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Revista teorica, politica e de informagao N°15 ~ Maio/88_Cz& 200,00 ale Mato Cem Anos de Abolicao Expediente Revista tedrica, politica ¢ de informagéio Maio de 1988- Cz Publicac&o da Editora Anita Garibaldi Ltda. Rua Bororés, 51, 3° andar — Séo Paulo-SP CEP-01320 — Tel. 278-3220 Diretor e Jornalista Respon- savel Joao Amazonas Conselho Editorial Joo Amazonas Rogerio Lustosa José Reinaldo Carvalho Luiz Aparecido Némero Avulso: C2$ 200,00 (inclusive os atrasados} Enviar cheque nominal para Editora Anita Garibaldi Ltda. Atendemos também pelo Reembolso Postal. Composiggo, Montagem, Fotolitos e Impressio Cia. Editora Jorués Rua Cardeal Arcoverde, 2.978 — Pinheiros — Sao Paulo-SP Diagramagao Valéria N. Costa Capa: Gravura_ de Charles White [INDICE O Predestinado Cem Anos de Aboligéo do Escravismo no Brasil Clévis Moura A Autogestao lugoslava Teoria e Pratica Capitalistas Enver Hoxha A Experiéncia Socialista na URSS. Rogério Lustosa Dependéncia Tecnolégica Soberania Nacional Rogério C. Cerqueira Leite (Entrevista a José Reinaldo Carvalho e Isa Trajtengertz) As Diferentes Concepgdes no Movimento Feminista J6 Moraes V.A. Fock, um pensamento materialista e dialético em mecanica quéntica Olival Freire Jr. A Formac&o Profissional dos Trabalhadores Lia Vargas Tiriba O Operdrio em Construcéo Vinicius de Moraes Pagina 1 Pagina 3 Pagina 9 P&gina 20 Pagina 27 Pagina 32 Pagina 38 Pagina 45 Pagina 49 © Predlestiimada izem os idealistas que se uma D pessoa se concenira forte- mente numa idéia esia se transforma em realidade palpavel. A meditagdo leva algum tempo, a moda dos anacoretas, aié se con- verter em algo real. Ao que tudo in- dica o presidente da Republica co- munga desse fetichismo magico. Deve ter pensado tanto em ser presi- dente que acabou acontecendo. Julga-se um predestinado. Foi Deus quem o foi buscar na santa paz da oligarquia familiar maranhense e o trouxe para o Planalto. O Altissimo, parece, desconfiava que ele ndo vi- ria sozinho. Por essa razdo atrelou-o a quem tinha prestigio e experién- cia para o cargo. Ndo fosse isso, nem 4s portas da prefeitura de Bo- decd conseguiria chegar. Afinal, chegou. Sublu, vias fransversas, a rampa do palacio e insialou-se co- modamente. A principio, com um ministério formado por outrem. Ajei- tou-o depois G sua maneira. La esta até hoje despachando ninharias, escrevendo besteiras, criando mo- dismos, administrando o seu reino cobigado por muifos. esta altura do ano de 1988 nado admite deixar a curul presidencial, nem mesmo com a nova Consitituigao promulga- da. Foi Deus quem |ha deu, s6 Deus poderG fird-la. Eram seis anos, ini- cialmente. Suspeitou ser muito, dei- xou por cinco, Quatro anos € o dia- bo que quer. Exorciza, por isso, os maus espiritos sacudindo a cagoula que esparge olor verde-oliva para afugentar os deménios. Demonios jerriveis que ndo o deixam em sosse- go, segundo confessa. gora, pretendem leva-lo ao Senado para responder a in- daga¢ées incémodas. Coisas que dizem respeifo 4 manipulagao de verbas, de contratos, de licita- goes ilicitas. Exasperase com a acusacao de traficancia. Mostra as mdos limpas, bem cuidadas, que toca somente objetos sagrados. Al- guém questiona: e como explicar os rombos, largos e portanto notdrios, na arca da guarda do dinheiro pu- blico? Isto nao 6 com ele. E com os anibal, os funaro, os gartenkraut, gente por ele nomeada que ape- nas fazia o que o predestinado mandava. e me tirarem o mandato de cinco anos, diz o presidente, a liberdade estara morta. Por- que a liberdade sou eu no poder. Langou pressuroso a legenda — li- berdade ou morte. O homem que fala assim de liberdade serviu a di- tadura durante longos anos e mais serviria nao fosse a dita cuja ter che- gado ao fim. No poder, mobilizou fropas nos porttos, nas refinarias de petroleo, na Sidertrgica Nacional para impedir greves pacificas. Agrediu manifestantes em Itaipu. J4 ordenou varias vezes a demissGo de previsics dos servigos publicos, dos Incos oficiais, das empresas do Es- tado. as ndo. é apenas o guardiGo da liberdade. E também o de- mocrata de dezoito quilates. “Ninguém tem sido mais democrata do que eu”, exclamou num relam- borio insuportavel Gs seis da ma- nha. A democracia do presidente 2 esta impregnada de fisiologismo e qutoritarismo. Todo mundo viu a de- mocracia presidencial em a¢ao no dia que a Assembléia Nacional Constituinte ia votar a forma de go- verno e o tempo de mandato. Foi um vale tudo dos infernos. Desde a mobilizagdo de prefeitos, governa- dores, ministros, prédigos em pro- messas e recompensas, até a decla- ragao de porta-voz das Forgas Ar- madas de virar a mesa se ndo fos- sem aprovados o presidencialismo € os cinco anos. ntremenies, anuncia ser o mais toleranie dos governan- tes que o Brasil jG teve. Devem ter-lhe dito que a intolerancia 6 a marca dos homens de visdo esitrei- ta, de esiaiura politica ana. Jusia- mente, como se apresenta e proce- de o presidente. Se alguém contra- tia a sua vontade, as retaliagdes sao imediatas. Tira-lhe as nomea- ¢6es de cargos pUblicos oferecidos m troca de favores politicos, corta- Ihe os créditos nos bancos oficiais, cancela concessdes nas dreas da comunicagao social. Aplica o regi- me de pao e agua. vai em frente, caminhando Esra ras, o abengoado de Deus. JG baieu um recorde: 6 © vice que mais tempo governou. Mas pensa ampliar a faganha nes- sa olimpiada de transi¢do infinda- vel, se a nagao humilhada nao se levantar para gritar-lhe na face: basta de mediocridade, de estupi- dez, de servilismo ante os banquei- Tos internacionais, de desrespeito & vontade do povo. ovate do Bret Ferra Mh Cem anos de abolicao do escravismo no Brasil stamos assinalando © Centenario da Abolicio de Escra- vido no Brasil, fa- termos sido o Ultimo pais do mundo no qual esse tipo de tra- balho foi substituido pela mao- de-obra livre. Essa mudanca tar- dia, quando a prépria escravidao moderna jé era um anacronismo gritante e injustificével, marcou profundamente a estrutura da so- ciedade brasileira, deixando no seu corpo _aderéncias € restos até hoje visiveis. Isto explica, por outro lado, a permanéncia da sua influéncia negativa (nos niveis econdmico e ideolégico) no com- portamento de grandes camadas da sociedade brasileira, especial- mente no seu aparelho de domi Nnagéo politica. Ha, no entanto, por parte dos ntistas sociais brasileiros uma certa vergonha de abordar o pro- blema nesses termos. A escravi- ‘d&o no Brasil, segundo esses es- tudiosos, deverd ser vista como uma instituigao diferente das ou- tras escraviddes modernes ¢ da escravid&o classica da Grécia de Roma. A escravidao brasileira, segundo eles, deveria ser analisa~ da como diferente da escravidao que existiu na América Central, Caribe, Estados Unidos e outras tegides da América do Sul, como Colombia e Peru. (1) 0 indio ¢ posteriormente o ne- gro escravizados teriam até se beneficiado com 0 cativeiro para esses autores. O primeira porque foi cristianizado, e 0 segundo porque, além dessa benesse do cristignismo, foi beneficiado, também, pelo tipo de escravidao que se implantou no Brasil: indul- gente, paternal, conciliadora e p2- triarcal em face da indole do colo- nizador portugués adepto de uma Clévis Moura* politica democratica e miscigena- t6ria, politica que democratizaria as relagdes entre senhores e es- cravos. No entanto, ao contrario do que dizem esses cientistas socieis ttadicionais que desejam neger e/ou escamotear 0 assunto, a es- craviddo no Brasil nada teve de benigna, democratica e cristé Pelo contrario. Milh6es de ho- mens foram transportados com- pulsoriamente das suas terres de origem, na Africa, colocados amontoados em navios negrei- Tos, os tumbeiros|2) ¢ levedos, depois de ferrados com ferro em brasa, para serem vendidos nos entrepostos (mercados) como mercadoria. * Clovis Moura 6 eocidlogo © eseritor, ‘exeminador de Pés-areduecdo de Univer sidade de Sao Paulo, presidente do Inst tuto Brasileiro de Estudos Africanistes & -utor de varios livros sobre o negro @ a es- ‘ravidae no Brasil. Posteriormente, eram conduzi- dos para trabalharem como es- cravos nos engenhos de cana do Nordoste, nas lavras de ouro ou diamantes de Goids ou Minas Ge- rais, nas fazendas de algodéo do Maranhao e nas fazondas de café de S80 Paulo e Rio de Janeiro. Mas, no eram apenas obriga- dos a trabalhar. O regime de tra- balho era o mais odioso possivel. Por outro lado, devemos ver pre- liminarmente em termos quanti- tativos @ importancia da esoravi- d&o negra (a indigena nao seré analisada aqui) para podermos aguilatar sua importancia econd- mica e cultural no processo de formacdo da nossa sociedade, escravidao que teria se iniciado por volta de 1549 até o seu térmi- no em 1888. Segundo fontes que se aproxi- mam da verdade (0 contrabando de negros realizados em grande escala torna todas as estimativas felhas) foram trezidos para o Bra- sil cerca de 8 a 9 milhdes de afri- canos até ser extinto 0 tréfico em 1850. (3) Esse enorme contingente afri- cano foi distribufdo de acordo com os interesses da nossa eco- nomia de exportagéo colonial. Em 1817/8 0 numero total de ha- bitantes do Brasil era de 3.817.000 com 585.000 pardos e pretos livres e 1.728.000 negros escravos. Por outro lado, a sua distribuigao espacial era a seguin- te: 666% no Maranhéo, nas fa- zendas algodoeiras; 42,5% em Goiés, na mineracdo. aurifera; 38% em Mato Grosso; 38% em Alagoas. As médias nas demais regides oscilavam entre 20,3% no Piaui e 32,6% em Séo Paulo. ‘As percentagens minimas acha- vam-se no Rio Grande do Norte, com 12,8%, no Parané, com 17,2% e na Paraiba,com 17,4%. Essa massa escrava disiribuida nacionalmente era submetida 2 todos os tipos de torturas fisicas ‘© morais quando se rebolavam ou por simples capricho do seu se- nhor: mascares de ferro, 0 tron- co, @ gargalheira, 0 libambo, além de acoites publicos no pe- lourinho(@. Suas familias, por sua vez, eram fragmentadas ao ‘sorem 0g seus membros vendidos pata senhores diferentes A mulher negra-escrava era aquela que mais sofria. Transfor- mada em objeto de trabalho era, também, objeto de uso sexual do senhor, nascendo dessas_rela- Ses um enorme ntimero de fi- Ihos bastardos mas escravos, pois © principio do partus ven- trem sequitor estabelecia que os filhos de escravas, mesmo em conseqiiéncia de relagSes sexuais com homens livres, continuavam cativos. Por outro lado, esse prin- cipio proporcionava imensa mor- talidade infantil, ndo s6 pelas condicées em que eram criadas has senzalas, mas também por- que 0 senhor achava mais econ6- mico comprar outro escravo quando ele morria ou ficava inca- pacitado para o trabalho (a vida itil do escravo brasileiro era em média sete anos) do que criar os que nasciam, alimenté-los e tra- té-los até a idade em que seriam rentéveis, Somente com a abol 80 do trafico com a Africa, em 1850, os senhores comecaram a tratar mais humanamente os seus escravos. Isto, porém, durou pouco. Com Lei do Ventre Livre que considerava livres os filhos de mées escravas, em 1871, os se- nhores se desinteressariam por eles, de vez que ndo Ihes perten- ciam mais. escravo, no entanto, n&o aceitava passivamente tal estado de coisas. Revoltava-se constan- temente