ver= dura? O que sechama aqui Lazareto nao passa d’um mero Resisto de entrada, e em eistremo dispendioso: para, beneficio de particulares. Com todas as forcas do nosso coragio xamamos a atengio do Governo para regular a policia do transporte dos Affticanos e sua introdugdo em nossos portos. Passando os escravos ds mos dos particulares, novos cuidados se apresentio. E’ necessario saber graduar-lhes os trabalhos em quanto no se habitufio, e nunca obrigalos aos que sio superiores 4 forca comum dos homens; nutrilos e vestilos bem, ‘e tratalos em suas infermidades, e vigiar que se nao deem 4 libertinagem e as bebidas espirituosas, Preferimes o trabalho por taxa ou tarefa, O escravo a quem se marca o seu trabalho diario, gosa d’uma especie de liberdade , ¢ anima-se com a esperanga de ter, por seu, o tempo que lhe sobra, ¢ por isso trabalha com desabafo ¢ mais de vontade, com tanto que a tarefa seja arrasoada. Esta éa pratica geral nas Colonias estrangeiras , confirmada pela eispe~ Tiencia. O alimento deve ser suculento ; ¢ provdo melhor os legu- mes, intermeados com a carne. A stca preparada no Sul é eiscelenie, ¢ val muito mais que a do Norte em salmoira. (55) Em falta’ de vinho, € indispensavel uma ragio “moderada @aguardente de cana. . Deve-se proscrever, como ruinosa e sujeita a pessimas consequencias, a pratica de deixarem os Senhores aos escravos ocuidado de se alimentarem e vestirem, dando-lhes para isso um dia livre na semana ; porque em uns a priguiga, em outros ainhabilidade, e na maior parte a libertinagem, so causa que elles no cultivem os viveres ,’ e roubem o que podem aos vizinhos, e mal nutridos sucumbao ao trabalho. E tal é a desgraga , que apesar d’estes inconvenientes é a pratica seguida por toda parte com mili raras eiscecdis. O vestido deve ser de lf ou algodfio apesar do calor do clima. Os escravos trabalhdo quasi nus, mas quando é preciso abrigaremese , Convem que a sua roupa seja capaz d’isso. Os Inglezes distribuem camisas de flanela 4s Tropas mandadas para os paizes quentes da Asia, Africa e America. Para os doentes sao precisas casas proprias e com as como- didades necessarias , servidas por Professores e gente caridosa. Toda despeza neste artigo ¢ uma bem entendida economia ; nem 0 triste salario do Medico, ¢ o prego das. drogas da Botica , podem por-se em balanga com a vida do homem e com os intercsses que d’ela resultio, Os Colonos Francezes sao dignos de imitar-se n’este artigo. O interesse particular, ¢ em mitita gente a caridade Christa , ditario arbitrios que nao lembrao a quem discorre ho gabinete ; porem, em todo caso, scria indispensavel que uma severa Policia sobreroldasse n’esta materia para remediar os descuidos da ignorancia e¢ deleixo, ¢ os desvios da ma fé. Quanto & propagagaa dos escraves. O casamento é indispen~ savel , porque a libertinagem impede a propagacio, acarreta (56) infermidades, embaraga-a boa disciplina, e produz outras militas consequencias fuaestas. Comete-se. por toda parte o erro de nfo ter nas fabricas de escravos um numero propor= cionado de escravas ; porque clas sio necessarias para o tratae mento dos homens, educacao das criangas, cuidado dos velhos: e servico dos hospitais, ; E’ na verdade cegueira deploravel , que podendo os proprietarios crear-se uma grande e bela: populacgio crioula, promovendo a propagacio entre seus escravos, nao s6 0 nao facfo, sendo a embaracem!! Nas Colonias estrangeiras vimos nds que os proprietarios conhecem perfeitamente n’esta parte seus intercsses, mas desgracada~ mente uma desmedida ambigZo dos interesses imediatos ¢ prontes os céga , € niio tomo por isso medidas solidas ¢ du« radoiras, Nao ha desgragadamente ¢ o necessario cnidado na educagio da mocidade criovla, que, entre nés., até parece considerada populacfo mais de luxo que de trabalho. (1) Uma grande parte morre no bergo, e€ outra fica estropiada por efeito de molestias mal curadas, D’esta sorte perde-se uma ciscelente raga de trabalhadores, pois sabemos que os crioulos sio