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MARINA DE ANDRADE MARCONI EVA MARIA LAKATOS Técnicas de Pesquisa ¢ Planejamento e execucdo de pesquisas e Amostragens e técnicas de pesquisa ¢ Elaboragao, andlise e interpretagao de dados 68 Edicdo revista e ampliada SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. — 2007 TECNICAS DE a PESQUISA Técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma cién- cia ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte pratica. Toda ciéncia utiliza intimeras técnicas na obtencio de seus propésitos. 3.1 DOCUMENTAGAO INDIRETA Toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quais- quer que sejam os métodos ou técnicas empregados. Esse material-fonte geral é Util ndo so por trazer conhecimentos que servem de background ao campo de interesse, como também para evitar possiveis duplicac6es e/ou esforcos desne- cessarios; pode, ainda, sugerir problemas e hipdteses e orientar para outras fontes de coleta. Ea fase da pesquisa realizada com intuito de recolher informagées prévias sobre 0 campo de interesse. O levantamento de dados, primeiro passo de qualquer pesquisa cientifica, é feito de duas maneiras: pesquisa documental (ou de fontes primarias) e pes- quisa bibliografica (ou de fontes secundarias). 3.1.1 Pesquisa Documental A caracteristica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados esta restrita a documentos, escritos ou nao, constituindo o que se denomina de fontes primarias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fe- ndémeno ocorre, ou depois. TECNICAS DE PESQUISA Utilizando essas trés varidveis — fontes escritas ou nao; fontes primarias ou secundarias; contempordneas ou retrospectivas — podemos apresentar um quadro que auxilia a compreensao do universo da pesquisa documental. Eevi- dente que dados secundarios, obtidos de livros, revistas, jornais, publicagdes avulsas e teses, cuja autoria é conhecida, nao se confundem com documentos, isto é, dados de fontes primarias. Existem registros, porém, em que a caracterfs- tica “primaria” ou “secundaria” nao é tao evidente, o mesmo ocorrendo com al- gumas fontes nao escritas. Daf nossa tentativa de estabelecer uma diferenciacao. ESCRITOS OUTROS | PRIMARIOS SECUNDARIOS PRIMARIOS SECUNDARIOS 1 Transcritos de fontes Compilados na primarias contem- Feitos pelo autor Feitos por outros ocasiao pelo autor . poraneas 8 Exemplos Exemplos Exemplos Exemplos & | Documentos de ar- | Relatérios de pes- | Fotografias Material cartografico 5 quivos pUblicos quisa baseados em | Gravagées em fita | Filmes comerciais & | Publicagdes parla | trabalho de campo magnética Radio it | mentareseadminis- | de auxiliares Filmes Cinema S | trativas | Estudohist6rico que | Graficos Televiséo © | Estatisticas (censos) | recorre aos docu- | Mapas Documentos de ar- | mentos originais Outras ilustragdes quivos privados Pesquisa estatistica Cartas baseada em dados Contratos do recenseamento Pesquisa que usa a correspondéncia de outras pessoas Compilados apés 0 | Transcritos de fontes acontecimento pelo primdrias retros- | Analisados pelo autor | _Feitos por outros autor pectivas 2 g Exemplos Exemplos Exemplos Exemplos 5 | Diarios Pesquisa que recor- | Objetos Filmes comerciais a Autobiografias rea diarios ou auto- | Gravuras Radio 2 Relatos de visitas a | biografias Pinturas Cinema 1 | instituigdes Desenhos Televisao & | Relatos de viagens Fotografias Cang6es Folcloricas Vestuario Folclore 64 TECNICAS DE PESQUISA O antropdlogo, ao estudar as sociedades pré-letradas, encontra grande di- ficuldade em analisar essas sociedades, jA que elas nao possuem registros escri- tos. Deve o pesquisador de campo, além das observacées efetuadas, lidar com tradig6es orais. Estas tendem, ao longo das geracées, a adquirir elementos fan- tasiosos, transformando-se geralmente em lendas e mitos. Hoje, tanto o antro- pdlogo social quanto o socidlogo encontram-se em outra situaciio: a maioria das sociedades é complexa, letrada, e nelas o acimulo de documentos vem ocorrendo ha séculos. Talvez o problema agora seja o excesso de documenta- ¢ao. Para que o investigador nao se perca na “floresta” das coisas escritas, deve iniciar seu estudo com a definico clara dos objetivos, para poder julgar que tipo de documentac&o seré adequada as suas finalidades. Tem de conhecer também os riscos que corre de suas fontes serem inexatas, distorcidas ou erré- neas. Por esse motivo, para cada tipo de fonte fornecedora de dados, o investi- gador deve conhecer meios e técnicas para testar tanto a validade quanto a fidedignidade das informacées. 