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20 PouCkULT A Pstcanitise central que pode, sem diivida, ser percebida ao cie de quest Tonga’ de seus esc cos nos textos posteriores & Arqueologia do Saber ( entre poder-saber-verdade é tematizada ex . Mas, © que € possivel captar a prop6- chama o seu “problema”, ja na Histéria fa esta indagago esta vinculada a afirmacao uma experiéncia essencial da loucura. O poder fundamental- ue sc abate sobre essa experi essenci repressio (...) € mais pérfida; em todo caso, tive mais culdade em me livrar dela na medida em que parece se adaptar wuropa, na Idade Classica. Na andlise de Fou- Enclausuramento” € definido como um “sis- # que se expressava em pelo menos trés cas. A primeira fungio era econdmica, aparecendo, principalmente fora dos perfodos de crise econdmica, quando assumia uma ilidade: dar trabalho aos presos, ao invés de prender os desocupados, os vadios, os ociosos. 0 que signi- barata nos tempos de pleno emprego © fodos de desemprego, reabsorgio dos ociosos Razio © Loveurs > af © protecid Social contra as agitagdes e revoltas”.** Cotiié' se observa, fung#o econémica se desdabra em funséo politica) enfatizando o carater “policial” do “Grande Enclausuramento”, reventivo em relacéo as desordens e as revoltas, Justificava-se, desse: modo, a proximidade ‘entre as “casas de internamento” fadas de cada pais, e a fundamental importancia do trabalho como instrumento de combate aos ficando “repressio do pensamento” e “controle: da com a finalidade — e isto € que o caracteriza com inais precisio ~ de reconduzir o interno de volta a ver- dade através da coago moral, manifestando com isso, que, de certo modo, a experiéncia de destazio na Idade Classica € também uma experiéneia ética, Embora esta a ‘mentos' com permita vislumbrar alguns dos ele- ‘quais’ futuramente’ Foucault criticardé a cepciio juridica” do poder — a nogio de poder, por exemiplo, no se constitui tomando, como foco central, exclusivamente 0 Estado ~ 0 modo pelo qual o poder se exerce € ainda visto sob 0 angulo da repressio. Neste nivel de compreensio a que nos ‘propomos agora, é possivel entio afirmar que a Histéria da Loucura ainda & construida a partir da oposico entre esséncia (a “experiéncia trigica”) e aparéncia (os diferentes modos pelo: se desqualificou historicamente esta “expe- rigncia tragica), entre reprimido © ndo-reprimido, Esse privilégio que a andlise concede & perspectiva da © maus costumes. Finalmente, a terceira fungdo_era (4) repressio vai marcar a ambigtidade que caracteriza a Paica- : nalise, nessa hist6ria ‘do confiscamento da loucura pela razio: E o-que procuraremés explicitar a seguir. 30 HL, p. 67. HL, p99. 2 Foucauur © 4 Psicanduase, ESCUTA PSICANALITICA E PODER MEDICO que significa a afirmagéo que “com Freud, ocorre um deslocamento que permite, na modernidade, a possibilidade de um didlogo com a destaz: do que significa, para Foucaul A “percepgio” da loucura, na [dade C dida a partir de duas referéncias, que vém forsar a estratégia metodologica que descrevemos ha pouco. a ou discursiva, e se encontra‘?