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ARMANDO 8. MALHEIRO DA SILVA Para a Histéria da Oposicao ao Estado Novo A Candidatura a Presidéncia da Repdl Norton de Matos e o Boletim Elei no distrito de Braga (1949) do General es Livres BRAGA 2001/02 Para a Historia da Oposigao ao Estado Novo A Candidatura 4 Presidéncia da Republica do General Norton de Matos e o Boletim Eleigées Livres no distrito de Braga (1949)- ARMANOO B, MALHEIRO DA SILVA“ ‘Mesmo na noite mas triste, noite de servidao ha sempre siguém que resste, hh sempre alguém que ciz niot (ave 20 vane gue pase, de Mano Alegre ‘unendo Aerlano Corel de Ciera 1, UMA OPOSIGAO “INDOMDA E INDOMAVEL” ', HETEROGENEA & IMPOTENTE... O previsivel e desejével incremento da historiogratia sobre o Portugal do ‘Tempo Presente”, 0 sistoma politico-ideologico do Estado Novo, a sua repro- dugdo cultural, coneretamente no seio da Universidade de Coimbra, o corpus doutrinério © propagandistico do seu Ider, Anténia de Oliveira Salazar, @ 8 * Uma prmsia vee, mais exons, deste stun fol conceida © srk publeada nas Actas ‘das Jomadas Ge Hite Local roalzadas o etodas pela Camara Muncial de Fale e pare ai se remeteo sce da present versio im de que possa fear com wa vsao mais completa do tera Professor Auli da Universita do Porte @ remove ao Cele 20 (Canto de Estedos Ioteniscipinares sobre 0 eéculo 2X ca Unvoridad do Coimbra). "Ver Lina cposieza indomada e Indamavel. Campanhe eipiora! do general Norton de Matos 194849, Calioga. Lisboa, Bibvioteca Museu Republica e Resisténca/Camare Muniipal e Listes, 1904 "Em 1878 ra fundad er Pats, por decisdo conunta do Prenlr Mingo @ do GN, o nsnur arise a Tarps Patani om o cbjechve de heréar a prossequra trabalho do Comid \iHfstoe de In 2 Guerre Mondiale de contour pera 0 deservohmente de esudos sobre @ Fistora mais rocante da Franea = de outos paises. A peosizagho dassica em quatro sad Precistnce, Mésa, Moderna @ Gontemporanea —, a, ena, conraposa uma répica Inst onal, ustRceda nao prlongamenta tvalinida & siren nn parngn nartamnrina, nae ‘guado pos Rovolugio Francesa (1789). Segundo esta perpeatv, a corjurura de Ente Guerres (1918-1830) e. eclosso da Gusra Mundial marcam um nove ilo htc, europe © univers ‘que alguns Hléseos © scisagos tendem inegrar na chemada pde-nadernede 328 postura ¢ ciscurso(s) da Oposigao republicana e democratica ao Salazarismo, identiticada com os velhos corifeus do regime derrubado em 28 de Maio de 1926, nomeadamente o prestigiado general Norton de Matos, esta em curso de forma cada vez menos titubeante e insegura ¢ cada vez mais sustentada pola produgao de andlises manograticas de flego e de ambito diversos, sem 5 quais é cificil, para nao dizermos impossivel, avangar com sinteses consis- tentes @ explicativas. Contrancio a atengao apenas no segmento oposicionista da vasta tematioa citada, protendemos revetar aqui alguns elementos desconhecidos sobre a can- idatura do general José Mendes Riboiro Norton de Matos (1867--1955) com particular incidancia na aogao propagandistica da Comissdo Distrital de Braga, presidida pelo combativo resistente republicano @ democrata, major Miguel Augusto Alves Ferraira (1878-1961) ¢, abrindo, assim, caminho a posteriores posquisas mais aprofundadas sobre as eleigdes presidencials de 19499. Sugere- 59, por isso, que este esiudo seja encarada apenas como um primero @ limitado ccortributa para o conhecimento histérice mais amplo ¢ rigoroso do assunto em foco, embora no passa também deixar de ser mais um passo dado para a ‘contextualizagio @ a compreensio histérico-biogrética global, a “corpo intro’, o raterido general, figura amplamente prestigiada nas hostes oposicionistas © tratada com algum cuidado © deteréncia pelo proprio Estado Novo. = Para ums vo propecusca e global em temas biebiblogréions ver Noon de Matos (1857-1055) no 25° anivarsano ae sua mart. Cailoga da exposizo na Bibotaca Nacional do LUshoa organiza pala Gramio Lusitano, Loa: Bibictoca Nacional, 1880; @ Una epasicdo indamads © idomdivel, ob, et. Ver sabreludo NORTON, Jose — Novton de Mats: Biograia Troetenas do tonpe. Usbos. Berend Ettore, 2002 * Vera seluce Bogen de COIMBRA, Aru Ferera — Major hguel Ferra. Uma lego 4 theraace. Fate: Comars Muniiosl, 1965. E chama-se a atongao para dois aspects crcuns- tancias cam algum interesse seco-polfi: 0 padhnto 0 baptsmo 60 reerda majo fol © Dr Miguel Pinto Martins (1629-1801), eaustdico famoso natural do Perto © readants om |mnaranta, to mateo da mulher do Prasideno-Rel” Serio Pale (1872-1918) o Gordo Paro Progracstia em Amarante © Marco do Canaveses; @ dass soeinhas do major Miguel Fela taearam com dois destacados cpostionsias — 0 medica José Amaiso Voiga Pies 0 0 coronel Helder Armando dos Santes Ribeiro (1889-1973). Saxe este ver feapectvo verbto In ROSAS, Femanda € BRITO, J. Mi. Banddo do — Diconario de hisida da Estado Nove, val. 2 Lisboa: Chula de Letores, 1996, p. 843: © ainda Coronel Helter Ribera, Comespondénea recebise 13902-1091) @nolas utoboaralas. Coardenar0 e estudoinodtérade Francisco Abdio da Siva, Pero: Universiaade ParucalansrLiga das Amigos do Museu Mitar do Porto, 1987 2 No Smt de um projoco edtoral ¢ de pastuica © Garera!Norlon do Matos @ 0 seu Teme, 1857-1865 nsorto no plano do atuidades cercas d9 Cento Ge Estudos Ines ree do Seoul KX (Cel 20 da Unvesisede da Commo, estéproviste a elaborarda oa pubicagdo {de um estido iad #e Finpdes Presidoncine de 1949, Mister de una candi * ruthado © noutalizaco apds 0 golpe de 28 do Maio de 1828 w ne década de int, fe acorda com a statégia hogemnica de airapso da diadure maar edo slazarismo, Norton {Mtoe torn ra dads seguine ura persoragem respeltaca pela Sua dade @ pelo seu Sendra, por axemplo,conceda, a sou pod, ut 909 Mas se é um facto mais ou menos consensual a importancia o prestigio agregadores de certas figuras, como a de Norton de Mates, no seio do mov'- ‘mento republicano oposicionista, também vai-se tomando ébvia a constatacao cde que 0 “reviralhismo” irompeu e fol alravessado por uma funda diversidade «¢ helerogeneidade internas. Com efeito, se soguirmos a definigao desse fend- eno poliico-milter adoptada por Luis Farinha, ou seja, que 0 raviralhisma constituiu a mudanga que visava instaurar 0 canstitucionalismo democratico € as liberdedes fundamentals” apés a eclos8o do 28 de Maio, temos logo de reconhecer que nele, camo o mesmo autor reconhece, desaguaram todas as ‘Aguas da oposipao republicana democratica liberal — formado, de inicio, em tomo da esquerda republicana e dos miltares radicais, integrou de seguida @ intelectualidade seareita, mais tarde sogmentos moderados do democratismo do liberalismo conservador @, por ultimo, o incipiente Partido Comunista Portugués® @ a ainda poderosa Conferederagao Geral dos Trabalhadores de orientagao anarco-sindicalista, Erguida, pois, sobre esia mesola de tendéncias, ‘a estratégia reviralhista, enquanto durou — e ela ainda conseguiu durar mais. de uma dezena de anos? —, tomou-se a meta inevitavel de uma oposigao republicana e democratica que, segundo Fernando Rosas, apresenta dois tipas pensho mensal davida @ ganerais relermedos condcerados com a gif-cz da Ordem da Tore ‘eapaca, do Valor, Lealiace © Met (ct. Potala do Ministerio do Exércto, iia do Govern Lisboa, 24 eee, 266, * do Setembro do 1952), TOL ARINHA, Luis 0 Revialho, Revltes republicanas contra a dtadura © o Eslado Novo 1926-4940. Listoa: Edioval Estapa, 1988, p. 16. ‘Ver para 0 periodo em aproco PEREIRA, Jose Pacheco — Alvaro Cunnal. Uma bagraia police. Dane 9 jovem rewdlucondiio (1912-1841), Veluma 1 Lisboa: Cirle Ge Letores, 1999, 5.905 ese + Luis FARINA rterrogouse @ aneslou uma expla exploratiia para osucedo: Seas tangas 4 esquorda do foraleceram o revrano, qualmento pow fecundos se mostaran os ‘nondentcsenladbs & sua cra, ve” com os nacional-sinceaists "oes" quer com sectres ‘escontontes do deignado Penetrane™ A “aanca de fds conta Salazar’ onde eabiam alam {oo to sispares © cntadtron 6, para af6m do mass, sniemate do estado de desagregngto = fue havin chegado cada um des cargos cpastionsis. Na verdad, seo Estago Nove tvesse _Sogebrado on 198435 ou om 1208, efeamente se cansegusmagina © que podria nessa aura er Surgico om sus subst, sen um gine decaradamentafascista, Como aelmante econ ‘am alguns Roviaislas, a paride 1823, era perso adr @ supremacia pola tar do ‘Ent Nov, apolado pela esmagadra maior da eta rata peas classes mcas que aterm Ianto Unban sido cs sustontécies da | Pepi, Convo esse , sem div, 0 quaco herp lati que mator conven para exncara onze do ieralsm e do regime democaiea ene as chias iquoas e, bem asin, a desagragapao do fore movimento que se Ihe opts em sucassivastntativas Favolicondias Caride ente detarminades ffs inposts pela impossibiisade ds rvolieio Dolce» opando, nao eras veres, paruma eealigla mederada o eotoalsl, a opsi¢ao cepub Bana con naire casos, deforma inrecn, os dacipnine co tar No antant, rsiro estas Greuetinaias,convsm retmbrar que quando deccam parcipar no pracesso eietoral promevice pola Dadar, os Revanstas 0 faziam com a inionglo do fovara legate e decir condigees para promover a Revauigso democriten (Ct am — O Revie, ob. cp. 298-287). 320 istintos de performance politica: comegou por pretender a restauragao da | Repaibiica, corcegida, porém, dos vicios 9 erros anteriores, pasando nos inais (da década de quarenta a delinir-se como atlantista, pré-americana e dstensora da NATO, anticomunista tanto interna como exlernamente @ adapta de um processo Ge transigao pacifica do Estado Novo para a democracia; © apés o comero da guerra colonial, em 1981, a maioria do republicanismo tradicional, afomrado 4 ‘daotoqia colonia! da | Repibloa, recusa-se a aceilar o principio da aulodetorm rnacao 0 0 direlto 2 independéncia dos povos das caténias, delencido, mals ou menos explcitamente, pelos sectores da esquerda oposicionista, proferindo a apologia cle pottica colonial reoublicana ou, nalguns casos, prestando mesmo apoio ao regime no seu esfarpo do guerta colonia!” Vejamos, aliés, em tracos meramente incicativos, a metamorfose orga nizacional que essa oposigéo sotreu desde a fase de incubagao co salazaris- mo aié 20 aclodir da Guerra Fria (1945-1989) " Antes ainda da promulgagso da Consiituigéo de 1933 fol mantida a existéncia legal dos velhos partidos da nova Republica velha (1919-1926), Surgiu erm 1927 0 Grémio dos Combatentes da Republica ® e em 1931 cons- litu-se legaimente a Accao Republicano-Socialisia (ARS), congragando per- sonalidades do velno Partido Republicano Portugués-Pariido Demooratico (PRP. -PD), do Partido Socialista e de outras formagbes partiarias, oom 0 propésito claro de concorrer as aleiges municipais realizadas nesse ano". Em 1932 surgi 0 efémero grupo da Renovagao Democratica, animado por jovens republicanas, como Pedro Voiga, Alvaro Ribsiro, Delfim Santos, Lobo Vilela, Mario de Gastro e Nuno Radrigues dos Santos, alguns dales com vocacée filosética © que desenvolverao, nas margons do regime astado-novisla, a corrents eclética da iilosotia portuguesa". Of ROSAS, Femando — Oposigdo republicans. in Diana do histéia do Estads ‘Novo, value F Liseos: Gveo de Lelio, 1298 p. 685-505 Yer MOURRE. Michel — Diora de Nitra awiversa, vol 2 Lisboa: Circulo de Letores, 1888, p. 601-604 " Gomecemos © Maniesio # nado Portuguesa, visas pela Comieséo de Census Imoresso numa folna de cartaz, rena ¢ verso, em Lisboa, 5 de Outubro de 1227 Ho Arquivo e Bibbteca do General Neon de Matas anconramos uma verso dactlos: nla 2 quimico do Manifesto a0 Pala eprasentado 20 pUbiog no momento a sia oonstulga legal. Tom data de 2 de Junto do 1981 @ sompunham o Directo os soguites nomes: hear Aanisnio Gilsiniaro da Fonseca: Amica’ Ramada Cure; Anion de Aimsida Are, Caroa Belo de Moraes; José Francisca de Azevedo e Siva; Jose Mendes Cabocadas ior M. i Noron de Kstos; Maio ¢Azavedo Gomos; Miia de Castor Mauricio Costa: «Tito do Morals, A sede brovssna erm ne Genie 10 ue tot, Rus do Mundo 1/2", Lise "or uma sinteso paresar, mas recone om Histéla do persamanta Alessio porupuds. Vol. 5 tomo 1 == 0 Séeulo XX. Dir. Pacro Calatte Lisboa: Edtorial Camino, 2000, p. 187258; ¢ também GOMES, Pinharanda — Dicondio de lasota poruguasa, Lisboa: Puicagios Dom Ourete, 2687, p. 101-108, 331 Frustradas as expectativas golpstas e revolucionérias da estratigia rev ralhista, a oposiego repubicana comegou a softer, sobretudo apés 1935, os eteltos desmobilzacores do exio (am Franca @ no Brasil). No entanto, 2 resis tBncia & ameaga fascisia, secundada no terreno pela rede sécio-poltca polarizada sobretudo em tomo do PAP-PD prossegulu através da génase de equenas grupos como 0 AAA (grupo Antifascista, Antimiltarista e Anticlerical, liderado por Basilio Lopos Pereira de foigao republicana-macénica). Elémera {oj também a Unigo dos Combatentes Republicanos-Alianga Liberal. Com 0 regresso a0 pais, em 1940, de certos vultos opesicionistas, come Sorardina Machado (neutralizado pola policia e com residéncle fia na sua terra natal) © Jaime Costesdo (pouco depois preso © expuiso para o Brasil, © a adesao patritca de outras figuras & misséo nacional do Governo face ao rumo incerto e grave da Segunda Guerra Muncial, a postura, pelo menos, de uma parte signticativa do republicanismo oposicionista evidenciou a adapeao, articulada de forma cimplice com as autoridades britnicas, de uma trégua poltica osc que Portugal se comprometesse a respeitar as seus tradicionais deve- res com a Gra-Brotanna, velha aliada Sucedeu, porém, que a ambiguidade da politica extema salazarista"* no inspirava contlanga e dai integragao de diversas porsonalidades civis © miltares igadas aos antigos partidos e & Magonaria no Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), criado por inicativa do PCP e que chegou @ ser presidido pelo general Norton de Matos. Esse movimento, através da sua ‘comissao miltar @ a partir de 1943, acoineu a reactivagéo do golpismo de tradigao revialhista, contréria a “teso" do “ievantamento nacional” ioninista @ ‘soviético preconizada pelos comunistas. Tal orientagao levara os democratas ‘oposicionistas a oscilarem entre o ‘putschismo" ilustrado pelas acg6es milla res palacianas de Janeiro-Feversiro © de Agosto de 1945, da “salda em falso” {da Mealhada em Outubro de 1946 0 0 10 de Abril de 1947) e a participagao eleitorl, de novo usada pelo Governo salazarista como manobra de abertura para consumo extemo e legilimacdo face &s consequéncias internas e exter ‘nas do pés-guerra. A “via ordeira" de contestagéo ao regime gerou a Unido Democratista (Ua, cujo Directério Nacional Provisério divulgou o respectiva Fundamento em § de Outubro de 1943) @ o Movimento de Unidade Democré: “Sobre esta noeto oporatiia ver SILVA, Armando B. lnc aa —~ Signo sidons- me, Hite @ mio, Dissonacdo de deutoramento em Histéna Contomperinea de Portal 0.1 Braga: Universidade do tino, 1997, p. 120, Idem; DAMASIO, Luis Pmnenia de Casto — ‘Antéeo Cindlo, Siséno Pais ¢ a ete police amarantne, 1050-1922, Elemenios para oestuda ‘aasrr20s famiavas de Antonio da Sousa Cardoso. Amarante: CAmaa Municipal, 2000, . 