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Digitalizado com CamScanner CAPITULO _9 ee qu ya oc m us oi 1 Por que Choram os Bebés? z e c 2 a i é ra alguns aspectos bastante | e semos examinando até agora al Sbvios do desejo materno de conhecer 0 seu bebé e da neces. ; sidade que o bebé tem de ser conhecido. Os bebés, tanto quanto necessitam de leite e de carinho maternos, também precisam do amor e compreensao da mae. Se ela conhiece bem o seu bebé, esté em‘ condigdes de ajuda-lo quando de precise e, como ninguém pode conhecer um bebé melhor que a propria mie — ninguém mais, sendo ela, poderd ser a pes soa indicada para prestar-Ihe essa ajuda, Passemos agora andlise daqueles momentos em que o bebé parece estar, um modo especial, solicitando ajuda: quando chora. Como se sabe, a maioria dos bebés chora bastante, ¢ mie cabe decidir, constantemente, se deve deixar que o b chore, ou tentar acalmé-lo, alimenté-lo, pedir ao pai que uma ajuda, ou levé-lo & senhora do andar de cima, que sl tudo a respeito de criangas, ou julga que sabe. Vocé g Be provavelmente, que eu lhe pudesse dizer de um a dese © que fazer, mas, se eu assim proc Ptaces Ra ‘idiotal 14 milhdes de motivos diferel emo] coisa raiaies é chore, e 0 senhor no poderd aconse guma sem descobrir primeiro a razao do ch Inteiramente d, i © acordo, e ¢ is a tentar” consigo as razées do choro. por isso que vou tent Digitalizado com CamScanner que pretendemas dizer nestes quatro cabides: satisfagio, dor, ava e Vocé podera ver que estou realmente dizendo coisas bastante comuns ¢ dbvias, o tipo de coisas que toda mie de um bebé conhece naturalmente, embora nao cogite, mit ymente, de como exprimir em palavras aquilo que sabe. (© que estou afirmando resume-se nisto: 0 choro sus- cita no bebé uma sensagiio de que esta exercitando os pul- Indes (satisfac), ou, entio, uma cangio de tristeza (pesar). Se voce aceitar isto como uma proposigio valida, poderei explicar 0 que quero justamente dizer. Vocé poder& julgar estranho que eu falasse primeiro do choro de satisfagéo, quase de prazer, pois qualquer pessoa admitiria que, sempre que um, bebé chora, é porque deve estar de certo modo aflito. Contudo, acho que esta deve ser a primeira coisa a dizer. Temos de reconhecer que 0 prazer participa do choro como do exercicio de qualquer outra fun- gio fisica, pelo que certa dose de choro pode ser considerada algumas vezes satisfatoria, ao passo que uma dose inferior a essa nao seria bastante. Uma mie dir-me-4 o seguinte: “Meu filhinho raramen- te chora, exceto uns momentos antes de comer. Claro, ele chora durante uma hora, entre as quatro e as cinco, todos os dias, mas creio que gosta disso, Nao tem realmente nada que 0 incomode e fago com que ele veja que estou perto, mas nao tento de um modo especial acalméd jo”. Por vezes, ouvimos pessoas dizerem que nao se deve pe- gar num bebé ao colo quando ele esta chorando. Trataremos disso mais adiante. Mas outras pessoas afirmam que jamais deveria permitir-se que um bebé chorasse. Acho que essas essoas 0 As maes, provavelmente, para ndo deixarem os ebés meter os dedos na boca, ou chupar o polegar, ou usar chupeta, ou brincar com o seio materno quando terminou de mamar. Ignoram que os bebés tém (e tém que ter) seus métodos préprios de lidar com suas dificuldades. De qualquer modo, os bebés que raramente choram nao estio, necessariamente, desenvolvendo-se melhor, pelo fato de nao chorarem, do que os outros bebés que choram como desalmados; pessoalmente, se