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_A PINTURA DA VIDA MODERNA Paris na arte de Manet e de seus seguidores i J. Clark Conclusao Aquela que consi- deto a melhor critica da pintura modernista foi feica na época pelo joven escritor Camille Lemonnier. Em suas”Notas sobre a Exposi¢ao Universal” de 1878, eis 0 que ele teve a dizer sobre Degas, Manet, Caillebotte e Forain (fui literal na tradugao do francés staccato de seu texto): Nenhum deles parece possuir o sentido do quadro. Bles fazem fragmentos: limitam-se a certas especialidades de observacio; s6 sio familiarizados com alguns cantos da humanidade, os mais notaveis por sta ostensiva corrupgio. ‘Tém acima de tudo a percepgio da mulher imoral. Enconcram-se neles gesti- culagSes pavorosas de ills perdues. Fles freqitentai deliberadamente os posses- s03.Eles que se cuidem: essa também é uma das formas do virtuosismo oco.As profundezas curvas nas quais se derém apresentam aspectos extremados mais ficeis de fazer, e com um efeito mais acessivel, que o simples ordenamento da vida burguesa, tio dificil de expressar pelo fato de no ter surpresas.” A primeira frase de Lemonnier provavelmente nos soa excessiva, ela equivale a dizer que esses ¢ outros artistas alteraram de tal maneira nosso “sentido do quadro” que achamos dificil imaginar que outro sentido um bom critico pode ter tido. Mas as acusagSes que vém em seguida mantém 344 CONCLUSAO sua forca. Blas resultam em dizer, como este livro vem fazendo, que a pin- tura modernista accitou e retrabalhou um mito da modernidade segundo 0 qual o moderno eta sinénimo de marginal. O deslocamento e a incerteza foram assim tomados como a verdade da vida urbana e da percepeio, uma assegurando a outra. Venho empregando meu tempo na tentativa de suge- rira forga eas limitagdes dessa crenga, e enfatizei estas dltimas mais do que se costuma fazer. Em especial tenho sustentado,a exemplo de Lemonnier, que essa pin- turando encontrou um meio de retratar a classe adequadamente, ainda que “adequadamente’ nao deva ser entendido aqui como’simplesmente” ou’ine- quivocamente’, Ela nio foi capaz de engendrar uma iconografia da vida moderna, uma que fosse capaz de ser sustentada e desenvolvida pelas gera- 6es subsegiientes. Esse fracasso deriva acima de tudo,ameu ver, da percep- 40 equivocada do que era a classe e de como ela se mostrava, da crenga de queas categorias fundantes da experiéncia social s6 podiam aparecer —ou sé podiam ser representadas — como uma presenga absoluta do outro lado dos cédigos e das convencées, ou como lampejo, um bruxuleio apenas visi- vel, ele mesmo uma parte da regra geral de simulagao."O contetido [...] éum vislumbre’, disse um pintor modernista posterior:” essa ja era a regra da Olympia ou de Le Chanson du chien. ‘Tais conclus6es nao sao surpreendentes, em particular quando se acre- dita, como eu, que a percepcao de classe que acaba de ser delineada é funda- mental paraa ideologia burguesa, e que uma imagistica contraria teria de se basear em alguma forma de identificagao com os interesses e valores de outras classes na sociedade capitalista. Que Manet e seus seguidores nao tinham tal identificacao, é algo dbvio. Nao basta dizer que eles eram artis- tas burgueses; é preciso enfatizar, em vez disso, que sua pratica como pinto- tes — sua pretensio de ser modernos — dependia de estarem mais vincu- lados do que nunca aos interesses e habitos econdmicos da burguesia a qual pertenciam. O perfodo coberto por este livro foi descrito por Harrison Cynthia White como 0 da“emergéncia do sistema do critico-marchand”, ¢ os principais fatos apresentados como evidéncias para tal afirmacio mere- cem ser repetidos.’ No final da década de 1880, 0s pintores impressionistas 345 conctusio dependiam para seu sustento dos movimentos do mercado mundial daz sobretudo do segmento americano. Artistas como Monet tornaram- adeptos, sem ditvida com relutincia, de jogar um setor do mercado con: outro, ¢ ajustaram sua pratica 4 nova situacao contratual, As condigées mercado encorajavam o marchand a especular com a‘criatividade” de lo: ptazo dos artistas com quem trabalhava;e os artistas por sua vez aprendi acomercializaraquelamercadoria peculiar com algumtalento— nuttin ae refinando-a numa seqiténcia continua de exposicées, entrevistas elite: tura promocional, com o intuito de atingir 0 equilibrio certo entre inovacs econfiabilidade do produto, farejando os desejos aproximados do mere a0 mesmo tempo que mantinham (atéamorze) os protocolos da individ lidade ¢ da liberdade artistica. Essas eram as condicées determinantes da produgao attistica period. 