Mudancas Na Divisão Inter-Regional Do Trabalho No Brasil PDF

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. . FRANCISCO DE OLIVEIRA e HENRI-PHILIPPE REICHSTUL (*) MUDANCAS NA DIVISAO INTER-REGIONAL DO TRABALHO NO BRASIL © trabalho que ora se apresenta tem como objetivo limitado o de contribuir para a discussaéo mais geral sobre as perspectivas da economia brasileira para a proxima década, tema escolhido para o Simpdésio de Economia da reuniao anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéncia. Sua limitacdo de objetivo, ao lado de outros fatores, ccrao escassez de tempo e de recursos para uma Pesquisa mais ampla, nao desconhece a complexidade da tematica abordada, nem outros possiveis angulos de ana- lise e interpretacdo dos fenémenos que ocorrem no pro- cesso da divisao inter-regional do trabalho na economia brasileira. Tao somente privilegiou-se um aspecto que pareceu aos autores sumamente interessante e signifi- cativo desse processo citado; na maior parte dos casos, as afirmacées devem ser entendidas como um conjunto Ce hipdteses que norteiam uma investigacdo mais ampla, em curso no CEBRAP, sob a orientacio dos autores, a respeito da experiéncia de planejamento regional no Bra- sil, tomando-se a SUDENE como 0 caso mais conspicuo e mais ilustrativo. £ evidente que a expansao da economia brasileira traz, em seu bojo, mudangas na divisao do trabalho entre as diversas regides (1) que compéem o pais, além do que esse processo global envolve, ao nivel de cada regiao, uma outra diferenciacdo social do trabalho (crescimento de atividades secundarias e terciarias em relacdo as primé- rias, substituigao de atividades artesanais por fabris, cria- ao de novos tipos de servicos). No periodo estudado por este documento, 0 intenso crescimento industrial ocorridc na regiao Sudeste — particularmente em Sao Paulo — é obviamente o epicentro das transformagées estruturais da economia brasileira como um todo, e igualmente, de uma certa redivisio inter-regional do trabalho no pais. Qual é o impacto na divisio inter-regional do trabalho no Bra- sil da industrializagdo do Sudeste? Que transformagées estruturais, ao nivel de cada regiae, podem ser creditadas ao crescimento industrial referido? Em que diregaéo aponta o processo, nesta década? O tema tem sido pouco tratado, na literatura técnica. brasileira, ou, mais precisamente, tem sido esquecido, re- centemente. Nos ultimos anos da década de 50 e comecos da de 60, o tema foi muito importante, e, de sua discussio, nasceram a SUDENE e, posteriormente a transformacéo da SPVEA em SUDAM, a SUDESUL e a SUDECO, desti- madas a serem agéncias de desenvolvimento regional. O prestigio da SUDENE levou & cépia do seu modelo insti- ‘tucional nas demais agéncias regionais que se lhe segui- vam; mas a auséncia de reflexdo sobre a validade da experiéncia levou também a que tais agéncias — com a Possivel exceciéo da SUDAM — no passem de arremedos improdutivos, com todos os defeitos e sem nenhuma das qualidades da experiéncia original. Por outro lado, até que ponto a estruturagao do sistema nacional de planeja- mento, hoje constituido pelo bloco dos Ministérios da Fazenda, Planejamento, Industria e Comércio, e pelas agéncias e empresas desses ministérios, considerou seria- mente a experiéncia regional de planejamento? Nao se tera, apressadamente, substituido um esquema de descen- tralizagaéo por um centralismo que, do ponto de vista regional, opera indiferenciadamente? No fundo dessas perguntas, a quest&o principal é: existe um “problema regional” no Brasil? De que forma ele se apresenta hoje —- dando-se por suposto que exista — apés as trés ultimas décadas, de intenso crescimento industrial? No fim da década dos cingitenta, o problema foi percebido como um alargamento das disparidades prin- cipalmente entre a regiio Sudeste —- chamada Centro- Sul nos termos de entéo — e o Nordeste, motivado, de um lado, pelo crescimento industrial do Sudeste e de outro, pela perda de capacidade de competicio das ativi- dades eminentemente exportadoras do Nordeste, havendo, no entantc, uma curiosa alimentagao do crescimento do Sudeste pelos excedentes gerados no Nordeste. Esta era a tese contida em documentos como o “Uma politica de desenvolvimento para o Nordeste” e sobre ela desenhou- se toda uma estratégia de resoluc4o do “‘problema regio- nal’ de entéo. Ainda que se possa dizer que a interpre- tagao do processo entaéo em curso estava equivocada, pois tomava como alargamento das disparidades 0 que era uma redefinicgdo das relagdes regionais — e aqui faca- se justicga a Ignacio Rangel, que percebeu claramente a diferenga entre as duas ordens de fenémenos (2) — tam- bém é possivel dizer-se que a estratégia adotada foi cor- Teta no atacado. Preconizando o crescimento industrial como eixo central da redugdo das disparidades, nao apenas desmistificava a velha retérica sobre o Nordeste, como colocava sobre outras bases a questao da divisdo regional do trabalho: apenas o crescimento industrial, no contexto de um processo global-que-tem-precisamente na-industria.. a CONTAS NACIONAIS a chave da dinamica do seu desenho territorial, pode cor- rigir distorgoes e reforgar 0 processo global. O tema deste trabalho, embora enunciado numa pers- pectiva global, sera reduzido a tentativa de verificacdo das novas relagdes entre o crescimento da regido Sudeste e o do Nordeste. Essa reducdo se opera por duas classes de razdes, a primeira das quais é bastante Obvia e se refere 4 disponibilidade de dados, e a segunda é de natu- reza mais tedrico-metodologica, pois a evidéncia de que as novas relagdes sao estabelecidas a partir e por causa do crescimento industrial do Sudeste leva a privilegiar um enfoque que procure apanhar especificamente as novas relagdes entre setores industriais das mesmas regides; e nesse asepcto, 0 estudo dos mecanismos de transferéncia de recursos e capacidade empresarial do Sudeste — de todo o pais, na verdade — para o Nordeste, pode oferecer interessantes pistas para se aclarar a questao: ‘maior. Esta parte do trabalho visa analisar comio o cresci- mento da economia nos tltimos dois decénios e o pro- cesso de industrializagao sofrido no Brasil afetaram a diviséo nacional do trabalho. A partir de estimativas da Renda Interna segundo Ramos de atividades, por regido, fornecidas pelo Centro de Contas Nacionais IBRE-F.G.V., calcularami-se as. par- ticipacdes dos trés ramos de atividade econédmica (Indus- tria, Agricultura e Servicos), por regiao, em relagdo & Renda interna regional e em relagéo & Renda total de cada ramo. Deve-se observar que os resultados obtidos represen- tam porcentagens de participacdo relativa; isto significa que mesmo uma queda na participac¢ao de um setor se pode dar paralelamente a um crescimento deste mesmo setor. A seguir, passamos a descrever os resultados obti- dos por setor, para, posteriormente, levantar algumas hhipéteses a partir da observac&o desses resultados. Se analisarmos a participagaéo da agricultura brasi- leira no total da Renda Interna, de 1947 até 1968, vere- mos que esta cai de 31,7% em 1947 para 22,7% em 1968, ou seja, perde 9 pontos de participagdo, sendo que a queda é lenta nos primeiros 9 anos (2 pontos) e, entre 1956 e 1968, se acelera, caindo 7 pontos. O resultado corresponde & lei de decréscimo da importancia relativa da agricul- a 7 135 sath semua: iis er RR nn ~ i Bivcekts tura, uma vez que esta ji nado é o setor dinamico da economia. Por sua vez, a indistria torna-se o setor de ponta, e aumenta sua participacao em detrimento da agri- cultura. Estes resultados sio amplamente conhecidos e sao referidos aqui tao somente para fornecer o marco mais geral. 