You are on page 1of 194
ANDRE DUARTE OPENSAMENTO A SOMBRA DA RUPTURA Politica e Filosofia em Hannah Arendt ® PAZE TERRA Revit: Sand Pla (PCat se pee mies rie nem Hiei Ant 1 Ar Hanah, 6 19752 ae 3 Clip Th. EDITORAPAZETERRASIA Rexel, 177 ‘Se ihn Sto Pal, $P —CHPOI212910, Tomy z26s0 In BP Bat “As suas cidades nao existem. Talvez nunca tenham existido, Certamente nao exstirdo nunca mais. Por que enganar-se com essa fdbulas consolatsrias?(..) = 0 propésito de minhas exploragses €o seguinte: perscrutando os vestigios de felicidade que ainda se entrevéem, posso medir 0 ‘grau de peniria, Para descobrir quanta escuriddo existe em torno, “preciso concentrar o olhar nas lzes fracas e distantes.” HaLocaLwno {NDICE Asradeciment08..0. u Lista de abreviatures. ve tie B Preficio... en 15 Inrodugio... ' 2 CAPITULO UM: A rupture totalitéria 1. Consideragdes metodolégicas preliminares sobre {As origens do Totalitarismo, 32 4) Os elementos ou as origens do totaliarimo. 2 ) A nogdo de “evento” ea ertica da “causalidade” hisorica 36 2, Apétidase refugiados: a ruptura dos direitos humanos.... 43, 3,0 surgimento das “massas”: a ruptura do “interessecomum”. 48 4. As ideologis ttalitérias:@roptura do senso comum 3 5. Otero ea lei: aesséncia da dominago toalitia.ovone 61 6. 0s campos de concentragio: a consumagéo dda roptura totlitiia. vo oa CAPITULO DOIS: 0 confronto com Marx e com a moderidade 1. Mare questio do totalitarismd sein n 2, Marx a vitéria do anima! laborans na modemidade. 3. Marx e a confusio entre trabalho e fabricapto, a) As origens gregas da confusio tradicional entre trabalho fabricagdo )A analitica da atividade humana do trabalho. ‘A analtica da atividade humana da fabricagdo 4. Marx ea agio politica no modo da fabric: ‘histria “Tita pela violencia 4) analtica da agéo politica ¢a imprevisibilidade da historia, ' 1) Marx e as modernas filsofas da historia CAPITULO TRES: O confronto com a ruptura da tradigio 1. A rupura da tradigao como desuio para 0 pensamento politico: aspectos positives e negatives. 2.0 pensamento “sem amparos”e a desmontagem azendtia- na da tradigao luz de Heidegger e Benjamin, 4) Destruigdo da metafisica e reconsideragdo da temporal dade: 0 legado heideggeriano de Arendt. 2) tarefa do hstoriador e a origem do politico como frag- ‘mento histrico descontextualizado:o legado benjami- iano de Arendt 3.0 ocaso da tradi. ‘CAPITULO QUATRO: A génese da tradi do pensamento politico ocidental 1. 0 confito entre filosofia e politic... 2. Acposigio platdnica entre verdadee opin. 4) opinido como revelagdo da verdade do mundo 16) 0 jogo das perspectvas entre a verdadee a opiniao ©) Os riscos polticos da subordinagdo da verdade actual & mentira,e da opinido d verdade racional. A substituigao platonic da ago pla fabricago... 40) dimensao politica da pardbola da caverna 2) 0 reiflésofo como artifice da boa politica ) Saber poder: a distingdo platinica entre governantes e ‘governados. 7 106 109 ua 1 a7 130 141 1st 162 169 170 m 185 187 11 197 CAPITULO CINCO: A recuperagio dos fragmentos politicos cexquecidos no passado |. Liberdade apo 4a) Da experiéncia poltica da liberdade ao sew conceto MlOs6fiC0...0.0 D)A liberdade pottica antiga €) Liberdade e agdo: 0 “milagre” dos novos comesos <4) ago como performance agonisticaorientada por principio politicos. 2. Poder e violencia, {A origem perdi do poder. 1) Poder ¢ violéncia:fendmenos dstinos, prém relacionados. 