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REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLOGICO, HISTORICO E GEOGRAFICO PERNAMBUCANO NUMEROS 29 E 30 REEDIGAO PAC-SIMIL. AR RECIFE - 1977 Publicac&o feita em convénio com o Departamento de Assuntos Culturais do Ministério da Educagio ¢ Cultura Senador Ney Braga, Ministro de Estado da Educacio e Cultura Prof. Manuel Diégues Junior, Diretor do Departamento de Asstintos Culturais do MRC NOTA EXPLICATIVA © plano de auxilio a insituigées brasileiras para a reali- saga do programas editoriais, de iniciativa do Governo Fe- deral, por intermédio do Ministério da Educagao e Cultura @ dirigido pelo Departamento de Assuntos Culsurais, 0 qual tem, pelo segundo ano consecutiv, incluido este ja cente- nério Instituto, dew condigdes a este de reiniciar a publica- #40 de sua também centendria "Revista" e outros trabalbos de seus sécior, como é 0 caso da biogratia de Oliveira Lima, de autoria de Fernando da Cruz Gouvéa. O Instituto renova aqui o seu reconbecimento ao Governo do eminente Pre: dene Ernesto Geisel, pela oportunidade que the dé de vulgar trabalbos bistoricos, que se incluem entre os de mais alto valor que esta a ser publicados por instituigdes congé- eres do pais. No programa editorial deste Instituto foi incluida a re- edigto de nimeros exgotados da sua "Revista", com 0 que pretende por ao aleance dos estudiosos artigos « documentos niérios hoje de acesso extremamente dificil, pela raridade de muitos ntimeros da "Revista", Inicia-se esse programa, que desejamos possa vir a abranger os volumes I a VIII (mime- 10s 1 a 49, de 1863 a 1896), com dois dos exemplares mais procurados da calepio, os mimeros 29 ¢ 30. Nao é esta a primeira vez que 0 Instituto reedita seu periédico, embora ‘ndo santo quanto seria de desejar; os mimeros 4 a 7, pi- blicados em 1864-65, foram reeditados em 1898. Mas ficou limitada a isto a iniciativa dos nossos antecessores. Do wimero 29 0 texto mais procurado & 0 dat "Revo- Ingées do Brasil” (pp. 5 4 106), em que autor anénimo, ainda néo identificado, oferece uma "Iddia geral de Pernam- buco em 1817", escrito com a intengao de fazer histéria, embora fortemente dominado por preconceitos. Infeliz« mente incompleto, 0 documento, de que restavans “apenas alguns cadernos", foi oferecido ao Instituto pelo prestimoso consécio Anténio Gomes de Miranda Leal (1831-95), até a morte Tesoureiro da associagzo, a que servin com dedicd- 640. Gnarda-se no arquivo uma parte (nao publicada ¢ néo telativa @ Pernambuco) do manuscrito das "Revolugées do Brasil”, em boa letra do primeira quartel do século XIX. O niimero 30 contém o magnifico relatbrio apresen- tado ao Instituto em sesso solene de 9 de maio de 1886, pelo ilustre consécio José Higino Duarte Pereira (1847- 1901), a respeito de suas pesquisas em arquivos bolandeses (1884-86). © trabalho por ele realizado faz honta ao nosto conterréneo, para o qual ostaua credenciado pelos seus co- nhecimentos histéricos e da lingua holandeca. Na verdade é ele 0 primeiro brasileiro a fazer pessoalmente pesquisa bis- torica naguoles arquivos, embora antes dele Joaquim: Caeta- no da Silva (1810-73) senba feito copiar em 1853-54 do- cumentagao dos Estados Gerais ali existente, de cujas cdpias $e servin Prancisco Adolfo de Varnhagen na oportunidade de uma visita sua a Holanda. A colegao entao reunida foi posteriormente doada ao Instituto Histbrico © Geogréfico Brasileiro, do Rio de Janeiro. Havia ali, porém, documenta- Fao mais rica, de interesse brasileiro, de cuja existéncia dera conbecimento, em 1874, Ramiz Galvao, Joss Higino tentow obser 0 apoio do Governo Imperial para o sex propésito de srabalbar naquela documentagio; 0 Ministro do Império de- clarow-lbe secamente que “o Governo Imperial nada tem com i810, pois esse negdcio 46 interessa @ Pernambuco", Per- sambuco teria que realizé-lo sozinko. Em 1884 0 Instituto Arqueoldgico soliciton ad Assemi- Ditia Provincial a dotagao de 7:000$ para a redlizagao da pesquisa. Obsida, partie José Higino para levé-la a efeito, com antorizagio prévia do Governo Imperial para lhe serem pagos os vencimentos de Professor da Faculdade de Direito. Mais tarde essa autorizapio foi revogada sob a alegacao de que 0 pesquisador, estando em comissio provincial, nzo po- deria perceber vencimentos pelos cofres do Império! For. gado a rogressar, José Higino mostra-se justamente indigna- do com o ato revogatirio do Ministro do Império, que era entio Ambrisio Leitéo da Cunha, Barto de Mamoré. Me- rece sor lido 0 notével relatério apresentedo pelo pesquise- dor a respeito dos seus trabathos, 0 qual faz bonra a sei autor, a este Instituto e & cultura pernambucana, JOSE ANTONIO GONSALVES DE MELLO Presidente REVISTA po INSTITUTO ARGHEOLOGICO B GEOGRAPHICO PERNAMBUCANO TOMO QUARTO 2 SEMESTRE DE 1883 WN. 2° RECIFE TYPOGRAPHIA INDUSTRIAL Rusdo Imperador nm, 14 1884 Oescripto inedito que datos agora é estampa, faz parte de uma obra manuscript intitulada Revoluezies do Brasil. Goza de tanto hem terta homdlila, Restam della apenas alguns cadernos que fo- Banas a srmner fen name re ram encontrados pelo nosso consorcio Commenda- ‘Tanto najsabundante em ti dor Antonio Gomes de Miranda Leal entre os pa- A Rei Dosa Costs corte to peis pertencentes a sua familia ¢ offerecidos ao Institute. REVOLUCGOES DO BRASIL PARTE 2 LIVRO 6 IDETA GERAL DE PERNAMBUCO EM 1817 SUMMARIO— 1 Deseripsto goografien de Pernambueo.—2* + Estado aniliter.—4* Repartigio judicintia.—- Ad~ atiea,—O" Agricultura, ¢ commercio.—7" Rendas publieas. as, Hospitnes.—9" Progressos das Seieneias. =I0 Progressos la Religie, CAPITULO T DESCRIPSAO GEOGRAFICA DE PERNAMBUCO limites; 3.° limites actuaes: 4.‘ materia. divisio occidental: 6.° limites om « Parahiba 82 aspeeto do Pa Fortilidade, 1, ACapitania de Pernambnco era composta em 1817 de tres diferentes capitanias, que, no seu prin- cipio, tinhdo pertencido a diversos Donatarios : taes ero 1. Pernambuco ; 2.4 Ttamaracé ; 3.8 Rio Gran- de do Norte ; a sua descripsio, por conseguinte, he difficil de fazer-so ; e muito mais de comprehender- se pelas duns rasdes seguintes. ‘A primeira ; porque a Capitaninda Parahiba 6 REVISTA Do INST. ARCH. EF GHOGR. PERN. Ihe fica encravada_nhum lado, e confinando pelo Norte, Sul, e Occidente : a Segunda ; porque o tor- tuoso curso do Rio de 8, Francisco ao Sul, Ihe di ‘bum aspecto complicado. Entretanto, consignaremos aqui as ideias, que nos subministrio o infalivel Pimentel, algumas car- tas recéntes, e singularmente, o modernissimo Poir- son na sua Carta Geografica de 1815. 2, Era portanto Pernambuco, antes da invasio Holandeza, huma vasta Provincia, ou Cpitania, cuja extensio, sem limites fixos no centro, se pro- Jevtava ao longo da Césta desde a ponta; on lado austral da Ilha de Itamaracé, ate a {6s do Rio de 8. Francisco, Extendia-se por conseguinte desde o gro 7.” @ 45’ de Latitude austral ate 0 10° 57’; entre-to- cando naquelles dois pontos 0 348°.40' 20 Norte, eo 341°.51' ao Sul da Longitude da Tha do Ferro. Depois, que og Holandezes fortio expulsos, fica- r8o-The sempre encorporadas Itamaraci. Rio Gran- de do Norte, ¢ Cearé, « qual foi creada indepen- dente em 1800, on proximoa esta épocha. 8. Neste estado se conservava em 1817: subin- do por consequencta desde o 7°.45' lat. ¢ 348°.40' de Longit. até hum poneo acima do Porto dos Fran- cezes—parando no lugar, em que 0 rio —Ipipoca— Berdendo-se no lago—Abiai—sahe com este nome ‘do mar,no 7°.10' de Latit. e 848°.36’ de Longit. N'este ponto comega na costaa Capitania da Parahiba, vai subindo até o 6.° de Latit., e 348°.12' -y lugar, aonde 0 Rio—Joriuna—entra w’o He n'aquelle'‘ponto, que principi ini ° le'ponto, pia a capitinia do—Rio Grande do Norte, ¢ vae correndd pela costa ate encontrar’ 0 rio—Mossord— oi REVISTA DO INST. ARCH. # GKOGR, PERN. 7 4°10! de latitude, e 344°.50' de Longitude, no quat ponto fenéce. 4, Da parte doSul segue aCapitania de Per- nambuco a margem esquerda do Rio—de 8. Fran- cisco,—buscando nhuma curva irregular 0 14.°40/ de latitude, ¢ 338°.45', Imgar, em que o Rio—Cari- nhenha--entra no—S. Francisco. D'aquelle lugar, dirigindo-se ao Occidente, se- gue a margem esqnerda do—Carinhenha,—e vae confinando com Minas Geraes até encontrar 0 337. de Longitude. Devemos aqui notar, que o Bispado de Per- nambuco se extende ate quasi ao 16.° de Latitude ; pois que tem jurisdicgio sobre a villa, ¢ termo de— Paracahé, como diremos no Mappa Politico. Eccle- siastico do Ayppendiz a este livro, 5# Taquelle ponto ou 1.40 de latit., @ 337.° de longitude huma recta comprida a Y, tirada no rumo de Nor. nordeste, a divide da Capitania de—Goiazes : ate 11°." de latitude 340,° de Longi- tnde aonde principia’a Capitania do Piauhi. mesma rerta,continuando na mesma direcgo por mais tres gritos, e logo mais dois grios no rame do Norte 4." de Nordeste divide P buco do Piauhi ate encontrar: 0 7, 20-de lati, 342.14" de Longitude, ‘Neste ponto se for ra © primeiro angulo da Cx pitania do Ceara, cujo lado occidental, quasi con~ fundido com o Meridiano, a divide do Piaubi ate encontrarem © Oceano. 6 Desile aquelle ponto 7.20" de Latit. 842°, de Longit, a mesma recta voltando a Leste paralel- Ja ao Equador, e dividindo Pernambuco do Ceara, toca 043 45° Lengit.. ¢ forma o 2. angule do Cea- 8 REVISTA DO INST, AReIL, KGEOGR. Pr ri; o qual e tio bem vertice da triangular capita nia do RioGrande, anexa ade Pernambuco. Daquelle Ingar correndo para Leste na mesma direcgio vae a veeta dividindo do de Pernambuco o territorio do Rio Grande até 0 7°.20' de Latit, 344,°15 Longit. aonde no interior he o angulo Septentrio- nal da Parahiba, Deste ponto buscando Sueste, vem arecta buscar 08.° de Latit. 345°.46' de Longit., e nelle forma oan- galo austral da mesma Parahiba ; e Jogo diviginds- sea Leste, divide esta de Pernambuco até o mar na latitude assignada no principio. 7. De todas estas confrontayses segue-se talvis, que Pernambuco com as suas annexas pode consi- derar-se na sua superficie como hum grande Poligo- no irregular, parecido talvis com a carta, que. por curiusidade tragaremos em seo lugar. .Entretanto, parece certo, que a sua superiicie pode muito bem avaliarse em LOS legoas qua- dradas, segundo a medida do gréo Portugnés, No capitulo seguinte povoaremos este vasto territorio com quasi 600$ almas, tocando por con- seguinte 60 almas a cada Jegoa quadrada! o que em bom portugues, pouca differenga Ihe dé de hum ameno deserto. 8. Toda esta vasta superficie vae alternada de grandes planices, e altos monies; os .quaes é -guendo-se bem como em amphiteatro do Oriente para o Occidente fazem, o terreno desigual, mas Sempre vistoso até encontrar a grande cordilheira da—Borburema,—de quem he ramo a—Ibiapaba~ Serra, que em quasi toda aextensio forma os Li- mites Occidentaes de Pernambuzo. ‘Dos flancos de tantos montes sghem rios innu- meraveis; osquaes, serpenhando em mil volias, REVISTA DO INST. ARCIL. E GKOGR, PERN. 9 regio todo o pais, perdem-se huns nos outros, dos quaes formio-se buns settentas, inclusos os da Pa- ahiba, que sob differentes denominagées, vo sa- hiv ao Oceano na Costa Oriental, formando portos accomodados para embarcagies menores. Entre todos, porem, sio mais formosos 1.° 0 Rio Grande do Norte. 2.° o Rio Parahiba: 3.° 0 Rio Capibaribe: 4.° 0 Rio 8, Francisco: os tres primeiros dio entrada nas suas barras a grandes embarcagées. 9, As campinas matizadas de eternas flores ; 08 monteg coroados de bosyues sempre vigosos : ds bos ques cheios de arvores fructiferas, filhas da pura na- tureza, entve as qnaes a fresea Mangaba, a preciosa Jabuticaba, o medicinal Cajé, e todas realsadas com aetemna Sicopira, a corpulenta Sapucaia, a misterio- sa Gameleira, o rico, ¢ real Brasiléte. A innumeravel variedade de Palmeiras ;"en- tre as quaes 0 providente Coqueiro; e a celebre Carnauba, prestando-se a todos os uzos, ¢ ali- mento dos homens, e animaes ; produsindo a cera vegetal, e crescendo espontaneamente em compri- das, ® sirfietricas allamédas ete., 0 todo habitado por infinitas, e velhas especes de animaes do Paiz, e pelas novas especes, que os Europeos transplan- tardo. ‘Pado isto, dizemos, juncto com a salubridade oclima, merecério, que Pernambuco, ainda no tempo dos Hollandezes, fosse chamado anthono- masticamente 0 Paraiso do—Brasil e Auctor Portu- gués houve, que, tragando a sua Historia, o intitu- Tou — Nova Lusitania ! 10, Aqui devemos acrescentar duas singulares raridades, que muito honrdo clima, e solo Per- nambueano. A primeira hea liberalidade, com que 10 REVISTA DO" INSEN. ARCH. GEuuR. PERN. as arvores frutiferas, transplantadas da Europa, produzem duas veres no anno, scilicet em Junho, ¢ em Dezembro. ‘Taes so, entre outras, as Laranjeiras, Limeiras, Limoeiros, Romanzeiras ; e muite especialmente as Parreinas. E por ventura, as arvores do Pais nao farido outro tanto se fossem cuidadosamente, cultivadas? pergunta bem interessante, e bem facil de ser 1 pondida por huma experiencia constante, hem iri- gida, e illaminada. 