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Alain Didier-Weill \ \ 4), t 4 yeas E se quisermos continuar interrogando o problema da transmissio da psicanslise devemos nos responsabilizar pelo ponto no qual L acan produziu ui avanco, e que, go mesmo tempo, ndo queremos abandonar, qual seja, 0 ponto a partir do qual eudiana de Paris, um \fraca modo como ele havia sido proposto por Lacan, escola M1 se introduziu, na 80 do passe rélacionado ao E incontestavel que foi Lacan quem reconheceu a contradigao estrutural em anto dividido entre seu desejo singular e o do grupo a que pertence. Issa, porém, nfo implica que a solugio trazida por ele, que todo analista se vé aprisionado, porqu: ao propor, em face das questdes levantadas por essa contradicao, trés nomeagées coneernentes ao analista, nao possa ser contestada. Nesse sentido, daremos as razées pelas quais seria possivel substituir essa dialética do um e do trés, em que um real analitico é nomeado por meio de trés instancias topograficamente diferentes ~ 0 analista praticante, o analista membro da Escola e 0 analista da Escola —, por uma outra dialética que, fundamentada na temporalidade do inconsciente, nao poria em jogo trés nomeacses diferentes, mas um tinico analista capaz de sustentar‘trés lugares correlacionados a trés tempos ldgicos, que correspondem, como pretendemos demonstrar, & estrutura de transmissibilidade do inconsciente. Esses trés tempos légicos nao deixam de ter a ver com a intuigao de Lacan a antecipada” (1945). Ao “tempo de em “O tempo légico e a assergao de certe: ssitrio ao Lacan dos anos 1950 para observar os efeitos de pregnancias (0 da International Psycho- ver”, ni imagin: jas induzidas pelo procedimento de habilit analytical Association (IPA), sucede o “tempo para compreender” que, para além deseu pertencimento a um grupo, o analista depende previamente da fala, Assim, a dupla pertinéncia por meio a0 fundar sua Escola em 1964, Lacan insereve i ista Met > Escola de duas nominagdes antinémieas: com a primeira, Analista Membro de Escol . a bon forma buseada (AME), o analista 6 reconhecido em nome do bom senso, na boa forma buse 7. ‘Tradugio: Contra Capa. * Do original: “Pour an lieu d'insistance”, novembro de 1997. Tradugso: € 2 107 pelo coletivo; com a segunda, ‘Analista Praticante (AP), 0 que estava em jogo nag era mais um significado admissivel para. a consisténcia do grupo de pertencimen. to, mas a pura significdncia de tum ato singular pelo qual um analista s6 podig ntorizar-se por simesmo. ia ~ esas duas nominagoes institufam assim, na descontinuidade, uma clivagem que opunha 0 ato {ntimo de um sujeito que se diz analistatiquéle deum jari fie nomeia, em nome do coletivo, um membro necessario A vida coletiva,) Foram precisos ainda alguns anos para Lacan passaao “tempode concluir”, apés ter encontrado a idéia que permitiria escapar desse face a face descontinuo ‘entre o intimo ¢ 0 coletivo, e acrescentar estas quatro palavras decisivas; “O ana- jista s6 se autoriza por si mesmo e por alguns outros”, que introduziram a nogio imo e o coletiv © de uma continuidade entre o in ntre a intensao e a extensio, Afirmava-se, entio, a idéia do passe. , ‘A “Proposigao de 9 de outubro de 1967” surge, desse modo, como o tempo » Ge ultrapassagem do dualismo estatico pelo qual se opunham 0 AME ¢ 0 AP: 0 ‘Analista de Escola (AE) era uma nomeacio terceira, autenticada pela passagem de um significante S(A), que tem a capacidade, comparavel 4 do chiste, de fazer _ passar da intenso para a extensio. Vy L ‘Até a hipotese do passe, a transmissao da psicandlise se fazia por duas vias paralelas: quele que estaya para se tornar analista era ensinado, de um lado, no campo da intensio, pélo que cle havia se autorizado a dizer como analisando no diva; de outro, no campo da extensio, pelo ensino textual que recebia de ensinantes qualificados pela instituigao. Essa clivagem engendraya o seguinte paradoxo: como a inventividade metafori , da qual ele dava provas de ter elaborado enquanto estava deitado sobre o diva, podia desertar tio