3. Lei, consentimentoe desobedincia @)A establidade das leis ¢ a questdo do consenimento B)A questdo da desobedincia civil 4. Pundago autoridade: #experiéncia romana CAPITULO SEIS: As evolugies modemas entre 0 passado 0 futuro: a repeticdo transfigurada da origem 1. As revolugSes modemas: o significado perdido (inonter 0 fabian comincanet tart 0 pac ao dno" fim de" ss, cone oo de pert visa 6 seo dal que fax pois quand slide ¢ esata Sram send, qe clara eaten a “ausnca design fcado" CH: 167158, tad. mod), A asa de sania inte. tea utlitrio do homo fbr pode ser comlaa “im mnundo esttumene anmopoctncn, ene 0 vate, oe 0 mem, fim ino gue pe temo & cael inte de mele in” (CH: 16/15), opeag por meio qa, cael ‘ntez"- ound eater ene rebaiads¢deprns 20 plano de mers meis pan ase in “vistas do ponte evn Ga abrcagso as dvr so adits pte ety prt a caf de mess adie, Masse iso, longed er acta cto gia, parca par on ereos como dein entre, dt coisas que phe gue wo prs mesmas 0 questo Comer 2 ore com madi coma €necessro par sabia onde © natant dado € wanfomado em muta, poa, Imai sgica euro aprondo ex um mundo merimente amano demo eis qu esi pss, da nature, ea de ser propianeate erceidn,Nioapenayaabricaompica io Ica conta atrers para tans em maa mors ts também ate do reso € presse aqela ci ‘erdade incre ds coisas como elt so por mea, Iepens dente do home. rans pode se reve prs mess Ee & snare op constr a cn & om ‘eso, mas v cos imeatarete como mis pura a (KMT c;V:16-17). As ressondincias heidegeerianas | sdsas reflexes de Arendt nl fo, een, apent esti as nde qe pena prs mesa io dear de concert contugbet Sons de Hldegpes a trea mais met Seno ago no ros aque parece, 0 seu ensaio sobre “A Questio da Técnica”, também dos iniios dos anos cinglena. preciso enftizar que Arendt nose volta contra a nstrumen taidade das elages ene rose fins, nem conta a prépriaexpe- ‘ncia da abricagioenquant tal, mas apenas conta a “generaliz- {oda expeincia da fabricag, na qual a utldade © a serventia So estabelecdas como critriosikimos para avid e para 0 mundo os homens” (CH:ITO/157) Essa generalizagionio € um resultado necesiro da atvidade de fabricagdo, a qual bem pode conceber © produto scabado de sua atvidade como um fim em si mesmo, como nai um objeto durvel que veio ao mundo, crescento-se a ee © {ue einuant algo dotado de aparEacia, pode se julgado pelo cit fo de sua beleza, endo pelos critros da utlidade ov da necessida- fe, Para que o mundo se lore uma moradaesvel para 0s homens preciso que se transcendam os criti da mera utidadee nees- Sidade, condo esencal para que ele se tome um paleo adequado to aparecimento de pales ¢atos humanos.E preciso, pois, ree Sar © modelo e a maxims proprias da experiencia da fabricagSo © dotrabalho, bem como amentalidade do animal laborans edo homo Jaber come paraigmas para acomprecasio eo exerci da ativida- de politica, ema qe se refee dizetamente ao segundo aspecto do ontont aenkino com pensamento de Mar, ou Sea, a su fen ao conceit marisa de hsteia ede 930 soo denominador comom da violencia. 4. MARX E AACRO POLITICA NO MODO DA FABRICAGAO! |AHISTORIA “FEITA” PELA VIOLENCIA ‘A tese de Marx de que “a violéncia € a partira da historia” & ‘mais uma instancia do su enfrentamento radical com a tradigio, a despeito de ele nio ter conseguido se desvencilhar dela totalmente, reproduzindo, asin, antigas confusbes conceituais que team gra- ‘ves conseqUéncias plitcas para o presente. Nessa tese, Mark afron- {a diretamente a concepeio tradicional da violéncia como ultima ratio das relagdespoliticas doméstcase intemacionais, isto 6, como ‘alto recurso &forgadiante do fracasso da palavras,algando-a to posto de medida da eletividade de toda ao politica ¢ do proprio 106 ovine de hit, S avila emu tgo een dt politica fora vista pela tradigho da flosona plc come ae Capes ds led tin com Mae ela pears sore a itd is gl a tao seria mas gue exes Sonia da hme Se Otome ao lng hee: "ae Mars) ta fey dos ee da vile 0 eens coma ‘aromas depen; oxo osetia oo Sayre oa ch operas police ¢cuacerata pelos Ga