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Cra perertin (Y ) . G525¢ J. — So. Pa ‘Grandes cientistas socials : 1. Antropologia I. Carvalho, Edgard de Assis, 1. 17. CDD—390 10472 1g 301.2 Indice para catélogo sistemitico: 1. Antropologia 390 (17.) 301.2 (18.) SUMARIO INTRODUGAO (por Edgard de Assis Carvalho), 7 1. A RACIONALIDADE DOS SISTEMAS ECONOMICOS EDICAO Tradugdo: Danielle _M. Edson Pas- Copidesque: Nelson Nicolai ¢ M. Carolina de A. Boschi Coordenagao editorial: M. Carolina de A. Boschi Consultoria geral: Prof. Florestan Fernandes Capa Projeto grafico: Arte-final: René Etiene Ardanuy Foto: Abel de Barros Lima Texto Projeto gréfico: Vii Producdo gréfica: Elaine Regina de Oliveira Supervisdo gréfica: Ademir Carlos Schneider Fujiwara 1981 Todos 0s direitos reservados pela Editora Atica S.A. R, Bardo de Iguape, 10 — Tel.: PBX 278-9322 (50 Ramais) €. Postal 8656 — End. Telegrafico “Bomlivro” — S. Paulo 1. Excedente econdmico e exploracéo, 37 2. Economia e sociedade, a PENSAMENTO PRIMITIVO E HISTORICIDADE 3. Logica dialética e andlise das estruturas, 59 4. Economia mercantil, fetichismo, magia e ciéncia, 66 5. Os fundamentos do pensamento selvagem, 76 6. Evolugio e desenvolvimento, a1 PRODUCAO, PARENTESCO E IDEOLOGIA 7. Modos de produgéo, relages de parentesco e estruturas demograficas, 108 8. “Moeda de sal” circulagao das mercadorias entre os Baruya da Nova Guiné, 124 9. Fetichismo, religido e teoria geral da_ideologia, 149 10. 0 visivel @ 0 invisivel entre os Baruya da Nova Gui 163 11, Infra-estruturas @ historia, 174 12. A.parte ideal do real 185 INDICE ANALITICO E ONOMASTICO, 204 ‘Textos para esta edigiio extraidos de: Goneuier, M. Antropologia y Biologia. Hacia una nueva cooperacién. Bar- na, Ed. Anagrama, 1976; — . Horizon, trajets marxistes en Anthro- pologie. Paris, Maspero, 1973. Corans, Jean et alii. Antropologia, ciéncia das sociedades “} Lisboa, Edigdes 70, 1971 © modo de produgo asidtico. Lisboa, Seara Nova, 1970. Dialectiques, Patis, n itivas"? La Pensée, n. 172, dez. 1973, © Dialectiques, P 977; Maurice Godelier; UNESCO, 1974. Revue Internationale des Sciences Sociales; Annales E. 8, C., Pati ciales, Patis, EdigSes 70, Lisboa, Portugal, 12. A PARTE IDEAL DO REAL * A parte “ideal” do real (social) e a distingio entre ideolégico e niio-ideolégico Quando analisamos o aspecto mais “material” das realidades sociais, as foreas produtivas de que uma sociedade dispde para agir sobre a natureza que a cerca, constatamos que contém dois componentes inti mamente interligados, uma parte material (os utensilios, 0 proprio homem...) € uma parte ideal (represemtagées da natureza, regras de fabricagdo © de uso dos utensitios, etc.). Estas representagées so in- ispensaveis para a mobilizacdo destes meios materiais, a qual se efetua Por conjuntos de aSes encadeadas que constituem o que chamamos “processos de trabalho”. ‘Vimos igualmente, a respeito de Hesfodo, que um processo de tra- batho comporta muitas vezes atos simbélicos pelos quais se age nio is que controlam a reprodugéo da natureza e sio tidos como podendo conceder ou negar ao homem o que ele espera: uma boa safra, uma boa caga, etc, Esta parte simbélica do processo de tra- (P. 170-6) e Norma A. Telles (p. 176-86) 196 balho constitui uma realidade soci sobre a natureza, mas sua finalidade, suas razdes de ser ¢ sta organizagao iades ideais, cuja origem € o pensa- erna constituem igualmente real mento que interpreta a ordem escondida do mundo e organiza a agiio Cobre as poténcias que o controlam, Meios materiais estio, muitas Yezes, implicados na realizagio destes rituais (objetos sagrados, argilas para pintar os corpos, etc.), mas 96 possuem se do sistema de interpretagdo da ordem social € césmica que os sele- cionow. Depois, quando analisamos o significado da auséncia de um termo Gesignando © “trabalho” em grego