tivesse de escolher entre os dois extremos, eu apostaria no bebé chordo, que acabou por dar-se 5 65. Digitalizado com CamScanner total pan fazer ruido, desde ue eidade ‘onsentido com excessiva freqitn cons ¥ conta da sur Cape” ay ahor mio tives? SY Gocosperada oH om verter alquer exercicio ae or & que qualquer 0 asa cia para con’ 8 reic ; ‘0 gue quero ie a da criang2. A yay wai TaGa0, & bom, do ponte fe recem-nascido, poderd ser muito inte. procat do Terme em Habito, € Os gritos e 0 alg, Coden de choro devem ser definitivamente rido de toda : importincia de que se reveste O nosso recg. excitantes. 4 1" do valor do choro esta em podermos ver como o scat con trang ante num momento de dificul- eet Porta porque se sentem ansiosos ou jnse. ° a funciona; 0 choro ajuda bastante, e deve. mos, portanto, concordar em que ha nele alge de bom. Mais e vem a fala e, com o tempo, & crianga dara os primeiros ‘os e tocar o primeiro tambor. 4 mie sabe como 0 bebé usa o punho ou os dedos, como ‘os Jeva 3 boca e assim consegue suportar a frustragao. Pois bem, gritar é como um punho que vem de dentro. E nin- guém pode interferir. A mae poder& manter as miaos do bebé afastadas da boca, mas nao poderd cravar-lhe o choro no estémago. Nao poderd impedir que o bebé chore, e espe- ro que nao o tente fazer. Se tiver vizinhos que nao podem | suportar o barulho, seré infeliz, porque nesse caso ter de to- mar medidas para sustar 0 choro, em virtude dos sentimentos eae ae € muito diferente de estudar as razées por que ao hora, de modo a poder impedir ou sustar apenas 0 ue nao Presta € que, possivelmente, é prejudicial. Os médicos dize, : ears: -nascido é um sintor on hee ° ae veemente do bebé reoém: tinua sendo um sinal d satide e energia, Bem, o choro ey de exercicig cientaed © satide e vigor, uma forma inicia! fatério como tal go S°™Penho ative, de uma fungio, satis: que iso Falemes, rote agradvel. Mas é muito mais em dificuldade © natural de comunicar que o. bebé th a Quando 9 beba ante ou guincho e, 66 28 ae Digitalizado com CamScanner egal equigt® vq indicagio do lugar onde esté a diffeuldade, Por exem- uma indie, uma colica, estica as pernas, se ¢ uma dor de Or plo, Yeva amo ao ouvide dolorido; ‘se é uma luz forte riraghe ou, Tomoda, poles afastar a enbega. | Nao sabe o que © inte? ezer a respeito ‘de ruidos ou pancadas muito fortes. Oo ala. (0 grito de dor no 6, em si mesmo, agradavel a crianga, amente ringném pensaria que fosse, pois imediatamente desperta > Tee. nas pessoas em volta um impulso para fazer alguma coisa OM0 9 de util. dificu}. Um tipo de dor é chamado fome. Sim, penso que a U inse. fome se parece com uma dor para o bebé. A fome aflige-o » deve. de um modo suscetivel de ser esquecido pelos adultos, que Mais muito raramente sentem fome de um modo doloroso. Nas imeiros IIhas Britinicas, hoje em dia, suponho que muitissimo pou- cos saberio o que é estar dolorosamente esfomeado. Pense- mos em tudo o que fazemos para garantir um abastecimen- » Como to alimentar, mesmo em tempo de guerra. Cogitamos muitas Pois vezes sobre 0 que comeremos, mas raras vezes sobre se co- E nin- meremos ou nao. E se temos escassez de algunia coisa de que dos do gostamos, mudamos de idéia e deixamos de querer essa coi- choro sa, em vez de insistirmos nisso sem possibilidade de a obter- 2 espe- mos. Mas as nossas criangas conhecem muitissimo bem as podem dores e os rebates da fome aguda. As mies gostam que os ‘de to- filhos sejam bonitos e gulosos, que se excitem ao ouvir 0 