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Esta obra foi publicada originalmente em italiano com DESIGN E COMUNICAZIONE VISIVA por Laterza Mila, Copyright © 1989 Gius. Laterza & Fight 4 Eadigao brasileira publicada com acordo de Edigée le Edigbes 70 N° cham. 7415.2. mediado por Eulama Literary Agency,” Copyright © 1997, Livraria Martins Fontes Edit es Editora Li 963 - ‘Sao Paulo, para a presente edigdo, Datag2AQV2ALY — A DANIEL SANTANA qu. Revisao da traducao, adaptacdo para a Proced. ei lgo brasicia etext nal Ione Castitho Benedet Prego___ Revisées gréficas Ana Luiza Franga Maria Cecilia de Moura Madarés Dinarte Zorzaneli da Silva Produséo gréfica Geraldo Alves Paginacao/Fotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Capa Katia Harumi Terasaka Dados Internacionais de Catalogagiio na Publicagio (CIP) (CAmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Munati, Bruno Design e comunicagio visual : contribuigdo para uma metodologis fae TessO-me por comuni Te técnica dos computadore® + cis por nenhum instruments visual, nfo tenho interesses OP or 08 diferentes modos — em particular, mas quero con A comunicagao visual. AS idéias 0€ onolog ne CARTAS DE HARVARD 7 parecem-me diferentes das que ja estudei, € acredito na utilidade de explorar novos instrumentos”, “Interesso-me por essas pes- quisas para poder aplicar as experiéncias nos meus trabalhos artisticos e também para criar ambientes, além de objetos”, “In- teresso-me pela tecnologia moderna”, “Creio que esse curso au- mentaré meus conhecimentos sobre meios visuais de expres- sao”, “Sou fisico e tenho disciplina de cientista, mas ao mesmo tempo interesso-me pela arte visual; fago um curso de computa- gdo grafica, que me interessa muito, e quero explorar suas possi- bilidades artisticas”, “Fiz experiéncias com luz e com cores mo- veis”, “Meus interesses e os de Bruno Munari tém muito em comum; quero conhecer novos meios (novos para mim) de comunicacio visual”, “Quero seguir este curso porque gosto das qualidades livres e experimentais do design italiano e quero apren- der mais. Na primavera vou fazer o projeto de montagem para um espetaculo e acredito que essa experiéncia ser util”, “Acho bom participar de um semindrio maior, em vez de um com duas ou trés pessoas apenas”, “Gosto de trabalhar em grupo”. Isto € 0 que pensam e dizem 0s jovens, pois véem 0 estudo co Imo o melhor modo de aprender os meios do seu eventual fut trabalho. Nao pensam em ir a uma escola de arte para poderem lpraticar melhor um hobby de pintura ou escultura. Estes, que lantes eram os unicos meios de comunicagao visual, hoje muitas eze a € esta € po da inven¢cao Go yezes-sio_inadequado Atico 5 compasso, ninguém mais faz circulos a mio livre, a nao ser por aposta ou para demonstrar capacidade. E tampouco acredito que hoje, com todos os meios que est&o 4 nossa disposi¢io, seja ne- cessario aprender a desenhar o que se pode fotografar. Adaptar o programa aos individuos, e nao o contrario Existem dois modos de preparar um programa de ensino; fa- lamos, neste caso, de escolas de arte. Hé um modo estatico e um modo dinamico. Ha um modo no qual o individuo é forgado a adaptar-se a um esquema fixo, quase sempre ultrapassado ou, no melhor dos casos, em vias de ser ultrapassado pela realidade pra- tica de cada dia. E um outro modo, que se esté formando aos pou- 8 DESIGN E COMUNICACAO VISUAL ificado continuamente pelos prépriog ing:.. ons Seueiae cada vez mais atuais. Dae Individuog e No caso do ensino estatico, com Programas feo} . viveis, cria-se muitas vezes um sentimento de Mal-eg; ie Mam, rebeliio por parte dos estudantes; em outros Casos 0 © até de percebendo a inutilidade de qualquer protesto Para ada, Studante, sino aos seus verdadeiros interesses, faz os cursog an Sen. mo ou chega a abandonar a escola. No caso do e€Nsino re las. os professores estudam um programa basico, o mais aly : possivel e, portanto, modificavel segundo os interesseg ‘aNgady gem do proprio ensino. S6 no fim do curso se saberé qu a sur. teve e como se desenvolveu. We forma Para preparar 0 programa bésico, consideram-se os elem