freqiientemente de sua fala, ao ser levado, jaanalista, a se pronunciar de pé diante dos membros de sua instituigao? Em suma, o que-ocorria para que a fala daquele que se tornara analista nos fizesse ouvir que 0 preco pago por falar como “membro pertencente a” incluia a interrupgio do autorizar-se dinventividade metaforica? A partir do momento em que Lacan afirmou que nao cabia apenas 20 anali- sando, em posigdio histérica, autorizar-se a falar, e que essa tarefa de fala cabia a todo aquele que se tornara analista, a questo se tomnou esta: 0 ato analitico de autorizar-se nao era um ato in Avel, de ordem mistica, e nesse sentido nao se dissociava de um ato redobrado, por interi édio do qual o analista deveria tomar ivel, por sua f rein- em que ele se autorizara. Em suma, come ele cessava taco a ventava, com « proprias palavras, a teoria analitiea, que, desde entao, de ser caucionada por uma autoridade diante da qual podia se sentir £67" o: tentacho paradoxal de anularo qu jnclinar-s suaexperién ) Outro é barrado), reconstituindo uni hey ia analitica Ihe ensi- naa (0 de antovil lade que confirn ” : ransferenela para um Outro institucional ko barra, ' "maya ‘conseqiiéneia da idéia de que cada lista podia yt oNge express ate 0 enigmatico SCA) detém o poder de substituir a descontinuidadi " ns 3 ontinuidade 18 ivado/pablico por uma continuidade entre Intenso © exter J asugeria a cada analists 0 Seguinte: “Se tw considera que axeoedo, Freud ou Lacan, inventar ou reinventar a psi Ser esse passante, na qual 0, €ra enorme, pois ¢ ape: as a um ser de se, & porque resistes a existéncia dese sujeito de excegio que, em ti, éosujeito do ineonseiente a0 CU, Nao esti clivado entre odentroeo fora,entrea” sim dividide emuma continuidade quefardele um receptor go Outro que tem dese transmitir como emissor para 0 Outro, jnten: soeaextent fo, ma espera de ti que sejas um receptor da teoria que possa transmutar-se em um emissor, segundo esta fecunda jnversio: 0 emissor recebe do receptor sua propria mensagem sob forma invertida’, ~~ Fs tentacdio de anular o que foi arduamente conquistado no diva é tao fre- giiente que no devemos nos apressar, pretendendo estarmos certos de ter feito nossa a exigéncia ética de“autorizar --se por si mesmo”, Nesse sentido, precisamos distinguir rigorosamente o assentimento que é dado a essa sentenga — em razio de ela tender a desobrigar o analista da carga superegdica, provinda da autoridade institucional — do assentimento dado, em sentido contrario, por alguém que se responsabiliza, para assegurar sua transmissibilidade, pelo real posto em jogo no ato de autorizal se por si mesmo, Examinemos que leitura se pode fazer do real em questo, escrito por Lacan com uma barra sobre o A, A, e de sua ae presumida por ele a0 associé-lo a um significante: S(A). ) | Enguanto, historicamente, S(A) é, para Lacan, 0 significante de seu’ato de ~ © passante que conclui um retorno a Freud, ele é também, ¢ de modo ainda mais 7? radical, o significante de um reterno ao tempo estrutural a-histrico ligado ao instante da emergéncia fundadora da significancia: instante em que o siguifi- | 15 o eainte, o significado e o real se nodulam em um ponto de basta, por meio do qual 9° \\ ‘Jsignificado induzido pela intersegio simbélico-imaginario ndo estanca todo 0 _boder do significante. O enigma absoluto da significancia surge, com efeito, no Ponto que se poderia dizer propriamente miraculoso, 9% sej@, no qual se adquire ian ; =, por exemplo, uma significdneia que transcende o Jéxico de uma palavra, O que, por exen . 