\ em Descartes, mais especialmente na leitura que faz Foucault das Meditages. A segunda referencia € it fonal ou extra-(\») discursiva, e diz respeito a criagio, em 1656, por Luis XIV, em Paris, do Hospital Geral, estabelecimento onde se enclau- suravam 05 loucos e que, conforme sua etimologia, néo 6 pro- priamente uma institui jurid se situa entre a policia e a justica, e que pode ser encontrado em toda a Europa, ndo apenas como criagio do Estado, mas também da Igreja, que organizou varios desses estabelecimentos. "desrazio": ica, & compreen- uma vez re- © que acontéce em relagdo @ loucura, se tomarmos a refe- réncia filoséfica? Entre 0 homem (suj cognoscente) e a verdade, ha, segundo Descartes, 0 caminho da. davida, E nesse camino a loucura tera um estat rente daquele atribuido ao sonho ou as formas de err: economia da divida, ha um desequilibrio fundamental entre @ loucura, de um lado, ¢ © sonko ¢ o erro de ou deles € diferente com relagio a verdade e Aquele que a pro- cura; sonhos ou ilusées so superados na prépria estrutura da verdade, mas a loucura € excluida pelo sujeito que duvida. Como logo sera excluido 0 fato de que ele nao pensa, que ele 3 HL, p, 338, HL. p. 50. RazKo ® Loucuna 3 ndo existe.” * A loucura esta, portanto, for: do dominio no © que, para o pode ser louco, embora o homem 0 possa. O louco 6, entio, aquele que no pensa, que, transgredindo os limites da razio classica, toma-se “desrazoado”. zoada” sio familiares, ¢ confiscada com o alvento da nova ratio, Concomitante a consideragio do louco aos olhos da razio conforme a referéncia do Grande i cretizagio da nova ratio: © “out convivio social. Se se pode assinalar em v. econdmico, politico ~ 0 significado do Gi mento, € certamente no seu caréter “m caracteristica mais importante. Ao se c ie abriga ndo apenas loucos, tinos, blasfemadores, fei istas, venéreos, prostitutas, sodomitas, 0 Hospital Geral diz respeito a uma nova concepsio da pobreza e do trabalho. A pobreza perde seu carater religioso e passa a ser associada moral, a um obstaculo a ordem social, que de reclusiio também liber- uma desordem ndena e exige aquilo que se ie encontra na trapde a pobreza, que pode “curd-la’ origem da pobreza nao 0 desemprego ou a escassez de mer- es. O Touco e seus comp: ma categi cadorias, mas a f ra € percebida @eneeaeercererrrerrrererrrrrr eer ntet m Fovcauur # A Pstcanfuise néncia so comunidade ad rejeitar, como dade social. 1 sagrados do la pela comunidade de trabalho, “Esta re um poder ético de divisio que Ihe permite m outro mundo, todas as formas da inutili- ‘esse outro mundo, delimitado pelos poderes . que a loucura vai adqi que Ihe reconhecemos. Se existe na loucura cl coisa que fala de outro lugar e dé outra coisa, no € porque © louco vem de um outro céu, 0 do desrazoado, ostentando os seus signos. F porque ele atravessa por conta prépria as fron- teiras da ordem burguesa, alienando-a fora dos limites sacros de sua ‘tica. # possivel afirmar, agora, que torna homogénea a poj fio diversa do Hospital Geral, 6 perceber esta populagio pelo indice da desrazdo. Nao é por ios estabelecidos. pela producio teérica da ", portanto) que 0 loco por exemplo é excluido, mas sim por ser um desrazoado: a loucura ndo & por conseguinte, considerada como uma doenga, mas como auséncia , como desrazio, “A desrazio campo de experi objetiva 0 neggtivo da razio em tipos concretos, soc tentes, individualizados; € a negagio da raziio tealizada como espaco social banido, exch Mas a categoria da desrazio, que permite caracterizar a ado numa instituigio nao propriamente médica, tem por jeto 0 louco eo percebe através dessa “percepio social” que © define pela “desrnzio"; a medicina, ao contrario, procurando da loucura, em nenkum momento torna a observago dos Isto porque, fara no Nascimento da Clinica = HL, = Mac Ruzio ® Lovoura 2 (1963), a medicina classica, que tem como modelo: -histérid; Jee Aa tindo ‘da suposi¢éo de que a doenca € uma espécie-natural’ e que; portinto, possui uma esséncia, uma natureza: compo, um-quadro taxonémico, classificando e hierarquizando as: doen- cas’ ei clastes, ordens, géneros ¢ espécies, -para, finalmente,: estabelecer entré’ elas as identidades € as diferencas. Seguirido, © prozedimento da histéria natural, para quer 0 conhecimento. a partis da descricfo'da sua estritura considera © sintoma, naquilo -que, cle tein de aparente ¢ ‘manifesto, como a verdade da loucura. % a pattif desses préssupostos que se tenta, ria Idade Clas- sica, iim conhecimento médico sobre a loucura, Tentativa,’ se gundo Foucault, que. em vez’ de inscrever esse conhecimento. nos éénones da medicina classica, acaba por revelar 0 nexo, jé existénte'na percepgo’ social da loucura, entre Joucura & moral: ‘Tanto ao ‘nivel da enunciagéio das causas, como ao nivel da formulacao’ de categorias pretensamente nosograficas, 0 conhe- toma a razio comé critério primordial e neces~ A Toucura, tendo como catisa 0 vicio ou como’ siritoma: jo ou.a paixfo € também, ao nivel do “conhecimento” da mesma forma que ao nivel da “percepgao”, desordem moral, ofuscamento da razio, desrazio. © discurso da Joucura que, no Renascimento, € expressio de um saber a0 gual s6 0 louco tem acesso e que 6 ele conhe- ce, possui agora um outro estatuto, no momento em que a lou- cura assimilada as formas da desrazio: a loucura é lingua- gem sem sentido, sem razdo, negatividade pura, d essa linguagem delirante € a verdade iiltima da loucura na me- dida em que ¢ sua forma organizadora, 0 principio determi- nante de todas as suas manifestagdes, quer sejam as do corpo ou as da alma.” * Esse discurso fundamental: abre as_portas, CE HL, 2 pte, cap. 7. 8 HL, p. 235. 2 Foucauer & 4 Psicanfuise da loucura: a imaginagdo se libera, os apetites ndo deixam de crescer, as fibras atingem o ultimo grau de irritagdo, O delitio, sob sua forma lapidar de principio moral conduz diretamente a convulsées que podem pér em perigo a propria vida.” ™ “Esta palavra deriva de lira, sulco, de modo que deliro significa exa- tamente afastar-se do sulco, do caminho reto da razio, A linguagem da loucura considerada “deliran Inguagem excluida, expresso altissonante de um desvio moral, que perturba e obnubila 0 relacionamento entre o ho- mem « a verdade. Em um texto de 1964, “La folie, absence d'oeuvre”, pu- blicado posteriormente como um dos “apéndices” 4 2° edigio da Histéria da Loucura, em 1972, Foucault tematiza justa- mente 0 modo pelo qual toda sociedade, toda cultura acaba por construir as interdicées referentes & linguagem. Segundo ele, poder-se-ia enumerar pelo menos quatro tipos de interdi- séo da linguagem: 1) através das leis do cédigo lingiistico fazendo cair a interdigio sobre os “erros gramaticais"; 2) atra- vés das palavras blasf erdigdo puramente religio- sa; 3) através das significagées intolerdveis, cujo Ambito ultra- passa 0 religioso e atinge outros dominios, como o juridico, por exemplo; e 4) através da submissio aparente de uma palavra, conforme o cédigo de significagées reconhecido socialmente, @ um outro cédigo, cuja significagio € dada através desta mesma palavra, io que vai posteriormente, 0 discurso 1atérias, jularizar, como veremos Em relagdo a estes quatro tipos de interdigdo, a experién- cia da loucura tem oscilad HL, p. 236, James. Di ATAB, pe 977 apud * La Folie Razfo & Lovcuna n gem e€ os interditos da agio. A classic, da loucura, tomando como referencial a desrazio, te: caractetiza por tornar a linguagem grante dos trés tipos ini Enquanto linguagem exclui fa parte inte- Imente citados como tipos de siea, respectivam © significagao intoleravel: que contra significagdo (os ; ‘dementes') ou a que pronuncia palavras sacr Ientos’, os ‘furfosos') ou ainda a que interditas (os excluida palavras izadas (0s ‘vio- sar