vole (EMEA ID Sealey toi omivel dain eulo oem a porte oateces Indedri pode pr fin aus movie rave pono te comme gue Ad pa sor oom sao por pire ei a vi Sowa poplin ee evento "edate"oclade nase ‘da propria politica. cies tet mara de gua vlc ee clo sero ten ¢ eseu monic, aa ut ses etn fon ‘kot aio wine do men cme So plon str ‘hon logon on tnt pace nfs wasn pies ave dow por mci o Guo paiv Pure Aah gist as viol cota ee be Mars ts nie aii oe igor pls alas ¢ ef oto mess eee heaen se Cup ign, i endo mein nem apa te pari oa ca fora apa plicare sagt trem decane mode € wis Nev ples ane can rag pin cnc ao pn ¢ oe as gabon ae Coma vaca de gc mas pte amie open nd r pane race mas nema (EUS90 See ot Ua tue marin dequeue wpe oe hn pia tae coco equa a verde mens Verne cer edo preci d aie pc ae Speman oq ung Mesepens ee, ci SMart cons eet oa er re scampeioese imagine € pore cte cao fac oa rimaranete va «pe ete ue isi" vee snd sin pelos no ts a coment no modo ddan, pd rete hones ta eos 107 cincia do que eles esto fazendo”, Donde aconclusdo de que, qua {dose der a “vit6ria do proletariado, nfo mais precsaremos das ideo- Togias, quer dizer, da jusiicago de nossa violencia, pois esse ele- ‘mento violento estaré em nossas mos: a violéncia assim controkada do seré mas perigosa do que matar uma drvore para a fabricaglo de lama mesa” (EU:375, 376, énfase da autora). Aqui, referéncia arendtiana parece ser 3 Ideologia Alemd, texto em que Marx afin, justamente ndo partir “do que os homens dizem, imaginam, conce- bem, e nem dos homens enquanto narra, pensados,imaginados © ceoncebidos, a fim de chegar came do homem. Nés eomesamos dos hhomens reise ativos,e, sobre a base de seu real processo-vital.nés demonstramos 0 desenvolvimento dos reflex0s ideol6gicos © dos ‘eco deste processo-vital”* ‘Segundo Arendt, 0 vinculo existente entre otoalitrismo est Tinsta eo pensamento de Marx reside em sua concepso da historia ‘como 0 “produto” da ago humana consciene, o que equivaleria ‘compreender a agdo politica de acordo com os moldes da atividade da faricagoe da violgncia que Ihe €inerente: “O elemento de des- truisdo inerente a todas as atividades puramentetécnicas torn remente (,.) asim que essa imagem e essa linha de pensamento $30, Aplicadas 2 atividade politica, 8 aco, aos eventos hstérios oa a {qualquer outa interago entre os homens” (EU:283). A concepeio Tmarxista da hist6ria como pracesto que pode ser desvendado ¢ com- trolado pelos homens implicaré a substtuigfo da pluralidade dos ‘tore politicos e a imprevisibilidade do resultado de suas ages pelo planejamento insirumentalizado da fabricagio, resultando dav um arande perigo politico. Para Arendt, “apés Hegel ter interpretado a histia da huimanidade, Marx esperava poder ‘transformar 0 mundo’, isto 6 fazer o futuro da humanidade, O marxismo podia ser esenvolvido em uma ideologiatoalitéria por causa de sua perver- ‘slo ou mé compreensio da agio politica como o fazer a histo ria (EU:396, nfase da autora) Arendt no acusa em Marx elogio da violencia cega, mas o fto de que em seu pensamento a violncia ‘dia de ser um mero instrument para instrumentalizar toda aesfe- ‘2 da politic, sob o pressuposto de que os homens que agem devern Op Mr 17768 arse os fibrices consis do utr o arcs d his Uri Para Arent, nopesento de Marka impinge ncten tesa iso da po em temo dubia ato plenamene dese. volves Ne medi em qo fac sempre enol, nessa riamente, um elemento de violencia, Marx viv canseqientemente & ‘ro como endo rimarament vient so em emosde Fes fase revolotes Avon, ele di 2 paride Mist ‘demas a fabicyo em osu fm ea justify de cas mein no resid fev: fim jstiicy, de ft, todos os men. eam os mises seria "sn cam da pita” (PRP I 27) Oppel bud por Mark 2 ilencacbscueers