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Pret oo ELES NAO SABEM O QUE FAZEM O sublime objeto da ideologia Slavoj Zizek 1 rl ner ect i ye eee tee pune Creer ye Poe nT ME aad ‘| . ¥ <4 =) ” oI “J My q ) ) zl : | . I My < eae Psicossomsitia, JD. Nasio Entrevistas com o Homem dos Lobos, Karin OBholzer A, Teansmissio da Psicandlise V diretor: Marco Antonio Coutinho Jorge 1 A.Excegio Feminina, Gérard Pommier 2. Gradiva, Wilhelm Jensen 3 Lacan, Bertrand Ogilvie 4 A Crianea Magnifiea da Psicandlise, J.-D. Nasio 5 Fantasia Originéria, Fantasias das Ox Origens da Fantasia, Jean Loplancte e .- 6 Inconsciente Freudiano e Transmissh © Umbigo do Sonho, Laurence Bataille Psicossomética na Clinica Lacaniana, Jean Guir 10 Nobodeddy - A Histeria no Séoulo, Catherine Millot 11 Liges Sobre os 7 Conceitos Crucials da Psicanslise, JD. Nasio 12, Da Paixto do Ser ““Loucura’” de Saber, Maud Mannoni 14 A Topologia de Jacques Lacan, Jeanne Granon-Lafont 15 A Psicose, Alphonse de Waethens Préximos lancamentos: Slavoj Zizek ELES NAO SABEM O QUE FAZEM O sublime objeto da ideologia Traducao: Vera Ribeiro psicanalista LISO DO SUGUARAO BIBLIOTECA PESSOAL Jorge Zahar Editor Rio de Janciro Para Renata, de novo “Traduo autrza da pica Gg nets 090 por Peat Hots Laat, de PAs, Fane 20031 Rio de Taner, RI Todas of dite reevades, ‘em pane, coast violas co copyright. (Le 3.988) argo sete: TopTentos Bigs Gries Li spesio: Tavares Tet Lda ISBN. 65-7110222-5 02 Sumario Prefiicio OS IMPASSES DA “DESSUBLIMACAO REPRESSIVA” ‘A“esteticizagao do politico”, 30 I. O choque ¢ suas repercussdes Oencontro de um “Real” histérico, 35 A“logica da dominagio”, 37 Adorno: a outra dimens& Nexto, 49 VARIACOES DO TOTALITARISMO-TIPICO IIL. Cinismo e objeto totalitério. IV. 0 discurso stalinista (O significante © a mercadoria, 74 F O “fiau-fiau” ideol6gico, 78 Fi 35 37 59 4 ME OBJETO DA IDEOLOGIA V.0 grifico do desejo: uma leitura politica desejo do Outro, 115 VI. “Nao apenas como substancia, mas também como sujelto” All6gica do Sublime, 126 As reflexes proponente, exterior € determinante, 131 Estabelecendo as pressuposigdes, 134 Pressupondo o estabelecer, 140 0 GOZA-O-SENTIDO IDEOLOGICO VIL Respostas do real Oolhar e a vor como objetos, 151 Quando o real responde, 155 Reproduzindo “Ama teu sinthomem como a ti mesmo”, 163 Do sintoma ao. “Em ti mais do que t A identificagio com o Sintoma, 173 188 gesto de Moi Bibliografia 7 126 149 195 Prefacio Nos debates teérieos atuais, cada vez mais se revela que 0 “cles nto sabem", dfinindo a experién hi uma vertente positiva da cegueira ideol ste, fenaz e dolorosa de um gozar que resiste ast iva. No goza-o-sentido* cena (0 Tribunal, o Castelo) do u como discurso, da sobredet talvez, 0 ges Dee do que chamamgs “a pés-modema”. Esta obra di prosseguimento as Da livro do ‘0 mais sublime des histéricos — Hegel com Lacan (Jorge Zahar it idades da presenga do inagio simbélica do do da “Escola de Frankfurt” (a “teoria critica da sociedade”) fascismo, isto é, a maneira como a “tcoria critica” procurou -nder os paradoxos do gozar toialitrio por meio da nogio de “dessu- i laeaniana nos permite localizar o que falta to de supercu como agente obstinado ¢ feroz. lum gozo obtuso — é precisamente o supereu que serve de esteio pal para o funcionamento da ideologia totalitaria. rio simplesmente jouissance (gozo), e sim compost, itrodu a-o-senso, goza-o-sentido, que em portugues nao preserva a homofonia ginal. (N-T.) 8 eles nao saben 0 gue fazem — As variagdes do totalitarismo tipico esbogam os contornos de uma teoria Lacanian do tot , procedendo em duas elapas: primeiro, definigio do“ iio” como objeto obsceno, verdade alguns elementos de uma teoria ia em geral, Inicialmente, esse capitulo nos fornece Iitica do “grafico do descjo”, possibilitando apreender a dimensio “além da identificagio” (a parte supetior do grafico) como a dimensio da fantasia ¢ do goz0, do goza-o-sentido ideolégicos; em seguida, através de uma leitura lacaniana da nogao de Sublime em Kant ygica da reflexdo encontrada em Hegel, cle reconsirsi o gesto ‘clementar pelo qual o sujeito assume como seu ato livre aquilo que advém independentemente de sua atividade. se no nilcleo mais extremo da «do que (o significado) — 0 go2a-o-sentido ideologico cent naquilo que, como ideologi de um “pedacinho de realidade”, pereebido como a “resposta do re traga 0 caminho de Lacan desde 6 sintoma como mensagem cifrada a iomem, na condigao de ‘desmoronamento, funciona, ao mesmo tempo, como sua condigio de possibilidade. © autor expressa seus agradecimentos a sta. Dominique por sua ajuda na tradugio do manuserito. Os IMPASSES DA “DESSUBLIMAGAO REPRESSIVA” I A “teoria critica” frente ao fascismo soria eritica contra o “revisionismo” analitico antes de Lacan, a “te da sociedade” (TCS), ou seja, a la de Frankfurt”, ja iculado © projeto ‘oposig&o ao “revisionismo” analitico. Para se “retorno a Freud”, o livro de Russel Jacoby, Amnésia social (Cf. reafinmagao do cu como instancia ativa de sintese. A.causa ‘do desamparo psiquico néo € 0 recalcamento pulsional, deven- 1r procurada, antes, no bloqueio dos potenciais criativos do homem: a (0s impasses da “dessublinago represiva” modema, Mesmo que os distirbios psiquicos assumam, jos da vida sexual, nfo se deve exagerat o papel da sexu: penas como campo (uin dos campos) de expresso da wna, da necessidade hum efeitos de uma sociedade que bloqueia a afirmagao dos pote hhomem. 1, na verdade, tal “socal marxista de Freud: detectar jo nisleo nos fundaientais, gemonstrar a fo Ristorica das pretenses pus 40" psiquica das i jade, integrar © Teomplexo de no “supereu”, a “internali peeifieas de uma dada so ‘como sua condigio abjetiva)ete.! Ora, a TCS Tutou desde 0 Fn A, a a familie patuintl Com ' sea socializagao sumétia do inconse temolégico”: quando se atenus @ con recaida no conformismo social mais ov menos direto, resisténcia d ordem existente? Fromm se livra dese impasse slravés de uma vasta ‘construgdo antropoldgiea da “esséacia humana” que combina tragos do huma- ee teaofascismo 13 4 partir das mesmas pret ia TCS nao havia abordado (Adler) ou nao pudera abor enquanto a TCS vis 0 “no que se afigurava, & forma “reificada” e “naturalizada” de n dado pré-histérico: vidvo abinbra cristallaada que se afigura como naturecs rcoby, 1975, p. 46.) pyle ob fel ya ino nada tem em is € dos conflitos ‘posto do gesto 0 inconseiente ¢ atenuar, por el entre o eu, estruturado de acordo com os valores sociais, ¢ os impulsos inconscientes que a — tensio que confere 4 teoria Ireudiana seu potencial ct ima sociedade alienada, o campo da “cultura” se assenia na “repressio” leo exclufdo desse campo, assumindo a forma de uma quase~ " é'a testemunha petrificada do ‘onde Freud vira apenss os digio efetiva da “segunda natur 1m, portanto, como sua “segunda or essa 1420, a abordagem freudiana, que recusa autonomia ao eu e desereve a dinimica pulsional “naturalizada” a que todos os ete. iso consttuclonal entre 0 pesto 1" Yeoria ertica™ frente ao fascomo 18 weiona como uma construgio ago" (ato psiquico que nio jente afetada por um “libertrio", que visa a dar pihimidos, € 0 “conservadOFISHIO Tesi demandod, por uma paixio radical de quaisquerinstincias de controle sobre o ‘ora, a patir da diferenciagio t6pica Es/loW/Uber-Ich, os maram, como finalidade pritien da anise, nfo mais a jo do superew, mas “harmonia” entre as tr instincias Tnzo- _ nee La pelposl oem Ym rina taste” 4 pnp y Lad Jingo entre 0 supereu “ncurstico”, -onsciente — uma pura constru “compulsive”, fodugio do supereu foi uma construgéo avi traditério do cu, somo uma mediagio entre . desempenha o papel da jovar em consideragao a (gue oe toe pewtador dat niradigio de que “o eu tem que |camento” (Adomo, 1975, p. 122). Poris “eu forte”, tio favorecidos entre os revi , as duas Fungées ,levaria, radicalmente conduzido, & desagrega- iento dos “mecanismos de defesa que aparecem ias, mecanismos sem os quais ndo sctia possivel conceber a idade das presses jualquer demanda do “eu >. A psicanalise sairia ser altemadamente rompidos e reforg: neuroses, em que o superen é “forte de psicoses, onde o supereu é“fraco demais" Ja, Dessa mancira, 0 término da andlise — 0 card término — reprodhiziria 0 antagonismo social, a oposigao entre as deman- das do individuo e as da sociedade. Acontradigdo como indice da verdade teérica [Neste ponto, devemos tomar cuidado para ndo deixar escapar o desafio, epistemoldgico-pratico, absolutamente decisivo, da TCS: ela nio visa, de ‘modo algum, a “resolver” ou a “abolic” essa contradigao através de um Cones fe |p & w mV 4 “teoria orton” frente ao fascism AT ae vl ye let no sentido do “libe- iis, quer no sentido de isso, de uma “medida exata de Teealcamento”, gesto fundamental da TCS consiste em aprender essa cor imediato da contradigao social efe ‘em si mesma, um peso cognitivo, pelo ie “no ha nenhum testemut wa que nio seja também um * Beri todo “desenvolvimento dos potenciais superiores” € pago, toda “st pagi- com 6 solrimento mudo cman as ea inconsciente... Obtém-se, assim, um edificio prego de perder a propria verdade da toma Freud por um pensador nio-ideol6gico e por um tedrico das contra por um pe a a ‘das contradigdes de que seus Sucessores tentam se esquivar or burg ‘om recuSar a prelensio & harmonia sistemtic firs earitet antagOnico da realidade social Eis a primeira surpresa para os que se sentem tentados a classificar a TCS, sem maiores consideragées, Sob 0 r6tulo “i xista”: desde , Adomo expée, mediante um exame di 0 ¢a mentira toric de todas a tentaivas “fren T ajwWede nenhum procedimento imanente-teérico que js wea? opps, ae rialismo hist6rico v4 que tomar essa “querela real entre ‘ca nos leva a essa “conciliaga0”, mas tio-somente inérin da propria efe idade é “alsa”, conti jue & paga com o softimento indi dda mediagio soci do entre o social e o psiqui pata evitar a “soclalizagao” demasiadamen(e rapida do inconsciente: 0’ ccomplemento “sécio-psicolégico” da “psicologia profunda” — justamen- te © que preocupou os revisionistas ao criticarem a insuficiéneia do “psicologismo” abstrato — é apenas a inverdade bid, p Assim, a “socializagio” pplamente: o gume da repressic excluido do Social —,e as priprias relagdes sociais objetivas se transfor- 2 “teoria erica” femteaofascimo 19 ite daa ne a anal ‘Agora, jé poderiamos precisar um pouco a relagio entre a orientagéo da ‘TCS a propésito de Freud ¢ 0 “retorno a Freud” lacaniano: ambos apreen- dem seu préprio eneaminhamento como uma espécie de contramovimento para restabelecer a verdade da descoberta freudiana, esquecida pelo revisionismo, que eseamoteou 0 cunho sumamente critieo da psicandlise através de sua transformagio numa ego-psychology (psicologia do ego), fazendo dela um vei way of life (esti diana “tal e qt “inconseg{iéncias”, na medida em que vé nesses aspectos a propria indi- ‘cago de sua verdade. Em outras palavras, essa orientagio torna desne- ‘cessétio ¢ absurdo um “retorno a Freud” que vise a destacar, mediante um paciente trabalho t26rico, o que Freud “produziu sem saber” ilo do conformismo social e da adaptagio a um dado de vida); pois bem, no fundo, a TCS ace’ do, levada até o fim, revela sua contradigio ssquecer, em nenhum momento, de que a de uma inversio revolucionaria: a somo aconteee em Adomo, concebida como uma “aspiraci dem ganz Anderen) — de uma: paga com uma “regressio” birbara imanente, em que a “repressio” ndo ‘sea mais a condigao inevitivel da “sublimagio”. A'TCS de modo algum ccensura o revisionismo por admitir a possibilidade de tal “sociedade sem repressio”, referindo-se sua censura, antes, a0 fato de cle admitir a G prwonilier limp Mita ¢medmata aD Ad £20 aed que jé rft0 Fosse dominado por sua prdpria substan icada. Ora, Freud teria concebido a psica stincia, como uma teoria “positiva”: ela & — para retomarmos Adorno. — “verdadcira” na medida em que descreve a situagio da sociedade revelando seu. o global da sociedade, F justamente a mudanga radical da relagao entre a teoria ea terapia as que revela mais elaramente 0 corte entre 0 revisionismo ea da terapia, perde de A “dessublimagdo repressiva” ATCS ve a prova decisi mento hist6rico posterior, onde absolutamente inespera ino: a de uma “dessublimagio si Alig dos “iotalitarismos” contemporineos, desde, © nazismo até a “Sociedade de consumo”, consiste em que os “impulsos | arcaicos triunfanites, a vitéria do isso sobre o eu, vivem em harmonia com | 0 triunfo da sociedade sobre-o individuo” (Adomo, 1975, p. 133). 