1d. A segunda raridade he a grande facilidade, com que as plantas da Azia se acclimatizio cin Per nambuco! em 1816 ja erio commu’as, e prodziio vigorozamente a Arvore do Pao o Jitolleiro, a No- gueira, a Muscadeim, e ontins, vindas de Cacna em 1811. -Ja de tempos antigos erao vulgares a Jaca, a Manga, o Céquo, a Canna de Assucar, e outros ve- getaes, vindos directamente da Azia, ou transpor: tados a Lisboa, e Iihas, e @ellas a Pernambuco. No Capitulo—Agricultnra— nos lembraremos da—Arvore do dinheito—on Algodio-por agora visitaremos os Anjinhos, que habitdo e povoio este Paraiso, CAPITULO 2 POPULAGAO DE PERNAMBUCO RE: Pao + Infidelidade das Listas da Secreta. 2 eauzas da infidelidade : 8.- plano adoptavel: 1,: distribuicko do povo: 5. numero dns commarea: Olinda : Pernambuco: &° Alagous : 9° Pajeit: 10: Riv Grande: 11. Gér da Populacio 1. Seo Mappa ou Lista dos Individuos, seo sexo, cér, idade, e condigéo; mappas, que os Go- vernadores pedem todos os annos, e recebem dos respectivos capitaes Mores, e Parochos das Fregue- zias, e com elles respondem 4 Principal Secretaria do Estado. Et Se taes Listas, disemos, fossem fieis, e exactas, bem pouco entéo nos custaria arranjar a Arithme- tien Politica da Capitania, e mesmo de todo o Bis- pado de Pernambuco ; pois que temos sob a vista hum Mappa, construido modernamente sobre as mesmas Listas. 7 Devemos porem confessar, que ellas sao muito infieis ; e continuardo a sel-o em quanto no se ati- nar com alguns sistema, que possa operar sem de- 12) REVISTA bo INSY. arcu. B GxoGR, 14 RN. pendencia das tres rasdes seguintes, nas quaes, he Provavel, que resida toda a rais do mal. 2. Hea primeira rasio, segundo nos parece, 0 horror muito desculpavel, com que Pernambuco, assim como todas as demais provincias dn Monar’ chia Portugueza, olla para a protissio e servisso militar ; donde nasce, que todos os Paes de familia eseondio gm qnanto Ihes he possivel o numero de os : daqui outre i ate qui outras muitas e funestas conse- segunda rusio, parésenos, - cura na avareza dos Paroelow: os/aacs, eigen ceio de lhes serem divididas as suas respectivas Fre- guezias, e eerceados por consequencia os seus tem. poraes emolumentos, diminuem quanto podem o numero das suas ovelhas. A terceita, he co-irman da segunda, estreitamente ligada; evem aser a ambigio fa Capitaes Mores os quaes ficio sempre assuste. dos quando se falla na creagio de alguma nova ‘Villa, que venha arrancar-lhe alga pedago do seo Pequeno, porem saboroso imperio, 8. Os nossos dados nos auctorisio a julgar que de quantas Listas particulares entriéo na Secretaria do Governo, apenas se acharé huma que néio fosse Sntnida por alguma das tres sobreditas rasoes, fe por esta causa, que do ja ci cx aa do apf ad, cidades, villas, e Froguezias, assim agora, como guando no Appendix Ievantarmos o Mappa Politi, er do monstruoso Bispado de Per- Quanto a avaliagiio dos Fégos, e individuos, seguitemos as nossas proprias observagées, © expe rienelas a8 quaesse conformio em geral com a opi. REVISTA DO INST. ARCH. EGEOGR. PERS. 13 nido publi: ¢ muito especialmente com 0 voto de duas respeitaveis testemunhas : as quaes com exame, conhierimento Aa eausa povoavio 0 Bis- pado com quasi hum milhio, ea Capitania de Per. nambey com perto de 6003 almas, 4. Todas estas almas juam desseminadas so- bre lina superticie de mais de dés mil legoas qua- deste dradas, com dissemnos no Capituly primeir Livro: nellas habitando duas Cidades : mu Tas, Alias, © cases j aonde recouhecem a Jur divgio Militar do Governador, e Capitio General de Pernambuco Na Repartig » purém dit dustissa obedecem a Sinco Magistrados; os yuaes com o Titulo de Onvidor e Corregedores ducilem todas as Lides, ¢ contesta- gbes dos seus Subditos ivas Com- mareas. Nis teremos iGo opportuna para vi- sitarmos esta gravissima Administragdo, ¢ entéo exporemos 08 sentimentus, ¢ respeitos do publico Pernambacano. 5. So, portanto, Sinco as Commareas, em que a populagio de Pernambuco esta judiciariamente re- partida, ou applicada: entre ellas as de Olinda, Pernambuco, Alagéas, e Pajati sio inteiras: isto he,reconhecem exclusivamente a auctoridade do Go- verno de Pernambuco. Aquinta porém qne he o Rio Grande do Norte, fazia parte da Commarea da Parahiba.e obedecia 20 Corregedor @aqnelle Titulo; porem, como veremos em seo logy, fé2-se commarca independente em 1818. ‘De todas ellas resumiremos aqui, ou declarare- mos o numero de Cidades, Villas, Freguezias, e po- pulagio total, reservando para o promettido Appen- dis as particularidades minuciosas. 14 REVISTA Do INST, AROU. E GkOGR. PERN, 6 Comegando pois de Olinda, como Cidade Episcopal, aantiga Capital do Governo ; ora porem a mais moca das Commaroas por haver sido fatal. mente creada em 1816 ; e por sigual que eahio a pon. te do Recife no dia em que o novo e primeira Mi nistro, ou Corregedor tomava posse. Comecando de Olinda, achamos huma com. marca compusta de huma cidade do mesmo nome, om que hio duas Freguezias ; Sinco villas, ¢ ite Freguezias ; tudo povoado com 1178 mil almas com 198 mil fogos. As villas sio 1.° Alhandra: 2. Guaianna: 3.9 Iguarassi: 4." Limoeiro : 6.8 Péo do Alho. As Freguezias sio 1." Ataqudra: 2.9 Boavista : 3.9 tamaracd: 4.8 Itambé: 6.8 S. Lourengo da Matta : 6.8 Marangoape : 7,¢ Taraconheim: 8 Te. jucopapo. 7. A segunda Commarea he ade Pernambuco ; a qual em 1645, tempo, on data da sua Creagao, abrangin toda a eapitania ; porem desde a creacto 4a Commarea de Olinda fieou unicamente com qua, tro villas, e dés Freguezias, So as Villas 1.8 Reciffe, comprehendendo to bem 0 bairro de §.te Antonio, on ontra bandas enella duas grandes Freguesias: 9.4 Cabo: 3.0 §° Anite ag Mali 4.4 Serinhaem, . uezias so 1.0 Agon préta ; 2.0 Barrel. tos: 8.8 Bom Jardim: 4 Becadas Bt @ eae de Jaboatio : 6.4 Tpojuea ; 7.8 Liis: 8.0 Moribeca 9.8 Vargem : 108 Una. ; © Povo, que habita esta Commarsa pode ava- Har-se em 1408 mil indivi i wanseom 140§ mi individue, repartidos por 258 8. A tercoira Commarea he a das Alagoas,ao Sul das das precedentes, e ereada em 1710, constan REVISTA Do INST. ARCH, & GEOR, PERN. 15 do de sette Villas, e onze Freguezias, e habitada por quasi cento, e trinta mil almas em 238 mil fogos. ‘As villas silo 1.8 Alagoas : 2. Anadia:3.8 Ata. Inia: 4.4 Massoié ; 6." Penedo: 6.8 Porto Calvo: 7.8 Porto de Pedras. As Freguezias sio 1. Agoas Bellas: 2.8 Allagoa 33.88, Antonio Merim : 4.2 Camaragibe: 6.8 Palmeira : 7.5 8. Bento de Por to Calvo: 8% Porto da Folha: 9,4 Porto Real 10. Rio de $. Miguel : 11.8 Taqueritinga. 9. A quarta Commarea he a do Certio, no Pa- , a0 Occidente das tres precedentes, e creada em 1809, © composta dos termos de Cimbres, Gara- nhuns, Tacarati e Cabrobé, que Ihe cedeo a Com- marea de Pernambuco ; @ todo o territorio, que na margem esquerda do Rio de—S. Francisco--pos- suia a Commarea de Jacobina, Constava por conseguinte de seis villas, sul 1.® Assumpsio: 2.0 Barra: 8.4 Cimbres: 4.2 Flo res : 5.* Piléo Arcédo : 6.4 Villa Real. Constava mais de onze Freguezias, que sao 4.8 Bezertos : 2.4 Brejo da Madre de Deos : 3.8 Bui- que: 4.0 Buique : 6.8 Cabrobé: 6.4 Enxit. 7.8 Ga- ranhuns: 8" Rio das Egons: 9.« Rio Préto: 102 ‘Tacaratit: 11 Fazenda Grande. © povo, de que se companha, podia ser avalia- do em quasi 1008 mil almas, repartidas por 16: fogos. ; 10. O Rio Grande do Norte, neste anno Com- marca, mas fazendo, até entio parte da Commarea da Parahiba, constava de huma pequena Cidade, que he a do Natal dos Reis, Sette villas, e mais tres Freguezias. Sio as Villas 1.4 Arés: 2.0 Assit: 3.8 Cahieé ; 4.9 Estremés: 6.8 Mipibii: 6.9 Porto Alegre: 16 REVISEA DU INST. ARCH. GEOGR. PERN, 79 Villa Flor, as Fregnesias sio 1s Apodi: 3 Golaninhas 3. Pao das tea Peas A sua populagto podia subir a oitenta ¢ since mil almas, repartidas por 148 fogos. Ajunctando agora as Addigies a saber. 1a Olinda. 108 —Almas 1178 1408 1308 Loos 858 srsee Bogos.. 958 Alm, 5728 Porom veja seo Mappa do Appendix. 11, Resta por fim advertir-mos, que toda.a so- bredita populagio he cérada, e provavelmente nas proporgées seguintes 1.° Negros captivo: 8 2.° Negros Livres. . so 3° Mulatos. 1608 4.° Indios. Hed 5.2 Brancos. * 508 Relativamente a estas proporgd eve a lembrar quanto dissemos ‘nos Livics 1° oe as mesclas Pernambucanas ; e agora acorescentare- mos hum—Dicto—celebre do Ex.mo Bis) a Dioceze. Seil. PPTL ieee eee de Olinda mostra evidentemen- ena odas as capitanias do Brasil, a de Per- aco he a mais pobre de sangue branco ! ! CAPITULO 3 ESTADO MILITAR DE PERNAMBUCO ReSUMMO dos militares : 2. Seos Ajudantes: 4." Inspec- Tntondente, ¢ Brigndeiros : imentas: 7° Dites Provineianos : ras do Rio Grande : 9." Resultado : 1. As Forgas militares de Pernambuco estavao imteitamente organisadas & Portugueza ; pois que Consistiao em tropa de linha, millicias e ordenan- gas; das quaes as primeinas, € segundas ero cor- wrandadas por Coroneis; as ultimas por Capities Mores. ‘Todas estas Forgas evo ditigidas, e presididas por lum Lusidissimo Estado Mator, constando de ral, aquem se seguito immedia- ham Capitio Gener tamente hum Marechal ; hum Brigadeiro effectivo 5 quatro dittes geaduados ; hum ehefe de Divisko Fara 2 marimba; todes com subalternos com: petentes. De todos vamos dar algumas noticias por duas rasoens prineipaes : 1.* para divertirmos 0 Leitor tom verdades instructivas se bem qne muito amar: 18 REVISTA Do INST. AROI. E GEOGK. PERN, gosas:2.° para qué estas figuras niio fagiio no Li- yro seguinte huma apparigdo repentina, a qual pos- sa por consequencia precipitar 0 juizo, e prevenir © entendimento. 2. Ja dissemos muitas vezes, que era Capitio General de Pernambuco Caetano Pinto de Miranda Montnegro, velho sexagenario, mas cheio de pre- sumpsées, ¢ travessuras de apis: devemos acres centar, que com bastante erudigio, cultura, ¢ ame- nidade de Genio, e outros servigos, on talentos, que se ignérdo, mereceo, que o Ministro—Balse- mfo—de quem se dizia parente, o fizesse saltar da toga para a espada ; pasando de Intendente do oiro no Rio de Janeiro para o Generalato de Mutto Grosso. D'aquella Capitania passon para a de Pernam- buco com igual Patente, ¢ chegou em 1804; a onde foi recebido com entusiasmo universal ; pois que sette annosae interregno,ou—intermnismo—tinhio enjoado os Pernambneanos ; voja-se o que dissemos no Livro 4. cap. 7. Foi roconduzido no-mesmo Lugar por hum se- gundo ‘Triennio, talves pela. grossa cullécta, que, rodeado de toda a sua corte, andou mendicando em 1806 pela Capitania, e remetteo a Metropole em cir- cunstancias dos seos apertos ; mas; com certeza, a sua reconducgtio foi requeridaa 8. A. R., por huma Lisongeira Deputagdo, que as Camaras de Pernam- ‘buco depntardo, n'aguella epocha, 20 Soberano, ¢ da qual era chefe Joio Chrisostomo Ronquinha. _ 0 Resto do seo infortunado Governo foi pre- mio do magnifico Presente, com que, 4 custa alheia, refrescou em Jaueio de 1808 a Famillia Real na sua Passagem para a Bahia; pode ser, que fosse tdobem premio da giria, com que ar- REVISTA DO INST. ARCH, FB GEOGR. PERN. 19 rancou das ferreas ios do Conego Joaquim Mas- ques a offerta de 40:000§ com que augmentou os cofres da Real Fazenda ; veja-se o fim do Capi- tnlo 1° do Liv. 5. Coroon todos os seos meritos com os arbitros, qué propés, ¢ liberalidade com que votou na derrama. dos 14 milhdes de novos impostos no Brasil, quan- do para esta grande objecto foi chamado ao Rio de Janeiro: donde voltou em 1809 para Pernambuco, formado em Conselheiro da Fazenda com 2:000§ rs. addicionados ao soldo de General; tio cheio, po- rem, de si mesmo, que se julgava collado no Be- neficio de General de Pernambuco, e com alta ca- pacidade para nao precizar de concelhos. 3. Tinha este General nem menos de quatro Ajudantes de Ordens! Era o primeiro Joze Péres Campélo, Coronel. Brigadeiro gradundo, e gover- nador, on Commandante perpetio da Fortaleza do Bram, em premio de duas Embaixadas, a 8. A. R., como Delegado de Caetano Pinto. Passiiva Joze Péres a sua mocidade com a re- putagio de um Cabo de rondas : « parte da sua ve- Ihice em relachasio de costumes, e principios : era porem bora Pae dos eos filhos legitimos ; e amigo muito officioso dos Governadores. Era segundo Ajudante, Luis Elis, Zambujeiro Ingles, que o Governador levara para Matto Gros- x0, © trouxera, ja casado, para Pernambuco ; ¢ ja transformado em boa Oliveira Portugueza ; pois que vivia quasi sempre retirado, ealheio de quanto nio era sua casa, sua molher, e famillia. © terceiro Ajudante era Alexandre Thoméds, intrepido Sargento Mor, e velo celibatario com molheer, e filhos ; nada mais acrescentaremos a0 que disse 0 capitulo 10° do Liv. 5, se niio, que o-maté- QU REVISTA DO INST, ARCH, F HOGR. PERN. rio na Jornada de 6 de, Margo, evmo veremos no Liv. seguinte. O Qnarto Ajudants era Caetano Pinto, filho natural do Governador, ja porem, legitimado, ¢ manceho de grandes esperangas, ¢ hem quisto no publico Nio deve fiear no esquecimento Joz Mefrink, engeitado de Minnas, mas eretario do Governador: e tanto, que se dizia em Pernambuco que forae unico homem, a quem o Governador fizéra felis nv seo Governo, por havel-lo easndo com hum rica, nobre, e virtuosa senlor filha do opulento, e honrado Joao Antonio Gomes : nos yeremos, quo perfidamente atraigda este am- phibio & sea posto, 0 seo amigo, ¢ bemfeitor, eo seo soberano: ea felicidade com que foje ao mere- vido castigo. 