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Pelas ruas da cidade uma mulher precisa andar Ligia Chiappini Resume sus peop roa pce olong ene pase pe de ‘cage apo caper ome a5 dese qe etc rao ere eatin Polaaschare (Gus Uspecer here dine Mabe, Gripen ent, esac “he tet eens to am aba Che Lipeates wor rig ar wre rearing atthe Toughest nan reson arr wera, ty 2 per erect hth gs oer ep wars ‘ice ipa warn ad cy Mach i povery and ate Leitura de Clarice Lispector Muther e pobreza: 0 ponto cego da critica Por demasada viiveis, Geqilentemente fos de inguagem se woram invisiveis. Iso ocore no cotidiano de qualquer usuriodalingua:sso ‘core também no ofcio da cia litera ‘Acctitica de Clarice passou muito tempo se preocupando com o que havia de exsten- cialismo na sua fcgS0, sem enxergat a evi Gente paricularidade através da qual ela in- Gagava sobre a existéncia bumana: a condi Go feminina, A partic da década de 60, (quando os estudos Berrios induenciados pelalingistica atentaram para importincia do tabalho com a linguagem, para a sua cspecificdade e para 3 atividade metain- ailstica na literatura moderna, foi ese 0 aspecto mais acentvado pelos comentarisas, {gue, muita: vezes, cairam num formalismo cetrcto, reduzind tudo a lingvagem, ¢ el propria 2 uma espécie de forma vasia de contetido, contexto © histéris, Excegio despercebida foi Gilda de Mello «Souza que, jf em 1963, quando se publi- cou Magi no escure,acusa¥a, no olhar miope da narradora ¢ ns forma como ch © as personagens feminins viveuciavam o tem po, © modo conereto de Clarice tata das aquestbes mais geais da existéneia, pela via o ferninino, na temitica, no estilo e aa atmosferafiecionsl oneir, Gilda de Mello eSoura aponta- va ai uma “vocacio pan 2 minicia” ¢ um ‘spego a0 detalhe” que atibuis & “posgdo social da mulher", conGnada i can e "mo- vendo-te come coits num mundo de cose, como fiacio de tempo num universo tempo- ral”. Assim, espaco confinado e tempo ex- ppandido, ambos facionatos,seriam “divisa- ios de muito perto e mom lampejo”, num “veriginoso relance” "Nada mais citadino,afnado com 2 angi tia do metropole, do que sapreecuparioem fixaro “urgenteinsante de agora" buscando ‘urpreender num laciéo lampejo todo 0 sentido da vida", o que implica 2 busca dos avessos, do que os sentidosdeixam escapar,“o inacestivel, 0 inexprimivel, aquilo que nio tem cheizo e nZo tem cer, quilo que ainda i foi dito”! Mas Gilda fica, duriote muito rempo, soliiria, Somente na década de 80 comesaria a desfizer-se o que podesiamos chamar agi eo primera ponto eg dare: do feminine como mediagio importante para a temitica cexittencial em Clarice, ro que tem de mais sigaiGcaivo para a sua eeflexdo-intuiglo so- bre o cempo, 0 ser € 0 mada, A pari df, ‘oferinino na rama, nos pos, no estilo, mas, couriosimente, sem valoraar devidamente 0 ‘ensaio, anterior, de Gildade Melo Souza E, cde-um modo gerl,condinua-s esabelecen do uma separaco, meu ver forgada,entteo social, 0 existencial, 0 lingiistico eo femini- fo, que no me parece sstentar-se pel 2 lise da obra, Eaxergs-fe cra um or3 0 0316, ios textos exticos buscam ola ea leona er peta ‘muito raramente, 2 reledo dinimica entre ‘todas eles, como aspectos de um projeto mais feral ecocrente (0 que nio quer dizer estts- 0) da autora? ‘Mins hipdtese, 20 contsiio, & de que ‘essas coiss todas estio mais relacionadst centres