contra o cativeiro a que estava submetido. O rosario de lutas do negro escravizado contra © estatuto que o oprimia enche todo 0 periodo no qual perdurou © sistema escravista de produ- 80. Depois do Haiti, 0 Brasil ¢ 0 pais no qual ocorreu © maior nu- 3 Prineipios mero de revoltas de escravos, de fugas e de outras formas de ma- nifestacGes antiescravistas por parte do proprio escravo. Além disto, convém notar a participa- ao dos negros [escravos ou li- bertos) nos movimentos que rei- vindicam a nossa Independéncia de Portugal e nas guerrilhas de movimentos mais radicais da ple- be rural, como a Cabanagem, no Estado do Paré (1821-1836), quando os camponeses pobres, aliedos @ negros rebeldes e in- dios, chegam a tomar o poder e estabelecer estado préprio. Na Balaiada, na provincia do Mara- nhao, com ramificacSes no Piaui e Ceara, pela mesma época, os negros escravos se rebelam, jun- PR rMcapan aca 6 20) esmagados, Foram movimentos que se caracterizaram pela vio- léncia, quer dos opressores, quer dos oprimidos(5), Por outro lado, os negros es- cravos também organizavam for- mas de resistencia proprias. A Republica de Palmares for o mais importante testemunho do poder de organizacéo politica, econd- mica e militar dos negros na América Latina. Durou de 1630 4 1695, aproximadamente. Zumbi foi o seu lider quem comandou a iiltima fase da resisténcia. No entanto, intmeras outras comunidades de negros fugidos (quilombos) se organizaram du- rante o escravismo. Umas maio- res, outras menores, mas todas funcionando como unidade de desgaste a escravidio. Em Minas Gerais tivemos 0 quilombo do Ambrosio que reuniu milhares de negros aquilombados; fela-se que 0 do Batceiro chegau a ter 20 mil habitantes sem falermos em Palmares que chegou a ter apro- ximadamente 30 mil habitant Tudo isto prova que a escravidéo no Brasil no foi benigna nem pa- triarcal, usando os senhores to- das as técnicas e instrumentos para maneter a ordem escravista © 08 cativos, em contrapartida, resistindo também pela viol&n Esses movimentos de resistén- cia, muitas vezes ofensivos, al- cangam o seu ponto méximo nas insurreig6es escraves do século XIX na Bahia. As revoltas de Sal- vador lideradas por escravos & negros livres iorubés, tapas, haussis e outros grupos escravos conseguiram colocar em xeque 0 poder imperial, assim como Pal- mares foi uma ameaca_perma- nente a0 dominio colonial, A clti- ma_dessas insurreigdes (a de 1835) quase consaguiu tomar 0 poder na Capital da provincia da Bahia. Depois de derrotados, os seus lideres sofreram conseqiiéncias das suas posicées por parte do aparelno repressor. Eram entor- cados, fuzilados, torturados ou agoitados. Durante a ocupagio holandesa no Nordeste do Brasil que se inicia em 1624, com a ocu- pagdo da Bahia, houve casos de lideres de revoltes negras serem esquartejados vivos ou queima- dos vivos(®). Os portugueses, por seu turno, no eram mais be- nevolentes. Quando um lider qui lombola era preso sofia violén- cias atrozes(7) Como vemos, essa revolta per- manente social e racial criou os seus lideres. Além de Zumbi ¢ Ambrosio, chefes de quilombos, podemos citar aqueles que con- duziram as insurreicBes urbanas baianas: Pecifico Licuté, Elesbiio Dandara, Lufs Sanin, Luisa Main, Diogo, Luis e muitos outros que no figuram na histéria oficial Quatro deles foram onforcados, outros remetidos para a Africa de volta ou impiedosamente acoita- dos. Essa insurgéncia se realiza pa- radoxalmente num processo de modernizacao da sociedade es- cravista que, de um lado, vai sen- do dominada pelas nagées capi- talistas européias, especialmente Inglaterra, e, de outro, urbaniza- se @ moderniza-se tecnologica- mente. Quando a escravidao foi abol da, j& tinhamos iluminacéo a gés, cabo submarino, estradas de fer- ro escoando para os portos de embarque 0 produto conseguido com o trabalho escravo, telefone, transporte coletivo com. tracdo animal, bancos estrangeifos, pe- quenas fabricas de trabelho livre, organizacdes operarias, mas 2s instituigSes continuavam_arcai cas e congeladas, pois reptesen- tavam a ordenacgo ideoidgica, juridica ¢ costumeira dos interes- ses daqueles classes que deti- nham o poder e simbolizavam 2 elite dominante, articuladas atra- vés de uma série de mecanismos para preservar o tipo de proprie- dade fundamental da época, Apesar desta urbanizacZio e mo- demizacéo, as instituigdes basi- cas continuavam racionalizando esse anacronismo, 0 tipo de so- ciedade nes quais as relagdes de dominacdo/subordinacéo_po- diam determinar que os domine- dores colocassem os dominados Quem tiverem (sic) os bilhetes com os néimeros de rifa anexa & loteria federal do Rio de Janeiro, que se estrahiu no dia 27 de julho Casa. Sitio. Escrava. Cavalo, Como vemos, através de insti- tuigdes que regulavam esse tipo de Sociedade, era legal sortear-se um escravo como fifava-se um cavalo ou uma casa. 0 escravo, mesmo com todos os tipos dé modernizacdo sem mudanca continuava coma coisa. Depois de 1850, com a extin- 0 do trafico négreiro com a Africa, temos 0 inicio do que cha- mames escravismo tardio. O ‘comportamento da classe senho- rial e do legisiador comecam a so- frer alteracées. Para conservar 0 escravo, cujo preco aumentara de forma drastica, surgem as pri meiras leis protetoras. Por outro lado, 0 escravo negro, que eté entéo lutara sozinho com a sua rebeldia radical contra 0 instituto da escravidéo, comega a ser visto através de uma ética liberal, As na condicao de simples bestas Uma amostra da contradicfo en- tre essa modernizagao aparente a irracionalidade do sistema es- cravista podemos ver por este antincio publicado em um jornal de Fortaleza, capital da Provincia do Ceari do corrente ano haja apresenté- berem 0 que por sorte Ihe saiu: No 4.438 N° 5.260 No 3.631 No 1.306 manifestagdes humanistes se su- cedem, especialmente entre a mocidade boémia e alguns gru- pos adeptos de um liberalismo mais radical. Mas em tode a extens&o da es- cravidéo no Brasil, quer até 1850, quer posteriormente,na época ja do escravismo tardio, uma coisa 6 constente na classe senhorial: 0 medo. O receio de insurreicdo, especialmente no primeiro perio- do, criava um estado de panico permanente. O “perigo de Séo Domingos” (repetidamente men- cionados nos documentos da Epoca), as possiveis ligagdes dos escravos brasileiros com os do outros paises, a provével articula- ¢ao em nivel nacional de escra- Vos rebeldes, a obsessio da vio- lencia. sexual contra mulheres brancas ou outras formas de in- surgéncia, tudo isso levou a que ‘© senhor de escravos se transfor- masse em um neurético, Uma verdadeira parandia apo- derou-se dos membros da classe senhorial e determinou o seu comportamento basico em rela- Go a5 medides repressives con- tra os negros em geral Na primeira fase, as autorida- des coloniais ¢ a classe senhorial usam de t6da a brutalidade, legis- lando de forma despética contra © escravo. Isto vai dos alvaras mandando que se ferrassem es- cravos com ferro em brasa, 8 le- gislacdo de pena de morte, do acoite, a execugdo suméria “sem apelo algum”” dos escravos rebel- des etc. Nessa fase nao ha ne: nhum proceso de mediacdo @ a lagislacto terrorista reflete essa sindrome de forma transparente. Aliés, para tespaldar esse conjun- to de medidas juridicas e policiais hé todo um aparato de repressio brutal e legal. Os escravos tém 0 seu direito de locomacio pratica- mente impedido. Os troncos, os pelourinhos, a gonilha, 0 baca- thau, @ mascara de flandres, 0 vi- ra-mundo, anjinho, libambo, pla- cas de ferro com inscrigées infa- mantes, correntes, grilhdes, ger- gelheires, tudo isso formava o aparelho de torturas ou avilte- mento através do qual as leis eram executades como medidas de normalidade social. Levando-se em consideragao que 0 nimero de escravos negros durante muito tempo era superior 20 dos brancos, podemos avaliar © estado de espirito de panico permanente dos senhores de es- cravos. Dai no ser permitido 20 escravo nenhum privilégio, pois ‘0s espacos sociais rigitamente delimitados dentro de hierarquia escravista somente possibilita, vam a sua ruptura e mudanga es- iruiural através da negagdo radi: cal dos sistema: a insurgencia so- cial € racial do escravo. ‘A sindrome do medo estender- se-4, também, & segunda fase do escravismo brasileiro, mas atra- vés de mecanismos téticos dife- entes. A classe senhorial ja n&o legisla mais através do seus agen- tes para reprimire/ou muites ve- zes destruir fisicamente 0 escré- vo, mes passa a produzir leis pro- tetores. A partir da extingdo do tréfico — como jé vimos — co- mecam a suceder-se leis que pro- curam amparar 0 escravo. Desta forma, a sindrome do medo de- formou psicologicamente a clas- se senhorial, deu-Ihe elementos inibidoros para assumir um com- portamento patolégico e caracte- Fizou-a postura sédice dos seus membros. Esse comportamento patolégi co criaré requintes de sadismo muito maiores do que aqueles ne- cessérios para combater a rebel- ia do escravo. Convencionou-se que © negro escravo néo devia ser punido pelos seus possiveis delitos, mas castigado, tortura- do, muitas vezes até inutilizado, como exemplo para que o seu comportamento no fosse imita- do pelos sous companheiros. Ha casos extremos de senhoras que mandaram arrencar 0s olhos das suas escravas domésticas (muca- mas) apenas porque 0 senhor os elogiara. De escravos empereda- dos vivos porque olharam mais demoradamente para a filha do senhor, num pavor panico de possiveis relagées sexuais entre 08 dois. Por outro lado, como contra- partida @ essa sindrome, os se- nhores jogavam todo 0 seu sadis- mo na escrava que era seviciada, usada como fémea descartével, violentada, finalmente usada co- mo objeto sexual. A mulher ne- gre, como a parte passiva do pro- eso, mais vulneravel, era quem terminava sendo a mais atingida. Por outro lado, 2 mulher branca ere resguardada de qualquer con- tato com o homem negro, consi- derado simplesmente besta de tracdo, equiparado aos animais. Este tipo de relacionamento se- xual unilateral, no entanto, é con- siderado, por muitos socidlogos, como 0 inicio da nossa chamada “democracia racial’, isto 6, uma miscigenacao unilateral, sadica, patolégica, baseada em um pélo passivo e violentado (a escrava negra] que gerava mais escravos para o senhor, e, de outro, a sa- craliza¢3o da’ mulher branca a qual dovoria conservar-se intocé- vel e intocada pelo homem ne- gro, pelo escravo, em tiltima ana- lise. Essa miscinegacdo ngo de- mocratizou a sociedade brasilei- ra, mas, pelo contrério, criou ni- Veis de discriminagao racial e so- cial que até hoje atuam dinamica- mente 2 — A HERANCA DA ESCRAVI- DAO © Brasil fez @ Independencia sem abolir 0 trabalho escravo e fez a Abolicgo sem acabar com 0 letiflindio. Isto determinou que a dingmica social do Brasil fosse praticamente estrangulada, © 0 teflexo especialmente da segun- da mudanca até hoje traumatize (© seu desenvolvimento. O final da escravidtio no Brasil dé-se em 1888. No entanto, cla jé se de- compunha. Em 1882 havie no Brasil 1.433.170 trabalhadores li- vres, 656.540 escravos e€ 2.822.583 desocupados nas seis principais provincias do Império: $80 Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceard e Rio de Janeiro