tos principais e o objetivo para o qual 0 curso é feito; 0 professe, deve ter a elasticidade e a rapidez de preparar as aulas como ¢ on seqiiéncia das necessidades que se vao apresentando segundo a natureza dos varios individuos, de modo que todos po: ajudados a esclarecer suas dividas sobre um tema geral dado, que| neste caso é a comunicacao visual. Tema muito vasto, que vai des- de o desenho até a fotografia, as artes plasticas, o cinema; desde formas abstratas até as reais, de imagens estaticas a imagens em| lmovimento, de imagens simples a imagens complexas, desde ‘oblemas de percepg4o visual que concernem ao lado psicol6-| ico do tema, como relagées entre figura e fundo, mimetismo, oiré, ilusdes pticas, movimento aparente, imagens e ambien- le, permanéncia retiniana e imagens pdstumas. Tema que com- preende todas as artes graficas, todas as express6es graficas, des- de a forma dos caracteres até a paginacao de um cotidiano, desde os limites de legibilidade das palavras a todos os meios que faci- litam a leitura de um texto. Todos estes aspectos da comunicagio visual tem, no entanto, uma coisa em comum, que é a base da aula que aqui darel: oN jetividade. Sea imagem usada para certa mensagem nao é va, te i icagio lecessdrio que a imagem usada seja legivel para todos © por sOsscaTn ia Maneira; caso contrario nao ha co sual, alids no hd nem mesmo comunicagao: ha confus: E agora umas nuvenzinhas esto passando depressa P¢ = CARTAS DE HARVARD 9 do sol, projetando sua sombra sobre as coisas e modificando constantemente a intensidade da luz. Enquanto escrevo, no esti- dio que me destinaram na Hemerson Hall (um dos edificios da Harvard University para Fisiologia, Psicologia e Sociologia), a luz da sala muda como se alguém se divertisse a fechar e a abrir a janela. Vou acender a luz. Este edificio tem a fachada completa- mente coberta de trepadeiras, e no verao deve ser muito agrada- vel penetrar neste bloco verde, deixando 14 fora a forte luz ofus- cante da atmosfera. Comecei a primeira aula do curso Visual Studies dando a to- dos os estudantes um tema de colagem livre a partir de elemen- ‘os tirados de revistas de varios tipos. Essa colagem tinha o obje- ‘ivo de revelar-me a natureza dos varios individuos para que eu uudesse dirigir-me a eles depois de ter estabelecido um contato ym _o mundo pessoal de cada um; de fato, sem esse contato, nao haveria entendimento possivel. Examinei, depois, as varias cola- gens e verifiquei que estava lidando com um grupo extraordina- riamente heterogéneo: alguns tém problemas sociais, outros ra- ciais, outros nao sabem o que fazer; alguns sao infantis, outros ja possuem maturidade grafica e expressiva. Alguns jovens traba- lIham em grupo, outros se isolam nas mesas mais distantes; al- guns trabalham com decisao e acabam rapidamente, outros gas- tam trés horas (0 tempo que dura cada aula deste curso) e no fim ainda esto indecisos. De qualquer modo, entre todos esses trabalhos apareceram formas de varias naturezas e varios tipos de composigao, de pic- toricas a narrativas, de compactas a dispersas e com elementos desconexos. Cada um pensa, de algum modo, ter expresso algo. Na proxi- ma aula, cada autor apresentara seu trabalho ao grupo de colegas, que sero convidados a dizer 0 que véem, o que as imagens lhes revelam. Assim, com esta prova coletiva, os estudantes podem fa- zer uma aferig&o daquilo que quiseram exprimir: se um fez uma composi¢ao confusa ou nao foi claro na exposi¢ao do seu assun- to, isso apareceré na livre interpretagao das imagens. Minha inter- vengao limitar-se-4 a ajudar a esclarecer os diversos problemas e a explicar por que algumas coisas se percebem e outras nao (tanto eu saiba, naturalmente) e o que querem dizer “comunicagao vi- 10 DESIGN E COMUNICAGAO VIsuAL . + etiva”. Havera imagens sobre as quaig ». sual” € “imager er entio explicar 0 que sucede quan ts estardo de an procura estabelecer contato com a massa de ; imager cat ‘uma tem dentro de si. Cada um tem um depg oe gent is que fazem parte do seu mund 0, depésito que se foi a ae durante toda a vida do individuo e que este acum