antigo © as representagoes Tigadas & pritica da agricultura, do artesanat Vimos surgir um outro tipo de realidade ideal: representagdes que atri- buen wn valor positivo ou negativo a um individuo ou a um grupo conforme a tarefa material e/ou simbélica que cumpre € Ihe conferem tin status numa hierarquia social, E estas representagies s6 fazem sentido no interior de um sistema de representagdes que define ¢ dima certa repartigo de todas as tarefas necessérias & reprodugio de tuma sociedade entre 0s individuos e 05 grupos que compdem esta socie- dade (homens/mulheres, velhos/jovens, senhores/escravos, aristocratas/ Yplebe, padres/leigos, etc.). Este sistema de valores constitu: um dos deitos na “divisio do trabalho” do jogo das relagdes de produgio. hamos visto, quando analisivamos o exemplo dos aborigines ustrafianos, que suas relagbes de parentesco eram ao mesmo tempo relagoes de produgio, ¢ tinhamos feito surgir um conjunto de regras de fapropriagio “abstrata” da natureza que eram transmitidas de gerasio tem geracao através das relagdes de filiagao. Nesse caso, estas realidades ideais definiam e legitimavam o acesso concreto dos individuos € dos {grupos aos recursos materiais e as realidades sobrenaturais que com- ‘mas seria para ver surgirem inin- \iltiplos aspectos da vida social, reali- elas fungdes que assumem. E estas real 10 como efeitos no pensamento das relagdes sociais, mas como um dos seus componentes internos necessérios, con- digdo tanto da sua formacio como da sua reprodugio. Se tomamos um sistema de parentesco qualquer, percebemos imediatamente que ele no jades ideais que os pode existir nem se reproduzir sem recorrer a real 187 antropélogos conhecem bem: regras de filiaglio, de alianga, de resi 4 terminologia de parentesco, um conjunto de principios que definem itimam direitos e deveres pessoais ligados a estas relagdes e que ‘am © que significa socialmente ser “parente” relativamente aos ‘ndo-parentes, amigos ou inimigos, e aos estrangeiros, etc. Longe de se pensar que as relages de parentesco existam fora desta realidades ideais © sem elas, sempre as pressupiem. Evidentemente, relagdes de parentesco nfo se reduzem a esta parte ideal, j4 que sfo também um conjunto de relagbes pessoais de dependéncia ou de obrigagio material ‘ou no, reefproca ou nio, N&o séo somente 0 que sio no pensamento, idealmente, mas 0 que mandam concretamente que seja feito. Isto fica mais visivel ainda no caso das atividades religiosas. Que 0 faraé seja considerado wm deus que reina entre os humanos, encar- ago provisoria e ressurreigo permanente de Horus, fi que seja dono da terra e da vida dos seus stiditos, estas sto realidades ideais, representagdes que ao mesmo tempo legitimam seu poder e ser- ‘vem de princfpios para organizar 0 reino, dividir as tarefas ¢ as obriga- ges materiais e espirituais, e fazer trabalhar os camponeses para a loria dos deuses, do faraé ¢ de todos aqueles que dele recebem poder riquezas. Em resumo, hé ideal por toda parte, 0 que nao implica que tudo seja ideal no real (social). As i ” separada das relagSes sociais, re-apresentando-as como demasiada- ‘mente tarde na consciéncia e ao pensamento. O ideal esté, portanto, no pensamento em todas as suas fungdes, presente € atuante em todas as atividades do homem, que s6 existe em sociedade, s6 existe como sociedade. O ideal nio se opde ao material, j4 que pensar é por em © cérebro, A idéia é uma rei € imediatamente evidente, © id sua diversidade, sua comple: jas no aparecem como “uma instin- tesco, da religido. Quais so elas? As representacdes: 1) tornam presentes 20 pensamento “realidades” interiores a0 homem, inclusive 0 préprio pensamento. Estas “re 188 des” podem ser materiais e/ou intelectuais, visiveis e/ou invisiveis, coneretas ¢/ou imagindrias, etc.; idade” quer dizer lade. Interpretar ea 2) mas “apresentar” ao pensamento uma , de pa 6 explicar, definir a natureza, a origem e o funcionamento de um wresente no pensamento. No pode existir representagio que jerpretagio € que nfo suponha a existéncia presentagSes ordenadas por uma légica © uma coeré quaisquer que sejam. Estas interpretagSes 36 existem pelo e no pen- ‘A partir do momento em que representam um mundo ou uma iveis, este mundo invisivel comega a existir socialmente, mesmo corresponda a nada existente na realidade representada. 