7 No entanto, se a participacdo do setor agricola na economia brasileira decresceu, dentro do préprio setor houve importantes redivisdes regionais. A agricultura nordestina, que em 1947 participava com 19,9% da agri- cultura brasileira, passa, em 1968, a representar 24,6% desse total. No Sul, o setor agricola também obteve crescente participagéo entre 1947 e 1968, elevando-se de 23,2% a 28,7%. Se somarmos o aumento de par- ticipagiio do setor agricola do Nordeste e do Sul veremos que estas duas regides incrementaram de 10,2% sua con- tribui¢éo & renda da agricultura brasileira. Para a regio Sudeste, ocorreu o contrario. Sua par- ticipagado declinou de 51,7% em 1947 para 37,9% em 1968. Pelas tabelas anexas podemos verificar que o crescimento do setor agricola do Sudeste se deu a taxas menos eleva- das do que as do Sul e do Nordeste. ». As duas regides restantes — Norte e Centro-oeste —, cujo setor agricola tem pequena participagdo no total da agricultura brasileira, tiveram comportamentos diferentes. O Norte manteve sua participagéo pouco alterada: 2,4% em 1947 para 2,1% em 1968. O Centro-oeste, por sua vez, apresentou crescimento constante do seu setor agricola, Ppassando de 2,8% em 1947 para 6,7% em 1968. Se considerarmos as participagdes dos setores agri- colas no total da renda interna em cada regido, podere- mos ver como o decréscimo da participacdo da agricultura na renda interna total se distribui em decréscimos na renda de cada regiZo. O que observamos é que existe, em todas as regides, uma queda na participagao da agricul- tura. Assim, de 1947 a 1968, as participagdes por regiao decrescem no seguinte ritmo: Norte — de 32,9% para 22,1%; Nordeste — de 40,7% para 37,9%; Sudeste — de 25,7% para 13,4%; Sul — de 44,0% para 36,8%; e Centro- oeste — de 52,6% para 45,7%. #& interessante notar a queda mais acentuada verificada na regiao Sudeste, onde Se acumulam duas for¢as no mesmo sentido: a perda de - -participagao da-agricultura-em-relaggo. aos outros_setores __ e a queda da agricultura da regido em relag&o & agricul- tura brasileira. Se o setor agricola teve sua participagao reduzida, os dados indicam claramente que isto ocorreu em virtude do crescimento da p2rticipacdo da Industria na renda interna total, j4 que o setor Servicos nao se alterou fun- damentalmente. O setor industrial teve sua participacdo aumentada de 16,6% em 1947 nara 24,5% em 1968; porém, este crescimento se deu ce forma nio linear, e, parti- cularmente no periodo 1962-1967, a flutuac¢éo mostra a maior sensibilidade do setor industrial a uma crise tipica de recessao. Os dados que nos mostram a participacio da renda regional da industria em relacio 4 renda interna total desse setor indicam alguns movimentos opostos ao com- portamento do setor agricola. Assim, o Nordeste e o Sul perdem participacéo, passando de 10,0% para 6,3% e de 13,4% para 10,8%, no periodo sob analise. Paralelamente, a regiaéo Sudeste — que representava praticamente 3/4 (74,6%) da renda da indistria nacional em 1947, passa a Tepresentar, em 1968, 80,9%, ou seja, ganha 6 pontos. As regides Norte e Centro-oeste mantém para o setor indus- trial a mesma posigéo. A industria nortista, que em 1947 tinha 1,3% da renda total do setor, mantém-se, em 1968, com uma participagéo de 14%. O Centro-oeste compa- rece com a mesma porcentagem — 0,7% — nos dois anos extremos. Ao analisarmos qual foi a participacao de cada regio no aumento da participacéo do setor industrial para o Brasil — 16,6% para 24,5%, como vimos anteriormente —, evidencia-se a nova posi¢éo apresentada pela regiao Su- deste: aumentou 60% em 22 anos, isto é, a renda gerada pela industria daquela regiao que, em 1947 representava 19,4% da renda interna total da regiao, passa a repre- sentar, em 1968, 31,5%. Em compensacao, para o Nor- deste o quadro nao se altera (10,6%), e para o Sul o crescimento € pequeno: 13,3% em 1947 contra 15,2% em 1968. Da renda interna do Norte, 9,4% representavam, em 1947, a contribuigaéo do setor industrial e, em 1968, essa contribuigao passa a 16,9%. O Centro-oeste sofre um declinio de participagio de 1947 (6,7%) para 1968 (4,9%). 137 O Ultimo setor a ser estudado é 0 de Servicos, que Pouco foi afetado na sua participagao em relagio aos outros dois setores. Suas alteragdes foram mais internas. Se em 1947, 51,7% da renda interna foi gerada pelo setor servigos, em 1968 (53,3%) esta posigdo nfo se altera subs- tancialmente. A distribuigdo da renda gerada pelo setor, para cada regiao, nao se alterou significantemente de 1947 para 1968: Norte — de 2,6% para 2,4%; Nordeste — de 14.6% para 13,9%; Sudeste — de 67,7% para 650%; Sul — de 13,8% para 15,6%, exceto no que respeita a regiéo Centro- oeste, cuja participagdo, porém, foi minima: de 1,3% para 3,0%. Algumas alteracdes podem ser notadas em relacdo & contribui¢éo do setor na renda interna do Sul e Centro- oeste. Na regiao Sul essa contribuicéo representava 42,7% da renda em 1947, passando a representar 49,3% em 1968; no Centro-oeste, passa de 40,8% para 49,3%. No entanto, quando desagregamos 0 setor servicos em 3 sub-setores, constituido o primeiro pelo setor Comércio, o segundo pelo setor Transporte e o terceiro pelas Comu- nicagées e intermediarios financeiros + governo + alu- guéis + outros servigos, percebemos algumas alteracdes significantes de 1947 a 1968. Estas nao se dao dentro de cada subdivisio — a participagdo do comércio regional no comércio total (em porcentagens de renda interna) nao mudou fundamentalmente, o que, com razdo, reflete o préprio comportamento do setor servigos como um todo. O mesmo acontece com Transportes e Comunicagées e Outros Servicos. As alteragdes constatadas prendem-se ao fato de que a participacao de alguns servicos de pro- dugio — Comércio, Comunicagées e Transportes — nos servicos totais por regiaéo e mesmo para o Brasil, diminui em favor do surgimento de um outro tipo de servigos. Para o Brasil, a participacéo do Comércio cai, no total de servigos, de 37,2% para 24,6%; Transportes e Comu- nicagdes — de 13,3% para 10,4%; enquanto que Outros Servigos cresce de 49,5% para 65,0% (dados de 1947 e 1968). A renda gerada pelo Comércio no Sudeste represen- tava, em 1947, 18,7% da renda da regido, sofrendo queda constante até atingir 13,7% em 1968. Em Transportes e Comunica¢ées o fendmeno é semelhante — quer WR — de 13% para 6.0%. Ao mesmo tempo, a participacio de Outros Servigos para o Sudeste cresce de 28,9%, em 1947, para 35,4%, em 1968. Verifica-se, para todas as regides o mesmo movimento, isto é, queda na participacio do Co- mércio, Transportes e Comunicagées e crescimento da importancia de Outros Servicos (vide tabelas anexas). A seguir, procederemos ao cruzamento dos resulta- dos observados nos trés setores, resumindo as transfor- magées que ocorreram para cada regido de 1947 até 1968. O Norte apresentou praticamente nenhuma alteragao nos 3 setores: Agricultura — de 2,4% para 2,1%; Indis- tria — de 1,3% para 1,4%; e Servigos — de 2,6% para 24%. O Nordeste aumentou sua participacdo na agri- cultura brasileira (de 19,9% para 24,6%), perdeu parti- cipacdo no setor industrial (de 10,0% para 6,3%) e man- teve uma participacdo estavel nos Servigos (de 14,6% para 13,9%). Para o Sudeste, o aumento da participagao da industria foi elevado de 74,6% para 80,9% em detrimento do setor agricola — de 51,7% para 37,9%. —, sendo que Servicos naéo se alterou praticamente — de 67,7% para 65,0%. O Sul presenciou um crescimento na sua parti- cipagao na agricultura — de 23,2% para 28,7%; em com- pensacdo, sua contribuicdo & industria caiu de 13,4% para 10,8%, mantendo também participagao estavel em servicos — 13,8% para 15,6%. Finalmente, a regiao Cen- tro-oeste apresentou notavel crescimento de sua partici- pacdo na agricuitura — 2,8% para 6,7%; manteve a mes- ma participacdo de sua industria — 0,7% — e apresentou consideravel aumento do seu setor Servigos em relagao a0 mesmo setor para o Brasil — de 1,3% para 3,0%. A partir dessas observacgdes podemos formular algu- mas hipdteses sobre como a divisio nacional do trabalho respondeu aos processos de crescimento econdmico de 1947 para ca. A primeira hipétese consistiria em afirmar que houve uma rediviséo do trabalho a partir do surto industrial no Sudeste e que afetou as regides Nordeste e Sul. Como segunda hipotese, decorrente dessa primeira, podemos dizer que esta divisio tornou o Nordeste e o Sul mais exportadores regionais de produtos agricolas e mais im- portadores de produtos industrializados do Sudeste. Do ponto de vista da exportacéo regional, tanto pode ter havido incremento das exportagées para fora do pais como 139 \ i incremento das exportagées para outras regides do pais. No geral, as regides referidas, a fim de pagarem os pro- dutos industrializados que compram no Sudeste tém que buscar uma contrapartida de juncao de renda; este é um aspecto significativo do impacto da industrializacéo do Sudeste sobre as outras regiées, De fato, o processo de industrializacdo brasileiro, acelerado nesses ultimos 20 anos, engendrou-se a partir de Sao Paulo e se estendeu pelo Sudeste. A renda interna real a precos de 1970 gerada no Sudeste pelo setor indus- trial passou de Cr$ 4.4106 milhdes em 1947 para Cr$ 22.772,8 milhdes em 1965, representando um aumento de 500% aproximadamente, enquanto que a agricultura, que em 1947 gerava uma renda maior que o setor indus- trial — Cr$ 5.832,4 miihdes — sofreu um aumento de me- nos de 200% (Cr$ 9.700,6 milhdes) até 1963. Ao mesmo tempo, mas em sentido contrario, observa~ se que a agricultura nordestina e sulista aumentaram substancialmente suas participagdes no total da agricul- tura, e perderam participagao no setor industrial. Portanto, vemos que existiu uma redivisio do tra- palho. O Sudeste, que tinha, até um certo momento, toda uma estrutura produtiva voltada para a agricultura, quan- do comega a industrializar-se repassa esta tarefa para o Nordeste e o Sul, para ter como atividade principal a industria. A partir dai, a tendéncia é de que o Sule o Nordeste, em suas trocas com o Sudeste, tenham que vender mais produtos primarios para comprar produtos industrializades. Ora, é conhecida a deteriorac¢ao dos termos de troca nesse esquema, em detrimento do Nor- deste e do Sul. O Sudeste continua a quase “monopo- lizar” o setor industria, que € o setor de ponta da econo- mia, e a absorver para si todos os ganhos desse setor, que é altamente produtivo. © Norte nao foi, aparentemente, afetado por essa redivisdo do trabalho e continua isolado do mercado inter- no. Examinando-se o comportamento dos setores Indis-. tria e Agricultura em relagéo as tendéncias que o Sul e o Nordeste sofreram, observamos que a agricultura do Norte teve sua participacao reduzida de 2,4% para 2,1%. Entretanto, a tendéncia constatada através das duas pri- meiras hiptdeses é de que o setor agricola, para as regides “dependentes”, aumente sua participagao;_essa_tendéncia, _ tan * contudo, nao se manifestou para o Norte, que manteve quase a mesma participagaéo. Ao incluirmos a regiao Norte na primeira e segunda hiptéeses, o resultado espe- rado era o de que seu setor industrial diminuisse sua par- ticipagao. Mas esta se mantém — passa de 1,3% em 1947 Para 1,4% em 1968 —, rejeitando, portanto, também para a industria, a existéncia da mesma tendéncia havida para o Nordeste e o Sul. A dificuldade de transporte e comunicagées, o fato de que o Norte exporta grande parte de seus produtos sem passar pelo Sudeste, parecem fortalecer a hipdtese de isolamentos do seu mercado inter- no. Isto acarretou para a regiaéo um desenvolvimento mais homogéneo e mais conseqiiente com sua distribuicdo de fatores de producao. O isolamento do mercado interno evitou que sua economia fosse afetada, negativa ou posi- tivamente, pela redefinic&o da divisio inter-regional do trabalho decorrente do processo de industrializagao no Sudeste. Uma hipdtese congénita a esta é de que a inte- gracio ao Mercado Interno Nacional significa tornar a regido que se integra “dependente” da econcmia do Su- deste, isto é, as vantagens da industrializagao desequili- bram a economia “normal” da regiao e impéem uma no- va divisio do trabalho em func&o do Sudeste. Quanto ao Centro-oeste, este representa uma exten- sao do Sudeste e apresenta-uma modalidade de cresci- mento distinta da das demais regides “dependentes", 0 que se reflete na ponderacao setorial da Renda. A posi- ¢ao do Centro-oeste na nova divisfo inter-regional do trabalho é um pouco mais dificil de ser percebida e po- deria ser, A primeira vista, assimilada & posicdo do Nor- deste e Sul; a nosso ver, algumas semelhance2s formais escondem, porém, uma diferenga de significado. De fato, a participacao da agricultura tanto do Cen- tro-oeste como do Nordeste e Sul tem crescido (vide tabela anexa). A fronteira agricola do Sudeste, que se fixava no Paranapanema, divisa com Mato Grosso, se estendeu, face as necessidades da demanda de bens pri- marios do Sudeste, para o Mato Grosso e Goids. Esta caracteristica confere um carater mais “especial” a de- pendéncia do Centro-oeste, comparada as do Sul e Nor- deste. Porém, é no comportamento do setor industrial que se percebe mais claramente a diferenca. Para o Nor- deste e Sul, a participacao industrial cai: em primeiro lugar, por causa da nova importancia que adquire o setor 141 N 4 agricola, o que faz com que a participacdo relativa da industria caia; em segundo lugar, por causa da concor- réncia do setor industrial do Sudeste que, beneficiando-se das economias de escala, com técnicas mais avancadas, disputa com as industrias tradicionais das regides assina- ladas, os mercados locais; assim, mesmo os incrementos de demanda de bens tradicionais séo atendidos, naquelas regides, pela industria do Sudeste, para nado falar dos incrementos de demanda de bens “dinamicos”. No Centro-oeste, ao contrario, a industria pratica- mente nao existia e, portanto, nao péde sofrer a concor- réncia do Sudeste e seus efeitos negativos. Os dados mostram que a sua participagiio de 1947 a 1968 se manteve constante, ou seja, que 0 setor industrial do Centro-ceste cresceu com a mesma velocidade que a taxa média do Brasil. Portanto, se a producéo industrial péde crescer, sem sofrer os efeitos da “dependéncia” com o Sudeste, pode-se aventar que isto se deveu aos estimulos do cres- cimento constante do setor agricola e ao tipo diferente de sua industrializagao: a transformagao e beneficiamento dos produtos agricolas da regido. Desta forma é que se deve entender o crescimento mais homogéneo de sua eco- nomia. Uma ultima questo a ser levantada nesta discussio refere-se ao setor servicos: este setor, pela propria pecu- liaridade da fun¢gdo que desempenha na estrutura de pro- duc&o, é menos sensivel 4s mudangas na divisdo inter- regional do trabalho. Este setor, em economia como a brasileira, tem limites de operacdéo bastante curtos. Nao se pode especializar uma regiao a prestar um determinado tipo de servigo em detrimento de outro. Os dados obtidos mostram que a participagdo dos ser- vicos regionais no total de servigos do pais nado mudou significativamente. A participagéo do Norte, por exemplo, é de 2,6% em 1947, atinge 2,7% em 1961 e cai para 2,4% em 1968. Para as outras regides o fendmeno é seme~ Ihante (vide tabelas anexas). Portanto, o processo de industrializagao do Sudeste pouco afetou a participagio daquele setor para cada regido. Isto se deve ao fato de o setor Servicos, de maneira geral, ter mobilidade menos acentuada que os outros setores. No entanto, no Brasil esta mobilidade é ainda menor. Isto pode ser explicado pela prépria estrutura dos servigos no Brasil: é um setor pouco capitalizado, que tem sua “fun¢céo de produgao” 142 apoiada na oferta ilimitada de m&o-de-obra. Um servico pouco capitalizado dificilmente pode ser exportado, ao contrario da produc&o de bens. Residindo essencialmente na presen¢a fisica da forca de trabalho, ele nao pode ser “descolado” da estrutura de produgao regional, para ser vendido em outras regides. Quando se pensa em divisdo inter-regional do trabalho, a mobilidade é uma condi¢ao sine qua non para sua concretizagao. O setor servicos, devido a sua pouca mobilidade, escapa a uma redefinicao da divisio do trabalho e mantém a mesma posic&o para cada regido, apesar das alteracées dos outros setores. Sera o comportamento dos setores agricola e industrial que ira determinar a importancia dos servigos para cada regiao, e nado o comportamento do setor servigos de uma para outra regiao. As hipéteses abordadas representam muito mais que tendéncias e movimentos gerais que ocorreram a partir da expansdo industrial do Sudeste: sio pontos de par- tida para a discusso. A segunda parte do trabalho con- sistiré na andlise, a nivel regional, do caso particular da modificagao do papel da industria no Nordeste, redefi- nido pelo movimento geral analisado nesta secdo. 143 : AGRICULTURA PARTICIPACAO DA AGRICULTURA REGIONAL PARTICIPACAO DO SETOR AGRICOLA NO TOTAL NO TOTAL DA AGRICULTURA BRASILEIRA DA RENDA INTERNA REGIONAL ANO i ee sur I~ Norte Nordeste 7 sudest Nordeste | Sudeste Sul Para j* te Nordeste [ Sudeste Sul a. ‘Totel a 1939 33 22,0 | 47,0 45 35,5 39,3 21,2 60,9 28,5 1947 24 19,9 BLT 2,8 32,9 40,7 25,7 52,6 31,7 : 1948 210 19,5 | 53,5 33 31,3 41,0 26,1 31,7 i 1949 17 18,7 54.2 3,3 28,5 39,5 25,1 30,5 fo. 1950 a7 20,3 52,5 33 30,1 42,5 24,8 30,8 1951 19 19,0 54,0 40 31,4 40,8 24,7 30,3 , 1952 18 17,7 53,4 38 28,9 38,9 23,6 29,3 iy 1953 16 16,7 50,6 52 29,9 40,3 23,6 30,5 } 1954 17 52,3 53 29,8 412 23,4 29,7 ' 1955 16 49,0 53 28,3 39,1 22,2 29,7 1956 22 48,2 5,2 28,3 31,7 20,4 27,4 1957 21 49,4 46 24,1 373 21,0 27,4 1958 1,9 471 56 23,4 35,7 19,2 26,3 1959 17 48 23,5 40,1 19,0 27,8 1960 2,0 47 25,1 413 18,6 274 1961 25 61 175 26,1 j 1962 47 70 ros 1963 18 67 ‘ i 1964 18 7,0 ra 1965 19 6,5 pS 1966 19 . 61 1 18 6,0 i 21 6,7 23,7 j Fonte: Centro de Contas Nacionais — IBRE-FGV em Conjuntura Econémica — n.° 9 — 1971, ANO BEL SSONBG| ROR ORO ONOw Ae ee OOM ee Dl Fonte: Centro de Contas Nacionais — IBRE-FGV em Conjuntura Econdmica — 0.0 9 — 1971. Norte Nordeste Sudeste INDUSTRIA PARTICIPACAO DA INDUOSTRIA REGIONAL NO TOTAL DA INDUSTRIA BRASILEIRA IDAHO eesssssssssess ae PARTICIPACAO NO INTERNA REGIONAL TOTAL DA RENDA ah D> > D2 Oe C0) “Ge Gh Ge br Aa G9 Go Or bo W Go bo Go Wo GiB 3 OH PPOR DANTE ROOT RAD Aooe OPRNOR Ot SERVIGOS PARTICIPACAO DOS SERVICOS REGIONAIS PARTICIPACAO NO TOTAL DA RENDA NO TOTAL DOS SERVICOS BRASILEIROS INTERNA ROGIONAL Norte | Nordeste | Sudeste i ANO 24 14,9 12 479 47,0 42,9 30,3 52,6 26 14,6 1,3 42,7 24 14,3 L4 415 | 21 13,8 14 415 21 13,5 14 40,7 21 13,4 15 42,9 +H 21 12,9 14 41,5 ! 19 12,3 Lt 302 | 19 12,3 a 40,5 | 19 12,3 17 Tt 23 12,8 18 | i 2,6 13,1 17 24 19 \ 2,3 1,9 | i 25 2.0 { : 2,7 a7 } . 