4. Era Marechal, com exercicio de Inspector dos Milicianos Joze Roberto Pereira da Silva, Mi- litar Sexagenario, envelhecido nas Guarnigdes ; ho- mem franco, Leal, bom Pae, bom Esposo, escravo de sua palavra, officioso em excesso, de muitos an- nos dedicado a servir os seas amigos; homem em fim, em quem, exceptos os militares, se achavao todas as virtudes, ainda que borrifadas com grande dése de Cynismo : mas 0 public Ihe perdoava, e 0 applandia. Seguia-se a este na representagio militar o Brigadeiro Gonsalo Marinho, com exercicio ite Ins- pector da Infantaria de Linha, eda Artilharia, pro- movido a estes posts pelos seos servissos no Ru sillon: era homem cortés, tacitumno, com visos de probidade, prudencia, e caracter militar. 5, Candido Joze de Siqueira era o mencionado chefe de Divisio, ow Esquadra. com exercicio de Qken. BGHOGR, PERN. 21 REVINTA DO LNs [ntendente sta Marinha, © negocio dio PéopBrasil : ianoram sits rasdes, por que, antes da revolnglo, era dit + -Peeulatu mas depois Wella, foi tra ante denegride pelos auctores da yevoltiz isto Ihe valha por ahéno, @ ellogio. Us outros Brigadeitos, que falt&e, erio 1” F. Lrieadeine geaduado, com exercicio de Rowimoento de Infantaria do Recife, de jo provas na campanha do Ruis etados com . qne Salam, Coronel do Re quem se conti : " Millon : eeujos talentos militares erdo ta ws seus ineverimnentas pessoves vespeite ignl Srflo grandes. : ; 2 Manoel Joaquim, com exereicio de Coronel to Regimenta de Aruilharia, que & eampanha do to Regime wo, ins. Ruissillon ajunctava o servisso de ter traide, ¢ disciplinady o mesmo Regimento : e hum Tramdle funto de probidule civil: mas terrivel- y es officiaes, « soldados pela sua mente oilinso tus ses a extrema geveridade : nis 0 veremos ser a primeirt vietima da revolugio. ; vine José Vieente Calassa, Coronel de Milicias reformado ; de quem sé podemos dizer, que era ¢ cessivamente—bom homent-e como tal muito ama do. w visitade do Governadoy Cuetane Pinto, G. Taes endo, ¢ tantos. e tio cheios de propria sufficienci ravs,agnem oedecisic dois Re- imentos de Linlia, « sette de Vilicianes de todas tudos de sttarnigao, ow morada em Per- * estas immediagdes : exo os Regimentos os Gener as ¢dres nambui os seguintes. ; ; ; t Regimento de Lofantaria do Recitfe : com yar pracas : por ter hum estacamente de 200 desde a conquista da Caenna quasi? homens uo Pari, em 1808, 2 Regimeuto de Artitharia de Olinda : com 2? REVISTA DO DNST. ARCH. If GEOUR, PERN, quasi 600 pragas, pela mesma rasdo de ter no Pari 200 em destacamenito. N. B. Estes dois regimentos fordo conservados com o nome—de Tercos—desde a expulsiio dos Hollandezes ; mus sé forio fardados, e chamados Regimentos en) 1737, sendo Governador Henrique Luis. 3.° Regimento de Auxiliares da Cavallaria, chamado de—Joze Vas Salgudo—por haver sido o seo primeiro Coronel: foi creagio do sobredito Go- vernador. 4.° 1° Regimento de negrus auxiliares, cha- mado—Tercgs Velho—com 100) pragas destacadas no Par&: este Regimento, sob a segunda denomi- nacio, e com a Antonomasia de--Henriques—em honra do seo primitivo chefe, foi conservade desde o tempo da expulsiio Hollandeza. 5.° 1.° Regimento de Brancos Auxiliares, cha- mados—-Nobres—crendos em 1766 pelo Governador Conde de Villa Flor. 6.° 1.° Regimento de Mulatos auxiliares, di mesma creagdo do antecedente, e cum hum desti- camento de 100 homens no Pari. 7.° 2.° Regimento de Brancos .\uxiliares, cha- mados de—Joze Iguaciu Alves Ferreira,—seo L. Coronel. 8.° 2.° Regimentu de Mulatus auniliares, eha- mados de—Luis Nogueira—com [oo destaeados no Para. 9.° 2.° Regimente de negros auxiliares, ehiame- dos o—Terpo Novo—com 100 lomens destacados no Para, N. B, Estes tres Regimentos foriio creados pelo Gavernador Joze Cezar de Menezes em 774 para REVISTA DO INST, ARCH. BE GKOGR. PERN, 28 serem enviados para a Guerra de Sancta Catharina : veja-se o Appendix Chronologico da 1.4 Parte. 7. Alem @estes supra mencionados, haviaio pe- las Villas, ¢ lugares da Capitania varios outros Re- gimentos ce Milicianos, ¢ todos de cavallaria : néo temos noticia de todes ; mas subemos, que existlao os numerados na Lista seguinte. LIsTA ENT DE MILICIANOS NA PROVINCIA Guaianua, - Iguarassii » Flores . Cymbres. ia creacio de ‘los pelo Con- . de. N. B. Os quatros primeiros s Henrique Luis : os ultimos foro cr de de Villa Flor, 8, Resta-nos acerescentar a avalingdio das for- gas do Rio Grande do Norte, como parte da capi- tania de Pernambuco: constat segninte. 1.0 Em dnas Companhias de Infantaria, que em tempos mais remotos costumavio ser destaca das da guarnigao de Pernambuco; ort porem fa- vendo corpo a parte, e recrutundo-se na mesma Provincia; constio de duas companlias. quando completas, de 244 pracas 0 ellas do modo REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN. 25 2,0 Regimento de Milicias a cavallo—| de—Natal 30 De. wo do.. Assi 4.0 D0. do. Seriaé 59 D.e. : Portalegre 0. Sommadas todas as forgas, ou todos estes Re gimentos na sua forga actual, oa effectiva, na epo- cha, a que nos vamos referindo, talves, que as duas pragas possiio completar o numero de 8$000 ho- mens com a alcunha de soldados ! "Tal foi, e t2o miseravel o estado, a que fervida soldadesea Pernambucana se vio por fim redusida, pelo desmazélo de um governo interino de sette an- nos; e desmazelada politica do Dezembargudor-Ge- neral Caetano Pinto ! Dice-se deste ultimo, que por tres rasdes prin- cipaes no tinha zélo das tropas: a 1.* por nfo ha- ver sido Militar ; 2.° para nao perder a popularida- de, que julgava haver grangeado por nao recratar gente forgada e involuntaria ; 38 mais provavel, para bem desempenhar a sua nova formatura de— Conselheiro da Fazenda,—doendo-Ihe no coragio, ver a Fazenda Real tio mal empregada, ou dispen- dida com soldos militares. 'N. B. Restéo as Pragas Fortes; e ei-las aqui no Appendix. 10, Appendix de todas as Fortalezas, Raduo- tos, e Batarias de Pernambuco desde a 6s do Rio Grande do Norte até Itamaraed, exceptuando as da capitania da Purahiba ; mas incluidas as de Fer- nando. 1s Rro @Ranve. La Defende a sua Barra hum Quadrado regu- lar com dois baluartes ; 0 todo guarnecido com 13 26 REVISTA DO INST. ARCH, H GEOGI, PERN. s do Bronze, o para manobral-as lnm Tenente com 14 artilheiros. Qe Tramaraca’ 2.0 A ponta anstral dest Tiha era noutro tem- po fortiticada com wm grande Quadrado, e grossa artilharia, e um respeitavel destacamento tirado dos regimentos de Pernambuco ; hoje porem, que & Barra ficou cega, foi abandonada a Fortaleza, existindo apenas alguns Iangos das suas arruinadas Snuralhas; temos por provavel, que Pedro Tenorio, Vigario da Iha, Vice-Secretario do Governo Revo- Juceionario, e enforcado por isso em Pernambuco, fes reparar ns ruinas da Fortaleza, e guarnecel-las de artilharia ; mas ainda iguoramos o merecimento dos reparos. 3 PAO AMARELM 3. Esta Praia, ou dezerto, por haver sido o lu. gar em que dezembaroirio os Hollandezes, ¢ of- ferecer htun commodo dezembarque de semelhante natrreza ; esta praia, dizemos, foi mandada fortifi- car com am grande Quadvado, ¢ nella dois Balnar- tes: guarnecidos com 3 pecas de bronze, « 24 de ferro :1 ‘Tenente, e 14 pragas, destacados de Per- nambueo fazem a sua diaria guamnigio. 408, Francisco, 4.0 He hum pequeno Fortim, construido na Praia de Olinda, cnja for,,: consiste em duns pegas de bronze, lum Sargento vondestavel, ¢ 2 Solda- dos para o gnardarem. REVISTA DO INST. ARGH. B GROG IRN. 27 Fw8, Stace bo Buraco. 5. No istmo dearen, que une Olinda com o Re- ciffe, o bem defronte da Barra vellia se acha cons- truida esta velhin Fortaleza, a qual he hum Quadra- do com quatro meios baluartes, com 3 pegas de bronze, e 19 de ferro :a sua guarnigio consta de hum Commandante ; 1 Tenente, e 14 prayas. Ge Brew 6.» Hum pouco ao Sul da precedente, ¢ no mes- moistmo de aréa, bem defronte da Barra grande esta esta Fortaleza ;a qual he hum grande Quadrado, constando de huma longa cortina para o mar, com dois baluartes, e hum fosso para o Rio Bibiribe 5 @ nella montadas 39 pecas de bronze, e 14 de ferro, tudo de grosso calibre: hum Coronel commandan- te, hum Capitdo, e 15 pragas fazem a sua guarnigao ordinaria. 7a pioko 7. Defronte da precedente para Leste, e so- pranceira a Barra deste nome chamada alids, Barra pequena, esté construida esta pequena, mas suf- ficiente Fortaleza de uma forma redonda, ¢ nella montadas 7 pegas de bonze, e guarnecida por 1 ‘Tenente, e tres Soldados. 84 BOM. JESUS 8.0 He este hum pequeno Quadrado, construido no Arco do Bom Jesus, Porta por onde entra para 0 Recife quem vem de Olinda pelvisthmo dearéa, so- re que ficio as Fortalezas do--Brum,--e Buraco : 28 REVISTA DO INST, ARCH. 1 GHOGR. PERN. a sua forea consta de 12 pegas de bronse ; bum Sar- onto, 06 axtilleitos, sem Ialar no corpo da gua Ga, que alli so achava estabelecido de tempos anti- qriseimos, como uma das prineipaes portas da Pra- ca do Reciffe. Qa sINCO VONTAS 9,0 Bem de fronte da Barreta, e dominando o atterto, ou estrada, que dos Affogados para a an- tiga Cidade Mauricéa, hoje em dia, 8. Antonio, ou —Ontra banda--se achava antigamente esta Forta- ea, que tinha a forma de hum Pentagono, a que © povo chamava sinco pontas: os Holiandezes a melhorariio, dando-lhe a forma, @ regularidade, que hoje tem, de um Quadrado, com quatro baluar- tes, enérada cuberta, © rodeada com hum f6ss0 Dro- fundo; nella se achavo montadas 14 pegas de bron- se em bom estado e 10 de ferro muito maltractadas : ‘a sua guarnigio ordinaria era hum Capitdo com- mandante, ¢ 15 pragas. 10* GaiBu’ 10.4 Em distancia de 6 legoag, ao Sul do Re- ciffe, e 1. a0 Norte do Cabo de 8, Agostinho se acha construido este velo reducto, o qual consta de duns batarias, e nelles montadas quatro ferragen- tas pegas de ferro; ignoramos, se mora nella al- gum soldado. 11s NaSARETH 11 Sette Legoas ao Sul de Pernambuco, ¢ s0- branceira ao focinho do Cabo de 8. Agostinho fica este antigo Reducto ; 0 qual consta de tres velhas nellas montadas 7 pegas de bronze: a gua guarla he hym Sargento com seis soldados. 124 LPAMANDARE? 12.8 Esta magnifica Enseada, pela commodida- de, que offerece a entrada, e ancoradoure de huma grande, ¢ grossa armada, foi poderosamente Lortifi- ‘cada com todas as regras da arte: he por isso, que consta de hum grande Quadrado, com quatro ba- Iuartes, Fosso, e entrada cuberta ; 0 todo capas de receber numerosa guarnigio, e artilharia em tem- po de necessidada ; mas as stas forgas actuaes ero 4 peas de bronse, ¢ 24 de ferro em mio estado: a stia guarnigio era hum ‘Tenente com 44 soldados. TLLA DE FERNANDO 11.0 Hsia Iba jazendo na Latitude Austral de 3,° 50" Long. 351" do Meridiano da Ilha do Ferro, constituia, e divertia huma grande parte das forgas militares de Pernambuco ; pois que, pela sua posi- gio goographica he o mais poderoso baluarte con- tra as emprezas dos Corsarios, e Piratas ; 0s quaes por mais de uma véz se valerio della como vimos no Appendix Chronologico da 1.* Parte ; mas faz-se indispensavel, que esteja bem fortifienda, © seja sempre guarnecida por grossos destacamentos de Pernambuco; he por esta rasio, que em todos os annos vem huma Summaca buscar os antigos, tra- zendo us novos Soldados, que devem substituil-los. Consia este destaenmento de 219 pracas, ma se- guinte graduacio: 1.° Hum Commandante, que pelo menos deve ser Capitio : 1 Official Artilheiro ; 2 Cappelldes: 1 Almoxarife com seo Escrivio: | ARGH. BGKOGK, PERN. 30 REVISTA DO IN: 1 Cirurgito ; 1 Sangrador ; 2 Capities: 3 Alfores 5 seis Sargentos ; seis tambores: 144 Soldados ; 20 ‘Artilheiros ; ¢ 30 Indios 0 todo. wa 219 Pe 'A fortificaglo consta de varios Reductos, e ba- tatias, dentro, @ forn da povoagio ; contito-se sinco na forma seguinte Priunino N.S. pos REMEDIOS 15 Hea principal das tres batarias, qe defen- dem a Povoagio, n’ella estavao montadas 14 pegas de ferro ; servidas, ou guardadas por hum Capitio, e 82 Soldados Seuunpa S. ANtoxto 2a He outra bataria na Povortéo, guarnecida, com 10 pegas de ferro ; encarregndas & vigilancia de hum Capitio, e 33 Soldados. rcrina N. S. pa Concricao 3.9 He a ultima bataria da Povoagio, guarne- eida com 10 pegas de ferro, e por hum Alferes, 32 Soldados Quarta $8. Joko Baprista 4. He hum pequeno Redueto, que defende Luma pequena anchoragem, no qual esto monta- das 6 pecas de ferro, comettidas a guarda de hum Sargento, « 18 Soldados REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR. PERN. 32 Quinta 8, Joaquiat 5.4 He outro pequeno Reducto, com o mesmo ‘uso do antecedente ; mas somente teri tres pecas de ferro ; e para guardallas hum Sargento com 13 Soldados. N. B. Reflexdes rapidas sobre a Iha de Fer- nando. 'A Ilha de Fernando com 8 legoas de compri- do, e quasi huma de largo, he segundo Ihe chama- mos, um poderoso baluarte contra as interprézas dos Piratas: mas ella offerece outras muitas van- tagens, que reclamio a attengiio do Soberano: aqui consignaremos historicamente os discursos, que on- vimos fazer em Pernambuco a pesséas muito respei- taveis. Entre as muitas vantagens, que offerece esta Tha, sio 18a excelente anchoragem, que nella achio quaesquer navios, que se proponhao visital: In: 2. 2.extrema facilidade, com que, de cima dos seos rochedos, ou costas aleantiladas, se pode repel” Tir qualquer invasio, 3.¢ a abundancia de claras, @ salutiferas agoas, ainda nos apertos da mais rigoro- sa sécca: 40a infinidade de volateis, que rela, eilhotas cireumvisinhas se acoutdo, ¢ favem suas posturas, e creagoes. 5.0. imextinguivel abundancia de peseado de todo.o governo, que a rodeia em todo o anno: en- tre oqual fazem-se notaveis_1.