robustos , bem constituidos e até habilidosos. ; Qual deve ser a sorte de criangas que ainda na mais tenra infancia sio conduzidas pelas mais ao lugar onde trabalhdo, ¢ ahi cispostas ao rigor do tempo, ou ficio abandonadas nas Cabanas até 0 regresso d’elas ? Isto demanda uma severa providencia. Ou as riais devem ser dispensadas d’um trabalho longinquo, ou deve haver um numero de escravas ocupadas do cuidado das (1) Grande numero de crioulos e crigulas entullido as casas a titulo de Giindos e Mocambas ao modo Asiatico. (37) ceriangas. Seria miito util organisar um regulamenio ‘sobre “esta importante materia. (4) Antico 2° Suspirar o amor do trabalho aos homens livres -da classe do povo de todas as coves. O maldito sistema -de trabalho por escravos, alem d’outros males. fez-nos 0 grandissimo de infamar de tal sorte o tra~ ‘balho agricola, que os homiens livres da mais baixa classe antes querem morrer de fome , e-entulhar as Vilas e¢ Cidades ‘na mendicidade e na miseria, do que receberem um pio hone rado, ganhado por seus bracos. Familias infinitas de brancos ¢ pardos veget%o no interior das casas em ociosidade, miseria ‘¢ mesmo libertinagem ; ¢ por nenhum partido se sujeitio 20 servigo, mesmo domestico, de familias ricas -e honradas , como na Europa. O sev sumo bem é possuirem um escravo para o servico de porta fora, ¢ uma escrava para o domestico ; do trabalho para ganhar o pao nao se cura ; em uma palavra aociosidade é no Brasil nobreza, ca Priguiga aqui fundou ‘seu trono. ¢ Qual seré o remedio a tao grande mal? 3 A forca? Nao por certo. Scré preciso meditar instituigdes e providencias que destruio o prejuizo da infamia do trabalho, honrando-o -¢ premiando-o , e crear uma Policia vigilante e severa, que nio consinta ociosidade nesta classe de gente, trazendo-a yesistada e até inventariada ; em uma palavra, desprevenila (1) © aumento da populacio crioula nas Fazendas bem governadas nao & quimera: se nos bastio eisemplos domesticos, temos o ‘testemunho uniforme do viajantes instruidos. O citado Lavaysse observon este fato em muitas Fazendes as Antilhas , ¢ produz, como modelo, a de W. Young em S, Vicente , onde pelo zelo daquele humano e inteligente proprietario em poucgos anos nao 86 nig Precisou comprar novos escravos, sendo que teve. de sobejo para sca cultura, H (58) do prejuizo com o eisemplo, e com um favor decidido para a classe agricola; atrahila com o interesse da agricultura, e trazela sempre cerrada entre o trabalho ¢ o castigo infalivel da ociosidade. E por quanto é para as grandes Vilas ¢ Cidades que se acolhe a mendicidade priguigosa, e é na confusio d’elas que se ccultZo familias miseraveis , mas orgulhosas , que se desprezio de ganhar o pio por seu trabalho ; deveria a Policia dobrar a vigilancia n’essas grandes povoagéis , ¢ apertar de tal sorte essa classe de gente , que ela axasse comodo. em retirar-se para o campo. Longe dos olhos da multidio o orgulho tem menos de quem se esconda, ¢ a imperiosa ne~ cessidade de sustentar a vida forgaré o homem livre ao tra- balho. Isto se observa j4 pelo interior das Capitanias, e. dando-se providencias adequadas , é de esperar que se prow. pague por toda parte. ” Talvez se acelerasse esta saudavel mudanga com a distri« buigdo gratuita de terras nas vizinhancas das Vilas e Cidades , € avanco de certa soma para principio de cultura, ¢€ privilegios ou premios as familias que mais se distinguissem neste genero de trabalho. Estes meios positivos de fomentar a industria que se deseja estabelecer em um povo principiante ¢ prejudicado, sio de suma utilidade , mas talvez nao agradein aos partidistas. do antigo Laissez faire que alids demanda eisplicacio , e deve ser restricto a certas hipoteses, e sem duvida nao quadra 4 de que tratamos. A esses descontentes pediremos- que media tem, e nos lisonjeamos que mudario d’opiniao. D’esta sorte o interesse dos beneficios da cultura e recom~ pensas d’um lado, a severidade da Policia em perseguir os ociosos do outro, produzirao bons efeitos. O