1 -pousava em seu papel mediador entre imada) e o supereu (a “repressio" torna-se automatico” (Marcuse), perde Essa € versio de Jacoby para a psicanalise como “vocagio impos- si terapia s6 pode ter sucesso murn dela, que nao produza a “loucura”, ou, para citar Freud, a quem Jacoby se a suas condig6es étimas... onde sal, que recalea, por tenta dominar, "uma inversio, na medida em que a instincia do controle soc is assume a forma de uma “lei” ou de ums “proibigio” interna que exige a rentincia, oautodominio cc.,mas, antes, assume & forma de uma insténcia ~hipnotica” que inflige uma atitude de “se deixar levar pela correnteza”, cuja ordem se reduz a um “Goza!” — o prdprio Adomo ji 0 disse —, & imposigio de um gozo obtuso ditado pelo meio social, inclusive pelos de toda a recepgiio dada & desde 0 jovem Horkheimer a “teora rca” frome ao fasciono 23 4 no apareciam como forgas determinay dos individuos perdeu sua substi assim, ao ponto de provavelmente, 0 m: teoria do “empobreciment grupo e aandlise do ego,’ que é, s, objeto” ¢ coloca o objeto “no lugar de seu componente mais importante”, de Freud, sobretudo por sua deserigéo do processo de . © supereu, antecipou de maneira quase clarividente os stomos sociais chamados “movimentos de massa” contemporincos icoldgicos, desindividualizados, da massa fascista. Nesses étomos -a psicolégica da formapio das massas fot ultrapassada Esse processo, embors contenbs, é claro, uma dimensto psicoldgica, ner por isso deixa de ‘motivagio psicol sistematicamente controloda ¢absorvida de cima, Quando os préprios di Entre os Tideres, tal como nos atos de identificagao da massa, em sua presumida raiva ¢ em seu fanatismo, trata-se da mesma teatralidade ida. Assim como os homens, em algum ponto de suas profundezas {ntimas, nfo créem realmente que os judeus sejam 0 disbo, eles tampouco sereditam no lider. Nao se identifica com ele, mas desse pressent ‘que es masses Fasc hhomem ficava re se tome sujeito”, que “o que era isso se torne ‘9s processos psic te da “dominagio heterénoma de seu proprio proceso psicanalitico teria como meta a agi" do sujeito. © ponto de partida tinha sido, para Freud, 0 sujeito “psicolégico”, © individuo alienado da sociedade liberal burguesa: a dimensio “psicol6gi- ca" designava tudo 0 que cle tinha que secriicar, que afastar de seu "eu", da“ dessubimago repressiva"™ midade” e “racionalidade” sociais dominantes. Ora, o adv dda “dessublimagio repressiva” inverteu completa S “ilicitos” s6 podiam surgir so das sociedades “tolalitérias”, a “psicol ios perderam a dimensio do “psicoldgi “repressiio” cientes. Com isso, 1é mesmo hegeliano: ficou priv “mediatizada”, “manipulada” mecanismos da “repressio™ que fala Freud: a primeira por uma forga hipnét idade”, de expl erro quanto ao fato ferece como exemplo puro tum fend teria coletiva” s te “representados tanto no alto, entre os lideres, quanto entre os stditos mam-se as conclusdes de Adorno: 0 sujeito tomad psicanilise ¢ estritamente histirico, corresponde a0 “i 16 34), em suma, 40 individuo liberal burgués. O mundo pré-burgués da coal sujeito com a substincia social ain nistrado” contemporinco, totalmente socializado, nao 0 conhece mais: Os tipos contemporincos sio aqueles perto de quem o eu qualquer se ausenta, aqueles que, por conseguinte, nio agem inconscientemente, nO sentido estrito da palavra, mas refletem os ttagos objetivos. Paricipam 4 “teora critica” fremte ao fasciemo 28 0 do eu, reforgam-se onateisismo (bid, p. 133) Poderiamos dizer que af reside o primeiro grande ato da teoria analitica: “chegar a evidenciagao — na qual consistiria sua verdade — das Forgas destrutivas que, no seio do Universal destruidor, se exercem no Particular” (ibi ismos subjeti © nareisismo coletivo, que se aliam a coergio soci amente autonomo, monadoligico”, préprio instincia, conceber as condigdes de sua priptia obsolescén Falta alguma coisa nessa concepedo, aliés muito engenhosa, da “dessublimago subjetiva”, como testemunha a situagéo vaga da tese ‘Sobre a “manipulagao das massas”: parece que Adomo recorreu a essa tese O elemento em que el , para explicar .¢do organizada e cons no faseismo, é que a“regressio” letivo”, que caract 0M 0s lideres fascistas “apercebendo-se nando-a nas mos” (pois entio 0 proprio tou sua pluma, em Minha luta (Mein Kampf), a propésito da de “manipula psicol conseqiléncias radicais quanto a0 con ue convém examinar. ‘o hegeliano-marxista concebe a idcologia como “cons falsa", determinada pela objetividade “ seu modelo bisico sio as “formas objetivas de pensamento”, ‘que se formam contra o fundo do “fetichismo da mercadoria” na produgia capitalista avangada, ¢ do liberalismo burgués, que se desenvolve a partir dessas condigdes objetivas, juntamente, por cxemplo, com a explicagao Sracional” de liberdade do homem entre 0s ideslogos burgueses elissicos. deagio; A performatividade do diseurso totalitério Em torno da revista berlinense Das Argument const Projekt Wdeologie-Theore (PTT (CI. PIT 1979 € 1980), ter interesse para o campo freudiai tura com a referida concepgio hege \gBes” posteriores; a “incocréncia” a “debilidade” do contetido positivo de sua argumentagio “racional” s6 fazem destacar a prépria|forma ideoldgica da “servidao voluntéria”: a 20 goz0 em nome do assujeitamento a0 ssa analise inverte toda a perspectiva: ser buscado, precisamente, no que @ ci como sua “impoté no cardter puramente “formal” da demand apoditic “absurdo”/“incondicional”. Essa “auséncia” jd real dos atos performativos, das formas do que desfazer as palavras enfiticas sobre a “comunhio do povo (Volksgemeinschafi}", demonstrando como s6 fazem dissimular a luta de classes e a exploragio; no entanto, nio convém esquecer que o de classe como uma: Bin Wnts fear en ee priticas esportiva organizagdes de caridade © da solidatiedade popular et., qu Sagar fascista “pratica”, “reeliza’, “1 ‘materializa” a ideology in the marxist theory (1977). Laclau parte do Poulantzas etc.) de que a ‘ionalista, do “cnraizamento” rural, do homogeneidade caracteristica de ica propriamente dita. O autor procura, sobr jcagio de classe” chegar & base classista do proprio fascismo: secamente “neutros”, € 0 “valor de classe” Ihes € conferido por sua captura numa ‘mente espeeifica. O mesmo elemento — por exempl pode resbe,seyondo ns diverts mjunes seu papel estrutural sempre espectico,e nfo a cago (ou da combinagio das significagdes) dos elementos singulares. 1 admiragio pelo esporte e pela natureza et “fascistas”, em vez de enxergar neles 0 cam snto ctueial possibilitador dessa “solda” paradcxal, naturalmente, 28 os mpassesdia “deesublinasdo repressiva™ No mbito desse dispositive conceitual, o PIT traz toda uma s dde andlises que permitem ver como o fasci cE 10 conseguiu “transfuncio- ", incluir em sua interpelaedo especifica um grande mimero de temas, aparelhos ¢ priticas ideolégicos tradicionais e modemos: o préprio fun. onamento dessas priticas e aparelhos “caracterizaria” a efetividade do fascismo,.. Agora podemos evidenciar por que o fascismo tem um valor ttago “ineémodo” da ides ‘gia fascista consi i em nio dissimular 0 fi idarmos com um conjunto de elementos heterogéneos ¢ quanto a sua significagao: sua “totalidade” conserva 0 cardter de “cola- gem” e no se apresenta sob a forma vivida de uma “totalidade de significagio” — na qualidade de discurso do ‘com que se destaque como “meio"/“mediadot” de sua “unidade” do de um significante-mestre, Essa teoria do PIT parece inteiramente pertinente, ¢ até mesmo jana”, na medida em que enfatiza o impacto significante do campo co, Entretanto, também apresenta uma falla: caso ela explicasse itamente o funcionamento do fascismo, este seria apenas, no nivel dda economia discursiva, ui rctomo ao discurso do senhor pré-bi imples. Em outras palavras iferenca decisiva entze 0 né-burgués ¢ seu quase-“renascimento™ no faseismo: vemos im- ‘a uma repetigio pura, sem a ingeréncia do “impossivel”. E nisso 0 “teoria eri” frente ao fasciomo 29 que o PIT perde de vista um curto-circuito “psicético” que marca a iferenga entre 0 discurso fascista e o discurso do senhor pré-burgués, ‘Numa primel ‘esquema marxista da repeti nao é quanto a sua abordagem, o fascismo confirma perfeitamente 0 ‘caso nio se disfarga de “Idade Média”, uma variagao daquilo a que Marx, no igo faseista ida por Marx, e em que consiste ela’? Marcuse jé havia esbocado, aforismo, a concepgio de que: ige uma retifieagéo das proposigses do *18 dos “Matos e pessoas da izer, das vezes", e que ni mais ac imo “farsa”. Ou mesmo: a farsa & mais t ssucede, (Marcuse, ie invertida: 0 que foi ‘modelo da “consti como tragédia com ssa repetigao que o esquema marxis- ta jd nao ¢ suficiente: com o fascismo, ¢ sobretudo com 0 nazismo, a Spria Iégica da “representagio™ pol da pretensa “base -sentada por determinado movimento politico ou determinado radicalmente ido-o de maneira grossci , saisfazendo uns em detrimento Imente, ficou-se num circul (para retomar a expresso do st. Pécheux), }0 “psiestico”, de um lugar inabaldvel e elativa” (ou seja, assistimos — no nivel simbélico, € claro— unr btoqueio Toads Tungao da ideologia que consiste em es ds “dessublinago repressiva” 1 férmula da repres ‘apaga a “divida” si cpresentagao” e seu “exterior” (a “efetividade soci fem razio da ciso que nao mais € me iseismo, como que “endurece’ lética, com a ajuda da fundamental & precisam« (c, num outro nivel, o “stalinismo”) matea esse ponto de “ ssi “neurdtico” que, por suas préprias lacuna: recalcada. A “esteticizagao do politico” possivel abordar numa nova perspectiva o fenémeno apreent ‘Adorno como “despsicolo fascista: essa “despsicol ‘2ago" implica um certo da 6tica’do que Lacan sut ‘Aquilo em que & preciso insistir, no fendmeno psiesti carster ideativamente neutro, © que quer dizer, ) Convérn ligar 0 mic ‘com 0 significante em sev aspecto mais formal, em seu aspecto de sit {ete puro, [20 fato de que] tudo que se constr6i em torno disso so apenas mario, a relagio com significante. "frente ao fascismo jjustamente, na medida em que ¢ a forma de uma injungao nio-t surge como um texto que de mod alia riqueza “afetiva” de seus anseios, ela funciona como supereu E realmente o supereu que reconhecemos nesse imperativo de goz0 essencialmente atizante”, que presentifiea em te como aquela a que 0 sujeito © isso e o supereu A custa do eu’ gozo, otdena-o diretamente. A “ jue forga a TCS a reduzir repetidamente a “despsi sa fascista a sua “manipulagao dirigida” logizacio” da ia da conceituagio adorniana ja provém de seu ponto 1, que consiste em aprender a psicanilise como uma teoria ira”, é tragar os contornos desse processo que 10, Ora, 0 “retorno a Freud” lacaniano, que se no papel-chave da “instincia da letra no inconsciente” — em palavras, no cardter estritamente “nio-psicolégico” do inconscien- toda a perspectiva: onde, segundo Adorno, a psicandlise tc ¢ vé dissolver-se seu proprio “objeto” (0 individuo fascista ser tomada num ofato de que o faseismo do discurso politico como s palavras, acaso nio é verdade que io” ete. ndo exeree uma verdadeira forga performativa, nio “capta” realmente nio os “prende”...: numa palavra, 0 que falta é, muito simplesmet \g0", mas sew e S6 Vé nisso, no final das contas, um efeito da rio” do universo teresse em ser captado por urso, Ora, esse “fingimento” & muito “sério”, ele atesta a “n&o- integragao do s ro do significante”, a *imitago externa” da nificante (Lacan, 1981, pp. 284-5 fed. frane =) que caracte- riza o fenémeno . Portanto, & a“ telagao ao discurso ideol6gico “totalitério” que faz desse um “louco”, longe de Ihe fornecer um caminho para “evitara loucura™ do especuto ideobgien. (0 sujeito “por trés da méscara” sé pode ser chamado de “normal” na medida em que as determinagGes da I {que costumamos tomar por “normais” — a linguagem como to", como meio externo de expresso dos pensamentos etc. — U die ce see es validade, justathente, para o ps ito set captado pelo discurso san i deve ser em si um ito “louco”, “oco”, 0 que 0 condena a fugit incessantemente para a lidade idcoldgica — sc 0 show parasse por um inico instante, todo avras, a “loucura” nao consisti- no “complé judaico”, em “crer realmente” na mnipoténcia e no amor do Lider etc, — essa crenga, sob a forma recaleada, seria justamente o normal —, mas deve ser buscada, antes, na auséncia de renga, no fato de que “os homens, em algum lugar de suas profundezas ft weus sejam o diabo", na Tak pole dh rms widocd pou Wbud.