1a por ser produzida sob tais circunstancias para servir aos in resses citados que a arte ndo conseguia encontrar outros fundamen! para a representacao além daqueles espetaculares que este livto desc: Se passei tanto tempo & procura de excegées & regra geral, nao foi p. sugerir que a regra nao é valida, ou queas excegdes eram mais que parci Nio obstante, elas merecem ser estudadas, primeiro porque me pa errado retratar a ideologia como um tecido sem emendas, e segundo que qualquer oposigao dos dias de hoje ao modernismo deve antes ter mente quanto a pintura moderna foi capaz de representar, pelo menos suas décadas iniciais. Para repetir 0 dbvio: pertencer a uma classe e co: partilhar sua tendéncia ideolégica nunca é uma questio de aceitagao ou de ajuste perfeito; uma ideologia apresenta seus limites e incoerén para uso possivel, mesmo para agueles que estdo no interior dos limi se certos artistas burgueses agora desejam transcender os parametros referéncia modernistas, isso os levard a descobrir que resquicios modernismo ainda podem ser empregados para representar 0 ponto vista do proletariado. E por essa razio que este livro termina com o quadro de Seurat Dim che aprés-midi a Vile de La Grande Jatte (ilustrag4o xxrx), e faz sobre ele seguintes afirmacdes: que ele tenta encontrar forma para a aparéncia 346 conciusio classe na sociedade capitalista, especialmente o aspecto das"nouvelles cou- ches sociales’; que as formas que descobre sao, em algum sentido, mais ver- dadeiras quea maioria das produzidas no perfodo; equesugere meios pelos quais a classe ainda poderia ser pintada. A ilha de La Grande Jatte, debrucada sobre 0 Sena entre Asniéres e Neuilly, era um dos lugares favoritos para os passeios préximos a Paris em nosso periodo — podia ser alcangada em questo de minutos por quem descesse dos trens que paravam em Clichy ou seguiam para Courbevoie. Em 1885 até mesmo os guias de viagem podiam permitir-se certa ironia diante de sua simulacao de natureza: Ailhade La Grande Jacte,sem ser um Eden campestre, oferece ajuventude parisiense encantos que esta iltima esta longe de desdenhar. Nos feriados, nos domiingos, num baile, cujo esplendor rivaliza com oluxo do Elysée-Montmar- tre, ecoam acordes interminAveis, as pessoas fazem refeicdes sobre o chao batido acteditando fazé-las sobre a relva, ¢ os balangos, os jogos de boliche e ; , 4 riro a0 alvo florescem no lugar das érvores ausentes. Ja havia quadros que apresentavam La Grande Jatte de modo seme- Ihante ao do guia de viagem. No Salio de 1878 um pintor chamado Roger Jourdain expds duas obras, Le Dimanche e Le Lundi, e quando ambas foram reproduzidas em L'llustration em junho daquele ano, o autor da legenda foi clato sobre o que significavam: Foi na ilha de La Grande-Jatte, entre Neuilly e Asnitres, que monsieur Jourdain foi comparar os passeantes de domingo e os de segunda-feira; perce- bemos os primeiros, numerosos e endomingados, a citcular ao longo da mar- gom,enquanto no interior da ilha os favorecidos pela fortuna encontram mais sombra e solidio. O gracioso bote de mogno foi puxado para a relva; foram tiradas dele as almofadas para que pudessem sentar as damas que temiam a umidade em suas roupas novas; depois foram sacadas as provisées, estendeu- se uma grande roalha sobre a relva verde, abriu-se o inevitavel paté e desarro- Iharam-se as garrafas... 347 CONcLUSAO Mas a sobremesa tem suas surpresas: eis que um dos passeantes vem do barco trazendo triunfalmente duas garrafas de champanhe; afinal, todo mundo tem direito de sentir sede!... Os funciondrios e empregados voltam ao escritério ea loja: estamos no dia do operirio. A champanhe de ontem deu lugar ao vinhozinho de Argenteuil; as pessoas jé nao se estendem despreocupadas sobre a relva, agora agrupam-se diance de mesas precitias, sobre bancos de taverna. Os jovens de ontem sentiam-se no direito de se divertir; os devotos da segunda-feira estdo inquietos; a lembranca da oficina atormentaseu espirito; as reprimendas que os aguardam perturbam a franqueza de seu bom humor; sera oe cs 5 preciso esvaziar varios litros ainda para afastar esses incémodos fantasmas. Oquealegendaestd descrevendo, a sua maneira jocosae evasiva,é como sedavaa luta de classes na ilha. A celebracao da Segunda-Feira Santa fora no passado um costume bem estabelecido junto A classe trabalhadora, as vezes assumindo um nitido viés anticlerical e antiburgués.’ Na década de 1870, 0 117, Roger Jourdain, Le Dimanche. Xilogravura a partir de uma pintura @ 6leo desaparecida, em L'ilus- tration, 15 de junho de 1878 348 CONCLUSAO costume estava se tornando anacrénico, com um toque quase pitoresco, e foi por isso, sem diivida, que Jourdain o considerou adequado para o Salio. A segunda-feira era o dia para os trabalhadores que nao tinham condigées de comprar um terno de segunda mio."Domingos’, diz um deles 20 outro num panfleto de1865,’simplesmente nao esto ao meu alcance:eu precisaria de trés meses de salario adiantado para estar & altura.” E 0 colega responde:“Estou vendo 0 que é que o impede; deixe que eu lhe diga, com franqueza de amigo: oavental eo bong’, Em outras palavras, os pobres preferiam a segunda-feira por uma questo de vergonha, uma vez que“nao havia roupa que prestasse, e eles nao queriam aparecer em publico aos domingos em trajes de operdrio".” 118. Roger Jourdain, Le Lundi. Xilogravura a partir de uma pintura a 6leo desaparecida, em Lilustration, 18 de junho de 1678. Jourdain pretende e consegue expressar a diferenca entre o pequeno- burgués e 0 operario porque ela se apresenta aqui, pelo menos na fantasia, como uma separagao nitida na qual cada classe conhece o seu lugar. Blas tém dias diferentes, bebidas diferentes, roupas diferentes e atitudes dife- rentes no que diz respeito a sentar-se na relva;e, embora ambas sejam um 349 CONCLUSAO pouco absurdas em seus prazeres, fica claro que uma ¢ inferior & outra. Nio existe tal certeza na pintura de Seurat, e os criticos que a viram pela primeira vez na exposi¢ao de 1886 foram com muita freqiiéncia sensiveis 2 esse fato.’ Eles pareciam conscientes de que 0 tema de Seurat em La Grande Jatte eva ambivalente: de que o pintor desejava mostrar a natureza da distincao de classe num lugar destinado ao prazer, mas também os varios aspectos que tornavamas distingdes dificeis de ser apreendidas. Era importante que as pessoas fossem parecidas, e que, apesar disso, fossem manifestamente diferenciadas nos detalhes. Eis, por exemplo, o que Jules Christophe, amigo deSeurat,escreveuem Le Journal des Artistes: Monsieur Seurat, por fim, com o temperamento de um méctiscalvinista, que plantou, com a fé de um Jean Huss, cingfienca personagens de tamanho natural na matgem do Sena, em La Grande Jatve, num domingo do ano de 1884, tentou captar as atitudes diversas correspondentes a idade, ao sexo ¢ extragio social: homens e mulheres elegantes,soldados, babés, bungueses, ope- ; 10 trios. Uma atitude corajosa.' O tema de Seurat, diz Henry Févre em La Revue de Demain, é “atigidez do lazer parisiense, desanimado e avacalhado, no gual a prépria recreagao & cheia de pose” (Ia raideur de la badauderie parisienne, compassée et avachie, et dont larécréation méme est poseuse)." Podemos mais uma vezestabelecer umacom- paragio com o veredicto de Jean Ajalbert, quando se dirige aos assinantes marselheses de La Revue Moderne: Monsieur Seurat pinta por toques pequenos e medidos; disso resulta uma uniformidade que corresponde a sua maneira de desenbar. Com um simples traco ele evoca aatitude, a roupagem tedrica de nossos dias, os ves- tidos que seguem as curvas do corpo e caem em linha reta, as blusas justas, os paletdsapertados,as calgas retas. Ele deixa de lado os acessorios, os baba- dos todas as afetacdes e nos oferece em vez disso um esquema — e bem sugestivo. 350 CONCLUSAO Passada a primeira sensagao de surpresa, a rigidez exagerada dos persona- gensse suaviza;o pontilhado cansamenoseumachuva de raios de sol atravessa afolhagem. Sio mesmo remadores & distincia, aquela seqiiéncia de camisetas brancas ¢ bonés vermelhos inclinados no mesmo angulo, tornando rosada a Agua; ¢ todas essas pessoas que mal diferem entre si, vestidas segundo 0 mesmo padrio, déo bem a impressio da vide incensa que flui, nos domingos de verio, 5 2 de Paris aos arredores. “Parisens! cherchant des fleurs sur les pavés!” [Parisienses! Buscando flores nas calcadas!): 0 interesse de Ajalbert no assunto é evidente. Mas eis o discreto Alfred Paulet, que até onde sabemos nao tinha nenhum envolvi- mento pessoal com o tema: A idéia de Monsieur Seurat se manifesta claramente. O pintor queria mos- trar o tediosoir e vir do passeio banal dessas pessoas endomingadas, que cami- rnham sem prazer pelos lugares onde se supe que devem caminhar aos domin- gos. O artista dew a seus personagens o gesto automatico de soldados de chumbo, cada um em sua base separada. Criadas, contadores, policiais, todos se movimentam com o mesmo ritmo lento e banal, todos parecidos, o que cer- tamente exptessaocardter da cena, mas o faz;com demasiada insisténcia. Além de dar apenas uma idéia geral das coisas a partir de um ponto de vista particu- lar, essa ideia geral é sublinhada com exagero. A observacio aqui ja no é mais original e detalhada, nao é mais penetrance: é superficial e levada a cabo de ‘ B acordo com uma férmula. Qu entao este comentario, do naturalista Paul Adam: Emesmo a rigidez das pessoas, sas formas incisivas, contribuem para dar o tom do moderno, a evocagao das nossas roupas de péssimo corte, apertadas no corpo, a reserva dos nossos gestos, ojargio britanico imitado por todos. Assumi mos atitudes semelhantes is dos personagens de Memling. Monsiewr Seurat . : meen viu, compreendeu, sentiu e traduziu isso com o desenho puro dos primitives. 