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182012, Ever Etro Lido Copiague: Joon Yoiet 20050006 - Canto Ri de lone = 8 ~ Bro uc Qvintna, 753 - 8 onder 1560.01 = Brolin SS Poulo ~ SP Bes) Seng de Atendimeno 00 Clerte pa0oc26s3e0 socBeleiercombe 'seN 978-85-252-4892-0 Nota: white zlo hice form emprezados no ego podem cesar erat esi ‘oe dda cnet Sm aucleer ns hipteee,slchamos 9comunicogso to nawe Seg do Aendmerto aa Cle, pora que posts elec Ou ‘idm e ations nem eur osiumer qvlqua rexporeslideee por esr pescos ou bene, orinador de ute dete publeoroa, Psi. Cotelogasce-nofore. Scale Neco! dos fares de Los Gre Flomavion Coron, 'Ne4d__ Neves donince do inva orgorizade onoldo sins» Rac Jone: Eeaviet, 2012 Inc boar ISaN 9768 952-4092-0, Flomoton 5 (6 Sorte), 1942 os, 00: 901 00920.) Capitulo 9 Histéria oral: velhas quest6es, novos desafios Marit de Morse Freie Refletindo sobre o estatuto da hist6ria oral A proposta deste capitulo &enfocar algumas questes basicaseelacionadas com a his réria oral, tais como seu estaruto, suas possibilidades, seus des final, histéria oral wir a trés as principals posturas primeiea pergunea que se coloca é 0 que partida a necessidade de precisar seu estatuto,é possivel re ladotadas para responder a ersa pergunea. A primeira advoga ser « histéria o lina ea teceira, uma metodologia (Ferreira; Amado, 2006) un as expetiéncias com gra asegunda, uma disc rndem a histéria oral como téenica pi Jes ¢ conservacio de entrevistas, € 0 aparato que as cerea, como tipos de 1 de ftas, modelos de organizacio de acervo ete ‘A chamada n, formas de eeanser apa Essa orientagdo nega qualquer pre gica ou cedrica, uma ver to de procedimentos téenicos para a utilizagio do ge sa para a postetior conservasfo das fas" (Roget, 1986, p. 23-28). Alguns defensores dessa posigio sio pessoas envolvidas dire constituigio € os dele so cientistassociais cujosteabalhos se basciam conservagio de acervos ora, € sgeral exc stura tenia’. A essas pesson pecificas de pesquisa, pro- prio de conceitos: esse conjunto, icado © emprestando 170 Novos Dominios de Mistoria ELSEVIER quais conceitos, ideas, caractersieas e dregdes intgraram a histéra oral, per mitindo confere-he o sane de disciplina segundo esse grupo de estudiosos? Nesse pont surgem dificuldades, pois os autores divergem, partindo de pontos de vista diferentes e até centos mais consistentes. De qualquer forma, os postulantes da ‘opostos, sem fornecer argu histétia oral como disciplina zeconhecem nela uma érea de estudos com objeto proprio « capacidade (como o farem todas as disciplinas) de gerar no seu interior solugées rebricas para as questbes surgidas na prética, no caso especifico, questBes como as imbricagbes entre ia de vida, biografia e auto- historia e meméria, ence sujito e objero de estudo, ent hist biografia, entre diversas apropriag6es sociis do discurso etc 1H ainda 0s que consideram a histéra oral como um mécodo de investignsso € tém a oral como merodologia. Em nosso enten~ ‘como pressuposto, portanto, defender a hist der. a histéria oral, como todas 2s metodologias, apenas estabelece ¢ ordena procedimentos de trabalho ~ eais como os diversos tipos de entrevista e as implicaydes de cada um deles lades de transcricio de depoiment 5, suas vantagens e des- ‘pata a pesquisa, as virias post gens, as diferentes maneizas de o historiador rel nfluéncias disso sobre seu trabalho ~, fancionando como ponse entee teoria¢ pritics. Esse s enirevistados © 35 Go terreno da historia oral, 0 que, 4 nosso ver, do permite clasifies pritica, Mas, na ire reriea a histéra oral € capac apenas de smciar, jams de solucionar questbes, ou se, formula as perguntas, porém nio pode oferecer as resposts. jografia e na teoria da As solugbes € explicagées devem ser buscadas a: aque se agnupam conceicos capazes de pensar os problemas metodologicosgerados pela pesquisa histérica, O entrevstado “se esquece” sempre de um c tecimentos que vivenciou? Cada grupo de informs um datas dif 1 histéria oral conseg nado faco histérico? Sendo uma metadologi enunciar perguntas como essis, mas, exatamnente por ser uma metodotogia, ndo dispée de inser capazes de compreender os tipes de comportamento descrtos. Apenas a ceoria da historia écapaz de entre outas coisas, a pensar 9s conceits de tne ambos privics, histd- rico, mas €4 weoria que oferece os meios para refletir sobre esse conhecimento, embasando incluidos os que trabalham com fontes ora. Exatamente 0 mesmo 0 smograia histériea, por apta a elaborar cabelas e séies relat dar questBes importantes sobre ais dad exempl dove procusar fora del ~ subsidios econdmica, 2 gene toda essa discussdo? Qu ver, pod se passa com a ora? A 0s ue esse debate eset hem no cen ia oral uma técnica, nossa preocupagio se concentrard exclusivamente em temas como organizagio de acervos dos seus usos ¢ dos rumos que poderd tomar. Se considerarmos a hist ce reali2agio de entrevistas (cemas em si relevances, mas, como esperamos ter demonstrado, muito aquém das possibilidades da histéria oral). Se concebermos a histéria oral como ambos, a nosso ver, problemticos:“esquecermos” disciplna, hd dois caminhos possi as questées de carkter teérico, deixando de abordé-las em nosso trabalhes, ov tentarmos encontrar espostas pars clas apenas no Ambito da histéria ora No primero cao, 0 resultado sero os numerosos tabalhos, com conclustes dbvat ~ porque coladas a dados des entevstas, sem possibilidade de maior capacidade de andli- se, gue sempre deixam uma