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O SUPREMO PROPOSITO DE DEUS Exposico sobre Efésios 1:1 - 23 D.M. LLOYD-JONES FES PUBLICACOES EVANGELICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059-970 — Sao Paulo - S.P. Titulo original: God’s Ultimate Purpose Editora: The Banner of Truth Trust Primeira edig&o em inglés: 1978 Copyright: Lady E. Catherwood Tradugio do inglés: Odayr Olivetti Revisio: Antonio Poccinelli Capa: Ailton Oliveira Lopes Primeira edigéo em portugués: 1996 Impressio: Imprensa da Fé PREFACIO Este volume consiste de sermdes pregados nos domingos de manh§ no curso do meu ministério regular na Capela de Westminster, Londres, durante 1954 — 1955. Alguns leitores podem estar curio- sos quanto a por que eles ndo apareceram no Registro de Westminster (“The Westminster Record”) e por que foram precedidos, na forma de livro, por meus sermées sobre Efésios, capitulo 2, sob o titulo God’s Way of Reconciliation, e sobre 0 capitulo 5:18 até o fim desta mesma Epistola, que apareceram sob os titulos Life in the Spirit”, The Christian Warfare e The Christian Soldier. * A explicagio é que eu achei que os temas tratados naqueles volumes eram de relevancia mais imediata. Rendi-me também a pressio que foi exercida sobre mim por aqueles que achavam que havia urgente necessidade de orientagio baseada nas Escrituras sobre as questées gerais da paz entre as nagdes, do problema do racismo e dos crescentes problemas na drea das relagdes entre maridos e esposas, pais e filhos, senhores e servos, e também sobre problemas criados pelas seitas, pelas religides orientais e pelo novo interesse pelo oculto. Estou pronto a confessar que, ao adotar este procedimento, bem pode ser que me pese a culpa de permitir que o meu coragao pasto- ral governasse 0 meu entendimento teolégico, e especialmente o meu entendimento do invari4vel método do apdstolo Paulo. A minha tinica defesa é que naqueles outros volumes eu salientei repetidamente que s6 se pode entender o ensino a luz da grande doutrina que o apéstolo formula neste primeiro capitulo, E agora espero fazer plena reparagio neste volume, e, “querendo Deus”, nos futuros volumes sobre os capitulos 3, 4 e 5:1-18. " Os quatro livros af mencionados jé foram publicados em portugués pela PES, com os seguintes titulos e nas seguintes datas: Reconciliagdo: O Método de Deus (1995), Vida no Espirito (1991), O Combate Cristéo (1991), e O Soldado Cristdo (1996), Nota do tradutor. O nosso mundo est4 num estado de completa confusao e, que pena, dd-se o mesmo com a Igreja Crista e com muitos cristos indi- viduais. Seré ocioso chamar pessoas para ouvif-nos, se nds mesmos estivermos inseguros quanto ao que queremos dizer com as expres- sdes “cristio” e “Igreja Crista”. Neste primeiro capftulo desta Epistola aos Efésios, o apéstolo trata dessas mesmas questées de maneira a mais sublime, fazendo-nos lembrar desde 0 inicio que fomos abengoados “com todas as béngios espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Ele prossegue, dizendo que essa verdade se refere aos crentes judeus e gentios, que o poder da ressurreigdo esta operando em cada um de nés e na Igreja, que é o Seu corpo. A Epistola aos Efésios é a mais “mistica” das Epistolas de Paulo, eem nenhum outro lugar a sua mente inspirada se eleva a maiores alturas. Nao ha maior privilégio na vida do que ser chamado para expor 0 que Thomas Carlyle denominou “infinidades e imensidées”! S6 posso orar e esperar que Deus abengoe os meus indignos esfor- GOs, e use-os para ajudar muitos a se elevarem A altura da nossa “alta’’ou “soberana vocacao em Cristo Jesus” e libertar aqueles cujas vidas até aqui estao “presas a frivolidades e misérias”. Devo agradecer 4 Srta. Jane Ritchie, que bondosamente fez a transcrigao do original, e também, como sempre, a Sra. E, Burney, ao Sr. S.M. Houghton e 4 minha esposa pela costumeira ajuda e encorajamento que me deram. Londres, agosto de 1978 D.M.Lloyd-Jones CHEN AWAYN . “Selados com o Espirito” . A Natureza da Selagem (1) . . A Natureza da Selagem (2) . . Experiéncias Reais e Falsas. . Problemas e Dificuldades Concernentes 4 Selagem . Provas da Profissio de Fé Crista . “O Pai da Gléria” .. . O Cristo e o Seu C Introdugio “Santos ... e Fiéis em Cristo Jesus” Graga, Paz, Gloria . A Alianga Eterna “Todas as Béngios Espirituais nos Lugares Celestiais” . “Nos Lugares Celestiais “Nos Elegeu Nele” ... “Santos e Irrepreensiveis diante dEle em Amor” Ado¢ao Superior a Adio. A Gloria de Deus “No Amado” Redengao.... “Pelo Seu Sangue” “As Riquezas da Sua Graca” O Mistério da Sua Vontade.. Todas as Coisas Reunidas em Crist “Nés ... Também V6s” .... “O Conselho da Sua Vontade” Ouvistes, Crestes, Confiastes “O Penhor da Nossa Heranga’’... Sabedoria ¢ Revelagdo ....ssssesssesseennersee 31. 32. 33, 34, 35. 36. 37. “A Esperanga da Sua Vocagio”..... sesreeesee 349 “As Riquezas da Gléria da Sua Heranga nos “A Sobreexcelente Grandeza do Seu Poder” . “Sobre Nés, os que Cremos” Seu Poder do Comego ao Fim “A Igreja, que E o Seu Corpo’ A Consumagio Fina 10. 11. O SUPREMO PROPOSITO DE DEUS Efésios 1: 1-23 Paulo, apdstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estiio em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus. A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo. Bendito o Deus ¢ Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abengoou com todas as béngaos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundagao do mun- do, para que féssemos santos e irrepreensfveis diante dele em caridade; E nos predstinou para filhos de adogio por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplacito de sua vontade, Para louvor e gléria da sua graga, pela qual nos fez agrada- veis asi no Amado, Em quem temos a redengio pelo seu sangue, a remissao das ofensas, segundo as riquezas da sua graga Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudéncia; Descobrindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo, De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispen- sagao da plenitude dos tempos, tanto as que estao nos céus como as que estio na terra; Nele, digo, em quem também fomos feitos heranga, haven- -do sido predestinados, conforme o propésito daquele que 12. 13. 14, 15. 16, 17. 18, 19. 20. 21. 22. 23. faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; Com o fim de sermos para louvor da sua gléria, nés, os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vés estais, depois que ouvistes a pala- vra da verdade, o evangelho da vossa salvagiio; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espirito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa heranga, para redengiio da possessao de Deus, para louvor da sua gléria. Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vés hé no Senhor Jesus, e a vossa caridade para com todos os santos, Nao cesso da dar gragas a Deus por vds lembrando-me de v6s nas minhas oragGes; Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da gléria, vos dé em seu conhecimento 0 espirito de sabe- doria e de revelacao; Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperanca da sua vocagiio, e quais as riquezas da gloria da sua heranga nos santos; E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nés, OS que cremos, segundo a operagao da forga do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o & sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, ¢ potestade, e dominio, e de todo 0 nome que se nomeia, nao sé neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas 0 constituiu como cabega da igreja, Que € 0 seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos. 1 INTRODUCAO “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estdo em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus.” — Efésios 1:1 Ao abordarmos esta Epistola, confesso francamente que o fago com considerdvel atrojo. E muito dificil falar dela de maneira comedida por causa da sua grandeza e da sua sublimidade. Muitos tentaram descrevé-la. Um escritor a descreveu como “a coroa e climax da teologia paulina”. Outro disse que ela é “a destilada esséncia da religiao cristi, o mais autorizado e 0 mais consumado compéndio da nossa santa fé crist@”. Que linguagem! E de maneira nenhuma é exagerada. Longe de mim querer competir com os que assim tem procu- rado descrever esta Epistola, mas me parece que qualquer descri¢éo geral que dela se faga deve observar de modo especial certas pala- vras que lhe sao caracterfsticas, e que o apdstolo usa mais vezes nela, talvez, do que em qualquer outra Epistola. O apédstolo fica maravilhado ante o mistério, as glorias e as riquezas do método de redengiio de Deus em Cristo. Como eu mostrarei, estas so as pala- vras que ele usa com muita freqiiéncia — a gléria disso, o mistério e as riquezas do método de redengiio de Deus em Cristo! Outra maneira pela qual se pode expor a caracteristica peculiar desta grande Epistola é mostrar que esta é uma carta na qual o apés- tolo olha para a salvagdo cristé da vantajosa posi¢&o dos “lugares celestiais”. Em todas as suas Epistolas ele expde e explica 0 cami- nho da salvacdo; ele trata de doutrinas especificas, ¢ de discussdes ou controvérsias que tinham surgido nas igrejas. Mas o peculiar trago e caracteristica da Epistola aos Efésios é que aqui o apéstolo parece estar como ele mesmo diz, nos “lugares celestiais”, ¢ dessa posigao especial ele esté contemplando o grandioso panorama da salvagao e da redengio. O resultado é que nesta Epfstola ha muito pouca controvérsia; e isso porque o seu grande interesse foi dar aos Efésios, e a outros aos quais a carta é dirigida, uma viso panora- 11 mica desta maravilhosa e gloriosa obra de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor. Da Epistola aos Romanos Lutero diz: “ela é 0 documento mais importante do Novo Testamento, o evangelho em sua expressio mais pura’’, e em muitos aspectos eu concordo que nao existe expo- sigéo mais pura e mais clara do evangelho do que na Epistola aos Romanos. Aceitando isso como certo, eu me aventuro a acrescen- tar que, se a Epistola aos Romanos é a expresséo mais pura do evangelho, a Epfstola aos Efésios é a expresso mais sublime e mais majestosa dele. Aqui o ponto de vista € mais amplo e maior. Hi declaragGes e passagens nesta Epfstola que realmente frustram qual- quer tentativa de descrig&o. O grande apéstolo empilha epiteto sobre epiteto, adjetivo sobre adjetivo, e ainda assim nao consegue expressar-se adequadamente, Ha passagens no cépitulo primeiro, e outras no capitulo 3, especialmente mais para o fim dele, em que 0 apostolo € transportado acima e além de si préprio, e se perde e se abandona numa explosio de adoracao, louvor e ag&o de gragas. Reitero, pois, que em toda a extensdo das Escrituras nao ha nada que seja mais sublime do que esta Epistola aos Efésios. Comecemos procurando ter uma visdo geral dela, pois sé poderemos captar e entender verdadeiramente as particularidades se fizermos uma firme tomada do conjunto todo e da exposi¢gio geral. Por outro lado, aqueles que imaginam que ao fazerem uma tosca divisio da mensagem desta Epistola de acordo com os capitu- los terao tratado dela adequadamente, exibem a sua ignorancia. E quando passamos aos detalhes que descobrimos a riqueza; um sumério da sua mensagem é muito Util como comego, porém é quando chegamos as declaragSes particulares e ds palavras indivi- duais que encontramos a gléria real exposta & nossa maravilhosa contemplagao. O tema geral da Epistola € proposto logo no seu primeiro versiculo, Isso é caracteristico do apéstolo; ele nao péde refrear-se, e parte imediatamente para o seu.tema. “Paulo, apdstolo Jesus Cristo, pela vontade de Deus” — af esté! O tema da Epistola, primei- ramente e acima de tudo, é Deus — Deus 0 Pai. “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” O apédstolo Paulo sempre comeca dessa maneira, e 6 assim que todo cristo deve comegar. Esse é 0 tema que domina tudo o mais. Nunca houve perigo de que 12 Paulo se esquecesse disso, pois mais que ninguém ele sabia que tudo é de Deus e por Deus, e que a Ele se deve dar gléria para todo o sempre. A Biblia é 0 livro de Deus, é uma revelagdo de Deus, e 0 nosso pensamento sempre deve comegar com Deus. Grande parte do problema da Igreja hoje deve-se ao fato de que somos muito subje- tivos, muito interessados em nés mesmos, muito egocéntricos. Esse € 0 erro peculiar ao presente século. Tendo-nos esquecido de Deus, e havendo--nos tornado to interessados em nés mesmos, tornamo- -nos miserdveis e infelizes, e passamos 0 tempo em “frivolidades e misérias”. Do principio ao fim, a mensagem da Biblia tem o propé- sito de levar-nos de volta a Deus, humilhar-nos diante de Deus ¢ habilitar-nos a ver a nossa verdadeira relagao com Ele. E esse é 0 grande tema desta Epjstola; ela nos pde face a face com Deus, com o que Deus ée com o que Deus fez e faz; toda ela salienta a gléria e a grandeza de Deus — Deus, o Eterno, Deus sempiterno, Deus sobre todos —e a indescritivel gloria de Deus. Este tema grandioso apa- rece constantemente nas diversas frases que o apdstolo emprega. Aqui vio exemplos - “E nos predestinou para filhos de adogio por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplacito da sua von- tade”; “descobrindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo”; “em quem também fomos feitos heranga (ou “obtivemos uma heranga” — VA inglesa), havendo sido predestinados, conforme o propésito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Deus, 0 eterno e sempiterno Deus, auto-suficiente em Si mesmo, de eterni- dade a eternidade, que nao necessita da ajuda de ninguém, vivo, que habita em Sua gléria duradoura, absoluta e eterna, é o grande tema desta Epistola. Nao devemos comegar examinando a nés mesmos e as nossas necessidades microscopicamente; devemos comegar com Deus, e esquecer-nos de nés. Nesta Epistola somos como que levados pela mao do apéstolo, e nos é dito que nos vai ser dada a oportunidade de ver a gléria e a majestade de Deus. Ao aproximar-nos deste estudo, parece-me ouvir a voz que na antigiii- dade veio a Moisés, provinda da sarga ardente, dizendo: “Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que estds € terra santa”. Estamos na presenga de Deus e Sua gléria, portanto, devemos caminhar com cautela e com humildade. Nao somente isso, porém; estamos de imediato diante da sobe- rania de Deus. Pensem nos termos que constantemente vemos 13 perpassar pelas péginas das Escrituras, as grandes palavras e expressGes da verdadeira doutrina e teologia cristé. Quao pouco nos falam acerca da gléria, da grandeza, da majestade e da sobera- nia de Deus! Os nossos antepassados deleitavam-se com essas expressdes; estas eram as expressdes dos reformadores protes- tantes, dos puritanos e dos pactudrios. Eles tinham prazer em passar © tempo contemplando os atributos de Deus. Notem como o apéstolo chega de imediato a este ponto. “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” — nao por sua prépria vontade! Paulo nao se chamou a si mesmo, e a Igreja nao o chamou; foi Deus quem o chamou. Ele é 0 apéstolo pela vontade de Deus. Ele expde isso muito explicitamente na Epjstola aos GAlatas, onde diz: “... quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha me me separou”. Ha sempre énfase a soberania de Deus, e quando estivermos avangando em nosso estudo desta Epistola, a veremos sobressair em toda a sua gléria em toda parte. Foi Deus que escolheu em Cristo todo aquele que é cristo; foi Deus que nos predestinou. Faz parte do propésito de Deus que sejamos salvos. Jamais haveria salvagao alguma, se Deus nao a planejasse e nfo a pusesse em execugao. Foi Deus que “amou ao mundo de tal maneira”; foi Deus que “enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. E tudo de Deus e de acordo com 0 Seu propésito. E “segundo o conselho da sua vontade” que todas estas coisas acon- teceram. Toda esta Epistola nos diz que sempre devemos contemplar a salvagao desta maneira. Nao devemos partir de nds e depois ascen- der a Deus; devemos partir da soberania de Deus, Deus sobre todos, e depois descer a nds. Ao caminharmos através da Epistola, vere- mos que nao somente a salvagdo é inteiramente de Deus em geral; também é de Deus em particular. Vejam, por exemplo, o grande tema que Paulo desenvolve no capitulo 3. A tarefa especial que Ihe fora confiada como apéstolo é: “demonstrar a todos qual seja a dispensa¢gao do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou” (“por Jesus Cristo”, VA). O mistério é que os gentios sejam co-herdeiros com Jesus. Foi esse o “mistério” que noutras eras nao foi dado a conhecer aos filhos dos homens, e agora é revelado aos Seus santos apéstolos e profetas pelo Espirito. Deus domina todas as coisas; o fator tempo em particular. Quan- do vocés léem o Velho Testamento, alguma vez perguntaram por que foi que todos aqueles séculos tiveram que passar antes que de 14 fato o Filho de Deus viesse? Por que foi que tao longo tempo somente os israelitas, os judeus, tiveram os ordculos de Deus e 0 entendimento de que h4 somente um Deus vivo e verdadeiro? A resposta é que é Deus quem decide 0 tempo em que tudo deve acon- tecer, ¢ assim Ele revela esta verdade que até aqui tinha sido secreta. Este fato é apenas outra ilustrac&o da soberania de Deus. Ele deter- mina 0 tempo para que as coisas todas acontegam. Deus é sobre todos, dominando sobre todos, ¢ marcando o tempo de cada acontecimento, em Sua infinita sabedoria. Numa época como esta, nao sei de nenhuma outra coisa que seja mais consoladora e que dé mais seguranga do que saber que o Senhor continua reinando, que Ele continua sendo 0 soberano Senhor do universo, e que, apesar de que “‘se amotinam as gentes, e os povos imaginam coisas vas”, Ele estabeleceu 0 seu Filho sobre o Seu santo monte de Sido (Salmo 2). Viré 0 dia em que todos os Seus inimigos lambero o pé, viraio a ser o estrado dos Seus pés e serio humilhados diante dEle, e Cristo serd “tudo em todos”. Dessa maneira a soberania de Deus é ressal- tada na introdugao desta Epistola e repetida até o fim dela, porque é uma das doutrinas cardinais, sem a qual realmente nao entendemos a nossa fé crista. Depois, tendo dito isso, o apéstolo passa a tratar do mistério de Deus, Sua grandeza e a majestade da Sua soberania. A palavra “mis- tério” é utilizada seis vezes nesta Epistola aos Efésios, mais vezes, portanto, do que em suas outras Epistolas. Assim, estou justificado em dizer que este é um dos mais importantes temas desta Epistola, 0 mistério dos procedimentos de Deus com relagao a nés, o mistério da Sua vontade. Nés o vemos neste capitulo primeiro — “Desco- brindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo”. Pergunto se sempre compreende- mos isso como deverjamos. E de temer-se que, as vezes, os cristaos abordam estas grandes verdades como se as compreendessem com © seu préprio entendimento. Jamais pensemos assim. Se vocé comecar a imaginar que pode entender a mente e a vontade de Deus, estar condenado ao fracasso, pois h4 mistérios aos quais nenhuma mente humana pode fazer frente. “Grande é 0 mistério da piedade”; ninguém 0 pode entender. E se vocé tentar entender os procedi- mentos de Deus com respeito ao homem e ao mundo, garanto-lhe que vocé se verd téo confuso que sentird acabrunhado ¢ infeliz. Na verdade vocé poder4 acabar quase perdendo a fé e tendo um senti- mento de rancor contra Deus. “O mistério da sua vontade’! Ele é 15 infinito e eterno, e nés somos finitos e pecadores, e nao podemos ver nem entender. Se vocé se sentir tentado a dizer que Deus nao é justo, acon- selho-o a, com Jé, pér a mao na boca, ¢ tratar de compreender de quem vocé esté falando. Certamente, fazer objegao ao mistério é quase negar que sequer somos cristios, Haverd algo mais mara- vilhoso, mais encantador, mais glorioso para 0 cristao do que con- templar os mistérios de Deus? Espero que ao aproximarmos destes grandes temas, vocé j4 esteja cheio de um sentimento de divina expectagiio, e aspire a adentré-los cada vez mais. Um dos aspec- tos mais maravilhosos da vida crist@ é que nela vocé esté sempre avangando. Vocé pensa que jé o conhece todo, e entéo dobra uma esquina e de repente vé algo que nao conhecia, e vai adiante, sempre adiante. E por isso que 0 apéstolo escreve acerca das “riquezas da sua graca’”; € o glorioso mistério que a Ele aprouve revelar-nos por Seu Santo Espirito. Mas nao permita Deus que algu- ma vez imaginemos que seremos capazes de entender isso tudo no sentido de abarcd-lo totalmente. Meu interesse n3o é somente aumentar 0 nosso conhecimento intelectual de Deus, e sim desven- dar “o mistério” dos Seus caminhos, a fim de que possamos vé-lo e adorar o Senhor, e confessar a nossa ignorancia, pequenez e fragili- dade, e Lhe agradecer 0 mistério da Sua santa vontade. O préximo tema € a graga de Deus; e esta palavra é utilizada treze vezes nesta Epistola. O apéstolo a fica sempre repetindo. No versiculo dois ele a coloca na frase inicial: “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Este é 0 tema que, acima de tudo mais, é desenvolvido nesta Epjstola — a estu- penda graca de Deus para com o homem pecador, providenciando para ele salvagio e redengiio. “A graga de Deus”; sim, e abundante em particular — “as riquezas da sua graga”. Essa idéia acha-se aqui mais do que em qualquer outro lugar — “as riquezas da sua graga”"! “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 0 qual nos abengoou com toda as benciio espirituais nos lugares celestiais em Cristo. “Nesta Epistola nos é dado um vislumbre das riquezas, da abundancia, da superabundancia da graga de Deus para conosco; e se n&o estivermos ansiosos por um exame e investigagdo com a mais 4vida antecipagiio possivel, € duvidoso se somos cristéos. A maioria das pessoas se interessa por valores e riquezas; gostamos de ir a museus e a outros lugares onde se guardam e se armazenam coisas preciosas, gostamos de ver jéias e pérolas; ficamos em filas ¢ 16 pagamos pelo direito de ver tais valores e riquezas. Gabamo-nos disso como individuos e como nagGes. Repito, pois, que o supremo objetivo desta Epfstola é fazer-nos entrar e olhar, e ter um vislumbre das riquezas, das superabundantes riquezas da graga de Deus. Tudo comega com Deus, Deus 0 Pai, que é sobre todos. Mas tendo dito isso, paseemos para 0 que invariavelmente vem em seguida em todas as Epistolas deste apéstolo, na verdade o que sempre vem em segundo lugar em toda a Biblia —- o Senhor Jesus Cristo. “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Vocés notaram quantas vezes ocorre 0 nome, © nome que era tio caro e bendito para o apéstolo? “O apéstolo de Jesus Cristo”, “A vés graga, e paz de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abencoou com todas as béncios espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, ¢ assim continua. No versiculo primeiro Paulo nos diz logo de inicio que ele é um “apdstolo de Jesus Cristo”. Soa quase ridiculo ter que dizé-lo, e, todavia, é essencial salientar que nao ha evangelho nem salvagio fora de Jesus Cristo. E necessério porque hd pessoas que falam de cristianismo sem Cristo. Falam em perdao, mas o nome de Cristo nado € mencionado, pregam sobre o amor de Deus, porém em sua opinido o Senhor Jesus Cristo nao é essencial. Nao € assim com o apéstolo Paulo; no hd evangelho, nao ha salvac&o sem o Senhor Jesus Cristo. O evangelho é especial- mente acerca dEle. Todos os propésitos misericordiosos de Deus sao levados a efeito por Cristo, em Cristo, mediante Cristo, do prin- cipio ao fim. Tudo o que Deus, em Sua vontade soberana, por Sua infinita graga, e segundo as riquezas da Sua misericérdia e do mis- tério da Sua vontade — tudo o que Deus se propés realizar e realizou para a nossa salvagao, Ele o fez em Cristo. Em Cristo “habita corpo- ralmente toda a plenitude da divindade”; nEle Deus entesourou todas as riquezas da Sua graca e sabedoria. Tudo, desde 0 inicio até o fim, é nosso Senhor Jesus Cristo e por meio dEle. Somo chama- dos e escolhidos “em Cristo” antes da fundagéo do mundo, somos reconciliados com Deus pelo “sangue de Cristo”. “Em quem temos a redengao pelo seu sangue, a remissdo das ofensas, segundo as riquezas da sua graca”. (VA: “...pelo seu sangue, o perdio dos pecados...”). Todos nés estamos interessados no perdido, mas como sou per- doado? Ser4 porque eu me arrependi ou tenho vivido uma vida virtuosa que Deus me vé e me perdoa? Digo com reveréncia que 17 nem mesmo o Deus todo-poderoso poderia perdoar o meu pecado simplesmente com base nesses termos. Hé unicamente um modo pelo qual Deus nos perdoa; é porque Ele enviou Seu Filho unigénito do céu a terra, e & agonia, 4 vergonha e 4 morte na cruz: “Em quem temos a redengio pelo seu sangue”. Nao ha cristianismo sem “o sangue de Cristo”. E central, absolutamente essencial. Sem Ele nao hd nada. Nao somente a Pessoa de Cristo, todavia em particular a Sua morte, o Seu sangue derramado, o Seu sacrificio expiatério e substitutivo! B dessa maneira, e somente dessa maneira, que somos redimidos. Nesta Epfstola Cristo é exposto como absolutamente essencial. Veremos isso quando entrarmos em detalhes. Ele est4 em toda parte, tem que estar. Somos escolhidos nEle, chamados por Ele, salvos pelo Seu sangue. Ele é a Cabega da Igreja, como nos lembra o capitulo primeiro. Ele esté “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domfnio, e de todo o nome que se nomeia, nao s6 neste século, mas também no vindouro”. Ele é a “cabega da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”; e Ele est 4 mio direita de Deus, com toda a autoridade e poder no céu e na terra. Jesus, o nosso Senhor, é supremo; Ele é 0 Filho de Deus, o Salvador do mundo. Esse vai ser 0 nosso tema. Vocé est4 comegando a ansiar por isso — por vé-lO, contempl4-lO em Sua Pessoa, em Seus offcios, em Sua obra, em tudo 0 que Ele é e pode ser para nés? Entio, em particular, como ja estive antecipando, o tema do grande propésito de Deus em Cristo é 0 tema pratico desta Epistola. Vemo-lo no versiculo 10: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensagio da plenitude dos tempos, tanto as que estZo nos céus como as que esto na terra”. Vemos ai o propédsito de Deus. O apéstolo