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Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Ese Olé pessoal! Na aula de hoje estudaremos os principios da Admi Publica. Seguiremos o seguinte sumério: SUMARIO NOGOES SOBRE NORMAS JURIDICAS, REGRAS E PRINCIPIOS.. PRINCIPIOS BASICOS DA ADMINISTRACAO PUBLICA PRINCIPIOS EXPRESSOS LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE.. PUBLICIDADE EFICIENCIA.. PRINCIPIOS IMPLICITOS OU RECONHECIDOS. SUPREMACIA DO INTERESSE PUBLICO INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PUBLICO. PRESUNCAO DE LEGITIMIDADE OU DE VERACIDADE. MOTIVACAO RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE .. CONTRADITORIO E AMPLA DEFESA. AUTOTUTELA.. SEGURANGA JURIDICA CONTINUIDADE DO SERVICO PUBLICO ESPECIALIDADE HIERARQUIA. PRECAUGA evmmmnmnnn SINDICABILIDADE Mais questoes de prova. RESUMAO DA AULA cw Jurisprudéncia da aula.. Questdes comentadas na aula. Gabarito. Vamos entao? 2de121 Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 NOCOES SOBRE NORMAS JURIDICAS, REGRAS E PRINCiPIOS O direito no se resume a um conjunto de palavras escritas num dispositivo legal. Ele é mais que isso. Na verdade, o direito exprime em normas juridicas os valores reputados como dignos de protecao pela sociedade. Por exemplo, a liberdade, antes de ser um direito previsto na Constituiggo, € um valor amplamente aceito pelos individuos como indispensavel a dignidade humana. As normas juridicas que expressam esses valores podem ser classificadas em duas categorias basicas: regras e principios. As regras contemplam previsées de conduta determinadas e precisas. Ou seja, entre varias alternativas de conduta, as regras determinam como os sujeitos devem ("é obrigatério”), nao devem ("é proibido”) ou podem (“é facultado”) conduzir-sel. Exemplo de uma regra é 0 comando do art. 2° da Lei n° 8.666/1993, pelo qual as compras e alienagdes da Administragao Publica, quando contratadas com terceiros, "sero necessariamente precedidas de licitaco, ressalvadas as hipéteses previstas na referida lei”. Assim, ao efetuar uma compra para a Administracéo, 0 agente publico deve necessariamente observar a regra prevista na lei, isto é, deve realizar licitag&o prévia a menos que se depare com alguma das hipéteses de excegao também previstas na lei. Nesse caso, a ponderacdo entre fazer ou n&o a licitag&o jé foi feita pelo legislador: cumpre ao agente apenas cumprir a regra. Os principios, por sua vez, determinam o alcance e o sentido das regras, servindo de parametro para a exata compreensao delas e para a prépria produg&o normativa. Eles nao se restringem a fixar limites ou a fornecer solugées exatas, e sim consagram os valores a serem atingidos. Dessa forma, os principios néo fornecem solucao Unica, mas propiciam um elenco de alternativas, exigindo, por ocasido de sua aplicacdo, que se escolha por uma dentre diversas solucées. Por exemplo, um dos principios que regem as licitagées puiblicas é o da igualdade entre licitantes. Por esse principio, néo € admitido o estabelecimento de condigées que impliquem preferéncia a favor de determinados licitantes em detrimento dos demais. A “igualdade entre os licitantes", portanto, é um valor a ser perseguido na producéo e na aplicagéo das regras da licitacdo. Assim, caso determinado agente 1 Margal Justen Filho (2014, p. 136). 3de121 ice ia mee cc er Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 publico responsdvel por elaborar um edital de licitagdo se depare com situacéo na qual inexista regra juridica a apontar de maneira evidente a solugao, ele deve analisar as circunstdncias do caso concreto, ponderar as diversas possibilidades e, enfim, adotar providéncia que nao prejudique a igualdade entre os licitantes. As solucdes podem, entdo, variar em cada caso, mas devem ser sempre motivadas ou justificadas pela aplicacéo do principio. Carvalho Filho assevera que as regras sdo operadas de modo disjuntivo, vale dizer, 0 conflito entre elas é dirimido no plano da validade: havendo mais de uma regra aplicével a uma mesma situacéo, apenas uma delas deverd prevalecer. Para o conflito entre as leis, por exemplo, vale o entendimento de que a norma superior prevalece sobre a inferior (a Constituigao prevalece sobre as leis e estas sobre os decretos e assim por diante). Se equivalentes, em termos de hierarquia, aplica-se a lei mais nova sobre a antiga (critério cronolégico ou da anterioridade). Por fim, existe ainda o critério da especialidade, em que lei especial derroga lei geral. Os principios, ao contrario, nao se excluem na hipétese de conflito: dotados que so de determinado valor ou razo, o conflito entre principios deve ser resolvido mediante a ponderacdo de valores (ou ponderacéo de interesses). A ponderagao é possivel porque os principio, ao contrério das regras, go possuem hierarquizacéo material entre si, vale dizer, néo ha principio mais ou menos importante, todos se equiparam. Um exemplo de ponderacao entre principios pode ser encontrado na jurisprudéncia do STJ2. Na ocorréncia de ilegalidade é dever da Administragéio e do Judiciério anular o ato administrativo ilegal (principio da legalidade). No entanto, € possivel o principio da legalidade ceder espaco para o principio da seguranca juridica, nos casos em que a manutengéo do ato ilegal causar menos prejuizos que a sua anulac3o (fenémeno da estabilizagao dos efeitos do ato administrative). E como trazer esses conceitos para o objeto do nosso estudo? Conforme ensina Marcal Justen Filho, a estruturagéo do Direito Administrative é produzida pela Constituigéo, a qual "delineia os principios fundamentais, indica as situagdes em que seré indispensdvel a 2 RMS 24339 Ade 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 existéncia de regras e fornece as diretivas de desenvolvimento do sistema normativo”. Portanto, além das inimeras regras aplicdveis ao Direito Administrativo, a maioria positivada nas leis que veremos no decorrer do curso, os principios também orientam o estudo e a aplicagdo desse ramo do direito, talvez em grau até maior, eis que os principios constituem as bases, 0s alicerces, os valores fundamentais do sistema de regras. Alids, alguns doutrinadores defendem que ofender um principio seria pior que transgredir uma regra. Celso Anténio Bandeira de Melo, por exemplo, afirma que a desatencdo ao principio implica ofensa ndo apenas a um ‘especifico mandamento obrigatério, mas a todo o sistema de comandos. Enfim, estabelecidas as diferencas conceituais entre regras e principios, vamos entao, nesta aula, nos ocupar apenas do estudo dos principios basicos que regem a Administracao Publica. PRINC{PIOS BASICOS DA ADMINISTRAGAO PUBLICA Como dito, os principios desempenham papel relevante para o Direito Administrativo, permitindo & Administracéo e ao Judiciério estabelecer o necessério equilibrio entre as pretrogativas da Administracao ¢ os direitos dos administrados?. Lembre-se de que o regime juridico-administrativo, sistema que dé identidade ao Direito Administrativo, repousa sobre dois principios bdsicos: 0 da supremacia e o da indisponibilidade do interesse publico, os quais fundamentam a bipolaridade desse ramo do direito: as prerrogativas e restrigées concedidas & Administracao. Tais principios n&o s&o especificos do Direito Administrativo, pois informam todos os ramos do direito publico, mas séo essenciais, porque, a partir deles, constroem-se todos os demais principios e regras que integram o regime juridico-administrativo. Ser “essencial" no significa ser mais importante que os outros principios. Como vimos, os principios no possuem uma hierarquia, de modo que todos so igualmente importantes. 3 Di Piotro (2009, p. 63) Sde121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Os principios que analisaremos adiante, derivados do bindmio supremacia/indisponibilidade do interesse publico, séo aplicdveis a todo sistema regido pelo Direito Administrativo. Por isso so chamados de principios “basicos” ou “gerais”. Existem, contudo, outros principios que so de aplicagdo restrita, a exemplo dos principios aplicveis a determinados processos administrativos (oficialidade, gratuidade etc.), ou apenas as licitagdes (julgamento objetivo, vinculacéo a instrumento convocatério etc.). Tais principios seréo estudados nas aulas que cuidam das matérias a que se referem. Os principios basicos da Administragdo Publica podem ser subdivididos em principios expressos e implicitos, a depender de estarem ou néo registrados de forma explicita no art. 37, caput da Constituig&o Federal. Vejamos. PRINCIPIOS EXPRESSOS A Constituigéo Federal, no caput do art. 37, estabelece de forma expressa alguns principios basicos que devem pautar a atuacdo da Administrag&o Publica: ‘Art, 37. A administracao publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniao, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios obedecerd aos principios de Jegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia e, também, ao seguinte: (...) Importante perceber que tais principios devem ser observados por toda a Administracdo Publica, direta e indireta, de qualquer dos Poderes, da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios. Aliés, até mesmo particulares que estejam no exercicio de fung&o piiblica, como as Organizacdes Sociais que recebem recursos puiblicos para o desempenho de atividades de interesse geral, acham-se obrigadas a observar os aludidos principios*. Assim, no existe excecdo em relacdo a observncia dos principios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia por parte da Administrag& Publica. Segundo Carvalho Filho, esses principios revelam as diretrizes fundamentais da Administrag&o, de modo 4Ver, por exemplo, o Ac6rdao 3239/2013-TCU-Plenério. 6de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 que sé se poder considerar valida a conduta admit compativel com eles. istrativa que estiver Note, no esquema abaixo, o famoso mneménico para os principios do art. 37 da CF: "LIMPE". CICLO ec ECT reese) CT on Croatia) Cates ise) ieee snd POET oralidade fiero) A doutrina classifica como “expressos” apenas os _principios enunciados no art. 37, caput da Constituicio. Todos os demais, inclusive 0s previstos nas normas infraconstitucionais’, sé considerados principios implicitos, uma vez que so decorréncia ldgica das disposigées da Carta Magna. Vamos praticar. Por exemplo, a Lei n® 9.784/1999 (Lei do Processo Administrativo Federal) faz referéncia aos principios a legalidade, finalidade, motivagio, razoabilidade, proporcionalidade, moral ampla defesa, contraditério, seguranga juridica, interesse piblico c eficiéncia. Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 14. (ESAF - Mtur 2014) Assinale a op¢éo em que consta principio da Administracao Publica que nao é previsto expressamente na Consfituicdo Federal a) Publicidade. b) Eficiéncia ) Proporcionalidade. d) Legalidade. e) Moralidade. Comentarios: Os principios da Administracdo Publica considerados expressos sao os listados no art. 37, caput, da Constitui¢éo Federal. Vejamos: Art. 37. A administragao publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios obedecer aos principios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia e, também, ao seguinte: Para guardar esses principios, costuma-se ensinar o mneménico LIMPE: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiéncia. Portanto, dentre as alternativas da questo, apenas a proporcionalidade (opgao “c”) nao é considerada principio expresso. Contudo, vale ressaltar que, embora nao previsto no caput do art. 37 da CF, © principio da proporcionalidade, ao lado de outros principios que também nao aparecem no referido dispositive constitucional, possui previsdo no ordenamento juridico, notadamente na Lei 9.784/1999: Art. 20 A Administragéo Publica obedecera, dentre outros, aos principios da legalidade, finalidade, motivacdo, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditorio, seguranca juridica, interesse publico e eficiéncia. Gabarito: alternativa “c” 2. (Cespe - Ministério da Justica 2013) Os principios fundamentais orientadores de toda a atividade da administracéo publica encontram-se explicitamente no texto da Constituicéo Federal, como € 0 caso do principio da supremacia do interesse puiblico. Comentario: O item esté errado. Apenas parte dos principios que orientam a atividade da Administracdo Publica estéo expressos na Constituicdo Federal, no caput do art. 37. Sao eles: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiéncia (LIMPE). Muitos outros se encontram implicitos no texto da Constituicdo ou expressos na legislagéo Bde 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 infraconstitucional, dentre eles o da supremacia do interesse publico, da motivacao, da seguranga juridica, da continuidade do servigo piiblico etc. Gabarito: Errado 3. (Cespe - TREIES 2011) Os principios elencados na Constituigo Federal, tais como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia, aplicam-se a administragdo publica direta, autarquica e fundacional, mas ndo as empresas plblicas e sociedades de economia mista que explorem atividade econémica. Comentario: © item esta errado. O caput do art. 37 da CF dispée que a “administragao publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios obedecera aos principios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi Portanto, © comando constitucional sujeita aos principios da Administragao Publica toda a administragao indireta, incluindo fundagdes e autarquias da mesma forma que empresas ptiblicas e sociedades de economia mista que explorem atividade econémica. Gabarito: Errado Vamos estudar, agora, os detalhes sobre cada principio do art. 37 da Constituigo Federal. LEGALIDADE O principio da legalidade estabelece que toda e qualquer atividade da Administragéo Publica deve ser autorizada por lei. Em outras palavras, diz-se que a Administragéo sé pode agir segundo a lei (secundum legem), e nao contra a lei (contra legem) ou além da lei (praeter legem). E 0 principio basilar do Estado de Direito, que se caracteriza pela submiss&o do Estado as leis que ele proprio edita. Lembre-se de que a lei é o instrumento portador da vontade dos cidad3os e que a Administracéo tem o dever de satisfazer, de tornar concreto o interesse geral. Portanto, o respeito a legalidade deve constituir diretriz basica da conduta dos agentes pliblicos, sob pena de nulidade dos atos praticados, nulidade que pode ser decretada pela propria Administragéo (autotutela) ou pelo Judicidrio (desde que provocado). Uma distinggo cléssica apresentada pela doutrina é que, enquanto os individuos, no campo privado, podem fazer tudo 0 que a lei nao veda (principio da legalidade geral, constitucional ou da reserva legal), o 9de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 administrador publico sé pode atuar onde a lei autoriza (principio da legalidade estrita ou da legalidade administrativa). Perceberam a diferenca? Os individuos, em suas atividades particulares, tém liberdade para fazer qualquer coisa que a lei nao proiba; ja os agentes da Administragéo sé podem fazer o que a lei permite. Segundo ensina Hely Lopes Meirelles, “na Administracéo Publica néo hé liberdade nem vontade pessoal”. Os limites da aco estatal sio dados pela lei, que traduz a vontade geral. Assim, 0 principio da legalidade, quando visto sob a ética do setor privado (reserva legal), caracteriza-se pela autonomia de vontade, e esté previsto como direito fundamental no art. 5°, inciso II da Constituigéo Federal: "ninguém seré obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sendo em virtude de lei”. Quando visto sob a stica da Administraco Publica, o principio da legalidade, previsto no caput do art. 37 da CF, caracteriza-se pela restricéo de vontade, no sentido de que os agentes administrativos sé podem agir “se” e “quando” a lei autorizar, isto é, sé podem atuar em consonancia com a vontade geral (legalidade administrativa) e néo com suas pretensées pessoais. Assim, ao contrério dos particulares, nao é suficiente a auséncia de proibico em lei para que a Administracao publica possa agir; é necessaria a existéncia de uma lei que imponha (atuac&o vinculada) ou autorize (atuagao discriciondria) determinada atuaco administrativa. No caso de atuacdo vinculada, o administrador deve agir exatamente como prescreve a lei, sem espaco para escolhas; na hipétese de atuacéo discricionéria, a escolha @ possivel, mas deve observar os termos, condicées e limites impostos pela lei Em razdo dessa necessidade de plena obediéncia a lei, diz-se que a funcdo administrativa se subordina a legislativa. De fato, 0 exercicio da fung&o administrativa depende do exercicio da atividade legislativa, uma vez que a Administragio sé pode fazer aquilo que a lei antecipadamente autoriza. Um ponto importante é que principio da legalidade administrativa se refere a lei em sentido amplo, ou seja, 0 administrador no se sujeita apenas a lei formal, aprovada pelo Poder Legislative. Mais que isso, a Administrac&o deve obediéncia ao 10 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ordenamento juridico como um todo, incluindo _normas regulamentares por ela mesmo editadas (decretos, portarias, instrucdes normativas etc.), e também aos princfpios constitucionais. Vale ressaltar que o principio da legalidade constitui uma das principais garantias de respeito aos direitos i luais, pois assegura que a atuaco do Estado esteja limitada ao que dispuser a lei, prevenindo quaisquer ac6es autoritarias ou abusivas tendentes a restringir direitos. Porém, existem situagdes previstas na Constituigéo que podem resultar em algum tipo de restrigéo ao principio da legalidade. Sao elas: > Estado de defesa (CF, art. 136); > Estado de sitio (CF, art. 137 a 139); e > Medidas provisérias (CF, art. 62). Nesses casos, 0 Poder Executivo (e ndo a lei em sentido formal) pode impor restrig6es aos direitos individuais a fim de enfrentar questées excepcionais, urgentes e relevantes. Por fim, cumpre destacar as diferencas usualmente apontadas pela doutrina entre os significados de legalidade e legitimidade. Enquanto legalidade significa agir conforme o texto da lei, legitimidade denota obedecer nao sé a lei, mas também aos demais principios administrativos, como moralidade, honestidade, probidade administrativa e interesse pubblico. Conforme assevera Hely Lopes Meirelles “cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto [legalidade] ndo é 0 mesmo que atendé-la na sua letra e no seu espirito [legitimidade]”. Vé-se, ento, que 0 conceito de legitimidade apresenta certa carga valorativa, sendo, assim, mais abrangente do que 0 conceito de legalidade. Existe ainda o principio da juridicidade, que vem ganhado destaque na doutrina moderna por buscar ampliar os conceitos tradicionais do principio da legalidade. Por juridicidade, deve-se entender uma conjungéo dos principios da legalidade, da legitimidade e da moralidade. Assim, passa-se a exigir que a atuacéo da Administracao, além de baseada em lei anterior, esteja voltada para os reais anseios da coletividade (abrangendo o carater de legitimidade, mais amplo que o da legalidade) e sempre atendendo a moral®. © Knoplock (2013, p. 138-139) de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 IMPESSOALIDADE Comumente, o pI os seguintes aspectos’: \cipio da impessoalidade admite seu exame sob 2 Dever de isonomia por parte da Administracao Publica. > Dever de conformidade aos interesses publics. vu Vedac&o a promocéo pessoal dos agentes ptiblicos. A partir da primeira perspectiva, o principio da impessoalidade estabelece que os atos administrativos devem ser praticados tendo em vista o interesse ptiblico, e ndo os interesses pessoais do agente ou de terceiros. Impede, assim, que a Administracdo beneficie ou prejudique ‘esta ou aquela pessoa em especial. Nessa concepgéo, representa uma faceta do principio da isonomia, pois objetiva a igualdade de tratamento que a Administragio deve dispensar aos administrados que se encontrem em idéntica situagdo juridica, sem favorecimentos ou discriminagées de qualquer espécie. E por isso que a Constituigéo exige concurso ptiblico como condigéo para o ingresso em cargo efetivo ou emprego piiblico (CF, art. 37, II) ou a realizacio de licitagéo publica para a contratagdo de obras, servicos, compras e alienagées (CF, art. 37, XXI). Tais institutos so formas de dar oportunidades iguais a todos. A respeito do principio da impessoalidade e sua relagdo com © principio da isonomia, Carvalho Filho assevera que tém sido admitidas excecdes para sua aplicaco. Como exemplo, podem-se citar as exigéncias de altura minima e de idade em concursos publicos. Sobre o tema, Lucas Furtado esclarece que o STF coloca trés critérios necessarios para legitimar exigéncias discriminatérias em editais de concurso publico: (i) que haja pertinéncia entre o critério de discriminagio e a atividade do cargo; (ii) que o critério seja fixado em parametros razoaveis; (iii) que o critério tenha sido previsto em lei e no apenas no edital do concurso. Assim, por exemplo, o STF reconheceu que, em se tratando de concurso publico para agente de policia, mostra-se razodvel a exigéncia, por lei, de que o candidato tenha altura minima de 1,60m. A exigéncia de altura, por sua vez, ndo seria razoavel para o cargo de escrivéo de policia, dada as atribuigdes do cargo, para as quais o 7 Furtado (2014, p. 83-84) 12de121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 fator altura é irrelevante®. Ja em outra decisio, o STF entendeu no ser possivel que o edital do concurso imponha altura minima para o ingresso nos quadros da Policia Militar sem que haja lei formal autorizando a e» \cia®, Um critério altamente polémico que tem ganhado relevo na jurisprudéncia e na doutrina diz respeito ao sistema de cotas, em que se prevé reserva de vagas pelo critério étnico-social para o ingresso em universidades ou para a aprovacdo em concursos publicos. © (STF) considerou constitucional tal a¢dio afirmativa®®, com o argumento de que traduz politica de incluso social com o objetivo de corrigir desigualdades oriundas do proceso histérico do pais, muito embora os destinatérios obtenham maiores vantagens que os demais interessados. No obstante, ressalte-se que a matéria esta longe de ser pacifica, havendo muitos setores da sociedade que no concordam com esse entendimento. Quanto a segunda perspectiva (dever de conformidade aos interesses publicos), 0 principio da impessoalidade se confunde com o principio da finalidade, 0 qual impée que o fim a ser buscado pelo administrador pUblico em suas atividades deve ser téo-somente aquele prescrito pela lei, ou seja, o fim legal, de interesse geral ¢ impessoal. Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, 0 fim legal 6 “unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal”. Assim, qualquer ato praticado com objetivo diverso do interesse publico seré considerado nulo, por desvio de finalidade. Entretanto, é possivel que o interesse publico coincida com o de particulares, como normalmente ocorre nos atos administrativos negociais e nos contratos publicos. Nas compras efetuadas pela Administracéo, por exemplo, 0 Poder Publico deseja adquirir e 0 empresério deseja vender determinado bem. Os interesses, portanto, séo convergentes. Nesses casos, 6 permitido aliar a pretens&o do particular com o interesse coletivo. © que © principio da impessoalidade proibe é a pratica de ato administrativo sem interesse public envolvido. 2 Ver RE 149,095-MS e RE 194,952-MS °Ver AL518.863-DF 10 Ver ADPF 186 e RE 597,285, relativas ao ingresso om universidades. 13 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Em relacio ao terceiro enfoque, o principio da impessoalidade veda a promocéo pessoal do agente custa das realizacdes da Administragéo Publica. Com efeito, as realizagdes governamentais néo devem ser atribuidas ao agente ou a autoridade que as pratica. Estes apenas Ihes dao forma. Ao contrério, os atos e provimentos administrativos devem ser vistos como manifestagées institucionais do érg4o ou da entidade publica. 0 servidor ou autoridade é apenas o meio de manifestacéo da vontade estatal. A propria Constituig&o Federal contém uma regra expressa decorrente desse principio, ao proibir que conste nome, simbolos ou imagens que caracterizem promogao pessoal de autoridades ou servidores ptiblicos em publicidade de atos, programas, obras, servicos e campanhas dos orgaos publicos (CF, art. 37, §19). O STF, inclusive, entende que essa vedacdo atinge também qualquer mencao ao partido politico do administrador puiblico!?, Assim, uma obra realizada por determinado Municipio no poderé ser anunciada como obra do Sr. Fulano, Prefeito, ou da Sra. Ciclana, Secretaria de Obras, e nem mesmo do Partide XYZ, legenda politica das autoridades. Ao contrdrio, a obra deverd ser sempre tratada e anunciada como obra do Municipio ou da Prefeitura, vedada qualquer aluséo as caracteristicas dos agentes publicos e respectivos partidos politicos, inclusive eventuais simbolos ou imagens ligados a seus nomes. Esse terceiro enfoque do principio da impessoalidade, ao retirar a responsabilidade pessoal dos agentes ptiblicos, permite que se reconheca a validade dos atos praticados em nome da Administragéo por agentes cuja investidura no cargo venha a ser futuramente anulada (agente de fato ou putativo). Por exemplo, imagine uma situac&o em que determinado cidadao de boa-fé obtenha certiddo negativa de débitos perante a Receita Federal emitida pelo servidor Fulano, e que, posteriormente, se verifique que o aludido servidor foi investide no cargo de forma irregular (sem concurso publico, por exemplo). Nesse caso, pela aplicagéo do principio da impessoalidade, tem-se que a certidao obtida pelo cidadao nao foi emitida pelo servidor Fulano, e sim pela Receita Federal, de modo que o documento n&o poderia ser declarado invélido em razdo da situacéo irregular do servidor. Em outras palavras, a perda da competéncia do 11 Ver RE 19L.688/RS. 14de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 agente ptiblico nao invalida os atos praticados por este agente enquanto detinha competéncia para a sua pratica. Ressalte-se, porém, que aos atos dos agentes de fato s&o validos apenas se praticados perante terceiros de boa-fé. Assim, temos os trés enfoques esquematizados: Por fim, vale saber que o principio da impessoalidade encontra-se implicito na Lei 9.784/1999 (Lei do Processo Administrativo Federal), nos dois sentidos assinalados, pois a lei exige que se observe, nos processos administrativos, a “objetividade no atendimento ao interesse publico, vedada a promogo pessoal de agentes ou autoridades”, e, ainda, a “interpretaggo da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim publico a que se dirige”’?. MORALIDADE O principio da moralidade impde a necessidade de atuacao ética dos agentes publicos, traduzida na capacidade de distinguir entre o que é honesto e que é desonesto. Liga-se a ideia de probidade e de boa-fé. © principio da moralidade corresponde a nogdo de “bom administrador”, que n&o somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos principios éticos regentes da fung&o administrativa, porque, como jé diziam os romanos, nem tudo que é legal € honesto. Exige-se, assim, que os agentes publicos, sobretudo aqueles que ocupam posicées mais elevadas, tenham conduta impecdvel, ilibada, 22 Lei 9.784/1999, artigo 28, pardgrafo tinico, incisos Ill e XIIL. 15de 121 ice ia mee cc er Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 exemplar, pautada pela lealdade, boa-fé, fidelidade funcional e outros aspectos atinentes 4 moralidade. Segundo Hely Lopes Meirelles, a denominada moralidade administrativa nao se confunde com a moralidade comum. Com efeito, a doutrina enfatiza que a moralidade administrativa independe da concepgéo subjetiva, isto é, da moral comum, da ideia pessoal do agente sobre o que é certo ou errado em termos éticos. Na verdade, 0 que importa é a nog&o objetiva do conceito, ou seja, a moralidade administrativa, passivel de ser extraida do conjunto de normas concernentes @ conduta de agentes publicos existentes no ordenamento juridico, relacionada a ideia geral de boa administragéo. E verdade que moralidade administrativa se trata de um conceito indeterminado, tais como “bem comum" e “interesse pUblico”, ainda que se reconheca a possibilidade de extrai-lo do conjunto de normas que versam sobre a conduta dos agentes publicos. Embora seja um conceito indeterminado, n&o deixa de ser considerado um conceito objetivo, passivel de avaliagdo e controle. Por essa caracteristica objetiva, reforcada inclusive pela previséo expressa no caput do art. 37 da CF, a moralidade é vista como aspecto vinculado do ato administrativo, sendo, portanto, requisito de validade do ato. Assim, um ato contrério a moralidade administrativa deve ser declarado nulo, podendo essa avaliag&o ser efetuada pela propria Administragéo (autotutela) ou pelo Poder Judicidrio (desde que provocado). Maria Sylvia Di Pietro entende que mesmo os comportamentos ofensivos da moral comum implicam ofensa ao principio da moralidade administrativa. A verdade, contudo, € que se a moral comum fosse a regra de conduta da sociedade e, por consequéncia, dos agentes piiblicos, ndo seria necesséria a edi¢do de normas para disciplinar o assunto. Por exemplo, é senso comum que trabalhar com desleixo, bater 0 ponto e ir embora, nomear parentes despreparados para cargos puiblicos so praticas que atentam contra a honestidade e a justica; portanto, no se espera que sejam adotadas por um agente puiblico. Todavia, praticas desse tipo, mesmo que reprovadas socialmente, so comuns na Administraggo. Por isso, a prépria autora reconhece a existéncia de uma moral 16 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 paralela na Administrago, se referindo a todos aqueles que exercem suas atividades sem qualquer dedicaco, responsabilidade, vocaco ou espirito de dever publico, sendo esse um problema crucial de nossa época. Sendo assim, cabe 20 Judiciario (este quando provocado) e a prépria ‘Administrag30, assim como aos cidaddos em geral, diligenciar para que os valores éticos da sociedade sejam de fato observados, a fim de vermos superada a existéncia dessa moral paralela. A Constituiggo Federal é prédiga em dispositivos relacionados a moralidade administrativa. Por exemplo, no art. 37, §4°, dispSe que os atos de improbidade administrativa sdo punidos com a suspenséo dos direitos politicos, a perda da fungao publica, a indisponibilidade dos bens e © ressarcimento ao erério, na forma e gradacdo previstas em lei. De acordo com 0 Dicionario Aurélio (eletrénico), probidade diz respeito integridade de cardter, honradez, ou seja, conceito estreitamente correlacionado com o de moralidade administrativa. Além disso, no art. 14, §9°, ao tratar de voto e eleigdes, a CF coloca a probidade administrativa e a moralidade para o exercicio do mandato como objetivos a serem alcancados pela lei que estabelecer os casos de inelegibilidades. No plano legal, a Lei 9.784/1999 refere-se aos conceitos de moralidade ao prescrever que "nos processos administrativos serao observados, entre outros, os critérios de atuagao segundo padrées éticos de probidade, decoro e boa-fé'”. Mais recentemente, foi editada a Lei 12.813/2013, que dispée sobre o conflito de interesses no Poder Executivo federal, tratando do relacionamento entre setor ptiblico e privado e os interesses subjacentes. Outra norma relevante é 0 Cédigo de Etica do servidor piiblico civil federal (Decreto 1.171/1994), 0 qual disp3e que o “servidor publico nao poderé jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, ndo tera que decidir somente entre o legal e 0 ilegal, 0 justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto”. Ademais, a norma prescreve que a “moralidade da Administragao Publica n&o se limita a distingéo entre 0 bem e o mal, devendo ser 13 Lei 9.784/1999, art. 28, paragrafo tinico, inciso IV. 17de121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 acrescida da ideia de que o fim € sempre o bem comum. 0 equilibrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor ptiblico, é que podera consolidar a moralidade do ato administrativo”. Assim, vé-se que um parametro basico a ser utilizado para avaliar a moralidade de determinada conduta é verificar se o agente plblico teve for fim o interesse comum, e no seus interesses pessoais. De se destacar também a Stmula Vinculante n° 13 do STF, a qual veda expressamente a pratica do nepotismo (nomeacéo de parentes para o exercicio de cargos piblicos), uma das formas mais comuns de ofensa ao principio da moralidade. A vedac&o estende-se & administracao direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios. A Simula Vinculante n2 13 do STF nao proibe nomeacées de parente para cargos politicos, como os de Ministro de Estado ou de Secretério Estadual ou Municipal. Ela atinge apenas nomeacées para cargos e funcdes de confianca em geral, de natureza administrativa, como assessores, chefes de gabinete etc. Sendo assim, conforme bem exemplifica Carvalho Filho, seré licito que Governador nomeie irmao para o cargo de Secretério de Estado, ou que Prefeito nomeia sua filha para o cargo de Secretéria da Educagao. Outra excecio & Simula diz respeito aos servidores jé admitidos via concurso Pblico, os quais, na visdo do STF, néo podem ser prejudicados em razo do grau de parentesco, inclusive porque tais servidores passaram por rigorosos concursos publicos, tendo, portanto, o mérito de assumir um cargo de chefia ou de direcio. No entanto, esclarega-se que permanece em vigor a diretriz contida na Lei Federal 8.112, de 1990, em que se proibe ao servidor publico manter sob sua chefia imediata cdnjuge ou parentes até o 22 grau civil. N&o obstante a existéncia das normas destacadas anteriormente, vale destacar que, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) "5 e também do Superior Tribunal de Justica (STJ)'®, a plena efetividade da moralidade administrativa independe da existéncia de lei que proiba a conduta reprovada. + Sdmula Vinculante 13 16 RMS 15.166-BA 18 de 121 an _ a Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 A auséncia de norma especifica nao é justificativa para que a Administragéo atue em jade com o principio da moralidade Em outras palavras, para que se possa anular um ato ofensivo ao principio da moralidade, ndo precisa haver uma lei dizendo que tal conduta é desonesta ou improba. Do contrario, conforme esclarece Lucas Furtado, “teriamos reduzido a moralidade a legalidade, o que néo é 0 propésito da Constituiggéo Federal, que separa e distingue os dois principios”. © préprio caso do nepotismo é um exemplo claro do que estamos falando: nao hé uma lei formal que, expressamente, vede o nepotismo no ambito de todas as esferas federativas. Mas, por ser uma pratica frontalmente ofensiva ao principio da moralidade e a outros principios constitucionais, como impessoalidade, eficiéncia e igualdade, nao é admitido que ocorra na Administracgo Publica. Maria Sylvia Di Pietro assevera que o principio da moralidade deve ser observado nao apenas pelo agente publico, mas também pelo particular que se relaciona com a Administragao. Nas licitagées publicas, por exemplo, séo frequentes os conluios entre empresas licitantes para combinar pregos, pratica que caracteriza ofensa ao principio em tela. Por fim, registre-se que um importante meio disponivel a qualquer cidadao para provocar o controle judicial da moralidade administrativa é a ac&o popular, prevista no art. 5° da Constituic&o Federal nos seguintes termos: LXXII - qualquer cidadao é parte legitima para propor acao popular que vise a anular ato lesivo ao patriménio ptiblico ou de entidade de que o Estado participe, 4 moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patriménio histérico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada mé-fé, isento de custas judiciais e do énus da sucumbéncia; 19 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 4. (Cespe - TJDFT 2013) Haverd ofensa ao principio da moralidade administrativa sempre que o comportamento da administraco, embora em consonancia com a lei, ofender a moral, os bons costumes, as regras de boa administragao, os principios de justica e a ideia comum de honestidade. Comentario: Aqui vale a maxima: nem tudo que é legal é moral. Assim, & correto afirmar que atenta contra o principio da moralidade 0 comportamento da administragéo que, embora em consonancia com a lei, venha a ofender a moral, os bons costumes, as regras de boa administracao, os principios de justiga e a idela comum de honestidade. Como exemplo, imagine que determinado municipio gastou grande parte do orcamento para adquirir, mediante regular licitacdo, um carro de luxo para uso exclusivo do prefeito, enquanto todas as ambulancias da cidade estavam sem condigées de uso. ra, ainda que a aquisicao do carro tenha observado todos os preceitos da lei de licitagdes, sendo, portanto, legal, nao poderia ser considerada moral, pois desprezou outras necessidades mais urgentes da populacao. Gabarito: Certo 5. (Cespe - TRT 5* Regido 2013) Segundo o STF, é imprescindivel a existéncia de norma legal especifica com vistas a coibir a pratica do nepotismo, haja vista que a vedacdo a essa pratica decorre diretamente das normas constitucionais aplicaveis administragao publica, em especial do principio da moralidade. Comentario: A questao esta errada, O tema é objeto de decisao do STF na qual declarou a constitucionalidade de Resolucao do Conselho Nacional de Justica (normal infralegal) que vedava expressamente a pratica de nepotismo. Vejamos a ementa: AGAO DECLARATORIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUGAO N° 07, de 18.10.05, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICA. ATO NORMATIVO QUE “DISCIPLINA O EXERCICIO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNCOES POR PARENTES, CONJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS. E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECAO E ASSESSORAMENTO, NO AMBITO DOS ORGAOS DO PODER JUDICIARIO E DA OUTRAS PROVIDENCIAS". PROCEDENCIA DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos impostos pela Resoluco n° 07/05, do CNJ, ndo atentam contra a liberdade de prover € desprover cargos em comisséo e funcées de confianca. As restrices constantes do ato resolutivo sao, no rigor dos termos, as mesmas ja impostas pela Constituicao de 1988, dedutiveis dos republicanos principios da impessoalidade, da eficiéncia, da igualdade e da moralidade. (...) 3. Ago julgada procedente para: a) emprestar interpretaco conforme a Constituicao para deduzir a fungao de chefia do substantivo "dire¢ao" nos incisos II, Ill, IV, V do artigo 2° do ato 20de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 normative em foco; 6) declarar a constitucionalidade da Resolugao n° 07/2005, do Conselho Nacional de Justiga (ADC 12/DF, DJ 18/12/2009) Como se vé, no caso, a Suprema Corte entendeu que a pratica do nepotismo no Judiciario poderia ser combatida por meio da referida Resolugdo do CNJ, norma de natureza infralegal, ou seja, a situagdo nao reclamava a edi¢do de lel formal, eis que as restrigdes ao nepotismo impostas pela norma seriam decorréncia légica dos principios constitucionais da impessoalidade, eficiéncia, igualdade e moralidade. Na verdade, aprofundando mais o assunto, percebe-se que, na viséo do STF, nao seria necessario nenhuma espécie de diploma regulamentar para coibir 0 nepotismo, visto que os préprios principios constitucionais ja teriam forca mais que suficiente para tanto. Ressalte-se que, atualmente, 0 nepotismo é vedado pela Stimula Vinculante n° 13, a qual, diferentemente da referida Resolugéo do CNJ, que incidia apenas sobre o Judiciario, se aplica a administracao direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios. Gabarito: Errado 6. (Cespe - Procurador DF 2013) Com fundamento no principio da moralidade e da impessoalidade, 0 STF entende que, independentemente de previsdo em lei formal, constitui violagéo a CF a nomeagéo de sobrinho da autoridade nomeante para 0 exercicio de cargo em comissao, ainda que para cargo politico, como o de secretario estadual Comentario: A primeira parte do quesito esta correta (Com fundamento no principio da moralidade e da impessoalidade, o STF entende que, independentemente de previsdo em lei formal, constitui violagéo a CF a nomeagao de sobrinho da autoridade nomeante para o exercicio de cargo em comissao...). De fato, segundo o entendimento da Suprema Corte, o nepotismo constitui ofensa direta aos principios constitucionais, dentre eles a moralidade e a impessoalidade, nao sendo necessaria a edigdo de lei formal para coibi-lo. Tanto é que, atualmente, o tema é objeto da SV n° 13. Nao obstante, a parte final macula a questo (...ainda que para cargo politico, como o de secretario estadual), pois, na visao do STF, a vedagao ao nepotismo presente na Sumula Vinculante n° 13 nao alcanga os agentes politicos, como os Secretario de Estado ou de Municipio, e isso em virtude da propria natureza desses cargos, eminentemente politica, diversa, portanto, da que caracteriza os cargos e fungées de confianca em geral, os quais tem feicdo nitidamente administrativa™. Gabarito: Errado 17 Rel 6650/PR 21de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 7. (Cespe - Ministério da Justica 2013) O principio da moralidade administrativa torna juridica a exigéncia de atuagao ética dos agentes publicos e possibilita a invalidagao dos atos administrativos. Comentario: O quesito esta correto, pois apresenta a definicao correta do principio da moralidade administrativa. Interessante notar que, embora se trate de um conceito indeterminado, uma ofensa 4 moralidade administrativa pode levar a invalida¢ao dos atos administrativos. Vale dizer: um ato contrario moral administrativa no esté sujeito a uma andlise de oportunidade e conveniéncia, mas a uma anilise de legitimidade, isto é, um ato contrario a moral administrativa é um ato nulo, e nao meramente inoportuno e inconveniente, podendo a declaracéo de nulidade ser feita pela propria Administragao (autotutela) e també pelo Poder Judiciario. Gabarito: Certo PUBLICIDADE 0 principio da publicidade impde a Administraco Publica o dever de dar transparéncia a seus atos, tornando-os ptiblicos, do conhecimento de todos. A publicidade é necessdria para que os cidadéos e os érgaos competentes possam avaliar e controlar a legalidade, a moralidade, a impessoalidade e todos os demais requisitos que devem informar as atividades do Estado. E isso € ébvio, pois ndo se pode avaliar aquilo que no se conhece. No é por outra razo que a Constituigdo Federal assegura a todos o direito de receber dos érgaos publicos informagdes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral (CF, art. 5°, XXXII). E para que a sociedade possa exigir a transparéncia das aces governamentais, a Constituiggo Federal prevé uma série de institutos juridicos, a exemplo do habeas data (CF, art. 5°, LXXII), mandado de seguranga (CF, art. 5°, LXIX), direito de peticdo aos Poderes Publicos (CF, art. 5°, XXXIV, “a”), direito & obteng&o de certidées em repartigdes publicas (CF, art. 5°, XXXIV, “b") e ag&o popular (CF, art. 5°, LXXIII). A Lei 9.784/1999, por sua vez, diz que nos processos administrativos € obrigatéria a “divulgagao oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipéteses de sigilo previstas na Constituigdo™”. 18 Lei 9784/1999, art. 28, paragrafo tinico, inciso V. 22de 124 an _ a Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Embora a transparéncia seja a regra, o texto constitucional prevé algumas situagées em que o principio da publicidade podera ser restringido. Sao elas: 2 Seguranca da sociedade e do Estado. 