2,3 3.4 t \ 2,3 3,8 5 2,2 3,1 23 3,0 24 2,8 22 29 24 3.0 Fonte: Centro de Contas Nacionais — IBRE-FGV em Conjuntura Econémica — 1.9 9 — 1971. SETORES 1968_ Fonte: RENDA INTERNA REAL POR SETOR E POR REGIAO A Pregos de 1970 Cr$ 1.000,000,00 Brasil Total Norte Nordeste | Sudeste ‘Agricultura amt 1947 11,290,3 1955 18.104,0 1968 25 .569,2 Industria 1047 4.4106 5.911,3 1955 10.183,3 13.114,8 1968 22.772,8 28.152,2 Servigos 1847 12.479,0 18.439,0 1955 20.824,7 29.8111 1968 39.836,6 61.259,7 TOTAL 1947 22.277,0 35.640,6 1955 39.870,6 603,’ f 61.029,9 72.310,0 19.937,6 3.5863 114.9811 Centro de Contas Nacionais. TBRE-FGV em Conjuntura Teonémicn — a2 9 — 1971. Uma conclusdo de ordem geral que se pode deduzir do exame anterior da participagado das regides na renda de cada setor de atividade, é a de que o processo em causa é o da substituicao de uma economia nacional formada Dor varias economias regionais para uma economia nacio- nal localizada em diversas partes do territério nacional, Isto nao é uma mudanga de ordem semantica, mas signi- fica precisamente que € 0 crescimento industrial da regido Sudeste que esta formando ou reformando a distribui¢ao espacial das atividades econdmicas uo territério do pais. A diferenga é fundamental em relacao a situacgdio ante- rior, em que as ligagdes externas, para fora do pais, determinavam a localizacao das atividades, sem mediacao ou com uma escassa media¢ao por parte de algum setor propriamente nacional (de que o crescimento do Rio de Janeiro como metrdpole, centro de decisdes politicas e de servicos, era oO aspecto mais relevante). Esta diferenca faz sentido e tem importancia para todo o conjunto das atividades econdmicas de cada uma das regiées, mas ¢ particularmente mais importante do’ ponto de vista da localizagfo da indiastria, que é o setor agora motor do crescimento econémico. No caso das economias regionais voltadas para a exportaciio de produtos primarios, 0 comportamento — inclusive 0 crescimento — dos demais setores — indts- tria e servicos — é uma funcao direta da situacio do setor primario, mais precisamente do poder de compra, isto 6, do mercado, criado pela produgdo dos bens que Se exportavaim. Dai, assistiu-se & criacfo de industrias dos ramos chamados tradicionais sobretudo, nas diversas regides do pais, ndo somente quase simultaneamente, mas quase com o mesmo peso nas respectivas estruturas eco- némicas territoriais. Em outras palavras, a industria téxtil, por exemplo, desenvolveu-se quase simultaneamente mas principais regides do pais, e tinha quase a mesma Participagdo na estrutura industrial; operava para um mercado regional, basicamente. Neste sentido, usando-se a imagem de Chenery, a estrutura industrial que se im- plantou era uma fungao direta do tamanho da populacgdo e do nivel da renda per capita de cada regigo. O crescimento industrial da regido Sudeste, baseado numa série de fatores de sobra conhecidos — e que nao vale a pena reenumerar — vai mudar o quadro radical- mente; neste sentido, ele redefine a divisio social do tra- Bs Eee Eee mon -_ balho em primeiro lugar ao nivel do seu proprio espaco, e em segundo lugar, redefine a divisaéo social do trabalho em termos do espago nacional mais amplo: Tem-se a partir daqui a criacfo de uma economia nacional regic- nalmente localizada. A divisio social do trabalho ao nivel de cada regido, isoladamente considerada, sera fun- ¢g&o do tipo e natureza das ligagdes que ele mantiver com a regiao-lider; particularmente, a estrutura industrial seguramente ja nao guardara correspondéncia com va- ridveis do tipo de tamanho da populagdo e nivel da renda per capita. Isto é, a divisdo social do trabalho nao é o reflexo de um mercado regional ou vice-versa. Sem embargo, a redistribuigdo espacial das atividades econémicas determinadas agora pelo crescimento indus- trial do Sudeste, nao é aleatéria em relacao a cada regiao “dependente”. O tipo de impulso que a regiao-motora — para usar os termos de Perroux — transmite as regides receptoras vai depender, em boa medida, da estrutura econémica e do grau de avancgo da regiao receptora, in- cluindo-se os recursos humanos (3). Por outro lado, o crescimento industrial do Sudeste obtera efeitos de reali- mentacao diferentes segundo seja a regiao-receptora sobre a qual ele transmite seus impulsos. Em outras palavras, os “backward and forward linkages” que se estabelecem entre o Sudeste e as demais regides, diferirao conforme a estrutura econédmica de cada uma das regides. Neste ponto, faz-se um corte — até certo ponto arbi- trério, mas justificado pela disponibilidade de dados — para centrarmos a atencio nas novas relacdes que se estabelecem entre o setor industrial da regido Sudeste e seu correspondente na regido Nordeste. Durante boa parte do século, um periodo de tempo nao abrangido nesta andlise, a expansio econdmica da regiaéo Sudeste parecia ndo afetar nem positiva nem negativamente a economia da regido Nordeste, particularmente no que se refere as Telagdes entre ambos setores industriais. Na verdade, a regiio Sudeste experimentou certo tipo de expansio de algumas culturas agricolas e agro-industriais, como o algodao e a cana-de-acucar, das quais o Nordeste era um produtor tradicional. A partir do surto de industrializa- ¢40 no Sudeste, que para esta andlise é considerado mor- mente depois da 2.4 Guerra Mundial, comegou a notar-se um persistente e gradual afastamento entre as duas re- gides. Este fendmeno, base de todas as reivindicacdes 149 | | | i nordestinas, que se consubstanciou no pleito de criacao da SUDENE, era, entretanto, muito mais um distancia- mento produzido pelo crescimento industrial do Sudeste ao lado de uma auséncia de correspondente crescimento no Nordeste, que um efeito de penetracao da economia da primeira regido sobre a da segunda, em termos nega- tivos. Sem embargo, com a persisténcia renovada do crescimento industrial do Sul, realimentada pelos préprios avangos na produtividade e ampliagaéo do seu mercado, comecam a aparecer os chamados efeitos negativos, que se traduzem num maior poder de competicao dos bens industrisis tradicionais fabricados no Sudeste sobre seus similares de produc&o nordestina. E o caso dos tecidos, sapatos, vestudrio em geral, produtos alimenticios indus- trializados, mobilidrio, e de outros produtos. O efeito visivel 6 0 de uma retragio das unidades nordestinas concorrentes, até com a liquidagéo de empresas: um curioso efeito de realimentac&o das diferencas de poder de competicio entra em cena: incapacitadas de disputar © mercado em razao de seu atraso tecnoldgico relativo, as industrias do Nordeste nao se expandem nem se reno- vam, 0 que acaba’ produzindo novas perdas de poder de competicao, incremento da perda de mercado, e assim por diante, até criar situagGes de verdadeiro desemprego de recursos. Como corolario, produz-se um fluxo de capi- tais da regiao mais pobre para a regido mais rica, con- Seqiiéncia e nfo causa do processo j4 descrito, e aue foi um dos pontos abordados no relatério “Uma politica de desenvolvimento para o Nordeste”. Uma das condicdes viabilizadoras desse processo foi, sem duivida, a melhoria das vias e do sistema nacional de transporte, que que- brava, assim, uma das barreiras “invisiveis" que prote- giam a produgdo industrial nordestina. . No momento, esté-se em presenga da estruturagao de novas relagdes entre os setores industriais da regido Su- deste e do Nordeste —, cujos feitos ainda nfo se refletem nos agregados da Renda — momento esse que corresponde & fase positiva da redivisio interregional do trabalho. Quais sio as causas mais profundas, os fatores e os meca- nismos que operam essa fase? Para examinar-se e conhecer-se as razées estruturais desse processo, faz-se mister verificar o comportamento da industrializagio do Nordeste, sob a égide dos mecanismos conhecidos como 34/18 (4), isto 6, 0 conhecido dispositive de deducfo do imposto de renda para aplicagéo em empreendimentos 180 ee aemEs oe prioritarios no Nordeste (a aplicagio do mecanismo a regiao da SUDAM nio sera objcto dessa segdo, mas guarda algumas semelhangas, elém de notaveis dissimilitudes) O mecanismo do 34/18 foi criado, evidentemente, como parte de um programa ou de uma estratégia de desen- volvimento do Nordeste, e, a resposta mais facil seria a de que as novas relagées entre os setores industriais do Nordeste e do Sul exprimem esse desiderato; isto, entre- tanto, seria muito simplista e, por que n&o dizé-lo, dar A ideologia um estatuto além do que lhe 6 proprio. Se se analisa corretamente a instituigaéo do crédito fiscal do 34/18 — e todas as aplicagdes que dai se derivaram para outros setores tais como Embratur, Sudepe, IBDF — 2 caracteristica principal que ressalta é a de que ele Tepresenta uma diminuicéo — subsidiada é claro — do custo de capital (isto ja foi reconhecido por Hirschmann, em seu artigo “Desenvolvimento Industrial no Nordeste Brasileiro e o Mecanismo de Crédito Fiscal do Artigo 34/18", RBE,.Ano XXI, n° 4, Dez. 1967), que criou um mercado de capitais cative. Por outro lado, a caracteris- tica no reconhecida é a de que o mecanismo é, por defi- nig&o, concentrador: embora todas. as pessoas juridicas do pais possam fazer uso dele, é claro que “umas podem mais que outras”. Sem embargo, cremos que essas caracteris- ticas ainda nao esgotam o significado do crédito fiscal dos mecanismos descritos, mesmo porque diminuigéo subsidiada do custo do capital também pode ser operada por outros mecanismos, tais como o crédito a taxas nega- tivas de juros reais, como foi e continua — em alguma medida — sendo pratica no Brasil. Assim, a especifici- dade do mecanismo do 34/18 e seus assemelhados, é a vinculagdo institucional que ele estabelece ao nivel dos agentes que fazem a oferta e a demanda dos créditos. Essa vinculagdo institucional privilegia a classe de empre- sarios, inegavelmente, e boa parte do segredo do éxito do mecanismo reside nessa vinculagaéo, que possibilitou a transferéncia de empresas’ das regides mais desenvolvidas para a menos desenvolvida, ou especificamente entre o Sudeste e o Sul. Essa vinculacdo institucional que, privilegiando os empresarios industriais, possibilita, subsidiando o capital, % transferéncia de classes dominantes de uma para outra regiao, pode ser entendida como resposta a uma neces- sidade: estrutural da expansdo capitalista no Brasil. 