prossegue e nos diz que este propésito sempre foi necessario por causa do pecado. No capitulo 2 veremos que ele nos fala acerca dos problemas que importunam a mente e o coracgio do homem, e de como sua causa é o fato de que “o principe das potestades de ar, do espirito que agora opera nos filhos da desobe- diéncia”, esté dominando o homem decaido. Ele nos diz que o plano de redengao € necessdrio por causa da Queda do homem, e como isso foi precedido pela queda daquele brilhante espfrito angélico chamado diabo, ou satanés, que se tornou “o deus deste mundo”, “o principe das potestades do ar”. Seu poder terrfvel é a causa da inimizade, do estado e da ruina que caracterizam a vida da raga humana, O mundo moderno est dividido em faccGes rivais; o 18 mundo antigo estava na mesma situag3o. Nao hd nada de novo nisso, € tudo resultado do pecado e do édio do diabo a Deus. E resultado do fato de que o homem perdeu sua verdadeira relagao com Deus, O homem se pde como Deus, e com isso causa todo o transtorno e confusaéo no mundo. Mas nos é exposto como, no prin- cipio, ainda no Parajso, Deus anunciou o Seu plano e comecou a p6-lo em pritica. O Velho Testamento € um relato de como Deus comegou a pd-lo em agio. Primeiramente Ele separou para Si um povo, os hebreus, mais tarde conhecidos como judeus. Na hist6ria deles vemos 0 inicio do Seu propésito de redengdo. Do burburinho da humanidade Deus formou um povo para Si. Chamou um homem chamado Abraao e fez dele uma nagiio. Ai temos 0 comego de algo novo. Mas depois houve grande rivalidade entre os judeus e os gentios, e assim, um dos importantes temas desta Epistola 6 mostrar como Deus tratou dessa questo. O grande tema aqui € que Ele Se revelou, nao somente aos judeus, mas também aos gentios; “a parede de separagao que estava no meio” se foi; Deus criou “dos dois um”. Ha uma nova criagao af; algo novo foi trazido 4 existén- cia; a isto se chama Igreja; e esta obra de Deus prossegue crescentemente, diz o apdstolo, até que, quando chegar a plenitude dos tempos, Deus executard o Seu plano completo, e tudo quanto se opde a Ele sera destrufdo. Todas as coisas seraio reunidas e feitas uma sé em Cristo. Este é um dos importantes temas desta Epistola. A princfpio somente os judeus, depois os judeus e os gentios, e depois todas as coisas. E tudo isso serd feito “em Cristo e por ele”. (cf. Ef. 2:13,18.) Isso, por sua vez, leva a outro tema importante, a Igreja. O propésito de Deus se vé muito clara e objetivamente na Igreja e por meio dela, o Seu grande propésito de unir todas as nagdes em Cristo. Nela se véem individuos diferentes, de nacionalidades diferentes, procedentes de diferentes partes do mundo, com expe- riéncias diferentes, diferentes na aparéncia, diferentes psicologica- mente e em todos os aspectos concebiveis; todavia, so todos um sé “em Cristo Jesus”. E isso que Deus esté fazendo, até que finalmente haja “novos céus e nova terra, em que habita a justiga” (2 Pedro 3:13), e Jesus reine “de costa a costa, até que as Juas nao tenham mais crescente nem minguante”, Nao hé nada mais enaltecedor e maravilhoso do que ver a 19 Igreja sob essa luz e, portanto, ver a importancia, o privilégio e a responsabilidade de ser membro dessa Igreja. E por isso que deve- mos viver a vida crista; e assim, no capitulo 4 e¢ até o fim da carta, Paulo dé énfase ao comportamento ético que se espera dos cristdos porque eles sGo © que sao, e porque esse € 0 plano de Deus, e eles devem manifestar a Sua graca na sua vida didria e no seu modo de viver. Tivemos af, pois, uma breve vista dos grandes temas desta Epistola. Permita-me fazer um sumiario deles, de maneira simples ¢ pratica. Por que estou chamando a sua atengio para tudo isso? E porque estou profundamente convencido de que a nossa maior necessidade é conhecer estas verdades. Todos nés precisamos rever esta gloriosa revelagio, e livrar-nos da nossa mérbida preocupagao com nés mesmos. Se apenas nos vissemos como somos retratados nesta Epistola; se apenas nos apercebéssemos, como 0 apéstolo o expressa em sua oracdo nos versiculos 17-19, de que devemos saber “qual seja a esperanga da nossa vocagio, e quais as riquezas da gléria da sua heranga nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nds, os que cremos, segundo a opera- ¢ao da forga do seu poder”, que diferenga isso faria! Acaso vocé é um cristaéo acabrunhado, infeliz, achando que a luta é demais para voc&? Vocé esta a ponto de ceder e desistir? O que vocé necessita é conhecer o poder que est4 operando vigorosamente por vocé, 0 mesmo poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos. Se tao- -somente soubéssemos 0 que significa sermos “cheios de toda a plenitude de Deus”, deixarfamos de ser fracos e de afligir-nos, dei- xarfamos de apresentar um quadro tao lamentavel da vida crist& aos que vivem conosco e ao redor de nés. O que necessitamos primor- dialmente nao é uma experiéncia, 6, sim, compreender o que somos € quem somos, 0 que Deus em Cristo fez e como Ele nos abengoou. Nao nos apercebemos dos nossos privilégios. A nossa maior necessidade ainda é a necessidade de entendi- mento. A nossa oragéo por nés mesmos deve ser a oragdo que 0 apéstolo fez por aquelas pessoas, que “os olhos do (nosso) enten- dimento” sejam “iluminados”. E disso que precisamos. Nesta Epjistola “as abundantes riquezas” da graga de Deus sao expostas diante de nés. Vejamo-las, tomemos posse delas e desfrutemo-las. Acima de tudo, e especialmente numa época como esta, quao vital € que tenhamos um novo e robusto entendimento do grande plano e 20 propésito de Deus para o mundo. Com conferéncias internacionais sendo realizadas quase na soleira da nossa porta, com todo o mundo perguntando qual ser o futuro e quais serao as conseqtién- cias dos nossos problemas atuais, com os homens perplexos e desanimados, quao privilegiados somos por podermos pér-nos de pé e olhar esta revelagio, e ver o plano e o propésito de Deus por tras e além disso tudo. Plano e propésito que nao serao realizados por meio de estadistas, mas por meio de pessoas como nés. O mundo ignora isto e da risada e zomba; no entanto, com o apéstolo, nés sabemos com certeza que “todo o principado, e poder, e potestade, e dominio, e ... todo o nome que se nomeia, ndo sé neste século, mas também no vindouro” foi posto debaixo dos pés de Cristo. O Senhor Jesus Cristo foi rejeitado por este mundo quando Ele veio, os homens O repudiaram como a “um qualquer”, um “car- pinteiro”; contudo Ele era o Filho de Deus e 0 Salvador do mundo, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, Aquele diante de quem se dobrard “todo o joelho dos que est&o nos céus, ¢ na terra, e debaixo da terra” (Filipenses 2:10). Gragas sejam dadas a Deus pelo glo- rioso evangelho de Jesus Cristo, e pelas “riquezas da sua graca’’! 21 2 “SANTOS... E FIEIS EM CRISTO JESUS” “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estéo em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus.” — Efésios 1:1 Como vimos, quando o apéstolo comega a sua carta, ele mer- gulha imediatamente no meio de grandes e profundas verdades. Suponho que todos nés, em graus varidveis, devemos declarar-nos culpados da tendéncia de considerar as instrugdes das Epistolas do Novo Testamento como send o mais ou menos formais. Inclinamo- -nos a achar que as instrugdes sao mais ou menos desnecessarias, € que podemos saltar por cima delas para podermos chegar depressa a grande mensagem que se lhe segue. Nas leituras da meninice querfamos chegar logo ao coracao da histéria, e muitas e muitas yezes ficdvamos impacientes com todos os preliminares; queriamos a vibracao e o fim da histéria. Esse h4bito tende a persistir, de modo que, quando chegamos as Epistolas do Novo Testamento, achamos que os versiculos preliminares e as saudagSes nao s&o importantes e nao tém nenhuma ligac&o com a verdade e com a doutrina. Assim, tendemos a lé-las muito rapidamente e a precipitar-nos ao que consideramos como o ensino essencial. Mas, isso é um engano profundo, n&o somente com relacio as Escrituras, como também com relagaio a qualquer coisa que valha a pena ler. E sempre bom dar atencao aquilo que o escritor no inicio julga necessdrio e impor- tante, pois é ébvio que ele nao o teria introduzido se nao tivesse algum objetivo em mente. Se isso é verdade em geral, é verdade particularmente quantos a estas Epistolas do Novo Testamento, porque nestas saudagées preliminares vemos aspectos da verdade que sao vitais e essenciais. Aqui, no versiculo primeiro desta Epistola, temos um notavel exemplo disso, pois o apdstolo nem consegue dirigir-se aos efésios sem ao mesmo tempo presented-los aos efésios (ec a nds) com uma extraordindria descricg&o e definig&éo do que significa ser cristao. 22 Chamo a atengio para este fato porque muitas vezes as pessoas interpretam mal o ensino das Epistolas do Novo Testamento é diri- gido Unica e exclusivamente a crist&os, a crentes no Senhor Jesus Cristo. E completamente erréneo e herético tomar o ensino de qual- quer das Epistolas do Novo Testamento e aplicd-lo ao mundo em geral. O ensino € dirigido a pessoas particulares, e aqui 0 apdstolo nao nos deixa em nenhuma divida quanto as pessoas as quais ele esté escrevendo. Ele se dirige a elas e imediatamente as descreve. Também € preciso ficar claro para nds o fato de que o apéstolo estava escrevendo o que se pode descrever como uma carta geral. A Versio Revista inglesa nao diz: “aos santos que esto em Efeso”. A palavra “Bfeso” é omitida, e isso nos faz lembrar que nalguns dos manuscritos antigos as palavras “em Efeso” nao estio incluidas. Os manuscritos mais antigos nado contém as palavras “em Efeso”, mas elas se encontram noutros manuscritos antigos. Contudo, as auto- ridades concordam em dizer que 0 que realmente aconteceu foi que o apéstolo escreveu uma espécie de carta circular a varias igrejas, e que o seu amanuense provavelmente deixou um espago em branco para que se pudesse inserir 0 nome de alguma igreja em particular. Esta carta a igreja de Efeso foi também a outras igrejas da Provincia da Asia, e é provavel que a descrigdo tradicional, “A carta para os efésios” tenha surgido do fato de que o exemplar original foi para a igreja de Efeso. Permitam-me ressaltar também que esta carta nao foi destinada a alguns cristaos incomuns e excepcionais, nao é uma carta dirigida a algum grande erudito ou tedlogo, nao é uma carta dirigida a professores, nao é uma carta dirigida a eruditos especializados no estudo das Escrituras. Ndo é uma carta para especialistas, porém para membros de igreja comuns. Esta é, sob todos os pontos de vista, uma observacao muito importante, e pela seguinte razao, que tudo o que o apéstolo diz aqui acerca dos cristéos e membros das igrejas deve, portanto, ser verdade a nosso respeito. Toda a elevada doutrina que temos nesta Epistola é algo que eu e vocés fomos destinados a receber. A Epistola aos Efésios — talvez a realizagio maxima da vida do apéstolo e dos seus escritos — é uma Epistola destinada a pessoas como nés. O objetivo é que membros comuns de igreja, de todas as igrejas, tomem posse desta doutrina e as entendam e se regozijem nelas. Nao so apenas para certas pessoas especiais e cultas; sao para cada um de nés e para todos nés. Voltando-nos, pois, para a descrig¢éo que o apéstolo faz do 23 crist&o, de todo cristio, temos aqui 0 que se pode chamar o mfnimo irredutfvel do que constitui um crist&éo, No corpo desta carta diz o apdstolo que ele est4 desejoso de que essas pessoas aprendam mais verdades, verdades mais profundas e mais elevadas. Daf ele ora no sentido de que os olhos do seu entendimento sejam iluminados: “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da gloria, vos dé em seu conhecimento o espfrito de sabedoria e de revelacao; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento”. Esse é 0 obje- tivo supremo, mas antes de chegar a isso ele Ihes lembra 0 que ja so e o que jé sabem. Esta descrigdo do cristao é uma descrig&o dos cristdos efésios daquele tempo, Eles nunca seriam membros da Igreja, nunca seriam destinatdrios desta carta, se estas coisas nio fossem préprias deles. Vemo-nos, pois, confrontados aqui pelo que o Novo Testamento ensina que é o minimo irredutfvel do que constitui um cristio. Estou dando énfase a isso porque me parece que a necessidade primdria da Igreja na presente hora é compreender exatamente o que significa ser cristio. Como foi que os crist&os primitivos, que eram apenas um punhado de gente, tiveram tao profundo impacto sobre 0 mundo pagio em que viviam? Foi porque eles eram o que eram. Nao foi a sua organizag4o, foi a qualidade da sua vida, foi o poder que eles possufam porque eram cristéos verdadeiros. Foi desse modo que o cristianismo venceu o mundo antigo, e cada vez me convengo mais de que essa é a tinica maneira pela qual 0 cristi- anismo pode influenciar verdadeiramente 0 mundo moderno. A falta de influéncia da Igreja Cristé no mundo em geral hoje, em minha opiniao, deve-se unicamente a uma coisa, a saber (Deus nos perdoe!), que somos muito diferentes da descrigao dos cristéos