pergunta no at seria mesmo preciso fazer uma pesquisa para chegar iso? So tabalhos que se limitam a reprodusie 2s palavras dos entrevstados, que cxploram uma idea jé comprovada (utlizando teechos de encrevisas para corroboréle), que fo conseguer problematizar qualquer aspecto da pesquisa No segundo cso ~ buscar respostasredricas no Ambito da histria orl -, 0 resultado, em nosso entender, é mats denoso: como & impossivel explicar algo sem meios adequados para fi tornat o problema, s£0 po “entrlagamentos entre cradiclo oral « escrta” 38 imbricagBes entre sujeito e objeto de (explicar questoes eedricas pela via da metodologia), os textos, para tentar con- ciras & “seletividade da meméria’, aos estado”, confundindo os leitores iniciantes ¢ nada revelando, |A despeito de todas estas diferengas de posicionamento, algumas ideas bisieas con- densam perspectivas e temas reconhecidos por grande parce da bibliografia como espectf- cos da histdria oral, mesmo por autores que no postulam para esta 0 starus de disciplina ‘noma: o testemunho oral representa o nicleo da investigagso, nunca sua parce aces- séria, o que ob: jvas nem sempre presentes em outros trabalhos histSricos, como as relagbes entre esctita e oral 2.0 historiador ¢ levar em conea perspe lade, meméria ¢ hist ou tradigio oral € histéria; 0 uso sistemdtico do restemunho oral possibilita 3 histéria of excatecer teers eventos ou procesios que is verse no tem como ser entendidos ou elucidados de outta forma: séo depoimentos de analfaberos, rebeldes, mulheres, eriancas, miserdveis, prisioneizos, loucos... S40 histérias de movimentos sociais as encobertas ou esquecidas, de versées menasprezada, carac- inclusive, que uma vertente da histéria oral se renha consticuido Tigada & histéria dos excluides. [Na histéiria oral existe a geragdo de documentos (entrevistas) que pessuem uma carac- as isto €, sio resultado do didlogo entre entrevisrador e entrevistado, entre sujeito € objeto de estudo, o que leva © historiador a aastar-se de interpretagées fundadas de interpreragfos a pesquisa com fontes ozais apoia-se em pontos de visa individuals, ex- pressos nas entrevista, que so legitimadas como fonces(seja por seu valor informa fos € perspectivas is veees ausences de sea 172 owes Dominios de Hitria ELSEVIER utras priticas hisericas — porque tradicionalmente telacionados apenas a individwos —, A histéria do tempo presente, perspectiva temporal por exceléncia da hist6ria oral é é stra oral, o objeto de es dos informantes, ¢ legitimada como objeto da pesquisa eda refexto his tudo do historiador € recuperado e reciado por intesmédio da mem: 2 insincia da meme pasa, necessariamente, a norteat 25 eflexbeshistricas, acatreando desdobramentos tedricos e metodolégicos importants; a naratva a forma de construsio oxganizagda do dscurso sé valorzedas pelo hstoriado, pois, como lembrou Alessandro Por car mudangas de persp 2006) Fontes orais so fontes natrativas. Tudo isso chama atengfo ao cardverficcional das svistadot, 0 que pode acarre- ns hisedrcas, seja a dos entrevistados, soja 25 do e iva revolucionsrias para o trabalho histico (Ferreira ¢ Amado, Percursos ¢ desafios Definidos alguns pressupostos biésicos do debate sobre o escaruso da histria oral, rosso prétimo passo é apresencar 0 percurso por ela percortido. A discussfo acerca dos pro~ blemas metadoldgicas da histdria oral, que nos anos 1960 « 1970 de modo geral despertava adores, na virada para 0 século XI passou a ocupar um poco inceresse entre os hist expaco importante, o que éexplicaco, em grande parte, pela resisténcia dos espec verso de pesquisa a possibilidade do uso de fontesoras, Tal desinteres sua vez, de formas araigadas de conecber a istéria ea var tas déeadas grandes transformagGes marcaram o debate posta em questi incorporar 20 se see desconfianga lidade de suas Fontes. Nas historiogeéfico, ea objet A consolidagio da dis oriador no século em detsimento ia em fvor do fo, A criagio dos aquivos nacionis, da fonte esrta, condusiu 20 desenvolv XIX impuseram 0 dom is cemowos, assegurando a supremacia da histéria me: ico em abordager esse fe, vinculava-se a tradigdo otal 20 dieval¢ erigindo a andlise da para se chegar a uma histéria 6rico ow a0 passado recente, es, estabelece hecimento, de fontes e de objetos. « determinado. Foi nesse quadro que se colocou uma condigio indispensivel para se fazer a; a visio retrospectiva, Mas o que, exatamente, quetis dizer isso? ina que possuia um método de estudo de uma bistéria cle A afirmagio da histéria como uma disci textos que Ihe eta préprio, que tinha uma privica regular de decifragio de documentos, implicou a concepgio da objetividade como uma tomada de distincia em relagSo aos pro- bblemas do presente, Assim, 86 0 recuo no tempo poderia garancir uma distincia critica, Se cra verdade que a competéncia do historiadar se devia a0 faro de que somente ele podia, interpretar os tragos materais do passado, seu trabalho ndo podia comesar verdadeiramente senio quando no mais existissem eestemunkos vives des mundos estudados, visto que, para que os tragos pudessem ser interpzetados, era necessirio que tivessem sido arquivados. Desde que um evento era produ: cle pertencia & histéria, mas, para que se cornasse um clemento do conhecimento hisrério erudito, era necessirio esperar vétiot anos, para que os ‘ragos do passado pudessem ser arquivados e catalogados (Noitiel, 1998) ‘Com base na alegasio da impossibilidade de Ihe serem aplicadas regras cientificas, foi