*» rreenda si * Ao que corresponde, naturalmente, a necessidade incondicional que Bebreber ) ia do scompanamento do fuxo incessant da plavres: cle “ao tem va costumer, a nfo ser gragas a0 acompanhamento de ses gestos eats” (Laan, 198, imulagdo patriarcal-reacionria da ‘mesma, que quet \ernidade nfo-rea- 6 somente uma perspectiva patriarca, 4 expresso do "homossexualismo recaleado”, d ie Schreber teria se tomado, em circunsténcias mais propicias, um » do tipo de Hitler. 36 os inpesses de “dessublinoso epresina iquicos profundos por ina os homens” (Hotk! tugurada pela Dialética de toda a TCS, escrito por Adomo lo em 1947) deslocou radicalmente a de ser conecbida como um momento sul as forgas insuficiéneia di externas; a prépria cleo repressivo” impensado, ¢ o arcabougo teor meio o potencing Rrocurava fundamentar a acdo revoluciondria jd encerwwe otenciais de “dominagio”. © marxismo nfo concrbia iedade burguesa de mancira su \egrava em seu projeto revolueiond © do homem exere 0 que se projeto de socialismo em- iedade em que, com base nto crescente das forgas ‘se tormam “transparentes”, dominadas aoe ana, sPécie de “tecnologia social” que procede da mesm muy ir J ominacéo tccnol6giea da natureza. Atvalmente, porter 9 cao ‘irio", 0 estado de “alienaga0” com que a teor Ji ndo ¢ simplesmente asociedade burguesa desem ochoquee suas repercusses 3 ieee ram ee ae por uma livre associagio de individuos : a de a propria vida soci individuos”, se tornar disponivel, nae * (das relagdes sociais ee ene ee ee ne ena scemlance ceueuncie cen eee eae ere pean te6tico fundamental de Ad da razo” acabe se voltando contra 0 priprio sujeito: tudo 0 que deveria ser apengs um meio — a submissio ¢ a adapta a natureza para domi isto é, a “renegagao da natureza no homem” — mente, para um fim em siz essa renegapio, a quintesséncia de tod a justamente 0 germe a partir do qu la ferar: a renegagio da natureza no ser humano confunde e obscurece 8 da dominagao externa da natureza, mas também o telos mano. Tao logo o homem se separa de sua eonseiéncia de da subj inagio do homem sobre si mesmo, na qual se baseia seu tual destruigdo do sue m 0s esforgos da aulopreservagio — 9 que deve, servado. (Adorno/Horkheime Essa renegagio atinge seu ponto culminante n: trabalho, do ato moral como seu proprio 5a serv 05 instintos, iio do prazer) € colocada no ocidental do io (a rentincia cerne da de agir de acordo com a lei moral (Kai to é, na capacidade de desprender-se da prépria determinagao al. Com base em sua prética analitica, Freud chamou tengo para a irracionalidade dessa rem ochoque e suas repereussoes 39 lo sobre a espontanei que irrompe nos produtos do do sonho”. Todavia, esti claro, para Adomo ¢ Horkheimer, que so da dominagio. A razio como jo fim se inverte, necessariamente, na “entronizagao do meio ", onde a razo “volta a se desatrelar em diregao a na izado”: 0 “espirito” 96 é “ele mesmo™ no movimer de seu “outro”, sempre jé pressuposto — um verdadei iode que eleéa natureza alienada que o sujeito efetivamente fica “acima-da-natureza” ‘A queda na natureza é sua eseravidio, sem a qual o espirito nio ex! r6i Sua pretensdo deminadora, que jusiamente o eseraviza & id, p- 55.) , por assim dizer, 0 reconhecimento-do-outro-em si (0 que reconhece sua prépria “obrigago™ para com a natuteza se modo, rompe o circulo vieioso da dominagao. Assim, a perspec: ‘Adomo ¢ Horkheimer esti longe de ser unilateralmente “pessit slo nio é fechado: por um gesto que se poderia dizer — se jé © “Bosque por nio reluzt”, exemplo conhecido da etimologia fantasiosa que se ‘aseia na semethanga easual entre dois vocdbulos. (N.T.) la “dessubimesdo represiva”® baseava-se na “repressio™ — a “re nal servia de base necesséria d cultura, o que lhe assegu. wa #0 menos uma espécie de legtimagio. Coma “dessublimagio rep ", 40 contrétio, esse ura” © a “repressio” € i i ago repressiva” con si "m que a “sublimagdo” ea “cultura” se libertam de fitrelagamenio exciusivo com a “repressdo” — as fotgas da “teprece fi un agora do lado da “dessublimagao”, da “regressio", o que possibilita versio dessa conjuntura, o advento da “sublimagao nio-repressiva”. teririas” do primeiro capitulo da Dial cortes decisivos que escandem o desenvol ica da dominagdo: “Ulisses ou 0 mito ¢o liuminismo™ ¢ ismo e a moral”. Adomo ¢ Horkheimer interpretam Ulisses como umn momento de passagem do mito ao logas “destin ‘presenta o modelo do comportamento ide — a0 se dobrar as circunstincias, 40 renuneiar a seus impulsos imediatos, oeu voltaas forgas natursis eonny 2 prpria natureza ¢ consegue domind-ia. A conduta de Ulises diane dha gers comprova o elo entre a dominagio da natureza e as relayees de Gominagao entre os préprios homens, a diviséo do trabalho: os retradoaes 10 6, da dominagio, ‘mais interessante, dentro de uma de “desmit Acdigressdo sobre erspectiva lacaniana, prin. produzem € claro, o tema “Kant ide dos herdis sédicos inismo kantiano: “A obra do ' diregao do outro-heterogéneo", Kant queria basear a moral, 3 uma autonomia radical do sujeito, o que 0 levou 20 lismo vazio do 0 categsrico” — a “verdade” desse for. ealmente Sade quem a destacou: o instru. |. © dominio dos prazeres através da premeditagao, o isto €, 0 su lo choque e suas repereussdes formula geral foi proposta por catalogar as perver forgo de enumerar opriz i 120: “¢ €0 goz0? Ele se rec essa versio de “Kant com Sade” é que els funciona Scpeameal Lau eees fern pM cea Lacan, ¢ justat ca vitima, longe dé loséfico-antropologica: ima outta resposta que, de juagem da corrente princi- rio a variagées dessa genci freqilentemente se exprime através da do. tepresiva” “hegeliano-marxismo” e da “ » “produz sem saber” uma prio s6 pode ser “levado ao eon: da teoria lacaniana. Trata- a negativa’, ‘Mais do que nas "em especial, de Adorno c ele desenvolveu nas anos que antecederam roposigs vel de seu pr de seu método tedrico. Tomemos Pea elaborava sua segunda versio man A apresentagiio eo apresentado”; les em suas proprias palavras: /o de acordo corm a progressio todo a pa forma depts izadas em torno de um ponto cent i brags a Sua Consclag. (Adorno, 1970, 9 que se apresentar pela “const e t ” previa a essa “consielagi ‘€ que se “exprima” nessa “constelagao”, sendo a ‘montagem dos complexos parciais — sera passi mais formal a “primazi zia da “constelagiio” direta do contetido por ao apresenaem parte aguma ua asey ma ua aero simples nd que possamos tomar polo pressipsto doses em part algunaexprimi em ermos sot, have para fodos 6s fendimenos analisados pore nfo reside apenas fo fat de que exe materi te se do que dm iMeolica ede que faz parte de econ massa eléssen ne tutes antes, da perepyio de que tats delaraydes des, als apesenagtes ochoquee suas repercussdes 43 simples, sfofalsas do ponto de vista do estilo, sendo im si mesma, o single reflexo de um ero essenc no prdprio processo do pensamento. E que, no curso da apresentepio (odo pensamento se reir ¢ aparentemente, ‘em cena de maneira objtiva, como um fo, uma coist em si, Apesar de tudo iss0, persis w observagdo como wma atitude determined pele relagio com a coisa observada, e seus pensamen- a que 0 sjeito ni tenha cons- € que a apresentagio direte do ede textos socioldpicos ou filossficos, 10a ilusdo positivist c empirica qu’ joo. Jameson, 1971, p. 43.) contetido por ele mesmo, quer s {em que ser denuneiada como um re deve ser superada pelo pensamento Esse “rebote™ do “pensamento fundamental”, do “contetido imedin- cm diregio a sua determinagio conereta, a sua captagio no “particn- é jndio-se 0 obscure~ les” etc.) — 0 passo em diregio & sobredeterminagio desse a seja, rumo a sua determinagio pela rede isanciamento em que se inscreve 0 mos para a ediatamente, 0 “pensamento isso nio seria simplesmente detestdvel do ponto , como ¢ perfeitamente sabido; além disso, tratar-se-ia, © pensamento se fecharia em ‘assim que 0 método de Adomo inaugura uma tica propriamente “ant es sempre particulates, as”, de Eing de um dos compéndios de Adorno), opostas ao begreifen ico. Contrariando 0 modo de exposigao earacteristico da filosofia (dedugio sistemstica da totalidade fechada), Adorno se apdia aq abordagem “ensaistica” consegue — c através do que a primeira vista se afigura como seu defcito: iuagio conereta “pragmitica”, seu carter smento, a repercusséo da “propria coisa” possul, como suristico”, levando a ver o que falta na “propria coisa”, ‘exposigdo de sua sobredeterminagio conereta, a “met ica da dialtica negativa pressupée 0 afastamento cot jal de wma certa idéia — por exemplo, da natureza “ “4 ‘desublimaco repressva"™ da sociedade como coisas em si — rumo as formas diversas, as accitaram e que, por suas lhas conceituais, representam imediatamente on ou 0S sintomas da limitagde dessa situado social concrete +p. 47.) rebote, mesmo o distanciamento da “prépria coisa”, nos langa no a © que 86 € possivel quando essa “coisa em si" ja proptio rebote, distancinda um buraco intemo, qua constelagio clipsoidal em que convergem, paradoxal, 0 fora e © dentro..; em suma, essa conjuntura implica o carter rompido, nacre, ima palavra, ndo-todo, da pre Adorno jé produzin a férmula do “ni ‘ainda que sob a forma inversa: a proposicao fundamental d Etzel & gue “o todo é 0 néo-Veradeiro [das Gance ist das Un. Wahrel™ E que ele vé o “paralogismo” da dialética hegeliana (onde “oT ‘Nendadciro”) justamente no fato de the faltar oardter “endividador Todo: Como num giganteseo sistema de eréd niboidéntioo —, dialética idea! Eafquea comete seu paralogismo, (Adorno, 1969, p. 164) ciro”, re 'Jo-Verdadeiro marca & totali- Verdade ico rasga os envoltotios do q genérico abrangente, permanece deses leva a explosio de sua identidade, da iluséo de que ele seria om iodo universo em assuntos principais Fcamenos da extrema desigualdade social como simples excegdes= (Adomo, 1973, p. 166), que a excegdo seja o lugar de irruppio da verdade | [> Por isso, parte integral e || estamos lidando com uma estrutura de base dupla: a verdade “estrutarst™ ada através dos detalhes, dos limites, dos “lapsos” do sistema, do |. “contetido oficial”, do “pensamento fundamental”: Jo das dissonancias. A: a pela exposigao das detcrminag&es ausen- co eae iden Ursinn — nao ha nenh ir, o sentido € sempre: ‘que “a mediaglo é a verdade do imediato”... res da “dessublimago repressva” parega que esse modo de praticar a “impossibilidade da jem”, Onde o método teérico se curva quase mimeticamente a riamente a um certo “mau infinito™ poeticista, a ‘metonimico sem limites, sem ruptura, entre a “apresentagao”™ ue disso de maneira muito clara seu F2queno ensaio sobre as relagiis entre @ 82): & misica “diz 0 que as palavras onde “a palavra f Poderiamos aprender essas formulagées de maneira tradicional da “missica como exptessio imediata dos sentimentos inefé se Adorno no se reportass a dimensao do rexro: toma musical ao se fazer es lade”, portanto — longe tera ver com um modo simbélico, ou mesmo com tin mimetismo imag. nétio —, deve ser situada do lado do real: nela, a fala toca num certo *impossivel” igBes do matem: sal depois da construgéo da torre de Babel” ( a, que diz. o que as palavras no po pode, ainda assim, de modo que hd sempre um “encontro © 0 texto musical, carregado de um “teor” absurdo, \do, ¢ a riqueza sempre excessiva das interpretagses si licas; ndo é por acaso que Adorno fomece como exemplo d “musical”, nao certos “efeitos musicais” da poesia (do tipo das Vogais, de Rimbaud), mas a prosa de Kafka: o texto kafkiano ¢ realmente carregado de um “teor” que provoca a “compulsio a interpretar” e que, ao mesmo pretagdes dadas. A “obra de arte”, do texto: “as obras de atte sé edida em que sio um escrito [die » diz Adorno na ica (Adomo, 1970, p. 189). Nao surpreenide, portanto, que seu ensaio programstico “Por uma misica informal” termine com esta frase: “Todas.as utopias ¢stéticas revestem.