que vemos no Novo Testamento, Se, portanto, estamos preocupados com o estado em que a Igreja se encontra, se sentimos o peso dos homens e mulheres que estao fora da igreja e que, em sua miséria e afligdo, est’o se precipitando para a sua prdpria destruicéo, a primeira coisa que temos que fazer é examinarmos, e descobrir até que ponto nos amoldamos a este modelo e a esta descrig&o. O apds- tolo descreve o cristéo com trés expressdes, A primeira é “santos”. “Paulo, apdstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos...” — aos santos de Efeso, aos santos de Laodicéia, aos santos de todas as outras igrejas locais, pequenas ou grandes. A primeira coisa a dizer do cristdo é que ele é santo. Receio que isso soe um tanto estranho para alguns de nds. Temos a tendéncia de dizer: “Bem, 24 eu sou cristdo, mas estou longe de ser santo”. Tememos fazer tal afirmagio; de algum modo tememos esta designagao particular; e, contudo, o Novo Testamento se dirige a nés como a “santos”. Por- tanto, precisamos descobrir porque 0 apéstolo usa essa palavra, € 0 que se quer dizer com “santo”, em seu sentido neotestamentario. A primeira coisa que o termo significa é que somos pessoas separadas. Esse é o significado radical da palavra que 0 apéstolo emprega aqui, e como outros escritores biblicos a utilizam. Primari- amente significa separado, posto 4 parte. Uma boa ilustragio desse sentido vé-se no capitulo 19 de Atos dos Apéstolos, onde lemos que, quando surgiram certas dificuldades e oposigdes, 0 apéstolo separou os discfpulos e ent&éo comegou a reunir-se com eles na escola de Tirano (versiculo 9), e se pds a ensind-los e a edificd-los na fé; ele os separou. Essa é a significagdo essencial da palavra “santo”, e a Igreja é um agrupamento de santos. A Igreja nao é uma instituig4o, é primordialmente uma reuniao, um encontro de santos. A ilustragao perfeita é a dos filhos de Israel na antiga dispensagao. Eles eram um povo separado por Deus, foram tirados do mundo, foi-lhes conferida por Deus uma certa singularidade, eram “povo de Deus”. Sao descritos como “a geracao eleita, o sacerdécio real, a naco santa, 0 povo adquirido” ou “peculiar” (1 Pedro 2:9) - povo para ser uma possessio e um interesse especiais de Deus. Essa é a definigio dos filhos de Israel no Velho Testamento (e.g., Exodo 19:5,6; Deuteronémio 7:6). Num sentido eles eram uma nacio entre muitas outras, e, todavia, eram diferentes; eles tinham certos direitos que outras nagGes nao tinham, haviam recebido de Deus certas revelagdes da Palavra de Deus a que Paulo se refere como “os ordculos de Deus”. Noutras palavras, eles eram um povo sepa- rado, no mundo mas nao no mundo, postos a parte de maneira peculiar por Deus; quer dizer, eles eram “santos”. Assim, 0 cristo é primariamente alguém que é segregado do mundo. O apéstolo diz precisamente a mesma coisa no inicio da sua carta aos Gélatas ~ “Graga e paz da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai”. Fomos libertados do mundo, separados do mundo. O cristéo hoje, como os filhos de Israel da antigiiidade, embora esteja no mundo, nao é do mundo; é homem como 0s outros, e, todavia, é muito diferente. Isso é uma verdade basica, primdria. O cristéo nao é semelhante a ninguém mais; ele é separado, posto a parte, tinico. 25 Ele sobressai, ele foi chamado por Deus, foi separado do mundo, separado para Deus. Seria isso dbvio acerca do cristo atual? A separagao nao significa apenas que freqiientamos dominicalmente um local de culto, enquanto que muita gente nao o faz. Isso é uma parte muito importante; no entanto nao é a parte vital, por que essa freqiiéncia pode ser resultado de simples costume ou hébito, ou pode ser simples parte de roda social. A questo é: somos verda- deiramente separados como pessoas, somos essencialmente diferentes do mundo? Nao significa somente que fomos postos 4 parte num sentido externo; significa que fomos postos & parte porque fomos purifica- dos interiormente. Esse é 0 real sentido da palavra “santo”. Instinti- vamente pensamos num santo como uma pessoa pura. Isso est certo, e devemos captar este segundo elemento do sentido desta palavra. Um santo é alguém que foi purificado de muitas maneiras. Ele foi purificado da culpa do seu pecado, purificado daquilo que o exclui da presenca de Deus. Se ser santo significa que vocé foi tira- do do mundo e levado & presenga de Deus, nao estaria claro que aconteceu algo que o habilitou a ir a presenga de Deus? E 0 pecado que separa de Deus o homem; daf, antes de alguém poder ser sepa- rado para Deus, precisa ser purificado da culpa do pecado. Assim, essa € a primeira coisa que caracteriza o cristéo; ele foi purificado, como nos lembra o apéstolo, pelo sangue de Cristo, “Em quem temos a redengio pelo seu sangue, a remissao das ofensas, segundo as riquezas da sua graca”. Mas a purificagio nao para nesse ponto. O santo é alguém que também foi purificado da corrup¢ao do pecado. Nao se trata de uma purificago externa apenas; também é interna, porque 0 pecado afeta o ser completo. Um santo é alguém que foi purificado daquilo que corrompe a sua mente e 0 seu coragao, as suas acgGes, e tudo mais. Ele é purificado exteriormente, ele é purificado interiormente; ele se tornou, como a Biblia Ihe chama, uma pessoa “santa”. Ao Monte Sido a Biblia se refere como “o monte santo”, ¢ os vasos que eram utilizados no templo eram chamados “vasos santos”. Significa que eles foram purificados e postos 4 parte, e no eram utilizados para nenhuma outra coisa; eram “santos ao Senhor”. E isso que se quer dizer com “santo”; um santo é alguém que foi purificado e separado, e é “santo ao Senhor”. Antes de ser aplicado ao cristao, esse termo era aplicado originariamente aos filhos de Israel. ““Vés sois uma nagio santa, um povo peculiar”, um povo para ser 26 propriedade particular de Deus. Nesta altura fago dois comentarios praticos. O primeiro é que estas observagées se aplicam a todos os cristiios - aos santos de feso, aos santos do mundo inteiro, aos fiéis de toda parte. Deve- mos aprender uma vez por todas a desfazer-nos da falsa dicotomia que o catolicismo romano introduziu neste ponto. Ele destaca certas pessoas e lhes chama “santos”. Nao ha nada de errado em pagar tributo a quem é proeminente; entretanto nao é isso que os romanistas fazem. Eles chamam aquelas pessoas especiais de “santos”, ¢ somente aquelas. Mas isso é err6neo e nao é biblico. Todo cristao é santo; vocé nao pode ser cristao sem ser santo; e néo pode ser santo e cristéo sem ser separado deste mundo num sentido radical. Vocé nao pode mais pertencer a ele, vocé esté nele mas nao é dele; ha uma separagéo que se deu em sua mente, em sua perspectiva, em seu coragéio, em sua conversago, em seu comportamento. Vocé é uma pessoa essencialmente diferente; 0 cristéo nao é uma pessoa do mundo, nao é governado pelo mundo e€ sua mentalidade e pers- pectiva. Devemos examinar-nos e descobrir se correspondemos a esta descrigéo. Porventura nao é certo que a multidao de homens e mulheres que vivem ao redor de nés ¢ por perto (muitos deles infelizes e inquietos acerca de si e de suas vidas) ndo vém falar conosco e fazer-nos perguntas, nao correm para nés em sua angUstia, porque nao nos acham em nada diferentes deles, porque nao ha nada em torno de nés que dé a idéia de que somos essenci- almente diferentes? Aceitamos a falsa idéia de que somente certos cristéios sfio santos, nio nos apercebemos de que o propésito é que todo cristéo seja separado do mundo. E justamente aqui que devemos ver toda a maravilha e todo o milagre da fé cristé. Recordem o tipo de cidade que Efeso era. Leiam o capitulo 19 de Atos dos Apéstolos e verdio que era uma grande cidade, e préspera, mas completamente pagd. Seus habitan- tes adoravam uma deusa chamada Diana, e eles gritavam “Grande é Diana dos efésios”. Orgulhavam-se de si e da sua deusa. Nao somente isso, havia também muita pratica de feitigaria, magia e coisas do género. O apéstolo visitou a cidade, e tudo 0 que encon- trou foi um grupo de doze homens que eram discipulos de Joao Batista, porém estes nao tinham entendimento muito seguro da ver- dade. Vocés poderiam imaginar coisa mais desanimadora? Quando © apéstolo passeou pela cidade de Efeso, viu-a quase completa- mente paga, cheia de arrogincia e orgulho, repleta de seitas e de 27 tudo quanto se opde a Deus. Que esperanga havia de que o cristia- nismo florescesse num lugar como esse? Mas Paulo pregou e foi usado pelo Espirito; a igreja foi estabelecida, aqueles santos vieram a exist@ncia, e mais tarde Efeso tornou-se a sede do trabalho do Apéstolo Joao. Precisamos lembrar-nos de que o evangelho nao é ensino humano; é “o poder de Deus para salvagio de todo aquele que cré”, e quando ele entra numa cidade, como fez na pessoa do apéstolo Paulo, cheio do Espirito Santo nada é impossfvel. Vocé € um cristo que se sente sem esperanga acerca de um marido, ou de uma esposa, ou filho, ou algum outro parente? Vocé acha que, por causa do intelectualismo deles, ou da instrugao que receberam, ou do ambiente em que vivem, nao hé absolutamente nenhuma esperanga de que sejam convertidos, e que nem se pode tentar consegui-lo? Lembre-se dos santos de Efeso, sim, e de Corinto e da Galdcia. O evangelho é o poder de Deus; ele realizou feitos poderosos, e continua sendo o mesmo. Ele pode pegar o individuo mais destitufdo de qualquer esperanca, e fazer dele um santo. Essa é a fungao primordial, a coisa pela qual Deus 0 enviou. Pois bem, passemos a segunda expressio — “fiéis”. Devemos ser cuidadosos quanto ao significado desse termo. Num sentido, € uma tradugao um tanto infeliz, porque, mais uma vez, temos a tendéncia de lhe atribuir, nao a significagdo primaria, e sim um sentido secundario. Essencialmente, a palavra “fie!” significa “que exerce fé”. Para ilustrar isso, considerem 0 caso do apdéstolo Tomé, e de como se recusou a crer no testemunho dos seus condiscfpulos quando, apés sua auséncia, retornou a eles e estes Ihe disseram que o Senhor tinha aparecido entre eles. Tomé disse que nao acreditaria se nao visse o sinal dos cravos e nao pusesse o dedo nas feridas. Entio o Senhor apareceu de repente e Se mostrou a Tomé e lhe disse que fizesse o que tinha dito. Tomé caiu a Seus pés e exclamou: “Senhor meu, e Deus meu!” Mas procurem lembrar como 0 nosso Senhor o repreendeu gentilmente e Ihe disse: “Porque me viste, Tomé, crestes; bem-aventurados os que nao viram e creram” . E acrescentou: “Nao sejas incrédulo, mas crente”. A palavra traduzida em Joao 20:27 por “crente” é a mesma que traduzida por “fiéis” em nosso texto. Significa “estar cheio de fé” , exercer fé. O apéstolo escreve a estes cristéos de Efeso como a crentes, a pessoas que exer- cem a fé; cles sao cristéos porque sao crentes. Aqui também hd algo fundamental, primario e vital. Vocé nado 28 pode ser cristo sem ter certa crenga; 0 que nos faz cristéos € que cremos em certas coisas. Voltemos ao capitulo 19 de Atos dos Apéstolos. O que nos é dito (versiculos 1 e 2) & que Paulo encontrou certos discipulos, porém nao ficou satisfeito quanto a eles, pelo que lhes perguntou: “Recebestes vés j4 0 Espirito Santo quan- do crestes? E eles responderam: “Nés nem ouvimos que haja Espirito Santo”. “Em que sois batizados entéo?’, perguntou-lhes, e eles responderam: “No batismo de Jodo”. Entao lhes disse Paulo: “Certamente Joao batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que apés ele havia de vir, isto €,em Jesus Cristo”. Tendo ouvido isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. Nesse incidente nos é dito claramente o que é que nos faz cristéos. O cristéo nio é meramente um bom homem, um homem bondoso, um homem que gosta de ser membro de uma igreja crista, um homem vagamente interessado em elevagdo moral e no idealis- mo. Certos homens hoje descritos como cristios proeminentes créem tao-somente no que se chama “reveréncia pela vida”; mas isso nao est4 de acordo com o ensino do Novo Testamento, O cristo é alguém que cré em certas verdades especificas; e a essén- cia da sua crenga centraliza-se na Pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo. O cristio, o santo, é “cheio de fé”. Em quem e em qué? Fé no Senhor Jesus Cristo. Ele cré que Jesus de Nazaré € 0 Filho unigénito de Deus. Ele é cheio de fé na encarnagiio, cré que a Pala- vra eterna, “o Verbo foi feito carne e habitou entre nés”, que o Filho eterno veio em natureza humana a este mundo, cré no nascimento virginal, e que, por Seus milagres, Jesus tornou manifesto que Ele é o Filho de Deus. | Os santos de Efeso criam nestas yerdades; e Paulo foi capaci- tado a realizar milagres especiais em Efeso como prova delas. Eles nao criam superficialmente; sabiam no que criam. No entanto, acima de tudo, criam que Cristo Jesus veio a este mundo “para pro- var a morte por todo homem”, criam no fato de que é pelo Seu sangue que Ele nos salva, que Ele sofreu 0 castigo merecido pelos nossos pecados, e morreu sofrendo a nossa morte, para reconciliar- -nos com Deus — “Em quem temos a redengao pelo seu sangue, a remissao das ofensas, segundo as riquezas da sua gracga”. Eles