3.1.2 Fontes de Documentos A. Arquivos Puiblicos Podem ser municipais, estaduais e nacionais. Em sua maior parte contém: a. Documentos oficiais, tais como: ordens régias, leis, oficios, relaté- rios, correspondéncias, anudrios, alvards etc. b. Publicagdes parlamentares: atas, debates, documentos, projetos de lei, impressos, relatérios etc. c. Documentos juridicos, oriundos de cartérios: registros de nas- cimentos, casamentos, desquites e divércios, mortes; escrituras de compra e venda, hipotecas; faléncias e concordatas; testamentos, inventarios etc. d. Iconografia. B. Arquivos Particulares A primeira distingao a ser feita é entre domicilios e instituigdes, pela dife- renga de material que se mantém. a. Domicilios particulares: correspondéncia, memérias, didrios, auto- biografias etc. b. Instituigées de ordem privada, tais como bancos, empresas, sindi- catos, partidos politicos, escolas, igrejas, associag6es e outros, onde se encontram: registros, oficios, correspondéncia, atas, memoriais, programas, comunicados etc. TECNICAS DE PESQUISA 65 Instituigdes publicas, do tipo delegacias, postos etc., quer voltadas ao trabalho, transito, satide, quer atuando no setor de alistamento militar, atividade eleitoral, atividades de bairro e outros, poden- do-se colher dados referentes a: criminalidade, deteng6es, prisdes, livramentos condicionais; registro de automéveis, acidentes; con- tribuicdes e beneficios de seguro social; doengas, hospitalizacdes; registro de eleitores, comparecimento a votacao; registros profis- sionais ete. C. Fontes Estatisticas A coleta e elaboracio de dados estatisticos, inclusive censitarios, esta a cargo de varios érgiios particulares e oficiais, entre eles: IBGE (Instituto Brasi- leiro de Geografia e Estatistica), Ibope (Instituto Brasileiro de Opiniao Publica e Estatistica), departamentos municipais e estaduais de estatistica, Instituto Gallup etc. Os dados coletados sao os mais diversos: a. b. Caracterfsticas da populacdo: idade, sexo, raga, escolaridade, pro- fissdo, religiao, estado civil, renda etc. Fatores que influem no tamanho da populacao: fertilidade, nasci- mentos, mortes, doengas, suicidios, emigrag4o, imigracao etc. Distribuigdo da populaco: habitat rural e urbano, migracao, densi- dade demografica etc. Fatores econémicos: m4o-de-obra economicamente ativa, desem- prego, distribuicdo dos trabalhadores pelo setor primdrio, secunda- rio e terciario da economia, nimero de empresas, renda per capita, Produto Interno Bruto etc. Moradia: ntimero e estado das moradias, niimero de cémodos, in- fra-estrutura (Agua, luz, esgoto etc.), equipamentos etc. Meios de comunicacio: radio, televis&o, telefone, gravadores, car- ros etc. Os exemplos citados so os mais comuns, porém as fontes estatisticas abrangem os mais variados aspectos das atividades de uma sociedade, incluin- do as manifestacdes patoldgicas e os problemas sociais. 3.1.3 Tipos de Documentos A. Escritos a. Documentos oficiais — constituem geralmente a fonte mais fi- dedigna de dados. Podem dizer respeito a atos individuais ou, ao contrario, atos da vida politica, de alcance municipal, estadual ou 66 ‘TECNICAS DE PESQUISA nacional. O cuidado do pesquisador diz respeito ao fato de que ele nao exerce controle sobre a forma como os documentos foram cria- dos. Assim, deve ndo sé selecionar o que lhe interessa, como tam- bém interpretar e comparar o material, para torné-lo utilizdvel. Publicagées parlamentares — geralmente sao registros tex- tuais das diferentes atividades das Camaras e do Senado. Dificil- mente pode-se questionar sua fidedignidade, por contarem com um corpo de taquigrafos qualificados e, jd em diversos paises, utili- zam-se fitas magnéticas para gravacao das sessdes. Entretanto, o pesquisador nao pode deixar de conhecer exce¢des, como as apon- tadas por Mann (1970:67-68), que reproduz as palavras de Isaac Deutscher sobre 0 222 Congresso do Partido Comunista (Russia): “As atas oficiais e enganadoras maci¢amente emendadas, do Con- gresso...”