-se hoje desta forina: fazer eo nao. sabemos.o.que. sio” (Adomo, 198 parifrase de um trecho de desse ensaio: “dizer sem s tratia 0 “gozo femini Mais, ainda: “Onde isso [ed. frane.)) grate — visio ut6pica de uma mtisica que da santa Teresa evocada por Lacan em , isso goza enada sabe” (Lacan, 1975, p. 95 ochoque e suas repercussdes 47 A “subjetividade a ser salva” Quando Adomo evoea a ungéncia ameagada nas relages total trado”, convém, portanto, proceder com prudéneia quanto ao quadro de roferéncia dessas proposigées, E verdade que, : - posiges parecem curvar-se iano-marxista jf esbogada pelo jovem Lukées: apreende-se a sociedade dada como sendo uma extrema “reificagio”, de um total predominio da substancia — 0 mundo em que os imente“manipulado",pequena migalha no jogo das forges stale seapam aseu controle, donde decors, necssuriamente, qe oprojeto assume a forma de uma “reafirmagio da subjetividade’ l) se tomaré sujcito”, ou seja, o proletariado se to efetivo do processo sécio-histérico. Ora, Adomos do objetivo", do) coet) sua propria descentracio, seu cardler irredutivel de 's6-depois” em Felagio a0 Outro: Nas mecanismos subjetivos de mediaglo se perpetuam os da objetividade, ‘nos quais todo sujeilo, inclusive 0 sujeito transcendental, se acha preso, O fato de os dados, por Sua exigéneia, serem p pela ordem pré-sub wente a subjetividade const io Ativo do movimento de sua “expressio” ificante que cons que a *subjetividad fala Adomo deve ser buscada, antes, do lado do ‘ura lacaniana dos textos da TCS, por conseguinte, deve o de nao deixar eseapar a ruptura imp! comm de Adorno ¢ Horkheimer. Horkheimer ultrapassa 0 edificio hege- indrio da TCS em diregao a uma generalizagio filos6- 30 que Adomo, mesmo retomando os temas do 0 da teoria que la mesma subverteu por sus pratica is ida situagao inteiro se rearticule e para q ‘que antes fora “produzido sem saber” — estamos de basta, embora especifieando, é claro, que € preci te", que toma retroativamente € nio podemos }o-marxista originério, nem no campo da Essa tensio extrema, que, de certa maneira, jd evoca sua resolugao, de que modo se dissipou no desenvolvimento posterior da TCS? Nesse Ponto, as coisas tomaram um rumo bastante surpreendente: produzi ‘uma ruptura essencial cujo artifice foi Jtrgen Habermas, o principal ‘ochogue suas repercussoes 49 representante da “segunda geragao” dos tedricos da TCS. Ble modi completamente 0 terreno ¢ rearticulou toda a problemi vista, fez precisamente © que Habermas: a anélise como auto-reflexdo ‘mas pertiu da divisio de Dilthey das “formas elementares da so” em “expresses verbais, agdes e expresses da experiénein’ Normalmente, essas «ss concordancia ¢ imperte oe, 100 outline objeto daideotogia © que temos aqui centre o sii c ente a representagio gréfica da relagao se sabe, Saussure esquematizou las ou pelas duas faces de uma car do significado corre paralela- inear do significante. ica, marcada A, subjaz a cad antes assinal yelagao (também em Althuss smestre ", “América”; num ra, € 0 ignificame. feito de signifi Cattes, que estio sempre em estado flutuante, porque finda ni foi fixada, vio se sucedendo até o momento em q orito— justamente is ‘em que aintengéo cruzaa ca a relroativamente a significagio da significagio ao significante, detém o deslizamento da ia apreender isso claramente, basta simplesmente nes i do basteamento ideoldg tes como “liberdade”, "Est snunismo”, por exem} @ “liberdade" sé ¢ efetiva ao superar a que é apenas uma forma de escravi classe dominante assegura as condi toca ndo pode ser “justo e eqititativo’ ogrifico do desejo F ele. (0 basteamento te, uma atticulacao de si ‘ basteamento conservador, uma signi- 4 oposta aos dois campos precedentes). fesse nivel clementar, ja podemos localizar a I la Bi mecanismos basicos que produzem a ilusio Sart ‘ia é © avesso do fato de que o e que o Estado, “em sua verdadeira natureza”, €0 i sminago de classes etc. O paradoxo est, 0 “efelto de retroagao” oo eer oh, cociagian eae te pest toe nla pono iceasihamelniven rape tn i os Siig niu ceeatom roeen IER mae mri nificaga aneira, chegamos & segunda forma do ier peas guna form 3 Euee eee cua anh chin a calla Hipaieamies RGEC grande Outro ¢ o significado em sua fungao: 102 o.sublime ober da ideologia Significante Tay $ ee on aac a etn i nk devemos recordar que © ponto de basta fi le basta fixa a os precedcntes: fixa-thes a significagio, isto. mente 40 cédigo, assinala suas relages mutuay cédigo (pore: : = no, no qual uma estrutura s fem que ¢ encarnada no Um, que acabamos de dizer, tam ‘Mas, por que a parte direita do vetor de signifi vetor de significante $-S°, ou se ane subsoqlente ao ponto de basa, designads come Soret eas (cr esse enigma, devemos conceber a voz de uma maneita catia, lana, isto 6, nfo como portadora de plenitude e de autopresen. leagio (no sentido de Demida, que asim analisa a eonceparo co grdfico do desejo 103 liana), mas como um objeto sem significago, um resto objetal a pelo basteamento. vor €0 que ificante a operagio retroativa de lara encarnagio eonereta sa: quando tua mesma desorientacos, ¢ es H, porém, um outo aspecto da segunda forma do gtico a ser caplicado: a mudanga et sue base; no lar da intengdo , produzidos quando tramps, etbalxo, & die signflcente, na pat reeebe agora a notagto, KA). Ast deslocado da coquerda (osu jeito para um outzo signil to"sele assume forma concrcta num nome ou numa missio de que ost ser distinguida velor do signi ‘eu (mm) e seu out do sujeito: o sujeito tem que se identificar com o outro imaginario, ‘que se alienar, tem que, por assim dizer, colocar sus identidade fora dele, na imagem de seu duplo, O “efeito de retroversio” mencionado anterior” como J ar aloe en slo oxpet Tac uLeieeene aa Greats como en cnon deer teoria lacaniana do estédio do espelho, que deve ser situada precisemen= Lengo para a diferenga e imaginéria, 10 passo que a idemtifieagao simbé- igar de onde somos observados, de imos de modo a parceermos amaveis a nds mesmos, mete. identificagio é a de modelos, sgens: observa-se (comumen ‘c, partir de uma perspectiva conxlescendente de “maturidade") como on ic icam com herdis populares, cantores pop, ta, desportisas ete, Essa nogo espontinea é duplamente enganado. 8, 0 trago no outro mediante 0 qual nos Imente ¢ cculto; cm outras palevras, nko aracteristica de prestigio. Desprezar esse parado. umentos politicos seriamente equivoea 10S, nesse aspei sua campanha, que nko epenas Waldheim era um homem de pascade duvideso (provavelmente implicado em crimes de guerra), mas tember, ‘um homenn despreparado para se confrontar com seu passado'e a questGes relacionadas com ele, Em sum, um homem eujo tags fundamental era a recusa a perlaborar um passado iraumétieo. O que eles desconheccr do de um confront identificago com disso, no plano teéri ‘uma certa fall cenfatizar essa del acentuar 0 trago de ioria dos igo que se pode extrair » é que 0 trag0 icagio também pode ser uma fraqueza, uma culpa do outte, de modo que, 20 iéncia, podemos inadvertidamente reforar a identifi. ogrdfico dodesejo 105 para apreender , ou seja, aqui istéico: quando eonsideramos ume histérica num serene ofer eralmente podkios desctbd ea prego feminiade etiieaso raltnto com © Oba? nn de amor, Essa sopra vad ao extremo pelo neu! nério, constituido, le fea, juda do par hegeliano para mn que desempenha i eae hint para fhenal de ua comieidade sua atude perverse com rang an lnc de Chaplin, as caoas tl to sada or sublime objeto da ideologia 2 distancia sadica das criangas it olhar das préprias criangas, admiragio de Charles Dickens imaginaria com seu mundo pobi qualquer combate eruel peto di se enconita a falsidade de “boa gente do povo", para que a ndo ser do ponto de Potter? Ai encontramos 2 mesma separagao v; Brucgel, mostrando cenas trangililas d posto, eneontramos a mas feliz, fechado, virgem, iro ou pelo poder; mas “as —, de onde ven 0 ta de um mundo eorrom nfo odos camponeses ico dominante; serve para ara com o povinho comum, por reratar sua falta de dighi io subversivos. Essa idade de seus dramas, fora era muito mais perigosa do que a dominante, Forman nao quis desiruir a iden tica, mas preferiu inve desmascarando o espe: ilo encenado para seu othar. fentze 0 eu ideal ¢ 0 ideal do eu, pode ser lustrada pela Fungo do cognome nas culturas norte-ame- ricana e soviética. Tomemos iduos, cada qual representando 0 Vissarionovitch Djugatchvil lende a substituir © prenome enquanto, no segundo, ele su Vissarionoviteh Stalin”). No primeiro caso, 1". No primeito caso, © cognome se, simplesmente, Lucky Luci © cognome far. referéncia a ogrifico dodesjo 307 0 que se olerece a nosso necessidade férrea de desintegrar o capi 10, a necessidade em nome da qual Stal ava, na qual observava a si mesmo e julgas podemos dizer que “Stalin” & 0 ponto ideal An", esse individuo empirico, o personage ic came c oss0, se observava, de modo ase afigurar passivel de ser amado. Encontramos essa mesma ruptura num dos tiltimos textos de Rous- pparecemos dignos de amor a nés mesmos. No mal, essa subordinagao é confirmada pelo fato funciona também como um do termo, e néo como uma ara retomar- ni significa apenas que seu resto & no mestho tempo, que estamos Iidando ser Jesignado como "Scarface", mesmo xem res desaparesam mediante uma Girurgin esttcn, Eo mesmo se aplica fangdo das dsignagesideol6p as, "Comunismo™ signifi, na perspective comuist, “comunismo” designa, em todos ve s assis. ‘ges contrafactuais, “a democracia e a liberdade”, e essa é a razdo pi 108 ime ober da ideotogia que essa ligagio ndo pode ser em; referéneia a uma situagio efetiva, Foliar sua atengdo para os pontos em que os nomes que significam prima ‘facie des tragos descrtivos postivos jd funelonam como “designadoree ‘Mas, por que a diferenga entre a maneira como nos vemos de onde somos observados ¢ precisam © 0 simbélico? Numa ag meira aproximagao, podemos dizer quc, lamos 0 outro no nivel da semelh: Bogart; apés uma noite , © herdi encontra os di ‘numa cena drumitica, no aeropor com 0 marido, assim repetindo, na