eram cheios de fé nestas coisas. Criam firmemente que Ele tinha ressusci- tado dentre os mortos. Nao tinham simplesmente uma vaga crenga em que Jesus persiste, mas tinham plena certeza de que Ele ressus- 29 citou dentre os mortos e Se manifestou a muitos discipulos, e por Ultimo a este homem, Paulo. Também eram cheios de fé na Pessoa do Espirito Santo. Criam que o Espirito Santo fora enviado no dia de Pentecoste, que “‘a promessa do Pai” tinha vindo, e que Ele podia ser recebido, e que os crentes sabiam que O tinham recebido. Eles eram cheios de fé nestas coisas. E nés, somos “fiéis”? Somos cheios de f€? A quest&o vital nao € se somos membros de igrejas locais, porém se somos cheios de fé nestas coisas. Sabemos em quem temos crido? Conhecemos a doutrina cristé? Entendemos 0 cami- nho da salvag4o como vem exposto nas Escrituras? Devemos estar “sempre preparados para responder a qualquer que vos pedir a razdo da esperanga que ha em vés”, diz Pedro, confirmando Paulo. Ha ainda mais um sentido desta palavra “fiéis”, 0 sentido geralmente dado. Significa que guardamos a fé, que mantemos a fé, que somos constantes na fé, leais 4 fé, e que, com Paulo, estamos prontos a defender a fé e a lutar ardorosamente por ela. Significa que se pode contar conosco, que se pode confiar em nés porque conhecemos a f€, e porque cremos e confiamos no que ele signi- fica, Nao nos esquegamos deste sentido secundério, que devemos ser pessoas nas quais as outras podem acreditar e confiar. Nao devemos ser como os que sao “levados por todo vento de doutrina” e cuja fé pode ser abalada pela leitura de um artigo ou livro escrito por algum dignitério da Igreja que nega a deidade de Cristo, ou o nascimento virginal e muitas outras doutrinas essenciais. Temos que ser fiéis, confidveis, dignos de crédito; sabemos no que cremos, e estamos firmes com os apéstolos e outros numa sélida linha de defesa da fé contra todos os adversérios. Mesmo que nos sobrevenha terrivel perseguigio, nado deve- mos acovardar-nos. A muitos daqueles cristdos primitivos se dizia que se eles persistissem em dizer que “Jesus é Senhor”, seriam mortos. Contudo, eles continuavam dizendo que “Jesus é Senhor’”. Embora eu € vocés talvez nao sejamos tentados deste modo particu- lar, hd cristéos noutras partes do mundo atual que tém que encarar a possibilidade de perder o trabalho ou o emprego ou a sua posic&o profissional, ou de serem separados das suas familias, lancados na prisao, surrados ou baleados ou mutilados de algum modo terrivel , simplesmente por causa da sua lealdade e esta fé. Eles estao firmes, sao “cheios de fé”; pode-se confiar e descansar no fato de que eles resistirao até o ultimo momento, e nunca vacilarfio nem se acovar- daraio. Nem eu nem vocés, pelo menos no presente, temos que 30 enfrentar persegui¢ao aberta, mas temos que enfrentar escdrnio e zombaria, e muitas vezes nos fazem estranhos e esquisitos. Eu e vocés temos que ser fiéis, acontega o que acontecer, nio importa quanto riso, mofa e zombaria tenhamos de enfrentar. Seja qual for o prego — financeiro, profissional ~ temos que ser fiéis, fidedignos, confidveis, resistindo a todo custo, venha o que vier. O cristéo é assim; ele sabe no que cré; e prefere morrer a negar a Cristo. _ Depois, finalmente, ha esta frase grandiosa, “em Cristo Jesus”. E sumamente importante compreendermos o que ela significa, e ela esta ligada a “santos” bem como a “fiéis”. Eles sao santos em Cristo Jesus, sao fiéis em Cristo Jesus. Esta frase, como veremos repetida- mente 4 medida que percorrermos esta Epfstola, é uma das grandes declaracées caracteristicas do Novo Testamento. Significa que 0 cristao é alguém que, nado somente cré em Cristo, mas também, num sentido real, esta “em Cristo”. Pertence a Ele, esté unido a Ele, esté ligado a Ele. Vejam a ilustragao neotestamentéria do corpo, “Vés sois 0 corpo de Cristo”, declara Paulo aos corintios, “e seus membros em particular”. No capitulo 4 desta Epistola aos Efésios ele faz uso da mesma analogia. Diz ele que os cristdos, que formam a Igreja, s&o edificados como um corpo. Diz ele: Antes, seguindo a verdade em amor, cresgamos em tudo naquele que é a cabega, Cristo. Do qual todo corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxilio de todas as juntas, segundo a justa operagao de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificagaéo em amor” (versiculos 15 e 16). Portanto, ser cristéo significa, nao somente que vocé é crente em Cristo, exteriormente a Ele; vocé é crente porque estd ligado a Ele, vocé esta “nele”. Vemos a mesma idéia no capitulo 5 de Romanos, onde Paulo elabora uma grande analogia e um contraste. Diz ele que todos nés estdvamos originalmente em Adio. Adio nao foi somente o primeiro homem, foi também o representante de toda a raga hu- mana. Todo aquele que nasceu neste mundo estava em Adio, era uma parte de Adio, estava ligado a Adio, resultando em que a acio praticada por Adio teve conseqiiéncias em todos. Contudo, o apés- tolo continua e argumenta no sentido de que, assim como todos nés estavamos “em Adio”, agora estamos ~ os que somos cristados — “em Cristo”. Como “em Adio”, assim “em Cristo”, Tudo 0 que o Senhor Jesus Cristo fez passa a ser verdade quanto a nés. Também no capitulo 6 de Romanos Paulo desenvolve o tema e 31 afirma que quando Cristo foi crucificado, nés fomos crucificados com Ele; quando Ele morreu, n6és morremos com Ele; quando Ele foi sepultado, nés fomos sepultados com Ele; quando Ele ressusci- tou, nds ressuscitamos com Ele. Ele esta sentado nos lugares celestiais. No capitulo 2 da Epistola aos Efésios Paulo diz: “Deus nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”. Estamos sentados nos lugares celestiais com Cristo neste momento porque estamos “em Cristo”. Que ver- dade tremenda, estonteante, irresistivel - sou parte de Cristo, pertenco a Ele, sou membro do corpo de Cristo! Nao sou meu, fui “comprado (adquirido) por prego”. Estou em Cristo. Ele é a cabega, eu sou um dos membros. Ha uma uniao vital, organica, mistica entre nés. Todas as bén¢aos que gozamos como cristdéos nos vém porque estamos em Cristo. “E todos nés recebemos também da sua plenitude, e graca por graca” (Joao 1:16). “Eu sou a videira verda- deira’”’, diz 0 nosso Senhor, “vés as varas”. Tudo isso é para vocé, se vocé é cristéo. Nao fale da sua fraqueza ou desamparo; Ele é a Vida, e vocé esta ligado a Vida, vocé faz parte da Vida, vocé é um ramo da Videira, “em Cristo”. Voltaremos a isso, mas vamos apossar-nos disso em principio agora. Meditemos nisso, e permitam-me animé-los a fazé-lo concluindo com dois breves comentdrios. Por que vocés acham que, ao descrever 0 crist&o, o apéstolo coloca estas trés coisas na se- guinte ordem — “santos”, “fiéis”, “em Cristo”? A resposta é muito simples. A primeira coisa e a mais evidente acerca do cristéo sempre deve ser o fato de que ele é “santo”. O apéstolo tinha em mira a cidade de Efeso; ele viu o que Ihe parecia um oasis no deserto de riquezas, paganismo, feitigaria e vida libertina. Sobres- saindo no deserto, este verdejante odsis — a Igreja, os santos. Essa é uma boa maneira de ver o cristdo . Quem quer que olhe para o mundo deve impressionar-se logo com o fato de que hé nele certas pessoas que sobressaeme que sao completamente diferentes porque sio “santas”. Essa é primeira impressaio que devemos cau- sar; todos — vizinhos, amigos, colegas e companheiros de trabalho — devem saber que somos cristdos. Isso deve ser ébvio, deve sobressair porque somos 0 que somos, por causa destas coisas que nos caracterizam. Lemos a respeito do nosso bendito Senhor que Ele “nao péde esconder-se” (Marcos 7:24), e isso deve ser verdade a nosso respeito neste sentido; deve ser impossivel esconder 0 fato. Mas nao quer dizer que eu prego e imponho o meu cristianismo aos 32 outros, tornando-me uma pessoa molesta. Trata-se antes de uma qualidade que recende santidade, algo que é cheio de graga e de encanto, uma ténue semelhanga com o Senhor. Deve ser evidente e ébvio que somos um povo separado, um povo diferente, porque somos um povo santo. A seguir notemos a importancia de se manter intacta a relagaio entre ser santo e ser fiel, a relagdo entre a santidade e ser crente no Senhor Jesus Cristo. Estas coisas nunca devem ser separadas. Por mais que possamos iludir-nos, isso de cristao teérico no existe. possivel sustentar a doutrina da fé na sala de aulas, dar um assenti- mento intelectual a estas coisas, porém isso nao faz de nds cristéos. Daf Paulo coloca “santos” antes de “fiéis”, Disse o Dr. William Temple: “Ninguém € crente, se nao é santo, e ninguém € santo, se nao € crente”. Estas duas coisas jamais devem ser separadas, nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificagao e a santificagao. Se vocé é cristo vocé est4 em Cristo, e em Cristo 0 que acontece é que Ele “para nés foi feito por Deus sabedoria, e justiga, e santificagao, e redengao” (1 Corintios 1:30). Vocé nao pode, vocé nao deve tentar dividir Cristo. E falsa a doutrina que diz que vocé pode ser justificado sem ser santificado. E impossivel; vocé é “santo” antes de ser “fiel’. Vocé foi separado. E por isso que vocé cré. Estas coisas esto entrelagadas indissoluvelmente. Nao permita Deus que as separemos ou que as dividamos, jamais! A santidade é uma caracteristica de todos os cristaos e, se ndo somos santos, a nossa profissao de fé em Cristo nao tem valor. Vocé nao pode ser crente sem ser santo, e nao pode ser santo, neste sentido neotestamentirio, sem ser crente. “Portanto, o que Deus ajuntou nao o separe o homem”. 33 3 GRACA, PAZ, GLORIA “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo.” — Efésios 1:2 No versiculo 2, que ainda faz parte das saudagdes do apéstolo a igreja de Efeso e de toda parte, ele passa a falar-nos dos beneficios que devemos estar gozando por sermos crist&os. Ele o faz com palavras que de uma forma ou de outra se véem no comego de muitas Epistolas do Novo Testamento - “A vés graca, e paz”. Era costume entre os antigos saudarem uns aos outros dessa ma- neira quando se encontravam, e a saudagao favorita que um judeu fazia a outro era, “Paz, paz seja com vocé”. “Paz” era 0 termo pre- ferido dos judeus. O apéstolo, porém, nao diz apenas isso, vai além. Ele toma 0 termo conhecido e 0 eleva a uma nova esfera, a esfera crista. Assim, a expressio de cumprimento e saudagdo cristé é muito mais grandiosa, mais ampla e mais profunda do que a sau- dag&o mais ou menos formal com a qual os homens costumavam saudar-se uns aos outros. Dou énfase a esta questéo porque a considero de grande importancia. O apéstolo nao usa tais palavras solta e ligeiramente e sem pensar; no é uma simples formula que ele usa automatica- mente no infcio de uma carta; as palavras esto carregadas de profunda significagao. Quando ele emprega estas palavras e expressa este desejo quanto aos efésios, o que ele quer é que eles experi- mentem todas as infinddveis riquezas que se pode achar no evange- tho do nosso Senhor Jesus Cristo. Noutras palavras, quando analisarmos este versiculo, veremos que ele contém algumas das verdades mais profundas da nossa fé, e que os seus termos sao da mais profunda importancia. Facgo breve digressao para assinalar que, quando lemos a Biblia, nada é mais importante do que examinar cada palavra e ques- tionar o seu significado. Como é facil fazer leitura biblica didria de certa porgéo, seguida talvez por uma certa oragdo! Se o seu maior interesse é simplesmente ler uma certa porgdo cada dia, poder4 muito bem saltar por cima de palavras como estas, destas profundezas da nossa fé. Aqui, logo no inicio, nesta saudac&o preliminar, o 34 apéstolo mergulha imediatamente no fundo da verdade e doutrina mais profunda que se pode achar em qualquer parte das Escrituras. Ou, para expor o ponto de maneira diferente, este versfculo € uma espécie de preltidio da Epistola toda. B caracteristico das grandes pegas musicais, de certos tipos de musica em particular, terem um prelidio. O musicista comega compondo o corpo maior da obra, que pode ter varios movimentos ou atos, cada qual com o seu tema. Depois, tendo conclufdo a obra, ele retorna ao principio e compde um preltidio, no qual retine os principais motivos ou temas que emer- giram no corpo da obra. Ele faz isso atirando uma sugestao, talvez em poucos compassos, para agugar 0 seu apetite e para que vocé possa ter uma idéia daquilo que ele vai desenvolver no corpo prin- cipal da obra. E minha opiniao que este versiculo dois é o preltidio de toda esta Epistola; nele se insinuam todos os seus temas principais. Mais tarde vamos penetrd-los mais minuciosamente, mas vejamo-los logo no inicio — “graga” e “paz”. “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo.” Nao ha outras duas palavras em tudo quanto compée a nossa fé que sejam mais importantes do que as palavras “graga” e “paz”. Todavia, com que superficialidade tendemos a solté-las das nossas linguas sem parar para considerar 0 que elas significam. A graga é 0 comeco da nossa fé; a paz é 0 fim da nossa fé. A graga é o manancial, a fonte, a origem. E aquele local