servico militar de mar. ¢ terra,.e o primeiro com preferencia,. seréo um. { 59) castigo eficacissimo para quem foje do trabalho, — Contraria contrariis curaalir. — (1) Nio seria porem menos interessante diminuir quanto fosse possivel a populagio dos homens livres de cores mnsturadas que inundio a sociedade, sem educacdo, sem ocupagio , > -e alids habilidosos, A facilidade com que entre nés se dio as liberdades , con= ‘corre, em grande parte, para o aumento desproporcionado desta classe. A grande maioridade d’elas parece provir do orgulho dos Senhores, que tendo filhos:de concubinagem com: escravas , nfio querem (costumiio eles dizer) deixar ‘Seu sangue na escravidao. Passemos-lhes muito embora este-orgutho pelo que tem de humanidade, mas paguem a pena d'esse prazer ilicito; dotem esses filhos ou com bens de que vivio, ou com oficios que os salvem da mendicidade , porque o contrario @ condenalos 4 ociosidade e as tristes consequencias dela, ne que o Estado sofre miito, Seria pois nossa opinifo que nenhuma liberdade se désse sem o concurso da Autoridade publica , a qual. fizesse segurar aos libertos a subsistencia por um dos dois modos indicas dos, obrigando tiobem os Patronos a pagarem ao Governo uma certa soma pela confirmagio da liberdade, de que se daria ‘um titulo autentico. Esta operasio diminuindo perniciosas liberdades, diminuiria o numero de ociosos , em proveito do trabalho nacional , ¢ até daria 4 Policia um meio seguro e facil - (1) A mendicidade que encobre tantos vadios , merece grandes e vigoroses providencias ; cles sempre atrahisao a atencéo dus nossos Legisladures: Casas de correcio ¢ de trabalho sio muito de desejar, assim como alguns escritus tene denies a convencer alinas pias do mal que farem em eisercitar curidade com gente que ando merece, que é o mesmo que dar ¢ alimentar vicios, ¢ crimes) + H2 ( 60). de calcular.o progresso d’esta classe interessante., As liberdades. remuneratorias de servicos importantes feitos. aos Senhores. mereceriio mais indulgencia € favor. Artico 3.° Empregar os Indigenas. Outro grandissimo dano que nos causou o sistema de trabalho por escravos foi o.despresarmos a civilisagio- dos- Indigenas , a qual, sendo mitito da obrigagio de Conquista- dores Christos, oferecia tantas ¢ tao solidas ventajens.. ; Que prosperidade-nio seria a.nossa hoje ,.se em vez de inundarmos nosso belo-tertitorio de. barbaros Afficanos escravos ,.que ja nos embzragio, tivessemos: sabido- tirar: partido de tantas geragSis- Americanas que desde a descoberra do Brasil tem vegetado. na mais tencbrosa. barbaridade ,. edesaparecido da superficie da. terra ?. Digio-no os Mexicanos, cujo Imperio florescente , que Prosperou como 4s escondidas da Europa,. marxava de passo rapido a hombrear com as grandes Nag@is civilisadas ,.quando arrebentou.em seu seio-o-voledo revolucionario que hoje lhe dilacera ¢.devora as-entranhas. . : A preciosa historia. de sua grandeza e prosperidade com que. o ilustre Bario de Humboldt presenteou. os Sabios da Europa. nos-espanta. Ali-se vé uma florescente agricultura, c:incriveis trabalhos em Minas metalicas feitos pelos Indige= nas, Como ja notdmos .em outra parte, ¢.o numero de Afri« canos € quasi nenhum. Pelos caiculos deste infatigavel Via~ jante a populacio Mexicana era , antes da revolucio , de dois milhdis e.meio de homens da raga Indigena, d’um milhio de Hespanhois Mexicanos, de 70 mil Europeus, e quasi nada de. negros :. ; Que quadro consolante ! ( 61 ) . Nés outros que funddmos nosso-trabalho nos bragos Afri- canos eisclusivamente , cujo numero nao podemos aumentar sem grande risco , titubeamos hoje em busca de remedio para este mal; ¢ somos como obrigados a desandar o caminho que fizemos inconsideradamente para uma. prosperidade aparente e enganadora, As ventajens da civilisago dos Indios nao escapario ao dlho vigilante do Senhor Rei D. José !. de gloriosa e saudos sissima Memoria, que para ela fez esforcos, e deu mifitas e mili sabias providencias ;. no estado porem em que as coisas se axavdo, era preciso que o Ministerio fizesse tudo,.e,.além dos inconvenientes da distancia ,.e poucos meios de comuni~ cago entre Portugal-e o Brasil , sabemos que ele fora distrahido pelos gravissimos negocios ,.que n’aquele. tempestuosissimo Reinado se forio encadeando e.succdendo ,. como de proposito para acrisolar-a:Magnanimidade ¢ Constancia do Grande Mo= narca, e realgar a sabedoria, .