comes sobre suas palavras de despe Casablanca, Esp desenlace, ideal com que se Partir do momento em que nao precisa de um ponto identidade consigo mesmo, isto Finalmente amadurece ¢ “adqui externo de identificagio, porque sec ils no original. No Brasil, o file recebeu o titulo de Sonhos de sm sedutor, (NT) ‘ogrificedo destjo 109 que se seguem & frase verdade que vocé no claro para Lacan: Lacan soube exteair do stafoa como ie 0 “quadratura do ae ea ee ns Buta ttt ame ence speech estas een ae ee a 2 subline objeto da ideologia 4, Essa pergi indica, assim, Por gue voce cid me neds ar od ee es [ee Algo mas ogue quer, realmente? A que esté visando através desec lo’ cia entre a demanda € o desejo é o que define a posi Si ino ir npr ane Ss re ie Es be me ei ce a i se ene Fe tw, re ae Fitness canna ai ogrifcododeseio 1M qual a melhor mancira de frustrar a demanda & atendé-la, conser sem reservas). Com foi essa a censura de Lacan a prop i fundamentalmente, de uma rel E 0 momento final do processo psi c em que ele acaba com essa per ia como ndo-justificada pelo gr do, & “em que acca sua ro. B por iss0 que & ico, para 0 an lade do st plenamente e se jea como um certo “Por que sou qual 6 esse objeto excedente em i, mesire, ‘A questio histériea abre 0 abismo do que esté “no sujei 10", do objeto dentro do sujeito que resiste & inte mais bela representagao aristica desse momento de histericiza- gio seja a famosa pintura de Rosetti, Ecce Ancilla Domini, que retrata “Maria no exato momento de sua interpelagdo, quando 0 areanjo Gabriel Ihe revela sua missio: conceber, permanecendo imaculada, ¢ dar a luz.0 filho de Deus. Como reage Maria a essa mensagem surpreendente, a esse original “Eu te saido, Maria"? A pintura a mostra assustada, com @ conseiéneia pesada, recuando para um canto diante do arcanjo, como se perguntasse a si mesma: “Por que fui escolhida para essa missao estipida? Por que eu? Esse fantasma repugnante, que quer ele de mim, realmente?” ‘Orrosto pilido e fatigado, bem como o olher, sao suficientemente eloqiien- tes: estamos diante de uma mulher de vida sex! nado, que deseobre pouco a pouco, com fascinio e horror, Deus, portador da missio terrivel, porém magnifica, de redimir a huma- nidade através de seu seerificio. © problema € que ele ndo consegue objeto da idectogia 5 \g80 de suas “tentagées™ ica a sua missio, em suas divides Jess miso em suas entava de escapar dea, mesmo quando Ojuden ¢ Antigona O “Che vuoi?” surge da maneita m racismo, em sua forma mai a, sob 4 perspectiva anti-semita, 2 ita, 0 judeu é Felagao a qual “o que ela realmente quer” mune Jo mundo ca conupeto mor mo tabi stn perfeamenic ge 8 formula da fantasia: esta @ © a) figure no fina Pergunta “Che vuoi?”, Uap mmeate une esposta ae ima fantasia sobre a “conspiragaio rina de oa yee gH final de Judas como o verdadeito devotava 0 maior smor a Cristo, « rte 0 bastante ps : imento de seu destino ( ue, em nome de sua dedicario & cause, apenas su vida, mas tomb sua “segunda vida pstume: ele sabia pe :h “ ‘nosso Salvador, ese dispds ate fosse cumpri por mill pura perda, sem nenhi Tees: tein ye eco Proclamavam ume esc iserivel sbend ge Aerradeiro e supremo servigo em pro! da sua culpa e 0 fazer isso, prestavam 0 ‘causa da Revolugao, ogrifico do dessjo 113 ‘a9 mestno tempo, somos ineapazes de traduzir esse desejo do Outro numa interpelagao positiva, numa missio com que possamos nos identifiear. Podemos compreender agora por que os judeus foram escolhidos como objeto do racismo por exceléncia: acaso o Deus judaico nao ¢ a ‘encarmagio mais pura desse “Che woi?”, do desejo do Outro, em seu 10 aterrador, com a proibigao formal de “fazer uma imagem de é slo desejo do Outro com um ‘Mesmo quando, como na presenca de “Abraiio, esse Deus promun Gque sactifique sev préprio Filho), dar uma dimensao exata no que ele Tealmente quer com isso — por exemplo, que Abraio, com sua fé ¢ devogio infinitas a Deus — jé con: sivel. A posigio fundamental do devot ima postura de lamentago que de incompreensio, te do que o Outro (Deus) quer de calamidades. Essa perplexidade horrorizada fundante do fieljudeu com Deus, isto é,0 pacto mado entre Deus e o povo judico: 0 fato de os judeus se perecberem como 0 “povo eleito” nada tem a ver com uma crenga em sua superiori- les no possuiam nenhuma qualidade particular antes do pacto com Deus — eram um povo como outro qualquer, nem mais nem menos corrupto, levando sua Vide corriqueira, quando, de repente, como num ;pago traumatico, souberam (por Moisés) que 0 Outro os havi ido. Portanto, a escolha néo foi efetuada no comego, no determi hou “o cardter original” dos judeus; para retomarmos a terminol cla nada feve a ver com seus tragos descritivos. Por que eles dos, por que se virarm repentinamente na posiglo de deve- Deus? Que Deus queria deles, realmente? Aresposta, para immula paradoxal da proibigdo do incestc, é ao mesmo Em outras palavras, a posigdo judaica poderia ser designada como ‘uma posigio de Deus além do Sagrado (ou anterior a ele), em contraste ‘com a posigdo paga, onde o Sagrado 1 aos deuses. Esse estranho deus que exclui a dimensio do Sagrado nao ¢ 0 “deus do filésofo”, 0 jonal do universo que impossibilita o &xtase sagrado como implesmente, 0 sinal insuportivel do ‘do Outro, do abismo, do vazio no Outre que vem ocultar, precisa- ‘a presenga fascinante do Sagrado. Os judeus permanecem nesse imatico do puro “Che vuoi?” ia em que no pode ser io ou pela devogao amorosa. E me ‘enigma ‘que provoca uma angiistia insuporta simbolizado, “domesticado” pelo sa ognifcododeseio MS tontativas de domestieé-Ia, de domé-la, que ocultam a estranheza assus- tadora, a “desumanidade”, 0 cardter nfo -patético de seu personagem, que fazem dela uma doce protetora da familia e da casa que provoca nossa compaixio e se oferece como modelo tifieago. Na Antigona de ‘Sofocles, 0 personagem com o qual podemos nos identificar é sta irma, he yuoi?”, a abertura cavada pelo Isménia, meiga, atenciosa e sensivel, disposta a fazer concess6es ¢ ucor- ro como objeto de seu desejo. E dos, “humana”, a0 contrério de Anifgona, que vai atéo fim, que “nio cede i interpretagio do ‘em Seu desejo™ (Lacan) e que se toma, pot sua persisténcia na pulsio de © que te fal morte, em scu ser-para-a-morte, assustadora em sua crueldade, insubmis- sa ao circulo dos sentimentos e consideragbes do dia-a-dia, das paixdes ¢ dos temores. Em outras palavras, € a prdpria Antigona que provoca em 1nés, criaturas patéticas, compade “o que cla quer, realmente?”, pergunta esta qu udaica, ou scja, no fato de qi igtstia, © imental: tentamos jo doam falta a0 se oferecer ao =e adesilusdo do amor anula a falta como dimer obra de Sade, sob a forma do par Julicta-Justi |, devassa nio-patética que id fora baseado no para vista, trata-se de trés personagens incom- jo-se pela meméria do irmao, 2 je a0 goz0 além de todos os lo ‘em que 0 gozo ainda proporciona prazer) lacao pagd do homem com ¢ ascética, que quer, através de seus atos terroristas, fato de que, a0 contratio da abalaro mundo, mergulhado em seus habitos e prazcres cotidianos. Lacan ismo segue areligigo judaica, excluindo a nos faz reconhecet, em todas ts, a mesma pestura ética, ade “nio ceder indo, longe disso, que o eri neoniramos no cristianismo é de desejo”. Por isso todas trés prov smo “Che vuoi iiheneea ee uma ordem cem seu desejo”. Por isso todas trés provocam o mesmo 7", 0 ‘sacerdote a servigo do sagtado: on ie A8te5, 0 oposto radical do mesmo “que quet voeé, realmente?". Antigona, com sua persistén do" ado Sagan trade. O sacerote€ um funciondrio do Saran obstinada, Julieta, com sua desordem nio-patética, e Gundrun, com seus osustenta, que organiza seu ritual, deeds notch es uroctatica gue alos terroristas ¢ “insensatos”, todas trés pdem em questo o Bem encar- desde 0 ofiiante astecs So eee eas OU os rituaii - pa », 0 lug obj alguém que sofre uma destitui Benoa enum Fi, ni conjura a nado no Estado e nas doutrinas morais comuns. human is do exéreito; o santo A fantasia como anteparo contra o desejo do Outro a, s6 faz persistr em sua presenga here, “Che woit”, 20 Antigone um 10 Outro; mas, 5. mas, mem Sta persis! ae dizer, fornece 88 Por isso devemos nos opor a todas ae oordenadas de nosso deseo, isto &, constdi contexto que nes permite Agora compreendem: i 2 compreendemos por que Lacan vi em Sor do sariticio de Cristo: antigens, cov ces cerlamente nao uma sacerd r ia ("um cenério imaginéio que lum tanto enganosa, ou pel nio ¢ preenchido, “satis Sesh tae sejar™ Enesa posigaoinrmediite que sim, 0 pradoxo da fatasi: el ¢¢comtnto sus coe cio, mas €, a0 mesmo tempo, uma de c dgelo, mas 30 mesmo tempo, uma defesa conta “Che i paradoxo ao extrem ra. deseo do Outro, cont es : ® pls de more em sun forma pur conpreender de gue modo a mma da ice pa o cede om se deseo" coin om psicand momento em qu a causlidade “nom auando cometenos um lapse, ji 05 um lpso, quando dicemes mgo tnames a inten de dizer, ou sea, quando se rape se ee uso “om nese momento Auestdo de euusa se nos mpc — “Porque acoieceu so? ‘modo como funciona ¢ fantasi odo eo fantasia pode ser explicado em referéncia dla razdo purade Kant: 0 papel da fantasia na economia do desejo mo transcendental no proceso do conheci- lo esquem: mento (Cf. Baas, 198: mediador, umm inte bj ‘98 abjetos, imundanos) € 4 rede das na rede das categorias Ymo as percebemos e concel ogrifcedo destjo MIT dotadas de propriedades, submetidas a cade rnismo homélogo que funciona com a fan ‘empitico positivamente dado se transforma num objeto do desejo? Como rum X, uma algo que é“nele mais mente, entrando ‘consisténcia ao desejo do sujeito. Tomemos o filme de Hitchcock, Ajanela jancla pela qual James Stewart, ineapacitado e preso a sua fa sem parar ¢, evidentemente, uma jancla da Tantasia — seu descjo fiea fascinado prio que ele pode ver através dela Sblema da pobre Grace Kelly € que, a0 Ihe declarar scu amor, ela ‘um obsideulo, como ums mancha que perturba 4 visio pela seu desejo? Entrando, para aparecer “do outro lado”, onde ele quando Stewart a vé no apartamento do assassino, tamente fascinado, dvido, dese; gar no espago da fantasia dele, Essa seria a homem s6 pode se relac esse esquema nio é descor é-lacaniana, que afi mem bus ‘como parceira sexual, a mulher quando uma amie é reduzide na fantasia, io que nos permite busca ‘mesmo tempo, & um anteparo que nos protege de chegarmas perto demais ‘ma, que nos mantém 2 distancia. Por isso scria crréneo qualquer objeto empirico positivamente dado possa se inte- ‘erat na estrutura da fantasia e, com isso, passar a funcionar como um ‘objeto do desejo: existem objetos (os que sio préximos demais da Coisa traumaitica) que estio defi quando porventura se intrometem no espago da fantasia, 0 efeito disso é extremamente pertur- ‘ca fantasia perde seu poder de fascinagio e se torna E ainda Hitchcock, em Um corpo que cai, que nos novamente James para Ihe pregar uma pega, "mal comum de todos os dias, pintora amadora, imagina uma esa desagradivel: pinta uma cépia exata do retrato de Charlotte, num do de renda brance, com um buqué de flores vermethas no colo, mas, da beleza fatal do rosto de Charlotte, pinta seu préprio rosto iro, adormado por éculos... O resultado ¢ terrivelmente deprimen. wart abandona-a, deprimido ¢ enojado. (Encontramos mesmo lo em Rebecca, a’ mulher inesqi de Joan Fontaine, para ir o marido, que ela supe continuar apaixonado por Rebecca, & ex-esposa fale jando um vesti- a na recepgio anterior — o marido a expulsa, € assaltado pela chivida quanto a0 — que quer ela, realmente? E se ela real € dissoluta que mantém com o tio de Ham! fica entravado, néo por estar indeciso quanto a seu proprio des berm: quer vingar 0 pai —; 0 que 0 