18:20, “guise breve inrugao a0 Yoma vet IELU, Antonia Joes — Portugal na segund _quora (1947-7948) 2a. Lisboa: Vega, 1951; @ CARFILHO, Masia el al — Povagel na segunda ‘quera mundial. Contibutos para uma resvatacdo. Lisboa: Publearses Dom Quixte, 1968 332 tica' (no slo do qual se formou, também, 0 M.U.D. Juvenil™) que cisputou as eleigbes legislativas de Outubro de 1946 em condigdes adversas, tendo repe- tido, apesar de tudo, a aposta eleitoral em face das presidencials de Fevereiro de 1949, Mas se, por um lado, as metas eleitorais tragadas contribulam para unit as dispares hostes oposicionistas numa frente Unica e com élan suficionte- mente mobilizador, por outro, as circunstancias intemacionais derivadas do clima de tenséo entre os dois blocos emergentes — americanolcapitalista © sovitico — afectaram 0 relacionamento dos oposicionistas portugueses, agravando-se, desde 1946, as divergénoias de concepoao téctica com a esquerda opesicionista, polarizada pelo PCP, acerca da forma de combater © regime, prasentes desde o inicio do MUNAF e acentuadas durante as eleigées de 1945, Diante das eleigées marcadas para 13 de Fevereiro de 1949 a discérdia intera complicou-se por causa da ida ou no as urnas: para © candidato oposicionista, seus corraligionarios ideolégicos @ apoiantes mais ‘ou menos incondicionais tratava-se de um dever de consciéncia assumido ‘© Hovimento da Uniade Democratic realizou, am 20 da Novembro de 1846, no saléo 9 A Var 30 Operdrio uma impertate sesso de propaganda, nde estado prosontes membros ies respectvas Juma Gonsultve @ da Gamissie Cental. Corposipao da Juni: President, Norton de Matos, genera: Vie-Presiente, Antero Sigi, escrito. Seeretso, Ferra do Mace- 10, protessorcaledaico da Univereltade Téonice do Lisboa; Vogal, Alexensto Viola, aac, Camara Reys, professor e escrter, Carls Olavo, advogado e escir Erfio Casa, professor & publi: Ferando Fonseca, professor caledréico da Facudade de Medina de Lisboa; Joo de Barros, potssore csr, José de Maga, méico © pubicisa: Maio do Casto, advogado fe publcisla; Racha Martins, escrter: Te de Moraes, amie. A Comisséo Cental compu- nase de President, Prot Mario de Azevedo Gomee; Vioo Presidente, prot. Bento do Jesus Caraga: Secreto Miao Soares, estadante: Vogals, Mala Isebet de Aboim Ingle, profeseora; [berto Dias, optério de constiugao cl Anténi Lobe Viola, professor 9 pubcisa: Damétia Duarte, contabista: Femango Mayer Garglo, avogaco: Helder Fido, eorane; Luciana Sert80 {1 Movie, mesien: anus! Mendes = Manuel To de Morees, ngenmesra. Ver opuscuo A Sexeda ‘do 30 da Novembro do 146 do Mevimanto de Unidas Democraia, Lisboa: Eco da Comissh0 Central Go MU, 1946, @ também a separate de arigo publeado na jnalbrasleke Covrese de Manna 3 do Agee do 1046: 4 Varaade sobre 0 Fascieme orm Perugal. Sen, [948) "Em Oututre de 1848 « Comisato Centrel esse movimenta cstuiu um comunead de pola & Candidatra iniiado Unidada da Juventide Prograssita © Damocraica em Defesa do [MUD vont em dofesa da Candidate do gonerai Norton de Mtos "Of ROSAS, Femanco — Opasicgo republcana. In Diclandlo de histéria do Estacs Nove, ob. ap. 696. "pre lorem conta arpa o hearogéneo logue do ogas polio Wengias, a saber: republicenos e ibersis insependntoe; cleicos democratic; monarquios progress; confede ‘pba gorl co eabale; serach naconel see mulhaes patoguesa soara novel megane poe ‘ese; partis comunistportupuésurido sci; paris soit portugus (seco portuguesa 4a ltornacnel opera): jventude do movinante do urdade dmocrates; mowmant Go undade nacional anifascsta: e parte repubscano portuguds (cf. Orgaigrama das fos poticas polaris 4a esndasnura 36 Norton Ge tees la Uta Opasieto inomede © nsomve cb. ct. 2. 2a), 333 perante 2 massa considerével de simpatizantes, enquanto para os comunistas © seus aliados a campanha devia servira tactica insurrecional. Retira-se, alias, {que 0 Estado Novo sous tar partido dese crescente mal-estr, quer denun- ciando a alegada presenga “antipatridtica” dos comunistas na cancidatura pre~ sidencial de Norton de Matos, quer obrigando este a sair a terreiro com decla- Tagoes publicas de patriotisma & de defesa dos velhus principius democralicos e liberals. Como se jé no bastasse esse clima desestabilizador, 0 previsio acto alvitoral esteve, desde 0 inicio, armadithado pela traude e pela falta de condi- (050s justas e igualitérias; esteve, onfim, viciado de raiz... Presa, assim, a um Jogo ganho & partida pelo candidato do regime, a oposig&o, por muito “indo ‘mada ¢ indomavel" que quisesse ser, acabou vencida pelo divisionismo e pela impoténcia. 2, UMA CAMPANHA AMORDAGADA... 2.1 “Auto-Retrato” de um lider Em vez de inseritmos aqui o desenvolvido pert biogrético que pode ser Jido em outto trabalho %, parece-nos mais apropriado "dar voz" ao préprio General Norton de Matos e deixé-lo apresentar-se publicamente através das Lage na Abertura do pemeke we de propaganda da candidature © general afima peremploianerte: Este thro ala fora nacessidade de Ser pubload, gastando-se nao fapo, Couseinestindvel em qualquer candidatura polica que apenas sea apoiade pea tberdade dos Dares e na oping pubic vimento fundamental ds politica do Pals, coma diz Constiuieao (igente). 86 6 Cannio aa Opasiego 29 actual regime, seu auto, néo fsse etrigado a uw) ‘iene quase absolut, mpasto pela Consura 2 Imprensa. nzo podendo usw. para dar canhec ‘mento ao publce ea menor parcels da natureza da sua Cardidatura, dos seus abjectivos ots 8 {ho aspecto rdera aga ainda que da mor niansldace 9 da mats abouts inransigencla que Uieseja dar 4 cua propaganda, dos jomals porupueses, pubicando nes artgas, noticias @ ‘eprasentagoes da sua lava au devidos 88 penas lustes de colaboradores seus. EMeior moto (ava do desaperscmento da necessidade de pubiaeao desta Uv, 0 nao lovantarem os regula- Imentos portugueses obetdcuoe, quaseinsuperivei, a publcaeae de um novo jomal. Com um Jornal que lose ergio ca Candidate do Opasigo, tudo 0 gu9 neste fro se encontra @ mui Inais sena dito 6 roto em nimarcs sucessives (Cl. MATOS, Ganeral Norton de — Os Dois primeios meses da minha candidature a Presidnola da Republica Listos: Eco do Avot, 1943, 810) Var teem varios documentos da Cansidaure,nemeadamerto carla ao Presidente do onsetio, Dost Antdno de Olvera Sslazar, com veomontes protesis conra a apreenslo de ubeagées pla Policia Politica ou pela vgn poll Intmidatta om reuniges fe propaganda Epostcorety a wane MATOS, Goneral Nonon de — Mau quatto meses Je minha oondtura 2 Prosidincin da Replies, Pato: Eaiaa do Autor, 1949. "Vera reedigd pela mprena da Universsade de Coimbra da bia Memérias © Taba Ios ce Minha Vid (no pel) 334 Notas Biogréticas que figuram no inicio do livre Os Dols Primeiras Meses da Minha Candidatura Prasidéncia da Republica: ‘José Mendes Ribot Noston de Mattos, Genaral reformado. Nas- ‘cou em Ponte do Lima, om 28 de Marga de 1867. Habitagdos Moravia: Bacharel em Matemdtica pela Universidade de Coimbra; Curso do antigo Corpo da Estado Mrior da Escola do Exéroito; Professor de Geo: ‘iésin © Topagrafia do Instituto Superiar Técnico, Obras ¢ wabathos prinipais publeados: “Os Servigos do Agrimensura @ Cadasto na india Portuguesa o a Iriengulagao desta terri", 1 volume; "A Provincia de Angola’, 1 vol. me; "Meméries", 4 volumes: Vérias conferéncias e artigos em jornais ¢ Fevistas. Varia logislagdo miller @ colonial da eua redacgéo, Servigas prinajpais execulados Organizagao e virecpao dos Services de Agrimensura e Cadastro da india Portuguesa; Direcgo das Obras Pubicas da india Portuguesa; \Missao ciplomatica & China, sobre Macau; Goverador Geral de Angola (1912-1915), Ministio da Guerra durante a 1 Grande Guerra (1215- 917); Alto Comissério da Reptiica em Angola (1921-1923): Embaixa- {dor de Portugal om Londres (1928-1826). Foi minisro das Colénias, cargo donde transitou para minisiro da Guerra. Deputado em varia legislatures ‘coma membro do Partido Republicano Portugués Partcipagao no desenvolvimento dos torntéros portugueses do Utramar Grande parte da sua vida (peito de 20 ancs) passou-a em servigos no Ultrarar. Condecoraeées poruguesas: Gran-Cruz das Ordens de Torro @ Espada, de S. Tiago © de Avie; Comendador da Ordem de Cristo; vatias medalhas, Condecorapdos asirangeiras: Gran-Cruz da Ordem da S. Miguel eS, Jorge (inglesal; Gran-Cruz {da Ordem da Coroa da 8éigice; Grande-Ofclal da Legiao de Honra Um abreviado curriculum vitae que surge repetido no volume Mais Quatro Meses da Minha Candidatura, editado em 1848% @ que viria a ser Substanciaimente enriquecida para as badanas da sobrecapa de papel da ‘edigao encademada de Africa Nossa, em 1953. Encimados pelo retrato a meio corpo em traje oficial (reproduzido, allés, em cartazes da sua candidatura ®Cl. MATOS, Genstel Norton do — Os Deis animales meses de minha eandidahins & Prosidéncia da Replica 0. op. 7- Cr. Mem — Mais quatre mases da minha eandatura & Presidénaa da Republic, ob ct, ase, 0}. idem — Aca nossa. O que quaremos @ 9 qua nda queremos nas nossas tors de -Alvca. Porte: Eases Mavanos, 1963 ina “orahas” Ga Sobrecapa, 335 a Presidéncia da Repablica* os Dados Biograticas cerzides constam do seguinte: Nasceu em Ponte do Lima, om 28 de Margo de 1867 Bacharel em Matemética pela Universidade 69 Coimbra em 1888, Esco bacharelalo incluia as cadeiras de Fisica, Quimioa, Bolinica, Geo- logia © Minaralogia da Faculdade de Filosofia, « = da Eoonomia Poltios dda Faculdade do Direc CGonelu © curso de oficial do antigo Come do Estado Maier, Escala do Exérelte, em 1890, ‘Seguiu para a incia em 1808, @ nesse terriério portugues seria 10 anos, sem vir & Mottopol. Nomeado Director da Reparigée de Agrimensura do Estado da Inia, lugar que aumulava com 08 Servigas de Geodesia e Cadasiro, que faziam panto daquela repartiga. Na india exocutou a iangulagio secundivia do terit6o, ¢dalxou «quase completo o cadastio prodial, rural @ urbano. Exerceu com acumu- Iago de servigos, multas comissGes, como a de administrador das Matas, iractor das Obras Piblicas, momira do Caneatho a Gaverno, delimite- 9608 do terttrios, etc, oe Fo} encarregado de vérias misses @ India Inglasa, sendo a maioria delas de estudo da organizagao do cadastra, do ensina téenlco @ de oultos servigos da administragda inglosa, Veltando a Portugal segui para o Oriente, @ fim de secretarar a smissio ciplomitica presidida pelo general Joaquim Machado, tendo por fim a resolupao de assunios diplométicos com a China, Fgressou Portugal em meados de 1910 © passou a fazer sorviga no Corpo do Estado Malor. Foi colocad na Divisio Militar com seca em Visou, onda ‘88 demorou pauco tempo, porter sido mandado exercer, em servign de Contfianga, pelo general Correia Barreto, onto Ministto da Guerre, 0 lugar do Chefa do Eetada Maior em Coimbra, Nossa altura foi nomaade protes- sor de Geadesia @ Topogratia no Institute Superior Téenieo, mediante Em 1912 foi nomeade Governador Geral de Angola. sua adminis trapdo revea-se imeciatamente por um alto sortida de raforma. A Provincia Civliza-so, coloniza-ce, anima-se progrde auspiclosamente. Publica, ‘durante 0 seu governo— 1912-1918 — a importante cicular de 17 de Abr de 1913, diploma de regras e principos cléssicos de politica colonial ‘Angola conta-o, entre 08 seus govemadores, como um dos que ‘mais propugnaram, com acrisolado fervor, polo seu engrandacimante. Em 1815 entra no governo da Nagao, primsiro coma Minisra das CColénias © depois como da Guorra. & nesia amergéncis que aparece 0 brgarizador do Exército Portugués e surge 0 milagre de Tancos. Em Africa e na Franca, tomamos patte na Grande Guerra com uma represen \agao superior @ cente @ tnta mall combatontes, ‘Ver Ui oposipdo indomada & indomavel, ob. et, capa, p. 20:21 336 ‘Terminada a quer, fal nomeado para fazer parte da Delogaaa Portuguesa, na Confaréncla de Paz [Em 1920 fo! nomeado Alto Comissario da Repdblica em Angola, tomanda posse desse cargo no dia 18 de Abril da 1321 Fo! um govarno de grandes realizagses, sob todos os aspectos. Em 1822 e por inicativa do Alto Comissério da Republica real 2zou-se em Angola o Primeiro Congrasso de Medicina Tropical, onde se reuniram sumidades médicas de todos os paises, Em 80 do Junho de 1824, e a seu pedido, delxou de exercer a3 fungées do Alto Gomissévrio da Flepdblica em Angola [Em 1924 foi nomaado Embalxadar de Porlugel em Londres, lugar ‘que desempenhau alé 1926. ‘Em 1949, salictado polos seus amigos ¢ aplaudido por grande parte do Povo Partugués, apresentou a sua Candldatura a Presidéncia da Repébica Polos servigos