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© ACESSO DA MULHER AO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO * CARMEN LUCIA DE MELO BARROSO ** GUIOMAR NAMO DE MELLO** RESUMO © presente trabalho analisa a situagéo da mulher no ensino superior brasileiro © sou esempentio nos examet vestibulares. ‘Tomando como referénela a notdval expansto dess0 grau do enaino nos ltimes anog, es autoraa cxaminam como cvolulu a participagto da ‘mulher nos diterentes cursos universitario, © fazem uma andlise das escolhas de carreiras elas vestibulandas, Realisam ainda estudo do desempenho dos vestibulandos de So Paulo @ Rio do Janclro, com especial tengo & varldvel sexo, © sugerem linhas de pesquisa que Domubilitem aprofendar aapeston relativot a eseotha vocacional ¢ a0 desempentio scadémlco famille suuaary Womews access to higher edveation — This paper analyzes the situation of women at the Brazilian universities and thelr performance at the college entrance examination. ‘Taking in ‘ccount the great expansion this lorel of education has shown in recent years, the authors examine the kind of evolution women participation has ad In the various areas of study fat the university and make an analysis of the careers choice of the candidates taking the ‘college entrance examination, An analysis of the student's performance at this examination, Thased on the varlablo aet, if also reported and tho authors muggest porsible lines of research {hat could more deeply explore those aspects related to the oocupational ehaices and academic performance of female. students © objetivo do presente trabalho é discutir algu- ‘mas questées relativas ao acoso ¢ & participagio da mulher no ensino superior brasileiro. Iniclalmente, Tocalizaremos nossa andlise na representatividade da populago feminina nesse nivel de ensino e sua dis~ ‘trlbulgdo pelos diferentes cursos. A seguir, discuti- remos principalmente dados relativos ao desempe- nho de mogas e rapazes no vestibular. © assunto 6 importante para a definicfo de uma politica educactonal simplesmente porque metade da ‘populagio potencialmente interessada em ingressar no ensino superior € constituida de mulheres. Diante da crescente expansfio desse grau de ensino, princl- palmente a partir de 1967-1968, cabe indagar até que ponto esse fato vem redundando om maior abertura das oportunidades de acesso para os elementos do sexo feminino. Em outras palavras, trata-se de dis~ CCommunlesgio apresenteds A XXVIT Reanliio Anual da SEPC, Belo Horizonte, Juiho de 1815 Do Departamento de Pesguisss Fduescionals da Pundasto Carlos Chagas. CADERNOS DE PESQUISA/15 cutir a questo da democratizag#o da educagio ‘universitaria em termos da eqiiidade de oportuni- Gades para ambos 0s sexos. De um ponto de vista social mais amplo, a reflexio a respeito da situacao da mulher no ensino superior ganha relevancia na medida em que este ensino desempenha importante Papel para a ascensio social das pessoas que a ele ‘tém acesso. Num momento em que os papéis sexuais tradicionais estéo sendo questionados e redefinidos em diferentes sociedades, e em que a situagdo de inferioridade social e econdmica da mulher jé nfo 6 pacificamente aceita, seu acesso as oportunidades de formagdo universitéria pode ser considerado como ‘um objetivo intermediério importante para atingir maior igualdade entre os sexos no mundo do tra- balho e na organizagio social em geral- A MULHER NA CLIENTELA POTENCIAL DO ENSINO SUPERIOR, Embora a concluséo do colegial dé ao jovem ow & Jovem direito de ingressar em qualquer area do 41 ensino superior, os diferentes ramos ou habilitacdes em que se divide aquele grau tornam esse direito bastante limitado. Mecanismos de seleglio econd- mica — que operam de forma mais ostensiva nos primeiros anos de escolarizacio — funcionam ainda no final da escola média, facilitando ou dificultando (0 acesso as varias alternativas de formagio que o 29 grau oferece, seja em termos de organizacio curricular, seja em termos de qualidade de ensino. Desse modo, na pratica, néo existe igualdade de con- digdes entre portadores do mesmo diploma ou cer tificado de concluséio de curso, quando se propdem a disputar uma vaga em nossas escolas superiores. Mecanismos de selegéo cuja génese e natureza sio diferentes, mas de efeltos semelhantes, parecem atuar com relaglio ao sexo dos alunos. Coexistindo ‘com os obstéculos econdmicos, talvez reforgando-os, essa selegdo se traduz numa distribuicéo bastante desequilibrada de mocas e rapazes pelos vérlos ramos ‘ou habilitagées do ensino colegial, como se pode verificar na Tabela 1- TABELA 1 — PORCENTAGENS DE MULHERES ENTRE OS ALUNOS QUE CONCLUIRAM 0 22 CICLO DO ENSINO MEDIO. BRASIL* 1955 1960 1965 1970 Ensino Secundario Cientifico at an 4770) 19.389) 29 38 Ensino Secundério Classico 49 3 (97290) (BL 115) (2304) (3636) Ensino Comercial 30 33 31 33 (2453) (17667) (8.237) (46710) Ensino Normal 88 7 a 2 (5727) (18.988) (41.836) (89.089) Ensino Industrial 6 5 u 3 (490) (1022) (8.229) (7129) Ensino Agricola 26 18 6 4 (330) 439) (TB) 85) Ensino Artistico - = = 0 (33) Ensino de Economia Doméstica - - - 100 12) Total 8 50 a ST (45954) (61101) A307) (225913) FONTE: ANC. Seoreteria Geral. Servigo de Hstatistica de Fdueagto © Cultura, Sinopse do ensino médio. Tio de Janeiro (986, 1860, 1960 6 2972), + Nameror aprosentador entre partnteres ‘A expanséo verificada no ensino colegial pode ser avaliada pelo aumento do niimero total de con- cluintes, que em 1970 6 49 vezes malor que em 1955. Ao mesmo tempo, a proporcfio de mulheres nesse mimero total tende também a aumentar de modo que, a partir de 1965, elas j4 eram mais nu- ‘merosas que 0s homens entre os formandos. To- davia, 0 que merece atengo nesses niimeros que tanto o aumento quantitativo do colegial quanto a crescente participagio da mulher nesse grau de en- sino néo produziram mudangas no padrdo de distri- Dulgdo dos dois sexos pelos diferentes ramos. As ‘mogas predominam no curso normal e, no caso dos cursos propedéuticos, no ensino de tipo clissico. 48 fof totais sobre on quais en porcentagens foram calculadas Nos anos de 1955 e 1960, para os quais existem dados separadtos de cliéssico e clentifico, a porcen- tagem de mocas coneluintes deste sltimo nlo s6 6 pequena (21%), como se mantém inalterada num perfodo de § anos. No clissico, bem menos expres- sivo numericamente, essa porcentagem Jé é mais alta em 1955 (49%), © ainda apresenta aumento con- sideravel em 1960 (63%). A partir do momento em que a divisio desses dois ramos desaparece e 6 reunida sob a denominagSo de secundario, a porcen- tagem de alunos de sexo feminino, ainda baixa, aumenta de 29 em 1965 para 38 em 1970. Entretanto, como a legislagéo possibilita organizar o curriculo FUNDAGAO CARLOS CHAGAS do ensino de 2° grau com diferentes énfases, desde que se respelte 0 mticleo de disciplinas comuns, é possivel que o aumento observado néo corresponda a uma redistribulgio dos dois sexos pelas duas prin- ‘cipais orientagées curriculares dos ramos propedéu- ticos. Na prética, mesmo apds a Let 5692 — que introduziu a reforma do ensino de 1° e 2° graus, em 1971 — continuam existindo no apenas cursos de diferentes niveis de qualidade, como permanecem as diferengas entre cursos profissionalizantes e aca~ démicos e, entre estes, cursos cientiticos ¢ clissicos. ‘Uma formagiio mais semelhante de mocas e rapazes provavelmente faria com que, no ensino superior, a participagio das mocas pudesse se realizar em con- dig6es de maior igualdade, A altissima porcentagem de mulheres entre os alunos do curso normal é, provavelmente, 0 dado mais importante para tornar clara a estratiticacao aseada no sexo, existente na clientela potencial do ensino superior. Como mostra a Tabela 1, 0 curso normal, além de ser eminentemente feminino, possul expresso numérica igual ou superior & dos demais ramos, propedéuticos ou profissionais. A grande procura do curso normal pela populacéo feminina é uma tendéncia que, no periodo estudado, nfo apre- senta mudanea, no pais como um todo. Desse modo, a maioria das mogas concluintes do colegial provém esse curso e, conforme se v8 na Tabela 2, a por- centagem, em 1970, mantinha-se exatamente igual & do 1955: 63%. TABELA 2 — DISTRIBUIGAO PERCENTUAL DE RAPAZES E MOGAS POR CURSO COLEGIAL. CONCLUIDO. BRASIL. 1955 1960 1965 1970 Rapazes Propedéutico (Cientifico © Cléssico) 5 58 52 52 Normal 8 2 3 7 Outros ramos (Com., Ind. e Agric.) 38 48 6 40 ‘TOTAL 100 100 100 300 (24088) (90408) (60887) (96255) Mogas Propedéutico (Cientitico e Classico) 19 a 18 4 Normal 6 6 or 6 Outros ramos (Com, Ind. e Agric.) 7 19 6 8 TOTAL 300 100 100 100 (21866) (30693) (60440) (129313) Fonte de datos bruton ancieo (1956, 1960, 1960 « 1072. Nos cursos propedéuticos, o quadro também apresentou muito pouca alteragio: em 1970, assim como em 1955, mais da metade dos rapazes con- cluintes do 2° grau provinha desses cursos. Quanto As mocas, essa proporcio nao chegou a atingir 1/4 as formandas, A forma como ests organizado nosso ensino su- perior e 0 gra de concorréneia nos exames vestibu- ares — tanto maior quanto mals “nobres” as carrei- ras para as quals conduzem — tornam bastante limi- ‘tadas as chances dos individuos que nfo fizeram ‘cursos colegiais de orientacio mais académica. Em- ‘bora 0 cursinho talvez possa preencher lacunas de formagio, isso implica em custos e esforgos adicio- nafs maiores para os que no iniciaram sua prepa~ ago desde o final do 1 grau e querem disputar ‘uma vaga nas escolas e cursos de melhor qualidade, Desse modo, a moga portadora do diploma de pro- CADERNOS DE PESQUISA/15 (MBC. Secretaria Geral, Servigo de Betatstlea da Bavongio © Cultura. Sinopve do ensino médio. Rio de fessora priméria, caso queira prosseguir estudos, provavelmente terd de limitar suas opcOes aos cursos superiores das éreas de cléncias humanas ou letras, ‘a no ser que retina qualidades excepcionais. Uma escolha felta numa idade em que a establlidade ¢ ‘maturldede de interesses e aptiddes € ainda duvi- dosa condiclona, desse modo, 0 destino profissional de boa parte da ellentela feminina de nosso sistema escolar. ‘A distribulgio desigual dos sexos pelas altema~ tivas de formago, ao nivel da escola média, torna ‘bastante tedrica a eatlidade de mocas e rapazes na concorréncla para o ensino superior. Os rapazes que aspiram a esse ensino, em sua maioria concluintes do cientifico, possuem matores chances de ingressar nas carreiras de clénclas bioldgicas e exatas, que so soclalmente mais valorizadas do que aquelas nas quais 0s egressos do curso normal, ou mesmo do 49 clissico, conseguem entrar mais facilmente. Pode-se ‘mesmo afirmar que, ® mulher, aplica-se uma dupla selegéo. Vencidas as barreiras de natureza econd- mica que dificultam 0 acesso de homens ou mulhe- res ao ensino superior — ou pelo menos a algumas escolas ou cursos desse nivel — ela deve também su- perar obsticulos de natureza psico-social que, quan- do nfo impedem que curse uma faculdade, delimitam carreiras como sendo mais adequadas para ela. Esses obsticulos constituem-se dos valores ou esteredtipos relativos ao papel social da mulher, vei- culados sutil ou ostensivamente pela familia, por ‘outros grupos de referéncia e pelos meios de comu- nicagdo de massa, ¢ reforeados pelo sistema escolar- A grande concentracio da clientela feminina no curso normal sugere limitag6es ou, pelo menos, certa am- ivaléncia nas