1st i Apesar do fato de que o mecanismo fol criado nos comecos da década de 60, sua maior utilizagao se deu apenas a partir do ano 65, quando o indice de depésitos no BNB passa do nivel anterior de 198 para 524; de outro lado, © indice de liberagao de recursos se acelera também, para dar um imenso salto entre 1966 e 1967, quando passa do nivel 8.474 para 27.209 (5), Isto 6, essas expansées se dio no quadro de uma economia nacional em recessio, que Perdurou até 1968. Essas simples referéncias capacitam a descartar, como hipétese inicial, a mais simples delas, de que o objetivo das transferéncias seja a necessidade de encontrar mercado no Nordeste para a industria do Sudeste. Embora a economia do Nordeste tenha, no pe- riodo da recessao, crescido mais que a economia nacional como um todo, v. g., mais que a do Sudeste também, esse crescimento nao foi ainda devido & entrada em produgao das novas unidades; por outro lado, exatamente no curso da recessio, quando a capacidade ociosa na industria do Sudeste aumentou significativamente, nao teria sentido, como objetivo de simples busca de mercado, aumentar essa capacidade ociosa com novas unidades no Nordeste. Um dado interessante é 0 de que “até 1968, as aqui- sigdes de equipamentos nacionais realizadas pelas em- presas que se estao instalando no Nordeste atingiram o valor de NCr$ 170,1 milhées, contra NCr$ 108,1 milhdes em aguisigdes de equipamentos estrangeiros". (SUDENE DEZ ANOS, pag. 164). Isto 6, se se pode descartar a hipétese de mercado para as industrias do Sudeste, como um todo, nao se pode descartar a hipdtese de mercado para as Industrias do Sudeste de producdo de bens de capital. A criagéo de novas unidades industriais, no Nor- deste, aparece assim, como resposta & necessidade de ativar o setor de produgao de bens de capital da econo- mia brasileira como um todo, e, mais especificamente, da regido Sudeste. Sem embargo, no quadro de uma econo- mia em recessio, a ativagdo desse mecanismo, mesmo quando ele cria uma demanda do tipo da descrita, suscita algumas interrogantes. A acelerag&o dos depésitos, quan- do a economia estava em recesséo, mostra que, para além das aparéncias da contabilidade das contas nacionais, existiam reservas de poupanga na economia nacional (viabilizadas, claro esté, em boa parte, pelas reformas fiscals em curso); inclusive porque a soma dos depésitos é sempre mator, nos anos em tela, que a soma das libe- ragdes. A criacéo de uma demanda auténoma — o termo ~¥59°° areas aa nn se usa no sentido apenas de que ela nao é um desdobra- mento de uma situacdo anterior — também poderia ser lograda, j& seja pelo investimento piiblico (ja que a de- dugéo é uma reniincia do Estado a recursos que por direito Ihe pertenciam), ja seja por investimentos priva- dos, em outras dreas ou outros setores da economia, repro- duzindo, por hipdtese, a criagéo de novas unidades, em gualquer ramo e em qualquer regiao, e nfo apenas no Nordeste. Se essa criacdo tomou a forma descrita, alguma outra raz4o estrutural, além do mercado para industrias de bens de capital, deve estar presente em todo o pro- cesso. A primeira hipétese para responder a essa questao, crucial, é a de que, nas condigées concretas da economia brasileira, como resultado de todo um processo desde a Segunda Guerra Mundial, em que poderosos mecanismos de concentragéo da renda tinham sido postos em acao, e, potencializadas essas condicées por uma conjuntura de recesso, somente altas taxas de retribuicio do capital, isto é, altas taxas de lucro, conseguem fazer ativar a eco- nomia. O mecanismo do 34/18 ajustou-se como uma luva a essa necessidade estrutural: demonstrado que nao havia insuficiéncia da taxa de poupanga, demonstrado que a. criagéo de demanda poderia teoricamente ser realizada . em qualquer setor e em qualquer regiaéo, somente o subsi- dio ao capital, isto é, elevagéo ou manutencao de sua taxa de lucro, provou ser uma condigao suficiente para a reativacdo da economia. Isto se estende, hoje, pratica- mente, a quase todos os setores das atividades econémicas no territério nacional. O argumento de que as novas unidades industriais no Nordeste nao apresentem remu- nera¢do elevada do capital é um argumento contabil, pois relaciona as taxas de lucro com o capital nominal ou com o valor dos ativos fixos, mas niéo com o custo real do capital. Essa necessidade de alta remuneracio do capital ou de ndo deixd-la passar abaixo de um certo nivel nao é abstrata; ndo decorre simplesmente de uma lei de maxi- mizac&o dos retornos do capital, nem é compreensivel apenas ao nivel da lei estrutural geral do sistema capita- lista como modo de produgdo. Antes, ela depende do modo como esta organizada a producao, do tipo e do tamanho das unidades-chave do sistema. Num sistema de concorréncia perfeita, a lei estrutural é o lucro médio, 163 | 4 ? a que ao nivel das unidades se apresenta como uma busca do lucro maximo. Num sistema capitalista de corte mo- nopolista, a lei é o lucro maximo, que ao nivel das unida- des se apresenta como a busca do lucre médio. A dife- renga n&o decorre da contraposicdo de paradoxos, mas Ga estruturagao do sistema que deixa de ter nas peque- mas e médias empresas 2 unidade-chave, que se desloca para o conglomerado de pequenas, médias e grandes em~- presas. O conglomerado busca o lucro médio entre suas unidades, que é o lucro maximo a que pode aspirar 0 sistema como um todo. . Nestes termos, um requisito estrutural da expansio capitalista no Brasil é o de homogeinizar o espacgo econé- mico nacional, para “performances” do tipo requerido pela estrutura das unidades produtivas, isto é, para desempe- nhos de corte monopolista. Aqui, néo se esta esgrimindo nenhum argumento moral; nao se esta dizendo que o monopélio 6 pior nem methor que a pequena empresa, nem se esta dizendo que ha uma “deterioragao" apressada do capitalismo no Brasil, por apresentar ja caracieristicas monopolisticas. Est& se dizendo apenas que, dada uma certa estruturac&o do sistema em termos de tamanho das empresas, apenas as empresas de tipo monopolistico po- dem realizar a tarefa da reprodugao do capital, e realiza- la buscando o lucro médio de suas unidades e o lucro maximo do conjunto. Para tanto, a homogeinizagao do espago econémico é absolutamente necessdria: ela realiza a sintese da necessidade de manutengdo das taxas de remuneracdio do capital — uma razao estrutural — com a necessidade de fuga de uma conjuntura de recessio, que havia levado a taxa de lucro a niveis baixissimos. Apenas a criagdo de demanda num espaco onde o capital monopolista ainda nao se desempenhava, portanto, num espaco aberto para a elevacao da taxa de lucro — elevacao em relagéo ao centro dinamico,'ja de corte monopolista e atravessando uma conjuntura de baixa — e manutencao da taxa de lucro num sentido mais global, incluindo ja © novo espago. Assirn, embora teoricamente a demanda pudesse ser criada, aparentemente, em qualquer setor ou qualquer regiao da economia nacional, de fato ela somente satisfaz a condigfo estrutural do sistema, quando essa demanda é criada em 4reas, setores ou espacos periféri- cos, ainda nao penetrados pela estrutura¢éo monopolista do sistema. Dessa forma, a penetragao monopolista Trequer uma elevagdo' das. taxas de. lucros nas margens ——y54°~ EE 7 ae do sistema; a expansio, que, em muitos sentidos, se da numa primeira etapa como destruigéo, somente é vidvel quando ela permite elevacdo das taxas de lucro que para o sistema como um todo significa a manutencao dos retornos do capital num certo patamar. A expansio em direcdo ao Nordeste, via mecanismos do 34/18, satisfaz todos esses requisitos. Em primeiro lugar, por Gefinicao, sendo as pessoas juridicas dedutores e aplicadores, conduz, inevitavelmente, as pessoas juridi- cas monopolisticas 20 dpice da piramide de dedutores e aplicadores. Essas pessoas juridicas podem aplicar dire- tamente, em projetos préprios, ou indiretamente em pro- jetos de terceiros. Num caso como noutro, o resultado mais importante é a formacgao ou a expansa&o de conglo- merados. Alguns