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indices para catdlogo sistematico: 4 Marilda Villela lamamoto : RENOVACAO E CONSERVADORISMO ‘ —_ NOSERVICO SOCIAL Ensaios criticos 4 2? EDICAO SSe Ho monopotista, implica nao sb o agravamento das tensées sociais como a ampliagio do proceso de pauperizagao absoluta e relativa dos trabalhadores e das seqielas dat derivadas. A “rise do milagre” econdmico brasileiro permite 0 reaparecimento, na superficie da cena politica, da presenca fortalecida e reorganizada dos trabalhadores ema seus. movimentos sociais, apesat da assisténcia e da repressio. Esse quadro conjuntural representard, para os Assistentes Sociais, uuma_ampliagéo. crescente de seu campo de trabalho, Paralelamente, diversificard as demandas feites ao meio profissional no sentido de assumir ¢ enfrentar uma série de tarefas ¢ fungOes relativas & imple- mentagio das politicas sociais, dentro da nova racionalidade que 0 modelo politico impée. A iss0’se acrescem os efeitos da burocratize- go crescente produizidos pela modernizacio do aparelho de Estado. Este fato, que também sv reflete no interior das empresas, torna ainda ais nevessdria a existéncia de funcionérios especializados nas tarcfas de interpretagio e encaminhamento para a cbtengdo. dos “beneficios” ‘que se referem aquelas politicas. Assim, obserya-se que o crescimento da demanda e das exigacias postas por essa conjuntura a0 meio pro- fissional nada mais € do que um aspecto da resposta institucional 0 agravamento das condig6es de vida do proletariado. Em outros termos, a ampliagdo do mercado de trabalho ¢ 0 reforgo da legitimidade do Servigo Social diante do poder ¢ expressao da resposta das classes dominantes a0 enfrentamento das novas formas de expressio da questéo social, que tem como pano de fundo a ampliagdo do processo de pauperizagao dos trabalhadores, dentro de uma conjuntura em que sua capacidade de luta encontra-se gravemente afetada pela poli: tica de desorganizagio e repressio as suas entidades de classe. Nesse quadro, a instituigio Servico Social ever capacitarse @ fornecer uma resposta que @ atualize, em face dos novos desafios que Ihe sf0 postos pela conjuntura politico-econdmica, Estes se traduzem numa Feavaliagdo da atuagao profissional, seja numa linha de tecnificagdo pragmatista modernizadora, seja numa busca de questionamento das prOprias bases da legitimidade dessa demanda. © O Servico Social na divisdo do trabatho* [A insergio do Servigo Social na divisdo do trabalho e as novas perspectivas dat decorrentes siio um produto histérico. Dependem, fundamentalmente, do grau de maturago © das formas assumidas pelos embates das’ classes sociais subalternas com 0 bloco do poder hho enfrentamento da “questo social” no capitalismo monopolista; dependem, ainda, do caréter das politicas do Estado, que, articuladas 20 contexto internacional, vao atribuindo especificidades & configura sao do Servigo Social na divisio social do trabalho Assim sendo, a tarefa de doslindar a temética proposta s6 pode ser fruto de um ésforgo coletivo, conjugando as méltiplas contribui- ‘gees que terdo lugar neste encontro, Esta observagdo adquire maior forca diante da situagio de turbuléncia que se verifica na América Central. Um momento de profunda crise econdmico-social que assola todo o continente, agravada pelo embate politico-armado aberto com 1s forgas pré-imperialistas, tem lugar na regio, expressando graus diferenciais de pressio, do estdeio ¢ das formas da luta a que se somam as exigéncias da reconstrucgo nacional mnsideragdes levaram-me a situar 0 tema em um nivel maior Area pe brasileira —, de modo « sugerir alguns elementos teGricometodols- México * Conferéneia pronunciada no [IT Encuentro de Trabajo Social: » América Contra y"Catbe, realizado em Teptcigaipa (Honduras, de 26 50 de agosto de 1985, sobre a temétice principal do evento: "Servigo, Social ¢ Participagio Comunitéria: Novas Perspectivas do Espago Profissional” 