assim recusado& histris contemporinea 0 estatuto de histéria. No plano tebrico, a hist6ria vera ser idenifcada com © passado, o que excluiria 0 perioda mais recente, «, no plano metodoldgico, colocavam-se em questio as fontes contemporineas, raras em raxio dos li- rites legas para a consulta ¢, a0 mesmo tempo, superabundances em vireude da ampliagéo da nogéo de arquivo. ‘Apés cer desfrutado de amplo prestigio durante cod o século XIX, esse modelo en- trou em processo de decinio. A fundagio, na Franga, da revista Annales, em 1929, ¢ da Ecole Pratique des Hautes Ecudes, em 1948, daria impulso a um profundo movimento de transformagio no campo da hstéris. Em nome de uma histéris total uma nova geagio de soriadores, conhecida como “Ecole des Annales’, possou a questonar 2 hegemonia da histéra politica, imputando-Ihe urn aiimero infindivel de defetos era eltsta, aned6tica, subjetiva € psicologiante, Em contrapartida, esse grupo defendia legiado individualist, factual ‘em que 0 econdmico eo social ecupavam lugar pr 1eas estrucaras durivels eram mais reais ¢ determinan- nf nova concep: ta sustencava sncura, e seus pressupostos eram que os fendmenos inscritos Essa nova tes do que os acidences de ‘em uma longa duragio ve, mas 0 que ests por independencemence das pe ngbes dos indi psoese as relages socais © engendram as formas do discueso. Dai a histérico propriamente mos econdmicos, organi afiemagio de Ia 174 Novos Dominios de Histvla FLSEVIER ~ Enea nova maneira de fer histéria nfo alerou, contudo, a postura anterior no que di respeitos0 periodo de inteesse e 25 fontes, uma ver que, da mesma forma como ma histdria metidiea 0 perfodos que reeeberam maior atengto ese comaram alvo dos estudos renovadores foram prioctariamente 0 medieval © moderno, O século XX manteve 0 es sigma de objeto de estudo problemtico,e legitimidade de sua abordagem pela histéria foi constantemente questionada. A impossibildade de recuo no tempo aliada’ difculdade de apreciar a importéncia ea dimensio a longo prazo dos fenémenos, bem come 0 riseo de car no puro relat jarnalistico, foram mais uma ver colocados como empecilhos pars a biscéria do seul XX. E ainda que Jacques Le Goff enka apontado 2 conquisa da hiséria pouco fei feito nese sentido, cm geral, mat nfo da a sem histories, contemporinea pela nova histSria como uma carefa urger iodo que co P «stig. Com isso,» histéria do séeulo XX tornou-se uma his © que se operou no campo da histéra a partie da Franga, e que se di- Fundiu para outeos paises, ampouco questionou o predominio absolute das fontes escritas; a ser matéria das cienciass a fundamental. Em contrapatda, ao desalosizar a andise do papel do individuo, 5 conjuntarss, dos apectos cututaise politicos, cambém desqualfcou 0 uso dos relatos dhs histérias de vida e das biografas, Condenavase a sua subjetividede, leven distrcidas que apresencavam, enfaizva-se a difculdade de das sobre as 3s fidedignos ¢ alegava-se cambém que os depoimentos pessoais nio podiam 9s de uma época ou um grupo, pois a experiéncia individual ular que no petmitia generalizagbes. Nao & preciso dizer que os Iistoriadores identifcados com a tradigio dos Annales exclulrem as possibilidades de incor- poragio do uso das fontes ora. Entretanto, a partir da década de rentes campos da pesquisa histérica. Revalorizow-se a andlive qualitaciva ¢ resgatou- 180, registraram-se transformagées importantes ortincia das experincias indi cj, deslocou-se o interesse das estruturas as de pas das, das normas coletivas para para as redes, dos si a sinuagSe singulares e, paral renascimento do A meméria em debate ( aprofundamenco das discussées sobre as relagBes entre passado e presence na hist6- cava objeto histérico e passado, definide como \¢,sbricam novos caminhos € suas relagdes co (Rousto, 1993) Segunde Patrick Hutton (1993), o interes dos historiadores pela meméria foi em sgrande medida inspicado pela historiograia francesa, sobretudo a histéria das mentalidades colerivas que emergiu na década de 1960, Nesses estudos, que focalizavam principalmente a ‘os habites locas, dade etc, questio da meméria ‘embora nfo fosse abordada diretamente Um dos primeiros aurores a chamar a atengSo para o tema da memétia, segundo pe Ariés, que destacou o papel dos rituals comemorativos com a fungio de fortalecer os lagos familiares no final do século XVIII ¢ inicio do século XIX. Avits cha- ‘mava a atengio também para o papel des monumentos, dat comemoragdes em torno das Figuras politcasilustres ao longo do século XIX, e para como eles se relacionavam com, a emergéncia dos Estados nacionais. Seguindo a trilhe aberta por Ariés, surgiu um novo nero na historiografia na década de 1980, a histria das poitcas de comemoragio (Hir- 1o7y ofthe politic of commemerarion), cujo pioneizo foi Maurice Agulhon, que anaicou a imagem da Repiblica na Franga (1789-1879) em sua obra Marianne a combat (1979). E nese conrexto que a formulagio tedrica do sociblogo Maurice Halbwachs (1994) gana deseaq passando a integrar 0 universo tedrico dos historiadores. De acordo com cle, a meméria envolve uma relagio entre a repetigéo e a rememoragio, Imporca, porém, ressaltar que, a0 analisar a reperisio das memérias, Halbwachs observou que cla ocorre jun tamente com a sua revisdo. Outro ponte relevante de sua pesquisa éa formulagfe de que a ‘meméria coletiva depend do poder social do grupo que a detém, porque, na rememoraséo, 16s no lembramos as imagens do passado como elas aconteceram, e sim de