dados ajudam a melhor compreender o processo da expansio. Tomando-se a condicéo de aplica- dores em projetos préprios — ja que a aplicagao em pro- jetos de terceiros nao pode ser conhecida com os dados que se dispés — tem-se que das 100 maiores empresas nacionais, (ver Revista Visio, “Quem é€ Quem na Econo- mia Brasileira”, 16/30 Agosto de 1971), incluindo-se em- presas estatais, de capital preponderantemente estran- geiro, de capital preponderantemente nacional e toda a classe de mistas, 24 delas tém projetos prdprios (6), implan- tados ou em implantagéo no Nordeste. Isto satisfaz & primeira condigao de que o mecanismo esteja sendo usado, como regra geral para expansao da empresa de tipo mo- nopolistico. Essas 24 empresas ou grupos estao presentes em 67 dos principais projetos industriais da area da SUDENE, selecionados a partir de um corté ao nivel dos 10 milhées de cruzeiros de incentivos fiscais aplicados ou @ serem aplicados; detém, em todos os projetos selecio- nados, posi¢ic majoritaria ou pelo menos igual a do outro ou outros maiores acionistas. Interessante 6 obser- var-se a origem do capital das empresas ou grupos que esto na situagio acima. Das 24 empresas com projetos proprios, 4 séo estatais, 6 sio de propriedade privada pre- dominantemente nacional (nfo sabemos o grau de asso- ciagZo que possa existir), e 14 so de propriedade estran- geira (totalmente, com participacdo, se existir, de capital nacional, apenas simbélica). Uma outra forma de verificar a hipdtese anterior consiste em saber se as empresas mais importantes em seus respectivos ramos industriais esto presentes 4 7 ; 155 expansdo que se d& no Nordeste. Em caso afirmativo, ter-se-ia que o processo é nfo somente de homogeiniza¢gao Pionopolistica global, mas setorial, isto.é, tendem a ser principais no Nordeste, as empresas ou grupos de empre- sas que ja sao principais no Brasil. Neste caso, dado que o que se procura nao 6, essencialmente, conquistar mercados, deve-se pensar que a estratégia desse tipo de empresas, 20 expandir-se para o Nordeste, é a de pre- servar mercado consolidando suas posigdes no ramo indus- trial em que ja é importante. No limite, essa estratégia levaria até a implantac&o de unidades no Nordeste que no tivessem lucratividade imediata. Uma analise que considere as 10 principais empresas por ramo industrial no Brasil (novamente os dados sio da Revista Visio) oferece os seguintes resultados: EMPRESAS SITUADAS ENTRE AS 10 PRINCIPAIS NO RAMO, E QUE POSSUEM PROJETO PROPRIO NO NORDESTE Ramo industrial Namero Lugar que ocupa (a classificagdo é da Re- empresas Tl do rane te vista Visdo e nao corres- ponde rigorosamente a classificagao adotada pelo IBGE) Mineracio Minerais Metdlicos 1 68 Minerais Nao-Metalicos 1 18 Transformacao de Mine- rais Cal e cimento 1 1s Ceramica, artefatos de ci- mento, gesso e amianto 2 Be 28 Transformagao Metalir- gica Siderurgia N&o-Ferrosos Produtos Metalargicos Diversos Mecanica MaAquinas, motores, equi- pamentos industriais 2 18 e 58 Aparelhos elétricos, Co- municacaio Material elétrico Aparelhos domésticos, lampadas Material de Transporte Veiculos automotores Autopegas e carrocarias 1 Tratores, “widquinas~de~ - terraplanagem 1 6 Borracha 7 Pneus 1 38 Quimica Quimica e Petroquimica 5 Plasticos e Derivados i 1 AN Nr ° 2 : oN 1S, 2.8,3.9,4.3 @ 98 13 ae 3a Produtos Farmacéuticos Perfumaria, Higiene Dom. ‘Téxtil Fiagéo e tecelagem 1 1% Art. de vestuario e aces- sérios 3 18,72 e 88 Produtos Alimenticios Laticinios 1 98 Prods. alimenticios diver- sos - 2 18 e 38 Bebidas 2 12e22 Indistrias Diversas 4 Conglomerados 14, 29, 32 e 49 sens Portanto, dos 16 subsetores que resumem a estrutura industrial do pais, 11 estao se reproduzindo na estrutura industrial do Nordeste; além disso, séo as empresas mais importantes dos sub-setores e dos ramos que estio, dire- tamente, implantando unidades de produgdo no Nordeste, e é légico pensar que nado o estao fazendo para concor- Yerem com suas matrizes na regiao Sudeste ou em outras tegides do Brasil. & ldgico também que a na&o-presenga de todas as principais responde & manuten¢gao do grau de competitividade que existe no capitalismo monopolista (este nao significa a auséncia total de competicao, mas como é sabido, o estreitamento da faixa de competigao e a reducZo da competi¢ao aos grandes grupos); portanto, algumas empresas estéo nfo somente tentando manter suas posigdes no mercado brasileiro como um todo, mas adiantando-se a possiveis expansdes da demanda, para © que a implantagado de unidades no Nordeste pode ser estratégica no sentido de ganhar uma porcgio maior ain- da do mercado nacional. O resultado da agaéo desses mecanismos, e da estra- tégia implicita explicita da manutengio e elevacdo nos espacos peri icos da taxa de lucro do sistema, toma a forma concreta no Nordeste, de uma estrutura indus- trial que nada tem a ver com a formagao e a distribuicao da renda, a curto e médio prazo, da propria regido. Isto é, a estrutura indus nao é fungio de um mercado regional, mas fungéo do mercado nacional mais amplo. Vale a pena comparar a estrutura industrial do Nordeste, até uma década atras, e a estrutura industrial em ser, derivada do 34/18. A primeira € evidentemente funcao do mercado regional em primeiro lugar e das fracas par- ticipagdes da industria do Nordeste nos totais nacionais do setor, enquanto a segunda reflete inegavelmente o pro- cesso da rediviséo inter-regional do trabalho entre os setores industriais do pais como um todo, que se analisou nesta segao: Estrutura do Inversées por Valor Adicio- classe de in- nado na In- distria segun- Sub-setores dustria em do projets aprovados (%) até 1969 a. Bens de Capital e Inter- mediarios 29,2 67,1 Minerais néo-metdlicos 6,3 11,2 Metalirgica 27 18,7 eget ee 7 ated Mecfnica Mat. Elét. e Mat. de Co- municagées Mat. de Transporte Madeira Papel e papelao Borracha Couros, peles e similares Quimica e Farmacéutica b. Bens de Consumo Mobiliario ‘Téxtil Vestuario, caleados e art. de tecidos Produtos alimenticios Bebidas Fumo Editorial e Grafica Diversos ° & a HWUSA UAAaH an BN Seen» SoShnovrye BeSorosouss ye - ona e Sn Woewoay Bop bwwoone Nabobkwo 2. Nota: Existe ainda um residuo de cerca de 5%, nao distribuido na estrutura das novas inversées, por problemas de classificagao. Fontes: Para a estritura industriel de 1952, Hircchmann, op. cit. tendo como fonte original SUDENE e BNB/ ETENE. Para a estr tura das inversoes, SUDENE DEZ ANOS, op. cit., pag. 164. As duas estruturas nfo so rigorosamente compara- veis, pois uma se refere ao Valor Adicionado e a outra é simplesmente uma estrutura das novas invers6es patro- cinadas pelo 34/18; a forma como esta segunda se concre- tizara em termos de valor adicionado dependers de outras variaveis, tais como remuneragao do fator trabalho, taxa de lucro etc, Ainda assim, algumas consideragées podem ser extraidas do confronto entre as grandezas que se con- trapdem. Em primeiro lugar, salta aos olhos a inversio total da ordem de importancia; na estrutura industrial do Nordeste que ¢ fungao do seu mercado, sao as indus- trias de bens de consumo que tém a predominancia, alias bem de acordo com o3 baixos niveis de renda regionais; na estrutura das inversdes patrocinadas pelo 34/18, sao as indastrias produtoras de bens intermediarios e de capi- tal, que tém a absoluta predominancia. Alias o fato de que as inversdes do 34/18 se dirigirem preferentemente para as areas das industrias consideradas “dindmicas”, confirma indiretamente a caracteristica da redivisio do trabalho operada entre o setor industrial do Sudeste e o do Nordeste, no sentido da homogeneizagao monopolis- tica do espago econdémico nacional, com a conseqiiénte estratégia de preservacéo e consolidacéo de posicées no mereado nacional. Esse é também o sentido da mudanca 159 geral na estrutura industrial do pais, que no caso do Nordeste, sob a égide do 34/18, e tomando como refe- réncia a estrutura das novas inversdes, avanga ainda mais no processo de mudanga da estrutura global da econo- mia brasileira. Apesar de ser um tanto “descolada” do curto prazo da formagao e distribuigéo da renda regional, a nova estrutura em formacio nao o é inteiramente da conste- lago de recursos de que dispée a regido. Se bem verifi- carmos, as maiores concentragées de inversao se dao nos Sub-setores de Minerais néo-metalicos, Metalurgica, Qui- mica e farmacéutica e, entre as “tradicionais", no Téxtil. £ particularmente reconhecido que o Nordeste dispde de uma excelente dotagaéo de recursos naturais para essas classes de industria, propiciada pela existéncia de abun- dantes reservas de calcareo, amianto, gas natural (para Processos modernos de siderurgia), petrdleo e gas natural Para a petroquimica, sal e fibras téxteis. Assim, desde que viabilizado pela redugao do custo do capital, isto é, pela elevacgéo da taxa de lucro real, a exploracgao desses, recursos naturais tornou-se um excelente campo de apli- cagées, penetrando o espaco economico