Prineipios Essa massa desocupada, con- centrada no campo, até hoje ndo foi integrada & sociedade ci mo produtora dinamica, em face da continuidade das relacées lati fundiarias no campo. Com a Abolicéo, criam-se metanismos estimuladores para a migracdo européia que entra no lugar dessa grande masse de trabalho nacio- Nal, merginalizando-a irremedia~ velmnente. A situacdo dos des- cendentes de escravos, nesse proceso de marginalizar o traba- Ihador n&o-branco em face da fi- losofia do branqueamento (0 Bra- sil seria tanto mais civilizado quanto mais se branqueasse) se reflete, atualmente, na situacdo em que se encontra a populacéo negra e mestica de um modo ge- ral no Brasil. ‘Alem desse peneiramento so- cial criaram-se barreiras ideolég cas que justificam a sue inferiori- zago em conseaiiéncia da sua inferioridade racial. Mas, em c ma dessa situacdo objetiva de restrigéo 4 potencialidade social do negro cria-se a lenda de uma “democracia racial” 0 que equi vale dizer: se os negros se encon- tram nos patamares em que se encontram de miséria e de margi: nalizagao a culpa é deles, pois t veramn as mesmas oportunidades para progredir. Em conseaiiéncia dessa filoso- fia discriminatoria @ a0 mesmo tempo aparentemente “democra- tica’’, qual a situaggo sdcio-racial da populagao brasileira? Qual a taxa de mobilidade social da po- pulag&o negra e ndo-brenca as vesperas do Centenario da Aboli 80 do trabalho escravo no Bra- sil? De acordo com o recensea- mento de 1980 (0 Ultimo realiza- do) 119 milhées de brasileiros ha- bitavam o Pais. Destes, 54,77% sho brancos; 38,45% _pardos; 5,89% pretos ¢ 0,63 s4o amare- los. Podemos afirmar, portanto, que sdo descendentes de negros Ou de Indios 44,34% da popula- G40. Essa proporedo vern aumen- tando nas ultimas décadas. Fra de 36% em 1940; 41,0% em 1950 2 38,2% em 1960. A posigiio da populacao negra @ néo-branca n&o se distribui pro- porcionalmente nos diversos nf- veis sociais e econémicos, mas ‘esté fortemente concentrada nas ‘camadas de baixa renda ou mar- ginalizades. Claudio Fleury Bar- celos mostra dados reveladores desse processo de marginaliza- go do negro: em Sao Paulo, os Negros e mulatos somavam, em. 1950, 10,22% da populecdo re- censeada no municipio e, segun- do pesquisas feitas em 1967, a populagdo marginal da regio da Grande Sao Paulo (onde se con- centra a mais alta taxa de renda do Pais) apresentava cerca de 39% de negros e mulatos. Como se vé,ha uma concentragao enor- me se levarmos em conta a rela- 80 entre 2 populacdo e o per- Centual de criminalidade. A crimi- nalidade do pobre, do furto ao assalto,é toda concentrada na fai- xa de negros e mulatos marginali- zados. Alem disto, constata-se que os negros e os néio-brancos em geral (excetuando-se os amarelos) so aqueles que possuem empregos menos significativos socialmen- te. Segundo ainda os dados do censo de 1980, apenas 0,4% dos fecenseados como nagros sao empregadores. Isto demonstra como os mecanismos de imobili- zac&o social funcionem eficiente- mente no Brasil, impedindo, pra- ticamente, desde o fim da escra- vidio até hoje, que o negro as- cenda significativamente na os- trutura ocupacional. Convém no- tar_que no recenseamento de 1960 0 percentual era de 0,95% de negros empregadores. Evidentemente que esses me- canismos sociais, exercidos de maneira no institucional, mas atuantes na posigéo do segmento negro, refletem-se em todos os niveis © produzem distancias enormes jamais compensadas. As desigualdades raciais existen- tes no Brasil sao, de um lado, in- corporadas como naturais, ¢, de outro, considerades como um subproduto do proprio comporta- mento @ temperament dos ne- gros e dos nao-brancos em geral Dai 0 comportamento racial do brasileiro branco ser de descon- inca, atitude de defesa ou hos- tilidade contre a populagio ne- gra. Esta atitude, por seu turno, rd refletir-se na estrutura da so- ciedade brasileira, quer no acesso 20 sistema educacional, quer na distribuiggo de renca, no nivel de criminalidade, na organizacdo fa- miliar € nas oportunidades ofere- cidas na sociedade capitalista. Os dados da Pesquisa Nacional I por Améstra de Domicilios (PNAD) de 1976 mostram um perfil atualizado da estrutura das desigualdades raciais existesten- tes no Brasil. 0 sociélogo Carlos Hasenbalg, baseado nesses da- dos, afirma que “considerando- se as pessoas de cinco ou mais ‘anos de idade, a proporedo de analfabetos entre os ndo-brancos (40%) & quase o dobro da dos brancos (22%) (...) O grupo branco tem uma opertunidade 1,55 vez maior que os ndo-bran- cos de completar entre cinco e oi- to anos de estudo e uma oportu- nidade 3,5 vezes maior de cursar nove ou mais anos de estudo”. Quanto a distribuico de rende escreve 0 mosmo autor: “E log co esperar que as desigualdades existentes na distribuigao regio- nal, qualificag3o educacional @ estrutura de empregos de bran- cos @ néo-brencos determinem for. disparidades na distribui- G80 ae renda. Entre as pessoas ‘Ado-brancas com rendimentos, 53,6% recebiam uma renda de até um salario minimo. No caso do grupo preto, esse proporsao aumenta pare 59,4%, enquanto somente 23,2% dos brancos si tuavam-se nessa faixe de rendi mentos. No extremo oposto da distribuic&o, 23,79 de brancos e 14,5% do nBo-brancos obtinham mais dedois a cinco salérios mf nimos, por sua vez 16,4% dos branoos ¢ 4,2-de nao-brancos tinham rendimentos superiores a cinco salérios minimos’"(8). 8 Como vemos, este processo secular de barragem do negro re- flete-se no perfil étnico da soci dade brasileira e demonstra mi to bem os mecanismos de imobi- lismo social que foram mantidos durante o regime escravista, mas especialmente, depois da aboli- do. Hé varios niveis para que es se mecanismo funcione. Assim como durante a escravidao a ne- gra escrava era objeto de uso do senhor ¢ mulher branca era pro- tegida para no ser contaminada praticando sexo com negros os- cravos, na sociedade “livre” que substituiu 2 escravidao isto tam- bém se manifeste através des sangoes estabelecidas aos casa- mentos interétnicos. A mulher branca que se casa no Bresil com um negro 6 socialmente estigma- tizada por largas franjas da socie- dade, Diz 0 folclore recente: Brance que casa com negro & prete por dentro. Ou entéo: Moga que casa com negro tem coragem com fartura, tem astambo de cachorro e coracao de macura. Ha casos extremos, como es- te, publicado em um jornal de Séo Paulo: “E de expectativa tensdo 0 clima da cidade de Ma- ceié em conseqiiéncia do julga- mento do psiquiatra José Lopes de Mendonga, acusado de assas- sinar 2 propria filha, por ndo ad- mitir que namorasse um outro psiquiatra de cor. (...) Segundo a acusacdo, o psiquiatra desenten- deu-se com a filha, a estudante Rosélia Cabral de Mendonca, porque ela resolvera ficar noiva de um médico negro e no dia 10 de junho de 1972 matou-a no in terior do quarto de sua residén- cia, no bairro de Bebedouro, a cinco quilémetros de Maceié com um tiro de revélver. Na mesma noticia, lé-se “Amanha devera ser ‘outro julgamento de caso seme- thante: Wilson Pinheiro de Tol do 6 acusado de assassinar sua tha Angela Maria de Toledo Fer- reira pelos mesmos motivos. Esse crime ocorreu exatamente um més apés 0 primeira, no dia 11 de junho de 1972. A populacao esta ansiosa pelo resultado dos dois casos, devido @ semelhanca entre eles ¢ & grande diferenga social existentes entre os dois protago- nistas.”" (9) S30 dois casos extremos que configuram todo um comporta- mento subjacente racista do bre- sileiro, herdado da escravidao. Como vemos, a heranca da es- cravidéo ainda pesa negativa- mente na estrutura da sociedade brasileira, criando-Ihe traumatis- mos © assimetrias significativos ¢ ainda atuantes. Em 1985 es jornalistas Giocon- da Mentoni e Virginia Galvez es- creveram em um jornal de S80 Paulo que presenciaram a exis- téncia de trabalho esoravo em fa- zendas do Brasil. O proprio Mi- nistério do Trabalho, segundo elas, havia recebido 72 denUncies sobre a existéncie de trabalho es- cravo, especialmente em estabe- lecimentos do Norte ¢ do Nordes: te. As formas mais violentas de coercdo extra-econdmica, a vio- Iéncia contra esses trabalhadores ‘so normas comuns em grandes parcelas de estabelecimentos agricolas. As préprias autorida- des tém informagées dos fatos, mas se confessam impotentes. O ex-minisiro da Justica Fernando Lyra, segundo as jornalistas, teria afirmado: "E revoitante. Chego @ ndo acrediter nas dentincias que leio’’. Ele foi informado sobre a existéncia de carceres privados, castigos fisicos, ma alimentacdo € péssima moradia a trabalhado- res em fazendas, Esses trabalha dores sao arregimentados por promessas, mas nao recebem sa- lério. Ganham vales para paga- mento de alimentacdo e casa — devem fazer as compras do pr prio fazendeiro. Quando querem fugir eles so perseguides ©, so capturados, vitimas de agoites’”(10), Como vemos, atuelmente, co- mo no final da escravido, sob a superficie de uma sociedade mo: derma mantém-se uma estrutura arcaica @ ossificada, sustentada por relagtes de trabalho jé com- pletamente superadas. NOTAS 1) — A essa visio tradicionel e conserve: Gora de socidlogos como Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, Afranio Petxoto e outros, articula-so presentemente no Brasil a op nigo contrérie de vérios cientistas sociaie {ie esto fazendo a reviso no sentido de destacar as lutas dos escravos come pro- cess cinamico e permanente na tansfor- Principles magao da sociedade, vendo-2¢ como uma manifestagso de lute de clesses, desta: cando:se neste particular 03 nomes de Décio Freitas, Lana Lage de Gama Lima, Lulz Luna, J Maesti Filho, J.J. Reis, J. J. Chiavenato, Martiniano J. da dutros qua estéo fazendo o levantamento dessas lutas 0 2 violéncia da classe senho- Fial no Brasil, A essa visio dinémica con- tapSe-se modernamente outta corrente que procure, como & 0 caso de Ciro Fla- marion S. Cardoso, ver romantismo e ufa- hismo nessas pesquises revisionistas. 2) — Oe tumboires aram navios negroiros, especialmente construfdos pers 0 trans. porte de africenos dos portos da Afri ara o Brasil. A mortalidede durente a vis {gem era sncrme, Sobre o assunto escreve Conrad: “Em seu estudo soore 0 trafico de escravos para o Rio de Jangiro nos anos de 1795 2 1811, Herbert S. Klein ‘Mostiou que de cede mil escrevos embar- cacos em Mopambique para o Rio de Ja- elto 253 morriam no mar, enquanto a ta- xa dos qua embarcavam na Attica ociden- tal portuguesa era de 91 om mil, e 67 em. mill entre os que embareavam na Guiné, uma des tlevessies mais curtes; entre 0 {otal de 170.051 escravos abrangidos por seu estudo, 16.162, ou cerca de 9.5% ‘morteram no mar.” (Conrad, Robert Ed (gete: "Tumbciros — 0 trafico de escravos para 0 Brasil”, Ed. Brasiiense, Sao Peulo, 4865, p. 46) 3) — O wéfico de escravos com @ Al $6 fol extinto definitivament no Brasil a partir do 1860, Pera uma andlise compara {iva 60 nosso atraco social, ideclégieo e politico devemos informer que enquanto, 6 Parlamento brasileiro ainda discutia 2 Geveriamos ou no continuar importando. egtos africanos para ‘rabalharem como. eecravos, [Marx 2 Engels /é publicavam ern 1848 na Europa o Manifesto do Partido Comunista rofutando de forma radical 0 modo capitalista de producio e, enquan- to, em 1871, o Parlamento brasileiro dis- cutia se 06 filhas de escravas continue Nam escravos cu no, implantava-se, na Franga a Comuna de Paris. Esses exem- pplos eorvem para domonstrar os nossos ‘trasos socisis imensos como conseqién- ia da esctevicdo no Brasil ter perdurado até 1888. Atrasos que nao so recuperé- els em apenas cem anos de trabalho Ii- 4) — Sobre a descrigso dos instrumentos de_suplicio consultar: Ramos, Artur "Castigos de Escravos' in Revista do Ar- guivo Municipal, (SP), ano IV, n? XLVI, 7838. 