significagoes Ha, agora, portanto, a possi importante distingdo para os nossos obj le desrazio na H ado remete ao sentido da isto é, da desrazio enqua incessante entre razio e dest mos uma jue diz respeito de uma razdo “desrazoada”. O outro acabamos de enunciar e que € 0 produzido a desrazio nossa investi- PRM AAAATATAMATATTTTT ATLL LTT ITC ATL Fo Foucauur & A Pstcaniuise Entretanto, embora a Idade Classica tenha desfeite 0 dia- e loucura que caracterizava a “experiéncia © enclausuramento classico impunha nao uma espécie de “diélogo mudo”, na forma Tazo e desrazio, no interior dos muros I. Combate que se traduz na coacao trabalhos forgados, nas correntes. Ora, a ‘a desfeitura” deste Jogo entre tragica”, 0 era absoluto, de um combate do Hospital G entre razio e desrazio, palavra, como sendo desprovida de sentido, se \O que torna possivel esta operagao? mentos precisam agora ser examinados: um, 4 0 & passagem da concepcio de loucura, Touco como deve a !Psiq Dois desl tedrico, que diz respeito entendida como “desrazio”, para uma outta concepcio, a de “ij outro, institucional, que se traduz por uma critica. ” do mais se misturar com os. loucos ela externa (a necessidade de mao-de-obra, do ponto de vista econdmico, e a critica dos reformadores, do ponto de vista ) © que acaba por constituir um espaco de Estes deslocamentos io entre 0 que Fou- ria, ja no século XIX, Period que cobre a segunda metade do século inismo, 0 que vem res deslocamentos na démarche da uma vez que eles operam uma ruptura que esti na base da constituigdo da Psiquiatria, O desloe .brico tem como ponto de pastida a dis- tinglo entre e “natureza", O mundo é considerado uma_realidade lar, relativa e mével, pecpassada por maré de “forcas penetrantes”. * Estas dicadoras seja aquilo que Forgas possuem carater negativo, pois sio as oH p. 362. Ruzio F Loucura 29 das:doencas: € suas’ variagbes. Em relagio:& loucura, 80° trés as forgas que indicam as suas causas: a ‘sociedade, a reli €'a eivilizagao. “Tornam-se ‘forcas penettantes’ uma sotiedade’ gue-ndo.reprime os desejos, uma religiio que ndo: mais regula © teinpo e a imaginago, uma civilizaga0 que nao. mais os desvios do pensamento ¢ da sensibilidade.”."* Em oposicio ao-murido considerado como o conjunto das “forgas perietran- tes"/:temos ‘a natureza considerada como o ambiente, o lugar das. adaptag6es, influéncias reciprocas, regulagées € 0 espaco no qual todo ser vivo: pode desenvolver-se e impor suas normas de vida: Deixando de ser “desrazio", a loucura toma-se: “alie- nagié”. Esse € um-passo decisive no processo de exclusio da Toucura: como “alienacdo”, ela é agora perda da natured que € propia’ do homem, ao alterar-lhe 0 sensivel, os desejos ¢ a imaginaco. “Ao final do século XVIII, esbogam-se as linhas gerais dé uma nova experiéncia na qual o homem, na lowcura, ndo perde a verdade, mas sua verdade; no sio mais as leis do mundo que Ihe escapam; mas ele mesmo € que escapa as leis de sua’ propria esséncia.” ® Expressio de um relaciona- mento entre o homem eo mundo que afasta o homem de si mesmo, que o aliena de sua esséncia, o fenémeno da loucura habita, a partir deste momento, o interior do homem. O. que este deslocamento opera, ¢ que é de fundamental importancia, € a antropologizacdo, a subjetivagio, a psicologizayao da_lou- cura. Esté aberta, portanto, a possibilidade de uma ciéncia do “homem Iouco”. A individualizagio da loucura, no plano do conhecimento, reclusio. Impedido de ser livre, pelos perigos que representa, tornando impossivel, considerado como um “improdutivo” no plano econdmico, res- taré ao louco o isolamento solitario. Doublet