87 gicos que possam adensar o debate adeqt distintas realidades nacionais, é-lo ds particularidades das 1, Parametros analiticos © significado sécio-histérico de pritica profissional sé 6 desven- dado a partir de sua inserea0 na sociedade, visto que o Servigo Social s¢ alirma como uma instituicgo peculiar na e a partir da divisao do trabathe, Para apreender o significado social da prética profissional supde inseri-la no conjunto das condicdes ¢ relagées sociais que Ihe atribuem um sentido histérico © nas quais se toma possivel © necessaria, O Servigo Social afizmase como um tipo de especializagao do trabalho coletivo, a0 se constituir em expressio de necessidedes sociais deriv das da prética histGrica das classes socieis no ato de produzir e repro. duzir seus meios de vida © de trabalho de forma socialmente deter. minada, E nevessério, assim, efetuar um esforgo de clucidacio do signi- ficado social da profissio na sociedade capitalista. E nesta direcio que ‘caminha @ presente andlise: situar o Servigo Social nas relagdes entre as classes sociais que conformam o desenvolvimento de sociedade (ten. do 9 caso brasileiro como ponto de referéncia), buscando apreender es plicagses sociopoliticas deste exercicio profissional, inserito na di sto social do trabalho. SupGe indagagées como: o qiie determina socialmente a necessi dade deste profissional? Que interesses coletivos encontramse em jogo ‘na institucionalizagéo ¢ desenvolvimento da profisséo? A quem o Scrvigo Social vem servindo prioritariamente, ao Estado ¢ 3s insti. tigées privadas patronais (que contratam predominantemente 0 pro fissional) ou aqueles a quem se dizige a acao profissional? Qual o peso da organizagao e da mobilizacio popular na configuragéo do Servigo Social e como este se relaciona com as foreas organizadas da sociedade em sua Iuta pela hegemonia? Essa abordagem presenta de imediato as implicagées polfticas da pritica profissional, polatizada por interesses de classes, pelo jogo das foreas sociais tal como se expressa em detetminadas conjuntiras Esta linkia enalitice supée considerar: a) a5 determinagdes histricas da pritica profissional, isto é 4 aluagio profissional como atividade socialmente determineda pelas circunstdncias sociais objetivas que conferem uma ditecdo social & pri fica profissional, 0 que condiciona e/ou ultrapassa a yontade e/ou consciéncia de seus agentes individuals; 88. b) a profissio como realidade vivida © representada ne e pele conscigneia de seus agentes profissionais, expressa pelo discurso ted ricorideol6gico sobre 0 excrefcio profissional. A unidade entre essas duas “dimensdes” € contradit6ria, podendo haver uma defasagem entre condigdes ¢ efeitos da profissdo © as representagdes que legitimam esse fazer. Em outros tetmos: uma defasagem entre intengdes expressas no discurso que ratifica este fazer ¢ 0 exercicio € resultados desse mesino fazer. Desvendar a profissdo supde, pois, inserila no processo social! za sua dupla. dimensdo: da direcio objetiva que assume e da conscién- cia subjetiva da situasio, Deriva daf 0 centro da presente reflexio, que busca privilegiar, articuladamente 48) 0 modo de inseredo da prética profissional nas relagGes sociais capitalistas, tendo como pano de fundo os novos contornos da questo social no capitalismo monopotista © a participacdo popular; ) 0 modo de pensar que informa as respostas dadas pela cate- gotia profissional a8 novas demaclas sociais que se manifestam na conjuntura latino-americana. © clemento unificedor desta andlise ¢ a problematizagio da legi- timidade e crise da profissdo, em suas raizes sociais ¢ tedricas Trata-se, portanto, de um. esforgo de compreender a prétice pro fissional na_sua dimensdo histérica, como, uma_prética em. processo, em, constante, renovacdo, fato este ‘derivado, ‘undamentalmente, das ‘modificacdes ‘Verificadas nas formas de expresso e no aprofunda- mento das contradigdes que peculiarizam o desenvolvimento de nossas sociedades. A medida que novas situagdes hist6ricas se apresentam, a pritica_profissional — enquanto componente destas — é obrigada a se redefinis. As constantes redefinigdes conformam mais uma “pas- sagem de pratica” do que uma prética cristalizada, o que muitas venes € vivido pela categoria como “crise profissional”, Esta “crise” nfo é mais do que a expresso, na consciéneia de seus agentes, da tempo- ralidade dessas préticas, de necessidade de redefinigbas. 