3st CoNcLUSAO ‘Todos esses criticos, parece, estdo tentando compreender o equilib existente na obra de Seurat entre a diversidade do pormenor social e wi ‘execugéo uniforme e por assim dizer abstrata’.” Para alguns, 0 esquema- tismo e arigidez é que sio decisivos; mas penso que Ajalbert estava certo 20 identificar que as sintéticas linhas de contorno e os pequenos toques uni- formes nao estavam necessariamente em contradico coma impressio final de vida intensa."° A vida é intensa por toda.a sua rigidez, e isso porque cada forma separada é tao nitida e clara e, nao obstante, confinada por outras for- mas, tocando-as e com elas se entrecruzando, como se 0 quadro quase ni fosse grande o bastante para conté-las. (E um quadro imenso: trés metros de comprimento por dois de alcura.) La Grande Jatte € uma pintura em que abundam formas de precisio improvavel: cies e macacos em posturas perfeitas na sombra, sombrinhase trombones delineados contraaluz, baforadas de fumaga de charuto compa- radas a borboletas, chapéus ericados com abas ¢ flores, amas sentadas como escribas egipcios, as varetas de um leque em forma de arabesco sobrea relva; cinturas apertadas, anquinhas protuberantes, soldadinhos de chumbo, remadores idénticos, ¢, como nota final, as duas pontas, de uma saiae de um guarda-chuva, que aparecem como geometria pura e cémica no limite direito do quadro. As formas sao distintas e assim também, no conjunto, si 98 tipos sociais: um trabalhador com cachimbo, um burgués com charuto; uma mulher equipada para a tarde com dois romances ¢ um jornal, uma garota com um ramalhete de flores; um pai orgulhoso segurando o bebé enquanto a mae cuida de agasalhd-lo, uma bizarra cocotte chegando com um macaco; pessoas solitarias, grupos familiares, mulheres & solta sem damas de companhia. Uma pergunta que talvez quiséssemos fazer a respeito dessas pessoas, uma vez que esto reunidas em grupos e casais, é quem esté com quem. Qual dos passeantes esta sozinho na multidao, ¢ qual se senta com um amigo? Nem sempre ¢ ficil ter certeza. O trio no primeiro plano a esquerda, por exemplo, consiste de um trabalhador, aparentemente, todo estendido na grama, vestido com uma camiseta sem mangas e boné de jéquei, fu- mando um cachimbo comprido; a seu lado, a dama com os romances € 0 352 CONCLUSAO leque; depois dela um pequeno funciondrio realizado a perfeicao, positiva- mente suando com propriedade, segurando sua bengala e mantendo o cha- péu na cabeca (ilustracao xxx). B pouco provavel que os trés tenham saido juntos para passaro dia (os dois iltimosaré podem teraverum como outro, mas nada em seu posicionamento sugere isso); contudo, ali estdo todos a ocuparamesma fatiadeespago edesombra.E o sentido desse agrupamento — o sentido dos angulos desajeitados e dos perfis absolutos, a sombra que divide ao meio o busto da dama, seus pés que surgem em meio & fumaca do cachimbo, uma drvore que brota da cartola do funcionario — me parece ser o de sugerir a estranheza da justaposigao. A classe esté presente aqui, ine- quivocamente, mas 0 fato de trabalhadores e burgueses dividirem prazeres idénticos nao resulta, neste caso, nama mobilidade infinita, e sim num esforgo dealcancar um modus vivendi, em que cada um concordaem ignorar © outro, tragando fronteiras invisiveis e mantendo-se voltado para si mesmo. O sinal desse esforco é 0 tratamento cémico dado pelo quadro & forma: suas rimas, cangentes e interrupcées, sua simetria insensata e suas silhuetas padronizadas. Os criticos estavam corretos em 1886: hé uma aparéncia de uniformi- dade em La Grande Jatte, pelo menos na superficie, mas essa confirmacao tornaa diferenga mais saliente quando ela ocorre; faz com que prestemos atengio nos signos de“idade, sexo e classe social” de maneira especial, coma percepeao agucada de sua singularidade e de sua compartimentalizagao. A comédia que resulta disso é formal: éimponente e contida, e nao suscita dis- cursos irénicos a custa da pequena burguesia. Os personagens, em sua maior parte, nao s4o