acompreensto disra como tm expe boro compsto de eventos snus despovio de ut fim tanto no semi eelico quan ho de um ene do pro proceso, quan ola, amb, or os enomenol gion (arate de poping 4)A analtica da ao politica ea imprevisibilidade da histéria ‘Arendt pens a categoria da 2540 como indssocidvel do discu 0. oS refere ao mbito pablico-poltico como a sua esfera primor- dll. A nogio de “espago pablco” € sinbaima da nosdo de “espago politico” e possui dois sentidosinterconexos. Por um lado, 0 expago pblico abarca to aquilo que aparece para todos e,portanto ete se aque esparo aberto a visibilidade geral sob diferentes perspect- ‘as. a partir das quas se tece uma realidade fundada itesubjetive- ‘mente: “Para nés, a aparéncia — aquilo que & visto e ouvido pelos ‘outros e por nés mesmos — consiuiarealidade (..) A presenga de ‘outros que véem o que vemos ¢ ouvem 0 que ouvimos garant-nos ‘ealidade do mundo e de més mesmos (." (CH39-60/50), Aquilo, {ve ¢ capaz de aparecer para todos sob a luz da esfera pli cons- tise em matéria de assunto pablico e comum, Assim, 0 que & Dblico distingue-se de todas as experiéncias humanas cuja pebpria, Fealidade nfo podria ser comunicada e tomada pblica sem que sua _répria natureza se corrompesse, posto que seria de ordem privada « enquanto tal, incomunicdveis ¢ irelevantes para todos 0s outros. Em um segundo sentido, pablicorefere-se tamibém a0 mundo de ins ‘uigdes poiticas e legais que possuimos em comum com todos 05. 109 cuts, constitundo, ainda, aguele espaso virtual que se encontra “entre” os homens sempre que eles se reGnem para discutir e tomar iniciativas em conjunto, disintamente do espago privado e daguele ddominio em que se desenrolam as atvidades relativas & manutengio, ‘ida da sociedad e de seus membros, designado por Arendt como 'esfera do social, Esta esfera, por sua vez, constitui-se nos inicios da modemidade a par do momento em que o cuidado privado das ‘necessidades soins foi algado & condigio de aividadevisvel publi ‘camente, de modo que as nogbes de privado e social passaram a se imterconectar no presente. Para Arendt, no hé agdo politica sem dis- ‘curso, assim como, também, todo discurso constitui uma forma de ‘elo, definindo-se uma relagio de reciprocidade que sera inexiten- te nas demaisatividades humanas, em que 0 discurso possuria uma fangio meramente subordinada (CH:191-2178-9. Se o trabalho é atvidade com a qual os homens respondem as urgéncias da necessi- dade, sea fabricagdo ¢ a atividade que responde pela proxiugao de ‘um mundo de atefatos duriveis que possa constr a morada huma- na, a ago eo discurso, por sua ver, referem:-se no apenas a proprio ‘exerciio da vida politica em comim, mas, de um modo ainda mais ‘essencial,respondem pela pripria humanizaglo do homem ¢ do mundo. Para a autora, “a ago 0 discurso so os modos pelos quais, fs seres humanos se manifestam Uns aos outs, nfo como meros ‘objets fisicas, mas qua homens” (CH:189/176), cabendo ainda lem- brar que o proprio “mundo nfo é humano simplesmente por ser feito por sees humanos, e nem se tora humano simplesmente porque a ‘yor humana nele ress, mas apenas quando se tornou objeto de dis ‘curso, Por mas afetados que sejamos plas coisas do mundo, por mis profundamente que possam 0s instigar e estimular, s6 se tomam hhumanas para nds quando podemos discut-las com nossos compa- nbeiros. .) Humanizamos 0 que ocorre no mundo e em n6s mesmes apenas a0 falar disso, e no curso da fala, aprendemos a ser humanos” HTS: 3124), por meio da ago do discurso que os homens tomam ini tivas, alualizam sua liberdadee trazem 20 mundo a novidade impre- visivel concretizada em inimeros eventos historicos. Para designar ‘estes eventos histricos em sua paricularidade