2 Quando a intimidade ou o interesse social o exigirem. Como exemplo da primeira hipétese, tem-se o art. 5°, XXXII da CF, pelo qual "todos tém direito a receber dos érgaos publicos informagées de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que seréo prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel 4 seguranca da sociedade e do Estado”. Quanto a segunda situacio, cite-se o art. 5°, LX da CF, pelo qual "a lei sé poderé restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou 0 interesse social 0 exigirem”. Repare, nos dispositivos constitucionais acima, que somente a lei (em sentido formal) pode instituir regras de sigilo, sendo vedado & Administragao cria-las por meio de atos infralegais. Detalhe importante € que publicidade nao se confunde com Publicacdo de atos. A publicacio, em regra, se refere a divulgagdo em érgos oficiais outros meios de imprensa escrita (diario oficial, boletim interno, jornais contratados com essa finalidade), sendo, assim, apenas uma das formas possiveis de dar publicidade aos atos administrativos. Existem diversos outros meios de publicidade, como por exemplo, notificacéo direta, divulgago na internet e afixacao de avisos. Conforme assevera Hely Lopes Meirelles, "a publicag&o que produz efeitos juridicos é a do é6rgao oficial da Administracéo, e ndo a divulgag&o pela imprensa particular, pela televiséo ou pelo radio, ainda que em horério oficial”. Assim, para que produzam efeitos juridicos, os atos precisam ser objeto de publicacéo em meio oficial. Segundo 0 autor, por 6rgao oficial entende-se o diario oficial das entidades publicas - impresso ou pela forma eletrénica na internet -, a internet, no endereco do érgio ptiblico e também os jornais contratados para essas publicagées oficiais. Ademais, nos Municipios em que néo exista imprensa oficial, admite-se a publicacao dos atos e leis municipais por meio de afixacg&o destes na sede da Prefeitura ou da 23de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Camara de vereadores, em conformidade com o disposto na Lei Organica do Municipio. No geral, a forma de divulgacdo do ato deve observar o que prescreve a lei. Por exemplo, a Lei de Licitagdes expressamente determina a publicagao de editais em didrios oficiais e em jornais de grande circulag&o (art. 21). No caso de convite, uma das modalidades de licitag&o, a lei requer t8o-somente a fixagdo do edital em local apropriado, como um quadro de avisos (art. 22, III). Quando a lei nao define a forma de divulgagao dos atos, o agente publico deve, primeiramente, avaliar se ato produz efeitos internos ou externos 4 Administracdo, a fim de que se escolha uma forma de divulgago compativel com o alcance dos efeitos do ato. Assim, na hipétese de atos com efeitos externos, por alcangarem particulares estranhos ao servico publico, a regra é a divulgacéo por meio de publicagdo em diarios o Por exemplo, a nomeacéo de candidato aprovade em concurso puiblico é ato externo, ndo havendo lei que indique expressamente a forma como deve ser divulgada. Assim, a publicidade do ato de nomeagio deve ser dada mediante publicagéo em diario oficial. Ja a divulgag&o dos atos com efeitos internos nao precisa ser feita em didrio oficial, bastando que sejam publicados em veiculos de circulacgao interna, como boletins e circulares. Frise-se: os atos internos devem ser divulgados. A diferenga é que nao precisam ser publicados em meios de divulgag&o externa. Por exemplo, o deferimento de um pedido de licenca capacitacéio de servidor nao precisa ser publicado no didrio oficial, mas apenas no boletim interno do érgao. Detalhe importante é que a doutrina, modernamente, tem entendido que a publicidade ngo é considerada elemento de formagio do ato administrativo, ou seja, a publicidade nao esta ligada a validade do ato. Constitui, sim, requisito de eficdcia, especialmente quando o ato deva produzir efeitos externos ou implicar 6nus para o patriménio publico. Dizer que a publicidade no é elemento de formacéio do ato e sim requisito de eficdcia significa que é desnecessério anular um ato por no ter sido publicado; 0 ato n&o publicado permanece vélido, mas sem eficdcia, vale dizer, sem produzir efeitos perante as partes e terceiros, o que somente passaré a ocorrer com a sua publicacdo. 24de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Por exemplo, imagine que a Administragéo tenha interesse em remover determinado servidor para outra localidade a fim de adequar seu quantitative de pessoal. Ainda que o ato da Administracdo seja perfeitamente vélido, ou seja, emitide por agente compete, devidamente motivado com justificativas legitimas etc., néo teré eficdcia sobre o servidor a menos que se dé publicidade ao ato, no caso, mediante publicago no boletim interno do érg&o ou entidade. Assim, o referido ato de remog&o pode até ser vélido, mas o servidor tera obrigacdo de se mudar apenas a partir da sua publicaggo. A publicidade nao é elemento de formacao do ato administrativo, e sim requisito de sua eficacia. Conforme ensina Hely Lopes, "os atos irregulares nao se convalidam com a publicagao, nem os regulares a dispensam para sua exequibilidade, quando a lei ou o regulamento a exige”. Ou seja, como a publicidade nao é elemento de formagao do ato, a publicaco em nada interfere na sua validade (os irregulares nao deixam de ser irregulares). J4 os atos validos (regulares), quando a lei assim exige, necessitam ainda ser publicados para que passem a produzir efeitos. Por fim, vale destacar que, para dar efetividade aos mandamentos constitucionais relativos a transparéncia da Administragéo Publica, foi promulgada a Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso a Informacdo) com incidéncia sobre a Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios, abrangendo administrag3o direta e indireta e, inclusive, entidades privadas sem fins lucrativos beneficiérias de recursos publicos. A referida lei passou a regular tanto o direito a informag&o quanto o direito de acesso a registros e informagdes nos érgaos pliblicos. 25de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 8. (ESAF — MDIC 2012) Determinado municipio da federacao brasileira, visando dar cumprimento a sua estratégia organizacional, implantou 0 programa denominado Administracao Transparente. Uma das acdes do referido programa consistiu na divulgagao da remuneracdo bruta mensal, com o respectivo nome de cada servidor da municipalidade em sitio eletrénico da internet. A partir da leitura do caso concreto acima narrado, assinale a opc4o que melhor exprima a posicdo do Supremo Tribunal Federal - STF acerca do tema a) A atuacéo do municipio encontra-se em consonancia com o principio da publicidade administrativa. b) A atuacao do municipio viola a seguranca dos servidores. c) A atuacao do municipio fere a intimidade dos servidores. 4) A remuneraco bruta mensal nao é um dado diretamente ligado a fun¢ao publica. ) Em nome da transparéncia, 0 municipio esta autorizado a proceder a divulgacao da remuneracdo bruta do servidor e do respectivo CPF. Comentarios: A divulgagao nominal da remunera¢ao de autoridades e servidores nas paginas da internet constitui tema dos mais polémicos no debate sobre a transparéncia da Administracao Publica. A discussao envolve a compatibilizagdo do principio da publicidade, que assegura 0 acesso a informagées de interesse geral e coletivo, com o direito fundamental do individuo de nao ter informagées de cunho estritamente pessoal divulgadas sem o seu prévio consentimento. A questo foi submetida a apreciacao do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou licita a divulgacao nominal da remuneracao dos servidores. Segundo o entendimento da Suprema Corte, a remuneracdo bruta, os cargos, as fungées e os drgaos de lotacao dos servidores pitblicos seriam informagées de interesse coletivo ou geral. Assim, “ndo cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgacao em causa dizem respeito a agentes publicos agindo ‘nessa qualidade’ (§6° do art. 37). E quanto a seguranga fisica ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultara um tanto ou quanto fragilizada com a divulgagao nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibicdo de se revelar 0 endereco residencial, 0 CPF e a Cl de cada servidor. No mais, é 0 prego que se paga pela opcao por uma carreira publica no seio de um Estado republicano” (SS 3.902-AgR, de 9/6/2011). Portanto, correta a alternativa “a”, pois, de acordo com o entendimento 26de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘do STF, a agao do programa municipal de divulgar a remuneragao bruta mensal e 0 nome de cada servidor em sitio eletrénico da internet, encontra-se em consonéncia com o principio da publicidade administrativa. Quanto as demais alternativas, merece comentario a alternativa “e”: embora o STF considere licita a divulgacao do nome e da remuneracdo do servidor, nao possui o mesmo entendimento quanto a revelagao do CPF, da identidade e do endereco residencial, pois a preservagao destes dados seria uma forma de garantir a seguranga pessoal e familiar do servidor. Gabarito: alternativa “a” 9. (ESAF - STN 2008) O art. 37, caput, da Constituicéo Federal de 1988 previu expressamente alguns dos principios da administra¢ao publica brasileira, quais sejam, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia. Consagra- se, com o principio da publicidade, 0 dever de a administracao publica atuar de maneira transparente e promover a mais ampla divulgacao possivel de seus atos. Quanto aos instrumentos de garantia e as repercussdes desse principio, assinale a assertiva incorreta. a) Todos tém direito a receber dos érgaos piblicos informacdes de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel & seguranca da sociedade e do Estado b) E assegurada a todos a obten¢do de certidées em reparticdes publicas, para a defesa de direitos e esclarecimento de situacdes de interesse pessoal. ¢) Da publicidade dos atos e programas dos orgaos pliblicos podera constar nomes, simbolos ou imagens que caracterizem promogao pessoal de autoridades ou servidores ptiblicos, desde que tal iniciativa possua carater educativo. d) Cabe habeas data a fim de se assegurar 0 conhecimento de informacées relativas & pessoa do impetrante, constante de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carater publico. e) & garantido ao usuério, na administrac¢ao publica direta e indireta, na forma disciplinada por lei, 0 acesso a registros administrativos e a informac6es sobre atos de governo, observadas as garantias constitucionais de sigilo Comentarios: Como afirma o enunciado, o principio da publicidade, de fato, determina que a Administragéo Publica atue de modo transparente, promovendo a mais ampla divulgacao possivel de seus atos. E a razio, como esclarece Hely Lopes Meirelles, 6 uma s6: se a Administracéo ¢ Publica, publicos tém de ser seus atos. Vamos entao analisar cada alternativa, em busca da incorreta: (a) CERTA. Trata-se de direito fundamental previsto no art. 5°, XXXIlll da CF, assegurado pelo principio da publicidade que rege a Administragdo 27 de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Publica. (b) CERTA. Também se trata de direito fundamental previsto no art. 5°, XXXIV da CF, cuja consecucao é garantida pelo principio da publicidade. (c) ERRADA. O principio da impessoalidade veda a inclusao de nomes, simbolos ou imagens que caracterizem promogao pessoal de autoridades ou servidores ptblicos na publicidade dos atos e programas dos érgaos publicos. Tal restricdo esta positivada no art. 37, §1° da CF. (d) CERTA. O habeas data é remédio constitucional previsto no art. 5°, LXxIl da CF. Serve para assegurar que 0 Poder Publico observe o principio da publicidade e forneca informagées relativas & pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carater pblico. (e) CERTA. Trata-se, mais uma vez, de direito de acesso a informacées de interesse pulblico previsto na Constituigao Federal, nos seguintes termos: § 3° A lei disciplinara as formas de participagao do usuario na administragao publica direta e indireta, regulando especialmente: Il - 0 acesso dos usuarios a registros administrativos e a informagées sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5°, X € XXXIIL As hipéteses de sigilo sao as informagées relativas a intimidade e a vida privada (CF, art. 5°, X) e aquelas imprescindiveis a seguranca da sociedade e do Estado (CF, art. 5°, XXIII). Gabarito: alternativa “c” 10. (Cespe - TRT 10* Regiéo 2013) A administracao esta obrigada a divulgar informagdes a respeito dos seus atos administrativos, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel a seguranca da sociedade e do Estado e a protecao da intimidade das pessoas. Comentario: O quesito esta correto. De fato, a administragéo esta obrigada a divulgar informagées a respeito dos seus atos administrativos, afinal, 0 acesso a essas informagées é um direito dos cidadaos previsto no art. 5°, incisos XXXIIll e LX. Entretanto, esses mesmos dispositivos constitucionais preveem certas restricées a publicidade dos atos administrativos, ressalvando a divulgagao de informagées cujo sigilo seja imprescindivel 4 seguranca da sociedade e do Estado e a protecdo da intimidade das pessoas. Para melhor compreensao, vejamos o teor desses incisos: XXXill - todos tém direito a receber dos orgs publicos informagées de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serao prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel & seguranga da sociedade e do Estado; 28de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 [X= a lei sO poderd restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da imidade ou o interesse social o exigirem; Gabarito: Certo EFICIENCIA O principio da eficiéncia exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeicéo e rendimento funcional, buscando- se, assim, maior produtividade e redug3o dos desperdicios de dinheiro puiblico. Também denominado de principio da qualidade dos servicos ptiblicos, o principio da eficiéncia foi inserido na nossa Constituigéo a partir da EC 19/1998, que tratou da chamada Reforma do Estado, movimento que pretendia modernizar a maquina administrativa brasileira mediante a implantagéo do modelo de administragdo gerencial em substituigfo ao modelo de administragéo burocratica, cuja énfase recaia sobre o principio da legalidade. A ideia é que, com a melhora da eficiéncia, o Estado seja capaz de gerar mais beneficios, na forma de prestagdo de servicos que correspondam as necessidades da sociedade, com os mesmos recursos disponiveis. A eficiéncia, alids, integra o conceito legal de servico ptiblico adequado (Lei 8.987/1995"). Apés obter status constitucional, 0 principio da eficiéncia passou a ser verdadeiro dever constitucional da Administragéo. Hely Lopes Meirelles esclarece que esse dever de eficiéncia corresponde ao “dever de boa administragao” da doutrina italiana que, embora tenha obtido status constitucional a partir da EC 19/1998, desde muito ja se achava consagrado entre nés. De fato, o Decreto-Lei 200/1967 “submete toda a atividade do Executivo ao controle de resultado (arts. 13 e 24, V), fortalece 0 sistema de mérito (art. 25, VII), sujeita a Administragéo indireta a superviséo ministerial quanto a eficiéncia administrativa (art. 26, III) e recomenda a demisséo ou dispensa do servidor comprovadamente ineficiente ou desidioso (art. 100)". Na Constituic&éo Federal podem-se encontrar varios exemplos de desdobramentos do principio da eficiéncia, dentre os quais: 1 Art. 60 Toda concessao ou permissio pressupse a prestacio de servigo adequado ao pleno atendimento dos usuarios, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1o Servigo adequado é o que satisfaz as condigdes de regularidade, continuidade, eficiéncia, seguranca, atualidade, goneralidade, cortesia na sua prestarao e modicidade das tarifas. 29de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 * Exigéncia de avaliagio especial de desempenho para aquisicao da estabilidade pelo servidor puiblico e a perda do cargo do servidor estavel “mediante procedimento de avaliagao periédica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa” (CF, art. 41). * Exigéncia de que os servidores puiblicos participem de cursos de aperfeigoamento para que possam ser promovidos na carreira (CF, art. 39, §2°). * Necessidade de a lei regulamentar a participacio do usudrio na administracio publica direta e indireta, regulando as reclamagées relativas @ prestagéo dos servigos plblicos em geral, asseguradas a manutencéo de servigos de atendimento ao usuério e a avaliagéo periédica, externa e interna, da qualidade dos servicos (CF, art. 37, §3°); * Possibilidade de se ampliar a autonomia gerencial, orcamentaria e financeira dos érgaos e entidades da administracao direta e indireta mediante a celebracdo de contratos de gestao, com a fixacdo de metas de desempenho (CF, art. 37, §8°); * Previséo de que lei da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios discipline a aplicacéo de recursos orgamentérios provenientes da economia com despesas correntes em cada érgao, autarquia e fundagdo, para aplicagéo no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernizacéo, reaparelhamento e racionalizagéo do servico pUblico, inclusive sob a forma de adicional ou prémio de produtividade (CF, art. 39, §79). Conforme ensina Hely Lopes Meirelles, além de ser um principio a ser ‘observado pela Administracéio, a eficiéncia do servico ptiblico também é um direito fundamental do cidaddéo, vez que a Constituicgéo Federal assegura a todos, no ambito judicial e administrativo, a “razodvel duracga4o do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitagéo” (CF, art. 5° LXXVIII). Tal dispositivo é uma reagGo contra a ‘excessiva demora no andamento dos processos, tanto judiciais quanto administrativos”®. Carvalho Filho assevera que uma ac&o eficiente pressupde o atendimento a varios requisitos, como produtividade, econo lade, qualidade, celeridade, presteza, desburocratizacao e flexibilizacéo. 29 Sobre o tema, é emblematica a deciséo adotada pelo ST] no RE 1044158 a0 reconhecer que “é dever da Administragao Publica pautar seus atos dentro dos prinefpios constitucionais notadamente pelo prinefpio da eficiéncia, que se concretiza também pelo cumprimento dos prazos legalmente determinados” c, ‘em consequéncia, considerar “legitimo o pagamento de indenizagao em razo da injustificada demora na concessao da aposentadoria”. 30de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Lucas Furtado destaca, ainda, a necessidade de planejamento dos gastos publicos. Destaque-se que o principio da eficiéncia néo alcanga apenas o modo de atuagao dos agentes ptblicos, do qual se espera melhor desempenho para lograr melhores resultados € coletividade. Mais que isso, a Administracéio devera também observd-lo em relaco ao modo de organizar, estruturar e disciplinar seus servicos administrativos internos, recorrendo a modernas tecnologias, atualizando seus métodos de trabalho, adequando seus organogramas etc. Portanto, vé-se que o principio da eficiéncia possui dois focos: um voltado para a conduta do agente publico e outro para a organizacéo interna da Administragao. Questao interessante diz respeito ao controle da observancia ao principio da eficiéncia. Por um lado, é certo que os controles internos administrativos (de cardter interno e processado pelos préprios érgaos administrativos), assim como o controle externo (a cargo do Legislativo, com o auxilio do Tribunal de Contas) podem exercer esse tipo de controle, a teor do que dispée os artigos 70 e 74 da CF. A polémica, contudo, reside na possibilidade de o controle judicial avaliar a eficiéncia das aces governamentais. Carvalho Filho entende que o controle judicial da eficiéncia sofre limitagées e s6 pode incidir em caso de comprovada ilegalidade. Sobre o tema, © autor destaca formulagéo segundo a qual o "Poder Judiciério n&o pode compelir a tomada de deciséo que entende ser de maior grau de eficiéncia’, nem invalidar atos administrativos invocando exclusivamente o principio da eficiéncia. A ideia evitar que a atuagdo dos juizes represente indevida intervencdo na esfera de competéncia constitucional atribufda aos érgdos da Administracdo. 21 Art. 70. A fiscalizagio contabil, financeira, orgamentaria, operacional e patrimonial da Unido e das entidades da administragao direta e indireta, quanto & legalidade, legitimidade, economicidade, aplicagio das subvengées e remincia de receitas, sera exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, ¢ pelo sistema de controle interno de cada Poder. Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judicidrio manterdo, de forma integrada, sistema de controle interno com finalidade de: I1-comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto a eficécia e eficiéncia, da gestio orcamentéria, financeira e patrimonial nos érgios e entidades da administracio federal, bem como da aplicacio de recursos piiblicos por entidades de direito privado; 22 Carvalho Filho (2014, p. 32-33). 31de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Ja Lucas Furtado defende que é possivel o Judicidrio apreciar atributos de eficiéncia, sob 0 argumento de que a “adoc&o de solugées eficientes, morais, impessoais é vinculante para o administrador, e nao pode se inserir em seu dmbito de discricionariedade”. Com isso, seria possivel a apreciacéo pelo Poder Judicidrio de um ato administrativo quanto a sua eficiéncia, o que ensejaria, inclusive, a sua anulagdo. Eficiéncia no se confunde com efi efetividade, Tradicionalmente, diz-se que o foco da eficiéncia € a relacio custo/beneficio, isto é, menor volume de insumos (recursos financeiros, pessoal, tempo, material etc.) para o alcance dos resultados previstos. A eficdcia, por nem com sua vez, diz respeito ao alcance da meta prevista. JA a efetividade compreende os resultados alcangados, em termos de impacto sobre a populaso alvo. Lucas Furtado preceitua que a eficiéncia é um dos aspectos da economicidade. Esta, além da eficiéncia, compreenderia também a eficacia e a efetividade. A economicidade, ento, seria género do qual a eficiéncia, a eficdcia e a efetividade seriam suas manifestacdes. Porém, o préprio autor ressalva que hé importantes segmentos de nossa doutrina que equiparam economicidade a eficiéncia. Para Lucas Furtado, o administrador pblico deve observar no sé a eficiéncia, mas também a eficdcia e a efetividade da sua atuacio, eis que 0 préprio texto constitucional estabeleceu que a Administragao Publica haverd de ser fiscalizada sob a tica da economicidade, consoante seu art. 70. © desejavel € que tais qualificagdes caminhem simultaneamente. Todavia, € possivel que condutas administrativas apresentem apenas um outro atributo e nao os demais. Por exemplo, a obra de um hospital publico construido no prazo previsto e com 6tima relag&io custo/beneficio foi eficaz (alcangou a meta) e eficiente (os recursos foram suficientes para o resultado previsto). Mas se o hospital ndo entrar em funcionamento por falta de pessoal e equipamentos especificos, a obra nao tera sido efetiva, pois o resultado social no foi alcangado (n&o houve o impacto pretendido sobre a populacdo alvo). Carvalho Filho apresenta uma definicio um pouco diferente sobre eficiéncia, eficdcia e efetividade. Para o autor, a eficiéncia diz respeito 4 conduta do agente, ou seja, ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa. Por outro lado, a eficdcia tem rela¢io com os meios e instrumentos empregados pelos 32de121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 agentes; 0 sentido aqui € tipicamente instrumental. Finalmente, a efetividade € voltada para os resultados obtidos com as aces administrativas Da mesma forma que todos os outros principios, a eficiéncia nao & um valor absoluto e, por isso, ndo pode se sobrepor aos demais, especialmente ao da legalidade. Com efeito, a busca pela eficiéncia deve ser feita com observancia aos procedimentos e pardmetros previstos na lei. Assim, dentre as opcdes de atuag&o previstas em lei, deve o administrador adotar aquela que melhor satisfaga a todos os principios da Administragdo Publica, dentre eles o da eficiéncia. Por exemplo, a pretensdo de se adiantar a entrega de uma obra publica n&o pode justificar 0 descumprimento dos preceitos e etapas previstos na Lei de Licitagdes. 