5) — Ch: Moure, Clovis: “Rebelibes da Senza (Cuilombés, inourreigdes, quer has)”, Editora Mercado Aberto (4 edi- G40), Porto Alegre, 1888, oessim. 6) Mello Neto, A’ Gongalves de: "Tem- po. dos Flamanges”, Ed, José Olimpio, Rio de Janeiro, 1947 7) — Sobre os diversas formas de tortura do escravo brasileiro consultar: Goulart, José Alipio, “Da Palmat6rie ao Patibulo””, editora Conquista, Rio de Jansiro, 1971 8) — Hassembalg, Carios: “Discrimis ‘cdo @ desigualdades racials no Brasil”, Editora Greal, Rio de Janeiro, 1879, pp: 216 sequintes. 9) — "Psiquiatre que matou « filha vai @ julgamento”, in "0 Estado de Sé0 Paulo”, 21.6.1972. 10) — Mentoni, Gioconda e Galvez, Virgt- nia: “Govern constata trablno escravo ho interior do Pals", in “Folha de S8c Paulo”, 3 de outubro, 1985. A Autogestao lugoslava Teona e Pratica Capitalstas ENVER HOXHA O sistema da “autogestéo” na economia Ax: ea prética da “euto- gestéo”” iugosleva consti- tuem uma negagZo cabal dos en- sinamentos do marxismo-leninis- mo e des leis gerais de constru- gio do socialismo. O socialismo de “autogestéo” na economies tem como fundamento 2 ideia de que supostamente o socialismo no pote ser construido atrevés da concentracéo dos meios de produgao em m&os do Estado so- cialista, mediante a criago da propriedade estetal como forma superior de propriedade socialis- ta, mas sim através do desmem- bramento da propriedade estetal socielista em propriedade de gru- pos particularss de operérios, que hipoteticamente a adminis: tram diretamente. Marx e Engels, desde 1848, assinalavam qui “Q proletariado valer-se-a de sua dominacdo politica para ir ar- fancando graduaimente da bur- guesia todo 0 capital, para cen- tralizar todos os instrumentos de produce em mdos do Estado, ou sje, do proleteriede organizeda em clesse dominante.. Lénin também chamou e atencao para 0 mesmo quando combateu duramente os pontos de vista anarco-sindicalistas do grupo an- tipartido da “oposicgo operéria” que exigia que as fébricas fossem entregues gos operdrios e que a dirego e a organizagao de pro- ducdo no fossem exercidas pelo Estado socialista, mas sim por um denominado “‘congresso de produtores”, como representan- te dos grupos de trabalhadores particulares. Lénin qualificava es- te ponto de vista de “"_.ruptura total com o marxis- mo € 0 comunismo"2, @ sublinha- va que “Toda acdo pare legalizar, om forma direte ou indireta, a pro- priedade dos operarios de fabri- cas isoledas ou de profissées iso- ladas sobre sua producso ou seu direito de debilitar ou estorvar as orders do poder estatal, € ume grande tergiverseedo dos princi- pios fundamentais do Poder so- viétied © a rendincia completa a0 socialismo"”3 Desde junho de 1980, quando apresentou & Assembiéia Popular da Republica Federative Populer da lugoslavia a lei sobre a ““auto- gestdo”, desenvolvendo suas Concepgées revisionistas sobre propriedade no “‘socialismo'’, Ti- to, entre outras coisas disse: “De agora em diante a propriedade estetal sobre os meios de produ- ao, as fabricas, as minas, as es- ttadas de ferro passam gredual- Enver Hoxha nos anos 60 mente & forma superior de pro- priedade socialista; a propriedade estatal é a forma inferior da pro- priedade social e no a Superior...”, entre os “atos mais catacteristicos de um pais socia- lista”, ‘“é a transferéncia das fé- bricas e de outres empresas eco- némicas estatais aos operdrios para que ss administrem por sua conta prépria...”, porque assim realizar-se-4 "a palavra de acdo do movimento operario: as fébri- eas aos operarios”.4 Estas teses de Tito se parecem como duas gotas d’agua nao so- mente &s concepgdes reacioné- rigs da “‘oposic&o operéria’” anar- co-sindicalista, que Lénin des- mascarou em seu tempo, como também &s de Proudhon, que em sua obra ”O que 6 a propriedade” afirma que “0 produto esponté- neo de uma unidade coletiva.. 1. K, Marx e F. Engels, Obras Esco- Ihides, T.1, pag. 42, Tirana, 1975. 2.V.1. Lénin, Obras, ed, albanesa, t. XXXL, pag. 283. 8. V.1. Lénin, “Sobre 0 democratis- mo eo cardter socialista do Poder so- wvietioo””. 4. “As fébricas.aos opersrios”, Prish- tina, 1951, pag. 37, 19, 1. 10 pode ser considerado como 0 triunfo da liberdade... e como a maior forma revolucionéria exis- tante ¢ que pode ser oposta a0 oder”. Ou entZo vejamos 0 que dizia um dos chefes de Segunda Internacional, Otto Bauer, em seu livro “A via para o socialismo’’: “Quem, portanto, no futuro dirigiré a industria so- cializada? 0 Governo? Nao! Se o Governo dirigisse todos os seto- res industriais, sem exceg&o, far- se-ia poderosissimo em relacdo 20 povo e & representagao nacio- nal. Tal crescimento do poder go- vernamental seria perigoso para a democracia".1 Sustentando os mesmos pon- tos de vista que Tito, E. Kardelj sublinha também que “Nossa so- ciedade esté obrigada a atuar as- sim, visto que est destinada a ‘ar a autogestio e a socializa- 40, sob a forma de autogestao, da propriedade social, em oposi- do a perpetuacdo da proprieda- de do Estado nas relacdes socia- listas de produgéo” (pag. 66) 2. Isto quer dizer na lugoslévia ins- taurou-se 0 sistema de proprieda- de privada e no existe a proprie- dade estatal socialista, a proprie- dade de todo 0 povo. oposio odorre em nosso pais, onde esta propriedade co- mum, socielista, ¢ di Estado de ditadura do proletaria- do com 2 participacto da classe operdria e das massas trabalha- doras em formas corretes, cen- tralizadas, planificadas de baixo e orientadas de cima. 0 caminho da descentralizacao dos meios de produgéo, segundo 28 idéies snarco-sindicalistas da “autogestaio’” operaria, em es- séncia nada mais é que uma ma- neita refinada de conservar e consolidar 2 propriedade privada capitalista sobre os meios de pro- ducéo, porém de uma forma mascerada como “propriedade administrada por grupos de ope- rorios”. Na realidade, todos os: termos complicados ¢ obscuros inventados pelo “tebrico” Kardel} ‘em seu livro, como sejam: “a or- ganizago fundamental do traba- Iho associado”, “os conselhos operérios da organizaeSo funda- mental composta, do trabalho as- sociado”, “as comunidades de autogestfo dos interesses” etc. etc. & que também estado sancio- nadas na legislago do Estado ca- pitalista iugosiavo, nBo so mais que uma fechada envernizeda, que oculta a negaczo a classe operéria de seu direito & proprie- dade sobre os meios de produgao @ a sua feroz exploracao por parte da burguesia. Esta propriedade privada existe na lugoslavia no sé em forma mascarada como também em sua forma corrento, na cidade © no campo. Isto reconhecido pelo préprio E. Kardelj em seu livro quando escreve que "em nossa sociedade tém particular impor- téncia também direitos tais co- mo... 0 direito a propriedade pes- soal, ou também, em determina- dos limites, & propriedade priva- da..." (pag. 177). Em v8o se es- forca Kardely pare atenuar o efei- to negativo que possa produzir 0 aberto reconhecimento do direito 4 propriedade privada, mesmo sendo sob a forma de pequena produgo, ¢ qual, como dizia Lé- nin, engendra a cada dia e a cada hora capitalismo. Os revisionistas iugoslavos tém promulgado tam- bém leis especiais que estimulam @ economia privada, leis que re- conhecem aos cidadéos 0 direito de “fundar empresas’’ e “empre- gar mo-de-obra”. A constitui- (G80 iugosiava menciona expres- samente: “Os produtores priva- dos tm a mesma posicao econé- mica e social, os mesmos direitos @ obrigaces que os trabalhado- res nas organizacdes econdmicas e sociais.”” ‘A pequena propriedade priva- da predomina amplamente na agricultura iugoslava, ocupando cerca de 90 por cento da superfi- cie das terras cultivaveis: 9 m Ihdes de ha. pertencem ao setor privado @ 1.150.000 ha., ou seja, mais de 10 por cento, ao setor ca- pitalista monopolista_ chamado social. Mais de § milhdes de cam- poneses na lugoslavia trabalham has terras do-setor privado. O ‘campo iugoslavo nunca se orien- tou pelo caminho da verdadsira transformacéo socialista. Kardelj em seu livro nada diz desta situa- go ¢ evita abordar 0 problema da maneira como seu sistema de “autogestio” se esiende 2 agri- cultura. Mas se ele pretende construir 0 socialismo mediante este sistema, ento como pode esquecer-se de “‘construir 0 so- cialismo” também na agricultura, que representa quase a metade da economia? A teoria marxista- leninista nos ensina que 0 socia~ lismo se constroi tanto na cidade como no campo, e nao sobre 3 base da proprisdade capitalista de Estado, da propriedade supos- tamente administrada pelos gru- pos de operérios ou da proprieda- de privada aberta, mas sim so- mente sobre a base da proprieda- de social socialista sobre os melos de produco. Na lugoslévia esté eutorizada a propriedade privada de 10 até 25 hectares3, porém a lei iugoslava, que permite a compra e venda, 0 arrendamento e a hipotece da terra, a compra e venda de ma- quinas agricolase o trabalhoassa- lariado na agriculture, concedeu 2 nova classe burguesa do cam- po, os kulaks, a possibilidade de aumenter, a expenses dos cam- Poneses pobres, as superficies das terras, os meios de cultivo, 08 tratores e os veiculos de trans- porte e, por conseguinte, de acrescentar e intensificer a explo- racdo capitalista As relagdes capitalistas de pro- ‘dugao estenderam-se t3o profun- damente na economia iugoslava que inclusive se tem dado livre campo de aco aos capitalistas as firmas estrangelras, a fim de que fagam suas inversdes e, de acordo com a burguesia local, ex- plorem a classe operaria e as ou- tras massas trabalhadoras iugos- lavas. Com justa razdo 0 sistema de “‘autogestio” iugoslava pode ser definido como um poder de cooperacao do capitalismo iugos- lavo com © capitalismo norte- americano © com os outros capi- talistas. Estes se tém feito sdcios na apropriagéo des riquezas da lugoslévia em todos os campos, nas fébricas, nas comunicacées, nos hotéis, nas casas e até no es- pirito da populacéo. Se a economia iugosiava foz al- gum progresso, este em absoluto se deve ao sistema de ““autoges- to, como os revisionistas titis- tas tentam fezer crer. Na lugosla- tém sido aplicados em forma de inversées, de créditos e de “ajudas” grandes capitais prove- 1, Otto Bauer, “A via para o socialis- mo”, pag. 18, Paris, 1919 2, Todas as citages do livro de E. Kardelj foram tomadas da traducao albenesa pola Editora de Prishtina, ‘em 1977 (Nota da Casa Editora “8 Nentori", Tirana). 