presiados & Nagao Porluguosa, foram-ihe atibul as: — & Gran-Cruz da Tore © Espada; a Gren-Cruz de Santiago; a Gran-Oruz de Aviz @ a Comenda da Ordem de Cristo, Nagées estrange’- ras distinguiram-no também tendo-o agraciado com as seguintes conde: coragées: a Gran-Cruz da Orem Brianica de S. Miguel ¢ S. Jorge; @ Gran-Cruz da Coroa da Bélgica @ Gran-Ciicialato da Legido de Honra. Esle texto saiu publicado Incomplete por manifesta falta de espago. De fora ficou a relagio abreviada das obras © legislagao mais signiticativas *, aigumas das quais foram incluidas nas Notas Siogrdficas do candidato a Presidente, € apesar de diferentes quanto & extensao os dois textos exibem um “auto-retrato” intencional em que saobressaiem os principals tragos de uma trajeotéria longa e diversiticada: a componente militar, a especializagdo técnico- -cientfica na rea da Geodssia © Topogratia, a ligagao profissional, afactiva Ideoldgica ao Ultramar forjada na india e om Macau @ consolidada em Angola ou, dito de forma mais sintética, a vincada © assumida componente colonia- 7A saber a india 1990 8 1908 - O Manual do Agimansor, 2 volumes; A tranguleto 3 tetra do Gos: A dosoneso Geotegice de Goa. Questia de Ambace - Um oscuia = 1912, A hiss Colonzadora de Porugal em Aiea ~ Conferéncie - 1929. Discursos « 1929 o anos Sequintes, & Provincia de Angola - 7 volume - 1026. Ls formation do ia Nation Porugsise ‘nvsagée au point ce we colonial -Canferinciarenizach em Aveo - 1830. A aceao civiadora {So exert portuguts no Utramar- Canferénca reaizade na Exposicgo Colonial do Fomo = 1834 Foogrometna » Confeinciareaizada na Associaedo dbs Engonhores Cvs 1887. Reginento ‘que Brel D. Manvel dou # Simao da Siva quando o mandou a Manicongo ~ 1998. Duas catas Celebre = 1987. Ensalo sre a vr “Angola de Paiva Coucae ~ 1948. Arca Nossa 1 volume Tusa A Napa Une volume - 953 Loa, Cons Qoveinaiy Geral de Argo: f volume ‘cam as pincpais medias pitta, com a creuiar do 17 de Abn de 1813 e cscursos na Junta (Gora da Provincia - 1914, Come Alo Comassro da Republics em Angela: $valumae soto ifufo "erovinea de Angoa. Provcencias Legisatuasfomadas polo General Norton de Matos, em 1821, 1902 0 1922, 337 lista, a adestio & Repiblica, aos valores democraticos, humanitarios @ magd- nicos, 0 perfil de estadista como Ministro da Guerra e responsével pela entrada de Portugal na Grande Guerra ao lado da Inglaterra, Alto Comissério em Angola « diplomata em Loncrss, 0 “escritor publico" e 0 republicano democrata patriota firme na Oposigéo ao Estado Novo. Era, pois, desta forma que Norton ‘de Matos gostava da se apresaniay a esperava qua o vissam a raspeitassam. Os seus amigos @ adeptos conservaram @ reproduziram esta imagem acriso- Jada, ao contrério dos seus adversérios que nao Ihe pouparam criticas ern dois, pontos particularmente queridos e sensiveis: 0 “milagre de Tancos” ou a orga nizago em tempo record do Corpo Expadicionario Portugués (C-E.P.) © a acgao governativa em Angola, sobretudo como Alto Comissério*. Entre a hagiogratia ¢ a detraceao descortina-se a via dificil e espinhosa da reconstitulgao histérica equilibrada ¢ incessante que se abre obrigatoria- mente aos historiadores e aos cientistas socials. 2.2 A Candidatura oposicionista: organizagéo, apoios ¢ ideias No contexto particularmente dificil e delicado para 0 Estado Novo, dada ‘a retumbante vitéria dos Aliados © das idelas democraticas e socialistas sobre ‘as forgas nazis ¢ fascistas (Alemanha e Italia), jé atrés genericemente reterido, ‘comagou a ser gerada uma candidatura de unidade antifascista centrada na ‘octagenaria 6 venerada figura do general Norton de Matos, que sobrevivera a proeminentes lideres da 1.* Republica como foram Afonso Costa, Bernardino Sobre esta verona ver, ene outros, SANTOS, Atredo Fibsio dos — A Oposigho ‘semooren ea pliteaecenil do Estado Novo Nava Renascena, Porto, 82-53 (Primavera 1998) 113-180; SILVA, Amari B, Maho da GARCIA, Jose Luls Lima — Narion de Matos a opo- lo & pole clonal de lazer. Revista de Hsia das leas, Cobra, vol. 17 (1995), p. 34 104, TORRES, Aceino — Ae contadietes do paras clon REIS, Antélo(e) — Perugal ‘ontempordneo, ol. 3 Usboe: Pubcagdes Aa, 1980 p. 101-120; PELISSIER, Rens — Na sombre fo impo. Andise Social, Lisboa, vo 9, 149 (1898, %) 11194557; WHEELER, Dougles L— “iis es do que meoaautos" @primela republics ponuguesa e ompéro ulramarine (1810-1925). In A Prieta repiies periguose. Ene o fberasmo 0 0 aviorirsma. Coonlenagdo de Nuno ‘Severano Tatara 0 Antnio Costa Po, Usboa: Eases Celbnisituto de Hataria Contempora+ ‘ea Unwesidage Nova de Lisboa, 2000, p. 128-168, @ OLIVEIRA, Pesto Aes — Anmindo Monte. {Uma Bografa polica (1855-1868). Venda Nova: Bertrand Extra, 2000, p. 75-125. Ser 4 feeente © rlgorose sinoose de ALEXANDRE, Valentin — Napio ¢ impéri Jn BETTENCOURT, Francisco @ CHAUDHURI, Kit — Metona da expanedo portuguese, vel 4 be erasi para Agicn (1609-1990). Lisboa! Cited de Letores, 1098, p. 138-14 dam — ‘Stuagées colonials: I- 0 Ponto de vragem: as campantas de ceupagao (1890-1990). In bidem, 1. 182.211: © MATOS, Sérao Cartoos — Proposias de reoranizavao do impéo colonial port ‘Suds noe nals de otacantoe: 0 denste acara ca venga das colonics In A Demis dos espacos Sock, cultures @ polices no mundo Woer-alantco (a fais do sec. XVII aié je). Lisbos FgGes Colt, 2000, , 191151 338 Machado ou Anténio José de Almeida, De acordo, aliés, com 0 testamunho do préprio, foi no dia 23 de Margo de 1947, data do seu aniversario nataliclo @ durante a festiva recepeao, na casa ancestral de Ponte de Lima, a multos amigos © correligionarios vindos de todo 0 pais, que ficou expressa a escolha do candidato antisalazarista, uma escalha quase undnime da opo- sigdo republicana e democratice. Mais de mil pessoas se desiocaram — lé-se no texto Aniecedenies — para chegarem nesse dla junto de mim com palavras de saudagéo; passou de vinte mil o numero de portugueses que, em telegramas, telefonemas, cartées 8 mensagens de ha muito preparadas, me enviaram votos de longa vida @ me pediram quo 0s guiasse @ os cheflasse™, A arrancada para uma candidatura unitaria oposicionista parti, pois, de Ponte do Lima animada, segundo o candidato, por uma preocupago essencial: ‘© que unicamente me preocupou em face do canvite feito fol a possiblidade de qua da apresentagso da mina Cancldatura A Presidan- ia da Ropibiica, pela sua natureza de insira oposigao ao regime esta: belecide no meu pais, aigum mal de natureza intoma ou externa pudessa resultar para 0 povo portuguds, para o angrandecimanto e prestgio de Portugal. Pensel nisto profundamente e ansiosamente; ausculleio sentir da NagSo, medi a sua Ansia da lbertacko, 0 seu time propéslio da sacudit por meies lagais © que considerava um jugo e de enfisrar 0° ovo sem qualquer violsncia a0 lado das nacdas democraticas da Europa, @ da América, estudet @ analisei o que so la passando na mundo convencimme de quo do mau passo nenhur mal podia resutar para meu pais © que grande bem ele coriamente the tara, quer vingasee quor N&O. a minka Candidatura®” Uma preocupagao compreenaivel de disputa politica “ordeire” @ de oren- ‘9a, pelo menos formal, nas possibilidades e virtualidades do debate Ideol6gico libertador através do apelo & participacao consciente @ massiva de um pavo subjugado. Este impulso civico ¢ miltante consubstanciou-se a 8 de Abri de 1948 com A Apresentagao da Candidatura perante 0 Juiz Conselheiro Presi- dente do Supremo Tribunal de Justiga, que implicava a subserigao de pelo menos duzentos eleitores inscritos face ao recenseamento entdo em vigor @ para isso organizaram-se comissbes eleltorais nos varios distrites ¢ sob orien- tapdo da Comisséo Central de Lisboa (comisséas dissolvidas logo apés con- clufda a tarefa imposta). Mas a manifasta escassez de tompo para a entraga {da documentagao exigida (ver Anexos 1) impediu a recolha de assinaturas nas lihas Adiacentes @ no Ultramar, embora de antemdo fossem conhecidos os © Of. MATOS, General Noron do — Os Dols primes meses ds minha candidature & Presidénca da Replica, ob. ot. p16. SOL Ibid, o, 18 309 fortes apoios que destas partes do territério nacional advém para a candi- datura®. & para além da falta de tempo houve a manifesta inteng&o das auloridades de obstacularizar e, se possivel, de matar a nascenga a legaliza- (980 da candidatura (ver Anexos 2): E vale a pena fazer-thes referéncla no que elas reprasentam obstéculos levantadios pelo adverséirio em continuidade com ayuvles processos de luta desieal a que ja andam os democratas por demais hhabitvados — e que sempre vim apontando a censura publica @ a0 senso moral da Nagao’ ‘Apesar dessa lacuna é possivel avancar com uma genérica caracterizagdo etéria © sécio-protissional dos apoiantes da candidatura distribuidos, desigual- ‘mente pelos quinze distritos de Portugal continental e inscritos ou no no recen- seamento oficial. Com elelto, se considerarmos, no respeitante & idade, 6s ‘grupos (até aos 25 anos; entre 08 26 os 60; @ mais de 60) veriica-se, pelo {grafico 1 abaixo, que a maior incidéncia ocorreu claramente no grupo intermédio de individuos jovens e adultos até a piona maturidade (72%). Jovens com menos de 25 anos representam uma peroentahem reduzida (3%), enquanto se pode ‘considerar razoavel 0 segmento de subscritores na faixa elétia superior aos 60 anos (25%) Quanto as profissées @ sua correspon-déncia social a grafico 2 revela um grupo destacado, 0 dos comerciantesinegociantes, seguido pelos mésicos @ advogados, proprietarios/agricultores, excritores/protessores, indus- triais € militares @ ainda pela coluna reservada a “outros” *, que inciul uma iversidade aleatéria de profissbes algumas dolas passiveis de serem incluidas 0u aproximadas de certas actividades postes em destaque. Estes valores coincindem, em geral, com 0 apontamento lavrado no texto A Apresentagao da Candidatura, onde se pode ler a dado passo: Breve apa- Inhadlo, sujeito a revisdo — se for julgada oportuna — diz-nos quo assinaram (tudo referido a0 numero dos documentados), 147 comerciantes, 91 advoga- Cl, MATOS, General Norton de — Os Deis primeres meses da minha candidatura & -Presoéncia de Republica, ob. ct, p. 23. GF. bidem, ». 25, “% Erte 0s subscriores da candidatua no distnto de Viana do Castelo figura 0 professor to Lcau esc, Anno ocd Saraiva; no cite da Paralegre aparece 0 neme de Jase aria 106 Fos Porera (José Rego), esrtorw protest cea, 46 anos: 8 no cto de Lisboa, grupo ‘dos no recenseados, sobressalom Antonio Alves Red, esattor, © Femando Lapes Gras, compositor musical “incuimos ecb esta designaga0 gonios as soguintes prised: aniats-pntorescutor isic; jomalise;pograto;ivero-edtr:selietador,aladanie de Conservati: roti; conser \ador do Regist Civ; conseriador co Fegiste Pred uz; ampregado ou agente do ceguros Dene: aleate; fescureie: eonetutor sel, coro, lunlawor paheles; reste settlers ‘utves rlojoeo; Barbaro, sapatere; vejare; cele da conservaglo; manufator de calpade \domsticn;fenovr; arto, mestre de ona; carpintite; marcenere;chaufour ou motoita rmarohanie @ eased. 340. dos, 85 proprietérios, 54 médicos, 48 industrials, 41 professores, para referir apenas algumas das classes mais representadas — estas & sua parte satisfa zam 65% do total, Mas se esta constatagao nao oferece grandes resarvas © alé acaba sendo confirmada pelos indicadoras do gratico 2, j@ 0 masmo no se pode dizar da afiemagao contida no mesmo paragrato, segundo a qual ter-se-ia registado uma representagao proporcionalmente significativa das profissdes liberais as chamadas forgas vivas, dos intelectuals, escritores @ anistas, aos trabalhadores™. Basta ver @ coluna operdrio (empregado fabril «8 t6onico industrial) para compreendar a pouca expresséo da classe trabalha- dora nesse proceso de subscrigao de assinaturas © mesmo que transferisse- mos para af algumas profisstes afins, tals como manufactor de calgado, funileit, correeiro, mestre serralheiro, chefe de conservagéo, manufactor de caigao ou ferrovidrio, mantinha-se reduzida a um valor infimo, Nao surpraende, por isso, que 2 composigao sécio-protissional da estru- tra organizacional da candidatura oposicionista (ver organigrama) correspon- da quase om pleno a0 nucleo preponderante, sobrotudo até a0 nivel das Comissdes Distitais, como também nao 6 de estranhar que na estrutura organizaliva, aos varios niveis, estivessem representados se nao todas, pelo ‘menos, uma parte significativa das forgas politico-ideoldgicas e partidarias que se dispuseram a apoiar a candidatura, a saber: republicanos e liberals inde- pendentes; catdlicos democraticos; monarquicos progressistas; confederacao geral do trabalho; conselho nacional das mulheres portuguesas; seara nova; ‘magonarla portuguesa; partido comunista portugués; uniao socialista; partido socialista portugués (seccdo portuguesa da intemacional operéria); juventude do movimento de unidade democrética; movimento de unidade nacional anti- tascista; ¢ partido republicano portugués *. De acordo, allés, com 0 esquema arganico aprovado o candidato apota- vva-se numa Comissao de Servigos Centrais da Candidatura (0.S.0.C.), presi dda por Mario de Azevedo Neves e incumbida de promover a organizagao a orientagdo dos servigos de candidatura na metrépole, nas ilhas adjacentes e nas provincias ultramarinas, de transmitr instrugdes directas do candidate ou do presidente dos $.C. em nome do candidato, de receber, promovendo a subsequente resolugao, comunicagbes, solicitagdes ou consultas dos servigos de candidatura procedentes de toda a Nacéo, quer viessem por escrito quer oralmente através de delegados desses servigos, de enviar, por deciséo do Ot MATOS, General Norton do — Os Dols primelios mases da minha candidature & Prosdénea da Repub, ob ci, p. 28 0h Iba, p. 2. > Ch Organigrama das forgas pollens apoiantes da eancdatura de Norton de Matos, In Una Oposigto indemada e indomvel, ob. co. 2 at Grafica 1 |aAié 26 ance | (a Entre 26 » 60 anos | \a Mais de 60 anos. Grafico2 ccandidato, delegados aos servigos dlstritais com 0 objectivo de manter estreito contacto, de fomentar a adesao popular & candidatura e ainda de promover, ppor todos os meios ao alcance, a propaganda em prol dos principios © do programa assumidos pelo candidato*. Gk, MATOS, Ganeral Norton de ~ Os Dols pamairos meses da minha candidature & Presisénca oa Republic ob. ok, p. 116-118 342 Em cada distro era constituida uma Comissao dos Servigas Distritais da Candidatura (C.8.0.0.)