41. (Cespe — TRT 5* Regio 2013) E do principio constitucional da eficiéncia que decorre o dever estatal de neutralidade, objetividade e imparcialidade do comportamento dos agentes publicos. Comentario: O item esta errado. O dever estatal de neutralidade, objetividade e imparcialidade do comportamento dos agentes piblicos decorre do principio constitucional da impessoalidade, e nao da eficiéncia. Gabarito: Errado 412. (ESAF — AFT 2006) Em face dos principios constitucionais da Administrago Publica, pode-se afirmar que: |. a exigéncia constitucional de concurso ptiblico para provimento de cargos piblicos reflete a aplicaco efetiva do principio da impessoalidade. Il. 0 principio da legalidade, segundo o qual o agente puiblico deve atuar de acordo com 0 que a lei determina, é incompativel com a discricionariedade administrativa. Ill, um ato praticado com o intuito de favorecer alguém pode ser legal do ponto de vista formal, mas, certamente, comprometido com a moralidade administrativa, sob o aspecto material IV. 0 gerenciamento de recursos publicos sem preocupacao de obter deles o melhor resultado possivel, no atendimento do interesse pUblico, afronta o principio da eficiéncia V. a nomeacao de um parente proximo para um cargo em comissao de livre nomeacdo e exoneracdo néo afronta qualquer principio da Administragao Publica, 33de 124 an _ a Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘desde que o nomeado preencha os requisitos estabelecidos em lei para 0 referido cargo. Estéo corretas’ a) as afirmativas |, Il, II, IV eV. b) apenas as afirmativas |, Ile IV. ¢) apenas as afirmativas |, III e IV. 4) apenas as afirmativas |, Ill e V. e) apenas as afirmativas ll, Ill e V. Comentarios: Vamos analisar cada alternativa 1) CERTA. Uma das facetas do principio da impessoalidade é a isonomia, ‘ou seja, conferir tratamento igual aos administrados que se encontrem na mesma situagao Juridica, sem favorecimentos ou discriminagées de qualquer espécie. Assim, a exigéncia de concurso publico pode ser considerada uma aplicagao do principio da impessoalidade, pois busca assegurar a todos as mesmas oportunidades de acesso aos cargos pilblicos. ll) ERRADA. A discricionariedade administrativa deve ser exercida nas condigées e limites estabelecidos pela lei. Ou seja, mesmo quando atua com discricionariedade, com certa margem para escolher entre uma ou outra ‘opcao, 0 administrador nao pode jamais se afastar do principio da legalidade. Essa “margem” de discricionariedade deve ser sempre garantida por lel. Ill) CERTA. Como diziam os romanos, nem tudo que é legal é moral. Um exemplo € a licitagdo em que se sagra vencedora a empresa de parente do presidente da comissao que conduziu o certame. A Lei de Licitagées nao Veda, a priori, a participagao de parentes no corpo societario das empresas. Porém, se ao analisar os atos internos da licitacdo, for verificado que o presidente da comissao, por exemplo, inabilitou todas as empresas concorrentes com a simples justificativa de que nao atenderam aos requisitos técnicos exigidos, entdo o ato pode ser questionado moraimente, ainda que 08 aspectos formais tenham sido observados. IV) CERTA. O principio da eficiéncia busca exatamente o gerenciamento de recursos piiblicos a fim de se obter deles o melhor resultado possivel, no atendimento do interesse piblico. Deixar de agir dessa forma representa, portanto, afronta ao referido principio. V) ERRADA. Conforme orientacao do STF expressa na Simula Vinculante n° 13, a nomeagao de um parente préximo para um cargo em comissao de livre nomeaco afronta, dentre outros, os principios da moralidade e da impessoalidade, nao importando se o nomeado preencha os requisitos 34de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘estabelecidos em lei para o referido cargo. Gabarito: alternativa “c” 13. (ESAF - Prefeitura RJ 2010) Em relagdo aos principios constitucionais da administragao publica, é correto afirmar que: |. 0 principio da publicidade visa a dar transparéncia aos atos da administracéo publica e contribuir para a concretizacao do principio da moralidade administrativa; Il, a exigéncia de concurso piblico para ingresso nos cargos piiblicos reflete uma aplica¢ao constitucional do principio da impessoalidade; Ill. 0 principio da impessoalidade é violado quando se utiliza na publicidade oficial de obras € de servicos publicos 0 nome ou a imagem do governante, de modo a caracterizar promo¢ao pessoal do mesmo; IV. 0 principio da moralidade administrativa no comporta juizos de valor elasticos, porque 0 conceito de ‘moral administrativa" esta definido de forma rigida na Constituigéo Federal; V. 0 nepotismo € uma das formas de ofensa ao principio da impessoalidade Esto corretas: a) apenas as afirmativas |, Il, Ill e V. b) apenas as afirmativas |, Ill, IV e V. ¢) as afirmativas |, Il, Ill, Ve V. d) apenas as afirmativas |, Ill e V. ) apenas as afirmativas |e III Comentarios: Vamos analisar cada alternativa: 1) CORRETA. Segundo Hely Lopes Meirelles, “o principio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral”. O controle propiciado pela publicidade da ago estatal refere-se tanto a aspectos de legalidade quanto de moralidade. Il) CORRETA. O concurso publico, em consonancia com o principio da impessoalidade, visa a evitar eventuais favorecimentos no acesso a cargos publicos efetivos. Ill) CORRETA. © principio da impessoalidade yeda a promocao pessoal de autoridades ou servidores publicos sobre suas realizacées administrativas. Considera-se que 0 ato é do érgao ou entidade e nao realizagéo pessoal do agente pliblico. Nesse sentido dispée o art. 37, §1° da CF: § 1° - A publicidade dos atos, programas, obras, servigos e campanhas dos érgdos 35de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 publicos deverd ter carater educativo, informativo ou de orientagao social, dela nao podendo constar nomes, simbolos ou imagens que caracterizem promocao pessoal de autoridades ou servidores publicos. IV) ERRADA. Ao contrario do que diz a assertiva, 0 conceito de “moral administrativa” nao esta definido de forma rigida na Constituicéo. Embora a doutrina entenda que 0 conceito possa ser extraido do conjunto de normas que regem as condutas dos agentes puiblicos, trate-se, na verdade, de um conceito indeterminado, que contém uma zona de incerteza na qual as condutas poderéo, ou nao, ser enquadradas como contrarias a moral administrativa. V) CERTA. © nepotismo, como forma de favorecimento a parentes e familiares, facilitando-Ihes 0 acesso a cargos pilblicos independentemente de ‘suas aptiddes, constitui sim uma ofensa ao principio da impessoalidade. Gabarito: alternativa “a” 14. (ESAF - Prefeitura RJ 2010) Em relacdo aos principios constitucionais da administracao publica, é correto afirmar que: |. viola o principio da moralidade administrativa valer-se do cargo publico para obter vantagens ou favorecimentos pessoais; Il. a publicidade dos atos administrativos € necessaria para que o cidadao possa aferir a compatibilidade deles com o principio da moralidade administrativa; Ill, a vedagdo de se utilizar na publicidade oficial de obras e de servicos publicos 0 nome ou a imagem do governante tem por finalidade dar efetividade ao principio da impessoalidade; IV. a pena de perda dos direitos politicos, em raz&o de condenacao por ato de improbidade administrativa, nao se aplica aos servidores titulares de cargo de provimento efetivo, visto que a estes a pena aplicavel € a perda da fun¢ao publica; V. fere o principio da impessoalidade atender a pedido de preferéncia para a pratica de um ato, independentemente do motivo do pedido. Esto corretas: a) as afirmativas |, Il, II, IV eV. b) apenas as afirmativas |, Il, Ill e V. ¢) apenas as afirmativas |, I, IIl e lV. 4) apenas as afirmativas I, Il ¢ Ill. e) apenas as afirmativas I, IV e V. Comentarios: Vamos analisar cada afirmativa: }) CORRETA. 0 principio da moralidade exige do administrador piiblico 36de 121 an _ it~ eee see Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘conduta ética, ou seja, atitude impecavel, ilibada, exemplar, pautada pela lealdade, boa-fé, fidelidade funcional e outros aspectos atinentes 4 moralidade. Valer-se do cargo piiblico para obter vantagens ou favorecimentos pessoais certamente nao se enquadra nesse conceito. ll) CORRETA. Segundo Hely Lopes Meirelles, “o principio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral”. © controle propiciado pela publicidade da ago estatal refere-se tanto a aspectos de legalidade quanto de moralidade. Ill) CORRETA. Um dos aspectos em que se considera 0 principio da impessoalidade consiste na vedacéo a promogao pessoal dos agentes publicos. Por isso é que a Constitui¢éo Federal (art. 37, §1°) determina que a “publicidade dos atos, programas, obras, servicos e campanhas dos érgaos publicos devera ter carter educativo, informativo ou de orientacao social, dela néo podendo constar nomes, simbolos ou imagens que caracterizem promogao pessoal de autoridades ou servidores publicos”. Lembrando que, para o STF, a proibigao também abrange qualquer mengao ou alusao ao partido politico dos agentes publicos. IV) ERRADA. Os servidores de cargo de provimento efetivo, se condenados por ato de Improbidade administrativa, poderao ser penalizados tanto com a suspensao dos direitos politicos como com a perda da funcao publica. A Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992, art. 12), diz que tais sangdes poderao ser aplicadas isolada ou cumulativamente ao responsavel pelo ato de improbidade. Repare, ainda, que a assertiva fala em perda dos direitos politicos, mas o correto é suspensao dos direitos politicos. V) ERRADA. 0 principio da impessoalidade, como os demais, nao é absoluto; portanto, admite excecdes. Embora, em regra, 0 atendimento de pedido para dar preferéncia a pratica de um ato ofenda o referido principio, ha situagédes em que é possivel haver tratamento diferenciado. Por exemplo, a Lei 9.784/1999 estabelece que terao prioridade na tramitacdo, em qualquer 6rgao ou instancia, os procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, assim como pessoa portadora de deficiéncia, fisica ou mental. Portanto, dependendo do motivo, pode haver preferéncia sem ferir o principio da impessoalidade; ao contrario, a assertiva, ao dizer “independentemente do motivo”, leva ao entendimento de que nao haveria excegées, dai o erro. Gabarito: alternativa “d” 15. (ESAF — Sefaz/SP 2009) Quanto aos principios direcionados a Administracéo Publica, assinale a op¢do correta 37 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘a) O principio da legalidade significa que existe autonomia de vontade nas relacdes travadas pela Administragao Publica, ou seja, € permitido fazer tudo aquilo que a lei no proibe b) O ato administrative em consonancia com a lei, mas que ofende os bons costumes, as regras da boa administragéo e os principios de justica, viola o principio da moralidade. ¢) E decorréncia do principio da publicidade a proibi¢éo de que conste nome, simbolos ou imagens que caracterizem promo¢ao pessoal de autoridades ou servidores publicos em divulgagao de atos, programas ou campanhas de érgaos publicos. d) A Administragéo Publica pode, por ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigagdes ou impor vedacées aos administrados ) O modo de atuagdo do agente publico, em que se espera melhor desempenho de suas fungdes, visando alcangar os melhores resultados e com o menor custo possivel, decorre diretamente do principio da razoabilidade. Comentarios: Vamos analisar cada alternativa: (a) ERRADA. O principio da legalidade administrativa prega exatamente o oposto, ou seja, nao existe autonomia de vontade nas relacées travadas pela Administracao Publica, e nao é permitido fazer tudo aquilo que a lei nao proibe, ao contrario, deve ser feito apenas o que a lei permite. Na verdade, a assertiva aborda o principio da legalidade sob a ética dos particulares, cuja légica nao se aplica para a Administragao Publica. (b) CERTA. 0 principio da moralidade exige do administrador mais do que o simples cumprimento das leis; além disso, deve ele saber discernir 0 Justo do injusto, 0 honesto do desonesto, ou seja, deve valorar sua conduta segundo os preceitos éticos esperados da Administracao Publica. Assim, nem sempre agir conforme a lei é moral. Por exemplo, haveria imoralidade no ato de remover de oficio um servidor por causa de motivos estritamente pessoais, ainda que 0 ato preencha todos os requisitos legais. (c) ERRADA. A proibigo de propagandas pessoais associadas a realizagdes da Administragdo Publica é decorréncia do principio da impessoalidade, e nao da publicidade. (d) ERRADA. Os atos administrativos sao, de regra, secundarios, portanto, nao sao veiculos habeis para criar direitos e obrigagées. As leis é que podem impor vedagées aos administrados, afinal estes s6 sdo obrigados a fazer o que a lei determinar (CF, art. 5°, Il). Mesmo as restricdes impostas pela Administracéo no exercicio do seu poder de policia, como quando interdita estabelecimentos ou estabelece regras de ocupacao urbana, devem 38de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘observar 0s limites e condi¢des estabelecidos em lei. (e) ERRADA. A assertiva trata do principio da eficiéncia, e nao do principio da razoabilidade, o qual se destina a aferir a compatibilidade entre ‘0s meios empregados e os fins visados na pratica de um ato administrativo, de modo a evitar restrigées aos administrados que sejam inadequadas, desnecessérias, arbitrarias ou abusivas. Gabarito: alternativa “b” 16. (Cespe — Defensoria Publica/TO 2013) Em relagao aos principios do direito administrativo, assinale a op¢ao correta. a) A personalizacéo do direito administrativo € consequéncia da aplicacéo do principio democratico e dos direitos fundamentais em todas as atividades da administracao publica. b) Nao se qualifica a viola¢éo aos principios da administracéo publica como modalidade auténoma de ato que enseja improbidade administrativa. ¢) O principio da impessoalidade limita-se ao dever de isonomia da administracao publica, 4) A disponibilizagao de informagées de interesse coletivo pela administracao publica constitui obrigagao constitucional a ser observada até mesmo nos casos em que as informagSes envolvam a intimidade das pessoas. e) O principio da eficiéncia administrativa funda-se na subordinacao da atividade administrativa a racionalidade econémica. Comentarios: (a) CERTA. Segundo ensina Marcal Justen Filho, 0 fenémeno da personificacao do direito administrative decorre do fato de a Constituigao de 1988 ter consagrado o “ser humano, a dignidade humana e os direitos fundamentais” como valores essenciais de nossa sociedade. Assim, a Administragéo Publica deve se guiar pela realizagdo desses valores. Conforme assevera o autor, 0 “nticleo do direito administrativo nao € o poder (e suas conveniéncias), mas a realizagao dos direitos fundamentais”. (b) ERRADA. A Lei 8.429/1992 prevé trés tipos de atos de improbidade administrativa: os que importam enriquecimento ilicito, os que causam prejuizo ao erario e os que atentam contra os principios da Administracao Publica. (c) ERRADA. O dever de isonomia da Administracao Publica é apenas um dos aspectos do principio da impessoalidade. O referido postulado também contempla o dever de conformidade aos interesses ptblicos (principio da finalidade) e a vedacao a promogao pessoal dos agentes piblicos. 39de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 (@) ERRADA. 0 principio da publicidade também pode ser restringido em determinadas situagées, notadamente para proteger a seguranca da sociedade e do Estado, bem como a intimidade e o interesse social. (e) ERRADA. © principio da eficiéncia nao se funda na racionalidade econémica, sendo este apenas um dos seus aspectos. Na verdade, a eficiéncia exige que se pondere a relacao custo/beneficio. Sendo assim, além da racionalidade econémica, uma acio eficiente pressupée o atendimento a varios requisitos, como _produtividade, qualidade, _celeridade, desburocratizagao e necessidade de planejamento dos gastos publicos. Gabarito: alternativa “a” 47. (Cespe — Previc 2011) © cumprimento dos principios administrativos - especialmente 0 da finalidade, 0 da moralidade, o do interesse ptiblico e o da legalidade constitui um dever do administrador e apresenta se como um direito subjetivo de cada cidadao Comentario: O item esta perfeito. Muitos dos direitos fundamentais dos cidadéos so concretizados através das atividades exercidas pela Administragao Publica. E ela que executa os servigos ptblicos, que garante a seguranga, a mobilidade urbana, a satide, a educa¢ao, enfim, todo 0 conjunto de realizagées que representam a satisfagao do interesse ptblico. Assim, é correto afirmar que o cumprimento dos principios constitucionais, mais que um dever do administrador, constitui um direito subjetivo de cada cidadao. Gabarito: Certo 18. (Funiversa - Seplag/DF 2009) Assinale a alternativa correta no que tange aos principios que informam o direito administrativo. a) Um dos aspectos da moralidade administrativa € a probidade administrativa. A Constituicao Federal de 1988 nao trata especificamente da probidade administrativa. b) Os precatérios constituem exemplo de aplicagao do principio da impessoalidade, © que no ocorre com 0 ato legislative perfeito. ) Os principios constitucionais da legalidade e da moralidade vinculam-se originariamente a nogdo de administracdo patrimonialista. ) Um ato praticado com o intuito de favorecer terceiros pode ser legal do ponto de vista formal, mas certamente esta comprometido com a moralidade administrativa, sob 0 aspecto material e) A administracao prescinde de justificar seus atos. Comentarios: Vamos analisar cada uma das alternativas: 40 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 (@) ERRADA. De fato, a probidade administrativa € um dos aspectos da moralidade administrativa. Maria Sylvia Di Pietro afirma que Nao € facil estabelecer distingéo entre moralidade administrativa © probidade administrativa. A rigor, so expressdes que significam a mesma coisa, tendo em vista que ambas se relacionam com a ideia de honestidade na Administragao Publica. Quando se exige probidade ou moralidade administrativa, isso significa que nao basta a legalidade formal, restrita, da atua¢ao administrativa, com observancia da lei; é preciso também a observancia de principios éticos, de lealdade, de boa-fé, de rearas que assegurem a boa administracdo e a disciplina intema da Administrac&o Publica. Nao obstante, 0 quesito erra ao afirmar que a Constitui¢do Federal de 1988 nao trata especificamente da probidade administrativa. Ela trata sim, e em varios dispositivos. Vejamos: Art. 14(...) § 9° Lei complementar estabelecerd outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessacéo, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercicio de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleig6es contra a influéncia do poder econémico ou 0 abuso do exercicio de func&o, cargo ou emprego na administrac&o direta ou indireta. Art. 37 (...) § 4° Os atos de improbidade administrativa importaréo a suspenséo dos direitos politicos, a perda da funcdo publica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento a0 erario, na forma e gradacao previstas em lei, sem prejuizo da aco penal cabivel. Art. 85. Sdo crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Reptblica que atentem contra a Constitui¢éio Federal e, especialmente, contra: (2 V - a probidade na administracao; (b) ERRADA. Tanto os precatérios como 0 ato legislative perfeito constituem exemplo de aplicacéo do principio da impessoalidade. Os precatérios porque, nos termos do art. 100 da CF, devem obedecer a ordem cronolégica de apresentacio, proibida a designagao de casos ou de pessoas nas dotagdes orcamentarias. J4 0 ato legislativo perfeito atende a impessoalidade porque representa a lei dotada de generalidade e abstragao que nao cria distingdes benéficas ou detrimentosas a determinado grupo, alcangando a todos, dentro de uma mesma situacao juridica, de forma equanime, com isonomia. (c) ERRADA. A Administracao Publica evoluiu pelas fases patrimonialista, burocratica e gerencial. A administracao patrimonialista foi marcada pelo nepotismo e corrupcdo, passando longe, portanto, dos principios da legalidade e da moralidade. Ja a fase burocratica caracterizou-se 41.de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 pela criagao de mecanismos para combater as mazelas do periodo anterior, dotando a Administragao de maior profissionalismo e impondo o acesso aos cargos piiblicos por mérito. Percebe-se, entdo, que legalidade e moralidade so principios atrelados a fase burocratica. A reforma gerencial, por fim, veio para aprimorar os pontos fracos da burocracia, especialmente no quesito eficiéncia, mas sem apagar seus tracos positives, como a observancia aos principios da legalidade e da moralidade. (a) CERTA. Como diziam os romanos, nem tudo que é legal é moral. Por exemplo, nao seria moral se um Auditor da Secretaria de Fazenda do DF aceitasse propina para acatar o recurso administrativo apresentado por determinada empresa e, com isso, deixar de impor a sangao devida. Ainda que as razées apresentadas pela empresa no recurso sejam suficientes para afastar a penalidade, o simples fato de ter oferecido e o servidor aceitado a propina macula a moralidade do ato, ainda que nao exista ilegalidade sob 0 aspecto formal. (e) ERRADA. Pelo principio da motivagao, os atos da Administracao devem ser motivados, ou seja, justificados com a apresentacao dos pressupostos de fato e de direito que levaram a pratica do ato. Gabarito: alternativa “d” eee Finalizamos, assim, 0 estudo dos principios abordados de forma expressa na Constituic&o Federal. Como um resumo esquematizado, temos: PRINCIPIOS DO ART. 37 DA CF: LIMPE Legalidade Administracao s6 pode agir segundo a lei lsonomia; conformidade aos interesses Meal corse el Tel pliblicos ¢ vedaco & promoso pessoal Moralidade AtuacSo ética dos agentes publicos Publicidade Transparéncia e divulgacao oficial Maior produtividade e redug&o dos desperdicios de dinheiro puiblico 42 de 124 a i ml Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 PRINCiPIOS IMPLICITOS OU RECONHECIDOS Como ja adiantamos, nem todos os principios a que a Administraga0 Publica deve obediéncia encontram-se explicitos na Constituigéio Federal. Muitos deles estéo expostos apenas nas normas infraconstitucionais, enquanto outros nao esto previstos formalmente em norma alguma, mas so reconhecidos pela doutrina e pela jurisprudéncia por serem decorréncia légica dos ditames da Carta Magna, possuindo, assim, a mesma relevancia que os principios expressos. Vejamos, ento, alguns dos mais importantes principios gerais implicitos da Administrago Publica. SUPREMACIA DO INTERESSE PUBLICO Ja tratamos desse principio na aula anterior, mas vamos avancar um pouco. Como vimos, 0 principio da supremacia do interesse publico, também chamado de principio da finalidade publica, é caracteristico do regime de direito pblico, sendo um dos dois pilares do regime juridico- administrativo. Por supremacia do interesse pliblico entende-se que, havendo um conflito entre o interesse publico e 0 privado, ha de prevalecer o interesse publico, tutelado pelo Estado. A légica dessa supremacia é que as atividades administrativas sdo desenvolvidas pelo Estado para beneficio da coletividade. Assim, uma vez que 0 individuo faz parte da sociedade, seus interesses ndo podem, em regra, se equiparar aos direitos do todo, aos direitos sociais. © principio da supremacia do interesse ptiblico fundamenta todas as prerrogativas especiais de que dispde a Administragdo como instrumentos para a consecugdo dos fins que a Constituigao e as leis Ihe impéem. Conforme ensina Maria Sylvia di Pietro, se ao usar de tais prerrogativas, a autoridade administrativa objetiva prejudicar um inimigo politico, beneficiar um amigo, conseguir vantagens pessoais para si ou para terceiros, estard fazendo prevalecer o interesse individual sobre o interesse pUblico e, em consequéncia, estaré se desviando da finalidade publica prevista na lei. Dai o vicio do desvio de poder ou desvio de finalidade, que torna 0 ato ilegal. 