acordo com as is (Hurcon, 1993), fo Fornece elementos para a elaboragzo de uma histéria das comemo- ‘agbes e, ao pesquisar as imagens nas quais os atores histéricos representam seu mundo, os forgas sociais do presente que estéo agindo sobre Essa contribui iadores podem identificar as estrururas da imaginagio coletiva e o poder do grupo + Tomando como referéncia as concribuigBes de Halbwachs, Piesre Nora (1984-1993), tem sua obra Les ies de mémoire, prope uma nova hist das politicas de meméria € uma historia das memécias coletivas da Franca. A valorizagzo de un do ‘moveu uma reavaliagdo das relagées encte hi ria das representagbes initio social © da com 108 do passado pelo presente pro- ia € memiéria, « permit aos historiadores repensar as relagdes entre passado ¢ presente e definir pata a histéria do tempo presente 0 «estudo dos usos do passado, Nosa aprofunda ainda a distingdo entie 0 relato histéico € 0 di 10 da. meméria e das recordagGes. A histria busca produtir um conhecimento racio- uma andlise cos © das vides a por meio de uma exposigia logics dos aconcee do passado. A meméria é também uma construsio de pastado, mas pautada em emogbes « vivencias: ela é Rexel, e os eventos s Vilanova, 1994). smbrados & Jur da experincia subsequente e das necessidades do presente is ELSEVIER 176 Novos Dominios a Essa perspectiva que explora as relagbes entre meméria ¢ histéria pos abertura para a accitasio do valor dos testemunhos diretos 20 neutralizar as tradicionaiseri- nentos ea fata de veracidade ticas €reconhecer que a subjetvidede, a dstorgaes dos dep a cles imputada podem ser encatadas de uma nova maneira, nfo como uma desqualificagio, ‘mas como uma fonte adicional para a pesquisa (Pollak, 1993). Se por um lado ess cransformagées no campo da histria podem ser avaliadas como permite uma reflesio hstrica menos segura dela mesma, ico recentes de especalistasrenomados chamam a aengio pars posiivas, na medida em q porém mais viv a crise epistemologica que acompanha 0 abalo das antigas certezas dos historiadores. O snamento da crenga em um passado fxo ¢ determinavel, a perda de confianga na cagio, o abandono de certos objetos histéricos ou o questionamento de noyées is, de classificagées socioprofissionais ques wu como mentalidade, de etegoras como classes s0 « de modelos de interpretgio (escruturaists, marxists, demogréfico) Gzeram a histéria, no dizer de Roger Chartier (1993), perder a sua posicio de disciplina confederadora das ciénciassocnis, Por sua ver, 0 reBuxo dos grandes modelasexplicativos levou a uma grande dlupeno, fzzendo que as principtstradigbeshisoriogrifics perdesem sua unidade, ex- 4 ¢, por vexes, contradicrias. plodindo em proposigaes Todas essas mudangas criaram um espago novo para o estudo dos periods recentes ¢ iséncia de ant 1 incorporacéo das fontes ora, mas também permitiram a pet A forca das tradigoes ‘Acoleta de depoimencos pessoais mediante a uilieaglo de um gravadoriniciow-se na deada de 1940 com 0 jomalista Allan Nev woltade para a recuperacio de informagbes acerca da atu que desenvolveu um programa de entrevstas jo dos grupos dominances norte ia Oral History Office, organismo americanos. Esse programa veio a constituir 0 Col que tervie de modelo para outros censros eriados nos anos 1950 em biblioceca e arquivas Berkeley ¢ em Los Angeles. Esse primeiro ciclo de expansio do que se chamou rarefa de preencher as lacunas do no Tex, ria oral privilegiou o estudo das elites ¢ se attibuiu registro escrito por meio da formagio de arquivos com fas transcritas 1m verdadeiro boom, ceve ras na segunda metade dos a \do-se a longo da década de 1970, espe- 10s Estados Unidos, As lutas pelos direitos civis tavadas A plena expansio desse pracesso, que const ga ape- etc. ~ seriam agora as principals responsiveis pela afi 7 li a rie oral: velhas quesies, novos desatios 77 A ponetasfo da hstria oa na comsnidade dos hstriadores, apesa de alguns pon 10s de afindade com a nov his porém, earentando fortes resistencias. Everdade que nos Estados Unidos e na Inglaterca aque valorzava 0 estudo dos exctuidos, continuo, (0 uso das Fontes orais encontrau maior aceitagio, propiciando o desenvolvimento de uma linha expressiva de trabalho voltada para o estudo da classe trabalhadora e das minatias, ¢ jnalidade da tia oral briténica, que nto se caracteri2ou prortariamente como académica ou universcva Na Eranga,a force presenga da “Ecole des Annales” eo dominio da abordagem estru- sural equanttativa da hstri, como j fo dito, revelaamse feroresinibidores do uso das ntes ors, garentindo o culto do registro escrito. O que se pode pereeber, portant, & que de inicio histria orl e desenvolveu em grande medida fora da comunidade dos hisro- tiadores ¢ ainda que guardando as especifcidades proprias dos diferentes pulses com suas Aisxinascadigbes histriogrfias,ofetichismo do documento escrito a ctenga a abjetivi- dade das fontes ea concentracio do interesse nos perfodos mais remotos do tempo destina- ram 4 discussio sobre a histria oral - ou mesmo apenas sobre 0 uso das fonces orais~ um co no contexto dos debaces testico-merodolégicos dos hiscoriadores, espago bastante re ‘No entanto, as transformagbes recentes ocortidas no campo da hiseéria em geral e na histéria do século XX, em particular, geraram uma nova discusséo sobre o papel das Fontes histéricas, peemitindo que a histéria oral ocupasse um novo espaga nos debates historiogeé- ficos atuais, Vejamos, entdo, que transformagies foram essas Em primeiro