® com os objectives de eriar nos concelhos, bairros fou fraguosias comissdes locals dos servigos da candidatura, formar quais- quer ouiras comissdes de acordo com 0 candidato, proceder & mobilizagao & concentragdo dos eleitores do distrito, tendo em vista o triunfo eleitoral do candidato, manter e estabelecer contacios com os S.C. através da respectiva Secretaria @ angarlar os fundos indispensaveis, deliberando, em sintonia com 98 §.C., Sobre 0 minimo de verba mensalmente rametida ao Tesoureiro, mem- bro da C.8.0.6. As Comissdes Distrtais deveriam ser compostas, tanto quanto possivel, de forma a nelas terem representagao todas as correntes, sensibilidades forgas reunidas na frente comum contra o regime. Mas apesar deste requisito ‘elas deveriam ser pouco numerosas, cabendo, porém, a fixagdo do numero dos seus membros @ a escolha do Presidente, Secretario, Tesoureiro, alc. as ‘GENERAL NORTON DE WATOS: ‘Seeratariado ‘Comissio Centrat dos Servicos a Cancidatura Comisaao de Imprens Comissées Distritais Comissées Concethias Comiesdes Comisaées, de Freguesia e Bairro Organigrama da Candidatura Onosicini * Vor ovienagées gras do Candida as Comisstos Diss in Apéndicn da MATOS, General Norton de — Mais qualo meses da minha candsturs 2 Presconeia 6a Ropiblica Port: Edigta do Autor, 49, p. 18% 0 35, “Gt, Lina cpasiefoIndemade e indomavel, 0b. ep. 21 343, préprias comissGes. Ponto assaz interessante: era-lhes vedado agitem como '3¢ fossem arganismos paridérios, ou seja, nenhuma actividacie poderdo exer- ‘cer para aumeniarom, fortalecer ou consolidar qualquer partido, devendo ser Inteiramente evitado que nelas predominem quaisquer correntes politicas *, Pretencia-se, assim, atenuar 0s efeitos divisionistas internos, facilmente causa- dos pela heteréelita gama de tendéncias @ forgas spoiantes, de mansira a que todos tivessem em visla exolusivamente manter @ levar emergicamenta ao fim a Candidatura, defendendo-a de todos os ataques, prestigiando-a @ levantan- do-a para que dela se possa tirar 0 maior bem para Portugal". Este tipo de controlo teria de ser temperado de modo a que as Comissées Distritais pudes- som fruir de aiguma autonomia de acgao @ de propaganda, desde que obser- vadas as novmas @ principias fundamentals estabelecidos por este documento, © debatam as suas quostdes interas, dando desias quesides © debates, ‘quando dt, conhecimento ao Candidato“. Era, aliés, provista uma circunstan- cia especial: no caso de surgir uma Comissao Distrital muito numerosa podria ela nomear uma comiseéo executiva, por maioria de votos, @ conferirne atribuigbes, comunicando o facto aos S.C., embora tals comissbes executivas nao devessem de modo algum substituirse, em poderes, & C.8.0.C. (© candidato esperava das Comissées Distritais a mais intense propa~ ganda baseada no Manifesto da Nagao (de Julho de 1948), nas publica- (G0es da autoria do préprio general Norton de Matos ou por ele aprovadas, ‘em quaisquer directrizes © normas de orientagao recebidas @ em interesses regionals @ nacionais. Mas de todas estas "fonies” o roieride Manifesto constitu, de facto, a base programatica unitaria, incluindo ai a forte compo- nente colonialista — algo controversa, embora na época o fosse ainda menos do que virla a ser na década de sessenta — desde sempre assumida e desenvolvida pelo general-candidalo, Convém, por isso, ter presente os seus pontos de partida: | — Cansado de divergéncias intemas, © povo portugués desea que todos os habitantes do Portugal sejam acima de tudo porlugusses: {ue a tolerancia @ o respeito pela pessoa humana os liguo a todos ¢ permitam a cada um viver a sua vida sem o terror desmoralizante da Inearteza. |I— Hoje mais do que nunca quer Portugal marcar o lugar a que tem direlto no mundo, engrandecer-se e prastigiar-se, mantor closamonio as suas indepandéncia @ soberania fundamenials © cooperar intemacio- nalmente para a consolidaeao da paz universal, servindo-se para tanto do Gk, Una oposis indomada @ indomave, ob. et, p. 117-118 = Cr, idem, p11 tbe, 118, 344 seu espirto empreendedor, do seu génio colonizador e da sua bondads Natural que 56 inlusgas e violéncias podem alterar Iii — Um grande campo de acgao continua aberto As actividades portuguesas © nolo tém, desde ha séculos, desaparecido sempre todas: fs nossas discérdias, quando logra dominar-nos uma viedo superit. Retiro-me & missio histérica de Portugal, a colonizagao o olviiza- ‘glo da terstirios do além-mar. ‘Na continuagae dessa obra, inensificando-a e sublimando-a no ‘remendo momento que se airavessa, todos os portuguasas poderdo lencontrarse lado a lado, longo de contencas e tendo apenas om vista mmelhorar 2 elevar a vida nacional, quer vivam na Meliépole quer no Uttramar, sem necassidede de ninguém se deslocar para ir, vexade, colocar-se ao lado doutrem. O lugar & de todas @ para todos, IV —Mas para cansaguir 0 quo fica dito, ue 6 considerdvel, muito haa fazer, Em primelto lugar temos de lovar a cabo a Unidade Nacional, ‘concebida aliés, desde a primeira hora das deecobertas dos nossos antepassados. — A Nagao ¢ uma 66, formada por teritéros situades na Europa ‘© por outros em continentes divers0s, provincias poruguesas faquém & de além-mar, que assim the chamaram os nossos maiores. A Unidade Nacional implica = Uniciade temtoriat para o que temos de agir como se se tratasse de um teritério dnico continuo, = Unidado econémica: que consisie no apcoveitamento integral © hharménico de todos os esforgos da Nag, matacais e ospiituais. As adidas de progresso aplicadas 2 qualquer porgao de teritério nacional, dda Metrépole eu do Ultramar, de modo algum deveréo preludicar as orgaes restantes. Tudo para todos, Sacifcios vantagens terBo de ser gerais e subordinados a uma repartgso equittiva — Unidace de acgéo: pis que sem ela a unidade teriorial nio ‘se manteré e a unidade econémica nunca chegara a exit. ‘valorizacao das coldnias davernas dar o nome de valorizagao {da Nagao: nao ha politica colonial, hd apenas politica nacional = Realizar a Unidade Nacional @ consolidé-la 880 0s primoitos, overes da Republica \V — Temos também, para que se transformem em realidade os esejos de pove portugués, de proceder sam mais demoras a0 inienso ovoamenio do Uitramar. A pequena érea metiopaitana tem hoje mais de alto mihioes de habitantes, e, para bem da Metrépole @ dos terres se além-mar, é nacessério que muitos milhares de familias portugueeas 8e vlo far anualemnte em ferras pouco povoadas até hoje. Vi-— Noceteario 6 também que nea ncoeea planos de desenvol \imenio econémico nunca se perca de vista que os habitantes da Na- ‘980, braneos e de cor, elham com apreensda cada vez maior para & ‘diminuigio e muitas vezes estagnagao da produgao agricola. Tame de ccontinuar, por geragdes ainda, se desejamos real mathoria de vida na 345 Mottdpole @ no Uttramar, @ basear na produgdo agricola a nossa forea de resistencia a todo 0 mal que nos pade atacar. Sem deixar de fazer favangar a industrializagio da Nag, nfo deveros com esse avango Colocar a agricultura em condig6es inferiores as de outras actividades, ‘Nunca devemos perder de vista o modo de ser e a mentalidade que a vida tural produziu na maior parte das populagGes portuguesas © que nessa ‘ida tural tem de askenlar laném toda a civiizaglo dos Indigenac das provineias ultamarinas. Vil — Colocada quo soja cada uma das actvidades nacionais no seu lugar prépric, © que se requore & uma planifesgao geval, superiar- monte concebida, no espaga @ no lompo, que sigiique a integracéo Porfeta de todas as energias e conduza 0 povo portugués @ mais com- pleta valotizagao dos recursos naturals de tera e mar, adstits ao terité- tie que the pertence. ‘ill — E oso, a tragos largos, 0 plano de Unidade e de Renova fo Nacional que se impde. Mas para a sua realizagao a Nagao carace ‘que um nove regime poltico se estabelaga Pontos programaticos sulicientemante ampios @ genéricos para permi- tirem um largo consenso, mas encimados pola inflexivel defesa das liberda- des fundamentais, do pleno exerciclo dos direitos do homem e de uma vide cada vez mais alta ¢ mais digna“*, porque © progresso econdmico sem liberdades civicas, sem a pratica garantida de cidadania, nao serve aos povos livres, @ 0 povo portugués quer ser, acima de tudo e antes de tudo, um avo livre (ver Anexos 4 © 5). 'A énlase nessa posigée de principio implicava a luta legal @ pacitica (a téctica “ordeira’) para, em primeiro lugar, resttuir aos cidadaos as liberda- des fundamentais através da adesao oficial do Estado portugues a principios intemacionalmente consagrados na Declaragao dos Direitos do Homem, em ‘segundo, reconhecer, com base em tals principios, 0 cidadao como a unidade ‘essencial do agrogado social civilizado; em terceiro, reafirmar como aributos inamovivels do cidadao os direitos A vida © & existéncia sa, @ liberdade pessoal, 20 trabalho (com o dever correlativo), a resicéncia e a inviolabilidade do domiciio, ao sigilo de correspondéncia, & propridade pessoal, ao avesso a qualquer profissdo, & insirugao, a cultura, & personalidade politica, & assis tOncia mécica @ & seguranga social, & petigao aos poderes pUblicos, a resis- téncia perante a opresséo © a tirania, o exercicio das liberdades de conscién: cia, crenga, culto publico @ privado, da expressao, de reuniao € associacao, de acesso as fontes de informagao nacionais e estrangeiras, @ a (gualdade de Ch Una oposi indomeda @indomavel, ob, cp. 8 Of Ibidam, p. 8 © OF Ibid, p. Bt 348 todos perante a lei fundamental sem descriminagSes de raga, sexo, lingua, religiéo e opinides politicas diversas; om quarto, satistazer, no imediato, algu- mas reivindicagses caucionadas pela opinido democrética @ liberal ®; em quinto, adoptar no campo econémico medidas estimuladoras das iniciativas individuais com a inevitével exting&o do corporativismo ¢ libertagao da activi- ade agricola, industrial e comercial, das peias que goram a estagnagao ou diminuigéo da produgéo © as crises econdmicas, tondo em vista a defesa econdmica das classes médias @ trabalhadoras; om sexto, aumentar em rnlimero 8 area as cooperativas de produce e consumo: em sétimo, aceitar os principios de nacionalizacao sempre que sejam exigides pelo bem estar da colectividade, enquanto maxima preocupagao da govemagao piiblica, om citavo, promover a reforma profunda do ensino publico através de urna instru- ‘80 priméria amplamente cifundida e gratuita, da instrucao secundaria a tender também para a gratuitidade para a vertenta profissionalizante, da ganerosa dotagao do ensino superior ¢ da investigacao cientifiea, envalvendo a Univer- sidace na fungao social de democratizarao da cultura; em nono, aplicar medi- das de assisténcia e de seguranga social com servigos nacionalizados, ajusta- dos @ diversidade populacional do territério portugués © todas destinadas gerantir@ vida sé, « higiene do trabalho ¢ o apoio no desemprego, na invalidez ena velhice; e, em décimo e Litimo lugar, resolver os problemas bésicos da alimantagao e habitacao do povo portugués*. Para ser distribuido pela imprensa, caso fossem oblidas as necessérias, autorizages, foi slaborado um Esquema do Programa Geral que inciuia, também, umas prévias condigées fundamentals a observar na condugao da propaganda contra 0 regime @ sua acco governativa”, E 2 par daste docu- mento programatico os Servicos Centrais da Candidatura promoveram a digo do livre Para onde nos leva a polftica econdmica do Govemno?", slaborado por um grupo de economistas devoladas jnteiramente a cause A saber apleapao inegral da Justipa, dlgnficando-a camo um Poder independents, abotgao da pola politica» suprassao do regime piionl gue ade & tortura © qulguer outa leetamento desumano dado aos presos, com a subsequent extn de campos de conceniagso ® eslabslecimente eins (Conia Ponal do Cabo Verde, “Tara, ams eal para es presoe Boltoos @ retome dos exlades: abaicao co regime de censura; lerdade do organizapio © ‘cluspto para os partidos pons; pssiildade oe fundaggo sem restigdes de naves jornale © ‘ouitos meios de comunieacto« publcidade;« apticapo por ll ae eles poltioas do cgposte no ‘nf 3 do art. 8 da Consttuipgo Politica de 1855 (Ck. bidom, p. 8 “Ce. inaem, p we. Yar Ihidom, 146-173 © Gl, SERVIGOS CENTRAIS DA CANOIDATURA DO GENERAL NORTON DE MATOS = Para onde nos Jova a paitica econémica do goveine? (Razéae econdmices de una ete) stor 1949, 347 democratica @ em que ficaram desenvolvidas as eriticas & politica econémica do Eslado Novo, bem como a politica allemativa da frente oposicionista, Os mesmos Servigos promoveram também a edigéo do volume As Muiheres de Portugal colectanea de palestras e de discursos de propaganda pronunciados por destacadas figuras femininas da oposi¢go — Dr.