concebidos para serem engracados — deixemos de lado 0s soldados eo macaco—, maso padrio geral de refreamento edistin- ¢40 certamente é.” Basta que retornemos ao Dimanche ¢ ao Lundi de Jourdain para que a questo fique clara. O tema de Seurat, por contraste, éa mistura de classes, néo sua nitida separacio; é a textura elaborada de controles e cautelas que as classes trazem consigo ao local de prazer — tanto 0 trabalhador como 0 burgués, tanto a prostituta como o soldado de chumbo. A cena resulrante é enorme e ordenada; pode-se compreender a afirmagio de Seurat de que 353 CoNcLUsAO desejava que o observador visse nela uma nova versio da procissio das Panatenéias de Fidias, comes modernos movendo-se do mesmo modo, & maneira de um friso, reduzidosa sua esséncia’.”““O quadro € épico, éisso pre- sumivelmente o que Seurat queria dizer: grande em escala e positivo na ati- tude geral diante dos eventos que escolhe; preocupado em dar-lhes forma definitiva, e sem medo de repetir-se um pouco no processo, ou de saborear as complicacées acidentais erigidas pelos detalhes intrincados e brilhantes; seguro, acima de tudo, de que o que é mostrado o é historicamente, uma ordenacao nova e grandiosa dos mais importantes assuntos do momento.” Um desses assuntos era decerto a liberdade, e aquelas pessoas esto ao ar livre para mostrar umas As outras que a possuem — na forma dos novos vestidos e dos jornais, da coragem de passear com um macaco, do tempo para fumar um cachimbo, da possibilidade de sair de casa sem uma dama de companhia e de nio ter relagao alguma com os vizinhos. Sem diivida essas coisas sao liberdades, e o prego pago por elas é alto. (“Ser4 que o marido cobra impostos do Congo para o sustento do macaco®”, perguntou uma vez Delmore Schwartz.) Mas num certo sentido elas ja se cristalizaram, no qua- dro de Seurat, numa subcultura e se tornaram acessiveis ao bom humor do guia de viagem. O prazer é um superdvit aqui proporcionado; o moderno é o marginal, afinal, entéo a periferia agora étdo bem policiada quanto 0 cen- tro — policiada pela moda e pela respeitabilidade, pelo desejo de nao ficar de fora, de nao cometer uma gafe ou enfrentar situacées desagradaveis. E concebida para ser maravilhosa, essa delicada natureza-morta de chapéu * Varios criticos de1896 pareciam conscientes deque essa e:aa medida da ambisio de Seurat, quer conside- rassem ounio seu quadroum sucesso."Ao mesmo tempo’ escreve Maurice Hermelem La France sirele bbusca a sintese perfica do passeante suburbano. Um homem com uma vara de pescar, um simples calicot sentado na relva slo fixados na arieude hieriica adocada pelas bis nos obeliscos. Caminhantes endomin- gados & sombra das drvores da Grande Jatce assumem o aspecto simplificado e definitive de um cortejo de fara6s' [Ex méme temps cherche la syseabolue da promencar suburban. Un picheur la ligne un simplecalicet assis sur Therbe se fixent dans atitudebirarigue qu'afctent eis ur les obliaues. Des flineursendimenchés sous kesombrages dela Grande ate prennent lure simplfce d'un cortege de pharaons]-A imagem do calico como fara6 pareceadequada aqui. Ela indica. espécie de peso histrico quea meu ver Seurat pretendia que tivesse sua estranha miseura dobanal com hieritico. Os noveshomens — oshomens narelva da Grande Jarte— sio {io famimtosde forma defintiva como foram em outros tempos os conscrurores das pirimtides;e Seurat esta quase prontoa conferir-Ihes a mesma imortalidaderigida. Sua rigidez pode ainda provar sua forca. Elessio os fazedores da histéria agora,ea pintura nao pode mais se permitir desdenhi-los, 354 CONCLUSAO preso A cabeca e de sombrinha cor-de-rosa aberta na sombra, mas também um pouco grotesca; os corpos e trajes sio réplicas deles mesmos, nao pro- priamente a coisa verdadeira; os pontos de luz sao decentes e meticulosos,e mantém uma distancia segura daquilo que sio instados a retratar; a decisio de despir-se até ficar de camiseta sem mangas é uma decisio grave, que a maioria dos cavalheiros nao toma; até 0 mato no rio flutuou com discri¢ao até formar um paralelogramo. Os limites da modernidade estao claros nesse caso. O pintor deu-se ao trabalho de exprimi-los sem equivocos,e de expé-los a uma leitura cri- tica. Nao acho que ojulgamento de Lemonnier se aplique muito bema La Grande Jatte. Como uma espécie de coda, quero encerrar com alguns pardgrafos do artigo de Stéphane Mallarmé sobre“Os impressionistas e Edouard Manet’. Nio équea visio de Mallarmé possa servir de epitome das teses deste livro; a0 contrario, seu otimismo quanto & arte ¢ & democracia me parece ampla- mente equivocado, por razées