1. Ver I. 8. Mating. Captatinmo e Tradcionationo (studo sobre a8 com teagigde de sociedad agriia no Brasi), Sao Paulo, Plonsir, 1975, p. 38 "Por Processo soci, ndo entendemos o sentido infersuietivo das rlaSce scl hms sim quo ar rlagdee sciis sd0 moditvades por condigdes hintérices ¢ ape ce procs sds dinners bj dito c= do seni e diesdo objeivos que assume, Eni, entre exes sujltoe hd uma Tealidadeobjeiva e coma, cujorsigicados podem ser compreendids de Sierentes modo. 5 2: Ver M. V. Iamamoto, Legimilade e Crite do Serigo Soil... op. st 89 Diante desse quadro, as respostas de categoria ndo tém sido uni vyocas, porgue a categoria nao € hhomogénea: ela reflete, em si mesma, a8 polatizagdes presentes na sociedade. ~ Alguns segmentos encaram tais redefinigdes na perspective de\ atualizacdo do Servigo Social perante as demandas do poder institu ional, 0 que se traduz na modernizacdo da atividede profissional, segundo parimetros.de_eficiéncia ¢ racionalidade. Busca-se, priorite- siamenté, uma renovacio permanente das bases de legitimidade do _ Servigo Social na classe capitalista e no Estado burgués, o que supée, por parte do Assistente, Social, uma adesio passiva ou ativa aos seus propésitos de classe. Ou seja: para o profissional que vivencia « “crise” profissional sem_questionar as bases politicas de legitimacao de scu fazer, tal “crise” se resolve no aprimoramento teérico-profissio- nal em fungao das exigtneias do processo de acumulagio e de mode nizagdo do Estado. Implica, necessariamente, efetuar mudancas te6ri co-priticas no Servico Social, porém acopladas & evolucao das estraté- ftias do bloco de poder no controle da sociedad civil e, em especial, das classes trabalhadoras, renovando os Tacos de slianga entre os agentes profissionais e os propdsitos de classe corporificados nas orga nizagdes institucionais a que os Assistentes Sociais encontram-se vin- culados. 2Outros segments, talvez_ ainda minotitérios no conjunto de cate- goria, huscam reorientar o potencial dessa prética na perspective das classes, socials, subaliernas, dos seus resis interesses socials, o que obriga o profissional a repensar o seu fazer de moneira antagdnica a definigao oficial. F af que se expressa, para o profissional, um dilema de grande dimensio, que ndo é apenas um dilema profissional, mas essencialmente politico. Ora, os profissionais so constituidos’ para serem agentes mediadores do capital, que, em ultima instincia, € a forca que dispée do poder de produrir ¢’legitimar tais servicos, de aprovar 08 estattitos profissionais, de remunerar imediatamente os agentes. Ea force que os constitui, que os remunera, que determina sua parcela de poder, define e redefine sua prética, j4 que € a classe capitalista que tem domindncia politice na correlacao de forcas sociai Esta é, estruturalmente, a situagio dos diversos profissionais na socie- dade cepitalista, A luta pela identidade profissional dos que buscam conferir nova. dimensGo social & sua, prética supde um dilema de definicao que nfo esta posto diretamenie para quem os contrata, mas para a caicgoria profissional: a questio politica de definicao desta prética, que subordina, embora nio elimine, a questo propriamente 3. Ver ©. R. Brandio. A Prética Social e a Pritica Profssional. Polestra ppronunciada no Seminério Regional da ABESS. Regiio Sul J, Sto Paulo, raaio de 1981. 