aspiragdes dessas jovens. Nao sendo ‘a profissio considerada © destino prioritirio da ‘mulher, 6 possivel que as familias e as proprias Jovens considerem mais seguro fazer um curso ao {tinal do qual ela se encontre habilitada 20 exercfoio de uma profissio, ainda que esta seja de pouco pres- tigio e baixa remuneracio. E isto talvez seja m: freqliente entre as mocas de origem mais modesta, Gouveia (1910) verificou que a aspiragio de exercer (© magistérlo primério 6 maior entre normalistas de classes mais desfavorecidas. Levando-se em conta a origem social do individuo, € possivel justificar a escolha do curso profissional a partir do senso de realidade que, presumivelmente, preside tal escolha, ‘Todavia, no caso da mulher de origem mais humilde, a escola do curso normal adquire um significado peculiar. Em primeiro lugar, nio se trata de um ‘curso cujo mercado de trabalho estela em desen- volvimento. Ao contrério, em algumas regibes ha excesso de professoras primdrias. Por outro lado a feducacdo de um modo geral e especialmente 0 ma- gistério primrio, no qual se lida com eriangas, 6 considerado uma ocupagio adequada para a mulher por ser semelhante Aquelas para as quais 6 natural- mente destinada segundo o esteredtipo vigente, Os resultados obtidos na amostra de normalistas da pesquisa de Gouveia indicam que a escolha do magistério primario esté também associada a maior grau de tradictonalismo e, também, que 0 curso normal pode mesmo no constituir uma escolha pro- fissional, para uma parte das jovens que o procuram, mas apenas uma forma mais elaborada de prepara~ Gio para o destino doméstico. Cerca de 24% do total das normalistas desejavam ser exclusivamente donas de casa e, no caso das jovens de classe média alta, essa aspiracéo correspondia 20 mais alto grau de tradicionalismo. Por outro lado, muitas das jovens normalistas investigadas manifestaram desejo de exereer outras profissées que nio o magistério primé- rio. Estas jovens provavelmente nfo souberam ou nio tiveram oportunidade de escolher de forma adequa~ da 0 curso colegial 50 Nossa hipétese de que a escolha predominante do normal entre as mocas ancora-se em valores tra- Gicionais relatives a0 papel de homens ¢ mulheres, pode ser reforgada pelo fato de que, no Estado de Sto Paulo, ao contrério da tendéncia geral, houve diminuigég nas matriculas do curso normal (So Paulo, 1973). Sendo o estado mais industrializado da ‘Unio, Sao Paulo apresenta um mercado de trabalho mals diversifieado, 0 que pode signiticar novas pers- pectivas profissionais para a mulher. Além disco, 6 Possivel que 0 proceso de industriallzacio esteja de certo modo encorajando, pela emergéncia de valores menos tradicionais, as mocas a fazerem escolhas vo- cacionals menos estereotipadas sexualmente, Dos demais ramos do clclo colegial, constantes da Tabela 1, apenas 0 comercial possul expressiio numérica importante. Neste, a porcentagem de mu- Iheres concluintes manteve-se praticamente a mes~ ‘ma, em torno de 30%, no perfodo estudado. Embora essa poreentagem represente mimeo razodvel de alunos, estes, sejam homens ou mulheres, nio esto em condigées de igualdade na disputa por vagas do ensino superior, pois o ensino comercial ¢ talvez 0 de pior qualidade em nosso sistema educacional, sendo freqilentado pelos individuos das camadas ‘mais pobres, mantido quase sempre por escolas par- ticulares de poucos recursos. Em resumo, apesar da expanséo quantitativa do ensino de 2° grau e de mals da metade de seus conchuintes serem do sexo feminino, é possivel que parte dessas jovens encerrem nessa altura suas car- relras profissionals, por nfo terem desenvolvido, ao longo de sua socializagdo, expectativas e aspiracées, ‘mals ambiciosas. As que prosseguem os estudos, por serem em sua maioria egressas de cursos normals ou cléssicos, deverio investir maior esforco, tempo dinhelro, em sua preparacio, se quiserem cursar as escolas superiores mais concorridas, que conduzem s carreiras mais prestigiosas da hlerarquia ocupa- clonal. Provavelmente, apenas as mais altamente motivadas e dotadas intelectualmente estardio em condigdes de transpor esses obstéculos. As demais acabaréo preferindo tornar a formagdo universi- téria_ uma extensio da escolha vocacional felta quando ingressaram no curso de 2° grau, Conforme se discutira a seguir, isto torna a crescente particl- pacio da mulher no ensino superior bastante seletiva. A EXPANSAO DA PARTICIPACAO FEMININA NO ENSINO SUPERIOR E O AUMENTO DA CONCENTRACAO EM DETERMINADAS CARREIRAS © ensino superior cresceu a taxas extraordi- ndrias nos wltimos tempos, em fungéo tanto do au- mento da clientela potencial deste grau de escola- FUNDAGAO CARLOS CHAGAS TABELA 3 — PORCENTAGEM DE MULHERES ENTRE OS ALUNOS MATRICULADOS NO INICIO DO ANO — ENSINO SUPERIOR — BRASIL. 1956 1961 1966 1971 Engenharia 2 2 a 3 (8223) (41423) (26595) (9.433) ‘Agronomia, 3 4 5 7 (zi) — (2165) (4839) (6408) Veterinéria 3 6 0 1B (730) (33) 1991) (748) Ciéncias Econdmicas e Adm. de Empresas 6 7 u 15 (6358) (10071) ¢2gonT) (52218) Direito 2 8 a 5 (20607) (23519) (3636) 76.906) Arquitetura “4 16 ey 36 aes) (646) TM) (459) Odontologia u 19 29 35 (4500) (5572) (6794) (BTL) Medicina 20 12 16 m 2650) (40365) -—«1T152) (30990) Farmécla 4 28 2 50 (eat) (2427) (2.619) (4185) Fisica, Quimica, Matemética e Biologia"” 38 38 a 0 (2852) (3595) (7637) (34310) Comunteagées 38 “4 52 52 eT) (1438) (4305) Educagio Fisica 6 36 “ “ (586) HH) L140) (8615) Letras, Ciéncias Humanas Filosofia) er cy 3 u (10555) (17756) (35785) (114975) Servigo Social u 83 90 95 ais) 4578) GI 352) Enfermagem 99 99 95 9 (1592) (1608) (1268) (2.882) ‘TOTAL 26 29 31 40 (79658) (98.892) (180101) (581397) FONTE de datos brutos: MEC. Servigo de Batatistica da Educagto e Cultura, Sinopse Rotatistica do Bnsino Superior (3856, 161, 1865, 197). Nora: 1, Dos cursos classifeados em “Filosofia, Cigneins o Letras", slo epresentadas aus a) Fisica Quimica, Mfatemética © Biologia 1) Ciencias Socias, Geografl, Histérle, Psicologle, Filosofia, Tetras 6 Pedngorts. 2. Dos demels cursos, fo apresentadon of que tiveram mais de 1100 matriculados em 1856 e/ou mals de 2.200 em 1071 (08 cursos que no astistazem o critério acima aio inelaidoa no total mas nfo apresentades Ysoladamente 4. A categoria “Comunlcagéea” em 1055 6 1061 inelui apenas 0 curso de Jornalirm. rizago, como de fatores politicos e econdmicos. De ‘menos de 100.000 alunos em 1961, passou a ter mals de meio milhio dez anos depois, como mostra a ‘Tabela 3. Apesar da grande expansio quantitativa em ter- ‘mos globais, é importante menclonar que 0 cresci- CADERNOS DE PESQUISA/15 mento das matriculas no ensino superior deu-se em ritmos bastante diferentes pelos diferentes cursos, bem como pelas entidades mantenedoras. Na Tabela 4 pode-se verificar que, tanto em termés absolutos como relatives, alguns cursos expandiram-se muito mais do que outros. 51 TABELA 4 — CRESCIMENTO DAS MATRICULAS DOS DIVERSOS RAMOS DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO ENTRE 1956 E 1971 Crescimento —_Crescimento Relatives Absoluto> ‘Odontologia, 1,78 3763 5 ‘Enfermagem 11 1290 ‘Medicina 2.48 18340 Farmécia 2.58 2564 Arquitetura 22 2962 Direlto 3,73 56.299 ‘Veterinéria 36 2013, ‘Engenharia 40 31210 Agronomia 5,03 5130 Servico Social 5,32 5158 Ciencias Econdmicas e Adm. de Empresas 322 45.864 Comunicacdes 938 Bee Letras, Ciéncias Humanas ¢ Filosofia 10,89 104.420 Fisica, Quimica, Matemdtica e Biologia 12,03, 31.458 Educagio Fisica 14,70 8029 ‘TOTAL cary 482 738, 8) Indico obtido pela divisio do ntmero do alunos matriculados em 10971 pelo ndmero de alunos matriculados em 3966, ') Diforenga nize o ndmoro do alunor matriculados em 1971 eo mémero de alunos matriculados em 106, Ponte de dadoe brutes: De modo geral, as matriculas em estabelecimen- tos privados de ensino superior aumentaram mals do que nos estabelecimentos pitblicos, sejam universi- dades ou isolados: em 1960, do total de matriculas do ensino superior, 57,2% eram do ensino pubblico e, em 1970, essa porcentagem era de 49% (Cunha, 1975). Tanto @ expansio geral do ensino superior ‘como o padrio de crescimento diferencial por cursos ¢ entidades so provavelmente produtos da crescente rocura desse ensino por parte das camadas mé dias, que Cunha (1975) explica em termos de substi- ‘tuigdo da ascensfio social via poupsnga © investi- ‘mento pela ascensio via sistema educacional. Outro fator importante, que ele menciona rapidamente, Tefere-se ao aumento da procura dese ensino por arte das mulheres. Como j4 vimos anteriormente, estas so tornaram mals numerosas do que os rapazes entre os concluintes do 2° grau, levando a que um contingente cada vez maior delas queira prosse- guir estudos. Dentro do creseimento global do ensino superior, © aumento da participagdo da muther fol mareante: de 26%, em 1956, a 40%, 15 anos depois. No en- 2B, om 1907, en mulheres constitulam apenas 0.24% dos alunos do Ensine Turidico, 363% do Ensino Médioo e War- ractutlee © 047% do Enaino Politéenico (D.G.E., 2016) 52 MRC, Servigo de Hstatistica da Edueago o Cultura, Stuopsc Ketatitica do Ensino Superior, (186 © 1871) tanto, a expansio de matrfculas nflo se deu de ma- nelra uniforme, de tal modo que, na Engenharia, hé ainda apenas 3% de mulheres. De fato, verifica-se até um aumento da concentracéo das alunas em algumas poucas carreiras “femininas” que, definidas culturalmente como mais apropriadas & mulher, tém tido tradicionalmente uma predominancia de mu- Iheres entre seus alunos, No Gréfico 1, podemos observar a distribuicéo das alunas matriculadas nos diversos ramos do en- sino superior brasileiro, nos anos de 1956 ¢ 1971. Pela comparacio das areas dos dois circulos desse grafico, pode-se ter uma {déia do creseimento absolute do nimero de alunas no sistema de ensino superior como um todo, nese periodo de 15 anos. Observe-se ‘que 0 crescimento 6 ainda maior do que o represen tado, porque 0 cireulo de 1971 nfo inclut 46.478 alu- nas que estavam fazendo o ciclo basico?. 2 Com a incluso dessas alunas, o efreulo de 1971 seria apro- simadamento 11 vezes malor que © do 1858. Para so tor Juma base de comparagio, ver os dados da Tabela 4, onde ‘ge mostra que neste mesmo perfodo, 0 cresclmento das Iatriculas do ensine miperior como tum todo fol de apro- ximadamonto 7 vezes, Ag alunas do ciclo bésico mo foram ff incluldas porque o objetivo do grifico é mostrar a con- teontragéo relatira pelos diverion raraoa que definem eazret- ras profissionals, FUNDACAO CARLOS CHAGAS GRAFICO 1 — MULHERES MATRICULADAS NO ENSINO SUPERIOR (BRASIL) — DISTRIBUICAO PER- CENTUAL PELAS DIVERSAS CARREIRAS. 1956 ‘TOTAL DE ALUNAS: 20545 LEGENDA A+ LETRAS, Peosoocia, STOR, cEDoRAr IA, ‘GEnoats soci, PIcOLOGI € FLOSOFTA | CePICA,GUMICA MATEMATICA E BOLOGA, | ocencenvers, acronows VeTERNAR, [SRCUITET Utd, FARMACI, COMURICACCES Erepucagio Fisea =CENCIAS ECONDMIAS E ADM OF EMPRESAS. | Gesenco soca, | Ravatrovace tet Fel: EC: Sarva Eneiicn da Ecotec, Sap Elia co Esa Superior (1958 197. 