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Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 OPN) Olé pessoal! Na aula de hoje estudaremos o tema “entidades paraestatais e terceiro setor”. Além disso, veremos as caracteristicas das agéncias reguladoras e das agéncias executivas. Para tanto, seguiremos o seguinte sumério: SUMARIO Entidades paraestatais e Terceiro Setor: Servigos sociais auténomos. Organizagées sociais (0S} Organizagdes da sociedade civil de interesse puiblico (OSCIP).. Principais distingoes entre OS e OSCIP Organizagées da Sociedade Ci Entidades de Apoi Agéncias executivas e reguladora Agéncias executivas.. Agéncias reguladora Principais distingdes entre agéncias executivas e reguladoras mmm Questdes de prova RESUMAO DA AULA. Jurisprudéncia da aula.. Questdes comentadas na aula. Gabarito... Preparados? Aos estudos! 2de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ENTIDADES PARAESTATAIS E TERCEIRO SETOR Como vimos na aula passada, a Administraco Publica formal divide- se em Administrag&o Direta e Indireta, sendo a primeira subdividida em 6rg&os sem personalidade juridica, utilizada para o exercicio de atividades centralizadas por parte do Estado, e a segunda, a indireta, composta por entidades com personalidade juridica propria, exercendo fungées descentralizadas. No entanto, os érgaos e entidades da Administrag&o Publica formal n&o s&o capazes de atender todas as demandas da sociedade. Sendo assim, existem outras pessoas juridicas que, embora no integrando o sistema da Administragéo Publica formal, direta ou indireta, cooperam com o governo, prestando servicos de utilidade publica. Estamos falando das entidades paraestatais. Entidades paraestatais so aquelas pessoas juridicas que atuam ao lado e em colaboracao com o Estado, sem com ele se confundirem. Trata-se de pessoas privadas, vale dizer, instituidas por particulares, sem fins lucrativos, que exercem funcéo tipica, embora nao exclusiva, do Estado, se sujeitando ao controle direto ou indireto do Poder Ptiblico. Maria Sylvia Di Pietro apresenta a seguinte conceituagao: Entidades paraestatais sao pessoas privadas que colaboram com o Estado desempenhando atividade n&o lucrativa e as quais 0 Poder Ptiblico dispensa especial protec, colocando a servico delas manifestagdes do seu poder de império, como 0 tributério, por exemplo. Como exemplo de entidades paraestatais pode-se citar os servigos so auténomos, as organizagées sociais, as organizacées da sociedade civil de interesse ptblico e, mais recentemente, as organizagées da sociedade civil. Todas essas entidades incluem-se entre as chamadas organizagées ndo governamentais (ONGs). A importancia das entidades paraestatais cresceu a partir do processo de Reforma do Estado, movimento ocorrido no pais na segunda metade dos anos noventa que teve como fundamento, dentre outros, a diminuigéo da presenca do Estado em algumas dreas nas quais sua atuacao nao fosse imprescindivel. Nesse processo, o Poder Puiblico passou a transferir ao setor privado algumas de suas atividades ndo-exclusivas, com a justificativa de que os particulares, pelo menos em tese, poderiam desenvolvé-las de forma mais eficiente. 3de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Segundo Maria Sylvia Di Pietro, os tedricos da Reforma do Estado incluem as entidades paraestatais no denominado terceiro setor, assim entendido aquele que é composto por entidades da sociedade civil sem fins lucrativos; esse terceiro setor coexiste com o primeiro setor, que é 0 Estado, e o segundo setor, que é o mercado, ou seja, o setor privado empresarial, com fins lucrativos. As entidades paraestatais ndo fazem parte da Administracéo Indireta; elas integram o terceiro setor. © terceiro setor caracteriza-se por prestar atividade de interesse publico, por iniciativa privada, sem fins lucrativos. Justamente pelo interesse pUblico da atividade, as entidades que integram o terceiro setor podem receber incentivos do Estado, inclusive sob a forma de aportes de recursos pUblicos. Tais incentivos € que compdem a_atividade administrativa de fomento. Por essa razéo, as entidades paraestatais, embora instituidas por particulares, se sujeitam a algumas normas de direito ptblico, como o controle pela Administracéo Publica e pelo Tribunal de Contas. Detalhe importante é que as entidades do terceiro setor nao precisam, necessariamente, manter qualquer vinculo com o Poder Publico. Se mantiver - que seria 0 caso, por exemplo, de uma associag’o que se qualifica como organizacéo social para receber repasse de recursos pliblicos - essa entidade do terceiro setor passa a ser considerada entidade paraestatal. Por outro lado, se uma entidade privada desenvolver atividade ndo econémica de interesse do Estado e, apesar disso, nao mantiver qualquer vinculo com o Estado, ela seria uma entidade do terceiro setor, mas ndo uma paraestatal, qualificag’o que pressupée algum vinculo como Poder Piiblico'. 