43.de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Vemos a aplicagéo do principio da supremacia do interesse publico, por exemplo, na desapropriag&o, em que o interesse publico suplanta o do proprietario; no poder de policia do Estado, por forca do qual de estabelecem algumas restrigées as atividades individuais; na existéncia das cldusulas exorbitantes nos contratos administrativos, que possibilitam & Administrag&o modificar ou rescindir unilateralmente o contrato. Lembrando que os direitos e garantias individuais devem ser sempre respeitados, dai resultando que o principio da supremacia do interesse pUblico néo € absoluto. Com efeito, a atuag’o do Estado esté sujeita a limites, como a necessidade de observancia do devido processo legal, do contraditério e ampla defesa, da proporcionalidade, dentre outros postulados. Assim, por exemplo, a desapropriagio deve ser precedida de indenizag&io justa e a restrigio a direitos deve ser proporcional ao fim desejado pelo Estado. Aspecto importante do principio da supremacia do interesse publico é que ele nao esta diretamente presente em toda e qualquer atuagao da Administragéo Publica, mas apenas naquelas relagées juridicas caracterizadas pela verticalidade, em que a Administracéo se impée coercitivamente perante os administrados, criando obrigagdes de forma unilateral ou restringindo 0 exercicio de atividades privadas. Quando, entretanto, a Administragao atua internamente, exercendo suas atividades-meio, nao ha incidéncia direta do principio da supremacia do interesse publico, simplesmente porque ndo ha obrigacdes ou restrigées que necessitem ser impostas aos administrados. De um modo geral, o principio da supremacia do interesse publico também nao se manifesta quando a Administragéo atua como agente econémico, porque, nesses casos, a atuacéo da administracio Publica é regida predominantemente pelo direito privado. Ressalte-se, contudo, que ao menos indiretamente, o principio da supremacia do interesse publico esta presente em toda atuacdo estatal, visto que a Administragéo sempre se sujeita a determinados aspectos do direito ptiblico, a exemplo da presungao de legitimidade, que impée art. 173.(.) § 12 A loi estabolocerd o estatuto juridico da empresa piiblica, da sociodade de economia mista e de suas subsididrias que explorem atividade econémica de produc ou comercializacdo de bens ou de prestacio de servicos, dispondo sobre: IL-- a sujeigdo ao regime juridico préprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos ¢ obrigagdes civis, comerciais, trabalhistas o tributdrios; 44de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 aos particulares o énus de provar eventuais vicios que entendam existir no ato administrativo. Maria Sylvia Di Pietro ensina que o principio da supremacia do interesse publico, além de vincular as atividades da Administragao, também inspira o legislador no momento da elaboracéo das normas de direito ptiblico, as quais, embora protejam reflexamente o interesse individual (como as normas de seguranga e satide publica), tém o objetivo primordial de atender ao interesse ptiblico, ao bem-estar coletivo. Principico da Supremacia do Interesse Publico Basilar do regime-juridico administrativo Havendo conflito entre o interesse publico e o privado, prevalece o interesse publico INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PUBLICO Como vimos na aula anterior, o principio da indisponi lade do interesse ptblico é 0 outro pilar do regime juridico-administrativo, do qual derivam todas as restrigées especiais impostas a atividade administrativa. Tal principio se baseia no fato de a Administracéo nao ser “dona” dos bens e interesses ptiblicos, cabendo-Ihe t&o somente geri-los e conservé- los em prol do verdadeiro titular, o povo. Por nao ser a “dona”, o interesse pUblico é indisponivel pela Administragéo, ou seja, a Administrago nao pode fazer o que quiser com ele. Ao contrario, os agentes ptiblicos somente podem atuar quando houver lei que autorize ou determine a sua atuac&o, e nos limites estipulados por essa lei, a qual traduz a “vontade geral”. Por essa razéo é que geralmente se associa o principio da indisponibilidade do interesse ptiblico ao principio da legalidade, o qual, como vimos, estabelece que toda a atuag3o da Administragdo deve atender ao estabelecido na lei, nico instrumento habil a determinar o que seja de interesse puiblico. 45 de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Outra implicacéio do principio indisponibilidade do interesse publico é que os agentes da Administracdéo néo podem renunciar ou deixar de exercitar os poderes e prerrogativas a eles atribuidos pela lei para a promogao do bem comum. Maria Sylvia Di Pietro esclarece que, por nao ser possivel & Administrag&o dispor dos interesses piblicos, “os poderes que Ihe séo atribuidos tém o cardter de poder-dever; so poderes que ela nfo pode deixar de exercer, sob pena de responder pela omiss&o. Assim, a autoridade ndo pode renunciar ao exercicio das competéncias que Ihe sdo outorgadas por lei; no pode deixar de punir quando constate a pratica de ilicito administrative; n&o pode deixar de exercer o poder de policia para coibir 0 exercicio dos direitos individuais em conflito com o bem-estar coletivo; n&o pode deixar de exercer os poderes decorrentes da hierarquia; néo pode fazer liberalidade com o dinheiro publico. Cada vez que ela se omite no exercicio de seus poderes, € 0 interesse publico que esté sendo prejudicado”. Perceba que a lei, ao atribuir determinadas prerrogativas aos agentes publicos, nao o fez para a mera satisfag&o pessoal desses agentes, e sim porque entendeu que esses poderes seriam necessdrios para a Administrag&o agir em prol do interesse ptiblico. Renunciar a essas prerrogativas seria, portanto, atitude prejudicial ao alcance do bem comum. Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino asseveram que o principio da indisponibilidade do interesse ptiblico est4 diretamente presente em toda e qualquer atuac&o da Administrac3o Publica, ao contrario do que ocorre com o principio da supremacia do interesse publico, que, de forma direta, fundamenta essencialmente os atos de império do Poder Publico, nos quais ele se coloca em posic&o vertical em relac&o aos administrados. Por nfo ser um conceito exato, em geral se classifica “interesse publico”. como um conceito _juridico indeterminado. Nao obstante, um importante tema destacado na doutrina se refere a distinglo entre interesses publicos primarios e interesses publicos secundérios. Vejamos: * Interesses piiblicos primérios: so os interesses diretos do povo, os interesses gerais imediatos. * Interesses publicos secundGrios: (i) interesses préprios do Estado, na qualidade 46 de 121 an _ — Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 de pessoa juridica, de carter meramente patrimonial (aumentar receitas ou diminuir gastos); e (li) os atos internos de gestdo administrativa © interesse publico secundério sé é legitimo quando néo é contrdrio ao interesse publico primério. Celso Anténio Bandeira de Mello cita alguns exemplos de interesses secundarios contrérios ao interesse publico primério, portanto, ilegitimos. Seria o caso do interesse que o Estado poderia ter de elevar ao maximo as aliquotas dos impostos para obter mais receita, ou de pagar remuneracGes infimas a seus servidores, ou de pagar indenizagées irrisérias nas desapropriacées. Repare, nesses casos, que o interesse satisfeito é to somente © interesse secundério de obter vantagens patrimoniais para o Estado, sem levar em considerago os interesses publicos primarios. Portanto, sdo interesses secundGrios e ilegitimos. Nem mesmo podem ser considerados interesses publicos, pois ndo visam o bem-estar da coletividade. Assim, € correto afirmar que © interesse publico primario nao coincide, do Estado destinado a atender suas necessariamente, com o interesse secund: conveniéncias internas. Situag3o diferente ocorre, por exemplo, quando a Administragdo escolhe a proposta de menor prego ao realizar licitag3o para adquirir bens que tenham a finalidade de, direta ou indiretamente, atender ao interesse publico primario. Nesse caso, esté havendo coincidéncia entre o interesse pubblico primario e 0 publico secun preg eresse io. Portanto, o interesse secundario do Estado de obter o menor legitimo e também pode ser considerado um interesse piiblico. Outro exemplo sao as operagées realizadas pelas sociedades de economia mista exploradoras de atividade econdmica nas quais o objetivo imediato é a obtencao de lucro para os seus acionistas (0 que inclui o Estado). Nesse caso, a operacao pode ser considerada legitima, pois, ao mesmo tempo em que estd atendendo a um interesse puiblico secundério, aumentando o patriménio do Estado, também esté possibilitando, indiretamente, a persecugdo de interesses publicos primérios, mediante a disponibilizacdo de mais recursos para que a Administracdo execute servigos de interesse geral. E Idgico que, para ser considerada legitima, a dita ‘operaao nao pode contrariar algum interesse publico primério. Por exemplo, seria inadmissivel uma sociedade estatal, sob a justificativa de obter lucro para o Estado, realizar operagdes com a utilizagao de mao-de-obra escrava. 47 de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Dessa forma, também é correto afirmar que $6 é permitido ao Estado perseguir interesses ptblicos secundérios quando estes coincidirem, direta ou indiretamente, com os interesses puiblicos primérios. CeCe Cae nner eeet sa) Basilar do regime-juridico administrativo Administragao nao é “dona” dos bens e interesses ptblicos, cabendo-lhe tao somente geri-los e conserva-los Administragao nao pode renunciar ou deixar de exercitar os poderes e prerrogativas PRESUNGAO DE LEGITIMIDADE OU DE VERACIDADE Esse principio, segundo a professora Di Pietro, abrange dois aspectos: + Presuncio de verdade: diz respeito a certeza dos fatos; presume-se que 0 atos sao verdadeiros. * Presunco da legalidade: presume-se, até prova em contrério, que todos os atos da Administracéo Publica sao praticados com observancia das normas legais pertinentes. Em decorréncia da presungdo de legitimidade ou de veracidade, os atos administrativos, ainda que eivados de vicios, produzem efeitos imediatos e devem ser cumpridos até que sejam oficialmente invalidados, seja pela propria Administragao ou pelo Poder Judicidrio. Perceba que a presuncéio de legitimidade constitui apenas uma presuncéo, de modo que ela admite provas em contrario (trata-se, ‘ento, de uma presunc&o relativa ou juris tantum). O efeito de tal 48 de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 presuncdo € o de inverter o énus da prova, cabendo ao administrado demonstrar a ilegalidade que entenda macular o ato. Uma aplicac&o do referido principio pode ser encontrada no art. 19, inciso II, da Constituigéo Federal, 0 qual veda & Unido, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municipios recusar fé aos documentos piblicos. MOTIVAGAO © principio da motivacéo impée a Administragéo o dever de justificar seus atos, sejam eles vinculados ou discricionarios ** , explicitando as razdes que levaram a decis&o, os fins buscados por meio daquela solug&o administrativa e a fundamentagao legal adotada. Tanto os atos ad trativos vinculados como os_ discriciondrios devem_ ser motivados. Diz-se que, pela motivacao, o administrador ptiblico justifica sua ag&o indicando os pressupostos de fato (fatos que ensejam o ato) e os pressupostos de direito (preceitos juridicos que autorizam sua préatica). A motivacio permite o controle da legalidade e da moralidade dos atos administrativos. Por exemplo, o art. 24 da Lei 8.666/1993 apresenta uma lista de situagdes nas quais a licitagéo é dispensavel. Assim, caso o administrador decida realizar uma contratacao por dispensa de licitag&o, deveré motivar seu ato, indicando em qual das hipsteses previstas na lei a contratagdo se enquadra. Com essa motivacao, os 6rgdos de controle terdo condigdes de dizer se a decisdo do gestor foi tomada em conformidade com a lei ou se foi motivada por outras razées menos nobres. A motivagao também assegura o exercicio da ampla defesa e do contraditério. Com efeito, o administrado teré melhores condicdes de se justificar caso conhega os fundamentos da decisdo que tenha afetado seu direito. Conforme esclarece Maria Sylvia Di Pietro, a motivacdo, em regra, nao exige formas especificas, podendo ser ou néo concomitante com o ato, além de ser feita, muitas vezes por 6rgéo diverso daquele que proferiu a deciséo. 2 Ver MS.9.944/DF. 49 de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Por exemplo, o STF reconhece a validade da chamada motivagao aliunde, prevista no art. 50, §1° da Lei 9.784/1999, pelo qual a motivag3o pode consistir em declarag3o de concordéncia com fundamentos de anteriores pareceres, informagées, decisées ou propostas que, nesse caso, serao partes integrantes do ato?5. E que muitas vezes a autoridade administrativa, a titulo de motivacdo, apenas faz menc&o aos fundamentos apresentados em pareces ou instrucées precedentes, sem repeti-los no documento que formaliza seu ato. Nos termos do art. 50 da Lei 9.784/1999, os atos administrativos deverao ser sempre motivados, com indicagao dos fatos e dos fundamentos juridicos, quando: 1-neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; I imponham ou agravem deveres, encargos ou sangées; Ill -decidam processos administrativos de concurso ou selegio publica; IV- dispensem ou declarem a inexigibilidade de proceso licitatério; V - decidam recursos administrativos; VI- decorram de reexame de oficio; VII - deixem de aplicar jurisprudéncia firmada sobre a questo ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatérios oficiais; VIII - importem anulagdo, revogagSo, suspensio ou convalidagdo de ato administrativo. Como se vé no quadro acima, em regra a motivacéio expressa, com indicago dos fatos e dos fundamentos juridicos, é necesséria na pratica de atos que afetam o interesse ou o ito ii jlual do administrado. Contudo, embora a motivagao prévia ou concomitante seja a regra, ha certos atos cuja pratica dispensa a motivacao. Cite-se, por exemplo, a possibilidade de exoneracio ad nutum (a qualquer tempo) de um servidor ocupante de cargo em comisséo (de chefia ou assessoramento), como um Ministro de Estado. Nesse caso, a Administragéo é eximida de apresentar motivacéo expressa, pois a Constituicgo afirma que esses cargos sdo de livre nomeacio e exoneracao. 25 Ver MS25.518, 50 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Outro exemplo de situacéo que dispensa a motivacio é a homologagao de processo licitatério, uma vez que a lei nao exige expressa justificag&o para a pratica desse ato. Detalhe interessante € que a motivagéo, conquanto nao seja mencionada no artigo 37 da CF, nao é um principio absolutamente implicito no texto constitucional. E que a Constituicéo Federal exige explicitamente que as decisées administrativas dos tribunais e do Ministério Publico sejam motivadas (conforme art. 93, inciso X da CF, aplicével ao MP por forca do art. 129, §4° da CF). 19. (Cespe - Ministério da Justi¢a 2013) Motivacao é um principio que exige da administra¢ao publica indicagao dos fundamentos de fato e de direito de suas decisées. Comentario: A questao esta correta. O principio da motivacao exige que a Administra¢ao justifique seus atos, apresentado as razées que a levaram a tomar determinada decisdo. Assim, a motivagao possibilita o controle da legalidade e da moralidade dos atos administrativos. O principio esta positivado na Lei 9.784/1999 da seguinte forma: Art. 2° Art. 20 A Administragao Publica obedeceré, dentre outros, aos principios da legalidade, finalidade, motivacdo, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditério, seguranga juridica, interesse publico e eficiéncia. Paragrafo Unico. Nos processos administrativos serao observados, entre outros, os critérios de: Vil - indicagao dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisao; Gabarito: Certo 2X as decisdes administrativas dos tribunais serio motivadas e em sessio piiblica, senda as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de sous membros. Side 121 an _ — Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE Os principios da razoabilidade e da proporcionalidade muitas vezes sdo empregados como sinénimos. Entretanto, parte da doutrina costuma destacar algumas peculiaridades que os distinguiria. Vejamos. 0 principio da razoabilidade se destina a aferir a compatibilidade entre os meios empregados e os fins visados na pratica de um ato administrativo, de modo a evitar restrigées aos administrados que sejam inadequadas, desnecessérias, arbitrérias ou abusivas. Assim, n&o basta que o ato administrative tenha uma finalidade legitima. E necessario que os meios empregados pela Administracéo sejam adequados a consecugo do fim almejado e, ainda, que sua utilizagdo seja realmente necessdria, especialmente quando se tratar de medidas restritivas ou punitivas. Por exemplo, como vimos em tépico anterior, seria razodvel a lei exigir limites minimos de altura para ingresso no cargo de agente de policia; porém, a mesma exigéncia no seria razodvel para o cargo de escrivao, dadas as atribuigdes da funcdo. Jé © principio da proporcionalidade se destina a conter o excesso de poder, isto é, os atos de agentes plblicos que ultrapassem os limites adequados ao fim a ser atingido. Por exemplo, as sangées devem ser proporcionais as faltas cometidas. Assim, uma infracdo leve deve receber uma pena branda enquanto uma falta grave deve ser sancionada com uma punigao severa. Viram como os conceitos se confundem? Nao é tao fécil assim distingui-los. Por isso, alguns autores, como Maria Sylvia Di Pietro e Lucas Furtado, defendem que a proporcionalidade cons‘ um dos aspectos da razoabilidade, ou seja, a razoabilidade seria um principio mais amplo, sendo a proporcionalidade uma de suas vertentes. Isso porque o principio da razoabilidade, entre outras coisas, exige proporcionalidade entre os meios que se utiliza a Administragdo e os fins que ela tem que alcangar. Frise-se que essa proporcionalidade exigida da Administragéo deve ser medida no pelos critérios pessoais do agente piblico, mas segundo padrées comuns da sociedade (0 padrao do “homem médio”). Por exemplo, na jurisprudéncia do STJ, colhe-se precedente em que se reconheceu a falta de razoabilidade da excluséo de candidato em concurso pubblico por n&o atender @ convocacdo para a 28 fase efetuada 52de121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 em Didrio Oficial. No caso, a convocagio deu-se depois de oito anos??! Logo, pelos padrées médios da sociedade, néo seria razoavel exigir do candidato que, durante tal prazo, acompanhasse diariamente o Diério Oficial na esperanga de sua convocacao. Ainda que o administrador que publicou a convocacéo, pessoalmente, entendesse diferente, nao seria esse 0 comportamento esperado de um “homem médio”®. Em um julgado recente, o Supremo Tribunal Federal, com fundamento, entre outros, no principio da razoabilidade, entendeu que © art. 170 da Lei 8.112/1990 ("Extinta a punibilidade pela prescricaéo, a autoridade julgadora determinaré o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor”) é inconstitucional??. No caso, o Pleno entendeu que, extinta a possibilidade de punicio pelo decurso do prazo de prescricéo, néo seria razodvel efetuar 0 registro dos fatos apurados no assentamento funcional do servidor, pois 0 mero registro seria uma forma de punigéio, com possiveis efeitos negativos na sua carreira. Conforme ensina a doutrina, para que a conduta estatal observe o principio da proporcionalidade, deve apresentar trés fundamentos: * Adequacie: o meio empregado na atuacao deve ser compativel com o fim pretendido; * Exigibilidade ou necessidade: a conduta deve ser necessaria, ndo havendo outro meio que cause menos prejuizo aos individuos para alcancar o fim publico; + Proporcionalidade em sentido estrito: as vantagens a serem conquistadas devem superar as desvantagens, ou seja, deve haver mais “prés” que “contras”, A Lei 9.784/1999, em seu artigo 2°, paragrafo Unico, apresenta diversas aplicagdes dos principios da razoabilidade e da proporcionalidade, por exemplo, ao determinar que os processos administrativos observem: o critério de “adequacéo entre meios e fins”, vedando a “imposicao de obrigagdes, restricdes e sancdes em medida superior aquelas estritamente necessdrias ao atendimento do interesse ptiblico” (inciso VI); as “formalidades essenciais a garantia 27 RMS 24716 25Em outro precedente, 0 STF, vislumbrando violagio aos prineipios da proporcionalidade e da razoabilidade, suspendeu cautelarmente lei estadual que determinava a pesagem de botijées de gis & vista do consumidor, com pagamento imediato de diferenga a menor. Nesse caso, o Supremo entendeu que, do onto de vista de um “homem médio”, nao seria razodvel impor tal obrigagao a ser cumprida toda vez que um consumidor fosse comprar um botijio de gis. 2 MS 23.262/DF (BInfo 743) 53 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 dos direitos dos administrados” (inciso VIII); adogio de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, seguranca e respeito aos direitos dos administrados (inciso IX). Os principios da razoabilidade e da proporcionalidade encontram aplicacdo, sobretudo, no controle de atos discricionarios, quais sejam, aqueles que admitem certa margem de escolha, permitindo ao administrador avaliar a conveniéncia e oportunidade para a pratica do ato. Com efeito, em regra, o Poder Judicidrio e os demais érgaos de controle 20 podem interferir no critério discricionario de escolha do administrador publico, especialmente quando este tiver a sua disposigao mais de uma forma Ifcita de atuar, oportunidade em que estard ‘exercendo legitimamente seu poder de administrag3o publica. Porém, se o ato administrativo implicar limitagées inadequadas ou desproporcionais, extrapolando os limites da lei segundo os padrées de um homem médio, devera ser anulado. Vé-se, ent&o, que o controle de razoabilidade e proporcionalidade consiste, na verdade, em um controle de legalidade ou legitimidade, e no em controle de mérito. Sendo o ato ofensivo aos principios da razoabilidade e da proporcionalidade, sera declarada sua nulidade. Assim, 0 ato seré anulado, e po revogado. Principio da Proporcionalidade Principio da Razoabilidade eC na ease Coreen eile to Oe ees uke Ley De ee ee Pras CeCe oa Eee en ecu me ee ee eee TCE Por fim, vale destacar que o principio da razoabilidade e da proporcionalidade nao incide apenas sobre a funcgdo administrativa, mas, ao contrério, incide sobre qualquer fung&o publica, inclusive a fungdo legislativa. De fato, o STF, por mais de uma vez, jé declarou a inconstitucionalidade de lei por violag&o ao principio. Por exemplo, na ADI 54de121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 4.467/DF, declarou inconstitucional dispositive de lei federal por exigir a apresentac&o, cumulativamente, do documento de identificacéo com foto e do titulo de eleitor no momento da votaao*®. 