1971 ‘TOTAL DE ALUNAS: 178080 [Na free J, esto reunidos os curms que tireram monot (te 1,100 matriculados em 1986 « menos de 2.900 em 1971: Aerondutica Givi, ‘Agrimensura, Artes Visuals aplioadaa A Bdueaslo, Bibllctoconomia, Cartografia, Citncias Médleo-Dioléplcas, Curso de Crimi- haliats, Curso Fundamental em Bilosotia, Clinclas o Letras, Cultura Religioss, Desenho, Didética, Diplomacia, Esonomia Do- tnéstics, Bagenbaria de Pesca, Ensing Artstico, Retatistica, Hatatation aplicada & Bduesolo, Hatudos Socials, Fisioterapia ‘Terapia Ocupasional, Fonoaudiologia, Geologla, “Magistério do Bnaino Médlo Agricola, Meteorologia, Museologia, Nuteisfo, Po- Tiela” Givi, Quimlea Industrial, Relagier Poblicas, Sadde Pabliea, Servisos de Transporte, Sociologia e Politics, Tecnologia do Alimentos « Teologie. Na dra D, esto reunidas Aemela carreiras que — em virtude 4o_pequeno ndmero de alunos, ou da pequena poreentasem de ‘mutheres entre os alunos — reuniam menos de 3% das alunas em 3986 ¢ 391 A PREPARAGAO PARA O MAGISTERIO ‘SECUNDARIO A observacéo mais importante na andlise do Grético 1 6 que 6 cada vez maior a probabilidade de ‘a aluna de um curso superior estat se preparando para o magistério seounddrio, pois a proporeio de mulheres nessas carreiras tipicamente femininas, que j4 era bastante grande em 1956, em lugar de diminuir com a expansio e diversificac&o do ensino superior, pelo contrérlo, aumentou no decorrer do perfodo estudado. Os maiores aumentos relativos veriticaram-se nos cursos de Letras, Ciéncias Huma- nas e Filosofia ¢ na drea de Fisica, Quimica, Mate- mética e Biologia, cursos que constitufam as an- CADERNOS DE PESQUISA/15 tigas Faculdades de Filosofia, Ciéncias e Letras, cujos objetivos eram mais amplos mas que, realidade, se lmitaram, em grande parte & formac’ do magistério do ensino secundério’. A concentra- cho atinge tal grau que, em 1971, nada menos que metade das universitérias estavam nos cursos de Letras, Cignclas Humanas e Filosofia. E note-se ‘que esta estimativa 6 bastante conservadora, pols as “ciénolas humanas” af incluem apenas Pedagogia, 8 Um on outro curto em elgumas pouces insttuigbes nko ae Gestina primerdiatmente & formagio do professores secun- dérioe, (Vela, por exemple, Beisiozel, 1059, 1971; Pereira srl). No entanto, acreditamos nko exagerar ad fazer a atirmagto para o pals como um todo, 53 Histéria, Geografia, Ciéncias Socials ¢ Psicologia, ‘cursos sobre os quais tinhamos dados desde 1958. Se a eles acrescentarmos cursos de criagéo mais r cente, mas que também se caracterizam claramente ‘como formadores de pessoal para o ensino médio — 0s cursos de Orientacéo Educacional, Estudos Socials e Licenciatura de Desenho — esse conjunto pasta a abranger 56,5% das universitarias (MEC, 1973) © aumento da concentragio das mulheres em determinadas carreiras — especialmente as que con- duzem ao magistério secundério — resulta de duas tendéncias paralelas. De um lado, hé a “feminiza~ lo” dessas carreiras. De outro, sua expansio rela- tivamente maior, Na Tabela 3, podemos observar que a porcen- tagem de mulheres entre os alunos matriculados em Letras, Ciéncias Humanas e Filosofia, que 4 era bastante grande em 1956 (67%) aumentou para ‘1%. Aumento semelhante veriticou-se em Fisica, Quimica, Matemstica e Biologia, embora a porcen- ‘tagem inleial fosse bem menor. Essa “feminiza- ho” do magistérlo secundirio provavelmente esteja ligada a duas raizes: a crescente perda de prestigio da profissfo docente e a restrigfo das alternativas existentes para a mulher no mercado de trabalho. Em virtude de sua popularizacio, a escola média parece estar progressivamente perdendo prestigio. Numa cultura que valoriza o elitismo e 0 privilégio, a simples expanséo numérlea traz consigo a dimi- nuicdo do status dos alunos e dos professores desse nivel de ensino. Nessas circunstincias, os homens que estiverem em busca de canais de ascensiio irdo Procurar, de preferéncia, outras profisses, 8 menos ‘que néo possam submeter-se & preparacio mais ri- gorosa. que estas talvez exijam. Naturalmente, essa queda de prestigio deveria afetar também a pro- cura por parte das mulheres. No entanto, isto no focorre porque a diversificacio do mercado de tra batho, caracteristiea de uma economia mais com- plexa, nfo velo favorecer igualmente a homens ¢ mulheres, negando a estas as oportunidades ofere- cidas Aqueles, e mantendo sua gama de alternativas muito mais restrita que a de seus colegas mascull- nos, Os mecanismos de mudancas dos canais de ascensio assumem caracteristicas peculiares para a Populagdo feminina. Egressas em sua maioria do normal, e aspirando a um curso superior, 6 bastante explicével que a perspectiva profissional da moca estenda-se do magistério primédrio para 0 magistério secundério, conforme sugerimos na segéo anterior. 4B go ainda acrescentarmos outros cursos tpleamente feini- ninos, © que-o Servigo de Eatatistica da Baveacto » Cultura pasou a considerar como de "Ciénelas Socials” mas que ‘Bo. preparum eapecificaments para a atuagio nas e2colke ‘médias (Servigo Soclal, Biblioteconomia, Comunicagéen ete.) © of cursos de Artes ¢ Enfermagem, abrangemos a grande matoria das universitarias: 66.59%! (IEC, 1973. 54 Além disso, 0 fato de que a posic&o:social da mulher ainda costuma ser determinada mals pela profissio de seu marido do que pela sua propria ocupacéo parece fazer com que a preocupago com o prestigio o status nfo seja para ela, téo dominante na escolha de uma carreira. Observe-se, porém, que a “feminizagio” no é suficiente para explicar 0 aumento da concentracdo das mulheres em poucas carreiras. Tanto assim que esse aumento da proporgio de mulheres entre os alunos ocorreu também em carreiras que, no en- tanto, no passaram a representar maior proporcdo do total de universitérias. ¥ 0 caso de Odontologia, por exemplo. Na Tabela 3, vemos que a porcenta- gem de alunas entre os estudantes desse curso au- mentou de 17 para 95%. Apesar disso, verificamos no Gratico 1 que as alunas de Odontologia, que constituiam 4% das universitérias brasileiras em 1956, passaram a ser apenas 2% em 1971. A expli- cacdo desse fato reside na desigualdade do ritmo de expansio das diversas carreiras. Na Tabela 4, observamos que o cresclmento das matriculas de Odontologia neste periodo (1,78) foi multo menor (que o crescimento das matriculas no ensino superior como um todo (7,14). Assim, uma segunda tendéncia concorre para o aumento da concentragéo das mulheres nos cursos ‘que preparam para 0 magistérlo: a maior expansio esses cursos em relagio aos demais. Na Tabela 4, observarse que, no crescimento relative das matri- cculas, esses cursos s6 so superados pelo curso de Educagio Fisica, que, afinal, também prepara para © magistério. A taxa extraordinariamente alta da Educagio Fisica explica-se parcialmente pelo mi- mero base (matricula inicial do periodo) bastante Pequeno. Mas o crescimento absoluto dese curso também néo foi despreaivel, o que provavelmente se deve & ampliactio do mercado de trabalho para pro- fessores de educacio fisiea, em decorréncia da legis Jagéo que tornou essa disciplina obrigatéria para todos os estudantes menores de 21 anos, qualquer que seja o nivel de ensino ou perfodo em que este- Jam matriculados. Um dos motives da acelerada expansio dos cursos de formagdo do magistério reside no seu custo relativamente baixo que permite a oferta de vagas com pequeno empate de capital. Devido & tradigéo verbalista ainda prevalecente, em grande parte, nas escolas primarias e médias e 20 seu ca- réter quase exclusivamente académico, a formacdo do professor pode reduzir-se & aquisigfio de um con- Junto de nogdes em determinada Area de conheci- mentos, que ele tentard transmitir através de técni- cas rudimentares e sem ter a possibilidade de maiores elaboragbes, A grande oferta dos cursos de preparagio para ‘© magistério de nivel médio corresponde também um FUNDAQAO CARLOS CHAGAS enorme aumento da sua procura, determinada pela propria expansio desse grau de ensino, pela exi- géncia de mator qualificacéo formal do seu corpo docente e pela elevagio dos nfvels de aspiragdes das camadas médias da populacio, que passam a desejar uma ocupagéo de nivel superior sem, no entanto, ispor de condigdes, quer econdmicas, quer de pre- paragio académica que Jhes possibilitem freqientar Faculdades de maior prestigio. A FORMACAO DE BACHAREIS Uma proporeio considerivel de universitérias se Girigia e continua se dirigindo ao curso de Direito. Em 1971, esse ainda era o curso mais procurado no ensino superior brasileiro®. Embora seu cresci- mento relative nos 18 anos anteriores nfo tenha sido multo grande, 0 crescimento absoluto foi dos maiores. Dessa forma, apesar de sua cllentela con- tinuar a ser predominantemente masculina, a mi- norla (259%) de seus alunos que so do sexo feminino (Tabela 3) constituem parcela considerdvel (11%) 4a populagao de universitatias (Gréfico 1). Para explicar a persisténcia do grande nimero de matriculados nesses cursos, vamos encontrar, em primeiro lugar, 0 mesmo fator que esté na ralz da expansfio dos cursos de formacao de magistério: seu carter bacharelesco, que possibilita a ample oferta de vagas por custo relativamente baixo. A propria disponibilidade de vagas constitui, em parte, fator gerador de procura pois a facilidade de acesso atrai o estudante poteneial que nflo estaria disposto ou no teria condigdes de enfrentar os obstdculos de natureza variada que se Interpdem diante de outros cursos superiores com menor nimero de vagas e maior ntimero de candidates. No entanto, 6 Sbvio que a simples acessibilidade dos cursos de Direito nfo seria suficiente para oxplicar seu grande numero de alunos. Esse fendmeno também nfo ¢ explicado pelas oportunidades de trabalho na Advo- cacia, pois é fato amplamente conhecido que grande parte dos alunos que se formam em Direito nfo exercem a profissio para a qual se prepararam, 0 que jé era comum em 1956 e provavelmente é muito mais freqiiente atualmente, Na medida em que o aumento do nimero de ‘vagas nfo corresponde & expansio do mercado de ‘trabalho especifico dos advogados, 0 que faz com que to grande contingente de estudantes continue a se preocupar com cédigos e leis? Em primeiro Jugar, 6 preciso lembrar que a conclusfio do curso de Direito é uma das formas de obtengio de um “diploma de curso superior", 0 qual é valorizado independentemente da area de especialidade. Nas cidades maiores, é comum 0 advogado competir com © administrador de empresas, 0 economista © até com 0 engenheiro no preenchimento de posig6es ‘para as quals nenhum curso oferece formagio espe- cifica, mas qualquer diploma superior fornece indi- cago de sobrevivéncla num proceso longo de sele- ‘do — realizado desde os primeiros anos escolares — no qual 0s veneedores demonstram ser aptos numa sérle de caracteristicas importantes em muitos em- pregos: disciplina, persisténcia, ambicio, capacidade de adaptagho, ete.. Dessa forma, o diploma de curso superior est4 se tornando quase indispensdvel aos que aspiram ks posigdes médias e altas da hierar- quia social. Em relacéo a outros cursos que também servem de canal de acesso a esse diploma, o curso de Direlto pode oferecer algumas vantagens. Em pri- meiro lugar, como Jé dissemos, hé a grande acessi- bilidade de vagas, para as quals a concorréncia é relativamente pequena. ¥ muito diffell obter dados contisveis a respelto do numero de candidatos aos vestibulares, porque esses dados nfo sfo coletados sistematicamente e porque um individuo pode can- didatar-se a diversas escolas simultaneamente, sendo provvel que o fendmeno das “candidaturas mul- tiplas” seja mais comum em certas carreiras do que em outras. No entanto, parece razogvel gene- ralizar, a partir dos dados de exames vestibulares nos Estados mais industrializados, que o mimero de candidatos de Direito ¢ muito menor que os de Me- dicina e de Engenharia (Ver Tabela 5). TABELA 5 — NUMERO DE CANDIDATOS AS ESCOLAS DE DIREITO, MEDICINA E ENGENHARIA, EM ALGUNS ESTADOS. 