1 Lucas Furtado (2014, p. 181). Ade 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Alguns doutrinadores mais tradicionais empregam o termo “entidade paraestatal” para abranger toda pessoa juridica que tenha vinculo com o Estado, incluindo, assim, as entidades da administragdo indireta de direito privado (empresas piblicas, sociedades de economia mista e fundacdes publicas de direito privado), e também 0s servicos sociais auténomos. Conforme o pensamento do autor, “ou a pessoa caracteriza-se como estatal, se for integrante do préprio Estado, como é 0 caso das pessoas federativas, ou, nio sendo assim, ter ela que qualificar-se como paraestatal, por atuar em direta colaboraco com o Estado por forga de vinculo juridico formal”. Todavia, esse conceito tradicional de “entidades paraestatais” ndo tem sido adotado pela doutrina mais moderna, a qual considera que o termo abrange exclusivamente pessoas privadas que exercem atividades de interesse ptiblico que dio integram a Administraao Publica formal. Em suma, os principais atributos das entidades paraestatais sao: = Ent jades privadas, ou seja, sao instituidas por particulares; + Desempenham servigos néo exclusivos do Estado, porém em colaboracao com ele; + Recebem algum tipo de incentivo do Poder Publico (fomento); = Se sujeitam ao controle da Administracao Ptiblica e do Tribunal de Contas. + Regime juridico de direito privado, porém parcialmente derrogado por normas de direito piiblico; + Nao fazem parte da Administracéo Indireta; = Integram do terceiro setor. Sde 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 4. (Cespe — PC/BA 2013) Entidades paraestatais s4o pessoas juridicas privadas que colaboram com o Estado no desempenho de atividades nao lucrativas, mas nao integram a estrutura da administracao publica Comentario: © quesito esta correto, pois apresenta o exato conceito de entidades paraestatais. Exemplos de entidades paraestatais so organizacées sociais (OS), organizagées da sociedade civil de interesse publico (OSCIP) e servicos sociais auténomos. Vale prestar atencao no fato de que as entidades paraestatais, embora recebam fomento do Estado, nao integram a estrutura formal da Administragao Publica, vale dizer, nao sao entidades da Administracao Indireta e muito menos érgaos da Administracao Direta. Gabarito: Certo Vejamos entéo um pouquinho mais sobre cada uma das entidades paraestatais mais estudadas pela doutrina. SERVIGOS SOCIAIS AUTONOMOS: Os servigos sociais auténomos desempenham atividades de utilidade publica, sem fins lucrativos, que beneficiam determinados grupamentos sociais ou profissionais, usualmente direcionadas ao aprendizado profissionalizante ¢ a prestacéo de servicos assistenciais. Séo exemplos de servigos sociais auténomos as entidades do “Sistema S”, dentre elas: + SESC - Servico Social do Comércio e SESI - Servigo Social da Industria, destinados a assisténcia social a empregados dos setores comercial e industrial, respectivamente; + SENAI - Servico Nacional de Aprendizagem Industrial; SENAC - Servigo Nacional de Aprendizagem Comercial, destinados a formacio profissional e educagao para o trabalho. * SEBRAE - Servico Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas, que se destina a execucéo de programas de auxilio e orientagdo a empresas de pequeno porte. 6de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 * SENAR - Servico Nacional de Aprendizagem Rural, com o objetivo de organizar, administrar e executar 0 ensino da formacéo profissional rural e a promogio social do trabalhador rural; + SEST - Servico Social do Transporte e SENAT - Servico Nacional de Aprendizagem do Transporte, que incentivam a formagéo profissional dirigida aos servicos de transporte; + SESCOOP - Servico Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, que atua na formaco profissional, desenvolvimento e promogo social do trabalhador em cooperativa e dos cooperados. Os servicos sociais auténomos possuem administragéo e patriménio proprios e sao constituidos sob a forma de instituicées particulares convencionais (fundagées, sociedades civis ou associagées). A griac&o dos servigos sociais auténomos depende de autorizacéo em lei, a exemplo do que ocorre com as pessoas da Administracao Indireta de direito privado. Assim, a aquisigéo de sua personalidade juridica somente se dé com a inscrig&o dos seus atos constitutivos no registro competente. Porém, ao contrario das entidades da Administracao Indireta, no é Poder Executivo quem usualmente recebe autorizag&o para criar os servigos sociais auténomos. Diferentemente, tal encargo geralmente é conferido pela lei autorizadora a entidades representativas de categorias econémicas, como a Confederacdo Nacional da Industria - CNI, a Confederacao Nacional do Comércio - CNC, dentre outras. Ressalte-se que, embora sejam criados por autorizagao dada em lei, os servigos sociais auténomos, assim como as demais entidades paraestatais, no integram a Administracéo Publica formal, direta ou indireta. Os servigos sociais auténomos, embora criados por autorizacéo em lei, nao integram a Administracdo Publica formal. 