° as tartarugas pela sua preciosa concha: © 2.° os carangeijos, pelo seo delicado sabor, ¢ facil domesticidade; estes dois artigos so procurados ¢’o empenho, e promettem ser objecto de hum commercio assas lucrativo. "Accresce hum Solo, pela maior parte pinguissi- mo: muito singularmente a Iiha dos Ratos. com 32 REVISTA Do INST. ARCH. quasi hama legoa de comprimento, o euberta de GNtensos bosques: aonde alguns degredados tem ensaiado a agricultura, @ particularmente a do al- godiio, ficando bem pagos de seu facil trabalho « Gria, alem disso, gado vacum ¢ Lanigero com tanta, profusiio, e presteza, que ‘0 estado actual da colonia fas indispensavel 2 sua prohibigio. Ora, uma extensio de quasi tres Legoas, niul- tiplicadas por huma; ou huma superficie de 278 bragas quadradas, e em situagilo tilo vantajosa nnio poderia agasalhar_commodissimamente huma colonia de 200 a 300 Familias, sabiamente alojadas por meio de huma Lei Agraria ¢ ‘A maior parte dos homens sensatos, queremos dizer, homens zelosos do bem do Estado ; dos inte- resses da Religifio, e Soberano, seguem @ affirmati- va; e lamentio afatalidade com que o Genio do jnal tom até agora pugnado, e sahido vencedor, com estragos de homens, da moral, e do bem publico. ‘Tem-se teimado invensivelmente, em conservar a. Iha impenetravel 4 molheres, i Sanctidade dos ‘Matrimonios, és vantagens da populagio: os mes- jos officiaes, e Soldados casnilos sio obrigados @ deixar em Pernambuco suas mulheres, expostas 20 isco da incontinencia, para ellas mesmas irem ob- servar huma castidade forgada, e reprovada por todas as bous Leis! ‘Ainda se os soldados Pernambucanos, tivessem jdéia de Moral, ou fossem capazes de apreciar a castidade, menos mal seria! porem na relaxiio de- pravada, que Ihes jhe habitual ; no mais alto gréo e Lubrisidade, a que pode chegar a natureza ani- mal, que se deve esperar d’elles, sentio a mais exal- tada torpitnde % De facto, os crimes contra a natureza, em ge- REVISTA DO INST, AROMH. B GEOGR, PERN. 33 neros de Luxniia, siio tantos, to variados, tio es- candalosos, e nefandos, que a nossa penna se hor- torisa, e recusa mencional-los : basta-lhe escrever, que semelhantes attentados so vulgarmente desig: nados, e entendidos sob o modesto titulo de—pee- cados de Fernando—e que o nome de—Sodé mamui Tracamente exprime a Ilha de Fernando !! Eixaqni justamente a rasio, porque os Clerigos de probidade fojem de ser capelldes de similhante inferno: vendo-se o Ordinario constrangido a lan- gar mio dos clerigos criminosos, prendél-los, ° de- gredal-los para aquella infame Colonia; aonde em Tngar de instruixem, eedificarem, udo fazem mais, que augmentar o numero dos incorrigivels, @ es candalosos + Ora pois: néo era em facil, evitar tantas des- gragas, e consequencias ainda mais desgragadas, repartindoa Tiha 2300 veteranos benemeritos, ¢ dos mais bem acreditados ; 0s quaes, alternando o ser- ‘igo militar, cultivassem com suas molheres, ¢ filhos nana partillia, sendo allias ajudados com outros benoficios do Soherano niio fazidio estas familias jé huma decente Parochia, aonde hum Parocho esco- Thido... aonde... aonde.... aonde... Fiat: Fiat. Amem. CAPITULO ‘4. REPARTIGAO JUDICIARIA DE PERNAMBUCO REsuMMO 12 Classificacio de magistrados jotenci, o Salatio dos 32 Supplemento do Su lario, 4° Junctas da Justissa: 5° Juizes de Fora: 6.° Juizes Ordina- vios: 7° Dittos Indios, 8,° Verea- cos dos Suizes Indios: 9.° Carac- tores do alguns Ministros actuaes, ou existontes em 1.° de Margo do 1817. Ainda que o titulo deste capitulo pareta estar exigindo, que n6s entrassemos por algum instante no Sanctuario da Legislagio; senio para analisar, ao menos para reverenciamos oSimulacro de As- tréa; no temos, com tudo, outras vistas, sendio as de classificar os differentes Ministros, por cuja boca a Deosa promulgava os seus oraculos : Ja dissemos no Capitulo 2 @este Livro, que todaa populacdo de Pernambuco era administrada esta repartigao por sinco Magistrados respectivos, todos e cada hum d’elles decorados com o titulo pomposo de— Quvidores —Corregedores —: esta proposicdo, porem, necessita de que lhe facamos REVISTA DO INST. ARCH, F GEOGR. PERN. 35 neste Ingar alguns scholios ; porque, alem dos Ou- vidores, havidio mais alguns Juizes com differentes algadas ; Lembrdo-nos 0s seguintes. 1. Havilio 3 Juizes Letrados, com o Titulo de —Juizes—de Fora ~nas Villas do Recife. Guaian- na,e Penedo: 2.” mnitos Jnizes Leigos, com o nome de—Ordinarios—e Presidentes d’aquellas oa- meras, que nio tinhio Juizes de Fora: 3.” huma especie de Juizes nas cameras das Villas dos Indios : on hum monumento eterno, e elloquentissimo das altas concepsoes do Marqués de Pombal, quando empenhado em fazer palpar as vantagens do exter minio Jesuitico. Sobre todos estes Magistrados nos vamos aven- turar algumas retlexoes ; e por fim esbogaremos al- guns caracteres, que, quando nao tenhio outro me- tito, sempre nos livrarao do sobresalto, que costu- mio causar as appariges repentinas. 2. Comegando dos Ouridores Corregedores, lem- bra-nos, que jé dissemos ’elles, que nas suas res- pectivas commareas deciditio todos as cansas &, ‘contestasse tanto civis, eomo criminaes de todos os seos subditos ; mas agora acrescentaremos, que a sua omnipotencia se extendeo muitas vezes ao Sagrado, e causas Ecclesiasticas! Jnventou-se para isto hum celeberrimo Tribu- nal, chamado da Corda, para onde se avocavio por via de—Recurso—todas as cauzas do Foro Eccle- siastico, as quaes ordinariamente erio sentenciadas pelo Ouvidor, ¢ companhia contra o Bispo; e este obrigado aanullar as suas sentencas, ou a sofrer as ingratas temporalidades. Pelo exercicio de tio extenga Jurisdigao Ihes pagava o Soberano o unico Salario de 3008 ; e isto desde a creacio das commarcas ! este Salario he evi- UO REVISTA Do INST. ARCH, B GEOGR. PERN, dentemente insuflisientissimy tanto para as neces- sidades diarins de hum Ouvidor, como principal mente para limpar-se dos grandes empenhos, con- trahidos na cousesueio dasa vara; qual remedio pois en tanta penuria? eil-lo. 3. Inventardo-se por tanto pequenos emoli- mentos pelos despachos da ~tarifa—emolumentos porem, que podessem subir a grande Sonima, se 0 Ministro for assiduo, ¢ deligente em despachar os Ti- tigantes: este methodo pureceo wnfadénho, e acer: tou-se por conseguinte com a magia, de fazer maior, @ mais rapida fortuna, demorando, ou sumindo os processos. Nenhama inveng&o, porem, foi tio milagrosa como a de certas expedigces, on piratajens terres: tres, nas qiiaes todos o3 criminosos expiavio facil mentéos sens debitos por enormissimos, que fos- sem: contanto. que comprassem, ebem pagassem as indnlgeneias Nestas gravissimas eorreizoes, ou Jerbiteo wui- versal erfio compreliendidas, revistas, e reparadas ag Sentengas dos Juizes ordinarios ; os quaes davdo gragas a sna fortuna, quando se niio vido obrigados a pagar ao corregedor o crime de haverem adminis- trado Justissa desinteressada. Esta regra por isso mesmo, que a fazemos tio geval, e indefinida, hade ter, por fora, algumas preciosas excepsces: nosas relatariamos com boa Yontade se tivessem chegado a nossa noticia. 4, Os Soberanos Portuguezes, verdadeiramente Paes dos seos, Vassalos, olharlo sempre para as Sentengas eapitaes com maior eserupulo, ¢ acata~ mento; he por isso. que a Turisdiceio para infligir aquella pena no Brasil vesidio na relagio da Bahia ate o anno 1737. REVISTA DOT LARC KGKOGR, PERN. 37 Neste anno porem se virko em Pernambuco os primeiros—enforeudos—: ¢ nelle comecario as ce- leberrimas Junctas da Justissa, com alto poder, ¢ auetoride de unfurear todos os eriminusos, com tan- to, que niio fossem brancos ; por que estes ficarao reservatlos 4 Relagio! Estas Junetas ero compostas dos ouvidores das Commarcas, de alguns Letrados, do Exm.° Ge: neral, que taohem fazia as vezes de Regedor das Justissis : erdo regularmente tao compassives, que quasi ndo matavamn ningnem ; apenas. de annos em annos, morriao aleivoso assassino de des, ou doze vietimas, quando nao achava algnm Rabula ewido- go que advogasse sua cans Bm Pernambuco ja mais esquecerdo os escan- dalosos processvs, ¢ ainda mais escandalosos degre- dos do filho do — Selleiro — e do — Nogueira — da Parahiba; e aqui declaramos, que estes dois mula- tos no so 08 Unicos assussinos desaforados, 0 que referimos a indulgentissima piedade das -- Junctas — de Pernambuco. 5. Quanto aos Juizes de Fora, ertio estes huns Modestos Magistrados, que administravao despoti- camente a Justiga as cameras, ¢ térmos das villas Ge sua Jurisdigio: dissemos com impropriedade — despoticamente ; porque de facto as suas Senten- gas tinhio appellaglo, eaggravo para o Corregedor hos easus, que os Juizes de Fora queirdo; porem ow quisessem, ul nao, todas as suas Sentengas erdo stijeitasa Relagio do Destricto. ‘Ja dissemos, que havido ua Capitania de Per- nambuco tres Juizes de Fora; 0 1.0 e mais antigo © do Recife, creado em 1702; mas actualmente com metade de Jurisdicgio, que tivéra ate 1815, por ter passado outra metade para o Corregedor Olinda. BS REVISTA DO INST, ARCH. EGEOGI, FERN, © 2 ora era o de Guainnna, creado em 1809; 6 30 era o do Penedo, creado em 1816: e todos tres com 0 Soldo de 1f0%,e0 mais, que podessem haver da-- tarifa —. ¢ principalmente dos Orfiios, e expe digdes correccionaes. Testes graves Magistrados pouco teriamos, que dizer, x2 os ultimos sinco, que bem conhecémos em Pernambuco, fossem anérma de todos ; mas es- se mesmo pouco fique para o fim de Capitulo, e el- logio de Joze Pedro Barradas, 6. Ox Juizes Ordinarios. on Presidentes das Cameras nas Villas pobres, eric ordinariamente homens bons honrados, pacificos, tirados sempre da classe branea aonde, e quando era possivel, para entrarem nos Pelontos, que ox Ouvidores annval- mente fazido; mas para esta honrosa entrada os ‘Ministros requerido, que o Candidato tivesse pelo menos as tres condigoes segnintes. 14 que sonbesse ler, e escrever' sofrivelmente: 2 que estivesse desuvindo com o Governador, on Commandante do lugar, on Provincia; ou quando ‘menos, que no fossem amigos : 3* que Ihes houves- sem feito, ou podessem fazer algum prezente consi- deravel no tempo da Correisio. Com Similhante contingente facilmente achavao muitos que podessem manejar a Vara: bastando, para o mais, algum ex-escrivio, que podesse, e qui- zesse ser assessor do Juiz Ordinario! pois que no assessor descansayéo elles brutamente! 7. Ora se isto assim corria nas Villas, e Came- xas dos Brancos ; que seria nas miserrimas Villas os Indios? que seria entre hunsentes, que para serem admittidos 4 espece humana, he preciso erer, que o Papa Paulo 3° era infalivel quando em 1537 definioa sua Rasionalidade ! WISTA DO INST. ARCH. BGK ‘Assim refere a veridica chronica da Companhia de Jesus no Brasila pag. 107; ¢ talvez, que sea deixnssem laborar, ella como tempo mostrasse, que 9 Papa tivéra rast: entretanto o Marqnés de Pom- bal, assassinando-lhes os Paes, ¢ os Mestres, e eri- gindos em Tutor dos Inios, entregon-os a nalureza, @ quiz ver, se erfio homens : mas apenas conseguio, qne todos uvidem da infabililidade do Papa neste ponto; seria por ventura este o fim das suas trimas ¢ Sujet o que for: o certo he, que os Indios tem Villas, e Cameras ; € sio nellas Juizes, sem sabe- rem nem ler, nem escrever, nem discorrer! tudo supre o Eserivio; 0 qual, nfio passando muitas ve~ yes de um mulato Sapateiro, on alfaite, dirige a seo arbitrio aqnellas cameras de irracionaes, quasi pelo formulario seguinte. '§ Na vespera do dia, em que bade haver na ‘Aldeia verencio, parte o eserivio da sua moradia, se he longe ; e neste caso sempre a cavallo ; ¢ vem dormir, nessa noite, em casa do Senhor Suis ; 0 qual immediatamente se encarrega do Cavallo do Senhor Eserivio; Leva-oa beber agoa ; € por fim vae peial-lo aonde poss commodamente pastar. Fiea entretanto 0 escrivdo deseansando ; Se- nhor alids, da casa, molber, ¢ filhos do Officioso Suis; que na volta The cede o melhor Ingar da Chou pana, para dormin, e passar a noite ; logo em ama~ nhecendo comeca o Juis x ornar-se com os velhos, @ emprestadus ameios da sua dignidade, e 2 horas competentes marcha para hum Pardieiro, com al- cunha de Cusa da Camera ; aonde lidas as petigoes, que o escrivio fez na vespera, sio despachadas pelo mesmo escrivio em nome do Senhor Juis Ordina- rio ; e poneo depois se desfaz_o venerando Senado, ARCH. EGROGR, PERN, 400 REVISTA pO TN) eapparece os Senadores de camisa, @ ceroulas, € de caminho para as suas taréfas. ‘Devemios acrescentar, que os Corregedores nas suas expedigdes annuies nem ao menos se lembrdo, que similhantes villas, ou Albergues de miseria, podem ser ou sejdo habitadas por entes racionaes ! tao difficil he hoje em dia crer na infalibilidade do Papa ; nem na bruxaria do Marqués de Pombal ! 9 Restiio agora mais duas palavras Sobre o ca- racter pessoal dos differentes Ministros, que em 1817 administravao Justissa aos miseraveis Per~ nambueanos; mas protestamos primeiramente, que quanto até aqui temos dito, temos, @ vamos agort dizer, tudo era notorio em Pernambuco ; tnas ainda assim ndo 0 escreviamos, seniio fora o nosso fim principal, ver arrancar a arvore do mal com todas as suas vaizes venenosas ; Kix aqui pois os Minis: tros de Pernambuco ; em 1817. 