mentos rufdo, ao verem os preparativos e captarem o cheiro que pre- or que nunciam o fato de que esté na hora de comer; e os bebés exci- enas Ol tados sentem a dor e exprimem-na chorando. Essa dor de- 1 pressa é esquecida, se resultar numa alimentag&o satisfatoria. O grito de dor é algo que ouvimos a qualquer momento, apés o nascimento do bebé. Mais cedo ou mais tarde, damo- “nos conta de um novo tipo de choro dolorido: o choro de apreensio. Creio que isso significa que © bebé esta tra vando conhecimento com uma ou duas coisas, Aprendeu que em certas circunsténcias, deve esperar a dor. Quando a mae comeca a despi-lo, cle sabe que esta sendo retirado do. ca- Hs confortavel, sabe que sua posigio ser& alterada desta ou laquela maneira e que toda a sensagio de seguranga est perdida, de modo que chora a partir do momento em qi ene mae abre o primeiro botio. Comegou.a ligar os aconteci: Digitalizado com CamScanner conta da sua capacidade total para fazer rufdo, desde © choro nao tivesse sido eouseoeae cin excessiva freq ea para converter-se em desesperada afli ; © que quero dizer & que qualquer exercicio do cop & bom, do ponto de vista da crianga. A propria Tespiraciy uma nova proeza_ do recém-nascido, podera ser muito inte. ressante até que se forme em habito, e os gritos € o aly. rido de todas as formas de choro devem ser definitivamente excitantes. A importincia de que se reveste 0 nosso reco, nhecimento do valor do choro esté em podermos ver como 9 choro atua como tranqiiilizante num momento de dificul. dade, Os bebés choram porque se sentem ansiosos ou inse. guros, e 0 recurso funciona; o choro ajuda bastante, e deve. mos, portanto, concordar em que ha nele algo de bom, Mais tarde vem a fala e, com 0 tempo, a crianga dard os primeiros passos e tocaré o primeiro tambor. A mie sabe como o bebé usa o punho ou os dedos, como os leva & boca e assim consegue suportar a frustragao. Pois bem, gritar é como um punho que vem de dentro. E nin- guém pode jinterferir. A mie poder manter as maos do bebé afastadas da boca, mas nao poderé cravar-lhe o choro no estémago. Nao poder& impedir que o bebé chore, e espe- ro que nao o tente fazer. Se tiver vizinhos que ndo podem suportar o barulho, sera infeliz, porque nesse caso ter4 de to- mar medidas para sustar 0 choro, em virtude dos sentimentos deles, o ue é muito diferente de estudar as razdes por que 0 bebé chora, de modo a poder impedir ou sustar apenas o choro que nao presta e que, possivelmente, é prejudicial. Os médicos dizem que 0 choro veemente do bebé recém- - -nascido é um sintoma de satide e energia. Bem, o choro con- tinua sendo um sinal de satide e vigor, uma forma inicial: de exercicio fisico, 0 desempenho ativo de uma fungio, satis- fatério como tal e mesmo agradavel. Mas é muito mais do que isso. Falemos, pois, dos outros significados do choro, Ninguém terd dificuldade alguma em reconhecer 0 cho- to de dor, o modo natural de comunicar que o bebé es! em dificuldade ¢ necessita do auxflio da mae. : Quando o bebé sente alguma dor, emite um som pen trante ou guincho e, com freqiiéncia, dé ao mesmo tem] sabi i Digitalizado com CamScanner «com a cabega no travessciro, no chlo ou nas paredes, pate 4 OMpxplora as varias coisas que pode fazer com o seu ont enti corpo ye uma coisa saudivel para o bebé conhecer a extensio completa da sua capacida le de fiwia. Compreenda-se: 0 Debé certamente nfo se sente inofensivo quando est4 raivoso = mies conhecem bem 0 ar com que cle fica. Grita, esper- AS des