particular da montanha do qual o caudaloso rio que vocés véem rolando para o mar comega a sua carreira; sem ela nao haveria nada. A graga € a origem, a procedéncia e a fonte de tudo o que hd na vida crista. Entretanto, que significa a vida crista, que é que ela foi desti- nada a produzir? A resposta é “paz”. Portanto, af temos a fonte e 0 estudrio levando ao mar, 0 comego € 0 fim, a iniciagdo e 0 propédsito a que tudo visa-e se destina. Eessencial, pois, que levemos em nossas mentes estas duas palavras, porquanto dentro da elipse formada pela graga e pela paz tudo esta incluido. Que é graga? E um terino notoriamente diffcil de definir. Essen- cialmente, graca significa “favor imerecido”, favor que vocé nio merece, favor que vocé recebe mas ao qual nao faz jus, ao qual nio tem absolutamente nenhum direito, e do qual vocé é totalmente indigno e imerecedor. Podemos chamé-la amor condescendente — amor que desce, ou que baixa. Ou podemos chamé-la bondade benéfica. Todas estas express6es s&o descritivas do que se quer dizer com este termo extraordindrio que é colocado constantemente 35 diante de nds no Novo Testamento, com esta admiravel e maravi- Thosa palavra “graga”. N&o admira que Philip Doddridge vivia a contempla-la, como ele nos diz nas seguintes palavras — Graga! E som encantador; Que harmonia de se ouvir! E uma das palavras mais belas em todas as linguas. Com relagio a “paz”, o perigo sempre presente é dar a essa palavra uma conotagdo, ou ligar a ela um sentido que fica muito aquém do seu significado completo. “Paz” nao é mera cessagao da guerra, repousa e tranqililidade, porém significa muito mais. O perigo constante com relagao a “paz” é pensar nela apenas como auséncia de coisas tais como agitacao ou discérdia ou conflito, Pode muito bem ser que, porque as nagdes do mundo pensam em paz naqueles termos, nunca tivemos paz verdadeira. A paz de que falam os livros de histéria é mera cessagao da guerra; mas na Biblia “paz” nao significa apenas que vocé parou de contender; vai além disso. E interessante que o verdadeiro significado radical da palavra grega traduzida por “paz” é “unido”, “unido apdés separagéo”, uma re-unifio, uma reconciliagéo depois de uma contenda e de um conflito. A palavra tem seu lugar na expressao “oferta de paz”, como uma oferta apresentada por um homem que faz uma proposta de paz. Ele propde uma uniao, uma aproximacao, uma reconciliagao. Noutras palavras, duas pessoas que brigaram e estiveram em con- flito depuseram suas armas, olharam-se e apertaram as mios. Uniram-se, houve uma reconciliag&o; onde antes havia contenda e separacio, agora ha aproximagio e unido. Esta idéia é exposta no capitulo 2 da nossa Epistola, onde lemos: “De ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separag&o que estava no meio...” (versiculo 14). As duas partes foram aproximadas, a parede de separacio que estava no meio desapareceu, e por um s6 Espirito se juntaram a um s6 Senhor. Esse é 0 sentido de “paz”. “A vos graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo,” Af temos a graga no comego e a paz no fim; todavia nao terminamos, No momento em que vocé se defronta com tal declaragao, é levado a fazer uma pergunta. Por que é que 0 apéstolo deseja isso para esses efésios? A resposta a essa pergunta, como ja 36 estive dizendo, é a totalidade da doutrina crista. Devemos aprender a ler as Escrituras; e, ao fazermos isso, no ha nada que seja mais importante do que fazer perguntas sobre elas. Por que precisamos de graca e paz? Por que é que o apéstolo quer que as conhegamos? Por que ele usa esses termos, e nfo outros? A resposta nos leva imediatamente as verdades cristis fundamentais. Ao desejar-nos graga e paz, ele nos esta dizendo a verdade acerca de nds mesmos, ele nos esté dizendo o que neces- sitamos. Necessitamos da graga que nos leve a paz porque 0 homem é o que é em conseqiiéncia da Queda e do pecado. O que isso significa em detalhe é exposto plenamente pelo apéstolo no capitulo dois. O homem em pecado estd em inimizade com Deus. 0 homem por natureza, como nasce neste mundo, odeia a Deus. Nao somente est4 separado de Deus, mas luta contra Deus, é um inimigo de Deus; tudo nele é, por natureza, completamente oposto a Deus. Essa € a verdade acerca do homem, e 0 resultado é que o homem, nessa condi¢ao, esté combatendo a Deus, esté pelejando contra Ele e O esta odiando. Em seu estado natural, o homem esta pronto a crer em qualquer afirmacdo de jornal de que alguém provou que Deus nio existe. O homem pula diante de declaragées desse tipo e se deleita nelas porque ele odeia a Deus. Esté num estado de inimi- zade contra Deus. Além disso, uma vez que o homem esté nessa relag&o com Deus, também estd num estado de inimizade contra si préprio. Ele nao est4 somente engajado nesta guerra contra um Deus que esta fora dele; mas também esté travando uma guerra consigo mesmo. Ai esté a feal tragédia do homem decaido; ele nao acredita no que estou dizendo, porém esta é certamente a verdade a respeito dele. O homem esté num estado de conflito interno, e ele nao sabe por qué. Ele quer fazer certas coisas, entretanto algo dentro lhe diz que é errado fazer essas coisas. Ele tem dentro de si algo que chamamos consciéncia. Embora pense que pode ser perfeitamente feliz, faca 0 que fizer, e embora possa silenciar os outros, nao consegue silen- ciar esse monitor interno. O homem esté num estado de guerra interna; ele nao sabe a razao disso, mas sabe que é assim. Nas Escrituras, contudo, nos é dito exatamente por que a situa- gao é essa. O homem foi feito de tal maneira por Deus que s6 pode estar em paz consigo mesmo quando est4 em paz com Deus. Nunca houve o propésito de que o homem fosse um deus, mas ele esta 37 sempre tentando endeusar-se, Ele estabelece os seus desejos como as regras ¢ as leis da sua vida, e, no entanto, é sempre caracterizado por confusio, ou coisa pior. Ha algo nele préprio que nega as suas reivindicagdes; e por isso ele esta sempre em briga e conflito con- sigo mesmo. Ele nada sabe da paz real; ele néo tem paz com Deus, nao tem paz no seu interior. E, pior ainda, por causa disso tudo, ele esté num estado de beligerancia com todos os outros. Desafortuna- damente para cada individuo, cada um dos demais também quer ser um deus. Devido ao pecado, todos nés somos autocentralizados, egocéntricos, ficamos voltados para nés mesmos, firmados neste ego que colocamos num pedestal e que julgamos tio maravilhoso e tdo superior a todos os outros. Mas cada um dos demais esté fazendo a mesma coisa, e assim ha uma guerra entre deuses. Alegamos que estamos certos e que todos os demais estio errados. Inevitavelmente, 0 resultado € confusdo, discérdia e infelicidade entre homem e homem. Assim é que comegamos a ver por que 0 apéstolo ora para que tenhamos paz. E por causa da triste condigao do homem, da vida do homem em conseqiiéncia do pecado e do seu afastamento de Deus. Ele esté num estado de des-unidade dentro de si e fora, num estado de infelicidade, num estado de angtstia. Mas nem af a coisa para; o homem trouxe tudo isso sobre si préprio por sua desobediéncia a Deus. Ele néo consegue fugir disso. Ele tem procurado propor todas as explicagdes concebiveis da sua condigéio, porém nenhuma delas é adequada. Ele tentou explicar isso com a teoria da evolugio, e, com base nesse modo de ver e nesse ensino, agora o homem deveria estar emancipado e deveria haver paz; mas a paz nao veio. O homem tenta explicar o seu quinhao de outras maneiras; entretanto nio consegue. O homem trouxe todo este mal sobre si préprio por causa do seu dese- jo de ser deus. Prova-o 0 fato de que ele nao gosta de ser corrigido, e na verdade detesta toda a idéia de lei. Ele a ridiculariza, e consi- dera a lei um insulto; nao reconhece a necessidade de ser mantido na linha pela lei, e se ofende com a sua interferéncia. Mas a grande mensagem da Biblia é que, embora 0 homem tenha cafdo em pecado e se tenha metido neste estado de angtistia, Deus ainda Se interessa por ele, e Deus interveio e interferiu. Deu leis e diretrizes, mas, invariavelmente, o homem as tem rejeitado. E Deus que nomeia governos e magistrados, para manter 0 pecado dentro de limites; porém o homem sempre luta contra toda ordem 38 imposta de fora. Ele gosta disso e, com essa atitude, mostra o seu terrivel édio a Deus e sua inimizade contra Deus. O homem sempre rejeitou o que Deus providenciou para ele e, assim, hd somente uma conclusio a que se pode chegar com relag&o ao homem: o homem merece sobejamente o destino que ele mesmo trouxe sobre si. De fato, podemos ir além e dizer que 0 homem merece coisa pior; merece ser punido. O homem nfo é somente um infrator que mere- ce punigio; também é louco. Ele rejeita a lei de Deus e nao quer dar-lhe ouvidos, e, portanto, merece castigo, merece condenagio. Nao ha desculpa para o homem; ele pecou deliberadamente e caiu no principio, e ainda rejeita deliberadamente a diregao divina. Nao ha argumentos que se lhe possa oferecer. Dé-lhe a Biblia, e ele ri dela. Embora vejamos na Biblia que os homens que se ajustaram a ela encontraram felicidade e paz, os homens a rejeitam; apesar de estar claro que, se todas as pessoas do mundo fossem verdadeira- mente cristas a maior parte dos problemas desapareceria, o homem continua rejeitando o cristianismo. Criaturas desse naipe nao mere- cem nada, senio castigo ¢ o inferno. Essa é a condigaio do homem, em conseqiiéncia da sua queda no pecado. Pois bem, é justamente neste ponto que a maravilhosa mensa- gem do evangelho entra. Toda a mensagem do evangelho é introduzida pela palavra “graga”. Graga significa que, apesar de tudo © que estive dizendo sobre 0 homem, Deus ainda olha para ele com favor. Vocés nfo entenderio o significado da palavra “graga”, se nao aceitarem plenamente o que eu disse sobre 0 homem em peca- do. Esse erro explica porque 0 conceito moderno sobre graga é tio superficial e inadequado. E porque o homem tem um conceito ina- dequado do pecado que ele tem um conceito inadequado da graga de Deus. Se vocés quiserem dimensionar a graga, precisarao dimensionar a profundidade do pecado. A graga é aquilo que diz ao homem que, apesar de tudo 0 que o caracteriza, Deus olha para ele com favor. E completamente imerecida, o homem nfo lhe faz jus; mas esta 6 a mensagem da expressio, “A vos graga”. E agio de Deus a que n&o temos direito, que naéo merecemos, é um amor condescendente. Quando 0 homem nao merecia nada, senio ser eliminado da existéncia, Deus olhou para ele com graga e miseri- cérdia e 0 tratou em conformidade com Sua graga e misericérdia. Assim, esta palavra singular “graga”, no inicio da Epistola, introduz o evangelho todo. Este é 0 grande tema das Escrituras, em todas as suas partes. 39 Por exemplo, Paulo escreve em Romanos, capftulo 5: “Cristo morreu por nds, sendo nés ainda pecadores. Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nés, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando j4 reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. Diz ele que éramos nfo somente pecadores, mas inimigos; nio somente havfamos cafdo, distanci- ando-nos de Deus, e Lhe tfnhamos desobedecido, e nos vimos nesta desgraga, mas, além disso, hd esta inimizade, este dio, este antagonismo no espfrito. O evangelho assevera que, a despeito da nossa inimizade contra Deus, Ele deu Seu Filho por nés e para a nossa salvacdo. O que Ele fez foi estabelecer a paz. No capitulo dois desta Epfstola lemos que Ele nos reconciliou conSigo e nos introduziu num estado de unido com Ele. Seu olhar para nés, com Sua graga, redundou em paz, e em paz perfeita. A graga de Deus em agao desfaz completamente tudo quanto descrevemos como resul- tante do pecado. Primeiramente e acima de tudo, ele d4 paz com Deus: “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus” (Romanos 5:1). Fomos reconciliados com Deus; a inimizade entre néds e Deus foi-se, gragas ao que Deus fez por Sua graca. Mas 0 resultado da graca nado é somente paz com Deus”; ela dé ao homem paz interior. Ela capacita o homem, pela primeira vez em sua vida, a dar resposta a uma consciéncia acusadora; ela capacita o homem, pela primeira vez em sua vida, a ter descanso na mente e no coragao. Pela pri- meira vez o homem pode viver consigo mesmo, e pode saber que tudo esta bem. O conflito acabou, neste sentido fundamental, e ele entende pela primeira vez a causa de todos os seus problemas. Ele enxerga um modo de sobrepor-se a todas as suas dificuldades, e vislumbra a vitéria final que o espera em Cristo. Isso, por sua vez, leva-o a um estado de paz com as outras pessoas. Trataremos disso em detalhe mais adiante, porém ei-lo aqui em resumo, logo no inicio. No momento em que um homem se torna crist&o, nada continua o mesmo, e ninguém continua sendo o mesmo para ele. A pessoa que antes ele odiava, agora ele vé como uma vitima do pecado e de satands, e ele comega a ter pena dela. Conhecendo a graga de Deus e experimentando esta nova paz que Ihe foi dada, seu ex-inimigo passou a ser alguém por quem ele ora. Comega a pér em aco a injung&o do seu Senhor, que diz: “Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos maltratam’”. A inimizade é 40 abolida pela nova visao. Ele agora deseja ser reconciliado e estar em paz. Mas a esta paz com Deus, paz interior e paz com os outros, as Escrituras prosseguem dizendo que se acrescenta algo chamado “paz de Deus”. Significa que, aconteca 0 que acontecer ao seu redor e por perto, vocés tem dentro de si “a paz de Deus que excede todo entendimento” e que guarda “os vossos coragdes € os vossos senti- mentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:7). Deus no somente lhes deu paz, mas providenciou a preservagao da paz. Vocés esto guar- necidos de um poder e de uma Pessoa que os manter4 em paz. Muitas coisas podem acontecer-lhes, vocés serao vitimas da tenta- ¢4o para pecar e poderao ficar sem saber 0 que fazer, porém esta paz de Deus que excede todo o entendimento estard de guarda, protegendo os seus coracgées € as suas mentes, Sao esses alguns dos elementos da paz a qual a graga de Deus leva, nao obstante 0 que estou desejoso de ressaltar acima de tudo mais é que tudo isso nos vem como resultado da graga de Deus. “‘A vés graga, e paz da parte de Deus.” Nao merecemos nada, nem sequer 0 desejamos, nem podemos obté-lo; mas Deus no-lo dé. E tudo pela graca, uma dadiva inteiramente gratuita de Deus. Agora devemos fazer uma segunda pergunta: como é que tudo isso nos acontece? A resposta é dada imediatamente nas duas pala- vras: “nosso Pai”. “A vés graga e paz da parte de Deus nosso Pai.” A graga logo muda toda a nossa atitude para com Deus porque mudou todo 0 nosso conceito de Deus. Para 0 cristao, Deus é “nosso Pai”. Para 0 cristo, Deus nao é apenas um X filoséfica a distancia, sobre quem ele fala e argumenta inteligentemente em seus livros filos6fi- cos; Deus nao é tio-somente uma grande forga, um grandioso poder num céu distante; Ele é 0 Pai, o meu Pai, 0 nosso Pai. Toda a relacdo entre o homem e Deus foi inteiramente renovada e mudada. Deus nao é mais um terrivel ¢ distante legislador esperando para punir-nos; Ele continua sendo legislador, mas também é “meu Pai”. Devemos, porém, ser cautelosos quanto 4s armadilhas que nos cercam. Em que sentido Deus é meu Pai? “Deus”, diré alguém, “é 0 pai de todos os homens.” E verdade que ha um sentido em que Deus € 0 Pai de todos os homens. Paulo, pregando aos atenienses, afirma que Deus é nosso Pai nesse sentido, que todos somos “sua geracao” (Atos 17:28). Isso se refere a Deus em Sua relagdo conosco como Criador. O autor da Epistola aos Hebreus escreve de maneira semelhante quando descreve Deus como o “Pai dos espiritos” 4] (Hebreus 12:9). Deus € 0 Pai de todos os espiritos como Aquele que os fez, como o seu Criador, e nesse sentido Ele é 0 progenitor dos espiritos de todos os homens. Mas quando Paulo diz aqui “nosso Pai”, nao est4 falando naquele sentido geral. Deus é Pai nao somente no sentido geral, mas no sentido particular € “nosso Pai”. Todos os homens tendo pecado, cairam e perderam aquela relagao inicial, e, portanto, 0 nosso Senhor péde dizer a certos judeus: “Vés tendes por pai ao diabo”’ (Joao 8:44), Evidentemente, eles nao eram filhos de Deus. Assim, 0 apéstolo aqui nao esta simplesmente descrevendo Deus em termos gerais de paternidade, em termos da criagao. Hé um novo elemento, o qual é introduzido com a préxima palavra: “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”, Esta é a “differentia” do cristianismo, o elemento que muda tudo. E 0 Senhor Jesus Cristo. Para que nao fique nenhuma incer- teza ou confuséo, notemos o que Paulo diz nesta mesma saudagio: “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. A graga e a paz vém igualmente do Senhor Jesus Cristo e do Pai. Esta é uma doutrina vital. Isso de um cristianismo sem 0 Senhor Jesus Cristo nao existe; nado ha nenhuma bengao de Deus ao homem no sentido cristéo, exceto no Senhor Jesus Cristo e por intermédio dEle. Qualquer coisa que se declare cristianismo sem ter Cristo no comego, no meio e no fim, é uma negagio do cristia- nismo, déem vocés a isso 0 nome que quiserem. Sem Cristo nao ha cristianismo; Ele é tudo. Quem é esta Pessoa que o apéstolo liga com Deus 0 Pai? Ob- servem os termos empregados. Ele € o Senhor, isto é, Jeova.** A palavra traduzida por “Senhor” é a palavra que os judeus emprega- vam na antiga dispensacdo para “Deus”. Era o maior de todos Os nomes, 0 nome que era téo sagrado que eles nem se atreviam a “Diferenga. Em latim no original. Nota do tradutor. “* No hebraico, puramente consonantal, os chamados massoretas introduziram sinais representativos dos sons vocdlicos, que eram memorizados pelos hebreus. Para isso criaram um extraordindrio sistema para representar, nao somente os sons vocélicos, mas também a cadéncia, o ritmo etc. Eles utilizaram os sinais vocélicos da palavra “Adonai” (“Senhor”) - ocasionalmente a palavra “elohim” (“Deus”) ¢ os usavam com as consoantes do nome inefavel, impronunciével do Deus da Alianga. Assim, o habito de nao se pronunciar 0 Nome foi preservado. 42 usd-lo. “Jeova” € o nome de Deus, do Deus da Aliancga. O nome Jeovd & empregado com referéncia ao Pai; e também é reivindi- cagio do cristéo para Jesus de Nazaré. Este é aquele que nos Evan- gelhos € descrito como Jesus de Nazaré, mas Paulo nao hesita em dizer que Ele é Deus. O apéstolo O coloca ao lado de Deus, como igual a Deus, é co-eterno com Deus. Ele pode ser colocado ali sem nenhuma irreveréncia, Ele pode ser colocado ali sem que se incorra em nenhuma blasfémia. Ele pode ser colocado ali, ao lado do nosso Deus vivo e verdadeiro, o Pai. Ele € 0 eterno Filho de Deus, um com Deus desde a eternidade. Mas Ele é também Jesus. Significa que Ele é também verdadei- ramente homem. Nasceu em Belém, e 0 nome que Lhe foi dado é “Tesus”. Ele veio a ser um menino no templo — Jesus de Nazaré. Ele foi um carpinteiro, Filho de José e Maria, e lemos a respeito dos Seus irmios. Ele é o homem que comegou a pregar com a idade de trinta anos, Jesus, o operador de milagres. No versiculo seguinte, porém, nos é dito algo mais sobre Ele: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Ele é 0 Se- nhor, Ele é Jeova, Ele € Deus, mas Deus é também o Seu Deus, e Deus € Seu Pai. Este é um grande mistério. Ele mesmo disse, pouco antes do fim da Sua vida terrena: “Eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Joao 20:17). Ele jé dissera: “O Pai é maior do que eu”; todavia, Ele € Jeovd, porém é também Jesus — 0 Deus-homem. A assombrosa doutrina da encarnagao est4 af, no versiculo dois. Cristo € a segunda Pessoa da Trindade santa e ben- dita, que, em Seu condescendente amor, desceu para reconciliar- -nos com Deus. Ele préprio é o Senhor Jeové. Ele é também “o primogénito entre muitos irmaos”. Ele é o Senhor Jeova que Se tornou “Jesus”, tomando sobre Si a nossa natureza, tomando sobre Si os nossos problemas, e mesmo as nossas fraquezas, e finalmente Ao se chegar ao Nome, as vogais de Adonai levavam o leitor a ler “Senhor”, e nao o Nome inefavel de Deus. Os primeiros tradutores modernos desconheciam esse fato ¢ leram a palavra como se as consoantes ¢ os sinais vocdlicos perten- cessem a uma sé palavra—ao Nome inefavel. Daf surgiu uma palavra inexistente no hebraico — Jeova. As versdes modernas evitam essa palavra, Algumas usam © termo Senhor ou SENHOR. Contudo, dado 0 uso generalizado do termo “Jeova”, nio faz mal utiliz4-lo ocasionalmente, pois, para o leitor comum fica simples o entendimento, ¢ 0 leitor erudito sabe do que se trata. Nota do tradutor. 43 os nossos pecados. Ele foi as mais tenebrosas profundezas, ao ponto de sentir-Se abandonado por Deus quando sofreu o castigo que nos cabia. Isso é “graca”, 0 condescendente amor de Deus. “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito.” A préxima palavra é “Cristo” — o Senhor Jesus Cristo. Ele é 0 Salvador, o Unigénito, o Messias, Aquele que foi enviado para redimir a humanidade, Ele desceu da gléria e entrou neste mundo, mas desceu a um ponto ainda mais baixo. Ele nao Se envergonhou de vestir a “semelhanga da carne do pecado”. Ele sofreu a nossa punic&o na cruz, Seu sangue foi derramado por nés, e nds fomos reconciliados com Deus e temos “paz com Deus”. Ainda mais maravilhoso, porém, tendo assumido a nossa natureza, Ele nos da entao a Sua natureza. Pois Cristo nado nos dé somente o perdiio, Ele nos dé um novo nascimento, e nos tornamos “filhos de Deus”. “O Filho de Deus tornou-Se Filho do homem, para que os filhos dos homens se tornassem filhos de Deus”, como Joao Calvino disse uma vez. Significa que nao somente temos paz com Deus e com os outros, mas também gozamos o favor de Deus porque somos filhos de Deus em Cristo. Deus, que é Seu Deus e Seu Pai, tornou-Se nosso Deus e nosso Pai. Por isso 0 apéstolo péde dizer, incluindo- -nos, a nés que somos cristfos, com ele: “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. A suprema honra, a maior dddiva da graga de Deus a nds, é que nos tornamos “filhos de Deus” e que nesta qualidade passaremos a eternidade na presenga de nosso Pai. A “graga’’, totalmente imerecida, leva 4 paz, 4 filiacdo e, finalmente, a gléria eterna. 4 A ALIANCA ETERNA “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abengoou com todas as béngdos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” — Bfésios 1:3 Aqui, mais uma vez, temos uma das gloriosas e estonteantes declaragdes que se acham tao profusamente nos _ escritos do apés- tolo Paulo, Talvez nada seja mais caracterfstico do seu estilo como escritor do que a freqiiéncia com que ele parece expor 0 evangelho completo numa frase ou versiculo. Ele nunca se cansa de fazer isso; ele sempre diz a mesma coisa de muitas maneiras diferentes. Esta é uma das suas, até mesmo das suas, mais gloriosas declaragdes. Portanto devemos abord4-la com cuidado e com oragiio. O perigo, quando consideramos tal declaracao, é ficarmos t&o encan- tados e arrebatados pelo préprio som das palavras e pelo arranjo delas, que nos contentamos com o efeito passageiro e nunca nos damos o trabalho de analis4-la e, com isso, descobrir 0 que exata- mente ele diz. Podemos contentar-nos com um efeito puramente geral e estético, perdendo conseqiientemente a tremenda riqueza do seu conteido, Devemos, pois, ser extraordinariamente cuidadosos, para analis4-la, questiond-la e descobrir exatamente o significado e 0 contetido de cada palavra. E devemos fazé-lo 4 luz do ensino das escrituras como um todo. A primeira coisa que temos de fazer é observar 0 contexto. Primeiramente, no versiculo primeiro, 0 apéstolo lembra aos efésios quem eles sao, e o que eles sio. Depois, no versiculo 2, ele eleva uma orago por eles, e hes faz lembrar-se das coisas que eles podem gozar e devem procurar gozar — “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Tendo feito isso, agora ele esta interessado em lembré-los de como foi que eles se tornaram 0 que sao e de como lhes é possivel gozar estas inesti- miaveis béngaos da gracga e da paz. Essa € a conexdo; e de novo devemos salientar 0 fato de que esta saudagio preliminar nao é mera formalidade; estd repleta da légica que sempre caracteriza Paulo, o apéstolo. Tendo-os feito lembrar-se de que sao “santos”, sio “fi¢is” e 45 est&o “em Cristo”, e, como resultado disso, devem estar gozando graga e paz da parte do Senhor Jesus Cristo, ele agora passa a mos- trar, neste versiculo trés, como isso tudo é possivel. H4 um sentido em que se pode dizer verdadeiramente que este versiculo trés é 0 centro da Epfstola inteira. Acima de tudo mais, o apéstolo esta interessado em fazer isto. Ele deseja que estes cristéos cheguem ao entendimento e 4 percepcao de quem e do que eles so, e das grandes béngaos para as quais eles est4o abertos. Noutras palayras, o tema é o plano da salvacio, e o caminho da salvagao, este tre- mendo processo que nos coloca no caminho onde estamos e aponta para Deus e para as coisas que Deus tem preparado para nés. Paulo faz isso porque ele deseja que estes cristaos efésios e outros entrem na sua heranga para poderem gozar a vida cristé com devem, e para viverem suas vidas para o louvor e a gléria de Deus. E, natural- mente, a mesma coisa se aplica a nés. Quer o saibamos quer nao, 0 nosso maior problema como cristéos hoje continua sendo a falta de entendimento e de conhecimento das doutrinas das Escrituras. E a nossa caréncia fatal nesse ponto que explica tantos fracassos em nossa vida crista . A nossa principal necessidade, segundo este apéstolo, € que “os olhos do nosso entendimento” sejam abertos amplamente, nfo apenas para que gozemos a vida cristé e as experiéncias que ela nos propicia, mas a fim de que entendamos o privilégio e as possibilidades da nossa alta “vocagio”. Quanto maior for 0 nosso entendimento, mais experimentaremos estas riquezas. Falta de conhecimento sempre foi o maior problema do povo de Deus. Essa foi a mensagem do profeta Oséias no Velho Testa- mento. Diz ele que 0 povo de Deus daquele tempo estava morrendo por “falta de conhecimento” (4:6). Foi sempre esse o problema dos israelitas. Eles nao se davam conta de quem eram e do que eram, e porque eram o que eram. Se tao-somente