incomoda é a diivida concernente 20 desejo do outro, o confronto com um “Che wuoi?” que anuncia 6 abisme {de um gozo terrivel ¢ abjeto, Se 0 Nome-do-Pai funciona como agente da interpelaglo, da ide desejo da mie, com seu inson- ¢ onde toda interpelagio neces- id temos aquaria e tltima, a forma completa do grifico is © que é acrescentado nessa tiltima forma é precisamente lum novo Vetor do goz0, que corta © vetor do desejo estruturado pelo significante: lo segundo nivel (o superior) é saber 0 que acon! Pee oie ete ee ee aa ae pore eri riers pen 120 o sublime objeto da ideologia submetido a castragdo, 0 gozo € retirado dele, preeeNeoHOKOIR irado dele, ¢ 0 corpo sobrevive, mas € a do gozo (a Coisa como sua encaragio) sio radi ical as, incoerentes, e qualquer acordo entre elas é estrutu- ralmente impessivel. Por isso encontrames, no lado esquerdo do nivel superior do grafico, ar do primeiro ponto de intersegdo entre te S(A), 0 significante da falta no Outro, d: tro: uma Ver. que o campo do significante & consistent, pooso, perfurado — 0 goz0 éaquilo que jo, sua presenga no campo do significante s6 pode da pelos furos ¢ faltas de consisténcia desse campo; 0 des ygica que rege sua sucessio. contramos $(A): a marca da falta no Outro, da inconsisténcia da ordem simbélica quando ela é penetrada pelo goz0; depo mos 0 a, ou soja, a fSrmula da fant ees ervir de ocfeito 5 oespago a priori em cujo interior tm lugar os efeitos paticulares da signifieagao. Resta um ponto a esclarecer S : por que encontramos & do ponto de intersepao entre 0 gor ¢ ig Pa tien $0 D? Jé dissemos que o sig sempre subsistem oasis de gozo, chamados “z 6 P is 8 “Zonas erdgen = mentos ainda embebidos de gozo; é'a esses restduos que est li ie ircula, vibra em torno deles. Essas zonas etégenas ra D (demanda simbélica), por no terem nada de le aparte do do gozo” nao é determinada pe corpo foi dissecado através do fe : 0 que é confirmado pelos sintomas histéricos em que as partes do corpo das quais 0 gozo € normal evacuado voltam a se tornar erotizadas — pescogo, natiz etc.) Talvez devamos correr o risco c& oe cor sco de ler $ © D retroativamente, a ae pall ae elabora io tedrica de Lacan, como a formula do ates formagio significante particular que é imediatamente permesvel 20 gozo, ognificododesjo 121 6,4 jung impossivel do gozo com o significante (Cf. cap. VIN). Tal Icitura nos fornece a chave do quadrado superior do grafico do desejo, posto a0 quadrado inferior: em vez. da identificagdo imaginaria (isto é, da relagio entre o cu imagindrio ¢ sua imagem constituinte, o eu ideal), temos aqui o desejo (d) sustenta fantasia consiste em tampar a abertura no Outro, esconder sua incons téncia, como faz, pot exemplo, a presenga fascinante de um roteiro sexual lade da relagao sexual. ‘em torno de uma impossibilidade traumética, em torno de pode ser simbolizad através da fantasia, 0 goz0 é domesticado; e que acontece com o desejo, portant atravessado” a fantasia’ A resposta de Lacan, nas iti Seminario I1, & precisamente a pulsdo, ¢ finalmente, a pulsio de morte: “além da fantasia”, 56 cncontramos a pulso e sua pulsagio em torno do sinthomem — a “travessia da fantasia”, portanto, tem uma estreita corre- lagdo com a identificagao com um sinthomem, A “travessia” da fantasia social Desa maneira, poderfamos considerar que 0 nivel superior (segundo) do impossivel “qua- grifico designa a dimensio “além da inter dratura do circulo” da identificagao sim consiste na auséncia de um resto qualquer, ha sempre um dejeto que dé margem ao desejo e tora o Outro (a ordem simbélica) inconsistente, sendo a fantasia uma tentativa de ultrapassar, de mascarar essa inconsis- téncia, esse furo no Outro. Agora, podemos finalmente retomnar a proble- matica da ideologia: na teoria da ideologia, a deficiéncia crucial das tentativas derivadas da teoria althusseriana da interpelagao foi que elas se limitaram ao nivel inferior, ao quadrado inferior do grafico do desejo de Lacan, isto é, visaram a aprender a eficécia de uma ideologia exclusiva~ mente pelos mecanismos da identificagao imaginaria e da identificagio simbélica. Ora, além da interpelagio, existe 0 quadrado do desejo da fantasia, da falta no Outro e da pulsio que vibra em torno de um insusten- tével mais-gozar. Que significa isso tudo para a teoria da ideologia? Aprimeira vista, rer que o que € pertinente numa anilise da ideologia € somente a maneira pela qual ela funciona como discurso, a mancira como 6 conjunto dos significantes flutuantes ¢ totalizado, transformado num campo unificado pela intervengao de alguns “pontos de basta”; em suma, ‘2 maneira como os mecanismos discursivos constituem o campo da 122 sublime objeto da ideotogia significagao ideo! . O goza-o-sentido seria, nessa nena goza-o-semtido si perspectiva, no relacionado com pi : derradeiro estei Por isso poderiamos dizer que hi também doi da “critica da ideologia”: = um é discursivo, é a “desconstrugao” da expe demon: a sintomal” do texto ideoldgico que traz a ‘ia espontinea de seu sentido, isto & que po oldgico éo resultado de uma monta- elerogéneos, de sua totalizagao por alguns “pontos de basta; ab anilise do discurso eom novo 0 caso parti encarnacao da ideolo, . snisemiismo, Pare dl iment, "a Sociedade nfo existe” eo judeu¢w sintoma dessa inexisténcia, eee areas led No nivel da anilise discursiva, nio temos i ee iva, nenhuma dificuldade de articular a rede da sobredeterminagao simbélica investida na figura do se umm deslocamento: o artificio fundamental do. a um anta- © judeu, forga sim, nao é a prépria ismo entre o tecido soci que 0 corrdi, forga de e Sociedade que ¢ impossivel”, baseady no anagonismo: a fonte de cor, {upplo encontma numa enidae particular, o jeu Esse destocamento Fossibilitado pela associacio feita entre os judeus ¢ a8 questoes finan, ceiras: a fonte da exploragio e do antagonismo de classes esta situad do na relago fundamental ett a classe dos taba = igente, mas na relagio entre as forgas “produtiv at i fo as” (trabalhadores, organizadotes da produgio etc.) c os negociantes que exploram as classes ‘Produtors”e tansformam a cooperapao leslocamento, evidentemente, ¢refor i ? mente, €reforgado pela condensacao: a figu. ‘1 do judeu condens tos opste,associads i clasen aac buoy orifice do desejo 123 , Voluptuosos ¢ impotentes ete. O que, por assim gia para esse destocamento ¢, ‘a maneira como a figura do judeu condensa um conjunto de antago- hheterogéneos: antagonismo econdmico (o judeu que obtém 1u- igante, que serve a um poder secreto), moral- (0 judeu antieristéo corrupto), sexual (o judeu sedutor de nossas inocentes) ete. Em sums, podemos mositar facilmente como a figura do judcu é um sintoma, no sentido de uma mensagem codificada, de um signo, de uma represeniagdo deturpada do antagonismo social; por meio desse trabalho de deslocamento/condensagio, podemos chegar a determinar seu sentido. (0 judeus so supostam rmetaférico-metonimico nfo basta para explicar como a figura do tiva nosso desejo; para penetrar fem sua forga fascinante, eabe-nos levat em conta a mancira como “o judeu” entra no contexto da fantasia que estrutura nosso gozo. A fantasia 6, fundamentalmente, um roteiro que cobre 0 espago vazio de uma impos- we fundamental, um anteparo que mascara um vazio. “Nio hi sexual”: esse impossibilidade ¢ obturada pelo roteiro-fantasia fascinante; ¢ por isso a fantasia, em >» ésempre uma fantasia da relagao sexual, uma encenagao dessa relagzo. Como tal, a fantasia nio deve ser interpretada, mas apenas “atravessada”: a inica coisa que temos de fazer & pereeber que nio ha nada “por tris”, € que a fantasi precisamente esse “nada”. (Mas hi muitas coisas por tris de um sintoma, {oda uma rede de sobredeterminagio simbéliea; porissoosintoma implica sua interpretagio.) Mas essa Iogica de destocam« ‘Agora estd clara a maneira como podemos utilizar essa nogio de propriamente di ode ser integrada na ordem simbélica. Eo ‘que esté em jogo na fantasia ideoldgico-social ¢ construir uma visio da sociedade que exista, de uma sociedade que néo seja antagonicamente i lagdo entre suas diferentes partes orginica e complementar. O caso mais claro disso é, natural corporativista da sociedade, considerada esta como um Todo orginico, um ‘corpo social em que as diferentes classes sio assemelhdveis a extremida- des, cada membro contribuindo para o Todo conforme sua fungio; pode- riamos,dizer que “a sociedade como corpo constituido™ ¢ a fantasia i ‘em conta a distincia jade real, dividida por futas antagénicas? A resposta, evidentemente, é 0 judeu: um elemento 124 sublime objeto da ideologia ‘umn corpo estranho que introduz a corrupedo no tecido social Em suma, o “judeu” é um fetiche que, a0 mesmo tempo, desmente € encama a impossibilidade estrutural da “sociedade™: € como figura do judeu, essa impossi | — e & por essa razio na lade adquirisse uma existéncia positiva ue isso marea a irupgio do go70 no A nogio de fantasia social é, pois, uma conceito de antagonismo: a fantasia é pre clivagem antagonica é mascarada. Em outras pal ‘meio de a ideotogia evar antecipadamente em ct A tese de Laclau e Moutte & que “a Sociedade nao ex sempre apenas um ipartida necesséiria do 1", 0 Soci inconsistente, estruturado em torno de uma ixaestd, anal, ¢ exatamente a fungio da fantasia ideol6gien fato de que “a sociedade nio existe”, e ficagio malogeada, ide ltima do projeto suficiente designar o pro ico € desejoso de estabelecer uma socic- se saber em sua construgao. Toda Jogis fascista se estrutura como uma luta contra o elemento que ocupa o lugar da impossibilidade imanente do priprio projeto fascista: 6 “judeu”™ € apenas uma encamagio fetichista de uma certa barreira fundamental, Assim, a “critica da idcologia” tem que inverter o elo de causalidade pereebido pelo olhar to longe de ser a causa positiva, 0 judeu & a encamagao de lade que impede ntidade plena como uma totalidade fechada S homogénea. Longe de ser a causa positiva da negatividade social, o “juden” ¢ 0 ponto em que a negatividade social como tal assume usta - Assim podemos formular 0 método bisico da “critica identifiear, num dado edificio ideolégico, o elemento que representa sua propria impos lc. Nao so os judeus que impedem 8 Sociedade de alcangar sua identidade plena, mas sim sua propria natu. yeza antagOnica, sua prdpria barreira imanente, ¢ ela “projeta” essa nega. ‘ogrdfcodo desejo 128 do trad ean mae ee wre ees ee eae ee ee es ufdos aos *judeus”, nossa propria verdade. 