¢ rara fortaleza do seu habil.e ficl .Ministro.. Nao tiverfio o désejado sucesso as vistas do Sabio Legislas- dor, ¢ com tudo conseguiu-se ainda miiito, porque veem-se em * todas as Capitanias,, .principalmente-na do Grio-Para , mfitag familias Indigenas aproveitadas ,. mifitas Vilas em que elas se axJo reunidas , ocupandoese naagricultura , e fornecendo-bracos ao Real. Servico e-a0 de proprietarios particulares, Concorreu. para a-pouca. felicidade dos: estabelecimentos Indianos.1.° a ignorancia. e deleixo dos Governadores e Mi« nistros que. d’eles foro enearregados , os quais nem souberao escolher as posigdis importantes para as fundagdis das Vilas ; nem souberfio dar a-essas sociedades nascentes a -saudavel impulsio de que precisavio para -prosperar ; . o.que-demanda : ( 62 ) conhecimentcs e um zelo decidido. Na fundacSo das Vilas nao buscdrio senZo um local ameno e fertil, como se crear uma Vila consiste somente em levantar um pilourinho em um lugar fertil e ameno.. Para Diretores dos 1 ndigenas furfo escoe Thidos homens sem educagZe nem probidade, que nio virio no emprego senio um meio de fazer fortuna com o trabalho dos dirijides, Tudo quanto avangamos é confirmado pela eisperiencia. O Legislador viu bem que, sendo o fim principal do avi+ Tamento dos Indigenas o habitualos 4 agricultura, ¢ desacostu~ malos da tendencia para a vida errante fazendo-lhes agradaveis os comodos da sociedade civil , era necessatio que essas Vilas fossem fundadas a tal distancia das povoacéis de brancos, que os produtos do trabalho das primeiras axassem consumidores nas segundas , ¢ recebessem em troca os produtos da industria d’estas, para que com esta comunicacio de interesses se intro= duzisse a civilisagio. Assim pois o ordenou, mas nia se eisecutou , € por isso ha mii.tas Vilas que se devem eistinguir, reninde as familias em outras, ° O setem as Vilas compostas eisclusivamente de Indios. sabe todo mundo que o metodo mais facil de ensinar é com a pratica a par da teoria; e que a emulagao, que esporeia os homens a distinguirem-se entre seus similhantes, nunca os ciscita tio ventajosamente como com o cisemplo 4 vista. Amalgamar pois os Indigenas com Portuguezes bem escolhidos setia o meio eficaz de ensinalos a trabalhar, ea fazelo com ais proveito ; até mesmo porque este era o meio mais natural e suave de ir apagando a linha de divisio que separa as duas castas, que tem pessimas consequencias, bem previstas pelo Legislador. Os Diretores porem, afetando um zelo hipocrita a ( 63 ) cpela seguranga e tranquilidade dos Indigenas, procurario afastar quanto puderao os brancos que pretendiao estabelecer-se nos Distritos das Vilas, nao querendo talvez testemunhas ocu- lares de seu mau procedimento.. 3.° A tutela perpetua :em que sZo conservados os Indigenas. Tutelar os Selvagens que entrio em contacto com o povo civilisado, € uma ideia mestra; mas eta preciso saber ir adelgacando o rigor da tutela 4 proporcio da capacidade dos - tutelados, porque o-espirito quer espaco para se desinvolver , e liberdade para combinar ; sopeado , apouquentado , perde a encrgia, embota-se. E este € outro eiscesso dos Diretores, que nao sé tratio os Indigenas como tuielados , scndo como escravos toda a vida. 4° Odespotismo dos Governadores digpondo dos Indigenas em favor de proprietarios particulares, que ou por falta de escravos., ou por nfo arriscarem os que tem a certos trabalhos perigosos , pedem grande numero de Indios , que obtem por pregos mitito modicos, D’onde resulta que os Indigenas arrane cados a suas lavoiras comecadas , perdem-nas absolutamente sem indemnisacio , e nio-.Ihes bastando para a. sustentagao anual o salario que dos particulares recebério, caem em mie seria, roubio, desert#o , ¢ cometem crimes, inseparaveis da: ociosidade indigente. Verdade é que a Lei permite a distrie buigio de Indios pelos proprietarios particulares , mas ela se intende a respeito- dos Selvagens que se forem conquistando, e nao das familias j4 estabelecidas , aviladas e ocupadas na: lavoira. 