20. (ESAF - CVM 2010) 0 principio da Administracao Publica que se fundamenta na ideia de que as restrig6es a liberdade ou propriedade privadas somente sdo legitimas quando forem necessarias e indispensaveis ao atendimento do interesse pUiblico denomina-se: a) legalidade. b) publicidade. ) proporcionalidade 4) moralidade. e) eficiéncia Comentarios: Trata-se do principio da proporcionalidade, positivado na Lei 9.784/1999, a qual determina, nos processos administrativos, que se observe o critério de “adequacao entre meios e fins, vedada a imposigao de obrigagées, restrigées e sangées em medida superior aquelas estritamente necessarias ao atendimento do interesse publico” (art. 2°, paragrafo tnico, inciso VI). Gabarito: alternativa “c” 21. (ESAF - MPOG 2010) A observancia da adequacao e da exigibilidade, por parte do agente piblico, constitui fundamento do seguinte principio da Administracao Publica: a) Publicidade. b) Moralidade. c) Legalidade. 4) Proporcionalidade. e) Impessoalidade. Comentarios: Adequacao e exigibilidade constituem fundamentos do principio da razoabilidade ou da proporcionalidade. Adequacdo, para que o meio empregado na atuacao seja compativel com o fim pretendido; e exigibilidade, para que a conduta seja de fato necessaria, ndo havendo outro meio que cause menos prejuizo aos individuos para que se alcance o fim publico. Gabarito: alternativa “d” 3° Ver ADI 4.467/DE e ADIL.158 55de 121 an _ a Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 CONTRADITORIO E AMPLA DEFESA O principio da ampla defesa e do contraditério, embora no esteja expresso no artigo que trata da Administragao Publica, possui previsdo no artigo 5°, LV da Constituicéo Federal: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrat acusados em geral séo assegurados contraditério e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; © principio também esta previsto no caput do art. 2° da Lei 9.784/19993!, Hely Lopes Meirelles ensina que, ao falar em “litigantes” ao lado de “acusados”, a Constituic&o nao limita o contraditério e a ampla defesa aos processos administrativos punitivos em que haja acusados, mas estende tais garantias a todos os processos administrativos, punitivos e nao punitivos, ainda que neles nao haja acusados, mas simplesmente litigantes. Com efeito, litigantes existem sempre que, num procedimento qualquer, surja um conflito de interesses, no necessariamente uma acusaggo. Um exemplo de litigio ocorre quando, numa licitag&o, determinada empresa é inabilitada pela Administragéo por nao atender a um dos requisitos do Edital e, assim, fica impedida de continuar a participar do certame. Repare, no exemplo, que a Administrag&o nao esta propriamente acusando a empresa de alguma irregularidade pela qual meresa ser punida. 0 que a Administragao fez foi simplesmente decidir que, conforme as regras do Edital, aquela empresa nao atenderia as suas necessidades, caracterizando, ent&o, um conflito de interesses. Nesse caso, deverd ser assegurado & licitante o contraditério e a ampla defesa, a fim de que ela possa demonstrar que atende aos requisitos exigidos. 2 Art. 20 A Administragao Publica obedeceré, dentre outros, aos principios da legalidade, finalidade, motivagie, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditério, seguranca juridica, interesse pablico e eficiéncia. 56 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 22, (Cespe - MIN 2013) © desfazimento da nomeacéo de um agente administrativo somente pode ocorrer depois de assegurada a ele a garantia do contraditorio e da ampla defesa. Comentario: O item esta correto. A observancia ao principio do contraditério e da ampla defesa deve ser sempre a regra quando ha um conflito de interesses entre a Administracdo e os administrados. No caso, 0 desfazimento da nomeacao é um ato desfavoravel ao agente administrativo, portanto, a Administracao deve garantir-Ihe o direito de defesa. Gabarito: Certo AUTOTUTELA O poder de autotutela administrativa esta consagrado na seguinte Sumula do STF??: Vejamos: Sdmula STF 473 ‘A Administracao pode anular seus préprios atos, quando eivados de vicios que os tornam ilegais, porque deles nao se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniéncia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciac&o judicial. Como se percebe, o principio da autotutela possibilita a Administrac&o Publica controlar seus prép dois aspectos, quais sejam: s atos, apreciando-os sob + Legalidade, em que a Administracao pode, de oficio ou provocada, anular os seus atos ilegais; + Mérito, em que a Administracéo reexamina um ato legitimo quanto & conveniéncia e oportunidade, podendo manté-lo ou revoga-lo. Assim, quando cometer erros no exercicio de suas atividades, a prépria Administrag&o pode rever seus atos para restaurar a situag&o de regularidade. Na verdade, embora a Simula 473 mencione que a Administracdo pode anular seus atos ilegais, ndo se trata apenas de uma faculdade, 32 além da Simula 473, a SGmula 346 também consagra o prinefpio da autotutela, nos seguintes termos: “A administracdo piblica pode declarar a nulidade dos seus préprios atos" 57 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 e sim de um dever (poder-dever). Ora, néo se admite que a Administrag&o permaneca inerte diante de situacées irregulares, haja vista © dever de observancia ao principio da legalidade. © controle de legalidade efetuado pela Administracéo sobre seus préprios atos no exclui a possibilidade de apreciagdo desses mesmos atos pelo Poder Judicidrio. Lembre-se de que em nosso ordenamento juridico vige o principio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (sistema de jurisdiggo una) segundo o qual qualquer les’o ou ameaga a direito poderé ser levada a apreciagao do Judiciério. Detalhe € que a Administracao, ao contrdrio do Judiciério, nao precisa ser provocada para anular seus atos ilegais; a Administracdo pode revé-los de officio. Cumpre salientar que o poder de autotutela no incide apenas sobre atos ilegais. Atos validos, sem qualquer vicio, mas que, no entender da Administrac&o, se tornem inconvenientes, também podem ser retirados do mundo juridico pelo exercicio da autotutela; no caso, podem ser revogados. A Administragao pode anular atos ilegais ou revogar atos inoportunos e inconvenientes. Ressalte-se que o Poder Judicidrio ngo pode retirar do mundo juridico atos validos editados por outro Poder. Isso porque o Judiciario, no exercicio da fung&o jurisdicional, nunca aprecia a conveniéncia e a oportunidade de um ato, pois isso significaria interferéncia na esfera de discricionariedade do agente ptiblico. O Judiciério aprecia tao somente a legalidade e legitimidade do ato. Assim, no é possivel que 0 Judicidrio revogue um ato praticado pelo Executivo, por exemplo, mas apenas o anule, em caso de ilegalidade. Frise-se, porém, que quando o Judicidrio exerce, de forma atipica, a fung&o administrativa, pode revogar seus proprios atos. Nesse caso, 0 Judicidrio n&o esté exercendo fung&o jurisdicional, e sim o poder de autotutela caracteristico da func¢ao administrativa. Importante observar que o principio da autotutela administrativa também se sujeita a limites. Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o desfazimento (anulac&o ou revogaggo) de atos administrativos que afetem 5B de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 negativamente algum interesse do administrado deve ser precedido de regular procedimento no qual se assegure o contraditério e a ampla defesa, isto é, oportunidade de o interessado apresentar alegacdes que eventualmente demonstrem ser indevido 0 desfazimento do ato*’. Outra limitagdo esta prevista no art. 54 da Lei 9.784/1999, pelo qual © direito da Administracéio de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoraveis para os destinatdérios decai em cinco anos, salvo comprovada ma-fé. Depois desse prazo, o exercicio da autotutela pela Administragao se torna incabivel. Cuidado para n&o_confundir autotutela com tutela administrativa, expresso empregada para caracterizar a supervisio que a administracdo direta exerce sobre as ico). entidades da administracéo indireta (controle fin: Veremos mais sobre as caracteristicas da tutela administrativa quando estudarmos a organizacao da Administraco Publica. Tatra) Ve Ce eh CIEy Autocontrole da Administragao Anular atos ilegais Revogar atos inoportunos e inconvenientes atos ilegais no exercicio do controle judicial. Nao pode revogar atos Anulac3o ou revogacao de atos administrativos que afetem negativamente interesse do administrado deve ser precedida de contraditérioe 2 ampla defesa 33 Ver RE 594.296/MG 59de121 an _ — Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Maria Sylvia Di Pietro informa que o principio da autotutela possui uma outra acep¢éio, um pouco diferente. Segundo a autora, também se fala em autotutela para designar 0 poder que tem a Administrac&io Publica de zelar pelos bens que integram o seu patriménio, sem necessitar de titulo fornecido pelo Judiciério. Ela pode, por meio de medidas de policia administrativa, impedir quaisquer atos que ponham em risco a conservagiio desses bens. 23. (ESAF - CGU 2012) O principio que instrumentaliza a Administragao para a revisdo de seus proprios atos, consubstanciando um meio adicional de controle da sua atuagdo e, no que toca ao controle de legalidade, representando potencial redu¢o do congestionamento do Poder Judiciario, denomina-se a) Razoabilidade. b) Proporcionalidade. ¢) Autotutela. 4d) Eficiéncia e) Eficacia Comentarios: © poder que assiste 4 Administragao para revisar seus préprios atos, em caso de ilegalidade ou por razées de conveniéncia e oportunidade, decorre do principio da autotutela (op¢ao “c”). Detalhe interessante é que, quanto a verificacao da legalidade, os atos da Administragao também se submetem ao controle do Poder Judiciario. Por isso é que o enunciado diz que a autotutela representa potencial reducdo do congestionamento do Poder Judiciario: uma vez que a prépria Administragao pode anular seus atos ilegais, nao ha necessidade de se acionar o Judiciario em todas as situagées nas quais se verifique ofensa a lei. Lembrando, porém, que © exercicio da autotutela ndo afasta a possibilidade de apreciacéo do mesmo ato pelo Poder Judiciario, desde que provocado, sendo a decisio deste Poder que ira prevalecer afinal. Lembrando, ainda, que 0 Judiciario, em Tegra, nao aprecia razées de conveniéncia e oportunidade, mas apenas de legalidade. Gabarito: alternativa “c” 24, (Cespe - Suframa 2014) O principio administrativo da autotutela expressa a capacidade que a administragéo tem de rever seus proprios atos, desde que provocada pela parte interessada, independentemente de decisdo judicial 60 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Comentario: O quesito esta errado. Pelo principio da autotutela, a Administragao também pode rever seus préprios atos de oficio, ou seja, independentemente de provocacao. Isso vale tanto para a anulacao de atos ilegais como para a revogacao de atos inconvenientes e inoportunos. Por outro lado, lembre-se de que 0 Poder Judiciario sé age quando provocado, ou seja, 0 Judiciario nao pode anular um ato ilegal da Administragao de oficio; para tanto, ele deve ser provocado, mediante a propositura da acao judicial cabivel. Gabarito: Errado SEGURANGA JURIDICA O principio da seguranga juridica decorre da necessidade de se estabilizar as situacdes juridicas, a fim de que o administrado no seja surpreendido ou agravado pela mudanca inesperada de comportamento da Administracdo, sem respeito as situagées formadas e consolidadas no passado. Como diz o STF, a “essencialidade do postulade da seguranga juridica é a necessidade de se respeitar situagées consolidadas no tempo, amparadas pela boa-fé do cidadao (seja ele servidor puiblico ou no)", Como aplicagéo concreta do principio da seguranga juridica, a Lei 9.784/1999, ao tratar da interpretagéo da norma administrativa, expressamente veda a “aplicacdo retroativa de nova interpretacao” (art, 2°, paragrafo Unico, inciso XIII, parte final). Com efeito, € comum, na esfera administrativa, haver mudanga de interpretagéo de determinadas normas legais, afetando situacées jé reconhecidas e consolidadas na vigéncia da orientacdo anterior. E isso ocorre porque o legislador dificilmente consegue imaginar todas as hipéteses de incidéncia da norma, razdo pela qual, em muitos casos, é necessério interpreté-la. Maria Sylvia Di Pietro esclarece que essa possibilidade de mudanga de orientagéo é inevitavel, mas gera inseguranga juridica, pois as diversas formas de interpretagéo podem levar a resultados diferentes. Dai a regra que veda a aplicacao retroativa: nao se pode aceitar que uma nova interpretacéo - mais prejudicial ao administrado que a anterior, a qual he havia reconhecido determinado direito - seja agora aplicada 3*MS.26.200/DE 61de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 retroativamente, de forma a Ihe privar de algum beneficio anteriormente concedido. © postulado da seguranca juridica também é concretizado, entre outros, nos institutos da decadéncia e da prescricéo, na Sumula Vinculante (art. 103-A da CF/1988) e na protecéo do ato juridico perfeito, direito adquirido e coisa julgada (CF, art. 5°, XXXVI). Todos esses institutos tem um fim comum: preservar o correto funcionamento do sistema juridico, tornando-o mais confidvel e previsivel, eliminando a inseguranga. A doutrina costuma fazer distingéo entre os principios da seguranca jurfdica e da protecio a confianca. Nessa linha, o principio da seguranga juridica se refere ao aspecto objetivo do conceito, indicando a necessidade de dar estabilidade as relagoes juridicas constituidas; j a protecio a confianca se ocupa do aspecto subjetivo, relacionado a crenga do individuo de que os atos da Administrag&o sao legais. Conforme ensina Carvalho Filho, os principios da seguranca juridica e da protecéo a confianga constam de forma expressa do art. 54 da Lei 9.784/1999, nos seguintes termos: “O direito de a Administragéo anular os atos administrativos de que decorram efeitos favordveis para os destinatdrios decai em 5 (cinco) anos, contados da data em que foram praticados, salve comprovada mi A norma, como se vé, conjuga os aspectos de tempo e boa-fé, com o fim de estabilizar relacées juridicas. Assim, 0 mencionado dispositivo dé destaque aos principios da seguranca juridica e da protegao 4 confianca, de modo que, apés cinco anos e desde que tenha havido boa-fé, fica limitado © poder de autotutela administrativa e, em consequéncia, n&o pode mais a Administracéo suprimir os efeitos favoraveis que o ato produziu para seu destinatario™. Ademais, esse dispositive da Lei 9.784/1999 demonstra que o principio da seguranca juridica serve para limitar ou conter a aplicagao do principio da legalidade, mitigando a possibilidade de a Administrag&o Publica anular atos ilegais que tenham, todavia, gerado beneficios favordveis a terceiros. 38 Carvalho Filho (2014, p. 38-39). 62de 124 an _ a Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Invocando 0 principio da seguranga juridica, 0 STF convalidou, por exemplo, atos de ascenséo funcional ilegais, protegendo a confianca do administrado, vez que seu desfazimento ultrapassou os cinco anos fixados na Lei 9.784/1999%, Para ilustrar 0 que estamos estudando, vale conhecer também a Stimula 249 do TCU, segundo a qual: — dispensada a reposicaéo de importancias indevidamente percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusavel de interpretacéo de lei por parte do 6rgao/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em func&o de orientago e supervisdo, vista da presuncao de legalidade do ato administrativo e do carater alimentar das parcelas salariais. Nesse exemplo, 0 principio da seguranga juridica aparece na necessidade de se estabilizar a situac&o juridica criada pelo recebimento das parcelas salariais, enquanto o principio da confianga transparece na crenga de que o ato estatal era legitimo. Além disso, pode-se identificar, no exemplo, um outro principio, também relacionado aos primeiros, o da boa-fé dos administrados, que pressupde conduta honesta e leal (aspecto objetivo) e crenca de que estava agindo corretamente (aspecto subjetivo). Ao contrario, se a pessoa sabe que a atuacdo ¢ ilegal, ela esta agindo de ma-fé. Ressalte-se que 0 principio da boa-fé no se dirige apenas as condutas dos administrados. As atividades dos agentes da Administracéo também devem se pautar pela boa-fé. Para ilustrar, em um julgado recente, o STF entendeu que inexistiria direito adquirido a efetivacao na titularidade de cartério nos casos em que © ocupante do cargo tenha assumido sem concurso publico, na vigéncia da Constituiggo de 1988. O Pleno, salientando que a Carta Magna exige a submiss&o a concurso publico, ponderou que a auséncia desse requisito seria situagdo flagrantemente inconstitucional que caracterizaria a mA-f do individuo, afastando, assim, a incidéncia do prazo decadencial do principio da protegao a confianga*”. 36 MS 26.393 37 MS 26,860/DE (BInfo 741) 63 de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 25. (ESAF - MPOG 2010) Relativamente 4 necessidade de estabilizacdo das relag6es juridicas entre os cidadaos e o Estado, ha dois principios que visam garanti-la. Assinale a resposta que contenha a correlacdo correta, levando em consideracéo os aspectos objetivos e subjetivos presentes para a estabilizacdo mencionada. () Boa-té; () Presungdo de legitimidade e legalidade dos atos da Administracao; () Prescrigao; () Decadéncia. (1) Seguranga Juridica - aspecto objetivo (2) Proteco a confianca - aspecto subjetivo. a)1/1/2/2 by2/4/2/4 e)2/2/4/4 aasas1/2 e)2/2/214 Comentarios: A doutrina costuma fazer distingao entre os principios da seguranga juridica e da protecao a confianca. Nessa linha, 0 principio da seguranga juridica se refere ao aspecto objetivo do conceito, indicando a necessidade de dar estabilidade as relacdes juridicas constituidas; ja a protecao a confianca se ocupa do aspecto subjetivo, relacionado a crenca do individuo de que os atos da Administracao sao legais. Quanto as alternativas, as duas primeiras, “boa-fé” e “presungao de legitimidade e legalidade dos atos da Administracéo”, tratam de conceitos atinentes 4 percepcao do individuo, portanto, subjetivos, relacionados a protecdo a confianca: primeiro, de que estaria agindo corretamente; ¢ segundo, de que os atos da Administracao sao legais e legitimos. Jaa “prescricéo” e a “decadéncia” sdo institutos juridicos que visam dar estabilidade as relagées juridicas; portanto, se referem ao aspecto objetivo do conceito, relacionado a seguranga juridica. Gabarito: alternativa “c” 26. (Cespe - MIN 2013) Suponha que a ascensdo funcional de determinado servidor pUblico tenha decorrido de ato administrativo calcado em lei inconstitucional e que ja tenha transcortido o prazo decadencial para a 64de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ‘administracao anular 0 respectivo ato. Nessa situacdo, admite-se a convalidacaio do ato administrativo de transposicéo de carreira em favor do servidor, com fundamento no principio da indisponibilidade. Comentario: O transcurso do prazo decadencial constitui obice para a anulagao do ato administrativo, impedindo que as relacées juridicas possam ser indefinidamente revistas ou modificadas, ainda que o fundamento para a modificagéo sejam razées de ilegalidade. Portanto, em tese, a ascensao funcional tratada no enunciado nao poderia ser, de fato, revista, ante o esgotamento do prazo decadencial. Alias, 0 proprio STF ja entendeu dessa forma no MS_26.393/DF ao “reconhecer a decadéncia do direito de a Administracao Publica rever a legalidade dos atos de ascensao funcional dos empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, praticados entre 1993 e 1995”, No caso, tratava-se de decisio do Tribunal de Contas da Unido que pretendia anular atos de ascensao funcional apés o transcurso do prazo de decadéncia. Entao a questao estaria certa? Nao! Perceba que, embora a ascensao seja considerada forma de provimento de cargo pibblico ilegal, o prazo decadencial busca proteger a confianca dos administrados e garantir a estabilidade das relacées juridicas j4 consolidadas no tempo. Portanto, representa aplicagao do principio da seguranca juridica e nado da indisponibilidade, dai o erro. Gabarito: Errado 27. (Cespe - Ministério da Justiga 2014) © fundamento da prescricao administrativa reside no principio da conservagdo dos valores juridicos ja concretizados, visando impedir, em razo do decurso do prazo legalmente fixado, 0 exercicio da autotutela por parte da administragaio publica. A prescricao, a semelhanca da decadéncia, é um instituto processual que impede a Administragao de agir apés 0 decurso do prazo legalmente fixado. E uma forma de estabilizar as relacées juridicas. Diz-se que, quando ocorre a prescri¢ao, perde-se o direito de agir. Assim, ocorrida a prescricéo, a Administracéo nao podera mais anular um ato, ficando impedida, portanto, de exercer plenamente a autotutela. Pelo exposto, vé-se que 0 quesito esta correto. Gabarito: Certo 65 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 CONTINUIDADE DO SERVIGO PUBLICO A prestac&o de servicos ptiblicos é a forma pela qual o Estado desempenha fungées essenciais ou necessarias a coletividade. Pelo principio da continuidade do servico publico, tal atividade prestativa nao pode sofrer solucdo de continuidade, ou seja, n&éo pode parar. Ainda que fundamentalmente ligado aos servicos ptiblicos, o principio alcanga toda e qualquer atividade administrativa, j4 que “o interesse publico no guarda adequacéo com descontinuidade e paralisagdes na Administragao?