7 de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Embora a criagio dos servigos sociais auténomos geralmente seja tarefa atribuida as Confederacdes Nacionais, algumas leis recentes tém autorizado o Poder Executivo a instituir entidades com essa classificacao. Todavia, essas novas entidades criadas pelo Executivo, conquanto denominem-se servicos sociais auténomos, destes se diferenciam em muitos aspectos, a comesar pelo fato de dependerem quase exclusivamente de recursos do orgamento piiblico para sobreviver. So exemplos dessas entidades a APEX-Brasil Agéncia de Promocio de ExportagGes do Brasil e a ABDI — Agéncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Carvalho Filho salienta que esses servigos sociais auténomos mais recentes afastaram-se do modelo classico e se aproximaram das pessoas administrativas integrantes da Administracdo Indireta. Todavia, o autor ressalta que, mesmo nesses casos, 0s servicos sociais auténomos ndo pertencem & Administraao Indireta. Na verdade, a instituigdo dessas novas entidades fez surgir um regime hibrido: so tipicas pessoas administrativas, embora excluidas da formalmente da Administracio Indireta. A necessidade de lei para autorizar a criagéo dos servicos sociais auténomos decorre do fato de que suas atividades sdéo mantidas, predominantemente, por contribuigdes arrecadadas compulsoriamente de determinados contribuintes, as chamadas contribuigées parafiscais. Tais recursos s&o arrecadados pela Receita Federal e repassados diretamente as entidades, ou seja, ndo chegam a compor o erdrio ou transitar pelo orgamento piblico. Apesar disso, s& considerados recursos ptiblicos, afinal, as contribuigdes séo compulsérias, ou seja, pagas obrigatoriamente pelos contribuintes, a semelhanca dos tributos. Além disso, sua aplicagdo deve estar vinculada aos objetivos institucionais da entidade definidos na lei instituidora, sob pena de desvio de finalidade passivel de controle pelos érgéios ptiblicos competentes. Detalhe importante é que, segundo a jurisprudéncia do STF, a instituigfo das contribuigdes parafiscais pode ser feita mediante lei ordinaria, sendo desnecesséria a edigdo de lei complementar?. 2 RE 635.682/R) Bde125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Os contribuintes das contribuicées parafiscais sio as pessoas juridicas incluidas no setor econémico a que esté vinculada a entidade. Para o SENAI e o SESI, por exemplo, sdo contribuintes as empresas inseridas no setor da industria, ao passo que para o SESC e o SENAC contribuem as empresas do comércio?. © Supremo entende que a cobranca da contribuigéo é valida independentemente de contraprestacio direta em favor do contribuinte. Para surgir a obrigagdo de recolher a contribuicéio, 0 que importa é téo somente o setor econémico em que a empresa atua, e ndo © fato de ser diretamente beneficiada pelo servico prestado pela entidade paraestatal. Maria Sylvia Di Pietro esclarece que os servigos sociais auténomos no prestam servico publico delegado pelo Estado, mas atividade privada de interesse ptiblico (servicos nao exclusivos do Estado). Assim, no se trata de servico ptiblico que incumbisse ao Estado e que ele tenha transferido a outra pessoa juridica, por meio da descentralizacdo. Trata-se, sim, de atividade privada de interesse publico que o Estado resolveu incentivar e subvencionar. A atuag&o estatal, no caso, é de fomento e nao de prestacdio de serviso publico. Os servicos sociais auténomos, por serem pessoas juridicas de direito privado, sujeitam-se, basicamente, as regras de direito privado. Todavia, pelo fato de administrarem recursos publicos, também se submetem a algumas normas de direito ptiblico, sobretudo no que toca a utilizac&o dos recursos, prestacdo de contas e aos fins institucionais. Com efeito, os servicos sociais auténomos se submetem a controle pelo Poder Publico, nos termos e condicgées estabelecidas na legislacéo pertinente a cada entidade. E o que dispde o Decreto-Lei 200/1967: ‘Art. 183. As entidades e organizagdes em geral, dotadas de personalidade juridica de direito privado, que recebem contribuigdes para fiscais e prestam servicos de ou social, estao sujeitas 4 fiscalizagéo do Estado nos termos e condicGes estabelecidas na legislaco pertinente a cada uma. Assim, as leis instituidoras dessas entidades devem prever os meios de controle a que se submetem. 3 Também contribuem para o SESC e o SENAC as empresas prestadoras de servico, salvo quando integram outro servigo social (Siimula STI 499). 9de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Ainda quanto ao controle, vale destacar que os servicos sociais auténomos esto sempre vinculados & superviséo do Ministério em cuja drea de competéncia estejam enquadrados. O SESI, SENAI, SESC e SENAC, por exemplo, esto vinculados ao Ministério do Trabalho *. Ademais, também devem prestar contas ao Tribunal de Contas da Unido. Detalhe importante 6 que, segundo a jurisprudéncia do TCU, os servigos sociais auténomos pgo se submetem inteiramente a Lei de Licitagées. De fato, a Corte de Contas entende que tais entidades, nas suas contratagdes, devem observar apenas os principios da Administragéo Ptiblica, e nado necessariamente os procedimentos previstos na Lei 8.666/1993, podendo, em consequéncia, editar regulamentos préprios para definir as regras relativas aos contratos que venham a celebrar>. Todavia, ressalte-se que os servicos