5.° A ignorancia.ec md f€ dos mesmos Diretores ; os quais ;- alem de niio terem as luzes necessarias para um emprego tio- importante ,. inspirio ¢ comunicio aos ‘tutelados seus vicios ( 64 ) pessoais, sZo negligentes, e abusdo do trabalho d’eles :para sur propria utilidade. . 6.° A falta d’uma Autoridade que vigiasse assidua c eficase mente sobre os Diretores, os quais sendo rirados da classe .do povo que no tem educacio nem principios , ¢ a grandes distancias das Capitais, precisavao de correi¢io. Os Gover- -naderes sio sedentarios, ¢ nao visito as Capitanias ; os Ouvi- dores correm as Comarcas uma s6 vez cad’ano, e nada podem ver, quanto mais prover. D’esta sorte os ‘Diretores , certos da impunidade, tiranisio 4 vontade os tutelados. Em fim o Diretorio dado para governo d’eles, e confirmado pelo Alvard de 15 d’Agosto de 1758, nos parece, quasi todo, bem pensado , mas faltarao-Ihe eisecutores. . A’ vista do eisposto, se nos perguntassem Como se reme- diaria este mal, responderiamos, que fazendo precisamente o contrario do que se tem praticado em cadaum -dos artigos analisados , ¢ modificando-os como parecesse justo. Parecerd a milita gente que os Indios que temos avilados, por isso que ja conhecem alguma coisa os comodos da sociedade civil, deverio gosar da plenitude dos direitos e prerogativas datiberdade social como os mais Cidadaos ; todavia nés que os conhecemos e tratémos ¢ governdmos, somos d’opinito contraria. Nao tendo sido educados como convinha, pois que no forgo habituados a um trabalho regular, nem aprendério a tirar um partido facil da agricultura; se os deixarem a si sés, com a ptiguica natural e hereditaria, que é para cles o sumo bem, e sem nenhuma ambi¢ao d’uma vida mais folgada ¢ comoda, nada farzo. Tivemos d’isto uma prova recente: milhares d’homens que alimentavao ja um trabalho consides ravel debaixo de inspegio na Capitania do Pard, apenas soltos ( 65 ) -Aela, desaparecérao ‘inteiramente. Melhor. fora ter emendado os erros , € corrijido as injustigas d’cssa inspegao. (1) . ' Conviria pois consefvar-lhes: uma Dirétoria, porem com uma forma mais policial que tutelar , cujo fim seria manter os costumes, dirijir e atuar os trabalhos, evitar a vagabun~ dagem, €, em suma, promover a eisecusdo das ordens ¢ planos que se fizessem para o regulamento das povoagdis. °° Seria riobem nossa opiniio que se creassem Inspetores Gerais em cada Capitania com 0 encargo de vigiarem. sobre as povoagéis Indianas, visitalas e dirijilas, representando os abusos , pedindo e propondo os remedios adequados, inten< dendo-se para isso com os Capitais Generais ¢ Magistrados Maiores das Provincias, Nas Nagdis estrangeiras os projetos d'esta natureza sio..incumbidos a Sociedades. de homens cos nhecidos por seu zelo ¢ inteligencia; nao sabemos’ se haverg entre “nds proporgdis para isso ; mas nio- desaprovamos Qo sistema , ¢ talvez fosse coisa facil de organisar-se na, famosa” €apital de S. Salvador da Bahia, cujos habitantes tanto s¢ distinguem no espirita do-bem public. 