29 ‘éonico-profissionel, Assim, no é possivel ‘‘corrigir” uma questo eminentemente politica com mera “cortegio,téenica”. Embora incor- porando a novessidade de conduzir a pratica profissional de mancira Gliciente © competente, nao & suficiente modernizar o apatato profis- sional para resolver um problema que no é meramente profissional. © desafio que se apresenta ¢ o seguinte: como € possivel,.a partir, do mereade de. trabalho, construir um novo projeto profissional, vol, tado para a ruplura tedrico-prética com a tradigso tutelar ¢ manips ladora das classes subalternas segundo interesses que Ihe sio estranhoss tum projeto que supere a mera demanda institucional patronal ¢ busque “ construir outras bases de Icgitimidadc do Servigo Social entre as classes {rabalhadoras, ampliando, inclusive, sua demanda para organizacdes de outro cardter de classe: sindicatos, organismos populares etc.? Para os que buscam situar 0 Servigo Social nos sumos da hist6ria, cerise/legitimagio aparecem em um quadro qualitativamente diferen- indo, incorporando as contradigdes da ordem burguesa. Sio a expres- fo, no nivel da profissdo, de uma questde que nao é posta prioritari mente pelo profissional, mas pela dinémica da realidade, sendo por ele fassumida: a da criagio de uma nova hegemonia no bojo das rele goes fundamentais da.sociedade. SupGe uma rupturs profunda com 0 $nodo dominante de pensar, de educar, de dirigir. Implica ultrapassar, através de pritica coletiva identificada com os setores subslternos. © de uma compreensio da réalidade comprometida com o desvends- mento de suas contiadigées, a consciéncia. ambigua _heteréclita’do proprio profissional. Este pode tomar-se, efetivamente, um especiae « Hista ¢ um politico, isto é, um dirigente, capaz de expressar os inte- resses majotitirios da populagdo, que seja por ela requerido € reco- nhecido, 2. © significado do Servico Social na divisio do trabalho 2.1, A institucionalizagao e legitimagio da pratica profissional*® (© processo de surgimento do Servigo Social no Brasil jé foi objeto de indimeras andlises histSricas. Sabe-se que_ele esti imbricado no “4. Retomo nos itens 2.1 ¢ 22 partes do texto “Anilise da Profissdo de Servigo Social”. publioado in Yasbeck, M. C. (org), “Projeto de. Revisio Cutricular da Faculdade de Servigo Social da PUCSP*. Servico Social e So- ciedade, n° 14, ano IV, Sio Paulo, Cortez, 1988, pp. 4560. a amplo movimento social em que a Igreja, buscando uma presenga ‘mais ativa no “mundo temporal”, avanca’ de uma postura contem: plativa para a recuperagio de dreas de influéncia ameagadas pela sccularizacio e pelo redimensionamento do Estado. De fato, havia um “projeto. de. recristianizagao” da. ordem.-burguesa, sob o imperative ético do comunitarismo, com a bierarquia visando ganhar a classe coperéria na disputa com as influéncias comunistas e liberais — donde, pois, a relevancia da “questao social”, que a Igreja enfoca fundamen: talmente como questo moral Porém, 0 processo de institucionalizacdo do Servico Social, como profissio reconhecide na divisao social do trabalho, esta vinculado 2 criagao das grandes instituigtes assistenciais, estatais, paraestatais ou autérquicas, especialmente na década de 40%, Trata-se de um perfodo marcado pelo aprofundamento do modelo corporativista do Estado e por uma politica nitidamente favordvel & industrializagio (a partir de 1957). A burguesia industrial adquire supremacia no poder de Estado, aliads aos grandes proprictaios rurais, ¢ tem de se defrontar com o crescimento do proletariado urbano, reforgado pelos fluxos populacionais liberados pela capitaliza- ‘edo da’ agricultura. Em face de tal expansio, surge a necessidade de absorver © controlar esses setores. O Estado Novo vai buscar na classe operéria um elemento adicional de sua legitimacao, através de uma politica de masses, 20 mesmo tempo em que procura reprimit © componente autOnomo dos moyimentos reivindicat6rios do proleta- riado, que foge aos canais institucionais criados para absorvé-los na estrutura corporativista, Para garantir esta fonte de legitimacio, o Estado tem necessariamente