lugar, a emergéncia da historia do século XX com um novo estaruro, definido por alguns como a histéria do tempo presente, portanto, como portadora da sin- 3 que, sob certo aspecto, condicionam o tra: gularidade de conviver com testermunho: balho do historiador, coloca obrigatoriamente em foco os depoimentos ors. Além disso, a3 proprias ransformagdes das saciedades modernas eas consequentes mudangas no conteiido dos arquivos, acetrdéncia Por outro lado, © retorno do politico e a revalorizagao do papel do Esse novo objeto de a 1e cada vez mais passam a dispor de registros sonoros e visuais, impulsionam na revisio do papel das fonces escritas, visuaise ors, co estudo des processos de tomada de deci oportunidade 20 uso dos depoimentos ors: os arquivos escrtos dificilmente deixam trans- parecer 08 meandros tortuosos dos processos decisérios, © m meio da comunicagio of 6es pessoais; o muimero de por telefone ou pessoalmente néo para de cresee. Para suprir essa lacunss dacumentais, 0s 08 ora revelam-se de grande valia historiografica 4) sméria ¢ histéris rompe com explora as relagbes e iberdade dos homens, coloca em evidéncia a cons ‘slo dos atores de sua propria identidade e re a0 reconhecer claram ce que © aquele & que baseada nas fontes escritas, possi 178 Novos Dominios da Misra ELSEVIER iretamente, as tradicionais crticas fetas a0 uso das Fontes orais, consideradas pane subjetivas distorcidar ‘Ao esquad;inhar 0s usos politics do pasado recente ou 20 propor o estudo das vitbes de mundo de determinados grupos sociais na construgfo de respostas para os seus proble- ras esas novas linhas de pesquisa também possibilitam que as entrevista orals sejam vistas como memérias que espelham decerminadas representagées. Assim, as possivels distorgbes, dos depoimentos e falta de veracidade a eles imputada podem ser encaradae de urna nova ‘mancita, nfo como uma desqualificagio, mas como uma fonre adicional para a pesquiss. “Todos esses aspestos que tém caracterizado as transformagbes no campo da histéria a partir da década de 1970 abci ecimenco do uso das fontes orais, No entanto, novos desafios ¢ dficuldades se colo gacancic uma maior legitimitade para a histéria oral no universo dos historiadores. ‘sem duvida, um expago para 0 reco! ara que se poss Construgao de fontes ou dever de meméria? [As sociedades contem porsneas passaram ater uma verdadeira “obsessfo pela meméria” (Feeteia, 2006, p. 195-203), € 0 passado tomnou-se uma das prescupagbes centrais no do acidental. Houve um deslocamento do foco de Futuro-presente para o passado-prese cam que febres de comemoragio do passado tomaram conta da Europa ce vitios estudos ce dos Estados Unidos, podendo-se falar no desenvolvimento de uma cultura memo ‘ou uma inflagdo de memérias, para usat as palaveas de Andreas Huyssen (2000:21). Nos passou a ser uma data Estados Unidos, 0 exemplo mais recente € 0 11 de setembi smarcante pata a rememoracio do atentado ao World Trade Center, evento sobre 0 qual io pproduzidos a cada ano documentérios, exposigdese programas de TV. YOXI, péde-se também detectar um grande comprometimento [Na virada pata o séeu! das sociedades contempordness com o chamado “dever de meméris’. De acordo com da devoir de mémoire (2001), esa expressio foi criads e de eraumas mas de atos de repres espécie de culto 20s mortos, s culto esse que produz desdobramentos ¢ obrigagBes nos dominios histricos, ju ridicos, financeiros ¢ pol esse concexto, 0 aco de test nunhar gana wm nove significado, ¢ as vicimas ou is para o exerlco do dever de es trensformam-se em agentes fundan ‘cendido agora nio apenas em sua dimensio de culto 10s mortos, de dever de ro de teclamat justiga e conquistar resul (Heymann, 2007) seus descend mibranga e homenagem, mas também ado cada ver mais a ideia de responsabilidade ado a ret- oftcial de governos e sociedades no softimento vivido pelas satbrias nfo s6 para reparar as as e tem pro vindicagio de medidas cigas, mat para impedic istria ora valhas questSes, novos desatios 479 possvels repetigfes futuras de processos de violencia e diseriminasio. Ini sdos a partie do Holocausto na Europa, projetos de meméria dessa natureza tém encontrado ressonincia nos tltimos tempos em diferentes sociedades, como na Africa do Sul, nos palses da América Latina egressos dae ditaduras militares, ou, ainda, no Leste Europeu apés a queda dos regi- mes comunistas (Ferceira, 2006) Eneretanto, 0 abuso das politcas memorials, pasa usar as palavras de Tedorov, ceria ttansformado as lembrangas em armas politias e garantido uma secralizagdo para os teste- munhos que conduz& valorizagao de uma tepresentagio do passado a partir essencialmence de destinos individuais. A afrmagio dessas pritcas politcas tem provacada intensos debe. tes eriticas nas comunidades dos historiadorese tem levado ao questionamento dos instru- ments legas uilizados pel de memérias (Todor, 2002) [No campo das reminiscéncias hé uma tendéncia a sacralizar ou banalizar 0 passado, como afirma Todorov (2002, p. 189-195). A sacealizagio estérelacionada 20 iolamento de tums lembranga, negando-se a possi estados na gestio de passados e nos processos de sacralizagio lade de interlocucdo entre o passado € o presente. Uma populagio que sacraliza a meméria de um crauma, por exemplo, néo permite a re- construgio histérica do evento e sua discussio no presente. Aquele passado fica cristalizado «passa a ser alvo de rituais relacionados & afirmasio da idencidade do grupo, processo que impede