® Maria Jaabel de Aboim Inglés, D. Maria Lamas, 0. Manuiala Porta, 0. Irene Bértola Russel, D. Lidia Franga Pereira, D. Maria Helena Novais, D. Maria Palmira * No i do cada capituo achamas inorta a simula das dois centais al expendides, 1 saber: cap. 1 Os Antacedenias da polfica econdmica actual ~ Os principles am que 8 furde manta a potca agondmica do Govoro sao os masmos ue caraciarzaram a pola economica de Quen co corparatinsmo~ delesa dos intresses prvlegiados dos sles monepdlas capa ' alaque 20 bom estar do pow tabalhader@ aa classe mata; cap. 2 Os Objects apregoacos oo Govemo eas Rahnatoarees Democrats - Os aboctvas do polica econémica enunciados [belo Govema no foram, nem poderlam ser, alcangados pemanentemente, dent dos principles (da manutergto da police econamica coaratve de manopdlio @ da cantnuldade da astatira polls at demeerdic do Estado; cap. 3 Gaverno acua. Os Motodos sogudos poo Governo, Pingo fo seguda uma poltic coneconte de absamento doe propos de argos de consume de |. nacassidade, mas si retizaga esminosamenie uma dstorseo, a bam da demagcala fascia, que seria una verdsdora pola econamica de abaslecmentas o, a0 mesmo tempo, uf cero Inetamenta & espaculacto na baira, posshetnente a coberto das alas esforas do monopcio ‘corporatv; cap. 4 As Perepectnas Sombias ue nos Oferece o Passadoe o Peseta aa Palit Econanica do Govemo ~ A poliica econdmica quo fam sido seguida polo govern, 20 mesmo Tempo que se caracleriza por maios de actuepéo demagégices e atentaténics doe interesses priegindos do mongpdto, no conta) nenhuna das condipSes necessarias & rsclurao om) protunadads @ parnanentarente do problema dos pepo e dos abastecimentos com paranta Dreconto tra do bem esr do povevaahacor ea lasso méda:@ cap. tal Oque Urge Fazor ‘ho Futuro am Opesigto ao qua 9 Govemo tam feo ae agora ~a) deservobirionto de movinonto ‘oaperava de procuyo ocitibuirso, corto melo mals elactva ¢ justo de ataque & aspecularao ‘mercado negro prdpaes de quate shuaeao ancrmal ou de guara:b)polica scondmica do _abastacmantas, acicnament @prevosfundamentada nos ntoressos das grandes massas const Imidoras produforas eito pea fnapso de propos @ cantingentes feta de acordo 0 4 base ct ‘ctuseio dune Feeraze de Coopereivas de Consumo @ Producso colaborand em 08 de Igualdede com os logimes iteressas das unidades do conta e incisna prvads:o) combate {e siuapdos prulogiadas de manopeéto denro # fora da arpanzardo corporat, dando-se & uh pode jc! separado de fato do poder executive @ missao de nvestigecdo, Zscalsacso, |kigamento @ punto des stuagées consideracits de monopél: <) controle dos grandes invest: ‘mentae prvedas segundo um plano nacional do produyzo, dado qu¥ 0 govero provoy, com a Sus Doles, no apcs guerra, do inporagdus e comparcipagces de cepa! em empresas prides que “abecou” 00 sev pape! de neuzaldade em paiica econcmica; 0) subsios pequen e més proaugio agrcol, cam "ratameno do favor" as cooperatvas agrcass, gaanta do precos & fescoamonto da respectiva proausae, em intima acordo com um organimo represenaivo do lntereses do cansumidor @ da pequana & media produto sgricl; 1) congelsedo das grands forunas adeutias iholamonto durante a quer ¢ exerorprapéo daquelas obidas por actos (rininosoe conta 0 bem aear do pablo, alam da pun criminal des indiéues que se ance tram nesasitimas concede; 9) controle do comérco exteme de importarao sagundo acordas a Ccomvensapie, © vanagens de pres © prasos de pagamonte,resigées do impartagées de ‘genoros db alimentos ce xe ao minimo necessarioe compa com aumento rename {2 produtvdade do rabaho 9 com 0 dasenvolimenta da procurao nacional: f) subsiios 3s Indistnas exportaderas nacional, £6 para 2 marutente dos nossa propas nos marcados ext 348, Tito de Morais e Dr.* Cesina Bermurdes — @ do Professor Rodrigues Lapa, 0 Dr. Manuel Jodo da Palma Carlos proferiu, também, uma palestra, mas os agentes da Censura que assistiram a mesma notificaram nao serem permit das alus6es a maus tratamentos aos presos pollticas, nem a factos passados, proibigao que foi rejeitacia pelo palestrante através da recusa de publicacao truncada do seu texto. Truncada pelos mesmos motives salu do prelo a palestra de D, Irene Bartolo Russel. As alusGes a falta de liberdade ¢ a uma feroz perseguigao policial aos adversarios do Estado Novo foram, assim, rotiradas de uma colecténaa atravessada por um naipe de t6picds fortes entre ‘08 quais podemos destacar apelo & unidade feiminina na critica @ na dentncia da crusidade, falta de cultura e barbarismo do regime salazarista; resistencia 4 firmeza contra os insultos dirigidos pelos sicarios desse regime as senhoras que, em exemplar manifestagéo de consciénoia civica, vem a tribuna, leal € corajosamente, fazer a sua critica; a emancipagao intelectual, social e pro- fissional da mulher portuguesa defendida dos ataques que atribulam & Oposi- ‘co Democratica a intengao de destruir a familia @ de aviltar a mulher sob todos 05 aspectos; a igualdade e capacidade da mulher portuguesa face a0 homem através dos “sinais" colhidos, por exemplo, no cancioneiro popular; as ‘mulheres, em massa, de norte a sul de Portugal, de leste a oeste, deveriam saber nitidamente, com a clarividéncia e a acuidade adquirdas pelo sofrimen- to, que s6 um goveme representativo © democratico seria, para elas, a salva- 980; a angiistia » privagdes das mulhores que viam seus irméos, maridos & {ithos presos arbtréria © violontamenta sem culpa formada, nem julgamento justo; 0 drama e a importante, mas desconhecida, contribulg&o sécio-econd- ‘mica, da mulher camponesa e operéria, porque a muther que tabalha n&o é ‘apenas uma profissional. Ela acumula sempre com a sua profisséo 0 arranjo dda casa @ do tratamento dos filhos (@ todo nds sabemos que sao os casais das classes laboriosas os mais fecundos); a injusta @ indigna remuneragao do nos engquonto aqueles nao 52 reerganzassem pare a explorapéo scanomicamanta prose: })coloizagto ntama intneicada dos baci exstontes © caqueias proprisdades 2 consider ‘amo tl, quando em rege ant-econémico ae explcacao extensive, com enésimes, pa 1 festabelscnenta, que sejam um incentive a0 repoveamento das nossas zoras urls devasiadas ‘es wines ance per uma fore corente migateia para a capial. condipsee de proforéncia am Tornecimenios de cre, petrectamento agri, sementes @aduibos 25 coaperatves agricole, (que vessam 2 feamar para explrepo cas reteioos bas; controle plo Estado das ini. base w das matistias almentares prncpais;) cantale pelo Estado da astbusfo do eto om ‘numa conexo com 0 controle dos investment, dnt de um plan nacional de produeso (Ct SERVIGOS CENTRAIS DA CANDIUATURA DU GENERAL NOKION Ut MAIUS — Fara on00 Nos ova a poli econémica do governo?, cbc, p. 0118) Sobre esto iniloctual o assurido cposcinista ver DIOGO, José Fetraz — Manvel Fodtigues Lapa. Fotebiograta. Anedia: Camara WunicipalCasa Rodrigues Lapa, 1097. "C000, at, p60 948 trabalho feminino no sistema capitalista e corporative do Estado Novo; a par- ticipagdo da juventude feminina na vida polilica da Nagao a discusso dos seus problemas de acordo com as suas diferengas geograticas, sociais © fecondmicas; a detesa da Democracia e reptidio do fascismo ilustrado pela Célebre formula hiteleriana Kinder, Kuche und Kirche (ter tilhos, cozinhar e ir a igreja) apicada as mulheres; a deficiente protecyau sanitiria ustatal &s maes gravidas e aos recém-nascides das classes pobres; a critica & politica obscu- rantista do regime (apotado no argumento de que © povo portugués nao se achava educado para a democracia) através da dentincia do dificil acesso ao fensino superior, do atraso no ensino liceal e da negligéncia em relagao ao primério visivel numa pobre @ deficiente rede escolar € no préprio encerra- mento das Escolas do Magistério Primario (e, em consequéncia de tal acto, a substitulgdo de verdadeltos professores por regentes com menos @ multo deficiente preparagao™), © 0 esclarecimento dos conceitos fundamentals de Liberdade, Igualdade e Democracia. ‘Aerescenle-se ainda que {oi criada uma Comissao de Instrugao por Inicitiva dos referidos Servigos Centrais da Candidatura que elaborou a bro- cchura Alguns Comentarios # Politica do Ensino Secundério do Estado Novo dastinada a uma critica severa @ directa & concepeao e politica {retormas & medidas avulsas) do regime salazarista no sector do ensino secundatio, con- Genanda, sobretudo, as seguintes tendéncias @ linhas de acgao: A) Tem-se visaco a progressiva centralizacdo administrativa, disciplinar @ pedagégica, B)Tém-se vindo a acentuar as preocupagées politicas no racrutamanto, pro- oso e fiscalizago da actividade do corpo docente; C) Em 1936, sob indi- cagdes dadas pelo momento internacional (guerra da Abissinia, confito espa- hol, euforia e agressividade do nazismo e do fascismo) 6 langada a reforma Cameiro Pacheco, segundo a qual o ensino liceal tenderia & formagao da mentalidade corporativa em que havia de desenvolver-se a actividade dos portugueses; ¢ D) As reformas de 1936 e de 1947 marcam dois momentos ‘signiicativos na organizacao de um ensino secundério insplrado nas premissas ideolégicas da actual situagao poltica™. Esta amosira programética, necossariamente genérica e parcelar, deixa, contudo, perceber uma perigosa moscla de ideias, muitas delas cons- titutivas do “patriménio Ideot6gico" do candidate, mas outras inexoravelmente © Cf, SERVICOS CENTRAIS OA CANDIOATURA DO GENERAL NORTON DE MATOS — Para ande nos leva a poiiea econcmica do governo?.cb ct, p. 112 Gt guna comontsrian 8 pollen do anvina socundaie do Estado Nove. Trabalho ‘laborado na Comissdo do Insurdo dos Sonigos da Cancidstua. Lisboa: Serviges Centals Ca Caneidatra do Gonorai Norton Ge Matos, 1918 CL Iigem,p. 1524 350 anlagénicas. E neste grupo sobressai o comunismo a propésito do qual Norton de Matos acabou emitindo um juizo severo e frontal, culpando-o da origem das ditaduras fascista @ nazi e relacionando 0 objective revoulcionétio ¢ destrutivo das ordens astabelecidas, proposto por Mark, como inspitador da revolugao Nacional de 28 de Maio de 1926 (ver Anexos 4 @ 6). Em umas notas de leitura a um livro de Félix Bermudes — um apelo magénico, inspirado pela Fratemidade Humana para que 0s irméas comunis- tas admitissem que 0 seu feroz modelo ditatorial havia fomentado a emergén- Cia do fascismo e do nazismo, aceitanda todos uma trégua de boa vontade, tinica esperanca de libertar o mundo das malhas em que se enredou"® —, Norton de Matos deixou bem nitida a sua postura antl-comunista. Em esireita sinionia com o autor o referido leltor fez varias © interessantes anotagdes uma letra j& muito trémula’ De facto, ¢ ja o disse, se 0 que politica e socialmente 6 um grande mal, se de modo algum posso consordar com 0 captalismo, com 0. absolutismo, com o nazismo, com qualquer totatarismo, com qualquer sistema ou regimen onde exista a marca pesada da violencia, fala de ‘espeito pela pessoa humana, a maior possiblidade da expioragao do hhomem pelo homem, tambem de modo algum posse concordar oom a sutra comunista, onde existe tudo isto, todos os tremenidos males que ‘cabo de indica (..) Depois, @ alam de tudo, o Comunisma & 9 maior Udestrudor da pessoa humana. Como pederia eu, individvalieta intransi- gente, concordar com uma ideologia que tudo ascenta no desaparect mento da vonlade humana, da sua exalacéo, da eua Indisponibildade para consituir comunidades que no selam rebanhos, formigueiros, cor: tigos de abelhas. (..) O Comunisma fol inventaco pela eepinta judaico ‘86m inspitagao @ qua hoje irmanado oom © Capitalism, que a esse ‘espirifo muito deve, so serve dele pata dasituir 9 bem ester geral. (..) ‘Nada de bom se pode fazer com os comunistas, A minha Candidatura [a Presidéncia da Ropublal provau-o bem, Atingiram [| de insansatez Tudo estragaram. Foram altamente injustes pata mim no foram leaes, © muitos, sem caiar 0 que faziamos, foram traideres , A queixa contra a actuagao dos comunistas @ recorrente em outros textos. Em um apontamento sem titulo (dirigido @ um amigo) pode ler-se @ ‘evocagao dorida de um erro grave, sem cura: Na ocasiao da minha Candidatura um dos homens que com maior enlusiasmo se poz ao meu lado fol o Sr. Prof. Azevedo Gomes antigo minisiro da Republica e cujo esprit liberal ¢ democratica eu bom conhe- Cl. BEANUDES, Fix — Aos Meus imaos somunitas. Lisboa: 2. 1948, p. 11-12 » OF todem, p10 © ABINK ~ (Nota de fetura em cademo Sport ao lv de BERMUDES, Félix — Aos Movs ime ts 25 35 «ia, Foi um erro grave que pratiquel, dandovtne lugar de reconheclmento nos "Servigos do Candidatura’, que monte. Foi esse erro dovide no 20 homer, que 6 um icimo caracter e um allo caracter, mas pelos comunis tas que 0 cercavam 0 quo eram seus conhecidos. Em consequencia ‘desse erro meu 0 comunistas encontraram-se denlro da praga e morta ram o seu plano de venoerem eles as elelgses,fando com a Prosidéncia 4a Mepublies nas mios, ou de me no deixarem sleger [Nas minhas primsiras palavras & imprensa diese 0 que era polis ‘camento Um leader liberal, seguindo 0 iberaliemo como oposto 20 absolu- tismo. Disse tambem que avoltria 6s volos e o apoio dos comunistas & {a respeito destes homens disse palavras qua eles no souberam apreciar. ‘A respeitodles disse palavras que o meu amigo por certo lerd no meu iva (Os dois primiros meses da minha candidatura & Presidencia da Republica, ‘de pags, 34 a 37 0 principalmente nas primeiras inhas da pég. 95. ' seguir a isto comecei a obsorvar e a conhecer as inlencées dos Ccomunisias. Principia! nesse gia 0 meu erro, mas o mal jé no tinha cura, Uma de duas cousas me resiava apenas: ou desistr imediatamente da ‘minha candidature, ou lutar até 20s ullimos, Escolhi este segundo eami- ‘ho, porque a minha lta feria de morte as Institlg6es Totaltérias que ‘se tinham apoderado do poder" A reforéncia critica ao convite feito a Azevedo Gomes para presidir & C.S.C.C. com base no argumento de que ele se tornou manipulével dos comunistas traz & colagdo uma curiosa e pessimista carla evocativa da cam- panha memoravel © com sinais de divida sobre se fora, final, aceriada a desisténcia oleitoral que o masmo dirigiu, em 12 de Janelro de 1950, a0 ex-candidato: Estimado General Norton de Matos Fez hoje um ano que terminou, com a entroga felta por mim da eclarego de desistencia de candidatura no Supremo Tribunal de Just- (2, 8 campanha memoravel a que V. Ex.cia presidiu na quelidade de Candidato oposicionisia & Prasidéncia da Republica, Sa os trabalhos desea campanha se intensificaram sobretuo no deourso de mez tinal, verdade 6 que ela nos preencheu, por assim dizer, desde Margo de 1948 (quando a Comissio Central do M.U.D. sahiu do Aljube) lodos os momen tos cisponivets da nossa vida habitual. Quantos passos dados! Quantes iligencias, umas fructuosas, outras infrutferas! Como havemos nés de ‘esquecer esse periodo de actividade vivido com rara pertindcia e perma Penie entusiasmo! Quiz hoje com estas palavras testemunhar a V. Ex.cla {quanto tenho presentes as tarefas da candidatura e 0 exemple grande que nos dev a todos com a sua combatividade e confianga na victoria |AB.NM. - [Apenlamente drgido a um amigo no Wdentiicado: minus, 4 ‘Ver verbete GOMES, Méro de Azevedo (1885-1865), In Dtondo de mst do estado ave, val, eb cp. 387-388, 352, ‘Anda. agora nao sei se no era sido grave ero aquela dosisten- «ia, apezar do muito mal que o advetsaro espalhara no nosso camino, para iulisar todo o nosso esfrgo. O certo € que aqueles que acompa- nharam V. Exaia, com raras excepgées, nfo Ihe permiiam, na ulima hora, outa solugdo. Mas, e'enko para cd 86 tenho visto piorar aposiczo ‘que ccupames — ela ndo esta abandonada, mas (..] 