sociais auténomos néo podem inovar na ordem juridica por meio de seus regulamentos préprios, por exemplo, instituindo novas hipéteses de dispensa e de inexigibilidade de licitagdo, haja vista que a matéria deve ser disciplinada por norma geral, de competéncia privativa da Uniao°. Dessa forma, tais regulamentos devem conter apenas regras procedimentais, como ntimero minimo de propostas, prazos, meios de garantir a publicidade ete. Por fim, vale destacar que o STF jé deixou assente que as entidades do Sistema "S” possuem natureza privada e ndo integram a administragdo publica, direta ou indireta, razéo pela qual elas ndo estéo obrigadas a realizar concurso publico para contratar pessoal’. ORGANIZACOES SOCIAIS (0S) Maria Sylvia Di Pietro assim define as organizagées sociai ‘Organizagao social 6 a qualificacao juridica dada a pessoa juridica de direito privado, sem fins lucrativos, instituida por iniciativa de particulares, e que recebe a delegacdo do Poder Publico, mediante contrato de gest&o, para desempenhar servico ptiblico de natureza + 96/19 2 © TCU: Informative de Licitacdes e Contratos 159/2013 7RE789.874 10 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Conforme ensina a professora, nenhuma entidade nasce com o nome de organizacao social; a entidade é criada como associacao ou fundagdo privada e, habilitando-se perante o Poder Publico, recebe a qualificagao; trata-se de titulo juridico outorgado e cancelado pelo Poder Publico. Assim, ao invés de montar um hospital puiblico ou posto de satide, o Poder Publico pode buscar no setor privado alguma entidade privada sem fim lucrativo que atua nesse setor, a qualificar como organizagao social e repassar entidade privada os recursos publicos necessérios a prestacdo dos servicos & populacéo®. As organizacées__ soci: néo séo uma categoria de pessoa juridica. Trata-se, apenas, de uma qualificagdo atribuida pelo Poder Ptblico a determinadas entidades privadas. No Ambito da Reforma do Estado, as organizagdes sociais foram idealizadas para substituir a Administragéo Publica em determinadas areas, mediante a “absorgéo” das atividades exercidas por érgéos e entidades administrativas a serem extintos, processo este denominado de publicizacao. Na esfera federal, as organizagdes sociais sao regidas pela Lei 9.637/1998. A aludida Lei prescreve que 0 Poder Executive poderd qualificar como organizagées sociais as pessoas que observem trés fundamentos principais: 1. Devem ter personalidade juridica de direito privado; 2. Nao podem ter fii lucrativos; 3. Devem desenvolver atividades dirigidas ao ensino, & pesquisa cientifica, ao desenvolvimento tecnolégico, 4 protecéo e preservacdo do meio ambiente, & cultura e a satide (art. 1°) A qualificag&o como organizacao social é ato discricionario do Poder Publico, dependendo da aprovacio do Ministério competente para supervisionar ou regular a drea de atividade correspondente ao objeto social da entidade (art. 2, II). Dessa forma, a qualificagéo néo é conferida a toda e qualquer entidade que atenda aos requisitos legais, e 8 Lucas Furtado (2014, p. 182). 11de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 sim depende do juizo de conveniéncia e oportunidade da autoridade competente. As entidades qualificadas como OS s&o declaradas como entidades de interesse social e utilidade publica, para todos os efeitos legais (art. 11). A habilitacéo da entidade privada como OS é feita mediante a assinatura de contrato de gestdo° com o Poder Puiblico. E no contrato de gesto que estarao discriminadas as atribuigdes, responsabilidades ¢ obrigagées do Poder Publico e da organizacéo social. Tal instrumento é elaborado de comum acordo entre o orgéo representante do Poder Publico e a entidade qualificada. Para que passe a valer, o contrato de gestdo devera ser submetido a0 Ministro de Estado ou autoridade supervisora da area correspondente a atividade fomentada, para fins de aprovacio. Na elaborac&o do contrato de gestao, devem ser observados os principios da legalidade, impessoalidade, moralidade, _publicidade, economicidade e, também, os seguintes preceitos: * Especificacdo do programa de trabalho proposto pela organizacao social, a estipulacéo das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execucaio; * Previsdo expressa dos critérios objetivos de avaliacio de desempenho a serem utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade; * Estipulacao dos limites e critérios para despesa com remuneragao e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas pelos dirigentes e empregados das organizacées sociais, no exercicio de suas funcdes. A execugo do contrato de gestdo celebrado por organizac&o social sera fiscalizada pelo érgdo ou entidade supervisora da area de atuacdo correspondente a atividade fomentada, a qual deveré designar uma comissao para analisar os resultados atingidos com a execucéo do contrato de gest&o - controle de resultado (art. 8°). Os responsaveis pela fiscalizacéo da execugao do contrato de gestdo, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na utilizago de recursos ou bens de origem publica por organizacéo social, 90 contrato de gestio