do que os crticos ea propria Clarice sdmitem. A incergio da temiica cocial cexpecialmente neste conjunto me seduz, ‘quanto mais nlo seja porque sua exclusio. ‘ouconfinamentoa certas obras como hore 4 etela me parece indicar uma limitagio e pelo menos duas vertentes da critica até hhoje dominantes: aquela que, demasiado preocupada em ser modems, combate 0 realismo e exalts o trabalho com a lingoa- gem como se ete fosse porivel sem 0 trabalho da significagio ¢, poranto, da interlocugio que supe historia e por ela suposto; quela que, preocupads em ilemi- nar a signficagio filesfica da obra, passa direto a ea, sem tampouco levar em conta ss mediagaes. ‘Solange Ribeiro emboranioarticule bem sa temtia exisenciale exces & socal, & que _mais proxi esteve de superar 0 que chamet siris de ponto cego,articulando 2s temiticas feminita ¢ social ma obra de Clisice que, segundo el, extara “longe de concentrar-se roma suposta experincia feminina univer- sal", exprestando 2 situagio da mulher de caste média, “press, na era atimica, dos conflitor espeifcos de seu sexo © de sua casi", Siuando esa obea mum “novo mo- mento do movimento modernist incemaci- coma", quanto 20 modo de perceber as rela~ ‘ee entre homens e mulheres, vé nas suas pesionagens femiainas espécies de ancestrais dices de uma Eva futur, vinculando a busca, 1 Gide & MELLO E SOUZA, “O vegas ence, Comet, Ri Jno, 1963: repabado em xe lei Si Pas, Dus ide, 10, p, 90-9, Cea O Bale da Qua Arts 2 Verse Ronn de Mae, Cpe sic, 5, 1989 Benania ABDALAJR. Sami Yoose(CAMPEDELL, CCP 1985, 195-205, Coe Ages. icin Chae USPECTOR, Apt gndo CH ei cies or Banat Nunes, Pats, chives, ‘metaisica dessas mulheres 2 uma “fuga cons- Se retrocedemos na obra de Clarice, ‘vamos encontrar certas mulheres que, de ‘uma forma ou de outra, antecipam o en- contro de Clarice com Macabéa e das quai ‘eita pode ser um avesto reprimido: 0 aves 10 da pobreza, potencializando indagagSes fandamentsis. ‘Num enssio ainds inédito* estado al- guns contos de Clatice, perseguindo essa hipétese, O objetivo deste texto & quase 0 mesmo: puxar um fio temético-estilistico 1a fico de Clarice que, embora um tanto 6bvio, andou sseematicamenteinvsive para ‘maior parte da critica, Esse io tem a ver com cidade, a pobreza ¢ violéncia,senti- as-pensadas-vividas pelas mulheres. Aqui, porém, conto dsfis-lo sobretado pelo con- fronto de dois romances que, aparentemen- te,nada tém em comum: A horadaestelae A pais segundo GH? ‘Trata-se de chamar a atengio para uma ddupla partcularidade: 0 sexo © a clase social, mediagbes indispensiveis 3 temética cexistencal e& relexdo sobre 95 limites da linguagem ¢ da narragio, Ao atentar para essa paticularidade, tenho em mente um contraste entre 3 obra de Charice ¢ a de ‘outro escritor tio urbano quanto ela, Ru bem Fonseca, Com isto pretendo avangat ‘um pouco mais um estado apenas anuncia~ do em ensaios anteriores Rumod radofinsoca mero romance deCice pete” Renae itp. 95-105.0 teste core Ahi e4 lie: aance de Ce Lip, Rio deez, jst Oyapi/INL, 1985, hie, p 10. (indo doen €"Malheres, ike medi” ites yada Am des (977 6 Rio de ac Jou Ogi, 98, HEA pal de CHCI960, 4d Rode anti Joet hpi, 1974, GH ada dodanie (197), 2.0 Rl de anco, Jost Obpie, 75, FCA ao dnp Rio ac, ten 1974, VC; Vas do pe ines, Ri denier ‘Als 1975, VE: One ee de al, Rio de ec, Antero, 1998, OEN. 8 Tene dor enner ios “Pio, cade elias mo Bei 6 "Mode, bao eva seat ub eo Bra" eso “A quo dre ae una ca edo ues" BB, Pot ‘lage, Mercado Aba/PUC-RS, Provides, rown Univer, an0 5, 87. 