1975. Direito Medicina Engenharia Universidade Federal do RS. (vest, uniticado) "799 2433 3507 Universidade Federal de MG 1070 3097 ant Cescem, Cescea © Mapofei — SP 2262 11.808 16521 Cesgranrio, GB 2781 11186 11247 Fontes: Dados orizinais fornceidos pelas entidades responsiveln 5 86 muperado, em mimero de matriculas, por Letras, Ciéneiss CADERNOS DE. PESQUISA/I5, “Huinanas 6 Filosofia, aue constituem um conjunto de vérios 55 epee ruse EERIE Os cursos de Economia e Administragio talvez sejam tio acessivels quanto os de Direito, mas este apresenta ainda duas caracteristicas que aumentam sua atragio. Uma delas é a de que o titulo de doutor, comumente atribufdo aos bacharéis, sinda goza de algum prestigio entre certas camadas da Populagéo. A outra refere-se ao fato de que 0 curso em si pode parecer mais fécll em virtude de no apresentar nenhuma exigéncia de conhecimentos de ‘Matemdtica, area na qual grande parte dos univer- sitérios potenciais possui notérias deficiéncias de formagio. AS CIENCIAS BASICAS © aumento sensivel na proporcio de mulheres que esto cursando Fisica, Quimica, Matemstica e Biologia nfo significa um incremento notével na partioipagio nas atividades propriamente cientificas (Barroso, 1975). Grande parte dos que af se formem no serdo cientistas, mas professores de cléncias, E isso talvez seja ainda mais verdadeiro para as alunas do que para os alunos. No entanto, o aumento veri- ficado € ausplcloso e pode representar mudancas importantes a longo prazo, pois estas mulheres esta- rio atuando brevemente como modelos para as alunas dos cursos secundérios, que poderfio desen- volver interesses e atitudes mais favordvels & ciéncia, se passarem a percebé-la néo mais como dominio exclusivamente masculino. As quatro dreas clentifieas apresentadas global- mente no Gréfico 1 na Tabela 3 possuem grandes diferencas entre si quanto ao grau de “feminizagio”. ‘As porcentagens de mulheres entre os alunos de Fi- sica, Quimica, Matemética e Biologia cram respec tivamente 15, 36, 31 ¢ 55 em 1956 ¢ 23, 34, 43 © 68 em 1971. Matematica e Biologia, além de mais femi- nizadas, tem um contingente de alunos muito maior (MEC, 1972), 0 que 6 compreensivel porque hé maior miimero de aulas dessas matérias nos cursos de 1° e 2° graus. O que é dificil de entender é por que @ porcentagem de mocas entre us alunos de Fisica © Quimica permanece to baixa. Uma explicacio Possivel 6 a de que — em qualquer das quatro dreas clentificas mencionadas — as mulheres seriam mais numerosas nas escolas de menor prestigio*. Como 6 Por exemplo, om Sto Paulo, na Mapofei (que faz os ves lubulares para cursos dé Fie © Quimica integrados Universidade de Sio Paulo, a Universitade Hetadual de Campinas ‘ea Universidade Federsl de ‘Sio Carlos, naa uals estio os cursos mals antigos do Estado) a porven= fagem de mulheres entre os elasnfieados muito, menor que no Cescea (que fax os vestibulares para a0 curtes do Fisica e Quimica dos Institutes Ieolados: Araraguara, Rl. Deirio Preto e Rio Claro). Em 1075, estas porcentagens foram, Quimica: $25 no Cescea eSB na Mapotels fem Fisica, a diforanga fot ainda maior: 88% no Ceotea 18% na Mapotes, 56 hd um menor ntimero de escolas de Fisiea e Qui mica, 6 provavel que a proporcéo de escolares nessa situagio seja menor nessas duas dreas’ -Além disso, € possivel que 0s cursos de Fisica e Quimica sejam menos voltados para a formacSo do magistério se- cundario que os de Matemética e Biologia, OUTRAS CARREIRAS Na rea D do Grafico 1, esto reunidas varios cursos cuja clientela era razoavelmente numerosat mas que, em virtude da porcentagem relativamente equena de mulheres entre seus alunos, nfo che- gavam a reunir 3% das universitdrias em 1956 ¢ 1971. Esse é, portanto, um grupo bem heterogéneo, ‘como podemos ver na Tabela 3. Em primelro lugar, ‘temos a Engenharia, curso que congrega uma parcela considerdvel do corpo discente do ensino superior, ‘mas no qual a representacdo feminina continua & ser frrisOria. Na Agronomla e na Veteringria, as proporgées de mulheres continuam muito pequenas, mas apresentaram um crescimento acelerado nos uiltimos 15 anos, especialmente na Veterinaria, Ar- quitetura fot o curso onde a porcentagem de alunas mais cresceu embora a matricula global nfo tenha crescido muito (Tabela 4). Esta carreira vem pro gressivamente aumentando sua identifieagéo com artes e planejamento urbano e diminuindo a identi- ficacio quase total que ja teve com a Engenharia. Este fato talvez possa explicar 0 aumento de mu- Iheres entre os futuros arquitetos, enquanto que a Engenharia permanece inexpugnsvel 20 sexo femi- nino. Na rea D, estéo também englobados os cursos do Farmicta, Comunicagtes © Educacio Fisica, nos quais as porcentagens de mulheres entre os alunos estd proxima de 50%. Hsses cursos sé nfo foram apresentados separadamente porque o seu total de alunos é relativamente pequeno, ‘A Grea E refere-se aos cursos de Ciéncias Eco- nomicas e Administragio de Empresas, cuja repre- sentagio entre as alunas do ensino superior do- brow no perfodo estudado, sem, no entanto, atingir ainda uma proporgio considerdvel. A matricula nesses cursos apresentou elevado crescimento, tanto em termos absolutos como relativos, e a porcen- 1 Na Fision e na Quimica, a proporgto de esvolas partioulare do criagio mais recente é menor do que na Matematica © ‘ba Biologia Ao snaliser desagroradamente os dados da ‘Taela 4, verifleamos que o ereacimento absoluto daa ma- tuiculae de Batemdtica e Blologia fol muito malor quo 0 de Firien ¢ Quimica, E, no Batado de SG Paulo, lo parti= culares menos de 50% das eacolas de Fisica e Quimica, fe mals de 50% das escolan de Biologia © Matematica (Anais Clentities, 1973. 8 Os limites exatos do eritério de incluso sf menclonados ne rodapé aa Tabela 3, FUNDACAO CARLOS CHAGAS tagem de mulheres entre os alunos aumentou duas vezes e meia, mas ainda néo é muito grande, pois era inicialmente muito pequena. ‘A Medicina fol o setor no qual se registrou a maior diminuigéo da proporc&o que representa entre as alunas universitérias (Gréfico 1). Como a por- centagem de alunas entro os estudantes de Medicina no se alterou muito entre 1956 e 1971 (Tabela 3), a Giminuigao observada deve-se principalmente ao fato de este ter sido um dds ramos que apresen- ‘taram menor cresclmento relativo nesses anos (Ta- Dela 4). © crescimento relativamente pequeno de suas matriculas pode surpreender, uma vez que a classe médica tem mostrado notdvel articulagio na dentincla do aumento desordenado da criagio de escolas médicas, tendo demonstrado também dispor de forga de pressdo suficiente para conter essa expansio, que considera prejudicial. A questio cer~ tamente 6 complexa mas, ao consideréla, 6 necessé- io colocé-la num contexto mals geral, onde outros ‘cursos, especialmente os de clénclas humanas, apre- sentaram creseimento relative muito maior, com todas as consegliéncias que esse crescimento pode smpllear. Se esse crescimento de outros setores no se tornou tio visivel ou no mobilizou tantas forcas contrarias, talvez seja apenas porque os grupos dire- tamente interessados nfo sip téo organizados, A carreira de Servico Social, que ja era bastante “feminizada”, esta se tornando quase exclusividade absoluta das mulheres (Tabela 3). O crescimento de suas matriculas, no entanto, tem sido inferior ao do ensino superior como um todo (Tabela 4). Assim, sua representacg&o entre as universitérias diminuiu apenas ligeiramente (Gréfico 1), A proporcio de universitérlas que estavam nos cursos de Odontologia, em 1971, reduziu-se & me- tade da proporcio registrada em 1956 (Grafico 1), apesar do notdvel incremento de mulheres entre os estudantes desse ramo (Tabela 3). 1 que a Odon- tologia fof 0 curso que apresentou menor cresci- mento relative nesse perfodo (Tabela 4). A diminuicéo mais dramAtica ocorreu em En- fermagem, cuja proporedo passou a ser apenas um quarto da observada em 1056 (Gréfico 1). Enter- magem e Educacio Fisica foram os tinicos cursos nos quais a proporcio de alunos do sexo feminino fol menor em 1971 do que em 1956 (Tabela 3). Mas sua menor representagdo entre as universitérias deve-se principalmente ao seu baixo ritmo de cres- eimento (Tabela 4). Na area J, esto englobados todos os demais cursos do ensino superior brasileiro. Af esto reun!- dos cursos de clientela predominantemente femi- nina, como, por exemplo, Biblioteconomia, Nutricio, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Ensino Artistico ¢ Economia Doméstica, e outros, onde predominam CADERNOS DE PESQUISA/15 ‘08 alunos do sexo masculino: Geologia, Agrimensura, Diplomacia, Estatistica, Tecnologia de Alimentos, etc. Multos desses cursos foram criados na década de 60, de modo que as duas dreas do Gréfico 1 nfo sfio diretamente comparaveis, ‘Como vimos, as estudantes dos cursos superio- res concentram-se cada vez mals em cursos que pre- param para o magistério secundério. Hlas também aumentaram sua participaglo em quase todas as demais carreiras, mas este aumento nfo fol tio grande quanto 0 ocorrido nos cursos de formac&o de professores. Desa forma, para a grande maioria das universitérias, 0 curso superior continua nfo representando uma inovacéo de papéis profissionais, femininos tradicionais. (© que faz com que esta distribulgo se repro- duza com tanta regularidade? So multo poucas as escolas que restringem 0 acoso a um ou outro sexo, ou que estabelecem quotas para cada sexo’. O padrio de distribuigSo se reproduz através de me- canismos muito mais sutis, que operam no sentido de levar a adolescente a optar “livremente” por certo tipo de carreira, conforme poderemos observar nos dedos das opgdes do vestibular, a seguir. CARREIRAS ESOOLBIDAS PELAS ‘VESTIBULANDAS ‘As escolhas de carreiras das mogas que se can- Aidatam ao ensino superior refletem nitidamente a estratificagdo sexual das profissées. O Grético 2 apresenta o$ dados relativos a Sdo Paulo, e a Tabela 6 05 do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul ¢ Maranhiio, que foram os que pudemos obter através de solicitacéo direta as entidades res- ponsdvels pela realizagio de exames vestibulares no pais20. A MANUTENGAO DOS PADROES: PROFISSIONAIS E VESTIBULANDAS ‘As distribulgées das vestibulandas paulistas (Grético 2) e das universitérias brasilelras (Tabela 3) apresentam uma semelhanca impressionante. bem verdade que essas porcentagens mostram varias diserepincias, algumas até bem grandes; mas 0 padréo geral 6 basicamente o mesmo, 0 que é sur- preendente, em vista das diferencas quanto a certas, caracteristicas das duas populagées. 9 HA apenas algumas eseolas do Educeclo Fisica, de Enge- nharia e de Enfermagem que ainda 0 fazem. 