tivessem sabido estas coisas, nunca teriam se afastado de Deus, nunca teriam se voltado para os idolos, nunca teriam procurado ser como as outras na¢Ges. Sempre houve esta falta de conhecimento. O Novo Testamento esta repleto do mesmo ensino. Portanto, devemos estudar atentamente este versiculo, porque af o apéstolo nos apresenta este conhecimento, esta doutrina que leva ao entendimento do que somos. Podemos fazé-lo em termos dos princfpios salientados abaixo, e na ordem em que sao apresen- tados pelo apéstolo, 46 A primeira proposigao 6 que a percepcado da verdade concernente a nossa redengao sempre leva ao louvor. Este irrompe logo na palavra “Bendito”. O apéstolo parece alguém que esta conduzindo um grande coral e orquestra. Essa verdade Haendel parece ter compreendido muito bem; é a caracteristica dos seus corais mais grandiosos. Pensem no que se salienta no preltidio de “Digno € 0 Cordeiro”. O apdstolo comega com essa mesma tre- menda explosio de louvor e aclamagio — “Bendito o Deus”, “Louvado seja Deus”. Ele sempre faz isso. Examinem todas as suas Epistolas, e verdio que é assim. A primeira coisa, sempre, € louvor e acao de gracas, e isso porque ele entendeu a doutrina; em conseqii- €ncia da sua contemplagiio da doutrina, ele louva a Deus. Certamente, 0 louvor e acao de gragas devem ser sempre as grandes caracteristicas da vida cristaé. Vejam por exemplo, 0 livro de Atos dos Apéstolos. J se disse que esse livro é 0 livro mais lirico do mundo. A despeito de toda perseguig&o que aqueles cristios primitivos tiveram que suportar, de toda a dureza e de todas as dificuldades que tiveram de enfrentar, eles se distinguiam por um espirito de louvor e agao de gracas. Eram pessoas que se mos- travam emocionadas com um sentimento de paz, de alegria e de felicidade que nunca tinham experimentado antes. A mesma nota se vé também em toda parte nas Epjstolas do Novo Testamento — “Regozijai-vos no Senhor”, “Regozijai-vos sempre no Senhor”. Até mesmo no livro de Apocalipse, que retrata provagées e tribulagdes que o povo de Deus ha de enfrentar sem sombra de diivida, esta nota de triunfo e louvor percorre todas as suas partes. Esta é a carac- teristica peculiar e suprema do povo de Deus, dos cristios. O louvor € simplesmente inevitavel, 4 luz do que j4 vimos nesta Epfstola. Se verdadeiramente captamos o que significam “graca” e “paz”, ndo podemos senao louvar a Deus. Portanto, antes de passar a qualquer outro ponto, sugiro que nao existe prova mais verdadeira da nossa profissdéo de fé cristaé do que descobrir quao proeminente é esta nota de louvor e agaio de gragas em nossas vidas. Sera que é algo que se vé emanando dos nossos coragées e da nossa experiéncia como invariavelmente ocorria com o apdstolo Paulo? Estaria constantemente irrompendo em nés e se mani- festando em nossas vidas? Nao estou me referindo ao uso loquaz de certas palavras. HA certos cristéos que, quando vocés se encontram com eles, ficam repetindo a frase “Gléria ao Senhor” para darem a impressio de que sdo cristéos jubilosos. Mas nao ha nada de 47 loquacidade facil na linguagem do apdstolo. Nao ha nada de formal ou superficial; ela vem das profundezas do coragio; é algo sentido no coragao. Certamente todos concordaraéo que é impossfvel ler 0 Novo Testamento sem ver que esta deve ser a realidade suprema na vida cristé. Tem que ser assim, necessariamente, porque se 0 evangelho é verdadeiro quando diz que Deus enviou Seu Filho ao mundo para fazer por nés as coisas que estamos considerando, entio é de se esperar que os cristos sejam inteiramente diferentes dos incré- dulos; esperar-se-4 que eles vivam numa relagdéo com Deus completament e evidente para todos, e acima de tudo mais, que apresentem esta qualidade de alegria. Até os catélicos romanos, cuja doutrina ¢ cujo ensino em geral tendem a ser depressivos e opor-se 4 certeza da salvacao, antes de “canonizarem” alguém estabelecem como um elemento essencial absoluto, esta qualidade de alegria e de louvor. Nesse ponto eles esto absolutamente certos — o louvor deve ser a caracterfstica de todos os “santos”, de todos os cristaos. Dai, vemos esta constante exortagéo no Novo Testamento a louvar- mos a Deus e a elevemos agoes de gragas. E isso que nos diferencia do mundo. O mundo é deveras misero e infeliz; vive cheio de maldigdes e de queixas. Entretanto o louvor, a agio de gracas e 0 contentamento marcam o cristéo e mostram que ele nao é mais “do mundo”. O louvor distingue o cristio particularmente em sua oracio em seu culto a Deus. Os manuais sobre a vida devocional que tém sido escritos através dos séculos, independentemente dos credos denominacionais, concordam que o ponto maximo de todo culto e de toda oraciio, so a adoragiio, o louvor e agao de gragas. Porventura nao pesa sobre nés alguma culpa nesse ponto? Nao reconhecemos uma grave deficiéncia e caréncia quando consideramos isso? Temos prazer em estar simplesmente na presenga de Deus “no culto, na adoragao”? Sabemos o que 6 emocionar-nos constante- mente e clamar, “Bendito 0 nosso Deus e Pai”, ¢ atribuir a Deus todo o louvor e exaltagao e gléria? Esse é 0 ponto mais alto do nosso crescimento na gracga, a medida de todo cristianismo verda- deiro. E quando eu e vocés “ficamos perdidos de encanto, amor e louvor” que realmente estamos funcionando como Deus quer que funcionemos em Cristo. O louvor é realmente o principal objetivo de todos os atos ptiblicos de culto. Todos nés devemos examinar-nos neste ponto. 48 Temos que lembrar-nos que o propésito primordial do culto é dar louvor e gragas a Deus. O culto deve ser da mente e do coragao. Nao significa apenas repetir certas frases mecanicamente; significa 0 coragio irromper em fervente louvor a Deus. Nao devemos vir a casa de Deus simplesmente para buscar béncfos e desejando varias coisas para nds, ou mesmo simplesmente para ouvir sermGes; deve- mos vir para servir e adorar a Deus. “Bendito o Deus e Pai” sempre deve ser o ponto de partida, o ponto mais alto. Observemos, porém, que o louvor, a adoragio e 0 culto devem ser atribufdos 4 Trindade santa e bendita. ‘Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 0 qual nos abengoou com todas as bén- go espirituais.” As béng&os vém por intermédio do Espirito Santo. O louvor, o servigo ¢ a adoragio, na verdade, todo o culto deve ser oferecido e atribuido as trés Pessoas benditas. O apdstolo Paulo jamais deixa de fazer isso. Ele se deleita em mencionar 0 Pai e 0 Filho e 0 Espirito Santo, A posigao crist& é sempre e inevitavel- mente trinitéria. O culto cristao tera que ser trinitario, se é que ha de ser culto verdadeiro; nao ha contestag&o, nem op¢&o quanto a isso. Se temos 0 correto conceito biblico da salvagio, entao as trés Pessoas da Trindade santa e bendita sempre e invariavelmente haverao de estar presentes. Muitas vezes as pessoas se detém numa s6 Pessoa. Alguns se detém na Pessoa do pai; falam acerca do Pai e do culto a Deus e do perdao que se pode obter de Deus; no entanto, em toda sua prosa e conversa, o Senhor Jesus Cristo nado é nem mencionado. Algumas outras pessoas se detém wnica e inteiramente no Senhor Jesus Cristo. Concentram-se tanto nEle que pouco se ouve sobre o Pai e sobre o Espirito Santo, H4 outros cuja conversacao s6 parece girar em torno da obra do Espirito Santo, e eles parecem estar interessa- dos unicamente nas manifestagdes espirituais. Ha esse constante perigo de esquecer-nos de que, como crist&os, temos de, necessari- amente, prestar culto as trés Pessoas da Trindade santa e bendita. O cristianismo € trinitaério e sua origem e em sua continuidade. Ora, nao devemos somente ter 0 cuidado de verificar que as trés Pessoas estejam em nossas mentes e em nosso culto, mas também devemos ser igualmente cuidadosos quanto & ordem em que elas nos sao apresentadas nas Escrituras — 0 Pai, o Filho, O Espfrito Santo. Existe 0 que os nossos antepassados denominavam “economia divina” ou ordem na questo da nossa salvagao entre as préprias Pessoas benditas; e assim devemos preservar sempre essa 49 ordem. Devemos prestar culto ao Pai mediante 0 Filho, pelo Espi- rito Santo. Muitos cristéos evangélicos, em particular, parecem elevar todas as suas oragdes ao Filho, e ha outros que esquecem completamente o Filho, porém os dois erros nao formam uma coisa certa. Por isso notamos aqui, no comeg¢o desta Epistola, que o apéstolo nao somente louva, mas louva as trés Pessoas benditas, e atribui a Elas acdo de gracas e gléria, nessa ordem invaridvel. O segundo principio é que Deus seja louvado. O meu primeiro principio foi que a verdadeira compreensio da natureza da _sal- vacio leva ao louvor. Agora passamos a considerar porque as benditas Pessoas da Trindade santa devem ser louvadas dessa maneira. Ha muitas respostas a essa questo, todavia devemos concentrar-nos na que 0 apéstolo salienta especialmente neste versiculo, Deus deve ser louvado porque Ele é o que Ele é. A caracterfstica suprema ou o supremo atributo de Deus € a bem- -aventuranga. E indescritivel, mas se hé uma qualidade, um atributo de Deus que faz de Deus Deus (falo com reveréncia), se ha uma coisa que faz de Deus Deus mais do que qualquer outra coisa, é a bem-aventuranga. E Deus deve ser louvado. Devemos dizer “Bendito seja Deus” por causa do que Deus é e do que Ele faz. Deus deve ser louvado também porque Ele nos tem abengoa- do: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qua] nos abengoou com todas as béncios espirituais”. Contudo, antes de chegarmos a isso, observamos que o apéstolo foi adiante para algo mais, Deus deve ser louvado, e deve ser louvado por causa da maneira pela qual Ele nos abengoa. Ja fiz alusio a isso quando lembrei a vocés a importancia da nossa relacéo com as trés Pessoas da Trindade santa e bendita. Noutras palavras, a grandeza acentu- ada neste versiculo é o planejamento de nossa salvagio; e nao somente o planejamento, mas a maneira pela qual foi planejada, a maneira pela qual Deus efetua a salvagio. Mais uma vez, pergunto se nao devemos reconhecer-nos culpados da tendéncia de negli- genciar e ignorar isso? Quantas vezes j4 nos sentamos e tentamos contemplar, em seqiiéncia 4 leitura das Escrituras, o planejamento da salvacaéo, 0 modo como Ele elaborou o Seu plano e como Ele o pds em operagio? A nossa salvagdo vem inteiramente de Deus; entretanto, por causa da nossa mérbida preocupag&o com nés mesmos € Com 0 nosso estado, 0 nosso temperamento e€ as nossas condigées, inclinamo-nos a falar da salvagaio somente em termos de 50 nés mesmos e do que acontece conosco. Naturalmente, isso é de vital importancia, pois 0 verdadeiro cristianismo é experimental. Nao ha tal coisa como um cristianismo que nao seja experimental; con- tudo nao é s6 experiéncia. Na verdade, é a extensao do nosso entendimento que, em Ultima andlise, determina a nossa experién- cia. Passamos tanto tempo tomando nosso pulso espiritual e falando de nés mesmos e dos nossos sentimentos e condigdes, que mal chegamos a ter um pequeno entendimento do plano daquilo que Deus tem feito. Nao obstante, geralmente 0 apdéstolo comega com isso, como também o faz a Biblia. Chamo a atencio para essa questo, nao por estar animado por algum interesse académico ou tedrico, mas porque nos privamos de muitas glérias e riquezas da graga quando deixamos de dar-nos ao trabalho de entender essas coisas e de enfrentar o ensino das Escri- turas. Tendemos a tomar um capitulo por vez; passamos adiante, e nao paramos para analisar e compreender o que ele nos diz. Alguns até chegam a tentar escusar-se dizendo que nao estao interessados em teologia e doutrina. Em vez disso, querem ser cristdos “prati- cos” e desfrutar o cristianismo. Mas quio terrivelmente erréneo é isso! As Escrituras nos dao este ensino; 0 apdstola Paulo escreveu estas cartas para que pessoas como nds pudessem entender estas coisas. Alguns daqueles a quem Paulo escreveu eram escravos que nao tinham recebido instrugdéo secundaria, nem mesmo primaria. Muitas vezes dizemos que nfo temos tempo para ler — que vergo- nha para nés, povo cristéo! -— quando a verdade é que nao nos damos ao trabalho de ler e entender a doutrina crist’. Mas é essen- cial que o facamos, se realmente desejamos prestar culto a Deus. Se nao ha louvor na vida cristé de alguém, é porque ele ignora estas coisas. Se desejamos louvar a Deus, temos que examinar a verdade e dar expansio 4s nossas almas quando nos defrontamos com ela. Se queremos dizer de coragéo “Bendito seja Deus”, temos que saber algo sobre como Ele planejou esta grande salvacio. O grande plano de Deus é sugerido neste versiculo. Houve a realizagéo de um grande conselho eterno entre o Pai, o Filho e 0 Espirito Santo. O préximo versiculo nos diz quando ele foi reali- zado: “Como também nos elegeu nele antes da fundagao do mun- do, para que féssemos santos e irrepreensiveis diante dele em amor’. Compreendemos quea nossa salvacio foi planejada antes do mundo ter sido planejado e criado? Ba percepgao deste fato que faz com que a pessoa fique na ponta dos pé ¢ grite louvores a Deus — “nos Sl

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