de incorporar parte das reivindicagdes populares, ampliando as bases de reconhecimento da cidadania social ddo proletariado, através de uma legislagao social e sindical ubundante no perfodo. Emergem, nesta fase, novas instituig6es, como 0 salétio rinimo, a justica do trabelho e uma nova legislagao sindical ete, © usufruto de uma legislacio minimamente protetora do trabalho 6 subordinado ao atrelamento do movimento operdrio ao Estado, impli- cando a abdicagdo de um projeto politico particular: os sindicatos transformam-se em agncias de colaborago do poder péblico, tornen- do-se centros assistonciais complementares & Previdéncia Social, a par- tir de recursos extraidos compulsoriamente da propria classe operdtia. ‘Assim, a manutengio da estruture corporativista no enguadra- ‘mento das novas forcas sociais exige a articulacdo da repressio e da %, Ver a respeito: M, V. Iamamoto ¢ R. de Carvalho. Relagdes Socials Servigo Social no Brasil. Sio Pavio, Celsts/Corter, 1982, 92 dinamizagéo controlada de seus movimentos, j6 que, se o Estado nao pode permitir a mobilizecio © a organizagio avténomas do proletariado, no pode também aceitar 0 esvaziamento dos cansis Jnstitucionais ctiados para absorver ¢ esvaziar tais movimentos. ‘Simultaneamente ao esvaziamento politico das entidades sindicais, fo Estado desencadeia uma acéo normativa e assisiencial, como raeio de canalizar o potencial de mobilizacdo dos trabalhadores urDancs fnanter rebaixados os niveis salariais. & nesta perspectiva que emerge ¢ se desenvolvem as grandes instituigses assistenciais. O Estado pass f intervir nao 6 na regulamentagdo do mercado de trabalho, através a politica salarial ¢ sindical, mas também no estabelecimento © con- role de uma politica assistencial, intimamente vinculada as organi zagdes representativas das “‘classes produtoras". Surgem nesse pro- ‘ess0: 0 Conselho Nacional de Servico Social, a LBA, o Senai e o Ses Nese periodo, a posigdo da burguesia empresarial em face do enfrentamento da questo social alters-se: ela adere i politica de con: trole social da ditadura varguista, ao perceber que a “paz social” imposta através de uma legislagao social simuftaneamente patcma- lista e repressiva reverie em elevagao da rentabilidade econémica das empress. 'A ctiagio das grandes instituigSes assistenciais ocorre num mo- mento em que o Servigo Social € ainda um projeto embrionério de intervengao social. Até esse momento, o Servigo Social constitui wma itividade profundamente ligada & sua origem no interior do bloco catélico e desenvolve sua ago em obras assistenciais implementadas por fragées da burguesia paulista e catioca, principelmente seus seg: Inentos femininos que se expressam através da Igreja Catélica, com ¢ objetivo de solidificar sua penetracio entre 0s setores operdrios, dentro do projeto de recristianizagéo da sociedade. ‘Com o surgimento das grandes instituigées, o mercado de trabalho se amplia para 0 Servigo Social ¢ este rompe com o estreito quadro de sua origem para se tornar uma atividade institucionalizada © legit mada pelo Estado e pelo conjunto das classes dominantes. Se, nos seus primérdios, a fonte de legitimaco do Assistente Social decortia de Sua origem de classe e do seu cardter missionario, como meio de fazer face aos imperativos da justiga e da caridade, quando ocorre a profis- sionalizagio do apostolado social este nfo se choca com o crescente aproveitamento © cooptagae do profissional pelo Estado e pelo empre- fariado. O Estado passa a ser, num curio lapso de tempo, uma das molas propulsoras ¢ incentivadoras desse tipo de qualificacao téenica, ampliando seu campo de trabalho. Agora, a legitimacio da profissio vit, também, do mandato institucional confiado ao Assistente Social, 93 ta ou indiretamente, pelo Estado. Amplio-se e solidifica-se, assim, a legitimacao do Servico Social pelo poder. Este provesso constitui, também, © processo de profissionalizagdo do Assistente Social, que s¢ toma