41° Francisco Affonso Ferreira, natural de Per- nambuco era ouvidor da commarea de Pernambuco; aquem Jofo Severiano Intendente da Policia em Cassenna, chamava —Potro bravo— Apezar de me- recer 0 ellogio, tinha conseguido grandes Lugares pois que tiuha sido 1.° Juis de Fora em Portugal : 2° onvidor do Cearé athe 1810: 3.° ouvidor de Per- nambuco athe 1816: 4.° recondusido no mesmo lu- gar 3 ¢ 5," Dezembargador na Relagiio da Bahia ! Bem caras Ihe tinhdo sahido estas promogies ; pois que elle mesmo se queixaya, de haverem deza- ‘parecido os 40:0008, que herdiira de seos Pais ! a pi- Thajem com tudo, ¢ pilhajem descarada, que, em Tiga com seo irmio Joze Alexandre, seo Meirinho. geral, fazia na commarea, o desforrava de todas ag perdas, o lhe chegava para tudo, excepto © paga- mento das suas dividas ! REVISTA DO INST, ARCH. EGEOGR. PERN. 41 De resto 0 capitulo 9 do Livro 5 ja pela unha fez conhecer o Ledo a0 dito capitulo nos referi- mos, devendo somente acrescentar, que a sua inep- sia era tal, e tio notoria, que os mesmos revolucio- narios o desprezavilo, porque, dizido, nfo Ihe acha- vio prestimo, nem para o mal! Dizem, que, durante os ultimos dias da revo- Ingo, elle se fingira doido } quanto a nés he calum- nia, porqne elle nunca precison de fingimentos ; com tndo, o Céo Ihe assista, e converta para bem de sua molher, e filhos. 2° Antonio Carlos de Andrade, natural de S. Paulo, Era Juis de Fora na sua Patria ; donde, di- zia a fama, que viéra prezo para o Rio de Janeiro, por haver commettido hum fraco, e aleivoso homi- cidio: livron-se porem como pode, depois dehuma longa prisio. ‘Para recompensa de sua oppprimida innocen- cia, deriio Ihe a Patente de primeiro onvidor da nova commarea de Olinda ; ja marcimos a epocha a sna chegada a Pernambuco, 0 alvorougo, com que foi recebido nas Lojes; ¢ alguns meritos pes soaes de personajem ; vid. Liv. 5 cap. 7 logo dare- mos os comprimentos, que teve com o Juis de Fora: eno Livro seguinte nos o veremos hum Pedreiro assanhado. ‘Nao nos consta porem, que gostasse do alheio ; sabemos pelo contrario, que ate recusou hum quarto de — Leitdo— prezente, que Ihe fazia 0 mais innocente, o mais singello, o mais desinteres- sado, e respeitavel Conego de Olinda, Manoel Vieira de Lemos !! 3.° Joze Pedro Barradas ; natural de Portugal -— Era Jnis de Fora de Pernambuco, com pouco tempo de Ministro, ja tinha feito grandes progres- 42 REVISTA DO INST. ARCH. H GEOGR, PFRN, gos na carreira e infamia de seo Illustre cunhado, Clemente Ferreira Franca, ex-ouvidor de Pernam- buco; «sua marcha, com tndo, foi retardada pela galantaria de Antonio Carlos, ouvidor de Olinda @ por outras causas imprevistas. ‘Aquelle Ouvidor — Regatdo — estimnlado por pontos de Jurisdicgio, e recheado de gulhosa sa- pedoria dirigio ao Juis de Fora nos fins de 1816 jauma carta tio indecente, tilo cheia de grosseiras brutalidades, que ate mereceo ser copiada pelos co- irmios Adeptos, e guardada, talves, nos archivos Magonicos ! nos a vimos ua mio de hum d’elles, al- tamente ellogiada, como hum triunfo Brasileiro ! e de entiio agouramos a proximidade de algama Ca- tastrophe ! Barradas, de facto, a recebeo, mas envergo- nhon-se, calou-se, e retirou-se para o Rio de Ja- neiro os Pernambucanos attribuirfio a sua auzencia a hum certo Banquete, dado em casa dé Domingos ‘Joze Martins, e descripto em casa de Baer pelo Co- ronel Moraes, e commentado por Barradas, que se achava prezente; com taes cores pinton este Ban- quete de Thiestes, que, somente auzentando-se, es- caparia aos punhaes, ou ballas de 6 de Margo ; nio affiangamos o conto ; mas temos que he provavel. 4° Joze da Cruz Ferreira — natural do Rio de Janeiro, Estava elleito para 2.- ouvidor de Paja, em premio do bem que servira em Juis de Fora de Azeitiio em Portugal, e Juis de Fora no Ceara: mo- yava em Pernambuco, aonde esperava o sucesso da sua complicada residencia, Era hum homem loquacissimo com presump- ges de Sabio ; altamente credulo ate degenerar em Teviano; mas leal, fiel,.e honrado; amante dos Livros, de sua molher, e familia: 0 seo zélo pela REVISTA DO INST. ARCH, F GEOGR, PERN. 43 causa publica o faré delatar a Cactano Pinto a Re- volugio de 6 de Margo ; fogir por conseguinte n’a- quelle dia ; mas foi prezo pelo Vigario Pedro Te- Horio, remettido a Pernambuco, e guardado em estreita prisio ; rodeado de perigos ainda mesmo Aepois da restauragdo — nos Livros seguintes obser- ‘yaremos a sotie dos sens infortunios. N. B. Ignoramos o earacter dos outros Mi- nistros. CAPITULO 5 ADMINISTRAGAO ECCLESIASTICA DE PERNAMBUCO RESUMMO 1. Divisio do Clero, 0 1. orilem 3B. Clero mito : 4. 0 Bispo . 08 Parochos, ee. 1 A multidio de objectos, por si mesmo tio respeitaveis, ¢ interessantes, nos obrigdo a dividir em duas partes este capitulo, afim de no parecer desviar-se do costume, que ate aqui temos observa. do : trataremos por tanto nesta parte os-pontos in- Aiendos no resume ; reservando outros para o Ar- tigo seguinte. $1 20 Estado Ecclesiastico de Pernambuco era composto de tres ordens differentes ; 1." do Clero Secular; 2.00 do Clero Regular: 3.8.2 do Clero mixto, que em seo lugar definiremos, A primeira constava 1.° de hum Bispo, Suffra- ganeo do Arcebispo da Bahia. 2° de hum brilhante, e numerose Cabido, com- smunidade Respectabilissima, maxime quando for- maya S6 plenaria. 8,° de mais de 120 Parochos em todo o Bispado ; REVISTA DO INS ANCHE, EGEOGR. PERN. 45 muitos Sacerdotes operarios ; e de muitos Minis- tros de ordens inferiores ao Sacerdocio. 9. Asegunda ordem, ou o Clero Regular cons- tava de muitas Ordens Religiosas, com 03 Seos res- pectivos Conventos ; taes 1.° Benedictines no Seo Convento de Olinda, outro ua Parahiba, hum Hos. picio nos — Prazeres — e outro em WN. Senhora do Monte em Olinda. 2.0 Capuchinhos Itulianos, com hum convento no hairro de Santo Antonio do Reeiffe : 3.° Capu- chos, com Sette Conventos na Capitania : Se Igua- rassi, Olinda, Pernambuco, Ipojuca, Serinhaem, ‘Allagéas, e’Penedo. 3.4 Carmelitas observantes no Seo Convento de Olinda, lum Hospicio em Nazareth, no Cabo de Santo Agostinho : 5. Carmelitas ‘Turdes, com sinco Conventos, Sul. Guaianna, Reciffe, Piedade, Santo Antonio Meirim, e Cabrobé. 6.¢ Carmelitas Maria~ nos no seo Convento do Desterro em Olinda. 7.8 Os amphibios Congregados do Oratorio, que nem sio Frades, nem Clerigos, mas sfiv tudo no seo Convento do Reciffe. 8, Aterceira Ordem, ou o Clero mixto constava 1.° de muitos Cavalleiros das ‘Tres Ordens Milita- res, Cristo, Avis, e Santo Tiago. 2.° de duas numerosas Ordens de Irmaos Ter- ceiros de N. S, do Carmo, e de S. Francisco. 3,° de tres Recolhimentos para molheres, hum no Reciffe, e bairro da Boavista, denominado—Glo- tia outro em Olinda, dito da Conceigio jo terceiro em Iguarassi, dito. He da nossa intensiio fazer resenha de todas estas Institnigdes, @ dar huma:noticia moral, geral, maas compendiosa de todas ellas para desenfado, ¢ desforgo dos Leitores Seculares : e comecando, como 46 REVISTA Do INST. ARCIL. E GEOGR, PERN, he de rasiio, pela cabeca, visitaremos em 1.° lugar 0 Senhor Bispo. 4. Fora Bispo, elleito em 1811, Sagrado porem em 1816 no Rio de Janeiro; aonde existia na epo- cha da Revoluegio Pernambucana, D. Fr, Antonio de S. Joze Bastos ; Monge Benedictino da Provin- cia do Brasil, e natural do Rio de Janeiro. Apenas elleito veio correndo a Pernambuco pa- ra remediar as desordens do —glorioso Cabido do Olinda, —o qual se achava_governando o Bispado em —Sede vacante-—e nio Ihe enstou pouso, ver-se desentronisudo por hum vigario— Capitular — frue- ta novaem Pernambuco desde a*ereagio do Bis~ pado! « Logo na sua chegada, e annos seguintes escan- Galisardo-se terrivelinente as suas melindrosas, e santinhas ovélhas com algumas bugatéllas tio insig- ficantes, como as segnintes. 5, Escandalisario-se 1° da pressa, com que o Sr, Bispo, antes de ser sagrado, trocou o habito de 8. Bento pelo de. Pedro; ¢ clamavilo, que nio ti- nha autoridade de — secularisar se a si mesmo. 2 da indiserisio, com que se ingirio « admi- nistrar a Confirmagio, como Abbade—in Partibus— aos seos futuros Diecezanos ; ¢ isto no mesmo tem- Po, ehora, em que o Bispo de Angra, D. Fr. Ale- xandre, entio em Pernambuco, administravao mes- mo Sacramento, a ondas de povo, que fugia do Bi Po elleito; porque niio tinhiio fe, diziio, em mios nfo sagradas. 8° da indesculpavel imprudencia, com que, sa- bendo que estava em Pernambuco, agasaliou no seo mesmo Palacio Episcopal, certa parenta casada ; e do empenho, com que clevou omaridoa primeiro. Guardamor do Tribunal da Saude. REVISTA Do INST. ARCIL. B GEOGR. PERN, 47 Escandalisario emfim da nimia familiaridade com que se deixava tractar por hum seo escravo fa- vorito, por nome Joze Caracas, mulato de sua crea do ; devemos acrescentar, que os frades do seo mes- mo habito assopravio o escandalo, dando rasio aos offendidos ! Com todos aquelles defeitos, que nés julgamos apparentes, e unicamente fundados na malicia dos maldizentes, recebiado Erario a Congrua Episco- pal, montando em 2:200§, a que junctando os ren- dimentos da Camera Episcopal, perfazia annualmen- te a somma de vinte mil crusados pelo menos ; exaqui as fontes do rendimento ; e caleulo approxi- mado. 1° Congrua na creagio do Bispado. _1:600$000 2 Ditta para seos Officifies. ... 1208000, 8° Ditta para fazer suas esmollas 803000 4° Ditta da CapitanniadeItamaracd. 4003000 5° Rendimento da Camera Ecclesi- 6:0008000 Somma geral 8:2003000 Este ultimo artigo era o resultado 1° da Admi- nistragéo dos Sacramentos da Confirmagao, ¢ or- dem : 2° da Collaydo dos Parochos, e Provisdes de Confessores, e Pregadores : 3° das Justificagoes de Solteiro, causas Matrimoniaes, e Testamentarias : 4° Dispensas de Consanguinidade, e Affinidade para se contrahirem Matrimonios, Ora todos estes rendimentos erdo distribuidos, muito discretamente ; pois que, sem se esquecer de si proprio, e do futuro, era inimigo do Luxo, e mui to generoso com parentes, com pobres, e Seminario; 48 REVISTA DU INST. ARCH. F GEOGR, PERN, muito sigularmente, quando a causa pia laboriiva ; ou, nao dormia, He provavel, que tanta Beneficencia, ¢ tiio dis- creta Caridade lhe merecessea grande fortuna dees- tar ainda na Corte no dia 6 de Margo 1817; mas nio sabemos qual rasio The faria perder a graga do S.M. Fomot Circuito muitas conjecturas ; nos porem sémen- te julgumos provavel, interinamente, que a pessima escolha de comissarios para governarem o Bispado na sua anzencia ; ea sacrilega Pastoral, que aquelles monstros infames dirigirao us desgarradas ovelhas Pernambucanas, o malquistarao com a Magestade. ‘Temos sobejas provas da Lealdade do Bispo, ¢ prestariamos os mais solemnes juramentos sobre a sua immaculada innocencia nos crimes da Revolu- Go: entretanto huma grande porgao de seu clero, do seu povo, e amigos esté grandemente assnstad4 sobre a sua desgraca, e ja Ihe reza em saudoso, e Aoloroso silencio--requiescat in paco— 5° Seguese agora o Cabido: esta corporagio brilhantissima, mas quasi sempre agitada com o maligno vapor Pernambueano, viyéo em todos os tempos em desharmonia com os seos Bispos: dagui as frequentissimas vacancias, pelas quaes esta Sé tem passado sem a morte ser culpada, Era nestas vacancias, que 0 Cabido se appro- Veitava ; pois que em virtude da posse abusiva con. tra.os canon +s da Tgreja, entrava logo em-governan. sa, dezempeshando a idea de hama Oligarehia Aristocratica ; famosa unicamente pelas suas desar. dens, ¢ animosidades, Constava este celebre Cabido de sinco gravis- simas Dignidades; nove Conegos ; quatro Benefi- cindos ; 0s quaes todos, nas Suas Funcgées Oathe- REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR, PERN, 49 draes, erio servidos, e assistidos por hum grande e pomposo cortejo: o todo assalariado pelo Erario com as Congrnas seguintes. 1." Con. 2.8 Con. 1° Dedo 1." Dig. . . 2003000" alids. . . 4008000 2° Chantre 2.2 D. . 1603000 ” alids. « - 3208000 3.° Thesoureiro3.2D. 1608000 ** « . 3203000 4.° M. Escolla 4.°D. 1608000 ”* « 8208000 5° Arcediago 5.° D. 1603000 " . + 8203000. 6.° Conegos. . . + 1203000 « « 2703000 7° Beneficiados ... 608000” +. 1508000 8° Subchantre. . .. 608000 ”? + 1208000 9° Capellées. .... 878500 608000 10.°Méssos do Coro . 188000 ” 258000 11.°Porteiroda Massa 128500 ” 163000 N. B. —Na primeira columna apparecom as Congruas, que desde a ereacdo do Bispado pagava, © Erario a estes empregados, como equivalente dos Dizimos ; os quaes ficavao pertencendo a Ordem de Christo, e sio arrecadados, pela Fazenda Real : 8. Magestade porem dignon-se de augmentar as ditas Congruas por Decreto de 20 de Junho de 1818 : este augmento, sommado =a ‘as antigas congrnas, ap- na segunda columna. Palsommadas pois estas Aiferentes addigbes, achimos que a ingnietagio perenne de Pernam- Duco custa ao Eratio Regio em cada anno Rs.... 4963000, que antes fosse empregada em dar as misoraveis villas da Capitannia, a miserrimas al- deias dos Indios Mestres zelosos, que Ihes ensinas- sem a ser bons, e uteis vassallos ;... porem, exaqui a operagio analitica daquella somma. ISTA DO INST, ARCTI, FG GR. PERN, 1° Dello, eas quatro Dignidades. 1:680$000 2.° 9 Conegos a 2708......., 2:4308000 8.° 4 Beneficindos a 1508... . | | 6003000 4.°1 Subchantre... 2... 4. 1203000 528 Cappelltes a 608.2. 2) ygogoo0 G.° 4 Méssos do choro a 258... 