1 i” remete faz com que um sujeito possa saber muito bem que 0 significado “pat so a significdncia ~ que, alids, nenhum sy & procriagio, sem ter conquistado por is icionario pode outorgar — da metafora paterna? S 109 set, no momento ent que a fala N08 convida na possivel, o que tort men " ya nds, dea Em sun, ordo com uma significineia sim- ates, ouvi-la se € ender oTu como “Tues a | aque faz um analista, na condicao de alguém que fis", ou segundo um significado i sermos fala pqueleae aquele que fala asereve COO palica qnese escreve ¢ bico que se superegsice a expe M ximamente d i Seer Freud, seraquele que ter ouvido de Freud quero mandato seguir Freud, er manda neat Jo que me quero mandamento superegdico “tu és i stu és aquele que me s simbolicg “tu és aa umd urs" ele que me segura”? — “qué aquele qu de Lacan acerca dessa distingao, pela qual um “tu” 6 convidado, ode Lacan acerca Aacurada anitlis nh vo, confianga, leva-nos indiretamente A problemé- Acerteza e, do out! ver és aquele que me seguira” implica tu posto na terceira pessoa designa a presenga de um lado, tica de S(A). outorga uma certeza, uma ver que Oo doum eu que poder devotar sua vida a perguntar se conquistou a significaneia enunci ‘ ~ "6 cu nio se pergunta sobre a enunciagiio porque, esquivando-se na solic tende a se suportar na presenga permanente que ¢ outorgada pela consisténcia do mestre que ele escolheu. Se ele produz uma Verwerfung do “tu me seguiris”, ¢ a recepgio de um comando que em ter de se os enunciados de um mestre, jadora de seus enunciados. porque esse “tu me seguiras” requer, de maneira imediata, a existéncia de um sujeito exposto a uma solidao de dupla proveniéncia: de um lado, esse sujeito esta em uma relagao transferencial cum um A que o confronta com a inconsisténcia do Outro; do outro, exatamente porque ha esse furo no Outro, ele, sem encontrar neste 0 nome que poderia nomeé-lo, vé-se comoum sujeito inominado, que sé pode sustentar-se - como 0 eu ao se dizer “freudiano” ou “lacaniano”. Ora, é precisamente pelo fato de que o sujeito pode fazer a experiéncia dessa derreligao que ele tem a possibilidade de sair da solidao, respondendo, precisamen- te onde o Outro é sem respondente, que ele praprio nao o é. Assim, no ponto em que o Outro n4o pode responder para o sujeito, nao pode Ihe dar um sobrenome, nem um prenome, esse sujeito inominado respondera fazendo supléncia a essa falha de nome com a produgao de um puro significante assemantico, que afitma justamente haver o um (8) que existe sobre o fundo de auséneia (A) Aafirmagio dessa verdade a reintroduz no lugar de causa, da qual a ciéncia nada quer saber, Essa g fi fi i ssa afirmacao fundamental no seria igual A de Freud em sev primeiro sonho fundador, o sonho de um significante sem 5 o logos de: Irma, no qual, por meio da enunciacio de entido, rimetilami i ‘ ido, trimetilamina, ele diz que, no exato instante em que ‘smoronou de maneira traumatic: € amigos se mostr uma vor que lhe dizia ‘a, no instante em que todos seus colegas absolutame: r i ‘PSolutamente surdos a ele, havia, para além dele, allures, trimetilamina"? 110 Ao é saber por que Freud 1 a ‘A questio é No esta louco ao produri oluzir im significante nysato por meio do qual ele & levado u eres na existineia ncia de um sujeite do tio inse nseionte. O term €Fenea ihvecado inco Wu introduz imediatamente dois proble- pas correlates: deum lado, o da vizinhanga entre eiéncia e psicanalise: de oon sda viginhanga entre crenga delirante © nao delirante 7 ssa correlagio se deved foraclusio que a citncia ea psicose estabel I do inconseiente. A questio da erenga no inconarivm bordsd 9 sujeito aamente por Freud. Ele aaborda por intermedioda des giretamente P ’ médio da deserenga que, segundo cle, jstitutiva do diseurso parandico?, © que também o atinge, quando, fascinad Ae, quando, fascinado écon de que nao consegue acreditar no que ve { Aciopole, se cont pel Aesse respeite, talve pudésscmos dizer que, em ambos os casos, o eu, em saa estrutura de desconhecimento parandico em relagio ao inconsciente, ¢ae que diz: “Eu vejo, mas nao ereio nele “Crer nele”, formula que Lacan atribui ao amor nao narcisico, seria, assim a ato psiquico pelo qual 0 sujeito nao se desvia desse furo no saber, dese incog- noscivel que é 0 real do inconseiente; ao contrario, volta-se para ele, segundo um mos esse “sim” fundamental chamado por ato de ndo-deserenca em que baliz Freud de Bejahung. Lacan observa que Freud nao estava louco nesse instante de afirmacdo solitaria porque cle, aparentemente tao sozinho nesse instante inaugural, de fato