2-2 - O titulo de Protetor dos Indios, {o qual importa uma’ curatcla gratuita de gente miseravel) nao -péde deixar de-scr- miito lisonjeiro para almas génciosas; ‘ele se ajuntaria ao de Inspetor Geral, O emprego pois de Inspetor Geral ¢ Protetor dos Indios queremos persuadir-nos que seria ambicionado pelos. homens mais abastados ¢ mais ilustres das’ Capitanias.Gerais,. G negocio é grande, ¢ merece uma milito séria-atenglo. , « Z i . a ee ae - 0) Em Cayena, por eisemplo 1 Sob o regime dos Jesuitas contavio-se mais? de Go mil Indios, no anv de 1790; perdidos os Missiogaroa ’ ive cm 1778 , Uavig Bpenas 4.a 5 mil; stualcnte. nenhum, wera g Me ee bEEL I ce te . | ( 66) aos Indigenas ja estabelecidos ¢ avie lados. + Quanto aos Selvagens novamente conquistados, muda tmilito o horisonte , ¢ dificilmente se podem dar, do gabinete,, arbitrios seguros , porque-cles dependerio sempre do conheci« mento do local, e do carater ¢ inclinagdis de cadauma das Tribus que vivem-espalhadas por esse imenso territorio como. as feras, e em continuas guerras, Sé a eisperiencia poder’, sugerir os meios proprios de conduzir tais prosélitos, mas eisperiencia de gente instruida. Podcmos.asseverar que tudo. qeanto .temos. visto aconselhado em: livros sobre: a materia ,, Ros nao agrada, € ao menos nao péde servir de regras. gerais. Podem-se todavia aproveitar ideias do que disseric Mr. Depons (Voyage Gla terre ferme) ¢ Mr. Baudry. des Lozitres (Voyage & Ja Louisiane) entre outros muitos. O. que porém nao sofre duvida éque- os Selvagens, em: geral , si0 timidos , desconfiados e irreconciliaveis depois que- perdem.aconfianga que tinh3o nos seus diretores, e € por: consequencia indispensavel.tratalos.com.melindre. Pede tio~ Bem a rasdo. que na civilisagao deles nia contraricmos subita~ mente suas inclinacdis primitivas, antes procuremos dirijilas. para o bem da sociedade. A Religifo é indispensavel ;, seus efeitos, neste genero- particularmente , tem sido sempre tio admiraveis, que nada mais era preciso para demonstrar sua origem divina ;. assim nao tivessem sido malogrados, quasi por toda parte, seus copiosos frutos. pelos Conquistadores da Africa, Asia ¢ America, movidos de ambicio e sordidos. interesses ! . - Sera porem necessario, cont Selvagens, principiar pelo. que tem a Religifo de maravilhoso ¢ encantador , tanto em ( 67 ) sua doutrina como no seu culto eisterior ; antes de passar ao” que ela tem de sublime; ¢ quanto 4 pratica, no carregala de longos e minuciosos eisercicios, que s6 convem ds pessoas capazes de conhecer as ventajens -espirituais que d’eles se recebem. Em uma palavra, -o-Selvagem é: uma crianga com forcas @’homem feito; a marxa pois para governalo-e instruilo e civilisalo.é quasi a mesma. Nao é nossa opinio que se‘possio tirar grandes utilidades dos Selvagens adultos para o trabalho agricola , porque ainda que este se Ihes ‘facilite e proporcione, o gosto € habito da vida ambulante predominarao.: Seria mais seguro alimentar seus gostos ¢ habitos , buscando tirar d’eles o partido possivels ‘assim v. Bi 08 empregariamos na colheita dos mflitos: produtog naturais, proprios para o’comercio cartes, espalhados pelos matos; assim, aproveitariamos -a inclinagao. d’eles 4 caca ¢ pesca, dando-lhes uma eistensdo’ capaz ‘de deixar proveitos ; assim, empregariamos as Tribus habitantes das Costas e mar= gens dos Rios navegaveis, na Marinha de Cabotagem ¢ navee gacio d'esses ‘rios ; e em lugar de ir fazer estabelecimentos Jonginquos, principiariamos nossas Colonias pelas Tribus mais vizinhas. . . O medo com que se‘devem aliciar ¢-ganhar as Selvagens & negocio da primeira importancia.. O coracio estremece com a recordacia do metodo pelo qual Governadores do Brasil , alids nao destituidos de juizo e humanidade, mandavao fazer esses xamados Descubertos ; era verdadeiramente uma cagada de homens, de que se encarregavao militares “ferozes, escol- tados da mais baixa relé ; matar-e eisterminar ero as instrus ‘géis. D’este modo de colonisar ja-se véque o resultado seria 9 diametralmente oposto ds vistas do Soberano, Ia ( 68 ) Para este gentro de emprezas pensamos nés que é perder tempo querer buscar outros Conquistadores que nao. sejaa Eclesiasticos Seculares ou Regulates instruidos e virtuosos. «Oar doce ¢ santo, a intrepidez ¢ paciencia d'um Sacerdote > bem convencido das verdades da Religigo, diz Mr.’ des » Loziéres, inspirio muito maior respeito ao Selvagem , € 0 » penetrao milito mais do que o.tom ameacador, e 08 raios » d’uma tropa guerreira. Semelhante 4 gota d’agua, que » penetra o roxedo., a