3 a zentes do ges © degeneraydes contingent dade (crises econémicas, guerra etc.) ~ c, if veis por uma melhoria do sistema —, so produtos n Se aa ee neee ete oe Stnatcte cn ren, regu cheves do none dp aparelho psiquico eram os sonhos, os lapsos € outros fenémenos. mais" iilares. VI “Nao apenas como substancia, mas também como sujeito” A légica do Sublime Emseu ensaio sobre “A rel Yovel assinalou uma eer nna sistematizagio das oeréncia essa que nio resulta diretemente. do io em sida fiosofia de Hegel, mas que exprime. contingente ¢ empitico iduo Hegel, ¢ que, como tal, pode cada por meio de um emprego consequente do priprio métoto dialético hegel sa incoeréncia concerne ao lugar ocupado, respec. tivamente, pela religiio judaica e pela antiga religito grega: em suse “Ligdes sobre a filasofia da religiio", Hegel precede imediatamente 0 ido judaica do sublime (Erhabenheit), a religigo grega da beleza ¢ a ligido romana do entendimento (Verstand). Nessa sucesso, o primeiro ‘© menor lugar é ocupedo pela religio ju: ligido grega é no desenvelvi- alguma a religi igido grega. A despeito de todas as hesiiagdes, dda argumentagio de Yovel, sua afirmagio fuidamental parece atingir seu alvo: as rcligides grega, judaica ¢ erista formam uma espécie de tiade que corresponde perfeitamente a da refle- xo (reflexo proponente, reflexao exterior e reflexdo determinante), matriz elementar do processo dialético (Cf. JarezykLabarriére, 1987): a eligigo grega encama 0 momento da “reflexio proponente”, onde o pluralismo dos individuos espirituais (os deuses) é diretamente proposto como esséncia espiritual dada do mundo; a religido judi ‘momento da “reflexio exterior”, ou sefa, toda a positividade é meio da referéncia ao Deus insbordével © transcendent absoluto, ao Um da negatividade absoluta, enquanto o et 126 ‘nao apenas como subsincia, mas também comosuito ART fio como uma coisa externa a Deus, -omo uma “determinaao reilexa” do proprio Deus (na figura de Cristo, o préprio Deus “se faz homem"). lugar de sua medi pat beleza/subl meio material ¢ acessivel aos sentios em sua formagai har sm sentimento de harmonia direta entre a Idéia e a mat . O que significa, a0 ime coincide com a lementar de que 0 4 Beleza como forma de mediagio de seu precisamente, essa mediagdo propria antiana do Sublime: definigao, uma das det ‘mesmo tempo, que a iatismo, Em que con: do Sublime? Citemos a defi sum objeto (4 lidade de Nesse aspecto,trata-se de uma definigdo que anuncia diretamente a definigio da por Lacan o objeto sublime, em se seminio sobre ética da psicandii ° Heh seal Glee etal af diner ca eaa cele ae ago entre um objeto pertencente ao mundo empirico, Senseo ingens a Colson ranseende nt, easfenonena inatingivel. O paradoxo do sublime é 0 seguinte: em prin que separa os objctos fenomenais ¢ empiricos da experiés imcomosujeto 129 128 o sublime objeto da ieotogia do apenas como subsincio, ma rant i r si ¢intransponivel, ou se, nenhum objeto empitico, nenhuma repre sentaio (Vorstellung) da Coisa pode expor (darstellen) adequadameere # Coisa (a Idéia supra-sensivel; mas o sublime & um objeto em que podemos ter a experiéncia dessa prdpria impossibilidade, dessa cons falha da represehiagao na tentativa de atingit a na propria representagio, podeimos pressent também por isso que um objeto que evoca em nds o sentimenia nos cf, a0 mesmo tempo, prazer e desprazer: desprazer em fazio de sua is Idéia, mas, justamente através dessa leixando-nos ver a grandeza sats trapassa qualquer fendmeno jagens humanas). Para tomar a defesa de “2 hegeliana, nenhum dos neira adequada mente a natureza, em sua dimensio a Fl : ‘© movimento de anulagéo adc aterrorizante, que se revela mais apropriada para aqui, quando a imaginagio quando todas as determinagdes finitas ‘que 4 fatha aparece da maneira mais pura. O “sublime” Pols, paradoxo de um objeto que, no proprio campo da representaga Proporcions negativamente uma visio da dimensto do itreprescnlavel Esse ¢ um ponto singular no sistema de Kant, um ponto em que a fenda, i enlre 0$ fendmenos © a Cois abotida de mancira Porque, nesse ponto, a propria impossibilidade dos fendmenes de representarem adequadamente a Coisa estd inscrita no fonomeno on ee si, © 0 exprime Kant, “mesmo que as Idéias da razio no possam dng Eee Sea renraeai wadamente representadas (no mundo des representacio, partind las podem ser reavivadas c evocadas no inadequagio, que pode ser exposta de i {paneira sensivel” (iid), E precisamente essa mediagdo da impossibili presentagio, fade, isto € sucesso dessa exposigéo por meio da felha, de propria {nadequaeio, que distingue 0 entusiasmo evocado pelo sublime de fares a tismo (Schvwdrmerei) fantasioso: o fanatisano & a ilusto louea e vistondeaa mal onion 1¢? Do ponte de vista de Kant, adi la, um retomno a0 S ido consegue evar em conta o abismo qi representivel, continua a ser o pont campo dos de que podemos ver ou amente o que esd além dos ant, que tenia, eter eee Lites da sensibilidade, enquantoo entusiasino impede qualquer expost, eee ati Ge teresa ace {0 positiva. O entusiasmo ¢ um exemplo de exposigao purannente nega- Lemos BPE tiva, na medida em que o objeto sut Puramente negativa: nele, o lugar da de sua representacéo. O pri} do sublime ¢ a religiéo judaica: provoca prazer de maneira € indicado pela prépria falha Kant destacouo elo entre essa concepsio ‘Talvez ndo baja no Antige Testamento nenhuma passagem mais sublime do {ue © mandamento: Néo fatés nenhuma imagem talbade, nem qu {Ebtesentago da coisas que estBo no alto, nos eéus, qucestéo embaixe na terra, € que estdo mais abaixo que a tera (..) Somente esse mandamenta © proprio Kant”, no ada a concepZo kantiana do sublime, mas apenas a toma mais do que o.prdpric Kant 130 o sublime objet da ideotogia Hegel, claro, conserva om I, €clar, conserva o momento Ime, a concepeio de que a We en puramente negativa, 5 cael como tines manera prop cn dae eget: Kant continua a pressupor que a Coisa-em sf exis ts aves aa eh Cee dental da Coisa, que persiste osigio de Hegel, a0 contrério, exprima l, que persiste em sua (endo a terrena, da representagio, da a morte de Cri ©-ave Kant exquece de iv da invalidade, da inadequacac orcas & representagéo, que temos 20 experiment ¢ ose eel ao fica ao mesmo tempo a invalidade, a téncia da pila Coleg transcendental como entidade Positiva, Ou seja, o lana e todo 0 contetido a re} no apenas como substincia, mas tomém comosujcio 131 sua concepsio — a esséncia supra-sensivel € a aparéncia como aparéncia, go basta dizer que nunca hii adequago entre a aparéncia e sua ‘esséneia, mas devemos acrescentar também que essa prépria “esséncia” nndo € outra coisa senao a inadequagdo da aparéncia a si mesm: que precnche 0 idade absoiuta — 0 si ‘objeto que, por meio de sua propria inadequapio, faz com corpo” a negatividede absoluta da Idéia € articulada, em Hei forma do suposto *j predicado séo radicalmen tum asso", “6 eu 0 dinkeiro”, “o Est m Kant, 0 sentimento do st acgatividade abso atingir seu ser-p radicalnzente conting As reflex6es proponente, exterior e determinante B desse paradoxo do “juizoinfnito” que foge Kant — por qué? Em termos hegelianes, é porque a fil Kant é uma filosofia da “reflexio exterior”, ou ej, da “reflexdo exterior” para a “reflexio de de Kant, todo movi presenia apenas a maneira como nds, sujeitos ites de nossa experiéncia fenomensl, podemos 2 subline objeto da ideologia passe gor, en ree peau # dimensio da Coisatransfenomena » cm Hegel, esse movimento ¢ uma determi Imsnente props Case ie net determinag rei pene We; essa ‘apenas esse movimento whee pean Sls, nm nante (Cf, Hegel, 1976), tomemos a eterna questao her Lo ‘que pretende aceder imediatamente ao verdadeiro. ye ‘mos, pretendemos captar imediatamen na s¢ coloca, é claro, quando hé diversas lei que afirmam aceder a0 verdadeiro sentic cadens neg relent oe nPema |, fazendo desse sen uma Coisa-em-si transcendental eee ras mutuamente excludentes lo: como escol texto, isto €, 0 que A Holderlin e Goethe no ue se efetue a “reflexiio dete riéncia biema; retomando o prin. hé mais verdade na efi ‘do apenas como subsdncia, mas também como susito 1% Ieituras sucessivas, do que em sen pretenso sentido “original”. O v. io sentido de Antigona nao deve ser buseado nas obscuras orige *Séfocles realmente queria dizer”, mas se constitu dessas leituras sueessivas, ou seja, constitui-se a posteriori, por intermédio de . Atingimos a “reflexiio determi- nante” quando tomamos consciéncia do fato de que esse retando nente, de que sé se adquire a verdade de um texto pela perda de imediatismo. Em outras palavras, 0 que se afigura 4 “reflexio exterior no um obstdculo é, de fato, uma condi¢do positiva para acedermos & verdade: a verdade de uma coisa vem & luz pelo fato de a coisa néo nos ser acessivel em sua prépria identidade imediat Entretanto, o que acabamos de que ainda dé margem « um possive pluralidade das determinagies fenomes vista bloquea- vam nossa abordagem da “esséncia” como sendo autodeterminagdes dessa ‘mesma esséncia, ou seja, se ranspusermos a divisio que separa a aparén- cia da esséncia py ‘como também 0 ponto crucial apenas a auto-ruptura, a aut a divisio entre aparéncia e e: letida no prdprio dominio da aparéncia — ¢ isso que He de “reflexao determinante”. O traco fundamental da reflexio hes a esséncia ¢ tio profunde quanto limente, aparecer para a prépria aparéncia, ou seja, como ‘esséncia em sua diferenca da aparéncia, sob a forma de um fendmeno que ‘encarne, paradoxalmente, a invalidade do campo fenomenal. Essa dupli- cago earactetize 0 movimento da reflexao; ela nos € imposta em todos ‘os niveis do Espirito, desde 0 Estado até a religiao. O mundo, 0 universo & evidentemente, a’ manifestacdo da divindade, © reflexo da infinite idade de Deus, mas, para que Deus se tome efetivo, ele mesmo tem ainda que se revelar a sua criagio, se encamar numa pessoa particular (0 Cristo). O Estado certameatc ¢ uma totalidade racional, mas 6 se estabe- lece como mediago-anulacio efetiva de qualquer contetido particular a0 1pla. Mas ela deve tambéea, 134 6 sublime objeto da ideologia se reencarmar na indivi to de duplicagio defin lidade contingente do Monarea. Esse movimen- “reflexo determinante”; ¢ o elemento que Teencama, que dé forma positiva ao proprio movimento de anulagio de qualquer positividade, é 0 que Hegel denomina de “determinagio reflexiva”, O que devemos captar é a conexio intima e até mesmo a identidade entre essa Idgica das reflexdes proponente, exterior e determinante ¢ a te mencionada da reflexio, 0 gesio pelo qual o sujcito estabelece a “esséncia” substancial Pressuposta na reflexio exterior, Estabelecendo as pressuposigées forma de dade que, de sua posigao resguardada de observador inocente, depiora es imoralidades do mundo? A falsidade da “bela alma” jaz, nio, como se costuma entender, em sua inatividade, no fato de ela se queixar de uma depravacdo sem fazer seja ld 0 que for para remedi-la, mas, a0 contrario, essa falsidade consi 10 proprio modo de atividade implicado nessa postura de inatividade, isto é, na maneira como a “bela alma” estrutura de antemio o mundo social objetivo, de tal modo que pode assumir nele, desempenhar nele o papel de vitima delicada, inocente Passiva. Aqui encontramos, pois, a licdo fundamental de Hegel: quando Somos ativos, quando intervimos no mundo por um ato particular, © verdadciro ato nio 6 essa intervengio (ou nio-intervengo) particular, empfrica ¢ fatual: 0 verdadeiro ato é de natureza estritamente simbélica’ © consiste no préprio modo pelo qual estruturamos antecipadamente o mundo, ou nossa percepofo do mundo, de tal maneira que abrimos nele espago para nossa atividade (ou nossa inatividade). O ato verdadelro precede, pois, a atividade (particular-fatual), e consiste em reestruturar previamente nosso universo simbélico no qual nosso ato (fatual e parti= cular) serd inscrito (Cf. Zitek, 1991, pp. 83-88 [ed. bras.]). Neste ponto, também poderiamos fazer referéncia a distingdo entre 2 identificagio “constitinte” a identificagio “constituida”, ou scja, ‘do apenas como substincia, mas ambém como.sujeito 135 en re ae ‘ Mas ela também se identifica, efetivamente, c campo intersubjetivo que the permite assumir esse papel. Em outras palavras, essa estruturago do espago intersubjetivo é o lugar de sua parecer digna de amor a si mesma em seu papel imaginério. ‘Também poderiamos formular tudo isso nos termos da di hegeliana da forma edo contetido, onde a verdade se acha, eviden te, na forma: mediante um ato puramente formal, a “bela alma” estrutura previamente sua realidade social de uma mancira que lhe permita assumir ‘© papel de vitima passiva; cegado pelo contetido fascinante (a beleza do papel de “vitima sofredora”), 0 sujeito esquece sua responsal formal pelo estado de coisas existente, E no contexto dessa forma ¢ do contetido que devemos apreender a seguinte frase enigmitica, extrafda da fenomenologia de Hegel: © “agit” enquanto stualizagio