celebrado entre o Poder Pablico e as OS 6 diferente do previsto no art. 37, §8° da CF, 0 qual é celebrado entre o Poder Pilblico e entidades da Administrasao Indireta ou érgios da Administragio Direta, com a finalidade de ampliar a sua autonomia gerencial, orcamentiria e financeira, e sobre o qual falaremos quando estudarmos as “agéncias executivas” 12de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 dela dar&o ciéncia ao Tribunal de Contas da Unido, sob pena de responsabilidade solidaria (art. 9°). Além disso, sem prejuizo da comunicagéo ao TCU, os responsdveis pela fiscalizagao representaréo ao Ministério PUblico, & Advocacia- Geral da Unido ou a Procuradoria da entidade para que requeira ao juizo competente a decretacio da indisponibilidade dos bens da entidade e © sequestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente piiblico ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patriménio publico (art. 10). © 6rgao de deliberagéo superior das organizagées sociais, seu Conselho de Administragao, deve ter representantes do Poder Publico e de membros da comunidade, de notéria capacidade profissional e idoneidade moral (art. 3°). A semelhanga dos servicos sociais auténomos, as OS também néo. prestam servico ptiblico delegado pelo Estado, mas sim atividade privada de interesse ptblico (servicos nao exclusives do Estado), em seu préprio nome, com incentivo (fomento) do Estado. Conforme previsto na Lei 9.637/1998, o fomento as organizacdes sociais pode ocorrer das seguintes formas: « Destinacdo de recursos orgamentarios. + Destinacdo de bens publicos necessérios ao cumprimento do contrato de gestéo, dispensada a licitacéo, mediante permissao de uso, consoante cléusula expressa do contrato de gestéo. + Cessdo especial servidor, devendo o érgéo de origem arcar com a sua remuneragao. Um ponto importante é que os contratos a serem celebrados pela Organizac&o Social com terceiros, para aplicagéo dos recursos publicos recebidos em raz&o do contrato de gest&o, devem ser conduzidos de forma ptiblica, objetiva e impessoal, com observancia dos principios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento préprio a ser editado por cada entidade (nao precisam realizar licitagéo, portanto). E 0 que prescreve o art. 17 da Lei 9.637/1998: Art. 17. A organizagao social fara publicar, no prazo maximo de noventa dias contado da assinatura do contrato de gestdo, regulamento préprio contendo os procedimentos que adotard para a contratagao de obras e servicos, bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Piblico. 13 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Por outro lado, quando Administragéo Publica (de qualquer esfera, federal, estadual, distrital ou municipal) contrata servigos a serem prestados pelas organizagées sociais, a licitagdo é dispensavel, desde que aquele servico esteja previsto no contrato de gestéo celebrado pela organizacéo social (Lei 8.666/1993, art. 24, inciso XXIV!°). ‘Quando for a entidade contratante, a organizagBo social ndo precisa realizar licitagdo nos termos da Lei 8.666/1993, mas deverd observar os procedimentos de regulamento prdprio, conduzindo as contratacées de forma publica, objetiva e impessoal. Por outro lado, quando for a entidade contratada pelo Poder Publico para prestar servicos. previstos no contrato de gestiio, a licitacdo é dispensdvel. Quando constatado o descumprimento das disposigées contidas no contrato de gestéo, o Poder Executivo poderd proceder 4 desqualificagao da entidade como organizacao social (art. 16). Sobre esse ponto, Carvalho Filho anota que, a despeito de a lei haver empregado a expressdo “poderé proceder 4 desqualificagéo”, dando a impressio de que se trata de conduta facultativa, o certo é que, descumpridas as normas e cldusulas a que esté submetida, a Administragao exerceré atividade vinculada, devendo (e néo podendo) desqualificar a entidade responsavel pelo descumprimento. A desqualificacio sera precedida de processo administrativo, assegurado o direito de ampla defesa, respondendo os dirigentes da organizag&o social, individual e solidariamente, pelos danos ou prejuizos decorrentes de sua ago ou omissao. A desqualificago importaré reversdéo ao Poder Ptiblico dos bens e dos valores entregues a utilizag&o da organizacao social, sem prejuizo de outras sangées cabiveis. wart 24, E dispensavel alicitacio: XXIV - para a celebracdo de contratos de prestacdo de servigos com as organizagées sociais, qualificadas no ambito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestio. 