uncio do Religioso acaba por ganhar o » coragao do Selvagem , e reconduzilo aos verdadeiros prine » cipios da natureza, que sé conhece quem tem uma Religiio »- ilustrada. Um Cenobita val mais que um eisercito contra » antropGfagos. » : z D’estas mesmas verdades nio temos nés os mais irrefra~ gaveis testemunhos nos nossos fastos gloriosos,. que em nada cedem aos de nenhuma outra Na¢io Conquistadora? O caso € saber escolher esses Eclesiasticos , e sustentar ileso ¢ puro o mesmo espirite de caridade Christa dos primeiros Fundadores, porque desgracadamente de tudo se abusa, e¢ tudo degenera nas mies dos. homens. ’ Seria pois nossa opiniZo que este fosse 0 metodo de atrahiy os Selvagens, ¢ que se organisasse um plano adequado a cadauma das. Capitanias gerais. Os mesmos Francezes, ainda no calor revolucionario, convierao na conservagao dos Con= ventos na Luisiana , com vistas na civilisagio dos Selvagens. Esta quartada servird 2 desarmar da critica que por ventura nos iria preparando, a ouvir este conselho, algum espivi= tado em politica, que no estiver ainda escarmentado do nada que valem, para gevernar homens , as abstragGis filoe soficas, . Poo, * ( 69 ) . \ Isto quanto aos Selvagens- adultos. A hossa‘grande espe- ranca deve fundar-se na educacio da trocidade Selvagem:, capaz de receber a diregio que lhe quizermos dar. A. educagfo moral d’ela nao passaria’ dos principios da Religido, ler, cscrever e¢ contar. Quanto ao mais, habituala ao trabalho agricola seria o principal empenho. A agricultura tem encantos, e por isso, bem dirijida, e acompanhada da creagio des animais domesticos, nao poderia deixar de agradar aos inocentes e robustos Colonos. A caca ea pesca entrariao por passatempo ; a carreira, a luta, a dansa serio os diverti- mentos comuns, feitos com discri¢io. . - As primeiras culturas serio feitas em comum até uma certa idade; passada a qual, cada individuo teria sua terra particular. A lavoira em comum, ao principio , trem a grande ventajem de habituar os Selvagens’' a um trabalho regular’, vigiado ¢ fomentado pela emulacio ; a separacio porem , depois d@’um certo tempo, é indispensavel para habitualos a este men e feu que tanto agrada ao homem , e tantos beneficios tem feito 4 sociedade civil. Haveria cuidado de promover 0 casa- mento, fazendo tais disposigGis, e -acompanhando-o de tal ceremonial, que este estado importantissimo ganhasse ads olhos dos Candidatos a 4 consideragao e. respeito que Ihe sfo devidos. a . : Tais Colonias, bem policiadas , multiplicariio infinito, ¢ dariio bracos 4 agricultura, 4 industria, ¢ ao eisercito de mar eterra. A Capitania do Grao Pard nao tem hoje quasi outros Soldados senfo os.d’esta Casta ; nés os conhecémos e tratdmos, e nfo vimos em que os das outras Castas se- hes aventajassem. Pensamos mesmo que nfo se axarao melhores Soldados que ¢les para o genero de guerra propria do Brasil, e que o sera ( 70 ) : talvez por dilatados ancs; do que tivemos prova decisiva na acupaczo e administrac¢3o da Guyana Franceza pelo Governo Portuguez. Ejisaqui o que Iembra no gabinete, ¢ 0 que péde caber em Zo curtas paginas. Homens intcligentes e zelosos poderdo fazer prodigios na pratica; € indispensavel buscalos, empre-= galos e recompensalos, Nao se pode assis cisagerar quanto fariZo neste importante negocio Governadores e Capitiis Gee nerais habeis , zclosos ¢ desinteressados ; sem isto, as melhores providencias se neutralisio, ou paralisio, em: mios estupidas, ou interesscitas. A ideia de prometer honorificas recompensas aos ricos proprietarios que fundarem & sua custa Povoacdis de Indios constantes d’um certo numero de familias, é eiscelente, ¢ de certo produziria o desejado efeita, se esses ricagos , que miito provavelmente desejZo enobrecer-se , nfo axassem , como tem axado, meios mais faceis de xegar as honras ¢ prerogativas politicas do que esses, nZo sé dispendiosos senio taobem espinhosos, de conquistar e amansar Selvagens. ; Que inesgo- tavel tesoiro nZo €o de remuneragdis honorificas em poder d’uma Politica discreta ! Artico 4.