3) A partir destas representagdes-interpretagdes, 0 pensamento organiza as relagdes dos homens entre si e com a natureza, Serve-lhes de armadura interna e de finalidade abstrata, Existe entio sob a forma de regras de conduta, de principios de acdo, de permissSes ou de inter- dighes, ete. 4) Enfim, as representagdes da “realidade” so interpretagbes que legitimam ou ilegitimam as relagdes dos homens entre sie com a natu- reza. pensamento, Sao elas que assumem de maneira as diversas realidades “ideais” que fizemos surgir na ani exemplos. Estas fungdes esto presentes em graus diferes as atividades sociais e compdem, com outras fungies, relagdes sociais ‘que nao se reduzem a idéias: produzir e controlar os meios materiais ‘assegurar a unidade e a permanéncia dos grupos humanos wvés de inevitdveis contradigées (interesses, poder), atuar sobre a ordem etc, Estas fungies néo podem ser assumidas sem o pensamento, mas nfo se reduzem a fatos de pensamento e 0 pensamento nao pode deduzi-las por si proprio, Nao rascem somente nele mas se arraigam mais fundamentalmente no fato de que somos uma espécie social que pode agir sobre suas condigdes materiais e sociais de existéncia para transformé-las, E este fato 0 homem o herda da evolugao pré-humana da natureza. O pensamento exerce as possibilidades do cérebro. Nao as cria. 189 Fungées do pensamento e das realidades ideais que o pensamento “produz” H:Apresentar" ao | Interpretar 0 que pensamento qual- | esti presente = Javer “realidade”, | = definir sua na- 0, e/ou 6s jinciusive 0 pen- | tureza, origem e | relagdes dos ho- | mica existente, samento, funcionamento. | mens entre si ¢ rR Fy Fy F, Mas interpretar, organizar, legitimar sio maneiras variadas de produzir sentido, Todas as fungies do pensamento confluem, pois, a este resultado: produzir sentido e, a partir das significagdes produzidas, organizar ou reorganizar as relagdes dos homens entre sie com a na- tureza, Mas, ao mesmo tempo, a natureza e 0 homem, como ser capaz de viver em sociedade © de produzir a sociedade, sao realidades que recedem o sentido que 0 pensamento pode Ihes dar e que ndo dependem as realidades ideais, as cas e as que nao o sdo? Existiria um critério “formal” ia distinguir umas das outras? Nao hd, se jgico” qualquer sistema de representacdes de organizagdo por mais vago que seja porque manifesta um pi Podem, de fato, existir representagdes que nao dependeriam de nenhuma outra, nem que seja para se opor, que ficariam no estado “livre” como particulas vagueando no vazio interestelar? jeologia que adas como ideol6gicas as repre- de si préprios € do mundo, e ima ordem social existente nascida sem elas, fazendo tar as formas de dominagao e de opressio do homem pelo hhomem que esta ordem contém e sobre as quais repousa. A que conduz essa definigdo, quando é comparada & nossa anélise das quatro fungdes do pensamento € ao fato de que toda relagao contém uma parte ideal que a organiza do interior e é uma das condigées préprias da sua formagio? Deverfamos considerar como ideoldgicas as Tepresentagdes que “legitimam” as telagdes sociais (F, + Fs + Fie 190 jcas aquelas que as “organizam" (F, 4+ Fs + Fs)? evar em conta 0 fato de que a le lus6rias", Deveriamos, port como no-ideol Mas devemos, al s6rias (F, %). A formula completa se tornaria en ideal _ni-ideolbgico ideal ideolégico Fy + Fattod + Fy Fi + Fal + Fe 6ptica, as representagdes religiosas tornam-se de qualquer forma o “paradigma” de todas as representagées ilusorias que 0 homem tem tido, tem e tera de si proprio e do mundo mutivel em que vive. ‘Vamos examinar todos esses pontos mais detalhadamente, Primeiro, é evidente que entre todas as representagdes que o homem tem de si préprio e do mundo, quando caga, pesca, pratica agricultura, idades, tudo nao é ilu- conhecimentos © de ciéncia do sorio, Contém imenso tesouro de conhecimentos verdadeiros que const concreto”, conforme a expressio de Mas 0 que é ilus6rio nelas € ilusério para quem? Nao para aqueles que acreditam nel: queles que nao acreditam nelas ou no acreditam para nés por exemplo, que podemos thes opor interpretacdes diferentes do mundo que nos parecem mais comprovadas, mais verda as Ginicas verdadeiras. Por definigéo, um mito ndo é um “ 7 pensam-no ¢ formulam-no como que imaginam Ihes ser inspirada por seres sobre etc. Portanto, seria sempre para 0s outros so aqueles que 0 “verdade” fundament naturais, deuses, ancest que as representagdes ideoldgicas apareceriam como sais, isto pretagdes falsas, mas que permanecem desconhecidas como tais. Pode- “se, portanto, afastar logo a idéia estreita divulgada no século XVII ‘a religifo se reduz a mentiras criadas por padres que nunca 0 povo bom e ignorante ¢ submeté-lo a Certamente, nio negamos que existiram ¢ existirio ainda muitos padres e “idedlogos” que nao acreditam ou nao acreditam mais nas idéias que professam © também ndo vamos negar que a mentira € um meio que os dominadores sempre utilizaram para manter a dominagio. 191 E, ao Iado das mentiras declaradas, existem as mentiras por omissio, 6 siléncios, os esquecimentos no discurso, que sio também confissdes. © problema, portanto, nio € 6 explicar como observadores estranhos uma sociedade, seus contemporineos ou nao, possam ndo comparti- Ihar as erencas tidas como verdadeiras nessa sociedade e consideré-tas como falsas, mas explicar como numa mesma sociedade, na mesma . De onde vém estas contradigbes, reduzem-se coisas ou exprimem interesses opostos, contradigSes que ultrapassam o pensamento e sio contidas no proprio funcionamento das relagdes sociais entre os homens dessa sociedade e com a natureza que 0s cerca? Em Atenas, Aristételes exprimia com certeza a opiniéo dominante quando afirmava que os barbaros so nascidos para “ser escravos”, mas tinha contra si certos sofistas, Antifon por exemplo, que proclamavam que os homens sao por natureza ¢ em tudo idénticos, que nao se € por nascimento destinado a ser livre ou escravo, Esta ica da escravatura nio se reduz, portanto, a uma diferenga entre idéias. Tem seu fundamento nas proprias contradigdes das relagées de produgao escravistas, apesar de que nunca, na Antiguidade, os homens livres na sua imensa maioria tenham podido imaginar seriamente que sua sociedade pudesse existir sem a escravatura, Voltamos aqui as conclusdes da nossa a dominfincia das relagSes sociais. Nao pod seja suficiente para distinguir as idéias s daquelas que nao 0 slo, € 0 fato de que certas idéias parece jerdadeiras que outras na mesma sociedade no advém somente da sua verdade abstrata mas da sua relagdo com as diversas atividades sociais hierarquizadas con- forme a natureza das suas fungdes, no primeiro plano das quais esté a fungdo de relagio de producdo. E esta relacdo € tal que estas idéias parecem tanto mais verdadeiras que dio a impressio de “ relagées sociais existentes e as desigualdades que cont , exprimem e defendem a ordem reinante na sociedade. Seria este 0 derradeiro que © so? Aquelas que “ ideolégicas por esta fungo mesma? Infelizmente, fundamentos da ir critério formal que é privilegiar as fente, esquecendo a ordem ¢ legitimam 192 futura que néo existe ainda, esquecer ainda todas as uto pensadas desde o inicio como