o esquecimente, mas também pode difcultar um trabalho de reelaboragéo da me- ina, No pol inversoestd uma postura de banalzagi e, ness ato, o presente pas ser lido como repetigto do passado. As lembrangas so tazias a rodo momento, € 0s aconteci- mentor do presente so assimilados a partir do prisma de um evento do passido. © perigo da scralizagio da baralcagio & que esas perspetivasreforgam a perpenuasio de étulos como 0 do hers seméria, meas vere aabactezesvalando nesses extremos. Qual seria a outa posibilidade fa vitima ou dos moralizadores, co que, 30 5 prvilegiae um dever de de relagio com o passada? Em ver de uma militincia pela meméria, seria necessério pensar cemem trabalho sobre a meméria Nessa conjunura, uma pergunta torna-se relevante: como os historiadores se inserem ico sabre elas engendrado? Se por um as (co- nas comemoragbes do passado € no debate pl cles estio presences nos projetos editorais acitam participar de comistes jus misBes co {das por expecialistas com diferences formagées, nas quais os histor tém destacado papel para verficar e ay lia 08 agpecios hseSrios de processoseriminas © atestar ou nfo sua veracidade) ¢diseussBes na midia, por outto aio conduxem 0 calendatio das comemoragées, tampouco so tesponsiveis pelos cermos dese debate (Ferreira, 2005). terreno do contemporineo éamplame? as e outros profisionais cocupado ps da comunicagio, além das testemunhas, 0 que coloca questées adicionais para ohistoriador ‘Um ponta que tem gerado polémica esti relacionado & definigfo de concedes his ricos sancionados por legsladores, que podem estar em desacorda com a produgio hisrorio- indicx agrifica. © ertabelecimenta de politicas memoriais vinculadas 20 arendimento de 1 180 Novos Dominios de Hitris ELSEVIER {goes de reparagio por parte das vitimas ao Estado muitas vezes se choca com a interpretasio coriadores, bem como de eventos histéricose coloca sob suspeitao saber produzido pelos cridade dos especialistas seu papel no espaso pblico (Heymann, 2007), Questiona-sea par d ios, stingindo-se a propria profisionalzegzo do historiader,e bres, assim nfo sé uma disputa entre inerpretaes hstoriogrdfieas divergences, mas come at dos jonas, leila ma c sxividades profssionsi petigao dotes e profss ia no que diz respeito& le imidade de seus praticantes para acessar 0 passado e analisilo Diante desse quatro, mui dlos processos de sacralizagSo da meméria eargumentando cdefinam como devem ser ratados certas eventos histéricos criasérios rscos. A imposigio legal de uma visio da histéria, segundo eles, cransforma uma meméria em valor incontes- idade de discussio sobre os temas histéricos (Heymann, m se manifestado, apontando os perigos abelecimento de les que te, climinando qualquer possi 2007 Js memoriais tém como alvo 0, € no 0 fato de as leis E preciso descacar que as crticas dos hiscoriadores is | cipal 2 definigo legal de um contedido para o passado his fedade de determinados temas pars o estudo ¢ 0 ensino do passa. ps cstabelecerem a obriga do. A grande preocupagio da comunidade das profissionais da histsria so as incervengoes que as politcas de meinéria imp6em na apreciagio de eventos do passado e as consequén- cias dessos inieiativas na producio do saber hist6rico. Esse gira liberdade de pesquisa, subordina a hiswria A meméria e anu! premissa de oficio do historiador. sas ¢ desdobramentas ainda mais x para as discussbes tedricas € idade emerge como elemento de critica fundamental Segundo a pes ria os historiadores passaram a rever os objetos da pesquisa histérica, evalorizanda 4s iografias dos personagens comuns e 20s dessa supervalorinagso 105 estudos do coridiano e dando énfase especi testemunhos oras. O reconhecimento desse subjetiva’, Passou-se a observar que todos os cs seriam inven’ formagio de suas id riografa m 0 entender de Sarlo, ‘o passado pode ser incerprecado por s dobservado na sua subjerividade € o melhor legies interna e de que 0 idade, smal causedo as vitimas das ditaduras militares ¢ guerras recentes. Essa valorizagio do “eu no contextoatual,sustentada por interesses politics e culturais, onde hi o cemor de uma ‘Um caminho apontado pela “perda de memé autora para garantir esse olharcritico & colocar © foco nos I ", deve ser objeto de uma argues cri ss 20 uso dos testemunhos a modernidade Anda segundo Sarlo principal argumento nessa linha, levancado ji por Walter Ben- jamin, sustentava que os homens stingidos pelo chogue avassalador da Primeira Grande Guerra nto mais conseguiam transi jinkam apenas nu- ‘ens de acontecimentos. Ainda que o autor tena buscado encontrar a sida para eateim- co vivido, na medida em que passe propondo a redengéo do passado pela meméria pode-e reconhecer as dificuldades de sua propostadiante da impossiblidade de garantic a consisténcia do relato € a prépria cniténcia da experiéncin, Estas difculdades ttm sido retomadat mais recencemente por outros pensadores, que apontam 2 acceragio do tempo cultural, teenolégico € moral como uma limixagfo para a ctansmisso dos relatos entre gerages, ou sj, indicam uma crise de auroridade do pasado sobre o presente. Outro argumento evocado que vem se somar a eses debates €0 ds impos- lade de se estabelecer um sistema de equivaléneia encre 0 eu do relatoe sexperiénca De acordo com esa perspeciva, nfo existe um relagzo verificivel entre o eu textual 0 cu da experitncia, consccuindo, assim, o gnero autobiogrfico apenas uma méscara do autor, todo relato autobiogréfico seria, na verdade, idantco fcglo