8 passe, quash, como ee nde houvesee viva nas tino. E forgaso porém nfo desanima! Esperava que uma feliz opertu- nidade nos conduzré ainda, © em breve a novos dias de entusiasmo como 0s que no ano passado junio vivemos. ‘Ao minhas saudagées ¢ 0s cumprimontos para Sua Exma Sobr- ‘ha, que lambom soube Wivor ossa apoca atrbulada e de constante ators ‘Seu dedicado admirador Mario d Azevedo Gomes ® Na célebre conferéncla, porque quase derradeira aparicdo pablica antes da morta, proferida em Aveiro no ano de 1983, 0 general langou dois apelos: ‘9 primeira incitava © combate a0 comunismo @ 0 segundo dirigia-se ao Presi- dente da Repiblica Marechal Carmona e Presidente do Conselho de Ministros Doutor Oliveira Salazar para que assumissem a absoluta necessidade de se entrar num regime de liberdade capaz de colocar Portugal ao nivel de grandes nagdes como a Franga, a Inglaterra @ os Estados Unidos da América (ver ‘Anex0 5). ‘A méigoa anti-comunista sentida por Norton de Matos, sobretudo na fase final da sua candidatura de 1949, acentuou, sem divida, uma velha ¢ profunda prevengao ideoldgica contra o comunismo (ver Anexo 4), mais forte e nitida que a alegada recusa do capitalismo, pois ndo so visumbram nas palavras do candidate, nem dos seus apoiantes mais préximos argumentos contra a livre inicitiva, 0 livre comércio € industria, 0 modelo de represeniagao politica através de partidos organizados de acordo até com o figurino rotativista inglés @ outros ingrediontas compagindvels com a economia capitalista, embora se ole, € certo, por influéneia da heranga erista, socialista utépica @ fratemo- -magénica, uma atengdo particular aos explorados e oprimidos @ a intervengao redentora do Estado na defesa dos fracos contra 0 egoismo dos mais fortes. Postura reformista ciffell de concliar com a ottodoxia comunista Na estera doutrindria e programatica 2 candidatura do general Norton de Matos mesciou, pois, duas tendéncias antagénicas, traduzidas de forma bem © RENN. — Doesir Candidatua & Presdéncia da Republica. Ver também o texto cvocativo da camapanta eloiocl as Presiintciats do GOMES, Azevedo — Norton e as campa- finas do civ. Seare Nova, Usbos, 32, 1272-75 (7, 14,21 0.28 do Foversio do 1953) 9. 77. Yer HORTON, Jose — Novion de Matas, eb ci, p. 403-410. 953 iversa tanto na acgao tactica (a mobllizagdo para a insurrecgao geral mesmo ‘que isso implicasse a desisténcia & boca das umas, atitude eticamente repro- vada pelos “reviralhistas"), como na dade de seus adeptos (a juventude pendia mais para o ideal comunista). Esse antagonismo revelou-se, como & bem sabido, fatal e saldou-se num facto amargo: a 12 de Fevereiro de 1948 a Aaénoia Noticiosa “Lusitania” transmitia célere a noticia de que O dr. Aze- vedo Gomes, em nome do general Norton de Mattos, recebeu, ontem, as 19 horas, a Imprensa, @ qual comunicou que hoje, 0 general Norton de Mattos lentregaré ao Supremo Tribunal de Justica, a rentincia da sua candidatura 4 Presidéncia da Republica, a isso se vendo obrigado por néo ter obtido do Governo as garantias suficientes para concorrer ao praximo acto eleitoral. Fim lacénico de uma campanha amordagada e minada por dbvias desinteligéncias internas. 2.3 A Candidatura no distrito de Braga — actores @ propaganda Em Braga 0s apolantes situavam-se, na sua maioria, no campo republi- canoe democratico, admirando muito 0 general Norton de Matos (a Comissao dos Servigos Distiitais da Candidatura em Braga foi, por isso, uma das que ‘seguill sem reservas as circulares do ganeral Norton de Matos ~ ver Anexo 6 8), ndo paracendo, por Isso, afectados pelos efeitos corrosives da “allanga ccontra-natura” que sustentava a candidatura, Mas se na respectiva Comissao Distrtal nao se fez sentir, polo menos de forma visivel, essa tensfo, 0 seu desempenho politico, atravessado por uma forte combatividade anti-salazarista, foi inoémodo para as autori- dades, Surgiram problemas antes @ sobretudo depois do periodo eleitoral, na lorigem dos quais pedemos descortinar o major Miguel Ferreira e sous sequa- zes com destaque para o médico José Graga, 0 advogado famalicense ‘Armando Bacalar @ o jovem livreito (residente em Braga, mas oriundo de Cambeses, Barcelos) Vielor Sa, enlao ja préximo do Partido Comunista Portugués *, ‘Os contributes conhecidos sobre © peril do referide major, combative republicano e democata (ver Anexo 3 e 6), permite compreender o estilo aguerrido ¢ voluntarista adoptado no distrito, que seria interessante cotejar, ‘concelho a concelho, com a conduta dos oposicionistas locais vigiada de perto pela Policia Intornacional de Defesa do Estado (PIDE) em colaboragao com os ‘Wer verbete de SA, Joaquim Vitor Baptista Gomes dei Diiuraiv us ita do Estado Ct, vol 2, p, 656-800. ‘Yor COIMBRA, Arur Foreva — Major Migue! Forrira, ob ct, p. 30-42 354 Governos Givis e Cémaras Municipais, como pudemos verticar, pontualmente, para Terras de Bouro (ver Anoxo 7). Constituida na sequéncia do acto legal de formalizagao da candidatura, a Comissao Distrita! de Braga ficou composta pelo mencionado major Miguel Ferreira, residente em Antime, Fafe, pelo médico José Graga, Director da Giinica Cirdrgica de Braga (Operagdes, Partos, Internamentos de Doentes ¢ Consultas), sita na Rua do Raio, palo jovem advogado Armando Filipe Cerejeira Pereira Bacelar, de Famalicao, @ ainda por Anténio Ulisses Taxa Ribeiro e pelo advogado Femando Marques Coelho Correia Simbes (vet Anexo 8b). E uma das suas primeiras e significativas manifestagées de apoio ¢ de activismo politico traduziu-se na redacezo de uma Mensagem dirigida ao préprio candi- dato (ver Anexo Ba) e destinada a vincar o espirito de unidade em toro da defesa da democracia o das liberdades fundamantais, afirmando a dado passo: Animadios deste mesmo espitito de unidade, os democratas do distrito de Braga compreendem mais que o cricter da ditadura fascista nos impée uma Juta adequada que nao pode moidar-se pela de nenhum outro periado hist6rico anterior, nomeadamente pelo dos ultimos anos da monarquia, pols nunca como hoje deminow o nosso pais um regime totatiltério que, ao arbitrio das medidas policiais, alia uma estrutura completa de coaao moral e material que the ‘permite nao 6 suprimir brutalmente o exercicio de todas as liberdades clvicas, como pretender mascarar assa supressdo com uma ideologia demagdgica ¢ ‘raudulenta (ver Anexo 8a). © mote @ 0 tom estavam dados. O regime adverso era dafinido como fascista, totalitrio, demagégico fraudulento, tarmos duras que incitavam o adversario & arena da disputa verbal ¢ ideolégica. E neste irreverente ¢ ‘caustico discurso da Mensagem projecta-se o estilo inconfundivel do major Miguel Ferreira, sem divida uma indelével referéncia no distrito do combate Tepublicano ¢ democratico contra a ditadura, 2.8 0 Boletim “subversive A actuace do major @ dos seus companheiros da Comisséo Distrital pautou-se, porém, pelas instrugdes emanadas do candidato e balizadas pelo conteuido programatico do manifesto A Nagao. A sua especificidade © até originalidade revelou-se néo tanto no contedido, mas na forma @ nos melos de propaganda, Nao pudemos apurar se em outros distritos as resnectivas Comiss6es seguiram idéntica iniolativa propagandistica, apesar de recomendada e inck tada, como atrés vimos, no regulamento interno da €.8.C.C. Temos, porém, ‘como certa a intengao da reterida Comissdo dos Servigos Centrais de publicar Eleicées Livres 965 um jornal casio, Mas no era facil passar & arética tao generosas e lcimas intengdes em face do controlo da imprensa, da récio e dos meios de difuséo, entao, dlisponivels, além do controlo policial por dentincia @ vigiténcia do tipogratias e locals clandestines de reprodugéo grética de pantletos, jomais, cartazes e disicos varios. [A edicéo impressa com assinalével cualidade tipogratica ® de um “olatim interno” da Comissao Distital de Braga dos Servigos da Candidatura, com data de 8 de janeiro de 1949 o numa tiragem de sete mil exemplares (ver ‘Anexo @b), nao pode deixar de causar surprese, tanto mais que eles tergo sido quase trodos espalhados e distrbuidos, sem licence ou censura prévia, em ‘sessa0 de propaganda efectuada na noite de 8 de Jansiro de 1949 no Teatro Circo. Mas apesar do elevado numero de exenplares impressos, a sua mas- siva distribuigao ficou, porém, no olvido néo sendo facil o seu acesso em hemerotecas pdbiicas ¢, por isso, merece aqui particular atengéo. Na sua feitura houve a intervengao empenhada de Armando Bacelar e do gerente da Tipografia “Minewa de Famalicdo", José Casimiro da Silva, ambos arguidos 119 processo por crime de imprensa @ crime zontra a seguraniga do Estado Pendente no Tribunal Plenério do Porto (ver Anexo 8b). A distrbuipao dos mithares de exemplares impressos ocorreu numa tnica sesso de propaganda, nao merecendo, entdo, qualquer acto de censura ou de ineriminagdo imeciata. $ a 20 de Margo de 1959 viria a sor jucicialmente forna- lizada a acusagdo, 0 que ndo deixou de ser visto polo proprio ex-candidato & Presidéncia da Repibica como injustiicada, despropositada @ atentatéria do desejavel cima de acalmarao almejado por todos os portuguesee (ver Anexo e). O boletim Eieipdes Livres, titulo assaz suzestvo, ostentatrés colunas na primoira pagina, sendo a mais grossa (lado drat) intulada Biogratia do Gene- ral Norton de Matos (continua na 2. pagina) © consagrada ao vulto do lider, que aparece em fotografia (preto © branco) a meio corpo ligeiramente de pert ‘com a aparéncia fisica do perfodo om que se apresentou como candidato as presidencials. O “eclitoriat" subescrito pela Comissdo & guise de invocagao a0 Leitor, surge na primeira coluna e declara a publicagso como uma contribuicao construtva redigida com os olhos no Altar da Patria ¢ vocacionada nao como © Consia a inlengo do sepuinte requerimento: Exme, Senor Dieclor dos Senvigas de Consura a Impransa. O GENERAL JOSE MENDES FIBEMO NORTON DE MATOS, na suapto ‘do retorma, morador na Travasse da Gola Vista, & Lapa, 5, 25, desta cidade, Candidato & Presisénca de Republics, desea publiar um jomaleiria matuina, para lazer propaganda da ‘sua candidlura. Vor, por 859, requorar a V. £3? 56 abe auloviar 4 respactvn pubicagso, ‘trigando-se desde, 50 ol or autrizada, a curtis as prescipdes logis em vigor. Para tanto pede deferment fautéya'o|Listos, 4 de Janeiro de 1049 Jose Mandes Ribera Noon 08 ‘Mattos (AB.NM. ~ Correspandénoa, 1940 @ 1942. (Canddatura & Presiiéca de Republica), Fol compost eimprosso na conkecida Tipografa Minera, de Vila Nova de Famed. 