a ns conscientes ¢ inconscientes, imagens distantes, qa Fy meira infancia, e imagens proximas; e, juntamente com ag ima. s, estreitamente ligadas a elas, as emogoes. E com esse bloco pessoal que ocorre o contato, é nesse bloco de imagens e sensages subjetivas que cumpre Procurar as obje, tivas, as imagens comuns a muitos. Saber-se-4 assim que ima. gens, que formas, que cores usar para comunicar determinadas informagées a determinada categoria de publico. Grande parte dessa linguagem visual ¢ conhecida, mas ha que ter sempre em dia a documentagao sobre o assunto, ¢ a experimenta. do pessoal é a que melhor ensina. Como se pode facilmente perce- ber, aqui nao ha o artista dizendo: vejo a coisa assim, € os outros que se arranjem; se nao me entenderem, azar deles. O artista que tem uma visio pessoal do mundo sé tem valor se a comunicagio visual, 0 suporte da imagem, tem valor objetivo; caso contrario, entra-se no mundo dos cédigos mais ou menos secretos, que fazem com que algumas mensagens sejam entendidas apenas por poucas pessoas —alids, aquelas mesmas que j4 conhecem a mensagem. Cada um vé o que conhece Ninguém ignora que um bom impressor, quando pega um li vro bonito e novo, olha-o pela frente e por tris, abre a capa acom panhando a prega com a mao, observa os caracteres tipograficos, Como estado dispostos, de que tipo sao e se sio originais ov & segunda fundigfo, observa e critica o papel, a encadernaca0, Ne te ‘ lombada do livro é redonda ou quadrada, como comes y aa (em que altura), como sfio as margens, como so 08 ee Umi esta disposta a numeragao e muitas outras co pra e de oe sabe de impressio 1é 0 titulo e 0 prego, le letra a 'S i¢ 0 livro, mas, se alguém Ihe perguntar que! 2 © titulo, ele nao saberd dizer, niio Ihe interess2- No fn mundo Pessoal de Imagens no existem pontos de contato © CARTAS DE HARVARD 11 essas coisas que ele nao conhece; nem sequer viu de que tipo de Conhecer as imagens que nos circundam alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais. E muito interessante, por exemplo, ve as estruturas das coisas, mesmo na parte que esta a superficie, aquilo que se chama “textura”, isto é, a sensibilizacao (natural ou! artificial) de uma superficie, mediante sinais que nao alterem| sua uniformidade. Uma fotha de pape se superficie pouco interessante se é lisa, mais interessante se ¢ rugosa, ainda mais interessante se as rugosidades tem uma pro- gressio estrutural reconhecivel, como por exemplo os poros da pele, que, como comunicagio visual, dio idéia de pele. Pense- mos na pele dos animais, do lagarto ao crocodilo, na casca das Arvores, na parede rebocada, no cimento amartelado. Tudo o que © olho vé tem uma estrutura superficial propria, e cada tipo de sinal, de grao, de serrilhado, tem um significado bem claro (tan- to é que um copo com superficie de pele de crocodilo nao nos pareceria normal). Esse principio de animar as superficies é mui- to conhecido pela industria téxtil, quando fabrica tecidos que tém “toque”, ou seja, um efeito tatil particular, ligado — entenda- se — a uma comunicagio visual precisa. Principalmente nos teci- dos para homens véem-se diversos métodos de tornar interessan- te uma superficie com tramas uniformes. ‘oO O LARAN)A MAA NOVELO ‘ tua BOLA DE MADEIRA INE coMUNICAGAO VISUAL 42 DESIG! Lud BOLA DE MADEIRA Um dos primeiros exercicios do curso basico de Visual Design é 0 estudo das superficies, visto que qualquer imagem que 0 designer tenha de estudar para qualquer comunicagio visual de- verd conter também esse aspecto. Digo “também” porque niioé s6 a forma que é necessario estudar, mas também... 