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PERDA DE UM DEDO DA MAO. Lesao corporal de natureza grave: art. 129, § 1.°, IH do Cédigo Penal, por debilidade per- manente de membro e nao lesao gravissi- ma por deformidade permanente. Licdes de RIBEIRO FRAGA, HELIO GOMBS, NELSON HUNGRIA, FLAMINIO FAVE- RO, MAGALHAES NORONHA e GALDI- NO SIQUEIRA. Ney Fayet Promotor Publico, designado 1. A perda do dedo minimo da mfo direita, por corte de pu- nhal, sofrida pela vitima Dalila Marques de Oliveira, e consta- tada pelos doutores peritos médicos, foi por eles classificada co- mo deformidade permanente, ensejando A denincia a capitula- cao no art. 129, § 2.°, inciso IV, do C. P. e levando o douto julga- dor a reconhecer na sentenca a mencionada qualificadora, fixan- do a pena do réu no minimo de 2 anos de reclusao, por este fato. Entretanto, a melhor doutrina néo comunga com o entendi- mento dos preclaros peritos cachoeirenses, e é unanime em reco- nhecer que a perda de um dedo é DEBILIDADE PERMANENTE (art. 129, § 1.° III do C. P. B.). Estes, os ensinamentos de RIBEIRO FRAGA, em “‘As lesdes corporais e o Cédigo Penal”, fls, 81 e seg: “Assim, na expressdo DEBILIDADE tanto se compre- ende a deficiéncia anatémica (PERDA DE UM DEDO perda de ym olho); ou a deficiéncia...” E, logo adiante 4 pagina 85, esclarece exemplificativa- mente ‘ “No caso de érgéos complexos (i. é, formados pela unio de érgaos elementares) a inutilizacgéo ou ablagéo de uma 67 68 das partes componentes acarreta o enfraquecimento do todo e teremos lesao grave se ocorrer téo somente a de- bilidade. No entanto, se ocorre privacdo do uso do ér- ao, entio a lesio sera gravissima. Os exemplos esclarecem: se se corta o dedo do pé ou o DEDO DA MAO de uma pessoa, ha DEBILIDADE no érgao ou na funcéo: a lesio 6 GRAVE. Amputada, no entanto, a mAo ou a perna, ja a leséo é gravissima, pois ha impossibilidade do uso do érgao, ha privagaéo do érgio.” HELIO GOMES (Medicina Legal, vol. II-675): “A perda de UM ou DOIS DEDOS, que a antiga lei pe- nal considerava mutilagéo ou amputacao, sera DEBILI- DADE, pela nova.” FLAMINIO FAVERO (Medicina Legal, 1-207): “A perda de UM ou DOIS DEDOS, por exemplo, que a lei penal anterior considerava mutilagéo ou amputacao é uma DEBILIDADE. A debilidade pode ser motivada por dano anatémico ou funcional: AMPUTACAO DE DEDOS ou paralisia por secgéo nervosa.” NELSON HUNGRIA (Comentarios, V-294): “Assim, se se corta a mao de alguém, ou se lhe é arran- cado um dos maxilares (componentes do 6rgao da mas- tigacado) a lesio é gravissima; mas o mesmo ja nao acon- tece se é inutilizado UM SO DEDO DA MAO ou do pé, ou um sé dos rins: nesses casos apenas se apresenta uma DEBILIDADE de membros ou fungio.” MAGALHAES NORONHA (Direito Penal I-84): “Conseqiientemente, se ocorre a mutilagéo de UM DE- DO DA MAO, haver4é DEBILIDADE.” Say. SIQUEIRA (Tratado de Direito Penal, “No caso de érgéos complexos, i. e, formados pela unido de 6rgios elementares, o enfraquecimento de uma de suas partes determina necessariamente o enfraqueci- mento do todo. Se, p. e., se considera 0 DEDO DE UMA MAO, vé-se claramente que a perda total ou parcial, ou a paralisia, também de UM SO DEDO, constitui sempre um enfraquecimento do orgao de preensio.” (Nas citagdes transcritas, os grifos sio nossos). A doutrina e também a jurisprudéncia, inclusive a do nosso Egrégio Tribunal (RJTJRGS, n.° 25/30; 10/125) tém a perda'de um olho como debilidade (lesdo grave) e n4o deformi- dade permanente (lesio gravissima). Assim, a perda de um dedo da mao 6é, realmente, uma debi- lidade permanente, devendo ser desclassificada a infragao para o art. 129, § 1.°, ITI, com a fixagao da pena em 1 ano de reclusao. 2. Com relagéo as lesdes leves produzidas em Oscar Dalssedo- ne, nada ha a reformar na decisiio apelada. 3. Improcede, inteiramente, a pretendida insanidade mental do réu, como bem salientou o Dr. Promotor Publico em suas contra- razdes, pois jamais no processo houve divida sobre a sua inte- gridade mental, e nem o proprio réu deixou transparecer ou alegou tal fato. 4. Assim sendo, é esta Procuradoria de Justiga de parecer deva ser dado provimento parcial & apelagdo para desclassificar a le- sao gravissima para lesdo grave (art. 129, § 1.°, II, C. P. B.), fi- xada a pena em um ano de reclusao, mantida a pena de lesao le- ve, tornada definitiva a condenacdo em um ano de reclusio e 3 (trés) meses de detencao, Porto Alegre, 8 de setembro de 1972. 69

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