*". Como aplicac&o pratica do principio tem-se, por exemplo, que o direito de greve na Administracgdo Publica nao é absoluto, devendo ser exercido nos termos e limites definidos em lei especifica, ou seja, em lei ordinaria que trate especificamente da matéria (CF, art. 37, VII). Além disso, Maria Sylvia Di Pietro destaca as seguintes consequéncias coneretas do principio: + Institutos da interinidade, supléncia, delegacdo e substituigdo para preencher fungées puiblicas temporariamente vagas; * Vedago de o particular contratado, dentro de certos limites, impor contra a Administragdéo a excegéo de contrato nao cumprido. Nesse caso, o Estado pode ficar até 90 dias sem pagar e a empresa contratada ainda assim tem o dever de manter a execucéo dos servigos regidos pela Lei 8.666/1993 (art. 78, inciso XV). Em homenagem ao principio da continuidade do servigo ptiblico, Tribunal de Contas da Unido tem, em determinadas situagées, admitido a manutencéo temporaria de contratos administrativos que digam respeito a execug&o de servios essenciais, mas que tenham se originado de certames licitatérios irregulares. No lugar do rompimento imediato do contrato - 0 que geraria transtornos & sociedade - é costumeira a determinag&o para que a Administracdo promova nova licitacao para a supressdo dos vicios, permitindo a continuidade da prestag&o dos servigos pelo tempo necessario a realizagao de nova contratacéo”. 28 Carvalho Filho (2014, p. 36). 99 Ver Acérdao 57/2000-TCU-Plenirio 66 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Ressalte-se que a continuidade do servico ptiblico possui ligacéio com © principio da eficiéncia, pois um dos aspectos da qualidade dos servigos é que nao sejam interrompidos*? Como todos os principios, a continuidade do servigo publico também ndo possui carater absoluto. Assim, algumas situacdes justificam a paralisacéo temporaria da atividade, por exemplo, quando se necessita fazer reparos técnicos ou realizar obras para a melhoria da expans&o dos servicos. Outra situag3o em que se admite excepcionar o principio é quando 0 usuério de servicos tarifados, como energia elétrica e telefonia, deixa de pagar a tarifa devida. Nessa hipétese, os servicos devem ser reestabelecidos t&o logo seja quitado 0 débito. 28. (ESAF - CGU 2012) A impossibilidade de 0 particular prestador de servigo pubblico por delegacao interromper sua prestagdo é restrigaéo que decorre do seguinte principio: a) Legalidade. b) Autotutela ) Proporcionalidade. 4) Continuidade do Servigo Publico. e) Moralidade. Comentarios: A assertiva refere-se ao principio da continuidade do servico ptblico, pelo qual a prestagao de servicos publicos deve ser realizada sem interrupcao. Lembrando que os servicos pilblicos podem ser prestados diretamente, quando executados pela Administracao, ou indiretamente, quando delegados a particulares, mediante institutos como permissao, concessao ou cessio de uso. Em qualquer hipétese, os servicos publicos nao podem parar. Por isso é que, a fim de assegurar a continuidade, a Administragao possui a prerrogativa de encampar a concessao de servico publico, ou seja, retomar para si a execugao do servigo por motivos de interesse publico. Gabarito: alternativa “d” “ Frise-se, porém, que para a doutrina, o servigo continuo nao precisa ser diario. Por exemplo, a justica Eleitoral nao é um servigo diério, contudo, atende plenamente o principio da continuidade, pois intermitente e regular. 67 de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 ESPECIALIDADE Segundo a professora Di Pietro, o principio da especialidade é ligado & ideia de descentralizagéo administrativa. Assim, 0 Estado, ao criar pessoas juridicas plbicas administrativas (autarquias, por exemplo), como forma de descentralizar a prestacio de servigos publicos, faz isso com a finalidade de especializagéo de fungées: a lei que cria a entidade estabelece com preciséo as finalidades que Ihe incumbe atender. Di Pietro esclarece que, embora esse principio seja normalmente referido as autarquias, nao hd raz&o para negar a sua aplicag3o quanto as demais pessoas juridicas, instituidas por intermédio da lei, para integrarem a Administracéo Publica Indireta, a exemplo das sociedades de economia mista e empresas ptiblicas. Sendo necessariamente criadas ou autorizadas por lei (CF, art. 37, XIX e XX), tais entidades nao podem se desviar dos objetivos legalmente definidos. HIERARQUIA © principio da hierarquia fundamenta a forma como séo estruturados os érgaos da Administragdo Publica, criando uma relac&o de coordenacao e subordinaciio entre uns e outros. Segundo Di Pietro, desse principio decorre uma série de prerrogativas para a Administracéio: a de rever os atos dos subordinados, a de delegar e avocar atribuiges, a de punir; para 0 subordinado, por outro lado, surge © dever de obediéncia. Aplicacao interessante do referido postulado surgiu com a Stmula Vinculante, que criou uma espécie de subordinacéo hierérquica dos 6rgos do Judiciério ao Supremo Tribunal Federal. Isso porque, se a deciséo judicial contrariar ou aplicar indevidamente alguma Sumula Vinculante, o STF poderé cassar a deciséo se acolher reclamagao a ele dirigida e determinar que outra seja proferida*t. ‘#1 Di Pietro (2009, p. 70). 68de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 PRECAUGAO O principio da precaug&o dispde que, havendo risco da ocorréncia de danos graves, medidas preventivas devem ser adotadas de imediato. Carvalho Filho esclarece que o principio da precaugio teve origem no direito ambiental, a fim de se prevenir danos ao meio-ambiente. Atualmente, porém, tem sido invocado também para a tutela do interesse pUblico. Assim, se determinada ocorréncia acarreta risco para a coletividade, deve a Administragéo adotar postura de precauc&o para evitar que danos potenciais venham a se concretizar. © referido principio provém da méxima “prevenir é melhor que remediar”. Com efeito, alguns tipos de dano, por sua gravidade e extensdo, sdo irreversiveis ou, no minimo, de dificil reparacao. Para ilustrar, tome-se como exemplo as enchentes que assolam o pais todos os anos. Ora, desconsiderando eventuais anormalidades, trata- se de evento climatico sazonal, portanto, de ocorréncia perfeitamente previsivel. Sabendo do risco potencial que esses eventos representam para a coletividade, espera-se que o Poder Publico, em homenagem ao principio da precaug&o, adote medidas preventivas para evitar que os desastres se concretizem. SINDICABILIDADE O principio da sindicabilidade refere-se a possibilidade de se controlar as atividades da Administragao. Ser “sindicdvel” ser “controlavel”, Pelo principio da sindicabilidade, entéo, os atos da Administragao podem ser controlados. Notadamente, a Administrac&éo se sujeita ao controle judicial, decorrente do sistema de jurisdi¢éo una, ao controle externo, previsto no art. 70 da Constituigdo Federal, exercido pelo Poder Legislative com o auxilio dos Tribunais de Contas, e ao controle interno, previsto no art. 74 da Constituic&o, exercido por érgéos especializados na funcéo controle criados dentro da estrutura organizacional do ente. A sindicabilidade também abrange a autotutela administrativa, pela qual a Administrac&o pode (deve) anular e/ou revogar seus atos. 69de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 29. (ESAF - AFRB 2012) A possibllidade juridica de submeter-se efetivamente qualquer lesdo de direito e, por extensdo, as ameacas de lesdo de direito a algum tipo de controle denomina-se a) Principio da legalidade. b) Principio da sindicabilidade. ¢) Principio da responsividade. 4) Principio da sancionabilidade. ) Principio da subsidiariedade. Comentario: O enunciado refere-se ao principio da sindicabilidade. Segundo o dicionario Michaelis online, sindicar significa “fazer sindicdncia em; inspecionar determinados servicos publicos para verificar a maneira como eles tém decorrido”. Assim, pelo principio da sindicabilidade, os atos administrativos podem ser controlados, inspecionados, com a finalidade de verificar se guardam consonancia com a lei e com os principios que regem a Administragao Publica. © comando da questao reproduz parte do art. 5°, XXXV da CF, pelo qual “a lei néo excluira da apreciacao do Poder Judiciério lesao ou ameaga a direito”. Portanto, faz alusao ao controle judicial dos atos administrativos. Porém, nao se pode olvidar que a Administragdo também se submete ao controle externo, a cargo do Poder Legislative, com o auxilio do Tribunal de Contas (CF, art. 70) e ao controle interno, realizado por érgaos especializados dentro do préprio Poder (CF, art. 74). Além disso, a sindicabilidade também abrange a autotutela, pela qual a Administracao pode controlar seus préprios atos, anulando-os em caso de ilegalidade, ou revogando-os por razdes de conveniéncia e oportunidade. Gabarito: alternativa “b” Por fim, vamos resolver mais algumas questées de prova para consolidar o assunto: 70 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 MAIS QUESTOES DE PROVA 30. (ESAF — APO 2015) Sobre o principio constitucional da impessoalidade, assinale a op¢do incorreta. a) Aplica-se internamente & Administrago, para evitar que esta apresente-se com a marca pessoal do ocupante momentaneo do poder ou outra formula de identificacao de sua pessoa b) A atividade da Administracao deve objetivar exclusivamente a realizagéo do interesse de todos, jamais de uma pessoa ou grupo em particular. c) A impessoalidade baseia-se diretamente nos principios da eficiéncia e da publicidade. 4) Rejeita a aplicacao do conceito privatistico de propriedade ao patriménio e aos bens publicos, j4 que a finalidade da atividade administrativa deve a todos aproveitar, e ndo ao interesse pessoal do administrador. e) As diferencas naturais existentes entre as pessoas nao podem servir para justificar tratamento juridico diverso, salvo se esse tratamento realizar diretamente um valor constitucionalmente determinado. Comentario: O principio da impessoalidade nao decorre dos principios da eficiéncia e da publicidade. Ao contrario, ele é um principio auténomo, previsto diretamente no art. 37, caput da CF. Dai o erro da opgao “c”. Todas as demais estdo corretas, pois expressam adequadamente os diversos aspectos sobre os quais o principio da impessoalidade pode ser examinado. A alternativa “a” exprime a impessoalidade sob o prisma da “vedagao a promogao pessoal dos agentes puiblicos”; nas opgées “b” e “d”, o principio é visto como “dever de conformidade aos interesses ptiblicos”; na alternativa “e”, por fim, o principio da impessoalidade ¢ tratado sob a ética do “dever de isonomia por parte da Administragao Publica”. Gabarito: alternativa “c” 31. (ESAF - APO 2015) A eficiéncia como principio da Administraco Publica foi introduzida na Constituicao Federal de 1988 por meio da Emenda n. 19/98, seguindo na linha de algumas legisiagdes estrangeiras. No entanto, outras alteragdes feitas no texto constitucional séo exemplos da materializacao da aplicacao do referido principio. Assinale, entre as opgdes que se seguem, aquela que ndo seria um exemplo da aplicagao do principio da eficiéncia. a) A introdugo da figura do contrato de gestéo com um acréscimo de autonomia administrativa em fun¢ao do desempenho de metas especificas 71de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 b) A possibilidade da perda do cargo, por parte do servidor piblico, na hipétese de avaliaco periddica insatisfatéria de desempenho, na forma da lei, assegurada ampla defesa c) A determinagao que a Unido, os Estados e o Distrito Federal mantenham escolas de govemno para a formacao e aperfeigoamento de seu pessoal. 4) A previsao da participacdo, na administracao direta e indireta, do usuario de servicos puiblicos, por meio do registro de reclamacées relativas a prestacdo destes, sendo asseguradas a manutencdo de atendimento ao usuario e a avaliacao periddica, externa e interna, da qualidade de tais servigos. e) A previsio da remuneracéo de determinadas categorias de servidores exclusivamente por subsidio fixado em parcela Unica, vedado o acréscimo de qualquer gratificac4o, adicional, abono, prémio, verba de representaco ou outra espécie remuneratoria. Comentarios: Das alternativas da questdo, apenas a ultima indica um dispositivo constitucional que nao é apontado pela doutrina como uma manifestacao do principio da eficiéncia, dai o gabarito. Todas as demais representam medidas que buscam aumentar a qualidade dos servicos publicos, introduzidas pela EC 19/98, que tratou da chamada Reforma do Estado. Gabarito: alternativa “e” 32. (ESAF - ATRFB 2012) A Stimula n. 473 do Supremo Tribunal Federal - STF enuncia: "A administracdo pode anular seus préprios atos, quando eivados de vicios que os tornam ilegais, porque deles nao se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniéncia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos 0s casos, a apreciaco judicial”. Por meio da Sumula n. 473, 0 STF consagrou a) a autotutela b) a eficiéncia ¢) a publicidade. d) a impessoalidade. e) a legalidade Comentario: A Sumula 473 do STF apresenta a exata definicéo do principio da autotutela (opgao “a”). Gabarito: alternativa “a” 33. (ESAF - DNIT 2013) Segundo Meirelles (1985), administrar é gerir interesses segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens entregues a guarda e a conservacéo 72de 124 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 alheias. Se os bens e interesses geridos so individuais, realiza-se a administracao privada; se s&o coletivos, realiza-se a administra¢do publica. Neste contexto, assinale a op¢do que nao apresenta um dos principios que norteiam a Administragao Publica a) Legalidade: presa aos mandamentos da lei, deles nao podendo se afastar, sob pena de invalidade do ato. b) Impessoalidade: qualquer atividade de gest&o publica deve ser dirigida a todos os cidadaos, sem determinagao de pessoa ou discriminagao de qualquer natureza. c) Finalidade: impée-se @ administrag4o publica a prética de atos voltados para o interesse pubblico. ) Habilidade: por parte daqueles encarregados das operacées, para dirigir e coordenar estas operagdes a fim de que sejam cumpridos os planos e) Igualdade: todos os cidadaos sao iguais perante a lei e, portanto, perante a administragao publica. Comentarios: Vamos analisar cada alternativa com base nos ensinamentos de Hely Lopes Meirelles: (a) CERTA. 0 principio da legalidade dita que o administrador piiblico esta, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e as exigéncias do bem comum, e deles néo se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato invalido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. A necessaria observancia @ lei fundamenta o Estado de Direito. (b) CERTA. 0 principio da impessoalidade exige que o ato seja praticado sempre com finalidade piiblica, ficando o administrador impedido de buscar outro objetivo ou de pratica-lo no interesse préprio ou de terceiros. Esse principio também deve ser entendido para excluir a promogao pessoal de autoridades ou servidores ptiblicos sobre suas realizagées administrativas. O principio da impessoalidade possui ligacdo direta com os principios da finalidade e da igualdade, que veremos nas opgées seguintes. (c) CERTA. © principio da impessoalidade impée ao administrador publico que sd atue visando o fim legal do ato. E 0 fim legal ¢ unicamente aquele que a norma de Direito indica como objetivo do ato, de forma impessoal, sempre com o fim de atender ao interesse publico. Todo ato que se apartar desse objetivo pode ser invalidade por desvio de finalidade. (d) ERRADA. A habilidade nao se encontra entre os principios da Administra¢do Publica geralmente apontados pela doutrina, dai o erro. Nao obstante, pode-se dizer que habilidade é uma qualidade requerida dos servidores, a fim de que desempenhem suas atividades com presteza, 73de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 perfei¢ao e rendimento funcional, atributos relacionados ao principio da eficiéncia. (e) CERTA. Hely Lopes Meirelles fala sobre o principio da igualdade ao comentar o da impessoalidade. Segundo o mestre, os dois principios estao entrelagados, sendo que o principio da igualdade impée a Administragao Publica tratar igualmente a todos os que estejam na mesma situagao fatica e juridica. Isso significa que os desiguais, em termos genéricos e impessoais, devem ser tratados desigualmente em relacao aqueles que nao se enquadram nessa distingao. Em nome deste principio ¢ que, por exemplo, as tarifas de energia elétrica podem variar dependendo da faixa de consumo e que 0 acesso aos cargos plblicos deve ocorrer mediante concurso puiblico. Gabarito: alternativa “d” 34, (ESAF — CVM 2010) O dever da Administracao de dar transparéncia aos seus atos denomina-se: a) legalidade b) motivacao ) publicidade d) eficiéncia e) moralidade Comentario: Trata-se do principio da publicidade, o qual exige ampla divulgacao dos atos praticados pela Administracdo Publica, ressalvadas as hipoteses de sigilo previstas em lei (seguran¢a da sociedade e do Estado e defesa da intimidade ou interesse social). Quanto as demais alternativas, em suma: 0 principio da legalidade impoe que os atos administrativos devem ser praticados em conformidade com a lel; a motivacao exige que a Administracao indique os pressupostos de fato e de direito que justificam a pratica de seus atos; a eficiéncia refere-se a otimizagao da relacao custo/beneficio da atividade estatal, ou seja, fazer mals com menos, sem perder de vista os padrées de qualidade; por fim, a moralidade significa que a atuacdo do agente piblico deve se pautar pela ética, traduzida na capacidade de distinguir o que é honesto do que é desonesto. Gabarito: alternativa “c” 35. (ESAF — CVM 2010) Analise os itens a seguir, relacionados aos principios que norteiam a atividade da Administracao Publica, e marque com V se a assertiva for verdadeira e com F se for falsa. Ao final, assinale a opao correspondente. 74de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 () Segundo o principio da impessoalidade, a atuacao do administrador publico deve objetivar a realizacao do interesse publico. () Em razéo do principio da isonomia, € vedada a adocdo de quaisquer discriminacées positivas pela Administragao Publica. () As restrigdes ao direito de greve do servidor puiblico decorrem do principio da continuidade das atividades da Administracao Publica () Aestipulagao legal de prazo decadencial para a Administracdo anular seus atos é contraria ao principio da seguranca juridica, a)V,F,F,F b)FLV,V,F oVVVV 4)F,V,F,V e)V,F, VF Comentarios: Vamos analisar cada assertiva: (V) Segundo o principio da impessoalidade, a atuacao do administrador publico deve objetivar a realizagao do interesse ptiblico. Definicao correta. Os atos administrativos devem ser impessoais, ou seja, nao podem ser praticados com o fim de prejudicar ou beneficiar quem quer que seja (agentes publicos ou terceiros). Ao contrario, a atuacéo do administrador publico deve ter a finalidade de atender ao interesse ptblico, em conformidade com o que prescreve a lel. (F ) Em razao do principio da isonomia, é vedada a adocao de quaisquer discriminagées positivas pela Administracao Publica. O principio da isonomia ou da igualdade deve garantir o tratamento impessoal e isonémico, mas apenas entre iguais, isto é, entre os que preenchem as mesmas condicées ou se encontram em situagdes comparaveis. Isso significa que os desiguais devem ser tratados desigualmente em relagao aqueles que nao se enquadram nessa distincao, as chamadas discriminacées positivas, que ndo sao vedadas, dai o erro. E por isso, por exemplo, que a Administracdo pode estabelecer aliquotas distintas de Imposto de Renda em razao da renda do contribuinte (quem ganha mais paga mais). (\V ) As restrigées ao direito de greve do servidor puiblico decorrem do principio da continuidade das atividades da Administragéo Publica. A necessidade de prestacdo continua dos servicos ptiblicos caracteriza o principio da continuidade. Em atencdo a esse principio, a Constitui¢ao Federal assegura ao servidor ptiblico civil 0 direito de livre associacao sindical (art. 37, Vi), mas condiciona e admite restrigao ao exercicio do direito de greve ao 75 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 dispor que esse direito “sera exercido nos termos e nos limites definidos em lei especifica”. (F) A estipulacao legal de prazo decadencial para a Administracao anular seus atos é contraria ao principio da seguranga juridica. Afirmagao falsa. Ao contrario, a estipulacao de prazo decadencial para a Administragdo anular seus atos é consequéncia do principio da seguranca juridica, o qual estabelece a necessidade de se assegurar certa estabilidade nas relacdes juridicas. Assim, o prazo decadencial evita que a Administracao venha a anular situages j consolidadas no tempo. Gabarito: alternativa “e” 36. (ESAF - Prefeitura RJ 2010) Referente aos principios da Administracao Publica, assinale a op¢o correta a) Tendo em vista o carater restritivo da medida, € necessaria lei formal para coibir a pratica de nepotismo no ambito da Administragéo Publica, tornando-se inviavel, assim, sustentar tal obice com base na aplicagao direta dos principios previstos no art. 37, caput, da Constituigo Federal b) Entre os principios da Administragao Publica previstos expressamente na Constituicao Federal, encontram-se os da publicidade e da eficacia c) E viavel impedir, excepcionalmente, o desfazimento de um ato, a principio, contrario a0 Ordenamento Juridico, com base no principio da seguranga juridica. 