10 Também recebemos dadot da UFBa, que ndo foram com- parados aoa demaie, por ado estarcm separados por car- Feiras, Somoa grates aos ofganismos remponsiveis nestes ados, aque tho gentilmente atenderam #0 oso podido, 87 GRAFICA 2 — PORCENTAGEM DE MULHERES ENTRE OS CANDIDATOS AOS VESTIBULARES DO CESCEM, CESCEA E MAPOFEI — S40 PAULO — 1975. z be TE z CEO a Ne eR ST ces og aca sie eeeg me Em primeiro lugar, 6 dbvio que So Paulo — _altas — possivelmente atraem uma clientela bem como Estado mais desenvolvido — poderia apresen- tar caracteristicas culturais que 0 tornariam pouco representative dos demais Estados brasileiros, Em segundo lugar, os dados de Sto Paulo referem-se a candidatos ao vestibular, e nfo a alunos efetiva- mente matriculados, e qualquer varidvel que afete Giferentemente os sexos, quanto ao comparecimento 80 exame ou quanto & taxa de aprovacto, deverd diminuir a semethanga entre essas distribuigées. Em terceito lugar, os dados de Sio Paulo referem-se ‘208 exames do Cescem, Cescea e Mapofei, entidades ‘que realizam exames unificados para a grande maio- la das instituledes ptiblicas do Estado, mas que abrangem apenas pequena parcela das esoolas par- tlculares. Essa talvez seja a diferenca mais impor- tante pols, em 1968, 63% dos estudantes paulistas cursavam escolas particulares (Pastore, 1972). Grat de parte dessas escolas — dispondo de menores re- cursos e cobrando taxas de matricula bastante LA poreentagem de professores Ineionando em tempo inte- ‘aru, por exemplo, era de 42% nas eacolas piblieas © Se naw partioulares (Pastore, 187), 58 diferente, tanto no que diz respeito & origem séclo- econdmica quanto &s aspiragdes intelectuais, da que ‘busca as escolas publicas. Em quarto lugar, ha a diferenea de datas, pois os dados de Sao Paulo re- ferem-se a 1975, e um perfodo de 4 anos poderia representar uma mudanea considerdvel, jd que a participagio da mulher no ensino superior vem aumentando rapidamente nos wltimos tempos, em- bora como vimos anteriormente “plus ca change, plus cest 1a méme chose”. Com essas observagdes em mente, notamos que, fem todas as carreiras para as quais podemos com- parar as porcentagens da Tabela 3 ¢ do Gréfico 2, essas sio matores para as vestibulandas de Sio Paulo. Mas a magnitude dessas diferengas 6 menor Justamente nas carreiras onde a porcentagem de mulheres é mais baixa: Engenharia, Agronomia, Ad~ ministracéo ¢ Economia. Se Sio Paulo representar ‘a “tendéncia do futuro”, as diferengas entre os graus de participacio da mulher nas varias carreiras ten- derfo a aumentar, e nfio a diminulr. E esses cursos onde a porcentagem de mulheres & pequena e au- FUNDAQAO CARLOS CHAGAS menta mais lentamente nfio slo cursos pouco im- portantes no quadro geral do ensino superior bra- sileiro. Pelo contrério, congregam uma parcela cor siderdvel dos candidatos de sexo masculino. No Gré- fico 2, as larguras das barras do histograma so pro- porelonals aos totais de candidatos que optam por cada carreira, Dessa forma, tem-se uma idéia apro- ximada da distribuigdo total dos candidates, por sexo e por carreira, DIFERENGAS DENTRO DAS CARREIRAS No Grifico 2, as carreiras constituem agrupa- ‘mentos de varias escolas, que talvez atralam clien- telas distintas, A andlise desses dados desagregados ‘mostra algumas diferengas entre 0s sexos, quanto ‘a0 perfodo do funclonamento do curso, & localizacso da escola € a0 seu prestigio. Diurno Noturno Invarlavelmente, as mulheres sio mais nume- rosas entre os candidatos aos cursos diurnos. Essa tendénela ocorre em todas as earreiras que possuem cursos nos dois periodos. Administracio, Economia, Direito, Comunteagées, Citnelas Biolégicas, Letras, Pedagogia, Geografia, Ciéncias Sociais, Histéria, Fi- losofia © Turismo. As diferengas de porcentagens slo, em geral, consideréveis, chegando, por vezes, a atingir mals do dobro: em Economia, a porcenta- ‘gem de mulheres entre os candidatos 6 41% no diur- no e 20% no noturno. A primeira vista, esses dados mostram a mulher numa posigéo relativamente favorével. 1 provavel ‘que as condigdes de estudo em cursos diurnos seJam melhores que as existentes nos cursos noturnos, ‘onde alunos comparecem cansados as aulas, para as ‘quais no dispéem de tempo para se preparar du- ante o dla, uma vez que a grande maioria trabalha. No entanto, & preciso lembrar que as vantagens tedricas dos cursos diurnos nem sempre sfo devi- damente aproveitadas, de tal forma que 0 tempo disponivel nfo 6 utilizado da manefra mals produ- tiva, em vista da auséncla de condigées que 0 per- mitam. Se a escola nfo disp6e de biblioteca, se 0 programa de estudos nfo solicita dos alunos mais empenho na realizacéo de atividades utels ao seu desenvolvimento intelectual e profissional, sua mator dispontbilidade de tempo é intetramente desperdi- sada, podendo tomar-se até uma desvantagem em Telagio aos estudantes do noturno, cuja experiéncia de trabalho pode — em determinadas condigses — ser um complemento & formagio profissional, muitas vezes deficiente, que recebem na escola. Além disso, 6 prociso lembrar que a ausénoia da mulher em cursos noturnos nio representa so- mente 0 resultado de sua “livre decisio” em funcio da qualidade dos cursos mas também a influéncia de CADERNOS DE PESQUISA/15 diversas fontes de press#o social que podem atuar direta ou indiretamente. Em certos metos, hé a influéneia de familias que podem ainda nfo ver com bons olhos a independéncia da jovem que sai sozi- nha todas as noites. Além disso, ha consideragdes, objetivas quanto & sua seguranca, Dessa forma, a auséneia das mulheres dos cursos noturnos pode resultar de séria restric & sua liberdade de opgées. Se precisa trabathar durante o dia, e nfo dispde de recursos para enfrentar os obstdculos que se ante poem a uma mulher para a realizago de um curso noturno, ficeré sem cursar uma faculdade. Se quer estudar e procura, ao mesmo tempo, ter experiéncia de trabalho, por achar que a escola ndo solicita devidamente seu tempo, suas oportunidades serio muito mais reduzidas nfo s6 por ser mulher, mas também por ser dificilimo encontrar oportunidade de trabalho que se harmonize com a realizagio de um curso diuno. E ainda que nfo precise nem quelra trabalhar, sua gama de alternativas de escolas, seré restrita &s que tém cursos diumos. Se nio puder freqiientar uma boa escola diurna, pode se ‘ver na contingéneia de ter de optar por outra escola diurna, cujo nivel de ensino seja inferior ao de um curso noturno, pelo qual teria optado, nfo fosse mulher. Capitat e Interior De um modo geral, as mulheres séio mais nume- rosas nos cursos da capital que do interior. Isto ovorre nas carreiras de Veterinéria, Medicina e Odon- tologia. Naturalmente, a primeira explicacéo é a de que as mocas da capital, mais expostas aos estilos de vida urbanos e fs influéncias de uma cultura cosmopolita, seriam mais livres dos esterestipos tradiclonais. Mas, além disso, hd possivelmente um outro fator: a menor mobilidade das mulheres. Tradiclonalmente, a mobilidade entre os estudantes de curso superior era pequena e ocorria apenas no sentido interior-capital, ou sea, partindo de locali- dades onde inexistiam faculdades ¢ dirigindo-se para onde elas se localizavam. Nos ultimos tempos, grande nimero de instituigées foram criadas no interior. Além disso, 2 intensificagio da concorrén- cia fez com que a mobllidade se estendesse a0s estudantes que residem em locals onde existem esco- las, mas que passam a buscar outras mais distantes, seja como alternativa no caso de nfo conseguirem vagas nas escolas mais proximas (vestibulares mil- tiplos), seja como tentativa whica quando conside- ram que sua probabilidade de admissio as primeiras é muito pequena. Isto produziu uma mudanga no quadro da mobilidade, que passou a ser mais comum entre os estudantes orlundos da capital que do inte- rior. Bianchi e Pastore (Tabela 2.1, 1972) mostram que, do total de estudantes do Estado de Sao Paulo, 59 36% dos estudantes méveis e 57% dos estivels estio na Grande Sao Paulo. Os dados daqueles autores também permitem concluir que a mobilidade 6 mais ‘uma caracteristica do sexo masculino do que do fe- minino: do total de estudantes méveis, 61% so homens. Assim, as mocas da capital que escolhem certas carreiras estio multo mais presas que seus ‘colegas masculinos as escolas da capital- Os mecanismos que explicam essa restrigfo & sua Uberdade de opcdo so semelhantes Aqueles que apontamos em relagdo aos cursos noturnos. Refe- rem-se, principalmente, aos valores tradicionals que fazem a familia encarar com recelo a separagdo da filha “desprotegida”, enquanto que o distanciamento do rapaz pode ser visto como boa oportunidade para amadurecimento e aquisi¢ao de independéncia, qua- Uidades consideradas desejéveis num homem, mas perfeitamente dispensiveis numa mulher. Pode ser ‘também que as filhas adolescentes sejam mais im- prescindiveis dentro da famflia que os filhos. Isto Porque, na diviséo tradicional dos papéis, 0 homem contribui para o sustento financeiro ¢ a mulher para ‘a manutenco séclo-emocional do grupo familiar e grande parte dos candidatos do Cescem, Cescea e ‘Mapofei ainda nfo aufere rendimentos. Os que ‘trabatham possivelmente tém tantas (ou mais) opor- ‘tunidades de fazé-lo na capital quantas em sua cidade de origem, quando a familia mora no interior. ‘J no caso da moga — ainda quando sua ajuda nos trabalhos domésticos seJa desprezivel — seu papel afetivo pode ser importante. Ela é muitas vezes con- siderada 2 “companhia da mle", que acaba achando que o custo emocional de sua auséneia seria maior que a de um filho homem. Também 6 possivel que ‘as despesas necessirias & manutengio de um filho fora de casa, que multas vezes implicam em pesados sacrificios no orgamento doméstico, sejam mais fa- cllmente aceitas quando se trata de um filho homem — para quem a carreira escolhida e a qualidade da escola sfo essenciais para a ascensfio social — do que para a filha mulher — para quem 0 curso su- perior talvez seja encarado como mero complemento & formaco geral, ou como “garantia”, se eventual mente “precisar trabalhar". Também é plausivel supor que, para as filhas, seJam malores as dificul- dades objetivas para a mudanga de cidade, pois 6 Pequeno 0 niimero de acomodagles que oferecem um ambiente de acordo com as exigénoias de con- forto e seguranca, certamente mais altas para as filhas do que para os filhos. O que, evidentemente, implica também em matores gastos. H claro que essas generalizagées podem nilo se aplicar a muitas familias, mas cremos nfo Incorrer em grande erro ao afirmar que esse tipo de consi- deragées ainda exerce influéncla pondersvel no sentido de — direta ou indiretamente — levar a ‘moga a optar tinica e exclusivamente por escolas da 60 cldade onde reside. Espectalmente no caso dos can- didatos tipleos do Cescem, Cescoa e Mapof adolescentes de classe média, que acabam de con- cuir a escola secundaria. No caso da moca da capital, essa restriglio nio 6 muito grave pois as escolas all localizadas ofere~ cem ampla gama de alternativas, tanto no que diz Tespeito ao tipo de carreira & qual conduzem quanto a0 grau de competicéo das diversas escolas de uma mesma carreira, O mesmo néo se pode afirmar em relagéo &S cidades do interior onde, de um modo geral, a liberdade de escolha é bem menor, Outras diferencas Os dados também nos mostram que a porcen- tagem de mulheres 6 maior no Cescea do que no Cescem e no Mapofei em quase todas as carrel- ras para as quais mais de uma das entidades faz vestibular: Quimica, Fisica, Matemties, Cléneias Bloldgicas, Farmicia e Bioquimica e Psicologia. ‘Nessas dreas, as escolas mais antigas e as que fazem parte de universidades, fazem 0 exame com o Cescem e 0 Mapofel. Se prestigio da escola esta associado & antiguidade de criaglo e & integracéo em universidade, podemos afirmar que 0s rapazes so mals numerosos nas escolas de ator prestigio, especialmente nessas carreiras que esto se “femini- zando” rapldamente. Esse tendénela no ocorreu em carreiras predominantemente masculinas: Geologia e Agronomia, onde a poreentagem de mulheres é maior no Cescem e no Mapofel do que mo Cescea. Pa- rece que individuos atipicos quanto & escolha de carretra (homens que escolhem earreiras onde predo- minam as mulheres ¢ vice-versa) tendem a procurar as escolas de maior prestigio dentro da carreira escolhids As carreiras com menos de 1.000 candidatos tam- bém apresentam grandes variagées entre si. Na rea de Ciéncias Exatas, nos cursos de Geologia, a Porcentagem de mulheres entre os candidatos (16 © 23% para o Cescea e o Mapofel, respectiva- mente) 6 bem menor que nos de Quimica ou mesmo de Fisica. Um reprocessamento dos dados de Bei- siegel (1969, 1971) mostra que, entre os formados em Fisica e Quimica na USP, a probabllidade de traba- thar em empresas industriais ¢ muito menor para as mulheres do que para os homens. Ora, o mercado de trabalho para Geologia provavelmente 6 muito ‘mais dirigido para as empresas do que 0s de Fisica © Quimica, que incluem também a alternativa do magistérlo secundérlo. Neste sentido, nfo seria a natureza do curso o prinefpal tator a desencorajar ‘as candidatas, mas as restrigGes quanto as oportu- nidades de trabalho. Isto parece especialmente plau- sivel neste momento em que estamos escrevendo, quando os jomnais estio dando 0 devido destaque FUNDACAO CARLOS CHAGAS a0 fato constrangedor de que até a Petrobrés — empresa estatal que se esperaria promovesse a igual- dade de oportunidades — no aceita gedlogas e qui- micas em seu quadro de técnicos. Na drea de Cién- clas Humanas, Pedagogia ¢ 0 curso mais “feminiza~ do”: até para os cursos noturnos, hd mais de 90% de mulheres. Segue-se 0 curso de turismo, com 92% no dlurno e 79% no noturno. Dentre os cursos dessa rea, Filosofia ¢ onde a participacio feminina ¢ menor: 72% no diurno e 53% no noturno. Na area de Ciéneias Biolégicas, mais de 95% dos candidates a Economia Doméstica, Nutrigho ¢ Especlalidades Paramédicas so mulheres. Educacdo Fisica é 0 curso menos “feminizado” dessa rea: 11% de mulheres, Nas Escolas de Engenharia, nfo se nota grande varlagdo entre 0s ramos: em quase todos, a porcen- tagem de mulheres 6 bem batxa. As tnicas excecdes notéveis sio Engenharia Quimica (41%) e Enge- nharia de Alimentos, de Campinas (67%). OUTROS ESTADOS Os dados de Sio Paulo nos permitiram uma ané- lise detathada das opeées das vestibulandes. Em que medida, porém, essa andlise pode ser legitimamente apticada aos demais Fstados do Pals? A Tabela 6 ‘permite observar semelhangas e diferengas com ins- tituigdes de outros Estados. Com excectio do Maranhio, a porcentagem de mulheres no total de candidatos 6 praticamente a mesma em todos os Estados considerados, quase atingindo 50%. A elevada porcentagem do Maranhio pode surpreender & primeira vista, mas é facilmente compreensivel se levarmos em conta a inexisténcia, naquele estado, de escolas de Engenharia, Agrono- mia, Administrago e Veterindria, justamente aque- las nas quais a participagio masculina costuma ser maior. # provvel que muitos dos rapazes que de- sejam seguir essas carreiras dirijam-se para outras ‘TABELA 6 — PORCENTAGEM DE MULHERES ENTRE OS CANDIDATOS AO VESTIBULAR. 1975. SAO PAULO RIO DE MINAS MARANHAO R. GRANDE Cescem, JANEIRO GERAIS ‘DO SUL Cescea Cesgranrio UFMG © Fund.Univ.do URFGS Mapofet ‘Maranhdo ‘unificado ‘Engenharia 9 n 2 - 9 Agronomia 1“ “ - - a Administrago 2 2 30 5 26 Economia 6 31 Ey 2 3 Veterinéria 38 29 8 - 37 Carr, de Ciéncias Exatas com menos de de 1.000 candidatos 38 at 32 36 28 Medicina ry ry a 9 a Direito 49 a“ 39 a1 a1 Arquitetura Bt 58 66 - 58 Odontologia 8 n 53 ot ‘Matematica 6 a2 2 20 a1 Comuntcagées 0 e 0 % 6 Farmécia e Farm. Bioquimica 6 8T 6 CF 80 Ciencias Biol6gicas 1 65 n = 2 Carr. de Ciéncias Humanas com menos de 1.000 candidatos ” n cy 86 5 Carr. da Area Médica com menos de 1.000 candidatos 0 n 6 - 65 Letras a1 ar 86 88 92 Psicologia 2 a 8 - aT Enfermagem ” 85 93 98 2 ‘TOTAL 6 5 a 59 6 NOTA: As carreiras consideradas flo aquelar conatanter do Grifico 2 Para Rlo de Janeiro, Mfinas Gerais, Maranhto ¢ Ro Grande do Sul, hd earreitas ineluidas no total mas no conaideradas fsoladamente por no corresponderem as catego- Flag especificadas no Gratic. CADERNOS DE PESQUISA/I5 61 cidades, diminuindo a representago masculina no total dos candidates da Fundac&o Universidade do Maranhéo. A partir dos dados dos outros Estados, poderiamos esperar uma diminuicéo muito mals Grdstica pols essas escolas “masculinas” costumam atrair grande nimero de alunos. No entanto, 6 pro- vével que aqueles que no tém condigSes de se trans- ferir para outras localldades acabem optando por ‘uma das alternativas existentes, 0 que faz com que a poreentagem de rapazes em certas carrelras como Direito, por exemplo, seja malor do que nos outros Estados. De um modo geral, nas carreiras em que a pre- Ponderfncia de um dos sexos é mais marcante — as carreiras altamente “feminizadas” ou altamente mas- culinizadas — observa-se maior consisténcla de Es tado para Estado. Entre as carrelras nas quais hé ‘um certo equllibrio entre os dois sexos, algumas (Me- dicina, por exemplo) apresentam alta consisténcia enquanto outras mostram grande variacio, sendo ‘Matemética 0 caso extremo: a porcentagem de mu- heres varia de 20, no Maranhilo, a 81 no Rio Grande do Sul. Confirmando a grande semelhanca observada no total, nenhum Estado se apresenta com porcentagens ‘consistentemente maiores (ou menores) que os de- ‘mais, em todas as carreiras. Assim, por exemplo, a ‘menor proporcio de mulheres em Economia é a de ‘Sao Paulo; em Odontologia e Farmécia, 6 a do Rio de Janeiro; em Veterinéria, 6 a de Minas Gerais. Apesar dessas variagées, nota-se grande unifor- midade no padréo geral de ordenagto das carreiras segundo o grau de “feminizagéo”. H4 uma clara ten- déncia para as carreiras mais “masculinas” num Es- tado serem também as mais masculinas nos demais. OUTROS PAISES No pretendemos realizar um estudo compara- tivo exaustivo, mas alguns dados apresentados a seguir, a titulo de exemplo, parecem indicat que as principals tendéncias observadas no Brasil so co- muns a outros paises: aumento gradativo de parti- ‘cipagéo da mulher no ensino superior como um todo, concentragio em carreiras tradiclonalmente consideradas como femininas, especialmente o ma- glstério, aumento, embora menor e mais recente, da procura de carreiras masculinas, Em 1910, a proporcio de mulheres estudando no ensino superior, no mundo, era 38%, segundo estima- tiva da UNESCO (CEST, 1974). A situagdo mais favo- rével encontrava-se na Europa Ocidental e na Unifio Soviética, que atingiram 42% em 1968. Outros dados fornecidos por aquele organismo registram 40% na 62 icin t a: tcc] América do Norte, 93% na América Latina, 30% na Oceania, 28% na Asia, 26% na Africa e 23% nos Paises Arabes. Como no Brasil, em todas as regiGes do mundo, as porcentagens de 1970 representa vam aumentos em relagdo & década anterior. Nos Estados Unidos hé intimeros estudos sobre © assunto. Talvez 0 mais completo seja o da Car- negie Comission on Higher Education, que publicou elatério com recomendagées sobre oportunidades para as mulheres no ensino superior (CCHE, 1973). Este documento fol baseado num estudo multo cul- dadoso de amplo conjunto de dados sobre a situagio tual, suas origens e suas perspectivas para o futuro. ‘No quadro geral de escolha de carretras, as universi- ‘térias americanas concentram-se nas carreiras tra- dicionalmente femininas, principalmente em Educa- ao (36% das universitérias), Artes e Humantdades (26%) © Ciencias Sociais (17%), dreas nas quais grande parte dos alunos destinam-se ao magistério. De fato, nas wltimas décadas, as professoras primé- rias e secundérias tém constituido cerea de metade das mulheres com diploma de curso superior que esto trabalhando. (Enquanto os professores homens representam apenas 10% dos formandos em cursos superiores). Assim como no Brasil, a concentraglo das uni- versitirias americanas nos cursos de formago do ‘magistério aumentou extraordinariamente em deter- minado perfodo quando também se registrou noté- vel aumento de matriculas nas escolas primérias ¢ secunddrlas. Na drea de Educacio, por exemplo, (© aumento foi de 24% em 1948 para 36% em 1970. No entanto, depois de 1970, observa-se uma queda Drusea, provavelmente em fungio da retragig do mercado de trabalho para professores e das mu- dangas nas atitudes em relagéo & profissionalizacao da mulher. As oportunidades de trabalho no magis- térlo nos Estados Unidos esto diminuindo porque, 20 contrério do Brasil, a expanséo dessas oportuni- dades nfio se devia & extensfio da escolarizacio ele- mentar e média a mais amplas camadas da socle- ade, uma vez que a escolaridade universal 4 havia sido quase atingida hé muito tempo. Essa expansio fol temporéria, sto 6, fol seguida por uma retragio nos wltimos tempos, por ter sido mals o reflexo do ‘erescimento vegetativo da populacio escolar, ocasio~ nado pelo “baby-boom” do pés-guerra. A diminuigio da procura dos cursos de prepara- ‘Go 20 magistério pode refletir, além das alteragdes do mercado de trabalho, mudancas de atitudes que ‘vem ooorrendo nos iiltimos anos na sociedade ame- ricana. Ha uma tendéncia muito recente nfio s6 para grande aumento da proporcio de mulheres interes- FUNDAGAO CARLOS CHAGAS sadas em carrelras tradicionalmente_maseulinas ‘mas também para dramética dimimuicdo da poreen- tagem de alunas que no pretendem trabalhar depois, de formadas. Na Franca, a porcentagem de mulheres entre os estudantes universitérios aumentou de 3% em 1900 para 41% em 1960, 0 que Bourdieu e Passeron (1964) consideram “verdadelra mutaglo cultural”. Mas 1, como no Brasil, hé diferengas marcantes entre as reas. Em 1961, as mulheres constituiam apenas 26% dos estudantes de Medicina e 29% dos estudantes de Direito. Aqueles autores mostram que a universitaria francesa, qualquer que seja sua classe social mas especialmente a das classes balxas, esta “condenada” fs faculdades que preparam para o magistério. S6 nas Faculdades de Letras concentravam-se 49% das filhas de profissionais liberais e, no outro extremo da hierarquia social, 66% das raras filhas de assala~ riados agricolas que chegavam A universidade (dados de 1961), B, como em nosso pais, essa concentracio sO tem aumentado, pois as alunas das Faculdades de Letras representavam 41% em 1995 ¢ 48% em 1961 Esses dados gerais revelam nftida associacio entre grau de desenvolvimento econdmico ¢ a taxa de participagdo da mulher no ensino superior. A questo, todavia, transcende 0 aspecto econdmico quando se observa que o mesmo padréo de distri- Duigio das mulheres pelas carreiras universitérias observado no Brasil repete-se em paises desenvol- vidos. © SUCESSO DAS CANDIDATAS BO DESEMPENHO NAS PROVAS No presente estudo nfio nos interessa a ques- to das diferencas de “potencial inato” — cuja me- Gida objetiva impossivel — mas sim a das habill- dades desenvolvidas pelos candidatos ao vestibular, através do conjunto total de experiéneias a que estiveram expostos durante a infaneia e a adolescén- cla. Assim, a questo que realmente interessa por suas implicag6es priticas é: as jovens que enfrentam o vestibular esto concorrendo em igualdade de con- digdes com seus colegas masculinos? Suas chances de serem classificadas so as mesmas que as deles? Esto