nao estava 36; seu ato de fé em relacio ao inconsciente é de natureza tal, que ele consegue se liberar da deserenca de seus contemporaneos cse enderecara ouvintes que ainda nfo estavam ali, mas que poderiam vir a estar. Ef nessa capacidade de transferir para uma alteridade situada em uma extensio ainda néo existente, e junto da qual a singulari- dade de sua iniciativa em intensdo poderia transmitir-se, que situamos a eficacia de S(A): se hoje estamos em posigao de receber o significante trimetilamina e seguir 0 caminho de Freud, nao ser porque nos tornamos analistas, porque fomos levados a nos situar nesse lugar de transferéncia em que Freud, em seu sonho, convocava-nos dizendo, a cada um de nés, um por um, “tu és aquele que me seguiras?” Se é verdade que a eficacia significante dessa mensagem se deve ao fato de ela nao ter a estrutura de um comando supercgéico, ¢ sim de um mandamento simbéljéo que convoca o sujeito para dizer nf o que ele pensa desse significante, porém|como ele pensa depois de té-lo recebido, a pergunta a ser respondida, caso queiranios inovar quanto A questio da transmissibilidade da psicanilise ¢ esta: podemos compreender hoje, com a distancia que a histéria nos permite, a razio Ae pnw Andi de Ld- ry * Cartas a de 1° de jancirac 30 de-maiode 1896. | . L az 7 FoR UM Lucas INSISTENCA | Alain MidhaesAait mw 5 de SCA), foi posto na posicao de r ode responder «i f epgao nicos, mas nao na posi Ke 4 (pe, a0 de novos significahtes for \), pela qual o ji do passe, lugar der ; ‘os patron ponder pela prod novos patr ) de novos Six io de nificantes? esstl naio ela ssado, Formulemos, entao, uina primeira per- Uy pela producie Nao nos esquegamos de que vtinha fra aon : amy antinomicos? ‘io resposta significante do iri éa se Lolizagio ser adar conta dessa 1 ante S(X) implica o reconhecimento do paradoxo os de estrutura, no pode ser imediatamente gumta: nominagio ¢ sim Minha hipatese part sao do signifi guinte: a transmis: raze apresentado por este, que, Por transmissivel. Nesse sentido, ser Jo resposta sign! io a qualidade dos membros do jiiri q ante, mas sim a nao consideragio, no dispositivo, do paradoxo proprio a transmissibilidade desse significante, taria em causa em sta 0 O paradoxo ‘A fungiio de receptor da fala, devolvida a0 passador, introduz este paradoxo: como ouvinte, posso, perfeitamente, estar dividido por onvir (por exemplo, ao ouvir um chiste) a divisio daquele que fala, mas o futo de cu estar dividido pelo que ougo nao implica que a divisaio causada pelo que ouvi se torne a divisio por mcio da qual devo me fazer ouvir como sujeito falante: o passador, assim, ¢ aquele que deve ser um bom ouvidor dividido, sem que lhe seja exigido ser um passante, isto é, aquele que sustenta sua divisaio com um bem-dizer. A distingao entre passador e passante, assentada na diferenga estrutural entre bem-dizer e bem ouvir, introduz a seguinte questo: 0 passador, dividido por aquilo que ouviu, ainda nao sabe o que pensa in- conscientemente, pois 0 sujeito, no plano inconsciente, pode ouvir sem saber o que ouve. Dito de outro modo, ele nao sabe se, na condigio de sujeito do inconsciente, disse sim ou nao ao que ouviu. O passante, em vez disso, 6 suposto bem-dizer, pois o saber inconsciente que lhe foi passado pode ter migrado para seu dizer. O semi-dizeré umarelagio com a fala por meio da qual o falante é arrancado da inocéneia: enquanto 9 sujeito fala no desconhecimento, isto é, sem ouvir que sua fala provém do Outro © passante sabe que a fala sé Ihe pertence porque péde reconhecer que ele proprio pertence fala. Ele ja nao esta no desconhecimento egéico por ter ouvido que so ¢ falante porser falado de um lugar Outro, cuja transmissibilidade, quando se produz, traduz-se na produgio de um dizer barrado que faz ouvir o tom de verdade. ; Porat deviniremos a articulacdio de S(A) como o tempo de extracao da ualidade pela qual se opte, de um lado, um ouvinte que ouve a alteridade divisora a Cec dd : 112 : LACAN E A FORMACAO DO PSICANALISTA

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