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E JOHN GRINDER _ UM LIVRO SOBRE LINGUAGEM E TERAPIA CeStALCUNe ele A ESTRUTURA DA MAGIA Um Livro sobre Linguagem e Terapia Por que “magia” num livro que tem por fina. lidade “tornar compreensiveis e suscetiveis de apren. dizagem as habilidades lingiiisticas de alguns do; talentosos psicoterapeutas contemporineos'’? na opini3o dos seus autores, 0 manto do m, bruxo, do xami ¢ do guru, est hoje coloca os ombros dos “dinimicos praticantes da psicoters, Pia’, cujos recursos ultrapassaram os de seus miste. riosos antecessores e cujo trabalho é tio deslumbrante de observar que nos leva a “estados de grande emo. si0, deserenca e extrema confusio”. Tal como suce- deu a todos os magos de todas as épocas, cujo co. nhecimento foi guardado ¢ passado adiante de sibio a sibio — perdendo e acrescentando parcelas mas re. tendo sempre uma estrutura basica — assim também a magia dos psicoterapeutas possui uma estrutura pro- pria e fascinante. A simplicidade e semethanca das varias técnicas usadas por terapeutas de escolas apa. rentemente divergentes é uma prova de que, subja- centes em todas elas, existe uma estrutura que lhes é comum. Assim, 0 objetivo precipuo deste livro € forne- . fear hates ———————> hatred decides ——————>_ decision * Ambas as transformagées por Eliminagio e por Permutacgao podem participar neste processo transformacional complexo. Por exem- plo, se nas nominalizacdes acima fossem aplicadas as transforma- goes por permutagao, teriamos: (32) c. Susan knows the fear by her of her parents, _ (33) ¢. Jeffrey recognizes the hatred by him of his job. (34) c. Debbie understands the decision by her about her life.** Se, no entanto, as-Transformagées por Eliminac&o fossem aplica- das! nas nominalizagdes acima, teriamos as representagdes de Es- trutura Superficial: (32) d. Susan knows the fear. (33) d. Jeffrey recognizes the hatred. (34) d. Debbie understands the decision.*** Se a Nominalizag3o ocorre com ou sem transformagées por Eli- minago e Permutacio, seu efeito é converter a representacdo de Estrutura Profunda de um processo na representagio de Estrutura Superficial de um evento. O que é importante nesta apresentagio nZo so os detalhes técnicos nem a terminologia que os lingtiistas desenvolveram, mas antes o fato de que se pode dar uma representacio as intuigdes teme medo odeia édio decide decisio (N, do T.) ** (32) c. Susan conhece o medo por parte dela de seus pais. (33) c. Jeffrey. reconhece o édio por parte dele de seu trabalho. (34) c. Debbie compreende a deciséo por parte dela a respeito de sua vida. (N. do T.) 18 Estritamente falando, a eliminacio dos elementos eliminados no texto nio & legitima de um ponto de vista puramente lingiiistico, pois comportam indices referenciais — 0 processo, entretanto, é tipico de pacientes sob terapia, *** (32) d. Susan conhece o medo, (33) d. Jeffrey reconhece o Sdio. (34) d. Debbie compreende a decisao, (N. do T.) 58 A EstruTuRA DA MAGIA acessiveis a cada um de nés como falantes nativos. Assim, repre. senta-se 0 prdéprio processo de representagao. Por exemplo, as duas maneiras principais pelas quais o que aceitamos como uma frase bem-estruturada pode diferir de sua representacao semianti- ca completa. é por distorgéo (Transformagao por Permutacio ou Nominalizacio) ou remocio de material (Transformagao por Eli- minacio). Como exemplo, cada pessoa que fala inglés é capaz de decidir coerentemente que grupos de palavras inglesas sao frases bem-estruturadas, Esta informacio é acessivel a cada um de vocés. O modelo transformacional representa esta informacao. Assim, no modelo, diz-se que um grupo de palavras esté bem estruturado, se hA uma série de transformacdes que convertem a representaqao completa da Estrutura Profunda em alguma Estrutura Supe ficial. ‘O modelo transformacional envolve indices referenciais de forma importante para nossos objetivos. As Transformagdes por Eliminacio sio sensiveis aos indices referenci Como mencio- nado previamente, as palavras ou locugdes nominais podem nao ser eliminadas, legitimamente, por uma transformacéo por elimi- nacio livre, se elas comportam um indice referencial que as ligue a alguma pessoa ou coisa. Isto surge como uma modificagdo no sentido, se esta condicio nao for satisfeita e a transformacao for aplicada. Observe-se a diferenga entre: (35) a. Kathleen laughed at someone, b. Kathleen laughed. (36) a. Kathleen laughed at her sister. b. Kathleen laughed.* Entende-se a versio (b) da (35) como significando, aproxima- damente, a mesma coisa que a verséo (a), mas a versio (b) da (36) transmite menos informacio e significa algo diferente. Este exemplo mostra a condico geral que uma transformacio por eli- minacgio livre precisa satisfazer para ser aplicada legitimamente — que o elemento a eliminar pode nao ter um indice referencial que o ligue a alguma parte especifica da experiéncia do falante. Com efeito, isto significa que, cada vez que se aplica uma transfor- macio por eliminagio livre, o elemento eliminado no tem, neces- sariamente, indice referencial na representagdo de Estrutura Pro- funda — isto é, era um elemento que nfo estava ligado a nada, na experiéncia do falante. * (35) a. Kathleen riu de alguém. b. Kathleen riu. 36) a. Kathleen riu de sua irma, b. Kathleen riu. (N. do T.) A EstRuTurA DA LINGUAGEM 59 Além da maneira pela qual os indices referenciais interagem com 0 conjunto de transformagées por Eliminacéo, nés, como fa- lantes nativos, temos intuigdes completas sobre Seu uso geral. Es- pecificamente, cada um de nés, como falante nativo, pode distin- guir coerentemente Palavras e locugées tais como this page, the Eiffel Tower, the Vietnam War, I, the Brooklyn Bridge... que tém um indice referencial de palavras e locugées tais como some- one, something, everyplace that there is trouble, all the people who didn't know me, it,...