3.V. Vasich, "A polttica ecandmica da lugosiavia, publicagao da Univer- sidade de Prishtina, 1970. nientes do mundo capitelista, que constituem uma parte con: deravel da base material do siste- ma capitalista-revisionista iugos- favo. Somente as dividas da lu- goslévie superam os 11 bilhdes de dolares. Recebeu dos Estados Unidos da América mais de 7 bi- Ihdes de délares em créditos. Nao é sem determinadas inten ges que a burguesia internacio- nal assentou o sistema de “auto- gesto socialista’” iugostavo si bre essa bese material e financei ra. As muletas do capitalismo ocidental tém auniliado este siste- ma a se manter em pé como um modelo de conservacao da or- dem capitalista com etiquetas pseudo-socizlistas. Os capitalistas estrangeiros, ‘com suas invers6es, construiram na lugoslévia numerosas obras industriais, que produzem artigos de muito boa € até de péssima qualidade. Os produtos de me- thor qualidade so vendidos, na- turalmente, ao exterior, mas pou- cos 0 so no pais. Mesmo que no exterior exista uma grande pro- dugo capitalista e todos os mer- cados tenham sido monopolize- dos pelos mesmos capitalistas que fizeram inversdes na lugoslé- via, de qualquer maneira estes verdem os produtos de boa qua- lidade em seus mercados obten- do enormes beneficios, porque a mao-de-obra na lugosiévia 6 be- Tata, 0 custo de produc&o 6 me- (Obras de Enver Hoxha em linguas estrangeiras nos elevedo que nos paises capi- talistas, onde os sindicatos, em certa medida, exigem do capital algumas reivindicagSes em favor dos operarios. Os melhores arti- gos produzidos pelas fébricas iu- goslavas so levados pels socie- dades multinacionais que operam também na lugoslévia. Mas, além dos ganhos que obtém por esta via, os investidores estrangeiros tiram outros, principalmente de- duzindo interesses dos capitais que tém investido na lugoslavia. Freqéntemente retiram também estes ganhos sob a forma de ma- térias-primas ou elaboradas. O demagogo Kardelj, em seu Ii- vro, fala muito do sistema de “autogesto"'; no entanto néo diz palavra sobre a presenca e 0 importante papel que desempe- nha o Capital estrangeiro_ para manter de pé o sistema de “‘auto- gosto” Nos paises burgueses, diz Kar- delj, 0 verdadeiro poder se en- contra e “... se manifesta antes de tudo, nos laos do poder exe- cutivo estatal com os cartéis poll- ticos fora do parlamento..."” “Paralelamente ao incremento de forga do poder interior extra- parlamenter - prossegue Kardelj as relacOes socials atuais nos pai- ses capitalistas altamente desen- volvides tém também como sinal caracteristico um novo fenome- no: a criacdo do Poder extrapar- famentar internacional, ou seja, mundial” (pag. 54). Com isto Ka~ delj procura demonstrar que & “eutogestéo” iugosiave suposta- mente selvou-se de tal situacdo. Porém a real mos linhas acima, 6 inteiramente diversa: a “autogestSo iugosla- va é uma co-administrac&o capi- ‘alista, iugoslava ¢ estrangeira. Os capitalistas estrangeiros; ou seja, as sociedades, os consér- cios e os que t&m feito inversées, tém na lugoslévia_o mesmo po- der de deciséo que 0 poder iugos- lavo tem sobre a politica ¢ o de- senvolvimento geral do pais. Na realidade, as chamadas em- presas sob autogestiio, pequenas ‘ou grandes, s&o obrigadas a lever em conta as exigéncias dos in- vestidores estrangeiros. Estes in- vestidores tém suas préprias leis, as quais impuseram 2o Estado iu- goslavo, contam com seus repre- ‘sentantes diretos nestas empre- sas conjuntas, representantes através dos quais exercem sua in- fluéncia na Federacdo. Na reali- dade, 0 investidor impée sua vontade direta ou indiretamente Federacdo, as empresas ou 3s S0- ciedades conjuntas 2 precisa~ mente isto a “autogest8o” quer dissimular. E é este camuflagem, este tour de passe-passe|"), co- mo dizem os franceses, que Kar- delj quer fazer, para “demons- trar’’ 0 absurdo segundo o qual a Vautogestao” iugoslava & 0 ver- dadeiro socialismo. 2 Primeiplos Mas aquilo que tenta negar em seu livro 6 reconhecido diaria- ments, com numerosos fatos, pela imprensa ocidental, e inclu: sive pela agéncia iugoslave de in- formagdes TANJUG que, em 16 de agosto ultimo, informou sobre a proclamacao de um novo regu- lamento da Assembléia Executiva Federativa, que trata sobre os in- vestimentos estrengeiros na lu- goslévie. Este regulamento es- tende ainda mais os direitos dos investidores estrangeiros na |u- goslavia. “‘Conforme esta lei, su- blinha esta agéncia, os socios es- trangeiros, dentro dos limites dos zcordos conclufdos com as orga- nizages de trabalho socializado do pais, podem realizar seus in- vostimentos em forma de divisas, de equipamentos, de produtos semimanufaturados ¢ de tecnolo- gia. Os investidores estrangeiros tem os mesmos direitos que as organizagées de trabalho sociali- zado do pais que investem seus meios em alguma outre organiza~ fo de trabalho associado.”” Mais abaixo @ agéncia TAN- JUG indica que “prevé-se que es- te regulamento aumentaré o inte- resse dos estrangeltos, porque ele garante a atividade econér ca conjunta a longo prazo. Além disto, praticamente na atualidade nao hd setor, exceto dos seguros sociais, do ‘comércio interior & das atividades sociais, onde os estrangeiros ndo possam investir seus fundos”. Mas ndo se pode vender o pais ao capital estrangeiro. E, néo obstante esta realidade inteira~ mente capitalista, 0 “‘comunista’’ Kardelj tem 0 descaramento de afirmar que: ’...nossa sociedade adquiriu um contedido e uma es- trutura. socioecondmica propria muito mais sélida, constituidos sobre as relacdes socialistas de produgdo e de autogestéo...”” que”... permitem @ asseguram 0 desenvolvimento cada vez mais livre, independente e auto-admi- nistrado de nossa sociedade’’! (pags 7-8). Kardelj em seu livro coloca 0 homem em primeiro plano e o considera como o elemento prin- cipal da sociedade, 0 elemento produtor a quem corresponde o direito de organizar e de distribuir a producaio. Segundo ele, este elemento, no sistema de “auto- esto", socializa o trabalho nas empresas e exerce sua direcdo através dos chamados conselhos operdrios, “‘eleitos” pelos operd- rios e que, supostamente, de acordo com os funcionarios da administracdo expressamente de- signados, decidem sobre tudo na empresa, sobre o trabalho, os sa- larios etc. “Tudo isto nada mais séo que mentiras porque na lugoslavia nao existe verdadeira liberdade.”” Esta constitui a forma tipica das empresas capitelistas, onde nas ages domina o capitalista, 0 qual, 2 seu redor, tem grande nti- mero de funcionérios e técnicos que conhecem a situago da pro- ducfio ¢ organizam sua distribui- co. Naturalmente, 2 maior parte dos ganhos favorece o capitalis- ta, que 0 dono da empresa pitalista; om outras palavras, é ele quem se apropria da mais- valia. Na “autogesto” iugosla- va, uma grande parte da mais- valia 6 apropriada pelos funcioné- tios, pelos dirigentes das empre- sas e pelo pessoal de engenharia e técnico, enquanto que a Fede- rac ou uma Reptblica se apo- dera da “parte leonina’”’ a fim de financiar os clevados salarios do todos os funcionérios do apare- Iho central, quer seja da Federa- 80 quer sejada Repiblica. E ne- cessario dispor de fundos para manter de pé a ditadura titista: 0 exército, 0 Ministério do Interior e a Seguranca do Estado, o Mi- nistério des Relacdes Exteriores etc., que dependem da Federa- ‘¢80, que séo inflados ¢ que em- pliam-se incessantemente. Neste Estado federativo desenvolveu-se uma grande burocracia de fun- cionérios e de dirigentes impro- dutivos, que recebem salérios bastante elevados, fruto do suor e do sangue dos operérios e dos camponeses. Alem disso, uma grande parte da receita & apro- Priada pelos capitalistas estran- geiros que investiram nestas em- presas, que tém seus represen- tantes nos “‘conselhos adminis- trativos’” ou nos “conselhos ope- rarlos"', ou seja, que parti da direcZo das empresas. Assim € que neste sistema denominado “socialismo de autogest#o”, os operérios enconiram-se em uma situacdo de total exploracio. A engrenagem dos “‘conselhos operérios”” e dos “comités de au- togesto”, com suas respectivas comissées, foi inventada pelos revisionistas de Belgrado somen- te para crier a iluso entre os ope- ratios de que, “sendo eleitos’’, participando e discutindo nestes ‘organismos, so hipoteticamente eles quem decidem os assuntos da empresa, da “sua” proprieda- de. Segundo Kardelj, “... Os ‘operarios na organizac&o basic do trabalho associado.... adminis- tram o trabalho e a atividade de ‘organizagao de trabalho associa do e os meios de reproducao so- ciais..., decidem todas as formas de associaco e de nexo entre seu trabalho e os meios de produ- Ho e sobre toda a receita que ob- tém_ com seu trabalho associado.... dividem e receita pa- ta 0 consumo pessoal, comum e geral em concordancia com os critérios definidos sobre as bases da autogestéo..."” (pag. 160) etc. etc. Tudo isto nada mais sto que mentiras, porque nesta lugoslé- via onde domina a democracia burguesa, ndo existe uma verda. deira liberdade de pensamento nem de aco pata os trabalhado- res. A liberdade de ago nas em- presas do “autogestdo” é falsa, © operério iugoslavo nao dirige nem goza dos direitos que procla- ma com tanta pompa 0 “‘idedlo- go” Kardelj. O préprio Tito, no discurso pronunciado recente- mente perante © ativo dirigente da Eslovénia, supostamente para demonstrar que é realista e ad- vetsério das injustigas de seu re- gime, disse que 2 “autogestéo” do impede o aumento dos sala- rios daqueles que trabalham mal a expensas dos que trabalham bem, enquanto que os dirigentes das fabricas, que sdo responsa- veis pelas perdas, podem enco- brir sua responsabilidade ooupan- do fungdes de direego em outras fabricas, sem temer o fato de se- rem criticados por alguém pelos erros que cometeram. Ainda que em “‘teoria’” E. Kar- dolj tenha suprimido a burocracia @ a tecnocracia, 0 papel de uma classe dominante tecnocratica, na realidade, na pratica, se de- senvoiveu tapicamente e encon- trou um amplo campo de aco neste sistema supostamente de- mocratico no qual 0 papel do ho- mem trabalhador ¢ ficticlamente “determinante’. Na verdade, o quo 6 determinants & o papel des- ta camada de funcionérlos e de novos burgueses que dominam. as empresas sob “autogestéo”. So eles que elaboram 0 piano, que fixam os investimentos, os salérios de cada um dos operérios © 08 proprios, seguindo, natural- mente, a lei do funil. Promulgaram-se leis e regula mentos de tal modo que os ga- nhos sejam muito elevados para a direcdo e reduzidos para os ope- rérios. Na lugoslévie, esta camada re- duzide de pessoas, engordada com 0 suor é 0 trabalho dos ope- rarios, que toma decisSes em seu préprio interesse, converteu-se em classe capitelista, Assim foi criado 0 monopélio politico do poder de decisdo © da distribui- 90 dos salarios pela elite nas em- presas sob “autogestdo” socialis. ta, enquanto que Kardelj, nao deixando de repetir a mesma can- tilena, pretende fazer crer que es- te sistema politico, inventado pe- los titistas, contribui para criar as condicdes necessérias para o exercicio real dos direitos de “au: togestéo" e “democraticos’” dos operatios, os quais o sistema re- conhece em principio. Foi precisamonte o sistema de “autogestéo” que estimulou a formacdo da nova classe capita- lista. 