que a esta altura devem estar bastante claras. Mas minha intengao é indicar por que tal otimismo foi possivel, tanto quanto equivocado. Portanto, espero que o leitor seja compassivo, ainda que fique um pouco perplexo, com o desdenho de Mallarmé pela historia da arte desde a Renas- cenga, ao qualificé-la como uma série de tentativas de “decorar os tetos dos saloesepalicios com uma multidio detiposidealizadosem magnifica perspec- tiva’,” e sua conclusio de que as relagées entre a pintura eo poder serio dife- rentes a partir de agora, O otimismo, repito, nio se confirmou, eas ironias que aguardavam a profecia final de Mallarmé — de que a nova arte poderia mos- trar-se diretamente til 2s massas quando elas tomassem o Estado — nao pre- cisam ser reiteradas. O impressionismo tornou-se muito rapidamente o estilo doméstico da alta burguesia, eem alguns sentidos sua degeneracao em decora- sao para Palm Springs e Park Avenue é bem merecida; ela diz a verdade sobre a complacéncia dessa pintura para com a modernidade, Ha porém outros aspectos naarte de Manet, e Mallarmé insiste neles, de maneira nada absurda: 355 356 CONCLUSAO Numa época em que a tradi¢ao romantica da primeira metade do século s6 subsiste entre uns poucos mestres remanescentes daquela época, a transigio entreo velho artista e sonhador imaginativo eo enérgico trabalhador moderno encontra-se no impressionismo. A participasao de uma gente até entao ignorada na vida politica da Franca éum fato social que glorificar4 todo o final do século x1x. Encontra-se| um para- lelo nas questées artisticas, com o caminho sendo preparado por uma evolucdo que o piblico consagrou com rara presciéncia, desde sua primeira aparigio, Intransigeant, que em linguagem politica significa'radial e democrético". Osnobres visiondrios de ourras épocas, cujas obras sio a imagem de coisas mundanas vistas por olhos nio mundanos (néo as representacoes reais de objetos reais), aparecem como reis e deuses nas longinguas eras sonhadas da humanidade; reclusos aos quais era dado 0 dom da soberania sobre uma mul- tidéo ignorante. Mas hoje a multidao exige ver com seus proprios olhos; e se nossa arte recente é menos gloriosa, intensa e rica, nao deixa de ter a compen- sacao da verdade, da simplicidade e do encanto infantil. Nesta hora critica para raga humana, em quea natureza deseja trabalhar Por conta prépria, ela requer que certos amantes seus — homens novos impessoais sicuados diretamente em comunhio com o sentimento de seu tempo — desatem as amarras da educacao para deixar a mio eo olho fazer 0 que querem, para que assim, por intermédio deles, ela se revele. Pelo mero prazer de fazer isso? Decerto que nao, mas para expressar asi prépria, calma, nua, habitual, aos que virdo amanha, cada um dos quais con- sentird em ser uma unidade desconhecida na poderosa cifra de um sufragio universal, ¢ em colocar em seu poder coletivo um meio mais novo e mais F 51, sucinto de observa-la. NOTAS 90. Por exemplo, em 1877; em um artigo de“E. B” em La Revwe Parisienne, de 23 de novembro de 1877, lé-se que os novos proprietarios do estabelecimento pre- tendem mudar o lado moral: “Il tend a donner moins d'importance & ses prome- noirs’, O escritor manifesta confianga de que isso logo torne obsoleta uma matéria inciculadaUne soirée aux Folies-Bergére”, publicada no mesmo jornal, na qual um certo Milord Williams havia encontrado uma variedade de vadias — incluindo“as mulheres de balcio”. Nao hé evidéncia alguma de que os novos proprietérios tenham sido bem-sucedidos. ot, Guide secret de Pétranger célibataire 4 Paris, p. 4:“Célébre par ses promenoirs, son jardin, ses aetractions toujours nouvelles ex son public de jolies femmes”. Esse guia, publicado em Bruxelas, é na esséncia uma lista de bordéis. 92. Eugéne Manet recorda, numa carta a Berthe Morisot de abril de 1882 (em. Correspondance de Berthe Morisot avec sa famille et ses amis, D. Rouart, org,, p. 107), 0 trabalho exaustivo de seu irmao: “Tl se prépare un four pénible a Exposition. IL refait coujours le méme tableau; une femme dans un café”, 93. Maupassant, Bel-Ami, p. 16. 94. Ver a insisténcia dos criticos nesses fatos: Du Seigneur, Alexis, Houssaye, Le Senne. 