se fh tiver idade para isso, Tevantase e sacode’as gra- nea © ergo. Morde, arranba, cospe, vornita © arma fetes eGynda infernal. Se realmente for decidido, é capaz de yeter a respiragao € ficar com 0 rosto azul ou até de provocar uma convulsio. Por alguns minutos, sua intengio é real- mente destruir ou, pelo menos, danificar tudo e todos, e nem sequer Ihe importa destruir a si proprio no decorrer da crise. Vocé nfo vé que, sempre que um ebé se lanca numa dessas crises, ganha alguma coisa? Se o ebé chora num acesso de raiva e sente como se tivesse destruido o mundo inteiro, seg om sua volta, as pessoas mantém-se calmas ¢ ilesas, essa’ experiéncia fortalece enormemente sua capacidade de apreender que 0 que cle acha ser verdadeiro nao é necessa- riamente real, que a fantasia e o fato concreto, ambos impor- tantes, séo entretanto distintos um do outro. Nao é absolu- tamente necessario que a mae procure enfurecer seu bebé, pela simples razao de que existem muitas maneiras pelas quais a mae nao podera evitar que @le se enfureca, quer ela goste ou nao. Algumas pessoas andam pelo mundo temerosas de per- der a cabega, receosas do que poderia ter acontecido se se enraivecessem ao maximo quando eram criangas. Por esta ou aquela razio, isto nao foi comprovado de um ‘modo adequado. Talvez as maes dessas pessoas Se assustassem. Com uma conduta calma, poderiam ter-Thes inspirado confianga, mas zangado fosse confundiram tudo ao agirem como se © bebé realmente perigoso. Um bebé colérico é uma pessoa quer, sabe como conseguir 0 que que! a esperanga de o conseguir. armas que possui. S6 muito vagamente po gritos ferem, tanto quanto sabe que sua oe auténtica. Sabe o que 1 e-recusa-se a perder A principio, quase ignora as de saber que: seus 5 imundicies dao a Digitalizado com CamScanner 5 comegA 2 Sentir.se ferir e magoar € que quer ferir arde, pela sua experidneia gs outros também podem s em poucos mese imenso trabalho. perigoso, a sentir que pode e magoar; ¢, mais cedo ou m 3 pessoal da dor, acaba sabendo que sofrer dor e cansar. ; : A mae teré o maior interesse ™ ore ° sm bebe 7 le sabe que a pode ma. desde os primeiros indicios de que goar e que tenciona fazé-lo. be choro da minha lista Passemos agora & quarta causa Se ae bse o pesar. Sei que nao tenho que descrever™" e ae —s me nao _precisaria de descrever as cores para w a Pp eur nao sofre de daltonismo. Contudo, nfo me basta m nar a tristeza e deixar as coisas nesse pe, POF diversas raz6es. bebés sio muito diretos e in- mos esses sentimentos ais os sentimentos dos Uma é que ; tensos, ¢ nds, adultos, embora aprecie sent intensos da nossa infancia e gostemos de reconstitui-los em demos hé muito tempo como momentos determinados, ja apren : ct nos defendermos de ficar 4 mercé de sentimentos quase insu- portaveis, como aqueles a que estiivamos sujeitos na infancia. amamos profundamente, nao Se pela perda de alguém qu podemos evitar uma dolorosa tristeza, cumprimos um perio- do de Iuto que os nossos amigos compreendem e toleram. E, depois disso, podemos esperar uma recuperagéo, mais cedo ou mais tarde. Nao nos deixamos entregar a uma tristeza agu- da, a qualquer momento do dia ou da noite, como acontece aos bebés. De fato, muitas pessoas defendem-se tao bem das tristezas dolorosas que nao conseguem tomar as coisas tao seriamente quanto gostariam de fazer; nfo podem sentir os profundos sentimentos que gostariam de experimentar, porque tém medo de tudo o que seja tio real. E véem-se poaraciiadas para aceitar