. Assim, existem pafses onde a historia é regularmente reescrita, o mesmo acontecendo com as publicacgdes parlamentares. Documentos juridicos — constituem uma fonte rica de informes do ponto de vista sociolégico, mostrando como uma sociedade re- gula o comportamento de seus membros e de que forma se apresen- tam os problemas sociais. Porém, o pesquisador deve saber que decis6es juridicas, constantes de documentos, so a ponta de um iceberg, principalmente quando se trata de julgamento por crimes politicos: muitos réus chegam ao tribunal com confissées “esponta- neas”, que servem de base para todo 0 processo posterior; assim, a decisao juridica esta viciada desde a base. Fontes estatisticas — os dados estatisticos so colhidos direta- mente ea intervalos geralmente regulares, quer abrangendo a tota- lidade da populac&o (censos), quer utilizando-se da técnica da amostragem, generalizando os resultados a todaa populacdo, Em outras palavras, em épocas regulares, as estatisticas recolhem da- dos semelhantes em lugares diferentes. A propria generalizacaio de dados relevantes sobre a populagdo permite ao investigador procurar correlag6es entre seus proprios resultados e os que apre- sentam as estatisticas nacionais ou regionais. Partindo do princi- pio de que as pesquisas com a utilizagdo de questiondrios e, prin- cipalmente, formulérios, sao bastante onerosas e, geralmente, de aplicacdo limitada, 0 confronto dos dados obtidos com as estatts- ticas, mais extensas no espaco e no tempo, permite obter resulta- dos mais significativos. Por outro lado, se as estatisticas sio mais abrangentes, também sao menos precisas. Os principais fatores que levam a erros sao: ° negligéncia — exemplo: alguns erros classics em listas eleitorais devem-se ao fato de os falecidos continuarem inscritos, aumen- tando a percentagem de abstencionismo principalmente entre TECNIGAS DE PESQUISA 67 os idosos; os jovens que prestam servico militar sao obrigatoria- mente inscritos, resultando em maior abstenc&o entre rapazes do que mogas (os militares em atividade nao votam e as jovens que se dao ao trabalho de inscrever-se geralmente comparecem as ur- nas), principalmente em paises onde o voto nao é obrigatério; © forma de coleta de dados - exemplo: o aumento do ntimero de acidentes de automével ocasionados por embriaguez deve-se, principalmente, a um controle mais severo das condigdes do mo- torista; em paises subdesenvolvidos o aumento de certas taxas, como as de cancer, analfabetismo e outras, provém de diagnésti- cos mais exatos e registros mais precisos; ¢ definigdo dos termos — exemplo: uma modificacao na definicéo do tipo e faixa de renda suscetivel de pagar impostos fard variar o ntimero de individuos isentos deles; uma alterac&o da defini- cao de populac&o economicamente ativa, computando-se a par- te os que trabalham meio periodo e/ou executam trabalhos temporarios, impedira a comparacdo dos resultados estatisticos e modificard o nivel de desemprego; o estabelecimento de cate- gorias profissionais tendo por base a indicacdo dos pesquisados levard a muitos desvios se a populacio nao souber exatamente o conceito empregado pelos érgios coletores; e informagées recolhidas dos interessados - exemplo: as principais distorgdes ocorrem quando o pesquisado ndo é capaz de dar a resposta correta (ntimero de cabecas de gado, em estatisticas ru- rais) ou tem razées para fornecer dados inexatos (fraude fiscal); pode ocorrer também que 0 entrevistado deseje valorizar-se, de- clarando-se bacharel quando s6 tem diploma de 12 grau. Grawitz (1975: II 122) especifica os principais cuidados que deve tomar o pesquisador que se utiliza de fontes estatisticas: “encontrar a definigéo exata da unidade coletada e generalizada; verificar a homo- geneidade do elemento generalizado; verificar a homogeneidade da re- lagéo entre a quantidade medida mediante o total e seus diversos elementos, assim como a quantidade que interessa ao investigador; sa- ber com referéncia a que devemos calcular as percentagens”. Diversas sao as formas pelas quais as estatisticas podem ser utili- zadas pelos pesquisadores, mas as trés a seguir exemplificadas sao as principais: correlagao entre uma pesquisa limitada e os dados censitarios: J. Ri- ley (Apud Grawitz, 1975: II 119) cita uma pesquisa em que, por in- termédio de questiondrios, procurou-se verificar a atitude das mulheres das novas geracdes com relacdo ao trabalho da mulher ca- 68 TECNICAS DE PESQUISA sada. O primeiro passo da pesquisa foi um estudo das estatisticas, que revelaram um aumento de mulheres casadas economicamente ativas, principalmente em correlagéo com o grau de escolaridade (correlac&o positiva); na segunda fase, a aplicacaio do questiondrio revelou opiniao