e Colombier, HL, p. 363, 2 HL. p. 376, 30 Foucauur # a Psrcaiuisy ‘Tenon e Cabanis, de perspectivas diferentes, enfatizam a neces- sidade de que a'condigio de possibilidade da eclosio da ver- dade da loucura € 0 afrontamento com 0 louco num espago de (reclusdoa ele destinado. Prepara-se portanto, neste momento, a cena final, cuja elogiiéncia maior, cuja imagem edificante, © gesto liberador de Pinel, 7 Embora Foucault leve em consideragao a anélise dos con- ceitos psiquidtricos, "* uma vez que, através destes, & possivel assinalar 0 surgimento de um “novo” objeto de conhecimento = © homem enquanto “doente mental” ~ € ao nivel da “per- cepsio", isto é da pratica de enclausuramento, que € possivel compreender o nascimento da Psiquiatria. Pratica esta fundada na organizacao de um espaco de reclusio exclusive dos loucos = © asilo — € no papel que desempenha, no interior deste espago, a relagdo médico-paciente, para o sucesso do procedi- mento terapéutico. Ao questionamento da loucura, a Psiquiatsia : “Em geral € tdo agradavel, para um doente, estar no seio da familia e ai receber os cuidados as consolagdes de uma amizade terna e indulgente, que enuncio Penosamente uma verdade triste, mas constatada pela expe- rléncia repetida, qual seja, a absoluta necessidade de confiar os nados a mios estrangeiras e de isolé-los de seus parentes. As idéias confusas e tumultuosas que os atingem e que sio Provocadas por tudo o que os rodeia; sua i nuamente provocada por objetos imagi desordem ow atos extravagantes; 0 empreg Feprestao enérgica, uma vigilancia rigorosa sobre o pessoal de servigo cuja grosseria e impericia também se deve temer, exigem um conjunto de medidas adaptadas ao particular dessa doenca, que 86 podem ser reunidas em estabelecimentos que Ihe sejam consagrados.” * Retirar 0 louco do ambiente familiar ov do 3 As categorins psiqulstricas estudadas por Foucault sto a la geral", a “insanidade moral” e a “monomania PL. Piet. Tealté médico philosophique, Touvrage, p. 6-7. cit. por Castet, Robert. A Ordem Psi Razio = Loucura o mundo “normal” no si lugar para outro, 0 mas retiré-lo do e: para o espago da ordem: 0 asilo funcio uma espécie de paradigma de uma soci ‘num sistema harmonioso de leis, deveres & fica_apenas planté-lo de um ago da desordem te sentido, como ade ideal, fundada obrigagées, pode ser antago da orde: sivamente pela mas se completa idade” entre 0 médico e os d A cura, signi- jui um retorno @ razdo, s6 pode cietivar-se a partir jde um confronto entre a vontade irracional, a paixio desen- [freada ‘do doente e a vontade reta e racional do médico, A interiorizagao, por parte do doente, da Razio e da Ordem encarnadas na figura do médico, € 0 ponto final do processo de cura. Processo eminentemente moral, uma vez que se apsia na vontade do médico) condutor “ess0: “Os ma- divagagées que das mais vivas, jue parece dever 1 gradativamente, ou nao poder se acalmar a Um dinico centro de autoridade deve semp sua imaginacéo para que aprendam a se repr ea domar seu arrebatamento impetuoso. U: objeto, basta apenas ganhar sua confianca vez realizado este recer sua estima razio no declinio ida necessaria iberd a ele, por O- reconhecimento ‘a. Apoteose da ¢ Pinel abriram ram uma cién- idade € 0 passo deci personagem do médico: “Acredita-se © asilo ao conhecimento médico. Nao intr © Hem, p. 88 (grfos nossos) teererererrerereerrerrerererrere at? 32 Foucauur © A Psicanduise ia, mas um personagem, cujos poderes atribuiam a esse saber apenas um disfarce ou, no maximo sua justificativa, Esses po- deres, por naturcza, so de ordem moral e social; estio enrai- do