os riscos envolvidos em amar uma ee pessoa ou coisa; aumentando os riscos, podem perder bastante, embora ganhem por se encontrarem bem res- puardades contra os pesares. Como as pessoas adoram um fime triste due as faga derramar lagrimas, que revele, pelo. eae me erem perdido ainda o segredo da arte! Quando 5 ee is Eee fa pranto: infantil, devo recordar a infancia de cada um di nO ce paar tle OO deré acreditar na t im Ge nos e que, portanto, vocé nao pi ‘a tristeza do seu bebé por simpatia direta za Digitalizado com CamScanner Mesmo os bebes podem desenvolver poderosny der contia a tvistezt dolorosa. “Mas eston tentindo deseroyen chovo triste dos behds, que de fato existe © yocd por verte Mmouvitt, Eu gostaria de poder ajudicla a choro triste, seu significado © valor, de modo qu ewe o que fazer quando 6 ouvi © lugar do © voc’ sou. Estou sugerindo que quando o sou bebe mostra chorar de tristeza, voce poderd deduzir que cle percorreu uma Jonga jornada no desenvolvimento de seus sentimentos; contudo, direi ainda, como salientei no caso da raiva quic yoo nada ganharé em tentar causar nele um choro triste, Vocé nfo ser capaz de evitar fazé-lo triste como niio poderd evitar fazé-lo furioso. Mas ha uma diferenga entre a raiva e a tristeza, visto que, enquanto a raiva é uma reagio mais ou menos direta 4 frustragio, a tristeza implica aconteci- mentos bastante complexos na mente infantil ¢ que tentarei descrever. 7 Mas, primeiro, uma palavra a respeito do som do choro triste, 0 qual, espero que voce concorde, contém uma nota musical. Algumas pessoas pensam ser o choro triste uma das principais raizes dos tipos superiores de misica, E pelo choro triste uma crianga, até certo ponto, entretém-se. Pode facilmente desenvolver ¢ experimentar diversos tons do seu pranto, enquanto aguarda que o sono chegue para afogar suas mdgoas. Com um pouco mais de idade, e ouvi-la-emgs realmente cantando, numa toada triste, para dormir. Como vocé sabe, também as lagrimas pertencem mais ao choro triste do que a raiva, ¢ a incapacidade para chorar triste- mente significa olhos secos e nariz seco (para onde as lagri- mas fluem quando nao escorrem pelo rosto abaixo). As lagri- mas sfo, portanto, saudaveis, fisica e psicologicamente. A que pode Talvez convenha eu dar um exemplo para explicar 0 que entendo por valor da tristeza. Focalizarei uma menina de de- zoito meses porque é mais facil acreditar no que acontece nessa idade do que sc as mesmas coisas acontecerem mais obscura- mente no perfodo anterior da infancia, Essa menina foi ado- tada quando tinha quatro meses: de idade e, antes da ado- gio, conhecera experiéncias infelizes; por esse motivo, depen- dia imensamente da mie. Poderfamos dizer que ela nao fora. Digitalizado com Cam: ucede As capaz de formar em sua idéia, como sriangas maig felizes, a nogio de que hf boas mies; e, por essa razo, agar. rou-se A pessoa real de sua mic adotiva, que era excelente na assisténcia que Ihe dava. A neces dade que a crianca manifestava da presenga real da sua mie adotiva era tamanha que a mae compreendeu nio dever deixar a crianga. Quando esta tinha sete meses de idade, foi uma vez deixada durante meio dia em excelentes miios, mas Os resultados foram quase desastrosos. Agora, com a menina completando os seus dezoi- to meses, a mie decidiu tomar quinze dias de férias, contando 4 filha o que ia acontecer ¢ deixando-a entregue a pessoas que ela conhecia bem. A crianga passou a maior parte dessas duas semanas tentando abrir a