elas igualmente preparadas? Essas sflo questes da mais alta importancla pots se a resposta encontrada for negativa, se se consta- tarem diferengas quanto ao grau de preparo, a igual- 12 Ainda assim, a poreentagem de mulheres entre os alunos de alguns cursos ainda ¢ muito balsa. Por exemplo, em Medicina, fol estimada om 17% em 1972. (Zuckerman © coe, 3975, CADERNOS DE PESQUISA/I5, dade de oportunidades edueacionais — objetivo fun- damental da democratizagio do ensino — permane- cerd apenas no nivel tedrico enquanto nfo se Identi- ficarem as causas das diferengas encontradas a fim de garantir a sua eliminacio. CANDIDATAS E CLASSIFICADAS Uma forma de investigar se mogas e rapazes obtém igual sucesso no vestibular é verificar se as candidatas slo classificadas na mesma proporcao em que se candidatam. Estes dados estio na Tabela 7, onde observamos que, no vestibular de Séo Paulo em 1075, a porcentagem de classificadas é menor que a de candidatas, na grande maioria das carreiras xm algumas carreiras a diferenga é pequena, em outras, bem grandes, mas somente em trés a dire- go dessa diferenga 6 favoravel ao sexo feminino (poreentagem de classifieadas maior que a de candi- @atas), Fazendo idéntica comparagéo em outros Es- tados, em varlos anos, nfo se observou tio grande regularidade*. E dessa variaglio nfio emergiu ne- nhum padrao definido que pudesse ser explicado por iferengas entre carrelras ou entre Estados. Um dos motivos dessa variabilidade 6 que a classiticagio depende no somente do desempenho do candidato — que 6 aquilo que nos interessa — mas também do grupo com o qual ele esta concorrendo. E a cons- tituigdio desse grupo depende muito do sistema de opgdes e do sistema de estratificacdo das vagas que, variando muito de instituig&o para instituigéo, BEA nea excepto & @ Blo Grande do Su, onde os dados ‘mostram um padrdo bem semethante «Sto Paulo: a Dorcentagem de classficadas fot inferlor a de candidate fan 8 dos 67 cursos que Integraram o vestibular unit feado, om 1878. Ja em Minas Gerais, o quadro no ve apre- ‘senta claro: dog 9 anos para o8 quis dispomos de dados quo nos permitem comparasto. semelhante, 1970, 1971 4802, « infeioridade fominina 26 6 nitida em 3970, quando registrou-se menor poreentagem do classiticadas em 18 doe 28 cursos da Universidade. No Maranhto, essa snferlo~ Hidado é nitida no vestibular de julho de’ 49t4 (om 19, ior 22 cursos), maa nfo é tio mareante no de Janeiro {1075 (aparece om 35 eurgoa) e aimpleamente nll existiu fem janeiro de 1874 (apareceu em cxatamente metae cursos), Na Bahia, of candidates #30 divididos em apenas 5 areas, A porcentagem de classifiealas ¢ maior que de candidates na area de ciénciaa exatas, em todos 08 {ta anos para os quals dispomoe do dadoa: 1973, 1974 0 AUIS, Nes demeis areas, @ porcentagem ae classificadas 6 menor ou Sguat, em todos of ares. Para o Wo de Janeiro, © Cesgranrio publicon datos do exame de 1874, mas incon fratneias intornas das tabelat apresentadas Jevam 8 Delta de erros de efleslo que tormam errata qualquer Interpretaplo, (Cesgrantio, 187). 63 TABELA 7 — PORCENTAGENS DE MULHERES ENTRE OS CANDIDATOS E OS CLASSIFICADOS NOS VES- TIBULARES DE SAO PAULO — CESCEM, CESCEA E MAPOFEI, 1975, Carreiras Candidatos — Classificados ‘Engenharia (¢) 9 1 (6.521) (3.510) Agronomia (a,b) Mu rt (2.312) © 300) Administrag&o (b) 22 a (2.954) ( 820) Economia (b) 26 mu (3-119) ( 910) Veterinétia (a,b) 38 35 (1.516) (25) ‘Quimica, Geologia e Fisica (b,c) 38 29 2.000) 815) Medicina (a,b) at a2 «a1.-808) (685) Direito (b) 49 43 2.262) © 450) Arquitetura (b) ot 33 (2.414) (150) Odontologia (a, b) 62 58 (4.665) (553) Cléncias Matemiéticas (b,c) 6 41 (1.992) 925) Comunicagées (b) 0 56 (4.028) 149) Farmacia ¢ Farmécia Bioquimica (a,b) 6 ™ (2-198) © 315) Ciéncias Bioldgicas (a, b) 7 6 (2.697) (992) Pedagogia, Geogratia, C. Sociais, Histéria, Filoso- fia e Turismo (b) td es 2-705) (2.462) Ec, Domést., Nutrigiio, Paramédicas, Ed. Fisica (a) 90 86 (2.086) © 330) Letras (b) a1 82 (1.890) 486) Psicologia (a,b) 92 90 (1.913) © 190) Enfermagem (a) a” 100 (1.372) © 200) 64 NOTA: a = Cescem; b = Cescea; ¢ ‘Mapotei FUNDAGAO CARLOS CHAGAS tomam dificeis de interpretar as diferencas de por- centagens da Tabela 7™. Assim, uma forma mais precisa de andlise do desempenho no vestibular seré a comparago das médias obtidas nas provas, NOTAS OBTIDAS NAS PROVAS A respeito de resultados obtidos nas provas, dls- pomos de dados dos candidatos de 1975 do Cescem de So Paulo e do Cesgranrio do Rio de Janeiro. MA comparagto dn porcentagem de miutheres entre os can ‘dates entre oa elassfiendos #6 werla una boa medida 440 grau de sucesco de cada um dos sexon se of mesmo? candldatos concorressem 35 mesmas vagaa. Neste caso, ‘uma poreentagam menor entre cs classiicadns do. ave entre of candidator seria clara indicagio de desempento plor mos cxames, No entanto, dois fatores contribuein pera diffcultar @ Interpretagdo'deasae diferengea de por centagem, Him primeira lugar, as vazas podem estar etra- Uitleadas de tal forma que determinado eonjunto de ean Aldatos aso concortm ao mesmo consunto de vagas. Por fexemplo, 0 caso de Edueagto Pisiea no Cesgranrio, onde (© niimero do vagas para cada saxo ¢ fixo: 80%. "Como, fentre og candidator, aa mulheres (N= 351) ao menos hhumeroses que oz homens (N= 41), porcentagem d= mulheres entre os clessifieados (60%) gent sempre maior ‘que a poreentagem entre om candidaton (49%), Indepen- entemente do desempenho naa provas, i posaivel que Slguns homens ato clamsitiendos tenham tide, naz provas notas mets altas que algumas mulheres clatiticcas, Rese lupo de problema nfo surse apenas quando o crtério de fstratifieagéo das vagas € 0 proprio sexo. Basta que sea Jum critério assoclado porcentagem de eandidator de fala aaxo.” i 9 azo do. Curso de Direto em So. Paulo, fondo hi 225 vagas para oa candidates do diuino ¢ 226 para (08 do noturmo, Como hé menos condidatos no aiurno (X= 888) que no notumo (N — 1A0G), a8 0 cra de preparo doe dois grupos for © meso, alguns candidates ‘uo elasaificedos no notarno eatardo. melhor prepsados ‘que outros clasificados lo diurno, Una vox que a poretn fagem de multeres 6 maior no diumo. é provével ave alguns homens ngo sejam classificadas, embors. abtentiam notas mais altas que mulheres classificedas ‘no diurao, ‘A dificuldade de interpretagio das diferences de. yor~ ccontngem de mulheres entre candidatos © clasificados po devia ser resolvida so Uvéssemon scexan aoe dedoa de cada strato. 0 problema seria sumariar o# dadox de varias Instituigdes, porque cada uma adota um critério de estra- titlagto diferente ‘Além disso, hé um segundo fator que tara us porcen- gens difieeis do compara. % que As veaes ue vagas ni estio abertes epenar aon “eondidatoa de tal forma, qu fentre os classifieades, aparecerfo infvidues que no esta. ‘vam entre 08 “randidatos". Isto & comum quando sit ima de opgéee classifies of candidatos Independentemente da ondem do opgie, mae nas eatatisticas 26 sto coulados ‘como “eandidates” «uma carreira aquelea que a indica ram como 1¥ opato. #8 » e1zo da Bapotei, por exemnplo, To ‘memos Geolozia, Dos candidates (que a indicaram como 4 opcto) 28% cram mulheres, Dos 60 classitieades, apenas 20% oram mulheres, A comparagio dessas duas poreente ‘gens poderia dar a impressio que a= muthorea foram elt sificadas ein menor proporeto due oa homens, No entanto, apenas £4 dos elassfieados 4 haviaminieado. em 10 foncie , destes, 29% orem mulheres, Portanto, a mit heres que indicaram Geologia como 3¢ oped forum clas scadas em maior proporgio que o8 omens ona 1" opto fra Geologla, CADERNOS DE PESQUISA/I5 Da populagéo total de candidatos do Cescem — 1975, fot retirada uma amostra aleatéria de 10%, para a qual foram computadas as médias obtidas por cada sexo em cada prova. Encontraram-se di- ferengas significativas favoraveis aos rapazes em Biologia, Quimica, Fisica, Matemstica e Estudos So- ciais. AS mogas obtiveram média significativamente superior em Comunicac&o, Em Inglés, a diferenca observada em direcéo a um desempenho melhor por parte das candidatas no chegou a aleancar signifi- Poder-seia super que as mogas obteriam médias ‘mais baixas por serem mals numerosas nas carrel- ras menos concorridas. Parece plausivel pensar que pessoas que se candidatam a carreiras onde a rela clo candidato-vaga é baixa precisem empenhar-se ‘menos na preparagio para o exame, ou que as pessoas menos preparadas optam pelas carrelras de menor concorréncla. ¥ interessante, portanto, exa- minar 0 desempenho dos dois sexos em cada carreira, © que fol felto na Tabela 8 Como se pode verificar, existem difereneas siste- miiticas entre as carreiras: independentemente das aiferengas nos pesos atribuides a cada prova entre as vérlas carreiras, hi uma forte tendéncia no sentido de que, se numa determinada prova a mé- dia dos candidatos de certa carreira 6 @ mals alta, quase sempre 0 mesmo ocorre nas demais provas. sso pode ser observado quando se examina a ordem deerescente das médias nas colunas de cada prova da Tabela 8 Desse modo, a alta correlagao entre 0 resultados das provas, que usualmente se observa entre Individuos, manifesta-se também quando se consideram as médias dos grupos de individuos se- gundo a carreira pela qual optaram *. Entretanto, hé dois pontos que merecem des- taque na Tabela 8 Em primeiro lugar, a ordenacho entre as carreiras, feita a partir da ordem decres- cente das médias, no corresponde exatamente Aquela que seria de se esperar se 0 critério fosse 0 grau de concorréncia, conforme se pode observar pelo total de candidatos a cada carreira. Bm segundo lugar, independentemente de qualquer varlacio entre as carreiras, verifica-se com surprendente regulari- dade a inferioridade relativa das mocas, em quase todas as provas de quase todas as carreiras. Uma ‘inica excegfo a esse padrfo aparece nos resultados 35 Ao dnterprelar essa tabeln deve-se ter 0 culdado de nso ‘comparer magnitudes de diferongas entre provas, porque fs vatlineles das provas nfo slo iguain. Assim, por exem- plo, entre om candidstos de Beileina, a. ruporioridate azeulina em Estudos Soclais (5 pontos) nko & malor do ‘que em Matemdticn (2 pontos). Da mesma forma, as magnitudes das diferengas da Tabela 8 milo sio compa rivela da da Tabela & 65 TABELA § — MEDIAS DOS ESCORES BRUTOS DE CADA PROVA DO VESTIBULAR-CESCEM/1975, SE. GUNDO O SEXO DOS CANDIDATOS E A CARREIRA PELA QUAL OPTARAM! Biologie Quimica __Flaica __‘Matomdtioa ‘Ret Sociale _nglés Comunicaro —-N» de carreina Wasc. Fom. Mase. Fem. Mase. Fem. ase. Pom aoe. Pom Mase. Fem. Mase Fem, condidatow Medicina wo WT uM 9 6 oT 1S 42 1S OS (8S (86 soar Biologia Mo 6 I i i 13 13 44 37 Mo 8 8S 1.859 Paramédicas —- 6 -~ 8B — 4 — Bw — % ~ 15 — 3 939 Farmécia 6 6 1 IT 6 1 1 43 38 1S 8 OM aa Odontologia 6M BB 16 i 12 12 «8 33k So 2470 Veterinéria 4B WB WB Bu oo fm 10 1 8 oat Enfermagem -4“ -Pp ~B nu ~ 8 - 2 9 1372 Psicologia. —B —- Rk -p ~u —-8 —B —w 1494 ‘Agronom! Mow 8 IT 15 18 2 18 BT 48 SB AL 1.498 Nutricao —u -u =p (2 -» —- vn ~ 2» 56 Ed. Fisica 2 iw 1 BM mM 8 s 9% 9 1s oT 2 463 eon. Doméstica - 9 =-@ -1 - 0 - 2 — 0 — 8 0 ons. A Amoctra aleatéria de 10% ds populacto, nas easslas onde N < 10, a8 médine foram despreaadas, das mogas que optaram por Agronomla, cujas mé- dias em todas as provas sio superiores as dos ra- Pazes que escolheram essa carreira e, de um modo geral, igual ou superior as