louco, na alienagéo de sua pessoa, e ndo de seu espirito. Se a personagem do médico pode delimitar @ loucura, nao & porque a conhece, € porque a domina; € aquilo que para o positivismo assumira a ‘figura de objetividade apenas o outro lado, 0 nascimento dessa dominagio.” * A vida asilar constréi-se em torno dessas relagdes de dependéncia que se estabelecem entre médico € doente. Poder quase magico, san- cionado pela ordem moral e social, que encontra sua maiot expressiio quar proprio doente jogo: origem pouco nobre para uma nhada dessa desc ymna-se cimplice nesse incia” que, envergo- Procura a todo instante reco- idade cientifica” imposta pela camisa-de- a esta “repressio da loucura como pala vra interdita”, idada pela Psiquiatria, que Freud marca uma ruptura, abrindo a “possibilidade de um didlogo com a Nem erro, nem blasfémia, nem significado intole- id desloca a linguagem da louCura para a quarta, erdicoes da Iinguagem a que nos referimos antes, © que Foucault também denomina de “linguagens esotéricas”, ** c6digo de decifagio-néo outro cédigo, qu mudo” que, paradoxalmente, € © seu tinico c6digo possivel. ” Foucaul esté tomando, certamente, agui, como uma espécie de modelo exe ‘contetido manifesto” e “pen- Freud di i er falar este “excesso mudo" (os “dese- de desvendar a sua significagio. Esta abor- ice deuvre, op. eit, p. 578-579, Razio x Lovcura 33 dagem, “pressupde, para ‘Foucault, uma’ nova concepgio. de signo, um novo modelo de interpretacao, inaugurado por Freud: Em outro texto’ de 1964, “Nietzsche, Freud € Marx"? Foucault explica melhor esta questo, ao situar estes trés tito: iar da modernidade, afirmando que, com eles, teria nascido uma nova-hermenéutica. ** Antecipando As Palavras ¢ 4s Coisas (1966), Foucault mostra que a concepgio de signo e de interpretago que se encontra em Nietzsche, Freud ¢ Maix, rompe com as concepgées que, desde o século XVI, de uma forma ou de outra, continuam presentes no pensamento ocidental. Organizado em torno do principio da semelhanga € de suas’ figuras ~ a convenigncia, a simpatia, a emulagdo e a analogia —, 0 saber renascentista 'supunha uma concepcéo do mundo como um espaco fechado, jordenado pelas semelhancas entre aquilo que, no mundo, parecia distinto. A rede de seme- Ihangas tem no signo a sua marca mais visivel e mais. impor- tante. Desse modo, poder-se-ia falar de uma con naria do signo: um significante, um. significado e a semelhanca, © saber renascentista € a busca dessas semelhangas € tanto podéria’ ser da’ ordem da cognactio, isto é, quando buscava encontrar a passagem de uma semelhanca a outra, como da ordem da divinatio, quando buscava passar de uma semelhanca Superficial para outra mais profunda, Como Foucault encontra em Freud, a0 lado de Nietzsche € Marx, uma outra concepcéo de signo que.rompe com’ aquela gue singullatiza ‘a episteme (para usar a terminologia de’ As Palavras e as Coisas) renascentista? . A tese de Foucault poderia ser dividida em quatro argu mentos: * também se utiliza do mesmo arg Freud, Rio de Janeiro, Imago, Foucauur & a PstcaNiuise Ir — pela negagao de uma profundidade ideal, uma vez gue se abre um novo espago de reparticio dos signos: o espaco Ge superficie, No caso especitico de Freud, esse novo espace & dado pela propria delimitacdo do espago da interpretagzo como sendo a deciftagio da “cadela falada” compreendida que expde o 9 que era até "ecreto, escondido, torna-se exte- chamou, em outra ocasiio “La que Fi Pensée du Dehors” 2 = nlo se reenviando mais uns 20s outros, 08 signos ‘agora se caracterizam pela sua inesgotivel profusio, pelas suse miltiplas