95. Sobre o interesse de Degas na fisionomia, ver Theodore Reff, Degas: the artist’s mind, pp. 219-20; do mesmo autor, The notebooks of Edgar Degas, 1117 (cader- no 23, p. 44, sobre Lavatet), 1: 139-40, ¢ 2: caderno 33, cabesa de criminoso, carica- turas etc. Comparar com Edmond Duranty, La Nouvelle peinture: « propos du groupe artistes qui expose dans la Galerie Durand-Ruel, eM. Crouzet, Un méconnu du réalisme: Duranty (1833-1880), LHomme — Le Critique — Le Romancier, pp. 331-44, sobre as relagoes entre Degas Duranty em 1876; pp. 248-9 e 456-7, sobre ‘Sur la physiono- mie’, artigo de 1867 de Duranty. Na sexta exposi¢4o impressionista, em 1881, Degas exibiu dois estudos“fisiondmicos’ de criminosos. ConetusAo (Pp. 344-56) x. Camille Lemonnier, Les Peintres dela vie, p. 2uz“Aucun deux ne parait pos- séder le sens du tableau, Ils font des fragments; ils sen tiennent & des certaines spé- cialités observation; ils ne sont familiarisés qu'avec de certains coins de Thumanité, les plus saillants par leur corruption étalée. Ils ont surtout la sensation de la femme malsaine, Ily a dleux d'effroyables gesticulations de filles perdues. Ils hantent volontiers les exaspérés. Quills prennent garde: ceci encore est une des for- mes de la virtuosité. Les fonds roubles auxcquels ils s'attardent ont des cétés exces- 428 NOTAS sifs plus faciles a faire et d'un effet plus accessible que la simple ordonnance de la vie bourgeoise, si ardue & exprimer par cela quelle est sans surprises". 2, Willem de Kooning, “Content is a glimpse”, Location, primavera de 1963 p 45-8:“O contetido, se vocé quiser defini-lo, é um vislumbre de algo, um encontro, sabe, como um flash. E minisculo, muito mintisculo, 0 contetido”. 3. Ver Harrison e Cynthia White, Canvases and careers: institutional change i French painting world, cap. 5. 4. Louis Barron, Les Environs de Paris, p. 30:"Lile de la GrandeJatte, sans écre un Eden champétre, offre a la jeunesse parisienne des charmes que celle-ci est loin de dédaignet. Les jours fériés, les dimanches, un bal, dont la splendeur rivalise avec Ie luxe de 'Elysée-Montmartre, y retentit daccords interminables, on y fait sur le sol dénudé des repas que l'on croit manger sur I'herbe, et les balancoites, les jeux de tonneau et de quilles fleurissent & la place des arbres absents", 5. Lllustration, 15 de junho de 1878, pp. 390-1:*C'est dans Tile de la Grande- Jatte, entre Neuilly ec Asnitres, que M. Jourdain est allé comparer les promeneurs du dimanche et ceux du Iundi, nous apercevons les premiers, nombreux et endi- manchés, qui circulent le long de la berge, tandis que dans Ile les favorisés de la for- tune ont trouvé plus d’ombre er de solitude, Le gracieux canot acajou a été tiré sur Therbe; on en a enlevé les coussins pour asscoir les dames qui redoutaient Ihumidité pour leurs robes neuves; puis on a sorti les provisions, on a étalé une grande nappe sur Iherbe verte, on a ouvert le paté réglementaire et décoiffé les bouteilles cachetées. “On venait de loin, l'appétic étaic vif} on a fait honneur au déjeuner... Mais le dessert a ses surprises: voici l'un des canotiers qui revient du bateau portant triom- phalement deux bouteilles de champagne; on a encore le droit davoir soit... “Employés et commis sont rentrés au bureau et au magasin: nous sommes au jour de fouvrier. Le champagne de la veille a faie place au petit vin d’Argenteuil; on ne sétend plus follement sur Iherbe, on se groupe devant de mauvaises tables, sur les banes du cabaret. “Les gens de la veille se sentaient le droit de s'amuser; les amateurs du lundi sont soucieux; le souvenir de latelier hante leur esprit; les reproches qui les ate dent génent la franchise de leur bonne humeur; il faudra vider plusieurs litres enco- re pour éloigner ces fantémes ficheux’. © autor da legenda termina descrevendo casualmente 0 sucesso dos quadzos no Salo, e sustenta que eles so “appréciées par ceux du dimanche et par ceux da lundi’. Devo esta referéncia a Joan Weinstein, que apresentou os quadros ¢ 2 lege=- da num trabalho para um semindrio de graduagio na woLa em 1975. Os quad=os sem a legenda, foram mais tarde reproduzidos em "Meaning in Seurat’s fleuse pains ing’, de J. House, Art History, serembro de 1980. NOTAS 6. Ver a discussio sobre Segunda-Feira Santa em M. Perrot, Les Ouvriers en gneve: France 1871-1890, 2: 225-9. 7. P. Lelitvre, Les Ateliers de Paris, 1865, p. 35, citado em Perrot, Les Ouvriers, 2: 226. (Leliévee era carpinteiro.) 8. Ibid, p. 48. 