positiva em relacdo a atividade da mulher casada, uniformemente distribuida entre as jovens, independentemente da categoria econdmica de seus pais; na terceira tapa, a andlise dos da- dos estatisticos revelou o aumento do numero de mulheres que tra- balham em correlagao positiva com o nivel de instrucdo, porém apontou também um decréscimo de mulheres empregadas em fun- cdo da renda do marido. Ora, esses dois fatores — nivel de instrucdo e nivel econémico — geralmente atuam no mesmo sentido, o que nao estava ocorrendo, fator que sé pode ser verificado com a confronta- cdo dos dados colhidos na pesquisa de campo com as estatisticas; estudo baseado exclusivamente na andlise e interpretacdo de dados existentes: Kenesaw M. Landis (Apud Selltiz et al., 1965:358) de- monstrou o grau de segregacdo racial existente em Washington uti- lizando publicagdes do Departamento de Recenseamento “para in- dicar presses sobre os negros para que vivessem reunidos em gran- des nuimeros e em pequena drea, e para exemplificar as mas condi- ges de habitacgao de que dispunham”; usou estatfsticas oficiais de satide com a finalidade de apontar as conseqiiéncias advindas de tais condigées, como maior indice de mortalidade, principalmente ocasionada por tuberculose; para demonstrar discriminac&o no tra- balho utilizou dados oficiais sobre emprego e registros de uma em- presa industrial; empregou dados coligidos pelo Department of Research of the Washington Council of Social Agencies para demons- trar a relagdo existente entre as mds condicées de habitacdo e as pri- sdes de jovens, efetuadas pela policia da cidade; utilizagao dos dados estatisticos existentes para a verificacio de uma teoria social: em sua obra O Suicidio, Emile Durkheim deu um exemplo magistral do emprego de dados estatisticos. Outros pes- quisadores antes dele j4 haviam tentado correlacionar os suicfdios com estados psicopaticos, imitagdo, fatores raciais, fatores heredita- rios, fatores césmicos e clima. Durkheim provou que, mantendo-se esses fatores constantes, 0 mesmo n4o acontecia com a taxa de sui- cidios. Em particular, para o clima, realizou uma andlise mais ex- tensa: verificou que, de fato, o indice de suicidios cresce regular- mente de janeiro até junho, depois declina até dezembro. Porém, se se deseja correlacionar suicidio com a temperatura, os dados nao sao consistentes: mais suicidios ocorrem na primavera do que no outono, quando as temperaturas médias so mais elevadas; 0 “pique” dos suicidios ocorre em junho e nao nos meses mais quen- tes, que sao julho e agosto. Dessa forma, as regularidades sazonais TECNICAS DE PESQUISA 69 realmente existentes nos indices de suicidio nao podem, de forma alguma, ser explicadas pela temperatura. Propés, entéo, que o indi- ce de suicidio estaria ligado as atividades sociais e estas seriam sa- zonais. Postulou que “o suicidio varia na razao inversa do grau de integracao dos grupos de que faz parte o individuo”, especificamente as sociedades religiosa, doméstica e politica (Durkheim, 1973:234). A anilise dos dados estatisticos comprovou a estatistica, pois encon- tram-se indices menores de suicidio entre catdélicos do que entre pro- testantes, entre casados do que entre solteiros, entre os que tém filhos do que entre os que nao os possuem e durante épocas em que é maior o fervor nacional. Publicagées administrativas — sua fidedignidade é menor do que a dos documentos oficiais e juridicos e das publicacdes parlamentares. Mais do que registro acurado do que se disse e fez, visa 4 “imagem” da organizagao quando dirigida aos clientes e ao puiblico em geral, e A “imagem” e filosofia do administrador quando é de uso interno. Ene- cessdrio um estudo do momento politico, interno e externo, em que os documentos foram elaborados, para compensar certos desvios. Documentos particulares — consistindo principalmente de car- tas, didrios, memérias e autobiografias, os documentos particulares sao importantes principalmente por seu contetido nao oferecer apenas fatos, mas o significado que estes tiveram para aqueles que os viveram, descritos em sua propria linguagem. Nao é facil dife- renciar entre didrios, memorias e autobiografias, pois, além de cor- relacionados, uns podem conter partes de outros. Diario seria o do- cumento escrito na ocasiao dos acontecimentos que descreve; me- moérias consistem em reminiscéncias do autor em relacao a deter- minado periodo, auxiliado ou nao por diarios, mas