em primeira pessoa. “Toda exsa discussio tem tido reflexos para o uso da hist6ria or i A cena. Na atualidade estfo sendo tuto da hist realizados intimeros projetos, por diferentes instituigbes, que visam registrar, por meio da as experiéncias vivenciadas pelas populagées envolvidas em grandes iciativa e que pode ser chamado de coleta de relatos oF traumas, ¢0 grande tema que inaugurou esse tipo de ‘movimento testemunhal foi o Holocausto. ‘Dante desses debates acerea do “dever de meméria’ e das; €¢8 “exaltagio do testemunko", que tém estado presentes em algum: dda atualidade e tém colocado grandes desafios para os historiadotes, cabe pergun significado a importincia de se produzir um acervo de depoimentos oras de atores sociais 0s o4 no, Como enfrentar a ame- brasileira? Como cons ‘envolvidis em eventos fundadores, sejam eles ea aga da sacralieagio da meméria das lucas contra a ditadura tuin a partic da coleca de depoimentos orais, uma fonte histérica passivel de uso ertico ¢ de ‘questionamento ¢ confronto pelos historiadores? “ever de meméria” & uma premissa que estd presente nos projeos restemunk a necessidade de se preservar a meméria do que ocorreu com 0 4 ideia central pos objetivo de tentar evitar Futuras manifestagées de auroritarismos ¢ desrespeito aos ditei- tos humanos. A questio & saber se a divulgagio de uma narrativa da meméria & capar de aruar dessa maneira nos rumos do presente, ito é, talver seja elucidativo deixar claro que 182 Novos Dominios da Historia ELSEVIER 4 meméria em si no ¢ boa nem ma. Muitas vezes 0s beneficios que se procura extrair dos podem ser desvircuados por conta das formas assumidas pelas projecostestemun moragies.E posi pordeve acionar casa mesma memsia para juxifarvingaogas valent no presente. Tal € ‘mbrar urna violéncia com 0 objerivo de evita a sua repetiio, porém «© principio dos revanchismos socias que esto longe de favorecer a um apaziguamenco de conflitos (Bresciani, 2004). “A realizagio dos projetos testemunhais coloca alguns problemas para seem pensados ina, ¢ os resultados desses projetes podem ser vistos como a pela histéria enquanto di tscrita de histéra, especialmente pelo grande piblico, Isso aponta para uma questio im- portante: o que distingue as vozes da meméria dos resultados de urn trabalho que pode ser realizado a partic dessas vores? [Essa questio no pode ser respondida a partir de uma oposigfo simplista entre a me- ria ¢a bistérla, pois tal reducionismo tende a associar a meméria a0 falso ea histéria & verdade. Esse é um tema que ver sendo dis roriografia hi décadas, e obras imporeants jé foram produzidas nos campos da ), A meméria foi incorpor ido pele ia da meméria 4 cia das sentagbes (Lavabre, 20 10 urn problema pela disc hiseériea ¢, para 0s nossos propos, eabe apontar algumas reflexdes propiciadas pelo tra balho com os projetos restemunhais Uma considerasio importante diz respeiro los testemunhos e a ucllizagio politica desse passado rememorado, nize o exagero na exortagio da meméria e uma desvalorizagao do lagdes entre as memérias trazidas pe- aul Ricoeur chara a tengo para uma te do historiador. De acordo com esse autor, “a meméria possui uma v 40 histria, que éo reconhecimenco. [4] A 3000), O seconhecimento atela-te, portanto, mais Fcilmente Bs verdades restemunais, € 2s creas oferecidas pelos hiscoriadores podem enfientar um julgamento pdblico deafavord- vel se propuserem leitraedifrenciaas sobre as narrativas socalmenteaccics. A Hberdade xéria nio reconhece, ro! fica restrita quando se trabalha com acontecimentos que jé foram julgados publicamente Enquanto 0 jufzo judicial é defintivo, © do historiador é revsionisa ‘Aistéra se reescreve permanentemente, mas nio aleatoriamente. A operagio hist cea envolvea “combinagio de u como firma Michel de Certeau (19 sécula XIX, oferece procedimentos de anise prép cexpecifca do passa. Esse domnio pode ser visto como fruco da combinagzo aponcada por Certets, que forjou ao longo des anos mécodos e cttérios de andlise. O historiador pode capazes de propor uma elaboracio vir a ser um intérprete dos equivacos politicos do passado e dos mecanismos de const da scl jas, nfo se deixando levar pelos rétules ficeis da banalizagzo 0 Imeméria ¢, a partic da andlise histérica, ele pode, inclusive, relarvizar as men Iho, questionar a Fangio desse passado rememorado. Esquece das faces clo campo da meméria, portance, estudar 0 que € esquecide € 0 4 do parece capitulo 8| Hstria oral eines questées, noves desatios 183 fundamental para entender o presente. Hayssen se pergunta: “Por que estamos construindo useus como se néo houvesse mais amanha?” (Huyssen, 2000, p. 20). Ou, dito de outta manera, qual 0 lugar do pasado nos nossos dis? E nesse sentido que se devem entender 0s embates préprios do campo da meméria, visto que a todo momento individuos e grupos tomam posgBesdiante dos acontecimentos iaamese membrias € reelaboram 0 passado recente, Como jf dito, esas @,20 fazer isso, rmemérias em circulagao, expressas, por exemple, nos projetos restemunhais, nao sto boas ‘ou més em si mesmas. Sobretudo, cabe dizer que essas memoérias, mais do que possibirar tuma compreensio do passado, atuam no tempo presente, e, no cerreno da atualidade, € importance estar arento a0 papel que cabe a0 historiador, Como todas essas ransformagSes impactam os usos da histria oral ¢ 0 trabalho do historiador? Em grande parte arecuperagio das memérias desses eventos trauméticos or intermédio da implementagio de projeos