facetas, abrindo, portanto, a possibilidade de una “A avidez segura do claro e do ido onde tudo reenvia a tudo, ria tranqilizadora, estruturadas falo-centrismo e baseadas em categorias aristoté. licas, explode € se abre a experiéncia da loucn bamento de toda interpretagi numa sistematica sati sobre © logo- ira © ao inaca- 3 = negando qualquer referéncia a um sign luto, a chave da hermenéu Pretagio: “cada signo é rece interpretacao, mas do abso- "@ moderna € que tudo ja € inter- ele mesmo, nao a coisa que se ofe- 8 interpretagao de outros signos”, © Critique, 289: 523-46, jun, 1966, 1 res “superinterpretagio” (Cberdeuting) io da Psicanstise, S, Paulo, Martins sagem do “Prefécio™ a0 Naseimento da cto da “interpretagio", tomando Nets © texto dis: "Para Kant, a vam ligadas, através d de que existe conhecimento. Em nossos dive nculadas — Nietzsche, 0 filslogo, € testemunha —- so fate dh ‘we existe Hinguagem e de gue, nas inimeras palovras prontacindas eles a5 vemplo, nao & © desejos dos ro ficado abso} tetido latente” supde o investimento dos relacionados as vivéncias infantis (o que tagdo"), a erpretacao de um sonho s jerpretagio de introduz uma intesp) a nogio de imSveis, irre- tos (tal crenga significar ‘orte da inter- ‘vida” da interpretagio seri 80 contrario, 0 “Por oposi¢de ao tempo PITTTTITTTIIITITIIItrrrrrrr rece ate: 36 Foucauur © a Psicanfuise m tempo de desenlace e por oposigéo a0 a, que apesar de tudo € linear, tem-se um io que € circular.” + ino € da interpretagiio — ue permite compre- operado pela Peicanalise em relagao ao 'B preciso pois tomar a obra de Freud pelo descobre que a loucura esta presa numa a regio perigosa, sempre transgressiva de um modo particular) que € das pro- icando, isto é enunciando no seu enun- © que nao € absolutamente com 10 aponta na diregao di 10 tempo em que Freud su sobre o discurso da loucura desde a Idade = este mesmo discurso deslizar rumo a uma outra Jo. O que vai caracterizar esta nova interdi¢ao desempenha a palavra, 0 Efeti- nas considera a linguagem da loucura Classica, ele forma de como também atribui palavra: dobrando-se sobre nao apenas recobre uma @ cla, somente ela, que se cot lade de decifragéo daquilo que ela enuncia. sentido ultimo vra € sempre uma ima funcio de sentidos”, m: que abre a poss Descartada a € absoluto, 0 ym “excesso mudo”, espaco vazio, onde dife- Ruzio Lovcura aT rentes significados podem se alojar até 0 infinito.! A palavra esta condenada, portanto, a exercer este duplo papel: € a0 mesmo tempo em que enuncia a si prépria, 0 eédigo que torna Possivel a sua decifragio. Nesta perspectiva, a linguagem da loucura nada diz, a néo ser esta implicagéo necesséria que 0 estatuto da palavra torna visivel. Se, desde a Idade Classica, a loucura € “austncia de sentido”, a partic de Freud ela & “multiplicidade de sentidos". Mas, concomitantemente, é “au- séncia de obra": “Apés Freud, a loucura ocidental toma-se uma néo-linguagem, porque toma-se uma linguagem dupla gua que existe apenas nesta palavra, palavra que diz apenas gua) -— isto é uma matriz da linguagem que, no sentido nada diz, Dobra do falado que € uma auséncia de obra.” #7 A originalidade de Freud consiste, portanto, nfo em en- contrar 0 lo oculto” da loucura, mas em Ihe atribuir um significado inteiramente outro, que escapa a todas as formu lac6es tedricas empreendidas na histéria da reflexio filos6fica sobre 0 significado das palavras. Estas teorias * no permitem “7 dem, p. 580, *# Adotando a perspective de Alston (Fulosofia’da Lin de Janeiro, Zaher, 1977, p. 25-52), poderiamos reunie as a

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