magancta da porta do quarto de dormir da mae, demasiado ansiosa para brincar e nao acei- tando, realmente, o fato da mie estar ausente, Estava ex- cessivamente assustada para ficar triste. Suponho haver quem dissesse que, para a crianga, 0 mundo parou durante quinze dias. Quando, por fim, a mie regressou, a crianga esperou uns instantes, para assegurar-se de que o que estava vendo era real, e depois correu, langando os bragos em_torno do pescogo da mae e perdendo-se em solugos e profunda tris- teza, apds 0 que regressou ao seu estado normal. Vemos como a tristeza se manifestava antes da mae re- ressar, observando-a do nosso ponto de vista de especta~ lores. Mas, do ponto de vista da menina, nao houve triste- za enquanto nao verificou que podia estar triste com sua mae perto, deixando correr suas lagrimas pelo colo da mie. Qual a explicagio distoP Bem, creio poder dizer que a menina t- nha de enfrentar algo que a atemorizava muito, ou. seja, 0 édio que sentiu pela mie quando esta a deixou. Escolho este exemplo pelo fato de que a crianga dependia da mie adotiva (e nfo podia encontrar facilmente carinhos maternos noutras pessoas) e assim nos torna mais facil vermos até qué ponto a crianga acharia perigoso odiar a mie, De modo que esperou até a miie regressar, e Mas que fez ela quando a mie voltou? Poderia ter avan- gado nela e mordé-la, Eu nio ficaria surpreso se alguma de vocés jA tivesse tido tal experiéncia. Mas essa criang® abragou-se 4 mie e solugou. O que é que a mae tinha de deduzir desse gestoP Se ela tivesse falado, o que me alegra : 70 Digitalizado com CamScanner ue ela niio tivesse feito, teria dito: “Eu sou a sua tinea & e, Voce estava assustada por descobrir que me odia- vapor en ter partido, Voed laments terme odiado, Nao 3} iheo, voos achava que eu partita por causa de alguma mal- Gade que fizera, on porque exige tanto de mim, ou porque me odiou antes de eu partir; assim, voce sentin ser a causa fa minha partida... penson que en partin para sempre. $6 Gepois de eu voltar ¢ de voos por seus bragos em tomo de mim, 6 que pode reconhecer que j& cogitara de me mandar Embora, mesmo quando en ainda estava consigo. Pela sua tristeza, ganhou o direito de me abragar, pois mostrou assim sentir que, quando eu a feri por ir-me embora, a culpa era sua. De fato, sentia-se culpada, como se vocd fosse a causa de tudo o que hé de mau no mundo, ao passo que, na reali- dade, vocé s6 foi uma causa muito pequenina da minha au- séncia. As criancas sio uma complicagiio, mas as mies espe- ram e gostam que elas sejam assim. Pelo fato de depender tanto de mim, vocé tem muito mais possibilidade de me can- sar; mas resolvi adota-la e nunca me zangarei pelo fato de yocé me cansar...” Ela poderia ter dito isso tudo, mas ainda bem que 0 nfo fez; de fato, esas idéias nunca lhe passaram pela cabega. Estava demasiado ocupada acariciando sua menina. Por que disse eu tudo isso a respeito dos solugos de wma menina? Tenho a certeza de que nao havera duas pessoas que descrevam da mesma maneira 0 que se passa quando uma crianga esta triste, e atrevo-me a acrescentar que algu- mas das coisas que eu disse nao esto expressas ‘com bastante correo. Mas tampouco esta tudo errado, e espero que, pelo que eu disse, consegui mostrar que o choro triste ¢ algo muito complicado, algo que significa j4 ter a crianga conquistado seu lugar no mundo, Deixou de ser um pedago de cortica flutuando ao sabor das ondas. Jé comegou a assumir sua responsabilidade em relagéo ao meio. Em lugar