categoria assalariada, alargando-e sua base social de recrutamento, especialmente entre os setores médios, ou da pequena burguesia, que buscam uma profissio reiunerada, A vinculagio institucional altera, ao mesmo tempo, « chamada “clientele” do Servigo Social: de uma parcela insignificante da popu- lacio pobre em geral, atingida peles acées dispersas das obras sociais, seu pablico concentrar-se-é, agora, nos grandes setores do proletariado, alvo principal das politicas assistenciais desenvolvidas pelas insti tuigdes. Servigo Social deixa assim de ser um mecanismo de distribui $0 de caridade privada das classes dominantes para se transformar fem uma das engrenagens de execucio das politicas sociais do Estado f selores empresariais, que se tornam seus maiores empregadores, E nesse sentido que se aprésenta, para a anélise da profissio © de seu significado social, 2 impossibilidade de desvinculé-la da relagio com as novas formas de enfrentamento da questéo operitia, criadas pelo Estado e pelo empreseriado, consolidadas em medidas de politica social, implementadas pelas grandes instituigées assistenci Com isso, 0 Assistente Social passa a receber um mandato di tamente das classes dominantes para atuar nas classes trabalhadoras. Importa ressaltar que a demanda de sua atuagio nao deriva dos que sio alvo de scus scrvigos profissionais — os trabalhadores —, mas dos setores pattonais, com o objetivo de atuar, segundo metas estabe- lecidas por estes setores, entre as classes trabalhadoras. O que deve ser ressaltado que o Assistente Social, embora trabalhe a partit das situages de vida daquelas classes, nao & diretamente solicitado por elas: atua entre elas a partir de uma demanda que, na maioria das vexes, nao provém delas. O profissional passa # dispor de um suporte institucional ¢ juridico para se impor ao cliente, mais além de sua solicitagio. © caminho que o cliente percorre até o profissional & mediatizado pelos servicos soviais prestados pelas instituigdes que so, em geral, 0 alvo da procura do usustio. Porgm, para obter tis servigos, é muitas vezes obrigado a passar pelo Assistente Social como. uum dos agentes institucionais que participa da implementagdo de iais servigos. A demanda profissional tem, pois, um nitido caréter de classe. Este cunho impositive, que marca grande parte da atuagio profissio- nal, ndo aparece limpidamente no discurso do Servigo Social: tende 4 expressarse 40 inverso, como reforgo & ideologia do desinteresse, 4 do dom de si, do prinefpio da nac-ingeréncia, do respeito & livre iniciativa do cliente, da neutzelidade etc, sta andlise nos leva a marear dois aspectos fundamentais: Servigo Social se institucionaliza ¢ legitima como profissio, extranptando suas maress de_ofigem no interior da Tgroja, quando © Fstado centralize e politica ascistencial, efetiveda através da_presta- lo de sorvigos socials implementados pelas_grandés instiuigbess com isso, as fontes de legitimagao do fazer profissional passam a. emanal do proprio Estado e do conjunto dominante, O. Estado nip € com- preendido, aqui, como um Estado a a snare. =a = Tepresentante exclusivo dos interesses da burguesia. Como Gominagdo. Porém, importa reter que esta, dominaséo é, essencial tnente, contraditéria, o que Kowarick traduz na nogdo de “pacto Se dominagz0"*. De um lado, porque as clases urguesas nf sto homogeneas: no_inteior do bloco_domingnte_existem contradigdes Scuundérias entre suas fragées, na busca de se apropriarem de maior) paroela posstvel do excedente criado pelas classes trabalhadoras sob fas formas de lucro industrial, comercial, juros ¢ renda daterra; de Outre lado, se 0 Estado exclui as classes dominadas, tem de levar em. ents alguns de seus interes, sea devido a fa de clases, Pronuncismento efetuado no painel sobre o tema “Pritica Social”, pro- sovido pela Escola de Servigo Social da UFRY, em 30 de abril de 1987. 113 eee ica rmmmmeaame

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