358 ouvireis dizer, langar uma acha amais na fogueia da revolt, tatente no corag40 de outras portugueses, antes aoroveltam a hora eleitoral, a hora que antecede as grandes decisées que selarr por longo tempo cs destinas de Portugal e sua gente, para vos dizer aqui, no restto espaco que as nassas magras bolsas permitran) dar a esta publicagio, que a administracso da Nacéo seguida nos Uiiemos 22 anos, se ndo 6 infercr em face aes fundamentals problemas da nossa terra, 6 com certeza administazdo inadequada, Por este extacto o tom podera ‘evideneiar moderagto e até certa candura, mas logo abeixo do texto citado surge om caixa a afimagko As Eleibes nfo sdo livres:®. E em rodapé, a todo © cumprimanto da mancha grfca, figura esta frase de Norton de Matos: Dese- Jamos, ou @ os que me rodelam, acabar, para sempre, com o fascismo em Portugal, Na coluna do meio acha-se 0 artigo Louvor da Democracia, com contnuagso na oitava pégina Na segunda pagina deperamos com dois artigos de fundo — As mulhe- (88. @ Assisténcia Publica (continua na 32 pg.) — © uns versos escritos por ima mulher democrata A Nerton de Matos. No canto inferior dirito, em peauena caixa rectangular, umforte apele: Portugueses! Perigos sérios esprel- tam Portugal e para melhor nos defendermos precisamos do nosso lugar na Comunidade das Nagdes. O caminho até agora tem-nos sido vedado, mas para lé s0 chegar, de 1 sso cepende: exige ELEICOES LIVRES. ‘reproduce da resposta do cancidato Norion de Matos ao Ministo do Interior preenche quase toda a terceira pagina com destaque @ negro para 08 varios pontos: O racenseament eleitoral tal como esié elaborado ndo serve os prinepies da liberdade, O sr. ministro do faterir recanhece a existéncia do Campo de Concentragao do Tamafal; @ E necessério esclarecer a opiniéo pablica sobre 0 que se passa nos baslidores policiais. E no canto inferior esquerdo da mesma pagina ha, de novo em caixa, um apelo 20 Cidadao! Se {queres lular contra o medo e aboli a polciapoltica, exige: ELEICOES LIVRES. ‘A todo 0 cumprimento @ largura das pginas quatro e cinco um tema forte Politica Econdmica do Gcvemo de Salazar, que princpia nestes incisivos termos: A andlise desapaixonada da politica econémica do governo salezaris- ta mostra quo ela conduz a um resultado constania: — o empobrecimento da generaliade do povo portugiés em beneficio de um nimero limitado de plutocratas, Por isso 0 seu regime nunca poderd ser democratico. Dominado © a seguir aoe dais ponte: leo a) ~ Enquanto nos cademes eeitralsestverer Insertoe apenas nome que ia apis ke ure, B) = Enquanto as actos eeitorels Se desorvolom sem centre Ga opcergo © seam apenas uma manipulagao alters! do para {to Govera; e) = Enquanto 9 Caniaato da Oposi-ao ndo tverliberded= oo propagande (9) Enquanto declarada ob veladamente se fzorem acs quo quisorem voter, ameacas de repre sles hata 387 palo governo do Sr. Salazar o povo portugués sente que 0 seu nivel de vida tom ‘iminuido progressivamente. Porqué?. Um interessante dllogo (assinado por Ego) entre 0 Tio Francisco, o Joao Luiz @ 0 Tenente, personagens provincianas em amena cavaqueira politica contra a "situagao” ocupa a cinco colunas a largura da pégina seis e ‘grande parte do cumprimento da meama. Por baixo do poudénimo Ego, nova ccaixa com o insistente apolo: Portugueses Se quereis acabar com as afronto- sas discriminazdes polticas! Exigi ELEIGOES LIVRES. Note-se que estes ‘continuos apelos distribuidos pela paginagao do periédico justficam e conore- lizam 0 titulo do beoletim e a sua finalidace oropagandistica. Na pagina sete 0 artigo O Professor Bento Caraga, 0 ensino @ o Estado Nove ocupa quase toda a mancha gréfica, sobrando apenas a coluna da esquerda com 0 pequeno texto didactico O Que é democracia, uma breve nota sobre 0 Major Severino e, de novo om caixa, Queremos ElelgGes Livres @ com elas Virko © progresso da gente da nossa terra € 0 desejado respsito da parsonalidede humana. A Reforma do ensino técnico a juveniude domina a oitava e titima pagina em paralelo com a continuagao do texto Louvor da Democracia (ini- ‘lado na primeira), Sao Palavras de Norton de Matos, extraidas da segunda representagao 20 Presidente da Repdblica de 22 de Dezembro de 1948, o apelo, em caixa, Pairiota: Se queres que Portugal seja membro da Comuni- dade das Nagdes, reclama como é teu direto, ELEIGOES LIVRES e, final- mente, uma brevissima nota de homenagem a meméria do Indefectivel demo- crata Professor Abel Salazar ™. Percorrida a intormagao derramada ao longo de quatro folhas de papel, dobradas com oito paginas, ressalta, desde logo, uma insistente @ incémoda exigéncla —a de ElelpGes Livres — convertida logo em provocatéria dantincia: ‘a falta delas! Julgamos que este aspecto pesou no propésito de as autoridades salazaristas agirem, embora o tenham folto estranhamente tarde demais — mais de um ano volvido sobre a data de cistrbuigao clandestina do periédico. Mais do que 0 contetido forte @ anti-situacionista de alguns textos (var Anexo &b € 8c), 0 apelo a oxigéncia de Eleigbes Livres consubstanciava a critica a um jogo Vielado, 0 grito do ravolta contra @ farsa eleltoral montada pelo regime a desmontagem racical da falsa abertura poliica lagitimadora pretendida atre- ‘vés do recurso @ um acto eleitoral para consumo extemo e distensao interna. 7 Sobre este Nstologista, ensalsla, pintor e 2posior ao Estedo Novo ver CUNHA, Noreeto Fer ‘Ganese @evoliia do loedo de Abel Salazar Lisboa: Imprensa Nacional ‘Casa da Meds, 1207, 358 ‘Tao Obvia insisténcia insoreve-se na posigdo mista da Comissio Distrtal dde Braga: recusa téctica de ura ida incondicional as eleigdes, ao contrério da ‘piniéo do préprio candidato, combinada com o propésite de esgotar todos os meios disponiveis para que o regime salazarista, A ditima da hora, cedesse sighalésas, alguns dos quashaviam, até, anun- ciado jd aqucla Orgaisagéo, sentndo a responsabildade quo thes advinha do manda- {os anteriomenie conferidas, encerarem 0 problema que se Ihes ponha de apresenta- 80 ou no apresentagio de cercietures as préximas eleigées, Encararam-no uns Como candidates 2 varios como proponentes, e todos se dispuseram a contibuir com © mlhor do seu esorga @ a corer os riscos a0 acta inaretes. Mas nao the compeia rasoWvar s6 por si. Sob isso deveriam owir © maior numero de pessoas. Porque eram escassos 0s cas para a preparagdo e apresentapéo das candida- iuras, © porque importava estar preparado para uma cu oui das slupbes, em muitos istilos se from equerendo o lando as corid6es de recenseamenta de candidates ® proponenies # mais dacumontos necesséros. CChegado © momento do dic s0 devia ou ndo fazor.s0 a apresontagtio das canaicetras, © de nermonia com o moda de ver ga grande maiona das pessoas Duvides, 08 signatris concturar pela inutidade dessa aprosontacao em relnga0 a provimas eleigées. Para tal roultada contrbuirem depiivamanto as conelderaées Soguines: 968 = 08 recenssamentos encontram-se com graves omiss6es, principal- ‘mente depois que nos Ulimos anos se vim fazenco supressées ma- cissas em relago 2 pessoas que, satisfazendo embora todos o3 requisites de capacidede elatral, rem apontadas como desafectas a actual situacéo; = 0 Governo procedeu como se tivesse 0 propdsite de nao querer que ‘9 oposigsn paricine des apuramonios, quer quando na ultima campa- ‘nha da eleigao presidencial se aproveitou de um protexto para negar ‘20 Candldeto da Opacigde o cireite a ter dalegados nas secedes da ‘oto, quer agora modificanda apessadamento a lei para abolr a (garantia equivalente; — 0 facto de mantar 8 consura, mesmo nos periods elsitorsis, nao sé impede a orlica aos acios do Gavemo, como mula @ deforma 0 ensamento dos propagandistas éa Oposiga — Seria perigoso @ indtil sujetar a rova possiblidade dee prejuiso es pessoas que, por imperaivo de consciéneia, nfo detxariam de rovelar- 50 6 manilasar-se como oposicimistas, dada a fella do minimo de ‘condigdes de fiscalisagso, de seguranca e de liberdade, essenciais & tlignidade © genuidade do acto aetoral E, assim, no se fez sequer a apreseniagéc das candidaturas, Isto nao significa, pelo que podem o8 signatirios testomunhar nem que a Ooo siedo se conforma nem que renuncia & lula, mas explica porque nas ekcunsténcias ‘actuals ¢2 néo aprosentaram candidaturas. ‘No entender dos signatérios deve a Oposigao prossequir e organisar-se, com o ‘apoio des democrates eanvietos, colhendo @ aproveltando os ensinamentos da fonga © ‘dura experiéncia doe thtimos anos, ¢ deve constr UMA FORGA QUE POR SUAS NOBRES E PATRIOTICAS FUNGOES, SEUS FUNDAMENTOS JURIDICOS E SUA ESTRUTURA, NAO POSSA, COM! LEGITIMIDADE, DEIXAR DE TER GARANTIDA A EXISTENCIA LEGAL. Para a consecugdo do tal objectivo devem empenhar-se e carta ieiras quantos faze da sua aitude de oposigie ao Governo um meio de conquistar, para todos os portugueses, as lberdades e garantias fundamentas. ‘Se ¢ ainda possivel a Vossa Excoléncla,invastido na mais alta Magistatura, ‘contribuir para que tenha efectivacso répida esse tE0 palrslica objective, © assim ajudar a que termine um estado de coisas que nos oprima internamente @ externa mente nos alasia,caca vez mais, dos grandes movimentos demecréticos do Mundo de hoje, toda a intervengao que Vosea Exceloncia, Senhor Presidente da Reptiblica, resolva realizar neste sentido, serd feta ABEM DANAGAO. Aniéna José do Sousa pereira Carlos Cal Brando Artur Saraiva de Castlho Eduardo bavreira dos Santis Sive Eduardo Raha Mario Cal Brandéo 370 Julio C. Semedo ‘Joo Meneses de Campos [Aristides Ribeiro José Anténio Ferreira Joaquim Marlo Coimbra Manuel forraira martine Antero de Sé: Alberta Nogueira Gongalves Antonio Macedo ‘Alexandro Freitas Ribeiro Duarte Leite Bento de Melo Luiz Veiga Olivo Franga Men Tinoco Verdi! José Ferreira Manuel Vilola de macedo ‘Amaldo Candido Veiga Pires Eduardo de Sousa Figueiredo ‘Mariano dos Santos Roque Laia Sortério Marques da Silva Luiz Henrique Cordeiro Anténio Dinis| Pedro Monjardino José de Magainaes Godinhs Fernando da Fonseca Cascio de Ancides Luis Dias Amado Caste Soromenho ‘Adotfo Casais Monteiro Nuno Rodrigues dos Santos José paradela de Ollvaira Luis de Aguiar Mario de Azevedo Gomes Fernando Mayer garcia José de Magalhaes Anténio Augusto Ferrelar de Macedo ‘Jacinto SimBes Camara Reys Armando Adio @ Siva José Bacelar Sebastiéo José Ribelo Francisco Vieira de Almeida ereulano Nunes Agostino $4 Vieira ‘Antero Consiglieri Sé Pereira Daniel Aodrigues Helder Fibetro Jodie Pina de Morals Fernando Lopes ‘lio da Fonsaca Raul Pinto Coslhe Madeira Fernando Vale Fernando Abranches Ferrio outras assinaturas, art 372 3 — [Lista dos Presicentes propostos para as Comissées Distritais dos Servicos de Candidatura]* Aveiro Dr. Manuel Luiz da Costa Figueiredo Médico Avenida Visconde de Salreu ESTARREJA Beja Dr. Luclano Aresta Branco Médico ua Cinco de Outubro, 33, BEJA Braga Migust Augusto Alves Ferroka Propretério Lugar da Cruz Froguesia Antime FAFE Braganea Or. Luiz Augusto Pinto Garcia Professor Liceal, aposentads BRAGANGA Castelo Branco Dr. Luiz Augusto Pinto Garcia Professor ua Cinco de Outubro, n2 5 ‘CASTELO BRANCO Coimbra Dr. Fernando da Costa Ferrira Lopes ‘Advogada COIMBRA Evora Francisco José Chavoiro Cahau Proprietro Rua dos Traz Senhores, 25 EVORA Faro Dr, José da Siva Nobee Médico ua Vasco da Gama, n= 28 FARO ABM. — Dosslar Candicatwa & Prasiséncia oa Republics. 373 Guarda Dr, Adeline Lopes Médico GUARDA Leiria Dr. Vasco da Gama Lopes Femandes Advogado Letra Lisboa ‘Anténio Lulz do Gouveia Prastes Salgueira Oficial da Matinn, reformado Avenida Duque de Loulé, 85, 3%, Direto LISBOA Portalegre Jorge Fradetico Velez Caroce Coronel, reformado PORTALEGRE Porte Dr, Eduardo Fereira dos Santos Siva Médico ua Formosa, $08, primeiro PORTO Santarém Dr. Eueo Fonsira Advogado SANTAREM Setibat Dr, José carlos Pinto Goncalves Advogado Rua do Criixe, 28, 2° LusBOA Viana do Castelo Antério Augusto Alvaros Ferra Coronel roformado Fu de So Sebastiso VIANA DO GASTELO Vila Real Antécio Femandes Vardo Propretaio ua Anténio de Azevedo, 86 VILA REAL, Vizew Dr. Alvaro Monteiro ‘Advogado ua Dr. Luiz Ferroira, 69 vizeu 374 DISTRITOS INSULARES. Angra do Heroismo ‘Antéro Consigleri $4 Perera Comereianta ANGRA DO HEROISMO Ponta Delgada Or. Carlos de Medsiros Cabral e Molo de Betencourt Advagado PONTA DELGADA Horta Horacio Ferreira Salcio (Faia) HORTA Madeira Dr, Jodo Brito Camara Advogado ua Pedro José Omelas, 2A, FUNCHAL COLONIAS Angola Dr, Anténio Siméee Raposo ‘Advogado LUANDA Mogambique Falisberto Gomes Ferrelrinha Avenida Gomes Freire, 38 LOURENGO MARQUES Cabo Verde Pett Ferreira dos Santos SAO VICENTE (Em telegrams de 4 de feverero, o sr. Ferreira dos Santos disse estar ddoente, ‘Agradocia © honroso canvite © pedia escusa, Realmenta é velho e docnt Guiné Mério Lima Wahnon BISSAU ‘Sio Tomé (Nao tem Delegado) India (Foram indicados varios nomes de Democratas, mas ndo chegou a ser nomeado renhum. Nomes das pessoas indicadae: Dr, Anténio Sequeira, Dr. Sales Andra de, Dr. Alvaro Remedios Furtado @ Dr. Gomes Pereira) Timor Camilo Andcé dos Santos Ferro DIL Macau {(Néo chegou # ser nomeado Delegaco) 375 — os Republicanos de Portugal (Tégicos)” 1) Republicanos sto para nés apenas aqueles dos portugueses, habilantes {Ja Metrépole 9 das provincias ultamanias, nos quais se mantem, em toda 2 bua (0rga © puraza Wummoctalica, v waite Ue S TOulubre de 1970. 2) Claro esté que bem sabemos que nestes 29 anos profundas mocificagies se decam na mentallacde dos portugueses e que a alas temos de alendar, ‘mas ndo ha divida que muitos milhées dos habltantes de Portugal ostéo animados daquele espirte © sabem bem que a forga nacional que dele fomana a dniea capar de nes manter na posige de nagao independents, na posse de todos os teritrios portugueses e na intengdo de os civilizar \valorizar cada vez com mais vigor e sem nada perdermoe da soberania qua 3) Sendo assim, nfo podemas nem quereros dirigi-nos 20s portugueses que esojam a implantagao da monarquia em Portugal, nfo porque nelee dot xem de concorrer 05 palristicos designios que nos animam, mas porque Julgamos essencial para o bom e principalmente para a seguranca do nosso Pals aquole esprit da Republica, 4) De modo algum nos poderiamas ou queteriamos também dirgir aos comu- nistas portugueses, a exemplo da Asia, e por ele aprovadios, desajam ‘mplantar em Portugal instiuig6es politeas de natureza bolchevista, '5} Continuamos, porém, a ser, como tantos outros portugueses, sem divida a maiotia deles, opostos ao regime paltco,implentado entre nés em 28 de Maio de 1226, citatoral © com raizes em regimes totaltarios que foram © fstdo sendo funestos 20s novos que os deixaram introduzir entre eles; ‘apenas trabalhamos @ trabalharemos para se restabelecer de novo em Portugal a Repiblica, uma Segunda Republica por certo, mas republica na sva fundamental esséncia. 