é, pois, a forma pura do querer; a simp! conversio da efetividade, como um caso no elemento do wersio do simples modo do saber o/ rvirmos na tealidade por meio de um ato particular, ar 0 ato puramente fortaal de converter a realidade, como ivamente dada”, em “efetividade”, como coisa produzida, estabelecida pelo sujeito. O interesse da “bela alma”, nesse ponto, esté em -cisamente a separagio entre os dois atos (ot no plano de contetido positivo, els ¢ uma ido pela “conver- sio”, jd mencionada, da realidade “objetiva” em efetiv' idade. Para que a realidade nos aparega como © campo de nossa propria atividade (ou inatividade), jé devemos concebé-la previamente como “convertida”, isto 6, devemos nos conceber como formalmente responséveis-culpados por ressupde © “mundo”, a objetividade na qual exerce sua atividade, como Tenn oes eovlanents deel coaae mato olsen poeta ao oa de; mas sua atividade positivo-empirica sé ¢ possivel quando ele estrutura antecipadamente sua percepeic do mundo de uma mancira que abra espago para sua intervengio; em outras palavras, ela sé ¢ possivel quando do ato”, mediante o qual 0 sua ‘stividade, & lume eperagdo, ¢ para que 0 do. Mefbor dizen ureze € arrancando 0 parente consangds ‘melhor and, ji que essa desu, passagem pars o st cle se encarega da operagio de dest igen He ets gente, om sua Ligoes sobre a flown © puro mal. Emo abrange um 18 subline obj dot; esté, por consegu palav: por ela. A-concepgio coment Je la mais ativo" S eee vario, o sujel Esse “gesto vazio” recebe, © ato clementar e const Assim, podemos também no de “substancia como suj onar claramente o con © 0 aspecto fundamental ‘do openas como subsincia, mas também como sujeito 139 dialético: nesse processo, em certo sentido, podemos dizer que tudo jd feceu, que tudo o que acontece atualmente é uma simples transfor- ‘magéo pot meio da qual assinalamos o fato de que tudo aquilo a que chegamos jd foi 10 processo dialético, a ciséo nio é “anulada” ao ser ativamente sada: tudo 0 que temos de fazer & formalmente que ela nunca existiu (Cf. Zitek, 1991, cap. I a” da dialética hegeliana, isto é, a idéia de que simplesmente tomar if aconteceu, ¢ sua reivindicagio de conecber 4 substincia como Sujeito — ambas visam, efetivamente, 8 mesma conjuntura, porque © “sujeito” & exatamente um nome desse “pesto vazio", que nio modifica nada no nivel do conteido positive (nesse nivel, tudo jé aconteceu), mas que, no entanto, tem que ser acreseentado para que o préprio contetido atinja sua efetividade plena, E 0 Monarca hegeliano que melhor encarna essa fungio parado: Estado, sem o monarea, permaneceria como uma ordem substan 4&0 Monarca que representa o lugar de sua subjetivago — mas, em que consiste exatamente sua fungio? Apenas em “por os pingos nos 1 (Hegel), num movimento formal que consiste em assumir (apondo-Ihes sua assinatura) os deeretos que the sio propostos por seus ministros & conselheiros, isto é, que consiste em fazer deles a expresso de sua vontade pessoal, em acrescentar a forma pura de subjetividade, do “esta nossa vontade”, ao contetido objetivo dos dectetos ¢ das leis. Assim, © Monarea é um sujeito por exceléncia, mas apenas na medida em que s¢ limita ao ato pursmente formal de decisio subjetiva; a partir do momento fem que almeja outra coise, em que se sente implicado em questées de conteiido positivo, ee atravessa linha que o separa de seus conselheiros 0 Estado regride ao nivel da substancialidade. Podemos voltar agora ao paradoxo do significante filico: na medida em que, segundo Lacan, o falo € “um puro significante”, ele é pre: ‘mente um significant conversio formal pelo qual 0 sujeito dada como sua propria obra. Por isso I como um certo depende de mim”: 0 sy {mpoténcia total (“mas nada posso fazer quanto a isso tudo": 0 sujcito $6 pode assumir formalmente o que the é dado). E nesse sentido que o falo & um “significante transcendental”: no sentido em que € igualmente entendido por Adorno, quando ele define como “transcendental” a so mediante a qual o Sujeito percebe sua limitagio radical (isto é, 0 fato 140 o subline oSjero da ideotogia nado a6 limites de sew mundo) soba forma , mundo) ob a forma de seu poder "ede priv das categoria que esuturam a pees ente pare a reflexdo ‘ual dessa passagem, que aceitamos automa. teflexéo proponente & a atividade da essér de mediagéo que estabel como “pura ap. estaelecimento do medias come mesmo 4 mundo da ap como abs sobre qa eaten ssa Suma, lento presupe o Datta de sua nvidde de medinct lo-nos “ver através”, fazendo-nos ver “ay Sn eet en ape “a “espontnea”, “nao refletida” em - ee Eas plo, aot rior aa Ea eu sao posteriormente submet a Tore Em contraste com essa visio comrente, Di cate visio cortente, Dieter Henri excelente estudo sobre a logica da reflexao de Hegel (Ct. 971), ica do estabelecer e do pressupor sempre como 0 filésofo da reflexao om : Proponente por ex atividade produtiva, 0 sujeito “estabelece” a pos tos, anula-a, serve-the de mediador, ea transfor, ‘Sua prépria criatividade, mas esse estabelecimento dade daca dos obje- 1uma manifestagio de fica permanentemente iio apenas como substéncia, mas também como sucito 41 ligado a suas pressuposigdes, isto é, & objetividade positivam: ‘qual ele realiza sua atividade negativa. Em outras palavras, estabelecer-pressupor i ‘que, por meio de su objetividade pressuposta, transformando-a numa objetivagéo de si mes- ‘mo; em suma, é 0 Sujeito “finito” endo o sujeito “absoluto” que est ‘Assim, ou seja, se toda a dialética doestabelecer e do pressupor recai no campo da reflexo proponente, em que consiste a passagem da reflexio proponente para a reflexio exterior? Com isso, chegamos a distingo ‘crucial claborada por Henrich: nao basta definir a reflexio exterior pelo fato de que a esséncia pressupde o mundo objetivo como seu fundamento, le partida de seu movimento negativo de mediagio, externo 1 esse movimento; o aspecto decisivo da reflexio exterior é que a esséncia pressupée a si mesma como seu préprio “outro”, na forma da exteriori- dade, de alguma coisa objetivamente dada de antemdo, ou seja, na forma do imediato. Lidamos com a reflexio exterior quando a esséncia — 0 ‘movimento de mediago absoluta, de negatividade pura ¢ auto-refere — pressupde A St MESMA na forma de uma entidade existente em si excluida do movimento de mediago; para empregarmos os termos hege- smos com & reflexio exterior quando esséncia rio apenas pressup3e seu “outro” (imediatismo objetivo-feuomenal), como também pressupée A St MESMA na forma da altcridad fncia estranha. Para ilustrar essa afirmagio decisiva, fagatnos referéncia a um caso que pode induzir em erro, na medida em que ‘que implica ja termos efetusdo a passagem das categorias para o contetido espititual conereto ¢ hist6rico: a anilise da alienagio ‘eligiosa, tal como elaborada por Feuerbach. Essa “alienagio”, tura formal nos parece claramente ser a da reflexio exterior, nfo simplesmente no fato de que o Homem — um ser que eria, seuts poteneiais no mundo dos objetos — “deifica” a objeti bendo as forgas objetivas, naturais e sociais que escapam como manifestagées de um Ser sobrenatural; a “aliena signifieagio mais precisa: signifiea que o homem se pressume, que per- ccebe a si mesmo ¢ percebe seu proprio poder criativo na forma de centidade substancial externa, significa que cle “projeta”, que transp ‘esséneia mais profunda para um ser estranho (“Deus”). “Deus”, portai prio homem, a esséneia do homem, 0 movimento criativ ‘0 poder de transformagio da negatividade, perecbido como fe a alguma entidade estranha, existente em si, independente- do homem. 1a ime obj ideologia desprezada — que lar da diferenga, peo da como deserew Unitente na media em qe peop ea ; como seu proprio “Outre ‘ 6 vida, quando — no movimento de algesgte ee percebe como uni Eniade este diferenga essi sdivisdo da esséncia: anular-estabelecer essa. ob medida em que esta, ela mesma, é como uma Entidade : distinta dela mesm: mo "pu 5 ela mesma, isto &, precisamente como “pire apatrnee esséneia s6 pode aparecer na medida em que ja é exterior a ela me ior a cla mesma. ‘ividade que serve de interned ito -gando-a ¢ Ihe dando forma, resta apenas : lo qual essa objetividade ‘Pressuposta, no. a 6sic, ndo ¢ outra cosa senao a pressive. v objet pressup por sta pra miarers™ cara ee do apenas como substincia, mas também como sujcio AS ¢ material da atividade do & pelo horizonte do processo de jprodugao que seu estatuto ontoldgico é determinado— numa palavra, esse {statulo é previamente estabelecido como tal, ou seja, como uma pressu- posigio do estabelecer subjetivo. Todavia, se a reflexio exterior nao pode ser st de o estabelecer estar sempre ligado a \gir a reflexdo exterior, a essénci que se pretender como seu “outro”, as coisas se complicam um pouco. A primeira vista, elas conti- nuam suficientemente claras; refiramo-nos mais uma vez a anilise da alienagio rel que a passagem da reflexio ior para a reflexdo determinante ndo consiste, simplesmente, no fato ‘de que 0 Homem tem que reconhecer em “Deus”, nessa entidade ext superior ¢ estranha, 0 reflexo inverso de sua propria essé propria esséncia na forma da alteridade, ou, em ‘a “determinagao reflexiva” de sua propri afirmar-se como “sujeito absoluto™? Essa concepgio, a rigor, nao pode ser sustentada. lemos de voltara propria nogao de reflexio. Achave dareflexio exterior para areflexio da nogio de “reflexio” em Hegel, ite, na Kigica da reflexio de Hegel, a teflexio sempre ~reflexio” designa a simples relagio esséncia/apa- aparéncia “reflete” a essén é, onde a esséncia € 0 nto negative de me a0 mesmo tempo, estabe- lece o mundo da aparénci -ontinuamos no circulo do estabelecer ide como “pura aparén- onto de partida de seu 1.No primeiro 1omento em que passamos da reflexio proponente para a reflexdo exterior, porém, encontramos um tipo inteiramente diferente de reflexio. O termo “reflexio” designa, aqui, a relagio entre a esséncia ~ ‘como negatividade auto-referente, como movimento da mediaglo abso uta — ea esséncia, na medida em que ela pressupde a simesma na forma i como uma entidade trans- a reflexio & cia). 2. A partir ccendent exterior": uma reflexdo exterior que nfo eonceme a prépr Nesse nivel, passamos da reflexio externa para a reflexo determi- ante, simplesmente apreendendo a relagio entre esses dois momentos 14 mas também com 145 ja — 0 ponto crucial & que essa ce “gerar™ 0 sujeito, de sua prépria a rellexao da tincia imedi la mesma & a de w os poder feconhoesr © aaa lade livre I pressupondo no propio = imo gar ae he contr gard subjeivdade veo nga do ao fonnalnente ronan cests nonca vont”, Desa dates demas Como cagio ue abre o campo para it. Levando em o podemos demonstrar tam- iormente mencionado de : a duplcngio deles Res pormeo de uma dp septa ran «pr rmsd eaieieds Em outras pal ee em que asubrtdncs socal que bes sat unset ona) a0 qual les Juda da impoténeis do homem "a que se encontra por tris, a encamagio de Deus. Segundo A ‘como esséncia estranha é apenas ivo do homem nao leva em conta a flexiva entre Deus © o homem se refletir, ultras palavra: asta afirmar que verdade de Deus", que o sujeito € a verdade da entidade 5 ienada, nio basta que o sujeito se reconhega refletido nessa deveriamos retificar, ou melhor, complementar nossa andlise to vazio, 0 ato de converséa formal pelo qual “a substincia imagem alicnada do potenci necessidade de essa relagio re gla mesma, no préprio Deu “o home evsidito”, * coutras acepgdes. Na lingua francesa, onde sujet & “st NT) 146 subline objeto de ideatogia & de suplementar 0 “Omesmo 05 sujeitos superam a altetidade, a cestranheze do Deus judi oclamarem-no como sua propria

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