1003000 6° 1 Porteiro da Massa... || | 168000 Som. 32 PP. 4268000 Todos estes officios menoves estario, talves, bem empregados nos seos respectivos Dignitarios, Sendo obstassem 0 respeito, docilidade, ¢ condes.. cendencia, que prestaviio, ¢ prestiérdo ao traidor, ¢ apostata ‘Triumvirato Episcopal quando promul. goua vil pastoral, que langaremos a t lugar competente, 7 ee He verdade, que o Delo Bernardo Ferrel . lo Fern Portugal, quando Deio ainda peior, do que o fi. gorou 0 Livro 5 cap. 5, exa a méla real do Governo celesiastico interino, do Onbido, e de quasi todo o Clero Pernambueano ; circunstancia, que paréce sggravar a escolha do Exm. Bispo. ,_ Tornamos a protestar, que témos conviccd: nor do ee Ge soni a tade haja de restituil-to a Sua Graga; ‘nao teremos, eomfudo, pena alguma, se o virmos transferido pam alguna Se mais honrada, e Cabido menos in- 6. Agora iremos aos Paroch i 108, @ companhia : sina Ere dax-mos uma justa ideia de asso tio ono teada, seria preciso referir analiticamente a cae mio aa a rocagto, @estudos, com que siio incerdocio ; @ as vias, e mei ‘due chegio a ser nomendos, 6 collados nos Benet REVISTA DO INST. ARCH. B GEOGR, PERN, OL cios ; mas quantos escandalos senio segniriio de hum trabalho tao penoso ‘ He por isso, e muito principalmente para niio comprometter-mos muitas, ¢ muito honradas ex: ceigdes ; @ tio bem por decoro a todos aquelles Ec- clesiasticos, a quem a revolucgio nio teve tempo de preverter ; he por todas estas respeitaveis rasdes, que diremos singellamente de alguns, que—a igno rancia, libertinajem, simonia, e arrogancia presidiio aquasi todas as suas funcgdes Parochiaes !—talves, que os — Bons — gostassem, de que este ponto fosse illustrado com a Lista nominal dos culpados : talves, que nos livros seguintes nos satislagamos a estes justos dezejos, Por agora acrescentamos, que os escandalos dos Parochos ero maiores, oa mais indecentes na rasiio da maior distancia, em que ficavdo, da Resi- dencia dos Senhores Bispos : e deve este fenomeno atiribuir-se ao medo, que tinhio do Prelado? néo nos parece provavel. ‘Como poderin o Bispo assustar a huns homens, cuja impunidade era affiangada por multiplicados factos da Meza da Consciencia ; Meza, que eraa verdadeira, e Real Soberana dos Beneticios, Bene- ficiados, ¢ de todos os individuos Ecclesiasticos ? vejase 0 que ji dissemos no Livro 3. cap. 9, ¢ Appendices. He verdade, que os Exms. Bispos estavio na posse de mandarem, em cada triennio, visitadores para todos os Destrictos do seo Monstruoso Bis- ado ; 08 quaes abriio, nas visitas, devassas geraes sobre a condueta dos Parochos, e seo Clero ; po- rem pode-se dizer sem escrupulo destas visitas, — que ero males sobre males — ou, quando menos, impertinencias Episeopaes ! 52 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. Beem qual conta poderido ter, nem fazer das correciées, ¢ informagées de visitadores, quem ti- nha tantos, @ tio poderosos meios nen a occa estes avidos, e mercerarios Delegndost como temel-los, nem respeital-los quem vivia inde- pendent, do propo Delegante! redusia-se por {dade visitator San Fe ria a fintar Parochos, ea 10s Condjutores, Sacerdotes, e mais opera Eoolesiasticos pouco temos, que dizer ; ine foe summo d’esse mesmo potico he—que muitos delles, g.auasl todos os Minaisns ero da eacholla dos Padres foto Ribeiro Pessoa, e Miguel Joaquim ‘Almeida—; queremos dizer, da Escholla do Se- minario de Olinda ; Seminario, que a seo tempo, © em seo lugar visitaremos. , we RESUMMO 1 Ordens Religiosas : 2° Cavalleiros: go Terevivos : 4.° Recollkimentos Hospicio de Jerusalem. 4, Havendo feito, acima, a enumeracdo dos Conventos, e Famillias Regulares de Pernambuco, pouco nos’ restarin para dizer d’ellas neste Inga Ponto nos estivessem provocando as murmuragoes, on conversas publicas dos Pernambucanos, | nas quaes, sem misericordia, ert avaliado 0 mereci- sient de cada luna dollas ; generalisaremos, com tudo, para no darmos golpes sobre feridas. ‘Diia-se pois em Pernambuco, na epocha, em que nos consideramos, © provava-se com muitas a edoras, que Carmo, ‘Sho Bento, @ Sio Francisco ago tres eoutos, ou balnartes, em que se acastel- Jayao a ignorancia, oatrevimento, ¢ Libertinajem de costumes. ‘Que os Mariannos apenas prestavdo pars, mene ddicarem comollis para —a Sanota, e mais Pradinho t ‘Que os quatro, ou sinco Barbinos Ttalianos po- dijo soffrivelmente compor ou entrar nham grande Romance Italico-Pernambueano, no qual peueas paginas serido edilicantes. (Que vs Congregados do Oratorio comprayso a gua equivoea fama de — Manigrepos— com sinco 64 REVISTA Do INST, ARCH. FE GEOGR. PERN, grandes virtudes : 1.* servirem de empenho para tudo: 2* assistirem aos moribundos : 3. darem explendidos banguetes : 4.* pagarem as suas di- vidas : 6.* emprestarem dinheiro aos seus amigos. "Sem poder-mos, nem querer-mos garantir a ve- racidade da Censura, no repugnamos escrevel-la, porgue nos serve admiravelmente para mostrar, se. nio a relaxacdo do chamado Clero Regular, 101 nos o grio de immoralidade de quantos se abando- naviio a publica licensa de calumniadores : serve tio bem para reforgar os Antecedentes da famosa Conclusio, que no fi 2. Quanto aos C ¢ ereeizos 5 estes dune Ontens Betlesitstico-Seculares. de alte reputagiio, eestima : sofride, com tudo, seos des- contos ; ea opinito publica, isto he, a opinido de todos aquelles que ndo entravao nas Classes, come- gava a declinar muito, ea ser-Ihes pouco favoravel, Por conta, ¢ risco dos primeiros pergantava o velho Marechal D, Jorge Eugenio de Locio, e Scilbs, estando em casa, e Assemblea de Parabens de Joze Peres Campéllo, quando de volta do Rio de Janeito em companhia do Governador Cuetano Pinto ; pet guntava, dizemos, a lum certo ‘Taverneiro, vindo na mesia mongio. — : z Boge 225 2 —ondeptodsg up [ejo} JopeA 0 vUIWOS g PEELS Ag srosers'e 2 BShs 568 & TEE82S8 7 pices ee eee e+ nq0g op sttog OUOROT LOT cl BES e832 foot “omg ee +1 1 condonaistioo ap Sond OST oGk 2 SASS eZ soos OOgor "1 ronson. be o 3 Segheng gros ‘oose vi ts Ooty P Sod GODS Fr 8 223 968° g get “Qu0gs BT TTT TT AwUywossE ap SUIT BOs, EE SSR eee E gk sao wae vic t +17 + copuisoo ap stoquy, L0g$) -3E BES ek See arse | ooss wl oce ttt cuqniney op Sond aces CTL g $88 hg os “ooast Bt calgTstag ep savium® pees cot BP e eSB eee MEN Boos 02112 ENE NGS cea ce * geeceas ost Ent silo von “8 ; FR8e al see . 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Deste ealculo se segue, que o valor de nove milhées, e secenta, e hum mil cruzados, he o sobejo das necessidades do Pais ; sobejo alids, com que Pernambuco equilibra, ow contrabalanga a impor- tagao dos generos, de que annualmente precisa para © seo consummo ! Para vermos pois, a favor de quem se inclina a balanga do commercio, he indispensavel, avalia mos igualmente a Importagio: e em cuja opera nijo temos mais remedio, do que ater-mo-nos 20 ja citado Balango do preclarissimc Lumachi ; se bem, que profundamente magoados da discordancia, que achamos na sua Lista, comparada com x da Alfan. dega de Lisbéa, Jangada em o n. 6.°; discordancia tal, qual he a de —587:920 para 470:4498 e isto nhum tempo, que a importagio tinha pelo duplado ! por certo, que o contrabando era horrivel ; e tinha muita rasio o publico, quando falava de quatro Alfandegas ! Entretanto, pois que nao ha mais remedio, se- guiremos a Lumachi, apartando-nos somente delle, em dar-mos valor aos Escravos, e carne secea, sup~ prindo 0 seo silencio, com o moderado prego medio: dar-Ihe-hemos com tudo, alguns descontos 2 seo tempo : exaqui pois, como Lumachi avalia a Im- portagio. INPORTAQAS DE PERNAMBUCO EM 1808 1.° Fazendas, .e generos chamados si 367:7463000, 2.° Ditas ditos dito Molhados. .. | 20:7225000 3° Ditas ditos dito Viveres + 414733000 4° Ditas Ferragens, e Quinyuilha- ving Ge... ea stebedlecte 40:5088000 Somma 470;449$0uy REVISTA Do INST, ARCH. & GEOG, PERN. 67 Dobra-se, diz Lumachi, para pa- gar di 940.8988000 5.° 2096 Escravos, prego medio 289:6808008 6." 126250 w de carne séeca, prego medio 18600. 0.0.2... «+ 202:0003000 Somma gerl da Importagay Rs, 1,372.6783000 9. Ora, assim como na Exportagio, nfo tivemos duvida em acreditar o Estrangeiro Koster, fixando 9,000, o numero das caixas d’Assucar ; e dando um augmento progressive as saccas de Algodio, el- levando.as a 808 tiobem, na Importagio, pede a ra~ sfo, que démos credito ao Pernambucano Lumachi, quando no seo Balango affirma, montar a Importa- go e Exportagio dos annos antecedentes ao —equi- pollente de mais de quatto milhdes de crusados cada huma. Por esta oceasiio devemos reparar 0 desonido, ue acabamos de ter no schema da Importagio, es~ crevendo na somma dos quatro artigos — dobra-se para pagar os direitos — devendo ler-se ;— do- bra-se pelas rasées de Lumachi — mas emfim, como 0 dicto Balango he por mais de huma razio interes santissimo ; e muito singularmeute por haver sido formado para contar ao mundo, que havia hum Pernambucano altamente zeloso dos interesses de 8. Magestade ; nos o langaremos Literalmente no Ap- pendice 2.° deste Livro. Entretanto para salvar-mos os quatro ou mais milhées de importagio ; isto he para salvar-mos a veracidade do Ilm. Escrivao, no temos outro re- medio, sendo o de puxar pelos artigos da Importa- do, quanto elles possio dar de si sem quebrar : seré 68 REVISTA DO INST. ARCII. E G¥OGR, PERN. pois bastante, duplar os artigos Importados ? seria preciso, suppor-mos, que a populagio de 1816 era Gupla de 1808, ou que o Luxo tinha duplado o mu- mero das necessidades, ¢ commodidades do Pats ! Tndependentes destas rasées, nos os dypla- xiamos, s6 para no vermos os Pernambueanos es- magados, em pouco tempo, sob o peso metilico das especes : protestamos porem, que tudo no capitulo seguinte hade pagar diteitos 4 risca, sob penna da connivencia de Juizes, Escrivies, e quaesquer ou- tros empregados da Alfandega. Dobrando pois todos 0s artigos da Importagio de Lumachi, exaqui o Resultado. INPORTAGAD ESTIMADA EM 1816 1.° Fazendas, © outros generos cha- mados séccos, 735:492$000 2.° Ditas ditos ditos molhados. 41:4448000 3.° Ditas ditos ditos viveres. 82:9448000 4° Ditas, Ferragens, © Quinquilha- ring... 6... ete seen es 810168000 940:896$000 Dobra-se esta somma pelas gravis- simas rasGes, que Lumachi aléga — 940:8968000 Etémos a primeira somma. .. . 1,881:7493000 5.° 6,992 Escravos, prego medio 80%. 479:360$000 6° 252,500 @ de carne sécca 19600. . 404:0008000 Valor total da Tmportagdo. . . .2,760:1028000 Comparado com o da Exportagii supra... . . 3,843:851$00 REVISTA DO INST. ARcH. BE PERN. 69 Mica aos Pernambucanos para en- tesourarem, 6. ee ee 1,078:6998000 40, Reservando aos mais intelligentes caleu- listas a justa reducgio destas contas, ° devia cor recgio de todos, ¢ cada hum dos seos artigos ; de- vemos em todés os casos; devemos reconhecer, ¢ confessar, que a Agricultura, e Commercio de Per- nambuco tinhio subido a hum alto ponto de pros- peridade, desde o Estabellecimento da Cérte no Rio de Janeiro, e franqueza dos Portos do Brasil a todas as Nagies amigas. Como poderiio, pois, os bastardos, e detestaveis Peareiros Pernambncanos deixar-se hallucinar com promessas de amelioragées republicanas? como po- derio conceber a esperanga de desencaminhar hum povo agricola, forte, opulento, satisfeito com as suas prezentes vantajens, wnicamente suspirando por novos bragos Afrieanos, com que podesse aug- mentar a. sta opulencia ? Doitio-se, por ventura, do pezo dos tributos, sob o qual vido o povo esmagado? pois vejamos este conto no capitulo seguinte. CAPITULO 7 RENDAS PUBLICAS DE PERNAMBUCO RESUNMO, 1+ Classificagio dos Tribute: ‘meira classe : 8." segunda classe : 4.° ter- isa elnsso : 5." ‘Tributos modernos ; 6. difficuldade de avaliar o total: 7 caleulo approximado: 8. deseulpa: mesqui- nhésa de Hypolito: 10. Descontos : 11. Append x. pri i, Chamimos — Rendas Publicas de Pernam- buco — a0s differentes Tributos, que todos os habi- tantes @aquella capitannin so obrigados a pagar 208 cofres, ou Erario do Soberano. Nao erdo, com effeito, poucos, os que na epo- cha da Revolugio jé se achavio estabellecidos ; po- demos com tudo reduzil-los a tres classes diffe- Tentes, A primeira serd a d’aquelles Tributos ou pen- sbes impostas, e cobradas pelos primeiros Donata- rios, em reconhecimento do seo Dominio Directo. A’ segunda pertencerdio aquelles, que a Camera de Olinda, duranta a Lucta com os Hollandezes, @ Delo tempo adeante, derramou sobre o povo, para Pagamento das tropas. A terceira, aquelles, que os Monarchas Portu- REVISTA DO INS ARCH. EGEOGR, PERN, 71 guezes foro impondo em varios tempos, segundo as urgencias, ¢ circunstancias do Estado. Pede a rasiio, que démos huma ideia resumida de todos aquelles Tributos, antes que os ponha- mos a adivinhar a sua totalidade. 2. Os Tributos da primeira classe etio os tres segnintes : 1° Pensio, que todos os Engenhos pa- gavio annualmente, a qual em 1750 se arrematava cada anno por 1:000$000 rs. 2° Vintena do peixe, arrematada na mesma epocha por 200$000 annuaes: 3.