6) Quanto aos outros portugueses que aspiram aos regimes poilticos a que sludimos, a nossa propaganda e os estarcos para se reslabelecer de nove tum rogimo republican tudo fardo pala os no deixar truer. isio nao imped porém, que os raspeltemos, irdividuelmente © nos agcupamentos que formem, desde que nos convengartes de que com 0 seu agit em nada 0 projudicara a indepandencia nacional e integral manutengao dos terté- tive portugueses @ de nossa plena soberania, 7) Dois acontecimentos recenles se vieram lunlar a tantos outs © nos obd- ‘garam a sair do nosso silencio, Um 6 a nova lel eleitoral, posta em vigor, outro, 6 a abstengdo total que ‘esponténeamente, sem qualquer indicagio ou sugesiéo, como proiesto ABNM, — Opostor ao Estado Novo, maco 8, pasta 2 378 8) 9 solene, a oposigdio a0 actual regime resolveram manter poranie as olsigdes de membros da Assenbleia Nacional. ‘A nova legisiagio oleioral a quo so deu 0 nome de Coordenagéo de leis leitorais, quo mais propriamente se devia chamar de Eliminagio de leis leitora's, e que foi posta em vigor, segundo normas anti- Republicano Portugues se raorganize com toda a ‘empltude que a palava “organizagao” indica 18) Ficam assim escritas 6s palavras que 20s republicanos porugueses enten- domos dover digi Outras porém nos esté dltando © nosso sentir de Portugueses, que ontendemos ndo dover calar. So elas clrgidas aoe Portugueses que no so enimados no seu praceder, coma nés.o sdmes, pela ideologia da Rervblica de 1910. Quaremos dizor a ease grupo de Portuguoses, que acabam de reunir em Assembleia as seus representantes, ‘que pensem iniensamente no bem e no mal que podem fazer com as suas Fesolugdes; que estams convencidos de quo so acima de tudo portugue- 808 @ que nada farac sem terem a certeza do quo das suas deciséas renflum mal podera resultar para a sua Patria e qua para se obler essa ‘cerieza¢ indispensavel ouvir a opiniéo pablice, solicité-la e eatimuléla, em ver de a pér de Indo. Pela nossa parte estamos resolidos a fazer @ poss{vel, empragando todos ‘05 meios lagais a0 nosso alleance, para olucidar a apinige pbiea @ para cchamar a atongao de todes os portugueses, sejam quale foram as suas ‘opiniées, ereneas e ideoiagias politioas, para as perigos que esto amea- {gando Portugal em consequéncia da manuten¢ao de um regime politica Contrério, om grande parla, aos direitos do homem o, totalmente, aos Drineinios demecratices, liberais e pariamentares de nagdes a quem nos temos dé Figar para inlaresse nosso e dalas @ para o bem geral da huma- nidade. 16 Ponte do Lima, 22 =X ~ 43 Norton de Matos 379 5 — MATOS, General Norton de Matos — Conferéncia. Aveiro: Edigao dos Candidatos Democratas por Aveiro, 1953 [Nao pedendo, por falta do sauide, presiir & sesso de propaganda eleitoral da opesipio democratea, afactuads em 21 do corrence, a note, em Aveo, 0 sf. general Norton do Matos, que foi antigo ministro da Guerra, allo comissario am Angola ¢ fembaixador de Portugal em Inglaterra, poferiu devois de um almogo naquela cidade lavoirense e perante os candidates republicans @ slgumas indluidvalidades, a soguinte conference *0 distto de Aveiro com as suas elevagtes a laste, a atingirem por vezes 1.000 ‘mols de altura, e inftexionando-se, ainda que ovo, a nordests 2 a sudoeste, como tendondo a envalver, o mar que o limita a ceste numa extenso de 60 quildmetros,cépia, reduzindo-a, a forma anlitiaiea do tertéro portuguis da Europa. O rio Vauga @ 0s sous afluentes 6, a nosdeste, um afluente do Douro — 0 io Paiva —~ constitvem um conjunio fluvial que muito fevorece a ragiaa, Este aspect topografice resultam de mantanhas, de {eras baixas intensamente culvadas, do numerosos bracos de ros, de zonas lorestis, tudo isto apresentando-se aos meus olhos, habilvados a contemplar enormes extens6es de cordiheras e de planicios som mites, como so fosse uma bola miniatura, 6 sublime- do pela existineia da ra vasta @ pilorsca, estendendo-se com a sua curisa forma de pole de dezzenas de bragos sobre uma superlicie de sessenta quidimotros quadrados. Zonas da terra, em que se encontram tantos elementos naturals de beleza, de uilidade e de raridade, née podem deixar de infulr profundamente nos homens que 08 habiter, iva @ ventura de pasar férias grandes do meu quarto ano de matemética em ‘Avelto, coma soldado aspirante do Regimanto do Cavalaria 10. Devi este castigo abengoado ao facto de ter apoinda o que era justo numa grove de ostudantes, Visio; tentdo todos os seus concelhos e lambro-me da imaresséo que em mim produziram os habitantes que em grande nimaro encantrava, Emtodos eles, homens @ mulheres, 52 rotavam a allude de indopendéncia, a linhas de decisAo, @ nitida compreensdo das coisas, a plena seguranga na vida ‘Com homens destes, que hoja davem andar por 400.000 no s8 pode contar para representar comédlas politcas, para se sujetarem a trenias e a humilhagoes @ ‘go # necessévio tocar a rebate para Ines anunciar que alberdade eslé em perigo. Eles bem © sabem. Na casa patema, casa de liberals © de adeptos apaixonados da forma de govarno dos poves a que davam o nome de demccracia liberal e parlamentar, muitas eres ouvl falar do papel que o povo avoirense desompenhara no advenio © na Cconsolidagdo do regime de liberdade em Portugal, como procodora nas suas iuias Contra os absolutstas, o que sofrera @ a que fora asua vléta final. Toda esta epopsia, {que 0 foi realmente, embalou a minha Infancia @ @ ninha mocidede e esta circunsténcia, explica muito de meu proceder. ‘0 movimaato vintista liberal {eve a sua pimeira manitestacdo na cidade de ‘Aveiro. Todos sebemos como esse movimento tiunfou, coma foi derrubado, como ‘voltou @ vencer, como s€ consolidou e camo resistu, durante tr8s quartos de século, 380 4 todos o8 embates do interior © co exterior, que procuraram darrubar a liberdade om Portugal Em 1910 proclamou-se a Fepiblica que, @ meu vér, cantinuou @ consotdagao a liberdada, intarnamente, apoiando-se mais no povo, chamando-o mais ao governo do pals, dando as instituigGss ropublicanas um cardcior cada vax mais representative «, extemamenta, transformando a nossa posieSo no mundo, igualando-a as das nagBes ‘da Europa por meio da nossa intavengio na Primeira Grande Guerra, Todos nés, republicanos, abemes © que foi passivel fazer, em grandeza e Brestigio para Portugal, nos dezassels anos da Replibiea que construimes, da nossa Repébiia, 4 taefa fol to grandiosa, que no nos apercebemes, de que, dasvalrados uns ¢ falsos portugues@s outros, nos estavam a apunhalar pelas costas e de que yhagdes estrangeiras olhavam 0 Grama intemo para 0 aprovetarem aumeniando o seu dominio. Fex-se eniéo cair a Reptblce, substivindo-a por outa que dura ha 27 anos, © que nfo tem sido a nossa Repiiblca, Feito este preambulo & mirha Conferéncia 6-mo fete eizer que em nenhum our meio, como 0 de disite de Aveiro, me poderla encontrar que tanto me incilasee 8 falar com intera independéncia e com o airelto pessoal em que o mou passado me investi, sobre a signticagso da oposi¢ao poitica quo neste iniciar de uma eampenha leitoral esta representado por ir8e grupos de republicanos que em Lisboa, , no Porto 2 em Aveiro, se arguam serenamente para defrontarem as dezenas de candidatos que a Ditadura escolheu, ‘amos fazer wna guerra de gueriihas, apoindas pela grande maicria do umn ove na Metrépole ¢ no Ultram. Diz-nos a Histéria Milt que, por vazes, ossa acpice de guerra tom sido mals proveitosa do que aquela aonde s6'entram exéretes. © povo de Aveiro sem excepeao dum Unico dos seus habitantee, eaja qual for 2 sua situagéo poltica @ social © os sous principios, saberd bom apreciar a grandoza 4a alltude dasses republicanos. © passado dessa povo garante-me que ele prinespiou if @ Inolublo na histéia das lites pola ibercade, Estou certo também quo nos habitantes do cistito de Aveiro no careco de dizer 0 que para nds significa a palavra republicano ¢ quando ela se opde a tudo ‘que seja violencia, titania 9 absolitismo, & limitagsa da expresso do pensemento, ‘ral ou escrita, & lberdade individual @ oolectva, & falta do reconhecimento dos direitos do homem, procedimentos estes que no passada juncaram do mérires cela terras portuguesas, Nao ha divida que a nosse Rendblica desaparecau © fo! substiuida por insti- tuiges as quals no posso dar o nome de republicanas. \Vou alizer coma isso acontereu. Esforgat-me-el durante a minha exposigéo pot nao me debiar envolver por qualuer paixéo e muito manos por éeies e oriicas ofensivas. Estou @ pisar terra sagrada om consequéncia do multa que aqui se sofreu 381 para implantar a liberdade, que tristemente perdsmos hé 27 anos: — tenho de a respoltar © docaparocimanto da tierdads © a 2ua cutalituiggo pola opreeasio, pelo ebeo: lutismo, deverse ao surge da uma doutrina nova @ que asta pondo no malor dos perigos 8 civiizago om que tom vivo grande parte do mundo desde o eparecimento de Cristo, [NBO vejo no passado outro perigo a este serselhante que nao seja a doutrina ce Mahomet © a sua répida transformagio em expansio terrtorial destuldora Fo} a concapeao germanica de Karl Marx, fermulada genialmente no manifesto ‘Comunista de 1847, que estaboloceu o mal sacial de que todos os habitantes da terra ‘esido solrendo, 9 criou 0 perigo quo esta obrigando todas as nagées ocidentais a ‘vencé-o sob pena de sucumbirem calcadas por ao. ‘As primers palavres desse manltasto so: até um espectro aparecendo & Europa — a.espectro do Comunismo. Todos os ppoderes da velha Europa estio formance uma santa alianga para esconjurer esse ‘ospectio: © Papa, o Czar, Metternich e Guizot, oe radicals Trancoses @ 8 espides alomaes da sua policia’ ‘Ae suas palavras finals 680: "Soria para nés comunistas desprezivel ocular 9 nosso modo de vere os nassos fins. Abertamente dectaramos que esses fins 36 se conseguiréo pola destrulgdo com= plotee forpada de todas as concie6es sociais axistontes. As classes que hoje governam romero peranle a revoluggo comunista. Os protearios nada tém a perder que no ‘Sojam as suas grihetas: tém um mundo a ganhar’ Nao howe desde a publicagho deste Manifesto, sossdgo na terra! ‘As esperancas que ele fez despontar na classe proletéria, aumentarar 0 mado que produziu nas outras classes sociais; © naturalmente se passou a temer mais a realidade prolelaria do que @ cantusa abstracgae Hlosdlioa do esplrite germanico, da {qual resullou © Manisma, E fol assim que nas comunidades humanes civilzadas nasceu 0 medo nos proletérios © a consequante separacao de uma classe da outra, quebranda-se 0 equi Nbrio social incispensavel. Ganharam os proletérios com este mado? Perece-me que nda, pois que o med ‘ponhum bem pad produzt; mas tenho a certeza d2 que perdoram ae outras classes sociale, cuja vida harménica dentro de cada comunidade a civlizegho orista tanto so tem esforeado por conseguir. Intensifcou-se a querra de classes. Nos 70 anos decorrdos eentre a publicaggo do Manifesto Comunista 9 o fim da primeira Grande Guerra, todos os acantecimentos histéricas de importéneia mundial foram infiuenclados por esta guerra de classes consequéncia da doutrina de Marx. "enna de cortar desta Gonteréncia a exposigéo, ainda que muito suméria, dessa sincere ¢ decisivo & obra nacional de educacéo © de cultura popular’ ‘Apesarde muito bom, 0 artijo“O Prof. Bente Caraga, oensine @o Estado novo", ficou aquam dos meus ardants desojos, sobre a insirugdo @ a educapao do mau pais. Na mesma pag. 7, vem um artigo initulado “O quo é a Democracia’ que, juntamente com 0 primeira artigo, digido “Ao Leltor’, devera te feito hesitar 0 autor a "acusagao", com boa mente e zomare com 0 mesmo respeita 0 digo, Nesee artigo, biz-se: "A Democracia 6 um regire de liberdads e justica @ a sua expressao poll ‘mais perfoita é a RepUbilea”. nada poderia expressar melhor a doutina que eu sempre segul @ me guiou na minha qualidade de Candidato & Presidencia da Républica. ‘Vou conclir, mas antes disso ainda vos quero dizer que liom a mais profunda atongio a principal parte das propagandes levadas a cabo nos estados Unidos da ‘América de Norle e da Inglaterra, quer oralmenta quer escrita, a respelto da eleigdo do Presidente da Republica, na primeira nagdo cltada, © dos’ mombros da casa dos CComuns, na segunda, Por vazes me feriu no meio desta acanhamento o quase timidez Infant em que quase todos vives aclualmonte em Portugal, a violéncia e 0 tom agressive das acusagas aos candiatos diversos e 20s paridos diferentes que as finigaas concoriam, aos idiais ¢ principios que eles personificavam ou arvoravam ‘como programas pollicas, Tudo 0 qua se ls na publicagao "Eleigoes Livres’, noutras publieagses que do mau lado apareceram, minhae ou de cidadics que me apoiavarn, {edos 08 discursos por mim e pelos meus colaboradores proferidos, podem classiicar- 88, em comparacéo com o diatritico escrever e com 0 aspero falar dos escriores o 405 coradores angjo-saxdes dum e deuto lado do Allanico, como limpidas gotas de orvalho ‘sobre potalas de rosas. ‘Depais de tudo 0 que acabo de escraver, que me compote dizor-vos, a vis. ois, meus valhas Amigos, e a teda a Comissao Destritat da minha Candidatura de Brage? Que aguradeis serenamante @ tranquilarrente os resultados, as consequen- cias desta acco juccial apenas Inciiada; que punhais este caso nas méos dos fSdvogados que escolnerdes; que procureis seronamente evitar qualquer cenario espectacuinso, onde so procure renovar propaganda seja de que espécie fer, pois {que fui ev 0 primeira a indicar que era necesséro termina-la, dissolvendo, no dia Seguinte 20 da eleigdo do Presidente da Repdiblca, todas as ComissGes dos Ser- vigos da minha Candidatura, @ todos vos como eu, recalhemos franquilamente as hhossas casas, aos nostos afazores, ao oxercislo das nossas profissOes. com & plena conaciencia do dever cumprido, sem esquecermos, prem, que continuavs- moe @ sar, acima de tudo, cidadaos portugueses. Se carecerdes de mim, izei-me, Eu nunca abandonel quando de mim pracisou, um colaboradar eum companeio dos trabalhos da mina vida e iri dizer, onde for preciso, quanto vos estima, considero © rospeito, equéio bem soubesteis cumprir, como neus mandataris, as instrugSas que vas dei, a crientagao digna e patridtica que vos tarquei. © decierarei mais publcamente que se aiguom ha que mereca censure, Teprovagao @ castigo am tudo o que se passou do meu lado, na minha Candidatura, j& Ia vai mais de um ano, esse alguem 6 posso ser eu. assim termino esta carta Sou, com & maior considoragao e estima, De V.as Exas ‘amigo muito dedicado e grato Edigho da Camara Municipal de Braga Seperate do Vol e Revista Cultural BRACARA AUGUSTA,

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