2 aparéncia (cabe aqui dizer isso). _ Desculpem se de repente abro o meu habitual paréntese de vida americana, mas preciso contar uma coisa interessante. “4 as or Cambridge, num quarto do ultimo andar 6 ia ie aes chamada Faculty Club. O quarto ei de mim, entre acolhedor, e tem todas as comodidades. ‘os mora um e . oe do quarto e o telhado coberto 4° 9 or algo, renin lo que nunca vi, mas que sempre ous en dos Unidos s — durante a noite. Quem ja esteve Oa fi cao, nao sennee, Aue ROS Festaurantes comuns, do tipo © get! sempre feita con fruta (ou come-se s6 salada de ie nuit? Vontade de om frutas frescas); eu, porém, estav4 0", cot” Prei lindas a mer frutas. Fui, pois, a um supermerc?! a oF culty Club (ena que levei para o quarto. Eramos oie e © 0 esquilo, Né feriado, e todos estavam fora, até 08 sel” do na Poltrona. ep Toiamos uma fruta: eu, uma mag vie Mas ouvia-o le, ndo sei o que nem como, P CARTAS DE HARVARD 13 Para a sensibilizagdo das superficies, diziamos, os estudantes foram convidados a transformar, com qualquer meio de que dis- Ppusessem e com criatividade, uma folha de papel normal, branca e inexpressiva. Mas isso procurando apenas modificar a superfi- cie, conservando sua uniformidade, ou seja, sem fazer composi- goes artisticas, pois é muito dificil limitar um problema. Para aprender bem, ha que aprofundar todas as coisas que para o entu- siasmo juvenil paregam imediatamente superaveis. Com um pro- blema muito limitado é necessario fazer 0 maximo de exercicios. Os jovens, porém, gostariam de desenhar logo um projeto, assim como gostariam de guiar logo automéveis ou de tocar instru- mentos musicais. Enquanto nas duas primeiras aulas, em que o tema era de colagem livre, todos logo se precipitaram a recortar revistas e a colar, procurando exprimir significados misteriosos, sendo que alguns, que nao sabiam o que exprimir, expressavam também o seu estado de Animo, desta vez, com a pesquisa de sensibilizago de uma superficie, sem necessidade de exprimir nada, todos ficaram um pouco desorientados. Alguns come¢a- ram a encher a folha com pontinhos, outros com sinais; uns esfregavam a folha no chio, outros molhavam-na; uns usavam impressées digitais, outros carimbavam com os carimbos mais estranhos; uns dobravam o papel em muitas dobras regulares, outros usavam esponjas, com cor (sempre sd 0 preto); outros, finalmente, olhavam e nao sabiam o que fazer; alguns, apdés as primeiras tentativas, tinham ido embora. Texturas Os estudantes do curso Visual Studies encheram muitas fo- lhas com texturas, ou seja, sensibilizaram, de maneira uniforme, uma superficie plana. Cada um segundo seu préprio carater, uns com pontos pequenissimos a lapis, outros com grandes sinais a pastel. Alguns trataram a superficie com lixa para tornd-la mais absorvente e depois polvilharam-na com grafite; outros cobri- ram as folhas com riscos finos, uniformes e a distancias iguais, em papel branco, cinzento ou preto. Essas superficies uniformes, j4 nado an6nimas, mas com uma caracterizacao material, podem ser animadas adensando-se ou 14 DESIGN E COMUNICAGAO VISUAL ul oan rarefazendo-se as texturas, até se chegar ao aparecimento d guras reconheciveis. Existe, a propdsito, um fenémeno at que pode dar bem a idéia da passagem de uma superficie a me para uma superficie animada por figuras: é 0 fendmeno 4 limalha de ferro e das ondas sonoras. Para isso, usa-se uma che. pa de zinco quadrada, com cerca de trinta centimetros de lado, que é pulverizada com limalha de ferro uniformemente espalte. da; passa-se a seguir um arco de violino num dos lados do qua- drado, como para tocar violino (sé que, em vez de passar o ao sobre as cordas, ele € passado sobre um dos lados da chapa),¢ limalha de ferro se dispora segundo desenhos geométricos pr- vocados pelas vibragdes sonoras. A prépria matéria da textua forma imagens, adensando-se e desbastando mais aquilo que cot sideramos o fundo. Pode-se depois comecar a desenhar figura: informais e a seguir com contornos definidos, até obter ie geométricas exatas, adensando as varias texturas. Cal cf vidado a desenhar o que quer segundo esse sistema, ee a on aparecer do nevoeiro uma imagem que lentamente gan nth até ficar bem definida. Quem fez texturas com base eine Por exemplo, uma superficie coberta de pontos deuP" ajed com um centimetro de distancia em reticulado quad e adensar o reticulado com pontos nas zonas que ce ast um ponto no meio dos outros, depois um outro me spas ovos espacos, reduzindo assim continuamente ° Conseguir zonas negras com pontos cerrados. s, primeiramett

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