° 80 rs, que por cada caixa de Asstear pagaviio os Capitiies de Na- vios, no acto de as receberem para seo bordo, arre- matada na mesma epocha por 450$000 : este ultimo tributo foi ao depois angmentado com mais 320 rs. em cada Caixa. Estes tributos foro reunidos 4 Coréa por de- ereto de 1654 ; nfio sem vivas reclamagées do Conde de Vimioso, casado com a Herdeira de Duarte Coe- Tho: e do Marqués de Cascaes, pertendente da Ca- pitannia de Itamaraeé : 0 primeiro porem néo foi attendido, e ao segundo ficou pagando o Erario a penso annual de 400$000 rs. 3. Os Tributos da segunda classe erlio os se- gaintes: 1.° Subsidio do Assucar ; isto he 60 re. por cada arroba do Assucar branco ; e 30 rs. por dita sendo mascavado ; era’ arremattado este im- posto em 5:2208 na epocha de 1750. 2,° Subsidio do Tabico arrematado por 2008 1s. 8° Subsidio das — Carnes — arrematado, no mesmo tempo por 18:000$ em cada anno ; durava porem S annos. 4.° Subsidio das — Garoupas, e Peixe secco arrematado por 160$000 rs. 6 Subsidio de 16$ por cada pipa de vinho do 72 REVISTA DO INST. ANODE, E GHOGR, PERN, Madeira ; © 9500 por dita sendo de Portugal, e has; ¢ todo urrematado por 4:000$000 rs, ‘Todos estes sinco artigos fordio tirados da ad- ministragdo da Camera de Olinda, e passario para aProvedoria da Fazenda Real, por Decreto de 28 de Agosto de 1727; ordenando-se no mesmo De- creto, que se dessem pela, mesma Provedoria 600$ rs. annuaes a dita Camera para Ihes adogar a magoa : ordenando-se-Ihes com tudo, que os gastassem com 0s concertos das Pontes. 4, Os Tributos da terceira classe erfio os se- guintes: 1.° Dizima da Alfandega por Lei de 1711; earrematada em 1750 por 32:0008 de rs. annual- mente. 2.° Dizimos Rewes do Assucar, ¢ de todas as producgées, e creagdes da Agricultura, e industria, devidosa S. Magestade, como Grio Mestre da’ Or- dem de Christo : e arrematados na citada epocha, ‘por 14:000$000 rs. annuaes, 8.° Pensio de 1600 rs, em cada pipa de Agoar- ente exportada ; arrematada por 1:680$ rs. an- nualmente. 4,° Novos direitos no Provimento dos Officios, e Cartas de Seguro ; arvematados por O56$ rs, an- nnalmente, ' 6.° Imposto de 1§ rs. sobre cada Escravo ; ede! 4$500 sendo pega: arrematado aunnalmente por 1:743$000 rs, 5, Todos os sobreditos ‘Tributos dato de tem- pos anteriores av Ministerio do Marqués de Pom- bal; ha porem outros muitos desde aqnelle tempo ;, muitos mais de origem recentissima ; resumirémos 8 principaes. 1.° Subsidio Militar, ¢ Litterario, imposto nas REVISTA DO INS. ARCH, E GEOGR. PERN. 73 ‘carnes verdes, e seccas : nestas 160 rs. por @, na- quellas 0 coiro de,cada Boi, no 600 rs. 2° Imposto de 86 rs, em cada arratel de ta- ‘baco ; com que se indemnisou a Fazenda Real pela aboligho do contracto de -~ Giro. 8.° Decima dos Predios urbanos : dita sob o nome de ciza na venda dos Bens de Rais, e meia ciza na venda dos Escravos Ladinos. 4° Imposto annual de 6400 rs. por cada loja aberta de Mercador ; e 4$800 por cada canda, ou batel. 5.° Sélo em toda a sorte de papeis publicos. 6.° Decima de toda a sorte de legados volun- tarios. 7° Imposto de 600 rs. em cada arroba ae Al- godao. ‘Note-se por fim, que—o Péo Brazil pertence exelusivamente 4 Corda, a qual somente paga 1$600 rs. pelo trabalho do corte, ¢ conducgiio de cada Quintal apurado, e approvado: Calio-se alguns outros impostos, menos signi- ficantes, para compensagdo de algum excesso, ane possa introduzir-se no arbitrario caleulo, que logo faremos. 6. Tass erdio, e tantas as fontes, donde corriao para o Erario as Rendas publicas de Pernambuco ; mas, qual era exactamente a sua totalidade? con- fessamos que néo temos, nem talvés seja possivel a ninguem, ter dados sufficientes, para resolver 0 problema. Seja-nos com tudo, permittido, rastejal-lo por approximagio ; fazendo uso de al,amas ideins ge- raes, € outras particulares, pode ser, que pouco nos apartemos do verdadeiro estado dos Negocios. Devemos aqui resalvar-nos, referindo-nos 20 74 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN. Balango de Lumachi, sobre o importantissimo xamo da Alfandega ; ¢ porque este sabio desoulpa a dis- proporgio de 62:3443, somma total dos direitos de 1808, comparados com 940:8988 total da importa- gio ; desculpa, dizemos, com muitas rasées ; sendo 86 huma admissivel, quo he ficar huma grande parte aa importagio empatada na Alfandega ; nos sup- poremos, que esta grande parte sobe a hum tergo. ‘Temos, portanto, que os 940:898$ da importa- go de Lumachi, equivalem a 627:2648 justamente dois tercos daquella quantia : o mesmo pois faremos Tmportagio, que no capitulo passado supposemos em 1816 ; ¢ entdo os 1,881:797$ fico redusidos a — 1.254:5208. ‘Neste caso temos a proporgio seguinte : “ G27:2648 : 8213445 1: 1.254:528 : 164:6885 ”"* Igualmente, nos Eseravos deve a proporsiio ser a seguinte Cab. 375 : 602§ :: 5992: 9,9627$ : em ambas as proporgies, os dois primeiros termos siio de Lu- machi. 7. Rastejando pois, e sempre respeitando de Jonge o sanctuario das Rendas Reaes, exaqui athe aonde avangéo as nossas curtas vistas. REVISTA DO INST. ARCH. h GROGR, PERN. 75 BRARIO DE PERNAMBUCO Bm 1816 1.° Direitos na Alfandera ori dalm. portagiio. . 2° Direitos dos Esoravos |» Subsidio de 308 Rézes pelo menos. 4.° Tmposto novo de 50s, eada couro 5.° 252:600 @ de Carne seven a 16018. 40:4008 6° Subsidio de 80 rs. em arratel de Tabaco ss... 15:0008 7° Decima de 258 casas, termo med. 68 — 150:0003 8° De 6000 Lojes abertas 63400... . -2:0008 9° Oizas, e meias cizas?...... 4:0008 10.° Dizimos de gados, e meuncas.. —_60:0003 11.° 368 @ de Assuear, dizimo de 9$ cai- xas 1$600. 0.0.0.0... 000, 57-0008 12.°Subsidio de 60 rs. de3248 w de Assuar.. 4.220.004. 16:2008 18.° 408 @ de Algodio, dizimo de sos saceas a 8$000.........4. 14.° Inspecodo de 3608 2 600... . Somma total... .. 2... N. B. Este caleulo tem relagiio com o commer- cio, ¢ Agricultura do capitulo antecedente ; como tio bem com o Mappa da Populagiio, que daremos no Appendix : 0 Tabaco allude ao Girdo. 8. Apezar de quantas arbitrariedades cerebri- nas possiio, e tenho de ser notadas n’este calcalo, ou estimativa, nos teimaremos sempre em chamar- The provavel, e approximado ua verdade : a nossa 76° REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR, PERN. interna probabilidade parece conciliat-se algnma exterior attengio, quando so reparar nas duas ra- sdes seguintes . 1.° Que naquelle caleulo se fizerdlo grandes, e attendiveis descontos ; ommitindo-se muitos dos an- tiggs impostos, algans dos novos, e parte das Ren- das Reaes, v. g. o contracto, ou negocio da Polvora, cartas de jogar, ea renda dascasas da Ponte, Praga da Polé, e Ribeira do Peixe, &0. 2.° Que os Revolucionarios publicario, e fordo acreditados, que no Erario se achaviio em-especees, ebilhetes a vencor, quasi tres milhdes de crusados : Somos testemunha da fama, que antes da Revolu- go ooria; a qual com tudo niodeterminava a quantia, se bem, que Ihe dava grande extensio. Deve por fim notar-se, que de todos os Erarios era o de Pernambuco que menos tempo tinha para Gescansar ; os saques, @ resaques da Corte, e de ou- tros Erarios ero quasi quotidianos, 9. Aqui nio podemos deixar deadmirar-nos das prodigas, e, av mesmo tempo, curtas vistas de Hypolito, repetidas nos —Investigadores Londri. nos — dizemos prodigas, por exigitem, que se faga — Muito com pouco — dizemos curtas, porque ava- liavdo as sobras annuaes do Erario de Pernambuco ‘em 400:0003000 somente ! Respeitando sempre as Luzes, zelo, ¢ intensoes dos segundos, responderemos ao primeiro, quasi no S20 mestnoestillo, ebom gosto: scilicat, que para que as sobras de Pernambuco fossem iio mesquinhas, seria preciso, que annualmente fosse aquelle Porto algum Brigue Serpente a converter-se em Fragata ; ou se reedificasse a Ponte da Boavista ; ou se alla, gasse.a do Reciffe ; on emfim continuasse o Banco a ser desentulhado. REVISTA DO INST. ARI. BGROGR. PERN, 77 S6 n'algum destes cascs, ou em todos junctos poderiamos, Sr. Hypolito, poderiamos suppor gas- tos, e dispendidos mais de 640:0008000! porem, como estas pragas sejio raras, pede a boa rasio, que sejamos mais economicos, Acresce, que os Profiessores Regios erio pon- cos e esses mal pagos : as tropas estaviio redusidas @ pouco menos da metade, mal comida, mal vestida ; © todos gritando pelos seos atrasados : ei que se gastaviio pois tantos contos ? 10, Para niio ser-mos accusados de desimnlar- mos a verdade, voluntariamente confessamos, que Pernambuco pela sua antiguidade, Dignidade, e Lo- calidade do seo Porto, era o Armasem Geral, em que vinhdo depositar-se a maior parte das produe- g6es, offeitos das Capitannias da Parahiba, e Ceard, mesmo da Parnaiba. Mas, posto que estas producgies fagdo ham augmento consideravel na massa geral du exporta- 40, e mesmo possio ser avaliados nhum tergo da sua totalidade ; nos temos, para compensal-lns, a maior parte das producgdes da fertilissima com- marea das Allagoas, e da do Pajai, que costumio ir em direcgio a Bahia. Ora, se estas consideragoes ; e mnito singular- mente aomissio de muitos artigos nio ajudio a fazer hum perfeito equilibrio, pelo menos deve-se- nos conceder, que ao nosso calculo sé poderio fal- tar pequenas, e despreziveis fraccies. APENDIX 11, Agora transcreveremos, em forma de Ap- pendix a este capitulo, o juizo, que fiis Beauchamp do rendimento liquido da Casa Real, e da expor- 78 REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR. PERN, tagdo geral do Brasil em cada anno : juizo, que se néo confirma em particular 0 nosso caloulo, ao me- nos, em geral, augmentalhe a probabilidade: nao deve esquecer, que no Schema langado no n. 6 do cap. 6 deste Livro Pernambuco he a terceira na or- dem das Capitaunias, que tinhio maiores relagbes commereiaes com a Metropole. Em todo o caso, desejamos entreter o leitor com coisas interessantes : e por isso Ihe apresentamos o texto de Beauchamp. “ Pensa-se, que, tirados os gastos da Admi- nistragdo Local, civil, Militar, e ecclesiastiea, a + coréa tira do Brail mais de treze milhdes de oru- “ gados. “O Commercio desta vasta possessio— o “ Brasil — deve ser considerado de baixo de hum “« aupliado ponto de vista. As restricgdes intro- “« @usidas por —- Pombal — durante a sna admi- « nistragiio, tiverio resultados felizes para a pros- “« poridade do Brasil, e para o interesse de Por- “< tugal.” “0s productos das Manufacturas estrangei- ras, esobre tudo das Inglezas, foraio proscriptos ; “« @ por consequencia da severidade, com a qual vi- “ giou na exeougio destas medidas prohibitivas, “ eompravao os Brasileiros om Portugal os Pannos eoutras Mercadorias, que precisayio, ao menos ** em grande parte: mas este systhema cessou ape- “ nas ossuceessos pusério Portugal, eo Brasil de baixo da absoluta influencia do Governo Britan- « nico.” “O Brasil exporta mais de cento, e sincoenta “ mil quintaes de Assucar ;e converte em chusma hum Dnende, sob a forma do Demonio: m hum Diaho emearne; oqual dangando contintamente o des: honestissima — Landum -- com todas as mntancas 100 REVISTA DO INST, ARCH. F GEOGR. PERN, a mais lubriea torpeza, acommetin com -- minga- das — 2 todos indistinctamente. Ora as graves, ¢ figuradas virtudes : ora os in- Gividuos penitentes : ova a plebe espectadora : ora as molheres, ¢ innocentes donzellas nas rotulas das ‘suas casas terreas ; tudo sem exceicio era acome- tido pelo tal Dinbo ! Por fim nas rnas_mais solemnes, e deante das Gallarias mais povoadas de Senhoras, aqui se desa- fiava com 0 espectro da morte, ¢ dangaviio a compe- teneia de qual mais torpe, mais lubrico, mais des- honesto se ostentaria nos seos detestaveis, e igno- miniosos movimentos ! ! 12. Pernambuco vio isto, e calow-se? viriio Paes, Maridos, ¢ esposos e nilo arrebentario ? virdio as Auctoridades Secnlares, e Ecclesiasticas, e nada fizerfio ? Logo, estava proxima a Revolugio ! con- cedemos a consequencia, pois que se segue Legiti- mamente de tudo quanto deixamos escripto. Apezar de tudo, lembramos-nos do que escre- vemos no Liv. 3. cap. 7. n.°3.° ¢ acrescentaremos agora, que 0 Poo em geral sabia compadecer a sua paixdo Realista com aquella soltira, e licenciosi- dade de costumes, e principios, porem, pois que sem Religifio no ha virtude de Lealdade, devemos coneluir, quo os Pernambucanos erfio Realistas por forga de o haverem sido, e por graga de nio terem sido dezencaminhados. Nos ignoramos, gracas a préssa, e energin do Exm. Conde dos Arcos ; ignoramos, e queremos ignorar, ate qual ponto os Pernambueanos serio constantes na Lealdade ao seo Soberano, se vives- sem seis mezes no voleio, que logo ini rebentar no Livro 7. ¢ Parte 3°, UAPITANIA DE ITAMARACA’ 1 — Por carta de irrevogavel doagio inder vi- tos, passada em Evora no 1.° de setembro de 1634, D, Jodo 3° fez meres a Pedro Lopes de Souza de offenta legaas na costa do Brazil, as quaes foram das do modo seguinte + en aronts Teguas ntre a ilha Cananea 6 a terra de Santa Anna, dez entre 0 rio Carparé e 0 de Sto Vicente 6 trinta que comegariam no rio Santa Cruz, que oérea em redondo a ilha de Ttamaraci, e fin- dariam em altura deseis graus na babia da Traigio. ‘Em apostilla langada na dita carta, em data de 21 de janeiro de 1535, declaron a corda que em vez Ge dez leguas fossem medidas desesois, ao modo € maneira que se conthém no capitulo desta Doagao, quefalla nas ditas dez legua. “Va se, pois, que a doagio feita a Pedro Lopes de Souza foi de oitenta eseis leguas ¢ nio de oitenta somente, como se tem dito ; assim tambem, que a data de 1634 do titulo, se acha quasi sempre con- fundida com a de 1635 da apostilla. ; ‘Aprova, de que nos servimos para a rectifica- gio do exposto, é de irrecusavel authenticidade, 6 a carta de doagio a Pedro Lopes, a qual enoon- tramos na Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, instruindo 0 processo que intenton 0 Marquez de Cascaes, D, Luiz Alvares de Atayde Castro Noronha e Sonza, contra o Procurador da Corda, pelo facto de pretender este destituil-o do 108 REVISTA DO INST. AROJE. EF GEOGR. PERN. dominio da dita capitania, em falta de auxilio pres- tado é guerra da restanragio, eno qual processo obteve aquelle acordam favoravel da Retagdo de Lisb6a, em data de13 de Fevereiro de 1685.