9. Das criticas que eu cito, uma (Christophe) nao foi incluida na valiosa biblio- grafia e na coletanea de excertos em Seurat: LOewore peint, biographie et catalogue criti- que, de Henti Dorra e John Rewald; duas outras (Ajalbere e Adam) foram inelui- das, mas nao citadas. Desse modo, a abordagem de Dorra e Rewald subestima um Pouco 0 interesse dos criticos de 1886 pelas circunstancias sociais da pintura de Seurat, embora esceja claro que naquele momento negligenciar ou omitir deliberadamente tais detalhes era uma escratégia critica estabelecida da vanguarda, Félix Fénéon e Emile Vethaeren a empregam, mas Christophe e Ajalbert nao. 10. Jules Christophe,"Chronique: Rue Laffitte n° 1”, Le Journal des Artistes,13 de junho de 1886, p. 194:"M. Georges Seurat, enfin, tempérament de martyr calvinis- te, quia planté, avec la foi d'un Jean Huss, cinquante personnages de grandeur natu- relle, sur le bord de la Seine, a la Grande-Jatce, un dimanche de I'an 1884, en essa yant de saisir les attitudes diverses de lage, du sexe et du classement social: légants et élégantes, soldats, bonnes denfants, bourgeois, ouvriers. C'est crane cela. M. Georges Seurat a, encore, quatre pécheurs prés d'une barque qui sont d'une chimie trés vraie, ainsi que des vues de mer fort justes et des dessins qui ont su plaire 4 [auteur des Soeurs Vatard, honneur point mince”. A conjuncdo na iltima frase de referéncias & “quimica’ e a Huysmans € tipica de 1886. 1, Henry Févre, La Revue de Demain, maio-junho de 1886, p. 149, citado em Seurat, de Dosra e Rewald, p. 160. 12, Jean Ajalbert, “Le Salon des Impressionistes”, La Revue Moderne (Marselha), 20 de junho de 1886, p. 392:“M. Seurat peint par petites touches, mesurées; il en résulte une uniformité en rapport avec la fagon de dessiner. D'un trait simple il évo- que lartitude, le costume théorique de nos jours, les robes moulantes et tombant droit, les corsages ajustés, les vestons collants, les pantalons fourreaux. Il délaisse le fanfreluche, les breloques et toures afféceries pour tun schéma — bien suggestif. “La premiére impression de surprise passée, la raideur exagérée des personna- ges Samollit; les poincillés faciguent moins et averse des rayons pleut & travers les feuillages. “Cest bien des canotiers, de loin, cette fuite de vareuses blanches et de cas- quettes rouges dans une seule inclinaison, rosant Feau, et tous ces gens différant & peine, vétus sur le méme patron, donnent bien limpression de vie intense qui afflue, les dimanches d’été, de Paris aux banlieues”. 430 NOTAS 13. Alfred Pauler, Paris, 5 de junho de 1886, citado em Seer Rewald, p. 160. 14- Paul Adam,"Les Peintres impressionistes”, La Revue Contemporaine, L Politique et Philosopbique 4, n° 4 (1886): 550; a integra do comentario de Adam mere ce ser teanscrita para sugerir o equilibrio alcangado entre discussio"técr pretacio ‘social’:"Personne ne comprit la beauté de ce dessin hiératique, la juss des tentes jaunes oit la foule des pezsonnages se rapetisse graduellement vecs fonds. Le bois senfonce droit; ni bosquet, ni branche gui marquent les plans s sifs, et les points de repére, ainse que le veut, & tort, la coucume. Rien de £2 cee profondeur obrenue sans méme que les tons se dégradent: jusqulaux quiveraient les points difficiles, Une extraordinaire gamme de tons. Des roses de soe sur la robe d’un baby, proches des roses de laine sur la robe de la mére; tore tune de ference supériewrement notée. Et méme la raideur des gens, les formes 2 I: pitce contribuent 4 donner le son du moderne, le rappel de nos costumes é=rig feuilles les valeurs sont maincenues. Tout apparait clair, net, sans brumes © collés au comps, la réserve des gestes, le cant britannique par tous imité. Nows a= nons des attitudes pareilles a celles des personages de Memling. Monsieur Seaxat Ya parfaicement vu, compris, concu et traduit avec le pur dessin des primiife 15. Frase de Félix Féngon em "Le Néo-Impressionnisme’, L’Art Moderne de Bow xzelle, 12 de maio de 1887, citada em Ocuvres plus que completes, de Bélix Pénéon, 16. Comparat com Jules Vidal, "Les Impressionnistes”, La Lutéce, 29 de junho:"J'aime moins les personnages un peu angulaites de son gran mais Cest bien la lourde aprés-dinée du dimanche d'évé, 4 la Jatce, ses canotiers = plein soleil, son public baroque, son atmosphire de banlicue’. 19. Ver Maurice Hermel, “Exposition de peinture de la rue Laficte”, La Fe Libre, 28 de maio de 1886:"Le tableau-manifeste de M. Seurar, enseigne d'une nouvelle, dite de la Grande-Jatte, avec son symbolisme moderne, ses nowrrices. ses rourlourous [soldados] et ses canotiers schématiques, ne manque ni de gaieré. mi de pédantisme, ni de valeur. II prociame bien haut les droits de la peinture 3 la déco position des rons, il esc bourré d'intentions et de préventions, il ese exerém ut comigue et non moins intéressant”, 18. Conforme o relato de Gustave Kahn, “Chronique”, La Revue Indéve janeiro de 1888, p. 142. 19, Stéphane Mallarmé, “The impressionists and Edouard Manet’ thly Review, 30 de setembro de 1876, p. 122. 20. Ibid., pp. 121-2.

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