testermunhais que usam a histéria oral como ingtrurnenco para a consttuigso de bancos de depoimentos das vitimas, eo grande desafio {que se coloea para o historiador € 0 processo de sacralizagdo desses testemunhos que, por vi- rem de perseguidos vitimas, nio podem ser objeto de questionamento ¢ de confrontagio. Esse tipo de postura deixa, efeivamente, 0s pesquisadores que trabalham com essas temé- ‘o, mantendo sempre uma postura de ticas em patigio desconfortdvel para exercer seu critica € de questionamenco de suas fontes. Evidentemence, todos esses debares reacendem velhas discussBes sobre os wsos dos depoimencos orais e a carga de subjetividade que eles carregam. Se, por um lado, eses problemas criam novas esisténcias para a hist6ria oral, por lados metodolégicos na ‘outro lado nos obrigam a reforgar suas reflexdes tedricas ¢ seus cu realizagio de suas pesquisss “Assim,-os eventos traumiéticos da histéria recente podem oferecer uma oportunidade par de se repensar o pasado e, nesse sentido, a historia da Aftica do Sul e da Bésnia so ‘casos contemporineos que tém recebido grande atenglo, pois representam embates pela rettfiria ¢ oferecem ao historiadar do tempo presente a oportunidade de pensar sobre clos nos projetos testemunbais, No Brasil, um epi- ‘como 0s relatos ofa estfo sendo u Istria recente, a rortura ¢ 0s assassinatos softides pelos opositores do rar, recentemente resultou em um projeto testemunhal de maiores dimensBes reveladas, que se encontta em desenvolvimento, Diante desse quadso, cabe perguncar: como a meméria esté sendo reelaborada? Que questbes essa profuso de memérias coloca para a escrita da histéria? Como 0 historiadar pode pensar o seu lugar [A ideia & pact desses casos para cefletir sobre as stances embates de memé lagdes ence a meméria e a histéria nos projetos testemunhais da atualidade, No trabalho Memvie dot miltanter do Partido dos Trabalhaderes (PT), em coautoria para pesquiss com ma- ~~ lee Novos Dominios da itria ELSEVIER ormagio do PT © papal de Lula come lideanga cpaz de agusnarforas to diversificedss co ugaiiead do partido pars os movimentcs sci para a consoliagio da democraia ro Brasil (Ferrera; Fortes, 2008) im desafio a ser enfentado por ete tipo projeto & ofa de serem iniciaivas de en- jes que estio comprometidos com a defesa de uma causa ¢ 2 tidades ou seg inerpretagio do passado, ¢ convidam historiadores para partcipar nes, Trara-se, sem éuivida, de um pr cconstrusio de uma dad da realizagdo ¢ divulgacto dos depoimentos de jero de memérias pe iar a metodologia de bis partidirias, mas que, 20 propée wm uso ampliado do acervo para além de sua utlizagfo como mero instrument Inudavério. Dessa maneira, a produgio desse conjunto de fontes para o estudo de lucas vai para ¢ preservagio da sociais ¢ a deniincia de massacres e eventos tauméticos cont meméria dos movimentos socials, cornando-se uma referencia de fundamental importancia para a consolidacso das lucas pela cidadania c em defes dos direitos humanos cueza, esses projets trazem rambém elementos signifcaivos para a bistria e memdria, Tai preocupagbes ganham peso ainda Pela sua prs reflexdo sobre as fionceitas ente maior em um contexto em gue a necesiidade de balango de experiéncias colevivas trigicas iempde um “ever de merndria’ como ocosre nos cendvis pés-dtaduras especialmente quando a produsfo dessas memsrias se di no contexto da crise dos parimetros nais de produgio da veadehistérica que marca a cultura pés-moderna (Salo, 2007) Enesetanto, come a siste natizagio ponderada € 2 reflexdo critica sobre décadas de cori oral wad cexperigneia por praticantes de divesos paises jf demonstraram claramente, & le recursos & disposigio do historiador por 1s (Ferreita e Amado, 1998). fica-se igualmente a qualquer pode ser perfeitamente incorporada ao arse meio da observincia de exigentes procedimentos metodo! das & hisebria Na verdade, boa parte das resalvas di inclufdas fontes escritas das mais tradicionais {ro tipo de evidéncia rlatada, re cios ete), que, muitas vetes, so lberadas de um escrurinio mais auteloso por forga do A grande particularidade & que, no caso da histéria oral, os histo~ ce tanto da geragio de documento, quanto da articulagio cto de emergéncia tanto no mundo académico, fetiche da palaveaescr siadores participam inte dda trama institucio uma vantagem dependeri da quanto fora dele, O quanta isso pode ser um problema ou ccombinagio de uma série de farores, historiador faz ahi i. O compromisso da historiador com o presente no exer palo c sobrea meméria, mas ele dexém instrumentos pa cde perspectiva do dever de meméria para @ nop rmencagio dela. E cero que a andlze sobre os fits ocrtidos, aid ado de ‘casio dos episédios € a reflexio sobre esse passado recente serd ce ca da histéria. Um trabalho sobre o rerreno da mi . x Referéncias BEDARIDA, Frangois. Temps présente présence de Iistoite, In: INSTITUT a'Hisoice dh TeampsDiesene. Evie Uhre di temps pret Pats, CNRS Editions. 1993. BON MEIHY, José Carlos Sebe (org,). (Re) introduzindo a histéria oral no Brasil. Sio Paulo: Xama/USR, 1996, Capitulo 9| Historia oral: velnas questoes, novos desaios 185 la; NAXARA, Marcia (orgs.). Memsriae (reslentimento: indagages sobre nna questzosensvel, Carmpinas: Edirora Unicamp. 2004 CASTELLS, Manuel. A rociedade em rede. S40 Paulo: Pax Terra, 1999 CERTEAU, Michel de. A ecrita da bisedria, Rio de Jancico: Forense Universtiia, 1982, CHARTIER, Roger. 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