concreta tal como ‘devem ser recuperados pela narra histérica (storyteling), pelo trabalho de reificagao do historiador, que dé ensejo ao grande livro 10 init das “eis da humana” (work of mankind Area empregao staan “stoma (to). qe ser pervade Apes deo tot alo em densa no orga, Ata” Coun tal itary), 6 oma de daa “ei” conta, ‘so poss "em cameo osm fn’, pos as les human gue & cngcham sempre se to tin condos lus ean San noves relies humans km dio, oda ao ini tore una "ei deca precise, oman impose dcrinaa 4 um fm bolt dit Por ee moto hit ao pode possum ize “autor, «tos o homens aur agem sl ses "jets" em um duplo send, amo como “ae” quam “ste dors” de ses elton Em ea evento singular Sonpe te pode deta olaro agent qu impinismavinet soo proce $0" muito embars apenas rues" dea un poaset ‘pont, de moo egivco como reponse! pel se eats Sb nal (CH:19718) Pr rc portant sa jana ex Tecome ene singled de um cao reine cunici nado impli por un dio sj so, pois» dominio por ‘recaps platal , portanto da libre a cong Sia, jamais Ambit da necseidade, A ntcafa dee eves Singles ue compte a stra compe rapa em melo acon nsdates som que cas de actecinents pss un sen td revise! «prion aaiteaehinenemene Plics dit fase most nofto de qe ea consi de eventos enao de fas las de cna revive” (CH264282 tad, mod) Escctr © nama Hrsg “inguin par poser coat como fi len tent (VE, L6MLM, 2166 ese moda, pe Serva o que deve st exnnca aor homens J ant do gus tment segura on ses elo c psa a een pl Cidade (EPE.7O). Astra ee spr de ua nara ¢ tralia jos, is 6d esta do as ples humans cm una esti capa de evel" etd dag quedo conti, pemansoeria como oa seiain molt e pn ‘concinen” GHTS.9S/10), Sea hia € dpi eum ‘eto prior i no sini qos omens no am bul seu os pent do pasta apr de seu propio pes, Indo andor No por cto, Arndt ose hoa como “o omem que indaa sore ese pasado eq, n lat, preside ao seu julgamento” (VE:163/1.M:I:216) © trabalho do his foriador €justamente o de articular 0 sentido dos acontecimentos Ihumanos passados, extraindo-os da contingéncia de onde eles brota ram sem, contudo, nega, fim de emitir um juizo sobre eles ¢ esta belecer,desse modo, a8 baies a partir das quas otros também pode- ‘io exerer sua capacidade de jlgar, sem a qual nenhuma “reconci- Tiago” do homem com a realidade € possvel (EPF:323/262). Se 0 juizo do histriador 6 sempre retrospectivo, isso se deve 20 fato de {que 0 sentido que ele busca nos acontecimentos humanos 86 pode parecer uma vez que 0 prépio evento tena se encerad, pois {ue ilumina os processos da ago e, portato, todos os processos his {oricos,s6 aparece quando eles terminam — muitas vezes, quando todos os paricipantes jf esto mortos” (CH:204-5/192, trad, mod.) "Agiré trazer anovidade impeevisivel& luz do dia, possibilida- de insrita no fato de que em cada nascimento vem ao mundo alguém como jamais antes existiu ou exist: “O fato de que 0 hhomem & capaz de agir significa que se pode esperar dele o inespe- rado, que ele € capaz de realizar o infinitamente improvével. Bist, por sua vez, s6 € possvel porque cada homem é singular, de sorte ‘que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo" (CH:191/1778, trad, mod.) Referindo-s a Santo Agostnho, Arendt ‘que os homens so capazes de instituir novos comes0s no mundo porque eles mesmos sio um “‘comeyo": “a histria munca pode ter um fim porque ¢ a histria de seres cuja exséncia € come- far" (EUS21). A apto e o discurso vinculam-se & pottica porque Constituem atvidades para cuja execucdo a presenga de outros, que também agem e discursam, 6 indispensivel, sendo, portato, as t= ‘vidades por meio das quais melhor se revela que a pluraidade é uma das condigées bésicas da existéncia humana na tera e propria con-

You might also like