0. proprio Tito reconhece este triste fato através de uma “critica severa’” que supostemen- te faz dos exploradores dos ope- ratios, de todos aqueles que diri- gem este sistema de “‘autogestdo socialista” e dele se aproveitem Nos seus numerosos discursos, n&o obstante esforca-se por en- cobrit os males de seu sistema pseudo-socialista, tem-se visto obrigado @ reconhecer a grande crise que se apoderou deste siste- ma pseudo-socialista e a polariza- ¢Bo da sociedade iugoslave em ri- cos @ pobres. “Eu no considero enriquecimento, diz ele, 0 que o homem ganha por seu trabalho, inclusive se, com sous ganhos, tenha construido um chalé. Mas quando se trata de centenas de milhGes ¢ inclusive de bilhdes, es- tamos frente a um roubo... Estes nfo so salarios obtidos com a forga de trabalho... Esta riqueza se cria por meio de diversas espe- culagdes dentro e fora do pals. Agora, devemos ver 0 que ocor- reu com aqueles que constroem casas, uma em Zagreb, outra em Belgrado, uma terceira em algum lugar da costa ou em algum outro lugar. Nao se trata de simples ca- sas de repouso, mas de chalés que freqiientemente sé0_aluga- dos. Além disso alguns néo tem um, porém dois ou trés carros por familia....1 Em outra oca- sido, para fazer crer que est, su- postamente, contra o desenvolvi- mento de camadas ricas e pobres na sociedade, assinalou também que os depésitos de algumas pes- soas ricas privadas nos bancos iugoslavos ascendem a cerca de 4.500 milhdes de dalares, sem calcular as somas depositadas nos bancos estrangeiros e aque- las que tém em maos. Falando sobre o sistema inven- tado pelos revisionistas titistas, Kardelj vé-se obrigado a mencio- nar de passagem a necessidade de luter “... contra as diversas formas de deformacao e as tenta- tivas de usurpagdo dos direitos dos trabalhadores e dos cidadaos @ autogestio” (pag. 174). 0 ca- minho de saida para estes “‘abu- sos” buscado novamente no marco do sistema de “‘autoges- Ho” ampliando ”... 0 correspon- dente mecanismo de controle so- cial democratico..."” (pag. 178). E oportuno indagar: a que clas- se Kardolj faz alustio, quando fala da “usurpacdo dos direitos dos trabalhadores & autogestéo’’? Naturalmente nao o diz, porem se trata da velha e da nova classe burguesa que usurpou o poder da classe operéria, que a mantem sob a férula e a explora até a me- dula, Kardelj em vo se esforca para apresentar os “conselhos operd- fies", as “organizagdes funda- mentais do trabalho associado” etc. etc. como a expressao mais auténtica de “democracia’’ e da “Miiberdade"’ do homem em todas 13 as esferas sociais. “Os conselhos operarios” ngo so mais que or- gos puramente formais, que ndo defendem nem tornam realidade 08 interesses dos operérios, mas sim 2 vontade dos dirigentes das empresas, porque corrompendo- 08 material, politica e ideologica- mente, integraram-nos na “aris- tocracia”” e na “burocracia operd- ria’, agéncias que tém como miss&o enganar a classe operéria com falsas ilusées. A realidade iugoslava é um cla~ ro testemunho da felta da verda- deira democracia para as massas. Endo poderia ser de outra manei- ra. L@nin assinalava que: "48 democtacia na produc3o 6 um termo que se presta a inter- pretagdes distorcidas.. Pode-se entendé-la no sentido de que ne- gaa ditadura e @ direc30 unipes- soal. Pode-se interpreté-ia no sentido de um obstaculo ou de um pretexto que se poe 3 demo- cracia ordinéria” 2 No pode haver democracia socialista para a classe operéria sem seu Estado de ditadura do proletariado. 0 marxismo-leninis- mo nos ensina que a negagdo do Estado da ditadura do proletaria- do é ¢ negagéo da prépria demo- cracia para as massas trabalhado- res. A negacdio dos revisionistas tu- goslavos do Estado de ditadura do proletariado, da propriedade social socialista sobre a qual se apdia, levou-os a uma direcdo descentralizada da economia e ‘sem um plano Unico de Estado. O desenvolvimento da econo! nacional sobre a base do plano nico de Estado e sua diregéo pe~ lo Estado socialista sobre a base do principio do centralismo de- mocratico so uma das leis gerais e dos principios fundamentais da construcdo do socialismo em ca- da pais. Do contrario, ocorre co- mo na lugoslévia, onde se cons- tri 0 capitalismo. 1. Entrevista de Tito a uma corres- Pondente do periodico “Vjestnik”, outubro de 1972, 2. Val. Lénin, Obras, ed. albanesa, t. XXXIL, pag. 80. 14 Kardelj pretende que € reco- nhecido aos operdrios, em suas organizagées de “‘autogestéo”, 0 direito a“... dirigir a atividade da organizaco do trabalho associa- do..." (pag. 160), ou seia, das empresas, podendo, pois, planifi- car supostamente também 4 pro- dug&o. No entanio, qual é a real dade? O operdrio nestas organi zages nao dirige, tampouco cla- bora o chamado plano de base. Isto é feito pela nova burguesie - @ direedo das empresas - enquan. to que 6 dada aos operérios a im- presséio de que supostamente séo 03 “conselhos operérios”” que fazom a lei nestas organiza- g6es sobre @ “autogestéo”. Isto corre também nos pafses capita- listas, onde € 0 capitalista que de- tém todos os poderes nas empre- sas privedas, que conta com sua propria tecnocracia, seus tecno- cratas que as dirigem, embora em certos paises haja também re- presentantes dos operérios, cuja funcdo é destituida de importan- cla, mas o suficiente para forjar entre os operdrios ¢ ‘alsa iluséo de que supostamente também eles participam na direc&o dos as- suntos da empresa. No entanto, isto é uma falacia. A chameda planificag&o que se faz nas empresas iugosiavas sob 2 “autogestéo” no somente nao se pode quolificar de socialists sendo que, ao realizé-Is conforme ‘0 exemplo de todas as empresas, capitalistas, ela conduz &s mes- mas conseqiiéncias que se obser- vam em toda ecenomia capitalis- ta, como @ anarquia na produ- 0, a espontaneidade e a uma série de outras contradigdes que se manifestam da maneira mais aberta e aguda na economia e no mercado iugolavos. **.,, O livre intercambio do tra: balho entre 2 producao de merca- dorias e 0 mercado livre que se auto-adminisira, (0 grifo é nosso) no atual estagio de desenvolvi- mento socioeconémico, escreve Kerdeli, 6 uma condicao pera 2 auto-administracao. Este mer- cado... é livre no sentido de que as organizagses sob a autogestéo do trabalho associado se inte- gram livremente e com menos tervengdes administratives poss! veis, nas relacdes de livre inter- cambio de trabalho. A supressao desta liberdade conduz inevita- velmente & renova¢&o do mono- pélio estatal sobre o aparelho de Estado’ (pag. 95). Nao hé negacao mais manifes- ta dos ensinamentos de Lénin, que escrevi “0 comércio ‘justo’ que nao se esquiva do controle do Estado, devemos apoia-lo, nos convém. desenvolvé-lo”, ... j@ que a li- berdade de venda, a liberdade de comeércio é um desenvolvimento do capitalismo”.1 “Estes ensinamentos so totalmente estranhos para Kardelj porque ele nega o Papel econémico do Estado Socialista e da propriedade socialista’’ SE A economia politica do soci lismo indica que em um regime sociglista, 0 comércio, assim co- mo todos os outros processos da reproduco social, é um processo planificado e dirigido de maneira centralizada, que se basela na propriedade’ social socialista so- bre os meios de produgéo € a0 mesmo tempo é¢ parte integrante das relac6es socislistas de produ- 0. No entanto estes ensina- mentos para o revisionista Kerdelj ‘sG0 totalmente estranhos e isto se deve & negao que faz do pa pel econémico do Estedo soci lista e da propriedade socialista. © mercado interno iugosiavo é um mercado tipicamente capita- lista descentralizado no qual qualquer um pode vender e ¢om- prar livremente os melos de pro- dugo, 0 que esta em oposi¢&o ‘com as leis do socialismo. Por is- so 6 gue a agéncia TANJUG se vé obrigada @ admitir que todo o mercado iugoslavo esta domina- do pelos empresarios, pelos inter- medidarios e pelos especuladores. No mercado reina 0 caos, a es- pontaneidede, as flutuagdes ca- tastr6ficas dos pregos etc. Se- gundo dados do Instituto Federa- tivo lugoslavo de Estatistica, os precos dos 45 produtos principais e as tarifas dos servicos sociais na lugoslavia aumentaram 149,7 por cento no periodo 1972-1977. No que diz respeito & venda de mercadorias no pais, © poder aguisitivo € muito débil, devido aos baixos salérios dos trabalha- dores e porque no ultimo balan¢o das empresas nfo fica grande coisa para distribuir aos operd- tios. A empresa deseja vender em qualquer parte © independente- mente seus produtos, porque 0 tinico desejo de seus dirigentes principais, ou seja, dos principes da nova burguesia, ¢ assegurar lucros. Porém como gerar estes lucros, se 0s compradores so pobres? Entéo se tem recorrido a outras formas, sendo uma delas a venda a crédito. A venda a crédi to dos produtos fabricados por ‘estas empresas sob a “"autoges- tdo” 6 uma nova cadeia que o operério iugosiavo arrasta, do mesmo modo que este mesmo sistema capitalista faz pesar so bre os operérios dos paises capi talistas, mas que na lugoslévia se intitula “autogestéo socialista’”’. Estes so os mesmnos tragos que caracterizam igualmente o comércio exterior iugoslavo onde nao existe o monopélio do Esta- do. Cada empresa, segundo os desejos da classe patronal, pode estabelecer contratos e acordos com qualquer firma ou sociedade multinacionais, com qualquer pals estrangeiro para comprar ou vender matéries-primas, méqui- nas, produtos _manufaturado: tecnologia etc. Esta prética anti- marxista tem feito também com gue a lugoslévie se transforme em um pals vassalo do capital mundial, que se agregue & pro- funda crise econémice e financei- re que tem acossado todo omun- do capitalista e revisionista, crise que so manifesta também am ou- tros setores. Como revisionista recalcitran- te, Ed. Kardelj nega, além disso, © papel do Estado socialista tam- bém em outros setores, como re- lagdes financeiras e outras ativi- dades de carater diverso. Ele es- creve que: ’’As relacdes nos seto- Tes em que assentam as comuni dades de autogestio dos interes- £08, por regra geral, sem a inter- venedo do Estado, ou seja, sem a mediagao do oreamento e de ou- tras medidas administrativas © fiscals...” (pag. 167). 