— 2. No pouco tempo em que Pedro Lopes es- teve de posse da enpitania de Itamaracé, consegain fundar na ilha, 2 Jegna e meia da costa, no cimo de formosa colina, a villa Marial ou de Nossa Senhora a Conceigio, actuglmente decadente © proxima a extinguir-se. ‘Nantfragando e morrendo em 1539 no canal de Mogambique, quando voltava da India em commis- aio do governo, passon a capitania 4 sua filha D. Hieronyma Isabel de Souza, em falta de successio ‘masculina. Masnem ella por si, nem auxiliada por sua mai D. Isabel da Gamboa, poude continuar na ‘conquista e povougio da terra firme, apezar mesmo ‘dos esforgos empregados pelo seu capitio-mor An- tonio Rodrigues Bacellar, contra quem os poty guares, alliados entdo dos tobayares, faziam cruenta guerra, Para darmos idéa da tenacidade d’esse ‘pOvo, citaremos um facto que emos na esoriptura ‘de venda de cinco mil bracas de terra, na varzea de Goyana, aos 18 de junho de 1677, entre Boaven- tura Dias como vendedor, eJoio Cavalcante de “Araribe (Araripe), como comprador. Besa. escriptira, relignia preciosa dos muitos papeis perditos, quando transferidos dos cartorios de Ttamaraed para os de Goyana, existe no do Sr. Joaquim José da Costa Leite. Quasi todos os mais desappareceram na passagem do rio Santa Cruz, muito de proposito talvez para justificar o arbitrio do ouvidor triennal, o Dr. Feliciano Pinto de Vas- concellos, de fazer de Goyana cabega de termo contra a preeminencia de Itamaracé ea reclamagic REVISTA DO INST, AROM. E GEOGR. PERN. 109 do respectivo senado ; arbitrio esse que, foi toda via approvado por acto do governo de6 de outubro de 1742, Bis 0 facto que lemos = 3—Diogo Dias, abastado agricultor de Traeu- nhie, pedin © obteve de D. Hieronyma Tsabel de Souza dea mil bragas em sesmaria na terra firme de Itamaraci. Reconhecendo quanto és potyguares eram bellicosos e crueis, sem todavia, mostrar que os temia, previniu-se de homens a quem pagava soldo, e foi estabelecer-se com engenho de assucar 4 margem septentrional do Capibaribe-mirim, onde mais ou menos est por defronte a actual cidade de Goyana. 0 novo estabelecimento de Diogo Dias, defeu- dido por extensos vallados e fortins construidos nos aterros interiores, artilhados e presidiados, e donde se combatia com vantagem, repellindo os as~ saltos dos indios, mais parecia campo militar forti- ficado, do que fazenda ou herdade pacifica, onde © homem laborioso pede 4 terra a abundancia, a ale- gria e obem-estar, Mas, apezar do emprego da~ qnelles meios aconselhados pelas circumstancias, € que, segundo parecia, diminuiam de certo modo a esphera do trabalho agricola, vicejavam soberbos canavines nos mesmos logares em que pouco antes selvas impenetraveis escondiam os mais ricos the- souros do solo. ‘A pouea distancia do rio, alvejava a casa de vi- venda de Diogo Dias, aos lados as de suas filhas e filhos casados, e no fundo do quadro impunha-se avista os alentados e grosseiros edificios do en- genho e casa de purgar, seguindo enfileiradas al- gamas choupanas de trabalhadores e escravos. A 110 REVISTA Do INST. ARCH. F GEOGR. FERN. actividnde, a sbastangs ©.° socego dir-se-in teem ‘cide residencia. 7 ae (0 écho do fozit © do eanhlo dena siava ona ven por outra, que 0 s00eg0 nO Ho clave oovia mesmo um quer que fosse de melan Hon e presago naguelle pequieno Centro ao mov mento, ainda mais penoso ‘pela immensa 80 Mige de todos 0 lados parecia annunciar desastres Imminen** sreito, os indios mais proximos, 42520 ganados de que Tor si nada podian fazer, Droou- ganndoe jan marge do Sto Domingos (cio ‘Para- Hhybs),,e todos, dtigidos por francetes, asgontaram hyba) 6 de aar golpe cetteiro e decisivo om Mee ae as gnja pormanencia no Jogar excitera em OUTS Dias Go do virem ahi estabelecer'se, o que acon: cendo, tornarin depois mais sento mesmo a expulsdo jnvasores. impossivel, Modes dlvisGes Iagaram do Sto Do- seingos + uma em Janchas 0 pirdgas © out pela ssingos Fngaanto, ao chegat, wine atacnva, Pele norte, a outra ‘desembarcava a0 sul, © atacaria pela Diogo Dias, acostumado a repellir 08 assaltos os indios, den a principio pouea importancit 20 qne ouvia por aquelle Indo, mas depois tornou-se apprehensive sendo por isso obrigado a mandar 0s titimos homens que The restavam em auxilio dos defensores da sua pesséa e do seu lar, ‘Fatal coincidencia ! Sahidos apes oa ee as pirdgas ©lanchas os selvagens e francense 1% scommettian rudemente as casas &, NO meio da mais fnfernal geitaria, assassinavam 2 todos, ateando de- ‘pois o inoendio segninds avanto! Ossoldados.de Diogo Dias, cortados pela: xotae REVISTA DO INST, ARCH. EGEOGR. PERN. 112 guarda, deitaram a fugir, © 08 que nio foram logo apanhados pela morte, supportaram depois tor- mento mais afftictivo succumbindo no meio do incendio dos canaviaes, onde pouco antes se ha- viam internado. ‘Perrivel espectaculo ! Era noite : 0 contraste entre as trevas eo in- cendido das labaredas que corriam bramindo dou- dejantes em todos os sentidos pela superficie ; ‘As columnas immensas de fumo negro, que se ergniam umas apés outras, mostrando a espago linguas de fégo enraivecidas que atiravam para a atmosphera © brasiada residnos e fagulhas sem conta ; ‘As repetidas detonagdes que como descargas de fuzil, rebentavam nesse incessante labutar de rninas; O rugido longiquo, produzido pelo esforgo da resistencia e phrenesi da matanga ; ‘Davam a tudo isso a apparencia de um terreno yoleanico, no qual, cessando 0 incendio de umas cratéras, estouram de repente outras muitas, arro- jando de si com estridor pavoroso lavas e escorias ‘candentes aos gritos do susto e ds imprecagies da morte. Desta infeliz familia escaparam apenas Béaven- tua Dias, o vendedor das referidas cinco mil bragas deterra, por se achar casnalmente em Olinda, e um seu irmio que estudava em Lisbda, ea quem per- tenciam as outras cinco mil bragas. 4,— Por este e outros factos semelhantes, o vista aimpossibilidade de poder 2 donataria utilisar a terra nas condigdes da doagio, ordenou o governo Wel rei, D. Sebastido, a Diogo Lourengo da Veiga, governador geral do Brazil, que fosse expellir os 112 REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN. potyguares e seus alliados do Parahyba, e povéasse ‘a terra. Era esse o meio de desassombrar as capi- tanias visinhas das correrias dos indios, aprovei- tando ao mesmo tempo as terras conquistadas. Logo em seguida ao desastre de Aleacer-Kibir, suecedide quasi na mesma oceasifio, fallecen na Ba hia Diogo Lourengo da Veiga, e aquellas ordens nic ypoderam ser cumpridas, Nada se conseguiu tam- ‘bem no curto reinado do Cardeal rei, ¢ 86 no de Fi- lippe 2° poude Fructuoso Barbosa, nomeado gover- nador da conquista e efficazmente anxiliado pelo ouvidor geral Martim Leitdo, povdar a Parahyba. Expulsos on submettidos os potyguares e toba- jaras, as terras comprehendidas entre a bahia da ‘raigho ea barra de Goyana passaram para o do- minio da corda, em raziio de ndo ser possivel 4 do- nataria cumprir aclausula expressa, de povdur ¢ aproveitar a terra, para se nella haver de celebrar oculto ¢ Officio Divinos ¢ se exalear a nossa santa Fé Catholica com trazer e provocar a ella os natu- raes da dita terra, infieis ¢ idolatras, como pelo muito proveito que se seguirdo a meus reinos ¢ se- nhorios, ¢ aos donatarivs ¢ subditos delies. A coréa procedendo deste modo, estava de perfeito acedrdo com a clausula da doagio ; pois, s6 assim, e segundo as difficuldades que apresen- tavara osnegocios da Africae da India, conseguiria, sem maior dispendio, manter-se ne posse do litoral, Aisputada pelos francezes. O systema de colonisacdo, adoptado e aconse- Ihado pelas circumstancias, nfo era caracterisado principalmente pelo absurdo dos sactificius dos di- nheiros publicos e dos soldados do Estado em eneficio de particulares, investidos, alem dissv, de poder soberano ; mas sim pela imprevidencia da REVISTA DO INST. ARCH. EGEOGR. PERN. 112 conoessiio de grandes prazos, com faculdade de pos- suirem os donatarios as leguas que quizessem para 0 interior, ¢ de exercerem autoridade quasi illimi. tada, uma ver que as poodassem e aproveilassem a sua custa, Desde que isso se nti fizesse, tornava-se liquida a reversto para a coréa, ‘Nao era esse o melhor systema, ainda quando posteriormente adoptado pelos inglezes o hollan. dezes, como os resultados o mostraram, Mas, aceltas as clausulas, estavam todos na obrigaglo de satis. fazel-as. Foi dagnelln.reivindieagio parcial que se for- mou a capitania da Parahyba, capitania @ El-rei, por ter sido conguisinda com os dinheitos e sol. dados do Estado, independente ¢ administrada por governadores de nomeaciio régia, desde Fractuoso Barbosa até Joaquim Rebello da Fonseca Rozado, © ultimo dos tempos eoloniaes ; salvando um pe- qneno periodo em que esteve subordinada 2 Per- nambneo, quando este passou ao dominio da earda, vindo por ultimo a carta Regia de 24 de janeiro a 1999 restituil-a ao sen antigo estado de indepen dencia. Restitnido o marquez de Cascnes i posse da sua capitania, em virtude do referido acordam, Tta- maracé passou depois a corda por composigio ami gavel, e todo o seu territorio ficon sujeito a admi- nistragio do governador de Pernambuco, mas em relagio a justiga fazia parte da onvidoria da Para hyba, at6 ser separado e unido a comarca de Olinda pelo Aly. de 30 de maio de 1815. 5. —Dissemos em principio, que as trinta Je guas, concedidas a Pedro Lopes, megavam no rio Santa Crnz, que céren em redond.s a ilha de Ita- ‘114 REVISTA DO INST, AROH. EGEOGK. PERN. maracé, segundo a doagio, e findavam emaltura de seis igraus pela terra firme, na bahia da Traicdo, Fisaqui as palavras da carta : Comessarao (as trinta leguas) no rio que cérca em redondo witha de ltamaracd, ao gual rio eu ora puz nome Rio Santa Cruz, e acabarao na Ba- hia da Trayoio, que esté em altura de seis graus ; ¢ isto com tal declaragao que, a cincoenta passos da casa da Feitoria que deprineipio fez Christo- vam Jacques pelo rio dentro, aolongo da praya, seporé um padréo de minhas armas ; ¢ a0 dito padrao se langaré uma linha, que cortard a aoeste pela terra firme a dentro; ea dita terra da dita linka pura o Norte seré do dito Pedro Lo- pes &e, O padrao foi effectivamente collocado no logar indicado, e este 6 ainda hoje conhecido pela deno- minagio de sifio do Marco, que muitos chamam. do Marcos, suppondo derivagio donome de algum primitivo dono, ‘Uma prova recente, irrecusavel, acaba de con- firmar o facto : a esforcos do Sr. Dr. Francisco Ma- nuel Raposo de Almeida, o Instituto Archeologico de Goyana mandon reconhecer aquelle logar, e a commissio nomeada para esto fim, auxiliada pelas observagées @ insistente trabalho daquelle illus- trado cavalheiro, teve a fortuna de descobrir 0 re- ferido padr&o a poncos palmos de profundidade aa superficie actual do sdlo. © que nos parece certo 6 que a linha de Zoeste, isto 6: a que se tirou de leste para oeste, para dahi se medirem as trintas leguas para o norte, foi corrida pelo donatario, mas nio assim esta ultima, emrazfio do seu fim prematuro, e dahi a confusio os nossos historindores a respeito dos limites da REVISTA DO INST. AROI. ¥ GKOGR. PERN. 115 Parahyba, e os conilictos escusados entre as auto- ridades desta e da provincia do Rio Grande do Norte. Mas se nada se sabe de positivo, hasta o existente para dissipar todas as duvidas. 6. — Logo depois «1 conquista 6 povongio da- quella capitania por parte da coréa, mandou esta Aividil-a, e collocar marcos na linha de divisio, tanto a0 norte como ao sl ; @ isso, sem duvida, por ficar interealada nas duas capitanias particu. lares : a de Itamaracd, reduzida a sete leguas de costa, ex do Rio Grande do Norte, duada a Joao de Barros. Em virtude dessa rednepiio, os limites sul da nova capitania no podiain ser os mesmos da antiga de Pedro Lopes @ sens successores, da qual fora aquella desmembrada, como jé vimos antecedente. mente, pela impossibilidade de poderem apronei. fal-a, na forma do respective titulo. A linha di- visorin principiow ao sul: da barra de Goyana, (lado septentrional) 4 Caricé a0 poente; ea do Iado do norte: do pontal do Guajt a leste & povoagdo actual dos Afercos, tambem a0 poente ramo geral). Os marcos da dirisio ainda existem de tempos remotos neste ultimo logar, que esti egualmente em altura deseis graus eem menos de trinta leguas do padrao, e portanto na comprehensio da capita- nia de Pedro Lopes. A carta Regia de 27 de novembro de 1698, ai rigida ao governador de Pernambuco, Caetano de Mello de Castro, fez sentir ao mesmo governador que, achando-se dividido 0 districto das capitanias de Ttamaraci e Parahyba por marcos, vestituisse esta, por The pertencerem, os engenhos Abiay

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