ele proprio pode nao ser o personagem central; autobiografia é um registro cronold- gico e sistematico da vida do autor, que se configura como persona- gem principal. Os principais problemas enfrentados pelo pesqui- sador ao lidar com documentos pessoais sao: e falsificacdo — tentativa deliberada de fazer passar por autoria de determinada pessoa documento escrito por outra, que visa criar dificuldades a um estudioso ou obtencéo de lucro; © apresentagdo errada do préprio autor — se se deve a auto-engano, isto 6, distor¢cdo da visao de si préprio, nao traz problemas para o pesquisador que esta interessado na auto-imagem do autor: as discrepncias entre esta e a imagem que outras pessoas tém do autor pode ser fonte interessante de estudo. Porém, se 0 motivo é de autopromocao, ocorre distorgao deliberada, que se configu- ra em sério impedimento para andlise do autor e seu papel em determinados acontecimentos; 70 TECNICAS DE PESQUISA B. Outros desconhecimento dos objetivos — todo documento pessoal visa a deter- minado objetivo: expressar idéias e pontos de vista, relembrar acon- tecimentos e sentimentos, servir de libelo pdés-tomo contra atos de arbitrio e de terror, justificativa de decisées tomadas etc. Quando o documento visa ao consumo ptiblico em data posterior, os variados objetivos introduzem diferentes distorgdes na exposi¢do. Iconografia — abrange a documentacao por imagem, compreen- dendo gravuras, estampas, desenhos, pinturas etc., porém exclui a fotografia. E fonte preciosa sobre o passado, pois compreende os uinicos testemunhos do aspecto humano da vida, permitindo verifi- car tendéncias do vestudrio e quem o vestia, a forma de disposicdo dos méveis e utensilios, assim como outros fatores, favorecendo a reconstituic¢éo do ambiente e estilo de vida das classes sociais do passado, da mesma forma que 0 cotidiano de nossos antepassados. Fotografias — tém a mesma finalidade da iconografia, porém re- ferem-se a um passado menos distante. Objetos — principalmente para os etndégrafos, os objetos consti- tuem fator primordial de seus estudos. Mas outras ciéncias também fazem deles o cerne de algumas andlises ou abordagens. Assim, os objetos permitem, em relacdo as diversas sociedades, verificar: © ontvel de evolugdo — objetos de osso, barro, bronze, ferro ou, atual- mente, ntimero de veiculos, telefones, televisores ou aparelhos eletrodomésticos; e o sentido da evolugdo — desde a invengao da roda até os progres- sos da automatizacao, do cachimbo e éculos até avides e robés, os objetos materiais desenvolvidos pela tecnologia rudimentar ou avancada permitem obter informag6es sobre como evolui uma sociedade; © os meios de produgdo — essencial para a andlise marxista, por constituir a infra-estrutura que determina a superestrutura, ou seja, as formas que terdo as relagdes sociais, politicas etc. Atual- mente, muitos autores interessam-se pelas diferenciagdes que se apresentam entre os operdrios em funcdo dos progressos técni- cos, especificamente a automatizagao e a introdugdo do uso de robés na linha de montagem; e asignificagdo valorativa — isto é, tanto o sentido do objeto simbo- lo (cachimbo da paz, cruz, bandeira) quanto os que adquirem um valor em decorréncia do uso em determinado contexto (anel de noivado e de grau, distintivos de associacées). TECNICAS DE PESQUISA 71 d. Cancées folcléricas — traduzem os sentimentos e valores de de- terminada sociedade, em dado contexto. Por outro lado, as cangdes de autoria conhecida, muito antes da imprensa escrita ou falada, tém constitufdo um meio de expressao para a oposicao tanto politi- ca como social. Vestudario — dependendo da sociedade, nao constitui apenas um simbolo de status, mas também de momentos sociais (os enfeites e pinturas de guerra dos nossos indigenas). Por outro lado, na india, a sociedade de castas levou ao auge o vestudrio como sinal de posi- cao social: quantidade de pegas, qualidade dos tecidos, cores, dis- posic&o, enfeites eram caracteristicas de cada casta e sub-casta, permitindo, ao primeiro olhar, a diferenciagao e, em conseqiiéncia, a atitude hierarquizada das pessoas em relag&o a outras. Folclore — constituindo-se de rico acervo de costumes, objetos, vestudrio, cantos, dancas etc., o folclore permite a reconstituigéo do modo de vida da sociedade no passado, tanto de atos ligados a aspectos festivos como de atividades do dia-a-dia.

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