da regido pelas estruturas oligo-monopolisticas que comandam a indis- tria nacional. Assim, ao lado do efeito de elevagao das taxas de lucro pela penetragao num espago “‘periférico” ao eixo ja estruturado monopolisticamente, a produtivi- dade dos empreendimentos crescera também em razao da qualidade dos insumos utilizados. Este € outro aspecto interessante da redivisdo inter-regional do tra- balho entre os setores industriais do Nordeste e do Su- deste. A margem desse aspecto, que’se refere diretamente a0 controle dos ramos industriais no Brasil como um todo, ocorre um outro, muito interessante, e que nao guarda relacéo direta com a rediviséo do trabalho entre setores industriais, mas esta ligado ao processo geral de oligo- monopolizagio da economia brasileira. O mecanismo do 34/18, por definig&o conforme ja se ressaltou, beneficia as pessoas juridicas na razao direta do seu tamanho (inclu- indo-se aqui volume de vendas, capital, lucro); ora, existe um sem numero das principais empresas ou grupos de empresas no Brasil que nao aparecem diretamente pa- trocinando projetos préprios na area da SUDENE. Uma 160 SEE c PELL e relac&éo publicada em seis volumes pelo Banco do Nordeste do Brasil arrolava cerca de 75.000 pessoas juridicas que se haviam beneficiado no exercicio de 1970, dos incen- tivos fiscais, em todo o Brasil, optando pela area da SUDENE. (Banco do Nordeste do Brasil S/A, Departa- mento de Crédito Geral, Depdsitos para Investimentos no Nordeste, Fortaleza, s/d). Entre estas estavam, obvia- mente, todas as demais principais pessoas juridicas, isto 6, empresas, que existem no territério nacional (7). Que fazem com seus incentivos fiscais, estas outras empresas? Aplicam em projetos de terceiros, numa politica nfo so- mente de diversificagéo do risco, mas, principalmente, de diversificagio do seu campo de atividades, isto 6€, estado se transformando em conglomerados. O mercado de capitals cativo dos incentivos fiscais transforma-se, assim, na parteira dos conglomerados no Brasil, radica- lizando, talvez precocemente, uma tendéncia do capita- lismo em escala mundial. As consegiéncias nao apenas econdmicas mas politicas desse processo sao ébvias: uma imensa concentra¢gao de renda e de poder é gestada como sub-produto desse processo, que se soma 4 tendéncia.geral de qualquer economia capitalista. & Obvio que essas empresas ou grupos de empresas nao aplicam em qual- quer projeto: ao lado de analises econémicas rigorosas, que levam em conta a rentabilidade do novo empreendi- mento, os critérios principais da deciséo de aplicar neste ou uaquele projeto revelam a estratégia peculiar de cada tipo de empresa: empresas bancarias e financeiras pro- curam aplicar em projetos de clientes conhecidos, ao mesmo tempo aque, sub-repticiamente, vao assumindo o controle de um sem nimero de novas empresas; grandes empresas industriais procuram aplicar em projetos que demandem os bens (incluindo-se equipamentos) que elas produzem; outras aplicam em projetos que vao suminis- trar matérias-primas ou bens intermedidrios que sao inputs dos seus préprios processos produtivos; algumas outras aplicam em projetos de terceiros, dentro do ramo em que ja sao lideres, ao lado de outros grandes concor- rentes, como uma forma de procurar evitar que um grande concorrente venha a assumir, no futuro, o controle do novo empreendimento; outras simplesmente aplicam em projetos considerados bons do ponto de vista econdmico, entrando com uma forte participagdo, naéo-majoritaria. A tela de relagées que se tece é no sentido, de um lado, de aumentar o grau de concentragio da propriedade do 261 capital e, de outro, de solidarizar cada vez mais o destino do proprio capital. Nem se contradiga esta argumenta- ¢gao com uma variante surrada da democratizagdo do capital e da propriedade, desde que todas as pessoas juridicas podem deduzir e aplicar; uma selegéo de 526 projetos da 4rea da SUDENE mostra que 3 empreendi- mentos com utilizagdo de incentivos fiscais acima de Cr$ 100 milhdes absorvia 12% do total de incentivos; somando-se os seguintes 4 projetos até Cr$ 50 milhGes de utilizagéo de incentivos fiscais, a porcentagem acumulada do total de incentivos chegava a 21%; os 60 seguintes Projetos, até o nivel de Cr$ 10 milhdes de absorcdo de incentivos acumulada cerca de Cr$ 60% do total de incen- tivos. Os 459 projetos abaixo de Cr$ 10 milhdes de absor- ¢40 de incentivos apropriavam apenas os restantes 40% do total de incentivos (8). (8)Tém-se 0 quadro que se segue. 162 : ae . = LISTA_DE PROJETOS DA SUDENE Foram levantados 526 projetos totalizando Cr$ 3.290.468.9668 tendo a seguinte concentracdo por extrato: PARTICIPACAO NOS PROJETOS PARTICIPAGAO NO TOTAL ACIMA DE 10 M DE PROJETOS % Das | % Dos % Empresas %_Incentivos Empresas 1 ___Incentivos . Acum, 1° Extrato: Projetos com 34/18 acima de 100 Milhées: Cr$_405.043.120 FO EXtfate: Projetos com 34/18 entre 99999999 e 50 Milhdes _4 empresas: Cr$_289.964.206 entre 49999999 e 20 Milhées 25 empresas: Cr§$ 796.839.137 FP Exirate: “Proj entre 19 999 909 e 10 Milhdes 35 empresas: Cr$_ 462,717,023 Be Extrato: Projetos com 34718 abaixo de 10 Milhées 459 empresas: Cr$ 1.335.904.880 Fente: Dados da Revista Veja, “Guia de Incentivos Fiscais", n.* 185, consolidada com uma Usta de Banoo Nordeste do Brasil referente a projeios quc em 1971 ainda ndo haviam ter minado a captacdo de recursos, scree eeepc reer mee ce eens Inicialmente, examinou-se, ao nivel das contas na- cionais, a evolucio da divisdo regional do trabalho no Brasil, ao longo do periodo 1947-1968. Claro esté que um melhor instrumento analitico para isso seria a formula- ¢4o de contabilidades regionais e a mediagao dos fluxos de troca entre as regides. Os limitados objetivos deste do- cumento, a auséncia de balancos de pagamento regionais, e a caréncia de recursos, obrigaram-nos a percorrer o caminho citado; nem por isso, a diregéo geral dos fend- menos escapa totalmente. No periodo analisado, é 0 crescimento industrial da regiado Sudeste que se erige em arbitro e orientador da divisio regional do trabalho no Brasil. Seus efeitos em telacéo a uma diviséo regional do trabalho anterior, que se fundava numa certa autonomia das regides, na exis- téncia de economias regionais, sio bastante importantes. Pode ser sintetizado no fato de que se muda para uma economia nacional, regionalmente localizada. O processo de redivisio, partindo da industria do Sudeste, é amplo e atinge todas as regides. Transfere e Tepassa tarefas agropecudrias para outras regides, tais como o Nordeste e o Sul, cria uma outra regiao, como c Centro-Oeste, destréi numa primeira etapa ou reduz o erescimento da indistria no Sul e no Nordeste; apenas o Norte mantém-se relativamente imune aos seus efeitos, em virtude da inexisténcia de uma infra-estrutura de transporte que viabilize.a integragao (esse isolamento comegou a ser rompido com a Belém-Brasilia), O cres- cimento industrial do Sudeste cria e amplia a fronteira agricola, reproduzindo nas margens, formas de acumula- ¢ao nao inteiramente capitalisticas, das quais transfere excedente que vai reforcar a capacidade de acumulacdo no préprio Sudeste. Em seguida, analisou-se o caso particular da intera- g&o do crescimento industrial do Sudeste com 0 do Nor- deste, numa segunda etapa em que sao os efeitos positivos os que tém maior peso; isto porque o primeiro movimento de destruicao era essencialmente transitério: um sistema capitalista destréi para reproduzir. Examinou-se o pro- cesso de interag&o da ética dos mecanismos do 34/18, uma deducdo fiscal que parece obedecer a raizes estruturats do processo de acumulagao no Brasil. Yea - 7 ee A conclusio mais geral é que o mecanismo do 34/18, como processo da redivisio do trabalho entre a industria do Sudeste e a do Nordeste, obedece & razio fundamental de manter elevada a remuneracdo do capital no pats, penetrando um espaco pertférico, que é aquele que, por ser virgem de praticas monopolisticas, oferece as maiores oportunidades de elevar a remuneracio do capital; con- junturalmente, uma recessao de quase seis anos, somou- se 4 razdo estrutral para enfatizar o papel do 34/18 como mecanismo de saida da crise. Assim, a redivisdo regional do trabalho entre setores industriais do Nordeste e do Sudeste obedece a razdo prin- cipal do capital, e para tanto, homogeneizar o espaco eco- némico nacional tornava-se absolutamente necessario. A redivisio no obedece, pois, 4 demanda da regiao re- ceptora — dai por que um modelo de substituicdo de importagSes a nivel regional era inviavel — nem as necessidades de encontrar mercado para a produgao da regido “motora”: o impulso que a regidéo receptora pode devolver a esta transmite-se ao seu departamento de pro- dug&o de bens de capital, o que, se bem signifique ampliar © mercado desses bens, nao tem na ampliacao a razio priméria; esta é encontrada ao nivel da necessidade de manter elevada a remuneragao do capital, e, para tanto, penetrar num espaco nao-monopolistico