1. VL. Lenin, Obras, ed. albanesa, 1 XXXIl, pags. 426, 413. Prine 45 Na lugostévia, como nos ou- tros paises capitalistas, propa- gou-se em vasta.escala o sistema de concessdo de oréditos por par- te dos bancos em lugar do finan- clamento orcamentério das inver- ses para o desenvolvimento das forcas produtivas e de outras ati- vidades. Os bancos converteram- se em centtos do capital financei ro @ so precisamente estes os gue jogam um importantissimo papel na economia iugosiava, in- teresse da nove burguesia revi sionista, “Na lugoslavia instaurou- se um sistema anarco- sindicalista que tem sido denominado de autogestgo socialista” Assim, um sistema anarco-sin- -alista instaurou-se na lugosla- via © tem sido denominado de "autogestio socialista’. E 0 que trouxe & lugoslavia esta “‘auto- gestZo socialista””? Todos os m: les. Em primeiro lugar a anarquia na produgdo. Neste pais nada é est4vel, cada empresa inunda o mercado com seus produtos e se desenvoive a concorréncia capi- talista, posto que ndo existe uma atividade coordenada, porque no é a economia socialista quem dirige a producto. A mesma em- presa luta, em concorréncia com outras, por segurar as matérias- primas, os mercados de venda etc. Muitas empresas entram em faléncia por falta de matérias-pri- mas, devido aos grandes déficits ‘gue este desenvolvimento caéti- lista cria, 20 aumento jonados por falta de poder aquisitivo e & setu- ragéo do mercado com artigos fora de moda. A situag&o dos ser- vigos de artesanato na lugoslavia 6 também muito grave. Tito, fa- lando a respeito no ativo dirigen- te da Eslovénia, no péde ocultar 0 fato de que “Atualmente, com fregiiéncia, cansamo-nos um bo- cado para encontrar, por exem- plo, um carpinteiro ou algum ou- tro artes#o para uma reparecao qualquer, ¢ quando o encontra- mos, exploramo-lo até o ponto ‘em que seus cabelos ficam em pe’. Independentemente do fato de que, como jé indicamos mais aci- ma, os produtos fabricados por alguns complexos industriais mo- dernos sdo de boa qualidade, na lugoslaévia cria-se uma situacdo dificil, em conseqUéncia da falta de mercados para estes produ- tos. Esta é 2 origem do déficit da balanca comercial iugoslava. So- mente nos 5 primeiros meses deste ano o déficit alcangou os 2 bilhdes de ddlares. No XI Con- gresso da Liga dos “‘Comunistas”” da lugoslavia, Tito declarou que "o déficit referente ao mercado ocidental tomou-se quase intole- rével’. Aproximadamente trés meses apés este congresso, vol- tou a declarar na Eslovénia: “Te- mos, em particular, grandes di culdades em nossos intercambios comerciais com o Mercado Co- mum Europeu. Aqui a diferenga, desfavoravel para nés, 6 conside- rével e segue aumentando. Deve- mos falar muito sério com eles a respeito. Muitos deles nos pro- metem que estas coisas se ajus- taréo, que eles aumentardo as importagées da lugoslavie, po- rém de todos estes informes até o presente temos obtido pouco be- neficio. Cada um joga a culpa no outro.” Eo déficit nos intercam- bios comerciais com o exterior, que Tito no menciona em seu discurso, em 1977 superou os 4 bilhdes de délares. Isto 6 uma ca- téstrofe para a lugoslavia Todo © pais encontra-se em ume crise continua e as grandes massas trabalhadoras vivem na pobreza. Um grande ntimero de operarios iugoslavos estéo de- sempregados, so demitidos ou emigram para o exterior. Esta emigragéo econdmica, este fend- meno capitalista, Tito néo s6 o conhece, como também tem re- comendado estimulaé-lo. Em um pais socialista nég.node haver de- Eomprogo oo mise eisro testemu- nho disto é a Albania. Enquanto’ isso, nos paises capitalistas, nos quais naturalmente também so inclui a lugoslavia, existe e se cria desemprego em todas das par- tes. Quando na lugoslévia ha mais de 1 milhao de desemprega- dos e mais de um milhao e tre- zentos mil emigrantes econdmi- cos que vendem sua forca de tra- balho & Alemanha Federal, a Bél- gica, & Franga etc.; quando con- tinua aumentando rapidamente a riqueze privada dos individuos que exercem altes func&es, quer seja no poder, quer seja nas em- presas e instituig5es; quando os precos dos artigos de primeira necessidade aumentam adia © as empresas e suas que falem se contam aos milhares, tu- do isto demonstra que o sistema de “autogestao iugoslava” 6 um grande blefe. E Kardelj, com o maior descaramento, chega até a0 ponto de dizer que “em nos- sas condic6es, a auto-administra- 980 socialista 6 a forma mais dire- ‘tae a maior expressdo da luta pe- la emancipaggo do trabalhador, por sua liberdade de trabalhar € de criar, para que sua influéncia econémica ¢ politica soja deter- minante na sociedade” (pég. 158). eS “A lugoslavia encontre-se numa crise continua e as grandes massas trabalhadoras vivem na pobreza.” Indo mais além com sua co- nhecida fraseologia, com sua de- magogia de tipo burgués, Kardelj mente até o extremo ao dizer: “Havendo-se sancionado _me- diante a constituiczo eas leis, os direitos dos operarios, sobre @ base de seu trabalho socializado, nossa sociedade amplia ainda mais as dimensdes da verdadeira liberdade dos operdrios e dos tra- balhadores nas relagdes materiais da sociedade” (pag. 162). Que entende este apologista da bur- guesia por “extensao das dimen- 86es da verdadeira liberdade dos operérios”? “‘Libertade” de estar desempregado, ‘“liberdade"’ de abandonar sua familia e su pé- tria para ir vender sua forca de trabalho e sua capacidade inte- lectual aos capitalistas do mundo ocidental, “liberdade” de pagar impostos, de ser objeto de discri- minag&o e de ser explorado bar- baremente pela velha ¢ pela nova burguesia iugosiava, assim como pela burguesia estrangeira? 16 O Sistema de “autogestio” e a negagao do papel dirigente do Partido Os _revisionistas iugosiavos mantém, além disso, uma atitude antimarxista em relacdo 2o papel dirigente do partido comuniste na construgao do socialismo. Se- gundo 2 “teorla” de kardelj, o partido no pode dirigir nenhuma atividade econémica ou edminis- trativa, mas somente pode e deve exercer sua influéncia através do trabalho de educago entre 08 operarios, a fim de que estes compreendam melhor o sistema socielista. A negagio do papel desempe- nhado pelo partido comunista na construco do socialismo e a re- ducéo deste papel a um “fator ideolégico” © de simples “orien- taco", est em aberta oposigéo com 0 marxismo-leninismo. Os inimigos do socielismo cientifico “argumentam”’ esta tese, preten- dendo que a dirego do partido & incompstivel com o papel decisi- vo que dovem desempenhar as massas de produtores, as quais, segundo eles, corresponde influir politicamente de maneira direta & ngo mediante o partido comunis- ta, posto que este conduziria ao “despotismo burocrético’’! Opostamente a estas teses an- ticientifias destes inimigos do co- munismo, a experiéncia historica tem demonstrado que 0 papel di- rigente ¢ indivisivel do partido re- volucionario da classe operéria é indispensavel na luta pelo socia- ismo e pelo comunismo. Como é sabido, o papel dirigente do parti- do constitui uma questo do im- portancia vital para os destinos da revolugo e da ditadura do proletariado, @ isto obedece a uma lei geral da revolucdo socia- Nista. Lénin diz que “... no 6 possivel exercer a di- tadura do proletariado sendo através do partido comunista’’.1 A influéncia politica direta das massas trabalhadoras na socieda- de socialista de maneira alguma pode ser obstaculizada pelo parti- do comunista, que representa 8 classe operéria, cujos interesses ngo esto em oposicao aos inte- resses dos demais trabalhadores. Pelo contrario, somente sob a di- ver no, rego da classe operaria ¢ de sua vanguarda, as massas trabalhe- doras participam ampiamente no governo do pais e tornam realida- de seus interesses. Em um pais verdadeiramente socialista, como 6a Albania, toma-se diretamente a opinigo das massas trabalhado- tas sobre importantes quest6es. Os exemplos a respeito silo inu- merdveis, come¢ando pela con- sulta popular que deu lugar ao debate e 4 aprovacdo da Consti- tuic&o e a elaboracio dos planos econémicos etc. etc. 0 'despo- tismo burocratico” 6 uma carac- teristica tipica do Estado capita- lista e jamais pode ser confundi- do com 0 papel dirigante do parti- do no sistema da ditadura do pro- letariado, que por sua natureza e seu caréter de classe ¢ rigorosa~ mente antiburocratico. Prosseguindo 0 desenvolvi- mento das idéias revisionistas so- bre 0 papel do partido, Kardelj es- creve que @ Liga dos “Comunis- 48 — combate 20 rovisionismo 1ug0s!v0. tes, apesar de que deve lutar a fim de que 2s principals fun¢Bes do poder estejam nas mios das forcas subjetivas favoréveis ao socialismo e 2 autogestfo socia- lista“... no pode ser um partido politico de classe” (pag. 119). Eis aqui 0 partido que os revisionis- tas iugosiavos buscam! Estes ndo desejam, e em realidade néo tm um partido politico da classe ope- réria, mas sim desejam uma orga- nizagéo burguese, um clube no qual quaiquer um pode entrar ¢ sair, quando © como quiser, bas- tando declarar que 6 “comunista””, sem que soja ne- cessério s8-Io. Naturalmente isto 6 ume pratica normal para um partido como a Liga dos "Comu- nistas” da lugoslévia, que nada tem de comunista. 4. Vil. Lénin, Obras, ed. elbeness, t, XXKIl, pag. 226. Priaeiaio Nunca houve nem jamais have- ré partido e Estado a margem das classes. 0 Estado @ 0 partido so produtos de classe. E, como tais, nasceram ¢ assim sero 0s parti- dos 0 0s Estados até se chegar a0 comunismo No obstante considerar liqui- dado © papel dirigente da Liga dos “Comunistas”, no deixa de dizer de todos os modos e por pura demagogia que esta Liga, “com suas posigdes claras (que por sinal nao so nada claras, mas, pelo contrario, obscuras @ confusas) deve empenhar-se na busca dos meios para resolver os multiplos problemas, assim como dos métodos ¢ formas para 0 ul- terior desenvolvimento do siste- ma politico da auto-administra- Go socialista’. Se 0 Estado ¢ 0 partido no podem criar a felici- dade do povo, como escreve 0 renegado Kardelj, entdo por que se pede que so concedam essas prerrogativas & Liga dos “Comu- nistas”’ da lugoslavia? Se @ socie~ dade de “autogesto” iugoslave nao necessita da direcgo de um partido politico Gnico, como se pretende, entdo que necessidade hd da directo da Liga dos “"Co- munistas’” da lugoslavie? Enquanto que Marx defende um auténtico partido da classe operdria, que dirlja esta classe e a faca tomar consciéncia de sua misséo historica, pera Kardelj 0 proletariado pode fazer progredir © pais € tornar realidade suas as- piragdes de maneira espontanea, inclusive eem o papel dirigente do partido. Isto o faz para legalizar a teoria da “auto-administracao”, teoria que esté também a favor do pluralismo politico, ou seja, pela unio de todas as forcas so- na chamada Liga Socialista do Povo Trabalhador, indepen- dentemente de suas distingdes ideolégicas e politicas, ¢ a favor de um partido que nada tem de comunista, porém que Ihe poem © r6tulo de dirigente de todo o sistema antimarxista da “auto- administracao”, revisionista Kardelj fala do burocratismo dos partidos oci- dentais do capital. Porem tam- pouco aqui nada de novo desco- briu, porque é sabido que o buro- cratismo 6 inerente 8 natureza do capitalismo e constitui um traco caracteristico deste. Se denuncia a burocratizagao dos outros pa dos nao é para criticd-los, mas para dissimular 0 burocratismo ¢ logo a liquidaco do Partido Co- munista da lugoslavia e despojé- lo de toda prerrogativa que lhe correspondia. Os titistas consido- ram como desburocratizagao por © partido a retaguarda dos acon- tecimentos, dos fendmenos e dos processos da vida politica @ social ¢ transform4-lo em um par- tido da burguesia e, para encobrir sua traigo, colaram-Ihe a etiquta de “Liga dos Comunistas da lu- goslévia’’. “Nunca houve nem jamais haveré partido e Estado & margem das classes O Estado e 0 partido so produtos de classe.” Para se saber se um partido 6 ou nao comunista, ou se é ou néo um partido da classe operéria, no se pode julgar através do no- me que leva, mas sobretudo pelo fato de quem so aqueles que o dirigem e qual é a atividado que realiza, Lenin dizia: “que um partido seja, ou ngo, um auténtico partido politi- 0 Operério depende também de quem 0 dirige @ do contetido de sua aio e de sua tética politica’. E em verdade, a Liga dos “Co- munistas” da lugoslévia no s6 no escapou do burocratismo, como h4 tempo que deixou de existir como partido dos comu- nistas iugoslavos. Sua saturacéo através de numerosos aparelhos, de uma multidgo de funcionarios e burocratas