A lém das incertezas e oscilações que rio há sério risco do setor de transporte des) com a queda da oferta e da qualida- vêm sendo vivenciadas pelo mer- urbano ser afetado pelo encolhimento no de dos serviços de transporte público, o cado financeiro no País, o próxi- orçamento público e, com isso, ter sua sus- aumento das tarifas, a evasão do modal mo efeito da crise no Brasil deverá tentabilidade econômica e financeira com- coletivo e o aumento do transporte indi- ser sentido no mercado de trabalho, com prometida, na medida em que importan- vidual. Evidentemente, a profundidade o aumento do desemprego. Tal aumento te parcela desse equilíbrio só é mantida com que a crise afetará o setor de trans- do desemprego deve desencadear uma por meio de subsídios governamentais porte urbano depende do seu grau de pe- queda da demanda por transporte públi- (em especial no setor metroviário). Pois é netração na economia brasileira de uma co coletivo urbano, levando a uma redu- exatamente este efeito que passa a ser sen- forma geral. Nesse sentido, muito tem si- ção das receitas tarifárias das concessio- tido nos EUA, de acordo com reportagem do apostado no potencial do Programa de nárias. Como importante parcela da re- recente do The New York Times. Apesar Aceleração do Crescimento (PAC) de mi- muneração dos serviços de transporte ur- do aumento do número de passageiros nimizar os efeitos da crise e agir como me- bano se dá por meio dessas receitas, não transportados pelos sistemas de transpor- dida anticíclica. é difícil visualizar que a sustentabilidade te coletivo em várias cidades americanas Para a área de transporte urbano, o or- econômica e financeira desses serviços ter elevado as receitas tarifárias, esses cor- çamento federal inicialmente previsto no deverá ficar fragilizada. tes no subsídio tarifário implicam em au- PAC era de R$ 1,634 bilhões. Com a inje- A escassez de crédito gerada pela re- mento do preço de tarifa e/ou queda de ção de novos investimentos no programa, tração da economia e desconfiança do oferta do serviço em termos de quantida- este número passa a R$ 2,044 bilhões, se- mercado, por sua vez, deve dificultar às de (com eliminação de algumas linhas) e gundo dados do Balanço de dois anos do empresas de transporte público o acesso de qualidade (diminuição da manutenção PAC. Além de corredores de ônibus e am- ao crédito necessário para ampliação e dos ônibus), com prejuízo evidente sobre pliações de linhas de metrô em cinco re- renovação da frota. Caso essa restrição os usuários dos transportes públicos. giões metropolitanas (Fortaleza, Recife, de crédito se concretize, o Brasil poderá Por fim, medidas recentemente adota- Salvador, Belo Horizonte e São Paulo) pre- observar um avanço na deterioração da das pelo governo do Brasil visando a apoiar vistos no projeto inicial do PAC, o Gover- frota nacional de transporte urbano com a indústria automobilística – como a de- no Federal está incluindo dentro da ru- consequente queda na qualidade do ser- soneração do IPI para aquisição de novos brica do PAC as obras de extensão da li- viço e penalização para os usuários. carros particulares – podem trazer efeitos nha do metrô de Porto Alegre e o projeto Atualmente, segundo pesquisa da Asso- negativos sobre as condições de mobilida- do trem-bala que ligaria Campinas ao Rio ciação Nacional de Empresas de Trans- de nas cidades brasileiras. Se, por um lado, de Janeiro. portes Urbanos (NTU) realizada em 132 essa isenção tenciona manter aquecida a Percebe-se que a expansão das linhas cidades acima de mil habitantes, a idade produção de automóveis e garantir o nível de crédito do BNDES e os investimentos da frota de ônibus urbanos do País é de de emprego no setor automobilístico, por do PAC se apresentam como as principais seis anos em média, uma idade conside- outro, ela aumenta o acesso ao automóvel apostas do governo para escapar aos efei- rável, visto que, de acordo com especia- privado e estimula a evasão dos modais de tos da crise. Contudo, para que estas me- listas, a idade média ideal seria cerca de transporte público para o particular, con- didas tenham alguma eficácia persistente três anos. Embora o BNDES esteja am- tribuindo para o aumento da frota de car- no enfrentamento do atual problema da pliando sua linha de crédito para compra ros (problemática já presente em grandes mobilidade urbana, a cooperação federa- de ônibus novos e usados, não há certe- cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, tiva e a coerência das ações governamen- za se essa ampliação será suficiente, pois etc.), o que fortalece uma tendência insus- tais deverão constituir pontos chave. essas linhas de financiamento responde- tentável da mobilidade urbana e diverge da ram por apenas 2,4% das operações de Política de Mobilidade Urbana do Minis- Rafael H. Moraes Pereira é sociólogo pela UnB e mestre em compra entre 2005 e 2007. tério das Cidades. Demografia pela Unicamp. Pesquisador bolsista do Programa Nacional Diante da possibilidade de agrava- Fica claro que esses efeitos, em con- de Pesquisa em Desenvolvimento (PNPD) do Ipea e Ana Paula mento da crise, o gasto público já passou a junto, comprometem as atuais condições Borba G. Barros é arquiteta, mestre em Transportes e doutoranda sofrer maiores restrições com o corte na de mobilidade nas cidades brasileiras em Transportes pela UnB. Pesquisadora bolsista do Programa Nacional verba de vários ministérios. Nesse cená- (principalmente cidades médias e gran- de Pesquisa em Desenvolvimento (PNPD) do Ipea