uma “realidade que nao existiu nunca ¢ nao existiré nunca em nenhum lugar ( mas que permite fazer surgit contra a ordem existente um jo de esperanca’” (Cf. Buocs, Emst. Le principe espérance). Ainda assim, 0 que di estas representagées umas das outras nfo € somente um c iaéias diferente mas uma relagdo diferente com a ordem social existente, uma relagéo que nasce das contradicdes que caracterizam 0 funciona- mento desta ordem. ‘Assim sendo, tomando as ideologias em toda a sua diversidade, fazer delas somente ilusdes que viriam demasiada- rar relagées sociais concretas que teriam comecado is e sem elas. Quando nao aparecem aos explorados sua exploragdo € que cor tar essa exploracao, Torna-se neces s sejam consideradas fundamentalmente com 1a maioria dos membros de uma sociedade, pelos dominadores {que se tornem dominantes, Como 0 podem ser se, objetivamente, contradizem os “interesses” dos dominados? So- mente a reflexio sobre os componentes e 0s fundamentos de todo poder de dominacdo e de opressio pode-nos fazer entrever a resposta. Paradigma e paradoxos da “legitimidade” do nascimento das classes dominantes e do Estado Todo poder de dominagio se compe de dois elementos indissolu- velmente entrelagados que Ihe dao forca: a violéncia ¢ 0 consentimento, Nossa andlise nos leva necessariamente a afi nentes do poder a forea mais forte nao € a violéncia dos dominadores ‘mas 0 consentimento dos dominados em sua dominagdo. Para colocar ¢ manter “no poder”, isto é, acima e no centro da sociedade uma parte da sociedade, os homens em relagdo as mulheres, uma ordem, uma casta ou uma classe em relagéo a outras ord fas ou clas porta menos a repressio que a adesio, a violén menos que a convicgdo do pensamento que ocasiona a adesio da von- tade, a aceitacdo, sendo a “cooperacio", dos dominados. Compreendam-nos bem e no provoquem querelas imbecis ou de mé {6 Deixaremos por um momento de lado os casos de dominagio imposta diretamente pela violéncia real (guerra) ou virtual (ameaga de utilizar a forga...). Eles ocasionam consentimentos “forgad so apenas compromissos instiveis entre forgas desiguais. Voltaremos a isto. Visamos, a0 contrério, as formas de consentimento de algum ‘modo “esponténeas”, tais como a crenca na divindade do faraé no Egito antigo ou até mesmo a aceitacdo, pela maioria das mulheres de quase todas as sociedades, da autoridade masculina, que varia, alids, das for- ‘mas mais suaves, da quase-igualdade, & opressio mais viva. Sem di ‘hd tima distincia entre a aceitacdo passiva e 0 consentimento Sem di ambém, um consentimento ativo espontineo nunca é com- pletamente “espontineo”. Eo resultado de uma educacdo, de uma cultura, de uma “formagéo” do individuo, de uma produgéo de homens ce mulheres capazes de reproduzir sua sociedade. Sem divida consentimento, mesmo passivo, nunca existe em todos 06 it ‘em todos os grupos de uma sociedade, e mesmo quando é ativo nao o incluidas as s% partic nunca teria havido Hi Mas 0 essencial nfo esté af, O essencial € que mncia e consen- exclusivas, Para durar, todo poder de dominagio — e, mais que todos, 0 que surgem da forca brutal da guerra e da conquista — deve com- portar € compor as duas condigies de seu exercicio. Sem divida, as proporgées variardo segundo mncias, mas até mesmo 0 poder de dominagéo menos contestado, mais profundamente aceito, contém sempre a ameaga virtual de recorrer a violéncia assim lugar & recusa, ou mesmo & ja, mesmo que esta se limite ‘ao Jonge, Portanto, é vo imaginar um poder de dominacio durdvel que no repouse sobre a pura violéncia ou sobre um consenti- mento total. Estes seriam casos-limites que, na melhor das situagdes, se refeririam a estados transitérios, sendio efémeros, da evolugao his- ca ‘Tendo colocado todas essas precisées e nuangas para prevenir mal-

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