médias masculinas de qualquer carreira, Esses dados so sugestivos pois, de todas as carreiras do Cescem, a Agronomia é a que possul menor porcentagem de mulheres tanto entre 0s candidatos como entre os matriculados. Com base nesse critério, trata-se de uma carreira masculina por exceléncia. # bastante provével que as mogas que escolhem essa carreira sejam diferen- ciadas da populagéo escolar feminina em geral. A decisio por um destino profissional discrepante das normas que regulam os papéis sexuais assocta-se, provavelmente, com capacidade e motivacio acima da média. Além disso, a jovem que escothe uma car- reira néo convencional para a mulher superou de algum modo oposicGes mais ou menos ostensivas da parte das pessoas significativas com quem convive e deve perceber a si mesma como capas de enfrentar os obstdculos futuros que, provavelmente, encon- traré para sua plena realizacdo profissional. K tam- ém 6 possivel que, ao contrério, essas jovens ce ori- ginem de ambientes socials nos quais imperam va- lores mais inovadores quanto ao papel da mulher, 0 que nfio deixa de diferencié-las de suas colegas em eral. A Inferioridade de desempenho das mulheres nio 6 uma simples idiosinerasia das candidatas paulistas. Nas médias da populago total de candidatos das trés dreas do Cesgranrio — 1975, manifesta-se um padrio semelhante conforme se pode constatar na Tabela 9, Portugués e Lingua Estrangelra foram as provas has quais 2s mocas obtiveram médias superiores as 66 dos rapazes nas trés éreas. Ne drea Combimed, as ‘médias femininas foram menores em todas as de- mais provas e, também na rea Consart, as mogas sairam-se pior em todas, exceto em Biologia. £ na rea Concitec que 0 desempenho feminino fot melhor: das nove provas, as candidatas obtiveram médias superiores em cinco: Histéria, Biologia e Quimics, além de Portugués e Lingua Estrangeira. Esse dado chega a ser surpreendente & primeira vista, pois na Combimed e Consart as mulheres constituem respectivamente 58% © 57% dos candi- Gatos, enquanto que na Coneitec elas constituem apenas 19%. Essas mocas, representam uma mi- noria, ou seja, pouco mais de 1/10 do total de mu- Theres que prestaram vestibular pelo Cesgranrio e 6 provavel que também para elas aplique-se a hi- potese que levantamos para as futuras agronomas, ou seja, de que constituem um grupo diferenciado da populaglo feminina que procura o ensino su- perior, CONSISTENCIA COM OUTROS ESTUDOS ‘A explicacio das diferencas observadas no de- sempenho dos dois sexos é 0 problema mais impor~ ‘tante eolocado pelos dados apresentados. Antes, en- ‘tretanto, vale a pena mencionar que essas diferencas apresentam uma consisténcia impressionante com as constatadas em estudos semethantes realizados no Brasil e em outros paises e com os resultados de investigagbes sobre diferencas de sexo em habilida- des intelectuais ou cognitivas. Bessa (1971) aplicou, a uma amostra aleatérla de 10499 estudantes das trés séries do ensino de 2° grau da Guanabara, testes educacionais de Uso da Linguagem Correta, Vocabulirio, Compreensio de FUNDAGAO CARLOS CHAGAS TABELA 9 — MEDIA DOS ESCORES BRUTOS DE CADA PROVA DO VESTIBULAR CESGRANRIO, 1975, SEGUNDO O SEXO DOS CANDIDATOS E A AREA PELA QUAL OPTARAM. (COMBINED (@) COMCITRC (b) _ COMSART (©) Mase. Fem. “Mase. Fem. “Mase. Fem. Portugués 2 162 156 «17 M8186 Lingua Estrangelra 90 99 92 4 82 98 Historia 18 12 1 78 18TH Geogratia 9 97 «3098S osPB 85 «790 8T TST Quimica 96 89082 83D Biologia M5 168 156 164 9 123 Fisica a3 7588S 8H TO Matemética 65 61 TM 69 62 68 ‘TOTAL DE CANDIDATOS 10266 14261 1850843139132 11990 NOTA: ao Area da Citneias Méaico-biolorieas bo Area do Ciencias Exatas Area de Artes @ Cifnclas Humanas Leitura, Estudos Sociais, Matematica, Ciéncias Fisi ‘ease Naturais. As médias para cada sexo, em cada uma das trés séries, revelam melhor desempenho das, mocas apenas em Uso da Linguagem Correta. Em todas as demais provas, os rapazes obtiveram médias superiores. Os dados do exame de madureza em S60 Paulo, no ano de 1970, apresentados por Barroso € Oliveira (1971) revelam a mesma tendéncia, Entre alunos que prestaram madureza de 1° ciclo, a por- centagem de aprovacéo das mulheres fot maior que @ dos homens em Portugués, e inferior nas demais disciplinas: Matemstica, Histérla, Geografia ¢ Cién- clas, sendo que a maior diferenga nas porcentagens de aprovaciio, entre os dois sexos, ocorreu nesta tlti- ma disciplina: 24%. Nos exames de madureza do clclo, as mulheres foram aprovadas em maior pro- oreo que os homens em Portugués, Francés e Filo- sofia, tendo ocorrido 0 contrario em Matemética, ‘Historia, Geogratia, Ciéncias, Inglés e Desenho. Gou- ‘vela (1972), analisando o desempenho dos candidatos 0 cargo de Técnico de Tributacio do Servigo Pir blico Federal (11.163 candidatos das varias regibes do pafs) encontrou porcentagem de aprovagéo maior ‘entre os homens do que entre as mulheres. Os dados da autora nfo permitem verificar as diferencas de sexo no rendimento nas varias provas do concurso, ‘mas mostram que a inferioridade feminina nas taxas de aprovacdo persistiu mesmo quando os candidatos foram divididos segundo 0 curso superior concluido CADERNOS DE PESQUISA/15 ‘Nos Estados Unidos, a literatura a respelto de Aiferengas sexuais em rendimento académico e em habilidades intelectuais 6 vastissima. Maccoby (1966), na revisiio que fez dos estudos nessa area, a4 um balango geral das diferengas encontradas entre os sexos. Entre as habilidades nas quals a maioria das pesquisas verificaram melhor desempe- nho de homens, estfio Raciocinfo Espacial, Racio- ‘efnio Analitico, Solugio de Problemas e Conheci- ‘mento Cientifico. Por outro lado, as habilidades em Flugncla Verbal, Construgéo correta de sentengas, Gramética ¢ Leitura esto entre aquelas nas quais ‘a maioria das investigagdes encontraram diferengas favordvels 20 sexo feminino. Os resultados das in- vvestigag6es revistas por Maccoby (1966) so bastante consistentes com os apresentados por Flanagan (1969). Referindo-se ao Project Talent, que estudow ‘uma amostra extensiva dos alunos de escolas médias norte-amerloanas, Flanagan relata melhor rendi- ‘mento dos meninos em testes de Habilidade Me- cinica, Habilidade Espacial e Rectocinio Aritmético, ¢ melhor rendimento de meninas em Leitura, Lin- guagem, Pontuago, Ortografia, Expressiio Verbal e Cflculo Arltmétice. No que se refere aos candi- datos ao ensino superior, os dados norte-americanos ‘so também semelhantes aos brasileiros. As médias ‘obtidas pelo American College Testing Program em 1906-1967 revelavam melhor desempenho das muthe- res em Inglés, ¢ dos homens em Matemética, Estu- dos Socials e Ciéncias Naturals (CCHE, 1973). 67 s estudos internacionais reallzados pela Inter- national Association for the Evaluation of Educatio- nal Achievement (IEA) revelam diferengas de sexo ‘no mesmo sentido. © primeiro desses estudos, sobre ealizacéo na drea Matemética (Husen, 1967), abran- ge 11 pafses desenvolvidos do mundo ocidental, além do Japio, nos quais foram testadas criangas em diferentes idades. Do total de 38 comparacSes entre os sexos feitas em vérlos grupos etérios nos diferentes patses, apenas duas foram favordveis &s meninas. Embora em alguns casos as médias das ‘meninas de um pais fossem superiores as dos me- ninos de outro, dentro de um mesmo pais os me- ninos obtiveram invariavelmente melhores resul- tados. Na média dos paises, a diferenca favoravel ‘aos meninos, expressa em termos de desvios padréo, aumentou de 0,18 aos 13 anos para 0,43 a0 final do ensing médio, 0 que parece indicar a influénci do ‘Proceso de socializacéo. O segundo estudo da TEA, na rea de Ciéncias Fisicas e Naturais, abrangeu 19 paises, Incluindo-se paises desonvolvidos do mundo ocidental, Japio e alguns paises do terceiro mundo. Nesse estudo avaliou-se 0 desempenho de alunos om trés idades diferentes (10 anos, 14 anos ¢ final da escola média). Como no caso de Matematica, as diferencas entre meninos e meninas de um mesmo pais ocorreram sempre na dirego favordvel aos me- ninos, embora as médias das alunas de um pais pu- dessem, em alguns casos, ser superiores &s dos alunos de outro. Para 0 conjunto de paises estudados, as diferencas entre meninos e meninas, expressas em desvios padrio, foram de 0,23, 046 € 0,69 respec- tivamente para as idades de 10 anos, 14 anos e final do 2° grau, apresentando, portanto, uma forte ten- déncia em aumentar com a idade (Comber e Keeves, 1973). Na drea de Compreensdo de Leiture, na qual a ISA também realizou investigaggo internacional em 15 paises, com criangas de 10 anos, 14 anos e final da escola média, as diferencas de sexo nfo se revelaram to claras quanto em Matemética e Cién- clas (Thorndike, 1973). A hipdtese de que as me- ninas apresentarlam melhores resultados nessa dis- ciplina nio fol confirmada. As correlagbes entre sexo e 0 escore na prova de Comprensio de Leitura foram ora positivas, ora negativas, dependendo do pais e, no geral, muito pequenas. Esse resultado néo 6 de todo surpreendente. Embora exista uma acu- ‘mulagdo de evidéncia, especialmente na literatura norte-americana, mostrando que os meninos progri- 68 dem mais vagarosamente em leitura e apresentam mais dificuldades nessa matéria, esses trabalhos tém também mostrado que isso ocorre especialmente nos primeiros anos de escolaridade. A tendéncia parece ser a de que, a partir da 3* ou 4* série elementar, os meninos superem as dificuldades inicials e a su- perloridade das meninas na rea de compreensio verbal se torne menos marcante (Maccoby, 1968). OUTRAS VARIAVEIS QUE AFETAM © DESEMPENHO sexo 6 apenas uma das varlivels associadas a0 malor ou menor sucesso no vestibular. Outros fa- tores tém influéncia, mais pode: sa em alguns casos, nna determinago dos resultados desse exame. Entre esses fatores podemos destacar 0 nivel sécio-econd- mico da familia, o nivel educacional dos pais, a vida escolar do candidate e o grau de urbanizagéo do local de residéncia. Para os candidates do Cescem, 1975, proce- deu-se & anilise das notes em fungo das inform: ‘e6es constantes do questiondrio de inscri¢fo, 0 que Possibilitou verificar quais variéveis poderiam res- onder pelo desempenho no exame. Os resultados de um modo geral seguiram 0 padrao esperado, e estio sumariados a seguir. Situagéo sécio-econOmica da familia. Neste as- ecto, os indicadores que apresentaram associagio ‘com 0 desempenho foram: 0 nivel de instrugio dos pals — tendem a ter notas mais altas em todas as provas do vestibular 0s candidatos cujos pais e mies tém nfvel de instrugéo mais alto; 0 exercicio de ati- vidade remunerada pelo candidato — os que nio trabalham saem-se melhor em todas as provas; € © nivel de renda da familia — candidatos prove- nientes de familia de renda mais alta tém melhor desempenho. Quanto a esta ultima varlivel, as dif rengas no desempenho dos candidatos 86 sio notadas quando as diferencas de renda séo grandes. No que se refere ao nivel ocupacional dos pais nfo se obser- ‘vou um padrio regular na assoclaglo entre essa va- ridvel e a taxa de aprovagio no vestibular, o que talvez se deva &s dificuldades inerentes & classi- fieagho e ordenagio adequada das ocupagdes. Vida escolar, Os candidates que fizeram 0 co- legial cientifico tiveram notas mais altas em todas fas matérlas, inclusive as humanisticas, 0 que é sur- FUNDAGAO CARLOS CHAGAS

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