1992p. 7-0, Un dh vee dene daca ds po bain denepesodocomoromancenorte-meiano,epcsest oman, (tind do preset cui, pono Raymond Candles Pm da dade homem preci and) goer smaer a direnc de Cie Ligectr em los ea tena, Elizabeth Lowe, num interesante livre sobze a cidade na literatura brasileira? consi- era Rubem Fonseca e Clarice Lispector 0: representantes de uma literatura mais tipica- ‘mente urbana no Bras, mas no aprofunda 0 bastante as diferengas ente um e ous. Por futo lado, aqueles que julgam descabido o panlelo, invocam sia diferengas, sem no «entanto levar muito em conta 3 exsténcia em ambos de cenicios, ipo, inguagem,sitaa~ es proprias das nos cidades em diferentes momentos do procesto modemizador que vivenciamo: a partir do final dos anos 50. A smaneira peculiar de cada um shui implan- ‘agio do capitalsmo selvagem, que ganha jmpulo com a dtadura mili. TLembre-se que, depois de 1964, a urban zagloseacelera,apopulagio urbana ultapassa de longe a populagio rural ¢ a indéstcia se impae sobre a agricultura, Em conseqiénc! ena fila de uma reforma agra, os rabalba- lores do campo te veem cada vez matexpl- sore sua ters, tomando-te margins entre (0s miserives das grandes cidades, cada vez ‘mais miseriveis, pois a cidade nfo atende a uma séziedenecesidadesque,entretanto,nio ‘essa de criar ede renovar, pela publicidae. Bsa, juntamente com os meios de comunica- ‘lode masa, também passa ganar cada vez ‘ais espago.Clarice e Rubem publicam sss ‘obras mus sgnificativas mas décadas de 60 70, expeesando mais ou menos direts e mais fou menos crcicamence os efeitos sobre os Individuos dessa modernizacio iemplantada 2 ferco ¢ fogo pela ditadura militar e fandada sobre a exploragio do corpo e do esprit da maior parte das homens e moleres do Pais. Apanhar essa temitica em Clarice no & {Ho Gicil, pois 2 posigio do narrador em sua ficgio ébem diferente daguela do narradorna obra de Rubems. Em geal este é maisseguro, _patecendcrermais na posbilidade derewra- tar, feito cronista, a ralidade observada. As eas ast lade oma mae pcsa adr smbigdes de ambos também se dsinguem: Rober pira na cnica,consat, revels, em textos onde 0 mais evident é 2 exénia. dos tos, muitas ‘vrei reforgadaporcomertirosdespisadores ds propa mrradora ois cies tende também 2 oblterar 0 social em livzor onde cle esti menos cenplicit,coma € 0 cata de A pao segundo Gieaceisar-secoganarseasuacxpictayio 2 ponto dento veremtexcos como A ves 4s corse hor da eel a permanénca des quests exten ¢esccas que, de uma fn de ost form, a ectora pesiegue 20 conjunt desu ob sien Lisa Lenn and Toon, aiigh iki Union Bre, 1880 4 Wea Scat ‘Um caso interessante € 0 do liveo A vie nui do capo, que se quer explicito no trata ‘mento diretodosexo,"horadolixo”,no dizer a ancor, Poistadoissoémuito discutvelsna verdide, nio € tio explicto asim, narando Sensagdes mals do que fitos ¢ tabalhando ‘muico com aalegoria ea parédia Padi, por cexemplo, de Dalton Trevisan, 40 tatat do assastinato impune de um homem por dust mulheres, ou 20 defrontarum homosexual e tama gata de programa, na diputa de quem mais ferinina ("Praga Mani") ‘A propésito desse live, tse lado em

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