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17/04/2018
Desde 2012 é publicada a revista Relatos da Fábrica com reportagens sobre as condições
e a luta dos trabalhadores no Delta do Rio das Pérolas (Zhujiang). O site Gong
Chao SELECIONOU E TRADUZIU (para o inglês e para o espanhol) alguns desses relatos e
agora o Passa Palavra apresenta-os em português. Todos os relatos poderão ser lidos
CLICANDO AQUI.
Nossa o cina está no quarto piso. Fabricamos máscaras faciais. Cada posto de
trabalho tem uma cota de produção, determinada por empregados
especializados que cam observando por trás de nossas costas, medindo com
seus cronômetros. Sempre tentam aumentar as cotas, com a prática de contar
mais do que produzimos na realidade. Além disso, fazem tais medições pela
manhã quando temos mais energia, assim obrigando-nos a repetir essa
velocidade por 11 horas. Deste modo não alcançamos a cota e temos de fazer
horas extras que não nos pagam. A maioria dos operários não conseguem
alcançar a cota mensal. Ainda que o gerente desta o cina não seja
particularmente restritivo, e que não precisemos de nenhuma permissão
especial para ausentarmo-nos, todo mundo se preocupa. Alguns nem sequer
vão ao banheiro – não porque não precisam, mas porque têm medo de não
alcançar a cota de produção se o zerem. A maioria das pessoas esperam até
que terminem seu trabalho, por isso os banheiros sempre estão muito cheios
no m do turno.
Depois do jantar temos duas horas extra adicionais. É a parte mais fácil do dia,
porque sabemos que já está terminando. Quando estamos chegando perto do
m do dia, todo mundo se emociona, como se fossemos ser “libertados”. Por
isso trabalhamos muito rápido durante a noite e parecemos incrivelmente
enérgicos. Quando en m terminamos, libertados, depois de caminhar e sair
pela porta da fábrica, a fadiga que me pesa sobre o corpo desaparece
inconscientemente entre os ruídos do distrito comercial. Também esqueço da
repressão do chão da fábrica, como se tudo que restasse fosse o esgotamento
físico insuportável. Só então me dou conta que me realmente me acabei na
o cina.
Repito essa experiência todos os dias, no chão da fábrica, sem poder ver o sol,
quase nunca vou ao banheiro, nem uma vez. Chega a tal extremo que tenho
medo que a luz do sol machuque meus olhos! Ainda que este seja só um dia,
talvez esta seja minha vida toda para sempre, enquanto eu continuar
“a rmando” minha força de trabalho na fábrica.