° Alrabir Europens. No estado em que se axa * a Europa ; tantas familias arruinadas, tantos individuos desgra= gados , tanta gente habil sem emprégo , e descontente; nao nos seria dificil engrossar nossa populacao branca com os emigrados d'ela. Concorreria mitito para isto a ideia que ali ha da riqueza do Brasil , e a justa opiniio que é mais facil adquirir fortuna em um paiz nascente do que em outros ja avancados em industria. Mas désgragadamente nao esta ainda na Europa (71) destruido inteiramente o errado conceito que viajantes e Escris tores ignorantes, ¢ talvez prejudicados, espalharao noutro tempo sobre nossas instituigdes e policia imterna, O que nos nao maravilha , observando que Geografos modernos , que ‘tem vivido em tio intimo comercio com Portugal , Ihe atribuem em suas obras usos os mais absurdos ¢ que nunca eisistirfo, como sc falassem dos Polos gelados ou dos desertos interiores da Africa. . Felismente, depois da passagem da Cdrte para o Brasil, ja alguns Escricores modernos da Europa fazem justica aos nossos esforcos para a civilisagio, ¢ analisando as providencias que se tem dado e vio continuamente dando, comesao a vingar-nos da injuria que se nos tem feito; e todavia nao é ainda o que basta para xegar ds classes cvjos individuos pretendemos atrahir. : Seria por tanto necessario fazer inserir nos jornais e gazetas mais acreditadas da Europa os progressos que fazemos e 09 que desejamos fazer, e a Real Protecio que obtem quantos vem enriquecer-nos com seus talentos ¢ eisperiencia, -decla= rando.se que nada mais d’eles $c requer senao o que se requer nos paizes mais gabados de liberdade, que é, respeito 4s Leis € Costumes nacionais. (1) : Nio somos d’opiniaZo que se recebio como d’aluvigo , & sem eisame , quantos individuos nos vierem procurat. Os Esta~, dos-Unidos do Norte, que para irem coherentes com os prin= cipios que proclamarao, abririo em seu seio um como asilo (1) Agora com a nova organisacao politica qne se vai por em praties , © asse- gura aos estrangeiros a liberdade individaul ¢ o direito de propriedade , ¢ provavel’ que aemigracio da Eoropa nos enriquega rapidamente. — (72) a tudo quanto ali aborda que tenha fisionomia humana, gemem hoje com os males inseparaveis d’uma populacio imensa, heterogenea , cosmopolita , ¢ devassa em costumes , que‘ali foi arremessada pela eisplosio revolucionaria Europeia. Mais d’uma vez se tem visto faltar ao Governo a forga repres~ siva para punir eiscessos populares. A miscria em gente mal creada , de que sio inundadas as Vilas maritimas , tem arrojado aos mares um semnumero de Piratas que insultio ao comercio de quasi todas as Nacdis , de sorte que o Atlantico vai rivalisar em pirataria com o Mediterraneo, infestado pelos Moiros. Como é nas Vilas maritimas que para a grande maioridade dos recém-xegados, notdrao Viajantes instruidos que, ainda anies d’esta ultima aluvido de gente que ihes sobreveio em consequencia da quéda do Tirano da Europa, ja fozia um conirasie espantoso o eistremo de corrugao das ditas Vilas com a singeleza de costumes das povoacis interiores: tais sio, entre outros, Brissot, Bonnet, o Principe de Talleyrand etc. Renunciariamos pois ao rapido crescimento d’uma popu« lagio corrompida, contentando-nos com um menos rapido, mas de homens escolhidos; ¢ n’este genero, tudo quanto vem de meios nio naturais (se nos podemos eisplicar assim) acarreta inconvenientes. Uma aluvido imensa de homens de todas as condigGis, entrados como d’um golpe em qualquer paiz, nio pode deixar de produzir efeitos desagradaveis. Uma Policia habil, e vigilante péde mflito bem, sem ferros , sem carceres, jocirar a turba de emigrados. As gran- dcs povoagdis sao o asilo a que cles se abrigao, ¢ é facil seguilos em sea comportamento. A populacado do Brasil é miito mal composta, como ja observamos, para que seja indiferente- admitir sem escdlha a relé vil » © educada em principios revos

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