de reagit apenas as circunstancias, passou a sentir responsabilidade per las circunstincias. O problema est& em que comega a sentir -se totalmente responsavel pelo que Jhe sucede e pelos fato- res externos da sua vida. $6 gradualmente com distingdo entre aquilo por que é responsdvel © a por que se sente responsavel. : RUPATEMOS AWUTA 0 chore triste com AN OULTAS oSpeotes xy de dor ou Lome podesse notar em qualquer oeastio, nto. A raiva aparece quando 0 bebe osth > a Coeatenar certos acontecimentos, CO medo, indlean. expectativa de dor, significa que 0 bebe elaborou tdéiag y indig algo muito mais avangado que so ig miles Compreenderer, coisas subentendidas na tris. perda_de algo eat isfeitas quando, mais * on “Desculpe”, mas i SSS compreet Ses esta contida no cho- be e & muito mais valiosa do que se ensina rir _gratidiio e ependimento. tera notado, em minha descrigio da menina triste, Ja foi perfeitamente légico ficar triste ao se agar- scogo da mie, Um bebé furioso dificilmente mos- sto estivesse em relagées satisfatérias © ao seu colo, seria por ter medo . ria provavelmente que ele se Mas o bebe triste pode ser agarrado ao colo e aca- > porque, ao tomar a responsabilidade por aquilo que ha o direito de manter boas relagdes com as pes- ‘to, um bebé triste podera necessitar 0 amor fisico vo da mae. O que ele nao precisa, contudo, é ser ivamente (por exemplo, fazé-lo saltar no colo, car cécegas etc.) da sua tristeza. Digamos que dle se tra num estado de luto e requer certo periodo de tempo scuperar-se, Precisa apenas de saber que a mie continua ; amé-lo e, por vezes, pode ser até preferivel deixa-lo. cho rar a vontade, Recordemos nfo existir melhor sensagio na infancia do que a ligada a uma verdadeira e espontanea Te cuperacao da tristeza e sentimentos de culpa. Tanto isso assim que, por vezes, a mie verificard que o filho se com porta de modo indécil e desobediente para que possa sentit- -se culpado, chorar e depois ser perdoado, tio ansioso ele de reaver aquilo que experimentou numa verdadeira com valescenga da tristeza. Tote Assim, descrevi os diversos tipos de choro. mais a dizer a tal respeito. Mas creio ter ajudado com yO nascin mse facilmente *Muito obr most or enqu: 74 ee amScanner Digitalizado com nha tentutiva de distinguir cada uum desses tipos, separando uns dos outros. O que niio fiz, foi descrever 0 choro de de- samparo ¢ desespero, 0 choro em que todos os outros tipos se diluem se nio restar qualquer esperanga no espirito do bebé Em seu lar, talvez nunca se ouga esse tipo de choro, mas, se yoré 0 ouvir, a situagio jé ultrapassou os limites de sua ‘ca- nacidade e vocé precisa de auxilio, embora, como procurei Eonar bem claro, ninguém possa cuidar melhor do seu filho do que vocé mesma. IF nas instituigdes que ouvimos 0 cho- ro de desamparo e desintegracgao, onde n&o existem meios nem possibilidades de fornecer uma mae para cada bebé. Apenas mencionei esse tipo de choro, a fim de deixar a coisa completa. O fato de que a mfe esta disposta a cuidar pes- soalmente do filho significa que ele tem sorte; a menos que sucedesse, por acaso, alguma coisa que viesse perturbar os cuidados rotineiros, ele estara em condigées de seguir decidida- mente para a frente, demonstrando & mae quando esta zanga- do com ela e quando a ama, quando quer livrar-se dela, quan- do est4 ansioso ou com medo, ou quando apenas quer que a mie compreenda que ele esta triste. eae Digitalizado com amscanner

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