* que no tém indice referencial. O primeiro conjunto de palavras e locucées identifica porgdes espe- cificas do modelo da experiéncia do falante, ao passo que o se- gundo grupo, nao. Este segundo grupo de palavras ou locugédes sem indice referencial € um dos modos principais pelos quais se realiza 0 processo modelador de Generalizagio, nos sistemas das linguas: naturais. Em recente trabalho no campo da lingiiistica, os transforma- cionalistas comegaram a explorar como trabalham as pressuposi- gdes na lingua natural. Certas frases implicam que certas outras sio verdadeiras, a fim de que fagam sentido. Por exemplo, se es- cuto dizer: (37) Hé um gato sobre a mesa, posso escolher entre acreditar ou nao que ha um gato sobre a mesa e, das duas possibilidades, posso encontrar sentido naquilo que se esta dizendo, Entretanto, se escuto dizer: (38) Sam percebeu que hé um gato sobre a mesa. tenho de supor que hd, de fato, um gato sobre a mesa, a fim de encontrar sentido naquilo que se estd dizendo. Esta diferenca mostra-se claramente se introduzirmos o elemento negativo nao na frase. (39) Sam nao percebe que hé um gato sobre a mesa. Isto demonstra que, quando alguém diz uma frase que significa © oposto — aquela que nega o que a primeira afirma ser ver- dadeiro —, deve-se ainda supor que ha um gato sobre a mesa, a fim de encontrar sentido na frase. Uma frase que necessite ser verdadeira, a fim de que uma outra faca sentido, chama-se pres- suposigao da segunda frase. * esta pagina, a Torre Eiffel, a guerra do Vietnd, eu, a Ponte do rooklyn . -alguém, alguma coisa, todo lugar em que houver problemas, todas as Pessoas que néo me conhecem, ela... (N. do T.) 60 A EsTRUTURA DA MAGIA UMA VISAO GERAL As partes do modelo transformacional apliciveis aos nossos Propésitos, foram apresentadas, Vistas em conjunto, constituem uma representagao do processo que os humanos de empenham ao representar sua experiéncia e comunicar esta representacao. Quan- do os humanos desejam comunicar sua representagio, sua experién- cia do mundo, formam uma representacao lingiiistica completa de sua experiéncia; isto se chama a Estrutura Profunda. Assim que comecam a falar, fazem uma série de escolhas (transformagées) a respeito da forma pela qual comunicarao sua experiéncia. Estas escolhas, geralmente, ndo sio conscientes. A estrutura de uma frase pode ser vista como o resultado de uma série de escolhas sintdticas feitas no processo de geracio da mesma. O falante codifica o sentido por escolher construir a frase com certas caracteristicas sintaticas, esco- Ihidas de um conjunto limitado. (T. Winograd, Understanding Natural Language, p. 16, no Cognitive Psychology, vol. 3, n° 1, jan, 1972) Nosso comportamento ao fazer estas escolhas é, entretanto, regu- lar e determinado por regras. O Processo de fazer esta série de escolhas (uma derivagio) resulta de uma Estrutura Superficial — uma frase ou seqiiéncia de palavras que reconhecemos como um grupo bem-estruturado de palavras em nosso idioma. Esta Es- trutura Superficial em si pode ser vista como uma representacio da representaco lingiifstica completa — a Estrutura Profunda. As transformagdes modificam a estrutura da Estrutura Profunda — seja eliminando ou modificando a ordem das palavras — mas nao modificam o significado semantico, Graficamente, o Pprocesso inteiro pode ser visto como: O Mundo——> A Represéntacao Linguistica Completa Estrutura Profunda Transformagoes (derivagio) | ~~» | A Representagiio (comunicada) da Representagao Completa Estrutura Superficial O modelo deste processo € um modelo do que fazemos quan- do representamos € comunicamos nosso modelo — um modelo de um modelo — um metamodelo. Este metamodelo representa nos- A EstruTura Da LINGUAGEM 61 sas intuigdes a respeito de nossa experiéncia. Por exemplo, nossa intuiggo de sinonimia — 0 caso em que duas ou mais Estruturas Superficiais tem o mesmo significado semintico, isto é, a mesma Estrutura Profunda — representa-se como: Estrutura Profunda Derivagées = ES ~ (séries de. ————~» 7 transformagées) ‘ Estrutura Estrutura Estrutura Superficial 1. Superficial 2. Superficial 3. Em termos de um exemplo especifico, entéo: Estrutura Profunda: Joe says Mary hit Sam. Estrutura Estrutura Estrutura Superficial 1. Superficial 2. Superficial 3. Joe says that Joe says that Sam Sam was said by Mary hit Sam, was hit by Mary. dce to have been hit by Mary. * Sinonimia no metamodelo significa que a mesma Estrutura Profunda esta ligada a mais de uma Estrutura Superficial. Ambigitidade é ‘0 caso oposto. Ambigitidade é a intuigio que os falantes nativos utilizam quando a mesma Estrutura Superficial tem mais de um significado semantico distinto e represen- ta-se como: Estrutura Profunda Estrutura Profunda Estrutura Profunda Derivagées ae aera gee (sérieg de ee transformagies)

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