com empresas monopolisticas é a melhor saida. No processo, entretanto, produz-se uma complementariedade entre o crescimento dos dois setores industriais, néo somente através de uma nova, demanda de bens de capital derivada das inversdes no Nordeste, mas pela oferta de recursos naturais que pode ser incorporada a industrializagao nacional, com o que se eleva a produtividade global. Um sub-produto do tipo de mercado de capitais cativo dos incentivos fiscais é a radicalizagéo da tendéncia de formagao dos conglomerados. Assim, um mecanismo que atuou no sentido da redivisio regional do trabalho pro- duz de passagem um resultado que nao esté diretamente Teferido 4 mesma, mas que tem enorme importancia do Ponto de vista da divisio do trabalho entre empresas e grupos de empresas no Brasil. Do ponto de vista da continuldade do processo, alguns problemas se levantam. Em primeiro lugar, o mecanismo do 34/18 e sua operagao por empresas oligo-monopolistas 165 é, quase por definicio, concentrador de renda. A longo prazo, os resultados dessa forma de reproduzir o capital langar-se-Z0 sobre o sistema global, agravando o que j& 6, a nosso ver, um dos problemas do sistema: 0 de como realizar a acumulacgdo em condicées de superavit de exce- dente, em condigdes de ponpanga crescente. A saida para 0 Nordeste é uma operacio que tem como objetivo manter elevadas as taxas de lucro; quando o espago for homioge- neizado, evidentemente reduzem-se as possibilidades de continuar a mesma estratégia. O sistema ja esta usando & mesma estratégia para penetrar em setores tais como pesca, turismo, reflorestamento, e, evidentemente, a ocupa- ¢&o desses setores pelas empresas de tipo oligo-monopo- listico tenderfo a esgotar as oportunidades de penetracéio das “periferias”, com o que se complica a realizacdo do lucro nas taxas elevadas do que j4 é uma tradigio. A tendéncia 20 conglomerado nfo é, em si mesma, garantia de corregao; pode ser muito bem seu contrario. ee i Por outro lado, nfo por n&o gerar empregos, o que esta sendo inegavelmente gerado, mas por ser implantada desde o inicio com uma alta produtividade econémica — em virtude do subsidio ao capital, da modernidade tecno- légica, e dos baixos salarios — a estratégia nao presta muita atenc&o, nem tem uma preocupacao muito visivel pelo aumento dos mercados locais: esta no é uma con- digo sine qua nen para o deslanchar da estratégia, mas é cada vez mais indispensdvel para a continuidade global da interacao entre os setores industriais de todas as regides, a longo prazo. nti Do ponto de vista da expansdo capitalista no Brasil, @ saida para o Nordeste representou, sem divida, um elemento de reforco numa década que comecou por uma grave recessdo. Mas, no fundo, o mecanismo que pés em funcionamento o processo nao foi nem a recesséo, nem a falta de mercado: é uma razido estrutural do capitalismo no Brasil, a busca de taxas de lucro elevadas, numa estru- tura-j4 claramente oligo-monopolistica. Neste sentido, a f saida para o Nordeste nao somente tende a esgotar-se,_ como sqma. pressdes 4s que jd sdo inerentes ao sistema. Também neste sentido, — e somente neste, pois os niveis de vida da populagio do Nordeste continuam, et pour cause, tao baixos para a grande maioria da populacao, como sempre foram — deixa de existir um “problema Nordeste”. -O processo da.divisao regional do trabalho no. ; 166 Brasil pode continuar sendo movido pelo tipo de meca- nismo que provou certa eficicia para o Nordeste? Enquanto houver areas ou espacos cuja penetracao sirva para elevar ou manter elevadas as taxas de remuneracdo do capital, a resposta pode ser positiva; mas esse Ultimo espago pode ser, provavelmente, a regiio Sul, cujo grau de n&o-monopolizagéo $ bem menor que o do Nordeste anterior ao 34/18. A regido Centro-Oeste 6, evidente- mente, uma criagao do Sudeste, e apenas no que se refere ao seu setor agricola, pode ser considerada como uma “reserva de acumulagao primitiva” para a expansio do sistema, ja que seu setor industrial é inexpressivo e cresce como fungaéo da renda gerada pelas atividades agrope- cuarias. O Norte, com a imensa Amazénia, é evidente- mente uma reserva simplesmente incomensuravel, mas as condigGes concretas de sua ocupacao apenas dao guarida & esperanga de que os jazimentos minerais do seu sub- solo possam constituir-se em importantes reforgos ao pro- cesso de crescimento geral da economia brasileira. Con- firmando-se essas possibilidades, abre-se um imenso espago para a acumulagao, embora o tipo de explora¢ao que requer os jazimentos minerais numa area tao fraca- mente povoada exija uma capitalizagio desde o inicio das atividades, que evidentemente faz baixar a taxa de remuneracdo global do capital. Quanto as possibilidades agricolas do Norte, elas sido uma grande interrogacdo; atualmente, o tipo de politica que preside & aplicac&o dos incentivos fiscais em projetos agropecudrios na Amazénia parece téo somente uma absurda e irresponsaével forma de desperdicio de capitai, (4) Os autores pertencem ao corpo de pesquisadores do Centro Brasileiro de Andlise e Planejamento, mas as opinides aqui vertidas nao representam, necessariamente, as da instituigao. (1) As regides aqui consideradas sfo aquelas em que o IBGE dividiu 0 territério nacional: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro- Oeste. Nao se desconhecem as implicagdes da aceitacao dessa divi- gio; entretanto nao € 0 objeto deste documento discutir os critérios de regionalizagio do pafs, ao mesmo tempo que se reconhece que @ regionalizacdo adotada € adequada "'grosso modo" para o trata: mento da problematica aqui examinada. Sem embargo, a linha demarcatéria entre o Sudeste e o Sul é a mais ténue delas, que deveria ser melhor tratada em um trabalho mais profundo que este. (2), Ver, ‘‘Financiamento dos empreendimentos regionals’, in ‘Anais do Semindrio para o Desenvolvimento do Nordeate — Vol. IT. Derenvolvimento & Conjuntura, Edicao Especial. Confederagio Na- cional da Industria, Rio, 1959. (3) Apenas no caso de novas exploragées minerals é que o tipo de impulso é relativamente indiferente as condigdes prevalecentes na regido-receptora, Ainda assim, entretanto, os efeitos variarao muito se a regido-réceptora for fraca ou densamente povoada. 7 .. , 167, (4) Em virtude da preméncla de tempo para a redacio deste documento, ndo se pode trabalhar com dados completos ‘sobre os investimentos patrocinades pelo 34/18 na Area da SUDENE, somente | dispontveis_no Recife e em Fortaleza. Utilizaram-se, entio, dados sobre os principais projetos aprovados até 1971, publicados pelo Gula il de Incentivos Fiscais, da revista Veja, n° 185, e dados sobre as {) principais empresas nacionais, publicados pela revista Visdo, nimero i especial “Quem € Quem na Economia Brasileira”, 16/30 Agosto de 1971, Agradece-se a inestimavel colaboracao do Dr. Alfredo Parada, da firma Parada, Vidigal. Pontes & Asociados, e do Dr. José | Hamilton, do Departamento Técnico do Banco Halles de Investi- S| mento S/A. (5) SUDENE DEZ ANOS — Ministério do Interior, Superinten- déncia do Desenvolvimento do Nordeste. Recife, 1959. Ver. quadro (6) Esse numero pode estar subestimado, em virtude de nao ter sido possfvel, face a precariedade das fontes que utilizamos, identificar a propriedade de todos os projetos, ou pelo menos o grupo lider. Os dados a respeito dos projetos foram tirados de uma lista consolidada do Banco do Nordeste do Brasil, complementada com uma lista publicada pela Revista Veja, no 185, “Guia de Incentives Fiscais". Genericamente, do ponto de vista do meca- nismo do 34/18, esté-se assimilando 0 restante do Brasil a regido Sudeste; isto porque nao se dispés de dados mais recentes sobre a participacdo porcentual das pessoas juridicas de cada regido no montante de depdsitos do 34/18. Sem embargo, em 1965, por exem- plo, as pessoas juridicas dos estades componentes da regiao Sudeste constituiam 82,6% do volume total de depésitos, V. Hirschmann, op. cit., tab. 2. satiate Nota: Existe ainda um residuo de cerca de 5%, no distribufdo na estrutura das novas inversées, por problemas de classificagSc. Fontes: Para a éstrutura industrial de 1962, Hirschmann, op. cit., tendo como fonte original SUDENE e BNB/ETENE. Para a estrutura das inversées, SUDENE DEZ ANOS, op. cit., pag. 164. (7) Entre as pessoas € empresas que operam na captacdo de recursos do 34/18, hoje uma faixa especializada do mercado de capi- tais, conhece-se apenas um caso, — por isso mesmo insélito — de uma grande empresa de capital estrangeiro que nao se utiliza dos tncentivos fiscais, em qualquer Area onde eles estdo disponivels, recolhendo integralmente seu imposto de renda. A explicacaéo usual- mente encontrada é a de que no pais-sede desta empresa, nao se reconhece a deducao fiscal no Brasil como nao-lucro, 0 que faz com que a_empresa caia numa faixa de incidéncia tributdéria mais alta, que nao lhe é interessante. vscesten messy

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