14de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Em 1998, na ADI 1.923/DF, PT e PDT questionaram a constitucionalidade da Lei 9.637/1998 e da possibilidade de dispensa de licitaco prevista no art. 24, XXIV, da Lei 8.666/1993. Apés muitos anos, recentemente (16/4/2015), 0 STF julgou o mérito da referida Aco, reconhecendo 2 constitucionalidade das normas, ressaltando apenas a necessidade de observancia dos principios administrativos previstos no art. 37 da Constituic&o Federal. A decisdo também confirma o poder do Ministério Publico e do Tribunal de Contas da Unido para fiscalizar a aplicacao correta dos recursos recebidos pelas entidades. Além de reconhecer a constitucionalidade das normas, o STF fixou alguns entendimentos sobre a matéria. Vejamos: a) 0 procedimento de qualificagao das organizagées sociais deve ser conduzido de forma publica, objetiva e impessoal, com observancia dos princfpios do “caput” do art. 37 da CF, e de acordo com pardmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98; b) a celebracao do contrato de gestdo deve ser conduzida de forma publica objetiva e impessoal, com observancia dos principios do “caput” do art. 37 da CF; c) as hipéteses de dispensa de licitago para contratagdes (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e outorga de permissao de uso de bem piiblico (Lei 9.637/1998, art. 12, § 32) so validas, mas devem ser conduzidas de forma publica, objetiva e impessoal com observancia dos principios do “caput” do art. 37 da CF; d) os contratos a serem celebrados pela Organizacao Social com terceiros, com recursos ptiblicos, devem ser conduzidos de forma publica, obietiva ¢ impessoal com observancia dos principios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento préprio a ser editado por cada entidade (néo precisam realizar licitagao, portanto); d) a selegao de pessoal pelas organizagées sociais deve ser conduzida de forma publica, objetiva e impessoal, com observancia dos principios do “caput” do art. da CF, e nos termos do regulamento préprio a ser editado por cada entidade; e e) qualquer interpretacao que restrinja o controle, pelo Ministério Publico e pelo Tribunal de Contas da Unido, da aplicacao de verbas publicas deve ser afastada 15 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 2. (ESAF - AFRFB 2005) Assinale entre o seguinte rol de entidades de cooperagio com o Poder Piiblico, ndo-integrantes do rol de entidades descentralizadas, aquela que pode resultar de extingdo de entidade integrante da Administra¢ao Publica Indireta. a) Organiza¢ao social. b) Fundagao previdenciaria ) Organizacao da sociedade civil de interesse puiblico. ) Entidade de apoio as universidades federais e) Servico social auténomo. Comentario: Trata-se das organizacées sociais (op¢do “a”). Conforme ensina Carvalho Filho, a necessidade de ser ampliada a descentralizacao na prestacdo de servicos piiblicos levou o Governo a instituir 0 Programa Nacional de Publicizacao, através da Lei 9.637/1998, pelo qual algumas atividades de carater social, hoje exercidas por entidades e drgaos administrativos de direito piiblico, poderao ser posteriormente absorvidas por pessoas de direito privado, segundo consta expressamente do art. 20: Art. 20. Sera criado, mediante decreto do Poder Executivo, o Programa Nacional de Publicizagao - PNP, com o objetivo de estabelecer diretrizes e critérios para a qualificagao de organizacées sociais, a fim de assegurar a absorcao de atividades desenvolvidas por entidades ou 6rgaos piblicos da Unido, que atuem nas atividades referidas no art. 10, por organizagses sociais (...) A absorgao implicara, naturalmente, a extincdo daqueles érgaos e entidades, assim como a descentralizacéo dos servicos para a execucao sob regime de parceria. Gabarito: alternativa “a” 16 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ORGANIZAGOES DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PUBLICO (OSCIP) Maria Sylvia Di Pietro assim define as organizacdes da sociedade civil de interesse ptiblico (Oscip): ‘Organizacao da sociedade civil de interesse publico (Oscip) é a qualificac&o juridica dada a pessoas juridicas de direito privado, sem fins lucrativos, institufdas por iniciativa de particulares, para desempenhar servigos sociais nao exclusivos do Estado com incentivo e fiscalizagao pelo Poder PUblico, mediante vinculo juridico instituido por meio de termo de parceria. Da mesma forma que as organizagdes sociais, as Oscip nao constituem uma categoria de entidades, e sim uma qualificagdo conferida pelo Poder Publico a determinadas pessoas privadas, sem fins lucrativos, que exercem atividade social ou de utilidade publica. Na esfera federal, as Oscip séio regidas pela Lei 9.790/1999. Segundo a referida lei, as Oscip deveréo atuar em pelo menos uma das seguintes finalidades (art. 3°): = Promogéo da assisténcia social, da cultura, defesa e conservacao do patriménio histérico e artistico; = Promogo gratuita da educacao e da satide; = Promogo da seguranga alimentar e nutricional; = Defesa, preservacdo e conservacao do meio ambiente promogio do desenvolvimento sustentavel; = Promogo do voluntariado; = Promocao do desenvol lento econdmico e social e combate a pobreza; = Experimentago, no lucrativa, de novos modelos sécio-produtivos e de sistemas alternativos de produc&o, comércio, emprego e crédito; = Promogio de direitos estabelecidos, construcdo de novos direitos e assessoria juridica gratuita de interesse suplementar; = Promoséo da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; = Estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, producio e divulgaco de informagées e conhecimentos técnicos e cientificos que digam respeito as atividades antes mencionadas. = Estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilizacao e a implementacéo de tecnologias voltadas & mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte. 17 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Além de atuar em algum dos segmentos acima, a lei estabelece que 86 podem se qualificar como OSCIP as pessoas juridicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituidas e se encontrem em funcionamento regular hd, no minimo, 3 (trés) anos (art. 1°, caput). Além disso, a Lei 9.790/1999 enumerou um rol de entidades que nao poderdo ser qualificadas como Oscip, ainda que se dediquem de qualquer forma as atividades anteriormente descritas. Sao elas (art. 2°): * Sociedades comerciais; = Sindicatos, as associagGes de classe ou de representagao de categoria profissional; = Instituigdes religiosas ou voltadas para a disseminacao de credos, cultos, praticas € visdes devocionais e confessionais; = Organizacdes partidérias e assemelhadas, inclusive suas fundacdes; = Entidades de beneficio miituo destinadas a proporcionar bens ou servicos a um circulo restrito de associados ou sécios; = Entidades e empresas que comercializam planos de satide e assemelhados; "= _InstituicSes hospitalares privadas nao gratuitas e suas mantenedoras; = Escolas privadas dedicadas ao ensino formal nao gratuito e suas mantenedoras; = Organizacées sociais; = Cooperativas; = Fundacées publicas; = Fundacées, sociedades civis ou associacées de direito privado criadas por érgio ptiblico ‘ou por fundagdes publicas; " Organizacdes crediticias que tenham quaisquer tipo de vinculacgo com o sistema janceiro nacional. A entidade privada interessada em obter a qualificacéio como organizacio da sociedade civil de interesse puiblico deveré formalizar requerimento perante o Ministério da Justica (art. 5°). Assim, a qualificagéo € sempre concedida pelo Ministério da Justica, e no pelo Ministério correspondente a area de atuagao da entidade. A outorga da qualificacéo de Oscip é ato vinculado ao cumprimento dos requisitos instituidos pela Lei 9.790/1999, ou seja, o Ministério da Justiga sé poderé indeferir o pedido no caso de a pessoa juridica requerente desatender a algum desses requisitos (art. 19, §19; art. 6°, §3°). 18 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Alids, essa é uma diferenca relevante entre as Oscip e as OS, uma vez que a qualificagéo como organizacio social _constitui ato discricionario, cabendo ao Ministro de Estado ou titular do érgéo supervisor correspondente a drea de atuacéio da entidade decidir quanto conveniéncia e oportunidade de sua qualificacéio (Lei 9.637/1998, art. 2°, inciso 1). A qualificagéo como oraanizacdo social € ato discricionério. 34 a qualificagio como Oscip é ato vinculado. O vinculo de cooperagéo entre o Poder Publico e as entidades gualificpdas como Oscip se dé mediante a celebracéo de termo de No termo de parceria devem estar previstos os direitos e as obrigagées das partes signatérias, tais como 0 objeto do ajuste, as metas, os prazos de execugio, os critérios de avaliagéo de desempenho, a previsdo de receitas e despesas e a obrigatoriedade de apresentagéo de relatério anual demonstrando os resultados alcangados, acompanhado da respectiva prestacdo de contas. E possivel a vigéncia simultanea de dois ou mais termos de parceria, ainda que com o mesmo érgiio estatal, desde que a Oscip tenha capacidade operacional para executar seus objetos. Embora a qualificagao seja conferida pelo Ministério da Justiga, a execucéio do objeto do termo de parceria sera acompanhada e fiscalizada por 6rgio do Poder Ptiblico da 4rea de atuacdo correspondente a atividade fomentada, e pelos Conselhos de Politicas Ptiblicas das reas correspondentes de atuacdo existentes, em cada nivel de governo (art. 11) Os resultados atingidos com a execugio do termo de parceria devem ser analisados por comissdo de avaliacéo, composta de comum acordo entre 0 érgéo parceiro e a Oscip. A comisséo devera apresentar a autoridade competente um relatério conclusivo sobre a avaliacdo procedida (art. 11). Os responsdveis pela fiscalizacéo do termo de parceria, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na utilizagdo de recursos ou bens de origem publica pela organizag&o parceira, darao 19 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 imediata ciéncia ao Tribunal de Contas respectivo e ao Ministério Publico, sob pena de responsabilidade solidaria (art. 12). Além disso, sem prejuizo dessa comunicacao, os responsdveis pela fiscalizacdo representarao ao Ministério Publico e 4 Advocacia-Geral da Unido para que requeiram ao juizo competente a decretagdo da indisponibilidade dos bens da entidade e 0 sequestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente pubblico ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patriménio publico (art. 13). Da mesma forma que as organizagées sociais, as Oscip nde precisam observar os procedimentos da Lei 8.66/93 para celebrar contratos com recursos pUblicos. Elas podem editar regulamentos préprios, devendo ainda observar os principios d Administragéo Publica e conduzir os certames de forma publica, objetiva e impessoal. Por outro lado, a Lei 