a soldo, do mesmo modo que 05 partidos revisionis- tas ocidentais ou os partidos so- cialdemocratas, 6 um dos fatores que fizeram com que este parti- do, longe de estar na vanguarda da classe operéria, tenha se con- vertido em um partido que se opie a esta classe. Na lugoslévia j4 ndo existe, co- mo direco do Estado e da socie- dade, 0 papel dominante da clas- se operaria @ de seu partido de vanguarda. Segundo Kardelj, na lugostévia @ Liga dos “‘Comunis- tas” néo tem nenhum direito a di- reco politica no sistema do Esta- do, porque ali o poder é exercido 1 através do sistema de delega- 80, enquanto que a Liga dos Co- 17 munistes, ainda que parte inte- grante do sisteme de auto-admi- nistrago, constitui um dos fato- tes mais importantes da influén- cia social na formacao da cons- ciéncia dos auto-administradores e dos érgaos de delegados”’ (pég. 73), Penso que aqui nao ha ne- cossidade de muitas explicagdes. Basta o que escreve este renega- do para se convencer de que na lugosiavia no existe a ditadura do proletariado como dominaco politica da classe operdria e como diregao estatal da sociedade por parte desta classe. E posto que ali no existe esta ditadure, tampou- co pode-se falar da existéncia do partido da classe operatia, senéo de um partido da burguesia Kardelj pretende que o “siste- ma de partido Gnico" em um pais socialista € uma transformag3o especifica do sistema politico burgués e que 0 papel de um par- tido (aqui se refere ao Partido Bolchevique) 6 0 mesmo quo o do “sistema de pluralidade de partidos”, do pluralismo politico burgués, ‘porém com uma “pe- quena” diferenca: no sistema de partido Gnico, a frente do poder politico esto unicamente os diri- gentes deste partido, enquanto que no sistema de plurelidade de partidos, os dirigentes se reve- zam no poder. Este falsificador pOe em um mesmo plano os par- tidos burgueses e 0 partido dos bolcheviques, criado pelos revo- lucionétios russos com Lénin & frente. Segundo ele, no existe nenhuma diferenga entre a dire- Go do Estado e 2 direcdo da so- jedade em relaco 2 um verda- deiro partido dos comunistas e a dominagéo da burguesia através do sistema de pluralidade de par- tidos. Isto demonstra uma vez mais que 08 titistas, assim como a burguesia, consideram os parti- dos politicas e 0 Estado como instituigdes que estariam acima das clesses. Sea classe operéria é adversé- ria até a morte da burguesia e se estas duas classes tm-se organi- zado em partidos politicos para defender seus interesses antago- nicos e dominar cada uma por ‘sua vez a sociedade, isto nao sig- nifica que 0 partido da classe operdria, 0 partido marxista-leni- 1, Vil. Lénin, Obras, ed. albanesa, t. xX!) pag. 285. 18 nista, no tenha diferencas com 0 partido burgués; pelo contrario. Quando 0 Partido Comunista da lugosiévia se transformou em um partido burgués, de maneira al- guma converteu-se em um parti do acima das classes, mas sim ‘transformou-se de vanguarda da classe operéria em instrumento da burguesis, perdeu somente sou cardter de classe proletéria, mas no seu caréter de classe em geral, porque sobreveio um parti- do da nova classe burguesa. A di- ferenga entre o partido comunis- ta e um partido burgués na dire- g80 do Estado nao é “pequena”, mas muito grande, profunda, de principios, de classe, que nao po- de ser reduzida a “‘rotagao” de seus chefes no poder politico, co- mo pretende este renegado. Com estas “‘elucubracGes” so- bre a “pequena diferenca’ que existe entre o sistema politico burgués ¢ 0 sistema socialista entre o partido burgués e o parti do marxista-leninista, os revisi nistas iugoslavos querem dizer gue sua pressurosa marcha para © capitalismo nao deve ser impu- tada como um grande erro. Esta inteiramente claro que os revisio- nistas iugosiavos nao podem ex- pressar na teoria posicdes diver- sas as que tém mantido na préti- ca Fazendo sermées sobre as “di- ferencas do sistema de partido Unico”, buscando assim atacer a conetrugéo do socialismo na Uniio Soviética dos tempos de Lénin ¢ Stélin, ele escreve: “Ali constata-se ante tudo a tendén- cia & unio pessoal dos dirigentes do partido com o aparelho execu- tivo do Estado, convertendo-se este partido em um instrumento de aco das tendéncias tecnobu- rocraticas na sociedade. (pag. 64). A fim de “escapar” deste “tec- noburocratisma’” e desta tendén- cia “A unig pessoal dos chefes do partido com 0 aparelho execu- tive do Estado sob 0 socialismo’", que arbitrariamente atribuem-no 08 boicheviques, os senhores revisionistas iugosiavos criaram seu_préprio sistema, que nao é sen&o uma ditadura do grupo ti- tista. Nas denominadss assom- bigias das comunidades de auto- gestdo ¢ em seus aparelhos exe- cutivos, como admite o préprio autor do livro “... esto manifes- tando-se com mais forga as ten- déncies burocrético-centralistas’” (pag. 232). Na lugoslavia, 0 po- der executivo é manipulado por Tito e sua camarilha. No obstan- te asseguar que supostamente no aspiram 20 poder, o presi- dente da Liga dos “‘Comunistas” da lugoslavia é presidente eterno do Estado iugoslavo e todos os altos funciondrios que ocupam postos chaves no poder, no exér- cito, na economia, na politica ex- terior, na cultura, nas organiza- Ses socials etc., desempenham importantes funcSes na Liga dos "Comunistas’ da lugoslavia. To- da questo é que os revisionistas iugoslavos, enguanto etacam os ensinamentos marxistas-leninis- tas sobre a direcdo do partido proletério na sociedade socialis- ta, na prética se esforcam por manter firmemente em suas mos as rédeas do poder. A cha- mada Presidéncia da lugoslavia no foi constitulda para assegu- rar a direc3o coletiva do Estado, nem para combater o burocratis- mo no qual se assenta, nem para defender 0 Estado iugoslavo das forcas dominantes externas com respeito a esta, como temos ou- vido dizer algumas vezes, mas 6 uma desesperada tentativa de as- segurar a dominagao do titismo apés a morte de Tito, Isto de- monstra que 0 regime iugoslevo no somente em seu contetido, ‘mas também om sua forma, néo 6 sendio um poder capitalista que reprime 0 povo, tentando masca- rar-se atras de slogans engano- sos. Kerdelj_n&o pode apagar o sombrio periodo negro na histéria da lugoslavia quando, como con- segiiéncia da traig¢do da direcdo do Partido Comunista da lugosté- via ¢ da instauraedo da ditadura titista, os povos deste pafs senti- ram na prépria carne as injusti- ¢as, a violencia 0 0 terror mais desenfreados. O porte-voz titista, Kardelj, tenta passar por alto este petiodo obscuro com alguns slo- gané tendentes a convencer os povos da lugoslavia de que néo se queixem dos sofrimentos, pos- to que “também nossa revolucdo socialista, em sua primeira fase constituiu, sob determinada for. ma, um’sistema de partido unico de’ democracia revolucionaria, mas jamais tomou uma forma “cléssica stalinista’” (pigs. 64-5). Este renegado nem sequer é dig- node mencionar a “forma cléssi- ce stalinista’’, que é ume forma tao democratica e socialista quo no somente 0 regime de Tito- Kardelj-Rankovich dele néo se aproxima em absoluto, mas que seria uma vergonha querer com- peré-lo a ela. Os monstruosos cri- mes cometidos na lugostévia no foram perpetrados durante o pe- riodo no qual existiam relacées de amizade com Stélin e a Unido Soviética de sua época, mas pre- cisamente apés 0 rompimento desta amizede © quando a lugos- lavia tomou abertamente o cami- nho da “autogesto”’ Atualmente na lugoslavia, se- gundo a “teoria”” de Kardeli, de- sapareceu “completa e radical- mente” a unido pessaal dos 61- 80s executivos da Liga dos “Co- munistas” da lugoslavia e dos ér- géos executivos do Estado, por- que a Liga dos “Comunistas”’ da lugosiavia esta supostamente pri- vada de toda competén que Ihe permite exercer 0 papel de forga dirigente ideolégica e politi- cana sociedade, Seu Unico papel se reduz a exercer influéncia so- bre as massas, “Os monstruosos crimes cometidos na lusgolavia nao foram perpretados durante o periodo em que existiam relac6es de amizade com Stélin’”” Porém, como e em que esta espécie de Liga podera influir so- bre as massas, quando néo esta investida de nenhuma competén- cia para dirigir? Em nada. Tito, ‘em um momento de desespero, reconheceu que a “Liga dos Co munistas da lugosiévia se reduziu a.uma organizacdo amorfa, apoli- tice”. Mas Kardelj, para evitar o descrédito total dos titistas, 0 corrigindo as afirmacdes de seu chefe, indica que supostamente a “"... Liga dos Comunistas conver- teu-se em um dos mais podero- 308 pilares da democracia de no- Vo tipo: da democracia do plura- lismo de interesses de auto-admi- nistra¢&o” (pag. 65) 19 Se a “auto-administrac goslava despojou 2 Liga dos “Co- munistas”” da lugoslévia de seu papel de direc&o politica, suben- tende-se que esta “auto-adminis- tracSo” privou também a classe operéria de seu papel politico, posto que esta pode exercer suas prerrogativas unicamente através de sus vanguarda, 0 partido co- -‘munista, Se a vanguarda da clas- 80 operaria vé-se privada de seu poder de direcdo, seria absurdo pretender que a classe exerca os direitos quo the correspondem. Nestas condices, é de se imagi nar como 0 proletariado e as de- mais messas trabalhadoras po- dem “auto-administrar-se” nesta espécie de democracia “de novo tipo’’! Vejamos 0 que Kardolj diz concretamente a respeito: “A Li- ga dos Comunistas no domina através do monopélio politico, mes expressa, de uma forma es- pecifica, porém muito importante do ponto de vista sécio-histérico, os interesses da classe operaria, € a0 mesmo tempo os interesses de todos os trabalhadores e da sociedade, no sistema de auto- administracdo e do poder da clas- se operdria e do povo trabalha- dor, sistema que se apdia no plu- ralismo democratico dos interes- ses dos individuos sob a auto-ad- ministragao” (pags. 65-6). Esta fraseologia empolada e obscure néo demonstra outra coisa sendo o fato incontestavel de gue o partido nz lugoslavia ca- minha a reboque, que existe so- mente no papel. Ndo obstante se pronuncie, por pura ret6rica, pelo reforgamento do papel do parti- do, mas, devido & maneire como ‘© concebe, néo restou a Kardelj outra alternativa sendo. afirmar que: “... A Liga dos Comunistas da lugostévia no esté politica- mente e de maneira criadora sufi cientemente presente... em todo © sistema democratico da 2uto- administraclo @ na estrutura da politica e da prética das outras or- ganizagées sociais ¢ politicas..."” (pags. 263-4), E entdo, onde esta presente a Liga, se nao esté nos lugeres onde deveria ester e se na lugosiavia, como. informou a agéncia iugoslava TANJUG, dois tercos das aldeias no tém, em absoluto, organizacdes de base da Liga dos “Comunistes’’? Kar- delj nao esté em condigies de responder esta pergunta embara- cosa, porém a analise concreta da atividade pratica exercida pela Liga nos demonstra de maneira incontestével que, como “partido dos comunistas”, nao esta pre- sente om nenhuma parte, en- quanto que, como partido da no- va burguesia iugostava ¢ da dita- dura fascista de Tito, pode estar presente em todas as partes Neste “‘socialismo de autoges- to" iugoslavo, que Kerdelj essu- miu a tarefa de abordar "teorica- mente’, a Lige dos “

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