4) © principio da autotutela consiste na obrigatoriedade de o agente publico, independentemente da sua vontade, sempre defender o ato administrative quando impugnado judicialmente, em face da indisponibilidade do interesse defendido. e) O devido processo legal nao é preceito a ser observado na esfera administrativa, mas apenas no ambito judicial Comentarios: Vamos analisar cada alternativa em busca da opcdo correta: (a) ERRADA. A questo é objeto de deciséo do STF na qual declarou a constitucionalidade de Resolugdo do Conselho Nacional de Justica (norma infralegal) que vedava expressamente a pratica de nepotismo. Vejamos a ementa: ACAO DECLARATORIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCAO NP 07, de 18.10.05, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICA. ATO NORMATIVO QUE "DISCIPLINA O EXERCICIO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNGOES POR PARENTES, CONJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS —E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECAO E ASSESSORAMENTO, NO AMBITO DOS ORGAOS DO PODER JUDICIARIO E DA OUTRAS PROVIDENCIAS". PROCEDENCIA DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos 76 de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 impostos pela Resolugo n° 07/05, do CNJ, néo atentam contra a liberdade de prover € desprover cargos em comissdo e fungées de confianga. As restricées constantes do ato resolutivo sao, no rigor dos termos, as mesmas ja impostas pela Constituicao de 1988, dedutiveis dos republicanos principios da impessoalidade, da eficiéncia, da igualdade e da moralidade. (...) 3. Agdo julgada procedente para: a) emprestar interpretag&o conforme a Constituig&o para deduzir a fun¢&o de chefia do ‘substantivo “dire¢4o" nos incisos Il, Ill, |V, V do artigo 2°do ato normativo em foco; b) declarar a constitucionalidade da Resolugao n° 07/2005, do Consetho Nacional de Justiga (ADC 12/DF, DJ 18/12/2009) Como se vé, no caso, a Suprema Corte entendeu que a pratica do nepotismo no Judicidrio poderia ser combatida por meio da referida Resolugao do CNJ, norma de natureza infralegal, ou seja, a situacdo nao reclamava a edicao de lei formal, eis que as restrigdes ao nepotismo impostas pela norma seriam decorréncia légica dos principios constitucionais da impessoalidade, eficiéncia, igualdade e moralidade. Na verdade, aprofundando mais o assunto, percebe-se que, na visio do STF, nao seria necessario nenhuma espécie de diploma regulamentar para coibir 0 nepotismo, visto que os préprios principios constitucionais ja teriam forga mais que suficiente para tanto. Ressalte-se que, atualmente, o nepotismo é vedado pela Siimula Vinculante n° 13, a qual, diferentemente da referida Resolucdo do CNJ, que incidia apenas sobre o Judiciario, se aplica a administragao direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios. (b) ERRADA. Sao considerados principios expressos da Administracao Publica aqueles previstos no art. 37, caput da Carta Magna, sintetizados na sigla LIMPE: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia. Portanto, dentre os postulados apresentados na assertiva, publicidade é considerado um principio expresso, mas eficacia, que ¢ diferente de eficiéncia, nao 0 é, dai o erro. (c) CERTA. O principio da seguranca juridica se concretiza, entre outros, no instituto da decadéncia, que impde um limite temporal de cinco anos para que a Administragéo possa exercer seu poder de autotutela e anular atos ilegais de que decorram efeitos favoraveis para os destinatarios. O instituto esta positivado no art. 54 da Lei 9.784/1999, nos seguintes termos: Art. 54. O direito da Administracéo de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoraveis para os destinatarios decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada mé-fé. (a) ERRADA. 0 principio da autotutela impée que a Administragao pode anular seus préprios atos ilegais, 0 que nao afasta a apreciacao do mesmo ato pelo Poder Judiciario. A assertiva erra ao dizer que o agente publico deve 77 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 “sempre defender o ato administrative impugnado judicialmente”, pois, em se tratando de atos ilegais, a impugnacao da decisao judicial seria, na verdade, contraria ao principio da autotutela. (e) ERRADA. O devido processo legal, no qual se assegura a ampla defesa e 0 contraditério, deve ser obedecido tanto nos processos judiciais quanto nos administrativos, a teor do artigo 5°, LV da CF: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral séo assegurados 0 contraditério e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Gabarito: alternativa “c” 37. (ESAF - Sefaz/CE 2007) Selecione a opcdo que apresenta corretamente principios constitucionais de natureza ética a) Eficiéncia € um principio ético e moral que se acentua a partir da década de 70, associado @ reivindicagéo geral de democracia administrativa, e significa dar transparéncia as ac¢des de governo. b) © principio da publicidade diz respeito ao direito do cidaddo de receber dos 6rgaos publicos informagdes do seu interesse particular ou de interesse coletivo e geral. ) O principio da continuidade justifica a proibigao de greve dos servidores publicos, conforme Constituigao de 1988 que remete a lei especifica as punicées e penalidades advindas da greve. d) Segundo o principio da impessoalidade, o orgao publico pode agir por fatores pessoais e subjetivos, dando cumprimento aos principios da legalidade e isonomia que rege o direito administrative. e) O principio da moralidade administrativa obriga que todo funcionario pubblico aja conforme a lei, utilizando eficazmente o erério piblico proveniente de impostos pagos pelo cidadao. Comentarios: Vamos analisar cada alternativa, buscando a que conceitua corretamente algum principio de natureza ética, dentre os quais se pode destacar a moralidade, a impessoalidade e a publicidade: (a) ERRADA. A afirmagao se refere ao principio da publicidade e nao da eficiéncia. (b) CERTA. A Constituigdo Federal (art. 5°, XXXII) preceitua que “todos tém direito a receber dos érgaos pliblicos informagées de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serao prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel a seguranca da sociedade e do Estado”. Portanto, é dever da 78de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Administracao dar efetividade ao referido direito, em homenagem ao principio da publicidade. (c) ERRADA. © principio da continuidade nao proibe a greve dos servidores publicos, e sim admite que a lei condicione e restrinja esse direito. (4) ERRADA. Ao contrario do que afirma o quesito, segundo o principio da impessoalidade, 0 érgao ptiblico nao pode agir por fatores pessoais e subjetivos, dando assim cumprimento aos principios da legalidade e isonomia que rege o direito administrativo. (e) ERRADA. 0 principio da legalidade, e nao o da moralidade, obriga que todo funcionario ptiblico aja conforme a lei. Ademais, o principio da eficiéncia € que obriga o agente piiblico a utilizar eficazmente o erario ptiblico proveniente de impostos pagos pelo cidadao. Gabarito: alternativa “b” 38. (ESAF - Sefaz/CE 2007) Sao exemplos da aplicagao do principio da impessoalidade, exceto a) licitacao. b) concurso piiblico. ©) precatério. 4) otimizac&o da relacao custo/beneficio. €) ato legislativo perteito. Comentario: Dos exemplos citados, apenas a “otimizagao da relagdo custo/beneficio” nao se refere ao principio da impessoalidade, eis que diz respeito a eficiéncia. Com efeito, a licita¢ao e © concurso piiblico propiciam que todos participem da disputa por um contrato ou pelo acesso a um cargo publico em plena igualdade, sem discriminagées ou favorecimentos. O precatério, por sua vez, é o regime de pagamento das dividas do Estado para com os cidadéos que tenham sido constituidas em virtude de sentenca judicial. Tal regime obedece ao principio da impessoalidade, pois, segundo o art. 100 da CF, os pagamentos devem ser feitos exclusivamente na ordem cronolégica de apresentacao, proibida a designacao de casos ou de pessoas nas dotagdes orcamentdrias. Ja o ato legislativo perfeito atende a impessoalidade porque representa a lei dotada de generalidade e abstracao que nao cria distingdes benéficas ou detrimentosas a determinado grupo, alcangando a todos, dentro de uma mesma situacao juridica, de forma equanime, com isonomia. Gabarito: alternativa 79 de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 39. (ESAF - Procurador GDF 2007) Considerando que o Direito Administrativo Brasileiro encontra-se informado por principios, examine os itens a seguir: |. Em atengdo a necessidade de se preservar os padrées de moralidade no servico pubblico, sublinha-se a disciplina aprovada pelo Conselho Nacional de Justiga, em resolugdo regulamentadora de dispositivo constitucional, pela qual ficou expressamente vedada a condendvel pratica do nepotismo; I © principio da supremacia do interesse puiblico sobre o interesse privado & principio geral de Direito. Nesse diapasdo, como expresso dessa supremacia, a Administrac4o, por representar o interesse pblico, tem a possibilidade, nos termos da lei, de constituir terceiros em obrigagdes mediante atos unilaterais; Ill, © principio da impessoalidade aparece expressamente mencionado na Lei n. 9.784/99, abrangendo a presuncdo de verdade e de legalidade que devem nortear 08 atos praticados pela Administracao Publica; IV. Quanto ao principio da continuidade do servigo publico, entende-se a possibilidade, para quem contrata com a Administragao, de invocar a exceptio non adimpleti contractus nos contratos que tenham por objeto a execucdo de servico publico; V. O principio da Seguranca Juridica, disposto na Lei n. 9.784/99, justifica-se pelo fato de ser comum, na esfera administrativa, haver mudanga de interpretagdo de determinadas normas legais, com a conseqtiente mudanga de orientacdo, em carater normativo, vedando, assim, aplicacdo retroativa. ‘A quantidade de itens incorretos é igual a: a)1 b)5 ©)3 44 e)2 Comentarios: Vamos analisar cada quesito e depois contar a quantidade de itens incorretos: }) CERTA. A doutrina sempre destaca como exemplo de aplicagao bem sucedida do principio da moralidade a edi¢do da Resolugao n° 7/2005, do Consetho Nacional de Justi¢a, que vedou a nomeacao de parentes para cargos em comissao em todo o Poder Judiciario. ll) CERTA. © principio da supremacia do interesse piiblico sobre o privado fundamenta a série de prerrogativas conferidas 4 Administracdo como instrumentos para a satisfacao das necessidades coletivas. Dentre tais 80 de 121 —— o-=- = Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 prerrogativas, reconhece-se a possibilidade de estabelecer obrigacdes a terceiros mediante atos unilaterais, desde que observados os termos da lei. Ill) ERRADA. © principio da impessoalidade esta expresso no art. 37, caput da CF, mas esta implicito na Lei 9.784/1999. Outro erro é que a presungao de verdade e de legalidade constituem aspectos do principio da presunco de legitimidade dos atos administrativos, e no do principio da impessoalidade. IV) ERRADA. Na verdade, o principio da continuidade do servico pilblico impossibilita a invocagao da exceptio non adimpleti contractus (excegao do contrato néo cumprido) por parte de quem contrata com a Administracao. Assim, diferentemente do que ocorre no direito privado, em que o descumprimento do contrato por uma das partes autoriza a outra a também descumpri-lo, no direito administrativo o particular nao pode, dentro de certos limites, interromper a execugao do servico em fungao do nao pagamento do valor devido pela Administra¢ao. Em regra, 0 que ele deve fazer é requerer, administrativa ou judicialmente, a rescisao do contrato e o pagamento de perdas e danos, dando continuidade a sua execuc¢ao até que obtenha ordem de autoridade competente para paralisa-lo. V) CERTA. Uma das consequéncias praticas do principio da seguranca juridica é a que veda a aplicacao retroativa de nova interpretacéo normativa, conforme previsto no art. 2°, paragrafo unico, Xill da Lei 9.784/1999. De fato, mudangas de interpretagdo de normas legais sdo comuns na atividade administrativa. © que a lei veda é que essa nova orientacdo retroaja para atingir situagées j4 consolidadas na vigéncia da interpretacao anterior, notadamente nos casos em que a nova orientacdo seja prejudicial aos interesses dos administrados. Gabarito: alternativa “e’ 40. (ESAF - AFRFB 2014) Nos termos da lei, a Administracao Publica Federal observard, em se tratando do processo administrativo, principios especificos, exceto: a) principio da seguranca juridica. b) principio da razoabilidade. ©) principio da eficiéncia 4) principio da insignificancia e) principio da motivacao. Comentarios: A lei que regula o processo administrative no ambito da Administragdo Publica Federal é a Lei 9.784/1999, cujo art. 2° prevé os principios que devem nortear tais processos. Vejamos: 81de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Art. 20 A Administracéo Publica obedeceré, dentre outros, aos principios da legalidade, finalidade, motivagao, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditério, seguranca juridica, interesse puiblico e eficiéncia Como se vé, dentre os principios apresentados na questao, apenas o principio da insignificancia (op¢ao “d”) nao é citado no referido dispositive da Lei 9.784/1999. Com efeito, o principio da insignificancia (crime de bagatela) é mais afeto ao direito penal, pelo qual nao se considera crime o ato que nao cause lesdo significativa a ordem social (ex: furto de galinhas). Gabarito: alternativa “ 41, (ESAF - EPPGG 2013) Considerando as atuais demandas da sociedade modema e a necessidade de atendimento destas por parte do poder piiblico, emerge a necessidade de adaptagao e adequacdo do moderno administrador e dos 6rgaos de controle interno e externo que, aos poucos, abandonam a visdo tradicional, centralizada e hierarquizada de que toda e qualquer atuacdo estatal depende de lei. Com base nesta afirmago, assinale a assertiva correta. a) Nao se admite, no exercicio da administracdo publica moderna, a informalidade. b) Informalidade na atuacao administrativa é sindnimo de discricionariedade. ¢) A informalidade administrativa nao se presta para invadir a esfera privada dos particulares, impondo-lhes obrigagdes ou restringindo-Ihes 0 exercicio de direitos. ) A evolugao da sociedade e da administra¢o publica sdo irrelevantes no que pertine a reserva legal e) Toda prestacdo de servicos estatais interfere no ambito de direitos individuais, razdo que exige obediéncia a reserva legal pelo administrador. Comentario: Conforme ensina Lucas Furtado, 0 principio da legalidade nao nos pode levar ao exagero de estabelecer, como requisito de legitimidade, que todo e qualquer ato administrativo tenha sido prévia e detalhadamente disciplinado em lei. Ao contrario, a realidade administrativa moderna demonstra que certo grau de informalidade pode sim ser admitido, notadamente no exercicio de atividades administrativas internas. Tomemos como exemplo a assinatura de jornais e revistas. Nao ha lei que, de forma expressa ou implicita, autorize a contratacdo dessas assinaturas por unidades administrativas. Porém, desde que haja a indicagao da fonte orgamentaria para a realizacao da despesa, nenhum contrato dessa espécie podera ter sua legitimidade questionada por falta de lei que autorize, especificamente, a assinatura de jornais e revistas. Ademais, se esse contrato for celebrado por dispensa de licitagdo, a Lei 8.666/1993 exige que o prego seja justificado, mas nao define como. Portanto, nao se pode exigir que o 82de 124 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 administrador siga tramites formais para proceder a essa justificacdo. Mais uma vez, entao, o administrador se valera de procedimentos informais. Nao obstante, Lucas Furtado esclarece que ha areas ou atividades administrativas em que a informalidade nao é cabivel, em hipétese alguma. E 0 caso, por exemplo, de processos restritivos de direitos, como 0 processo disciplinar, ou de atos pelos quais a Administracdo Publica possa impor obrigagées aos particulares. Igualmente nao se pode admitir informalidade na criagdo de érgaos ou entidades, no desempenho de atividades para as quais a Constituicao Federal imponha a necessidade de lei ou para delegar atividades estatais a particulares. Com base nessas consideragées iniciais, vamos analisar cada alternativa: (a) ERRADA. No exercicio da administracdo ptblica moderna a informalidade pode sim ser admitida, notadamente no exercicio de atividades administrativas que nao importem em restrigao de direitos ou na imposicao de obrigagées a particulares. (b) ERRADA. A informalidade administrativa nao pode ser confundida com discricionariedade administrativa. Com efeito, a discricionariedade decorre da lei e deve ser exercida nos limites da lei. A informalidade, ao contrario, decorre da auséncia de lei: encontrando-se o administrador obrigado a cumprir determinadas finalidades institucionais, vé-se ele obrigado a seguir certos procedimentos, praticar atos ou celebrar contratos nao autorizados ou disciplinados em lei. (c) CERTA. De fato, a informalidade administrativa néo se presta para invadir a esfera privada dos particulares, impondo-Ihes obrigacées ou restringindo-Ihes 0 exercicio de direitos. Para tanto, deve ser observado o principio da reserva legal, pelo qual “ninguém sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sendo em virtude de lei”. (d) ERRADA. A evolugao da sociedade e da administracao publica se reflete no ordenamento juridico e, em consequéncia, na reserva legal. Assim, em vista dessa evolucao, novas leis podem prever novas obrigacées a serem impostas aos particulares ou, ainda, excluir outras. (e) ERRADA. A informalidade também pode ser admitida no desenvolvimento de atividades que extrapolem os limites internos da Administragao. Com efeito, existem prestagdes de servicos estatais que nao interferem no 4mbito de direitos individuais, vale dizer, sao atividades que nao importam em restricdes de direitos ou na imposic¢éo de obrigacées a particulares. Por essa razio, nao se exige a obediéncia a reserva legal pelo administrador, bastando que a atividade se enquadre nas competéncias genéricas da unidade, conferidas pela Constituic¢ao ou pela lel. Lucas Furtado apresenta 0 seguinte exemplo: 0 Ministério dos Esportes deseja desenvolver 83 de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 atividades ou programas de incentivo a participacdo de pessoas deficientes em atividades de seu ambito de atuacdo. Nesse caso, nao é necessaria a existéncia de previséo legal especifica para o desenvolvimento dessa atividade, uma vez que ela se enquadra nas competéncias genéricas que definem o ambito de atuacao do Ministério, estas sim previstas em lei. Assim, observados os parametros ali indicados, e desde que haja previsao ‘orcamentaria, 0 desenvolvimento do programa pode ser considerado legitimo, independentemente de lei autorizativa especifica. Gabarito: alternativa “c” 42, (ESAF - AFRFB 2005) Os principios constitucionais da legalidade e da moralidade vinculam-se, originalmente, a nogao de administragao a) patrimonialista b) descentralizada. c) gerencial. 4) centralizada e) burocratica Coment A administragéo burocratica caracterizou-se por dotar a Administragao de maior profissionalismo, impondo 0 acesso aos cargos publicos por mérito e criando mecanismos para combater as mazelas da administragao patrimonialista, marcada pelo nepotismo e corrupgao. Portanto, a legalidade e a moralidade sao principios atrelados a fase burocratica (alternativa “e”). A reforma gerencial, por sua vez, veio para aprimorar os pontos fracos da burocracia, especialmente no quesito eficiéncia, mas sem apagar seus tracos positives, como a observancia aos principios da legalidade da moralidade. Gabarito: alternativa “e” 43. (ESAF - AFRFB 2003) Tratando-se de poder de policia, sabe-se que podem ocorrer excessos na sua execugao material, por meio de intensidade da medida maior que a necessdria para a compulsdo do obrigado ou pela extensdo da medida ser maior que a necesséria para a obten¢do dos resultados licitamente desejados. Para limitar tais excessos, impde-se observar, especialmente, o seguinte principio: a) legalidade b) finalidade ) proporcionalidade d) moralidade e) contraditério 84de 121 a i eee ee Direito Administrativo para Receita Federal Teoria e exercicios comentados Aula 01 Comentario: O principio que se destina a conter o excesso de poder, isto 6, 08 atos de agentes piiblicos que ultrapassem os limites adequados ao fim a ser atingido, é 0 principio da proporcionalidade. Gabarito: alternativa “c” 44, (ESAF - AFRFB 2002) A finalidade, como elemento essencial a validade dos atos administrativos, 6 aquele reconhecido como o mais condizente com a observancia pela Administraco do principio fundamental da a) legalidade b) impessoalidade c) moralidade 4d) eficiéncia e) economicidade Comentario: Trata-se do principio da impessoalidade (op¢ao “b”). Com efeito, o principio da impessoalidade pode ser examinado sob os seguintes aspectos: = Isonomia (nao beneficiar esta ou aquela pessoa em especial). * Finalidade (dever de conformidade aos interesses piiblicos) * Vedagao a promocao pessoal dos agentes pilblicos. Gabarito: alternativa “b” 45. (ESAF - AFRFB 2000) A participacao do usuario na administragao publica direta e indireta dar-se-4, entre outros, mediante os seguintes instrumentos, exceto: a) representacdo contra o exercicio negligente ou abuso de cargo, emprego ou fungao na administra¢ao publica b) garantia de manutencdo de servicos de atendimento ao usuario ) avaliagao periédica, externa e interna, da qualidade dos servicos d) acesso ilimitado dos usuarios a registro administrativo e informagées sobre atos de governo e) reclamacao relativa prestagdo dos servicos pliblicos em geral. Comentario: A questo trata do art. 37, §3° da CF, que dispoe: Att. 37 (...) § 3° A lei disciplinara as formas de participacao do usuario na administragao publica direta e indireta, regulando especialmente: 85 de 121 an _ —

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