8.666/1993 no prevé hipétese de dispensa de licitag&o para que a Administrac&o Publica contrate uma Oscip. Vale dizer, © fato de uma entidade ser qualificada como Oscip nao é, por si sé, fundamento para que o Poder Publico dispense a licitagdo caso pretenda contratar essa entidade para prestar algum servico. A Lei de Licitagées p30 permite que a Administracao contrate OSCIP por dispensa de licitacao; permite apenas a contratacao de os. Na hipétese de posterior descumprimento dos requisitos legais, a perda da qualificagao como Oscip ocorrera mediante decis&o proferida em processo administrativo, instaurado no Ministério da Justiga, de oficio ou a pedido da entidade interessada, ou judicial, de iniciativa popular ou do Ministério Publico, nos quais seréo assegurados a ampla defesa e 0 contraditdrio (Decreto 3.100/1999, art. 4°). Na hipétese do pedido de desqualificacéio ser proveniente de iniciativa popular, a Lei veda 0 anonimato e estabelece que o pedido deva ser amparado em fundadas evidéncias de erro ou fraude (art. 8°). 20 de 125 an _ — Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 3. (Cespe - TCDF 2012) Uma OSCIP que receba recursos financeiros oriundos de termo de parceria com 0 governo do DF estara obrigada a seguir a Lei de Licitagdes da administragao publica para comprar com esses recursos. Comentario: Conforme estabelece a Lei 9.790/1999: Art. 14. A organizacdo parceira fara publicar, no prazo maximo de trinta dias, contado da assinatura do Termo de Parceria, requlamento proprio contendo os procedimentos que adotara para a contratacao de obras e servicos, bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Piiblico, ‘observados os principios estabelecidos no inciso | do art, 4o desta Lei. Isso significa que a OSCIP, em regra, ao utilizar recursos ptiblicos em suas aquisiges de bens e servicos, devera observar os principios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiéncia. Entretanto, ela nao precisara seguir os procedimentos da Lei 8.666/1993, e sim o seu regulamento préprio. Gabarito: Errado 4. (Cespe - AGU 2012) Para que sociedades comerciais e cooperativas obtenham a qualificacao de organizacées da sociedade civil de interesse puiblico, é preciso que elas nao possuam fins lucrativos e que tenham em seus objetivos sociais a finalidade de promocao da assisténcia social Comentario: E certo que a qualificagdo de OSCIP somente sera conferida &s pessoas juridicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das finalidades listadas no art. 3° da Lei 9.790/1999, dentre as quais, a “promocdo da assisténcia social” (inciso |). Entretanto, nos termos do art. 2° da mesma lei, “sociedades comerciais” e “cooperativas”, dentre outras entidades, nao sao passiveis de qualificagdo como OSCIP, dai o erro. De se destacar, ainda, a previsao do caput do art. 1° no sentido de que a entidade privada, para se qualificar como OSCIP, deve estar em funcionamento regular ha, no minimo, 3 anos. Gabarito: Errado 21.de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 PRINCIPAIS DISTINGOES ENTRE OS E OSCIP As organizacées sociais (OS) e as organizacées da sociedade il de interesse ptiblico (Oscip) possuem regimes juridicos bastante parecidos. Em ambos os casos, temos pessoas privadas, sem fins lucrativos, que exercem atividades de interesse social ou de utilidade publica e recebem uma qualificagao do Poder Publico, observadas as exigéncias legais. Uma vez qualificadas, as entidades passam a receber algum auxilio por parte do Estado, dentro da atividade de fomento. Contudo, OS e Oscip apresentam muitas diferencas. Para destacar as principais, vamos elaborar um quadro comparativo!!: Foram idealizadas para substituir érgdos e entidades da Administragéo Publica, que seriam extintos e teriam suas atividades “absorvidas” pela OS. Formalizam parceria com o Poder Publico mediante contrato de gestao. Qualificacio é ato discricionario, Qualificagéo depende de aprovagéo pelo Ministro de Estado ou titular de drgdo supervisor ou regulador da drea de atividade correspondente ao objeto social da os. Nao foram idealizadas para substituir érgos € entidades da Administragio Publica. Formalizam parceria com o Poder Publico mediante termo de parceria. Qualificagéo ¢ ato vinculado. Qualificago concedida pelo Ministério da A lei exige que @ OS possua um Conselho de Administragio, do qual__participem representantes do Poder Ptiblico; néo exige que a OS tenha Conselho Fiscal. A lei exige que a 0: Conselho Fiscal; ndo exige que a Oscip tenha um Conselho de Administragéo. N&o hd um: exigéncia de que existam representantes do Poder Publico em algum érgdo da entidade. E hipétese de licitagdo dispensavel contratac&o de OS pelo Poder Pubblico, para a ‘0 desempenho de atividades contempladas no contrato de gestao. Nao existe hipstese de licitagéo dispensavel para a contratacéo de Oscip pelo Poder Publico. 11 Adaptado de Alexandrino, M.e Paulo, V (2014, p. 155). 22 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ‘A desqualificagdo como OS pode ser feita | A desqualificac3o como Oscip pode ser feita pelo Poder Executive, em proceso | a pedido da prépria entidade, por administrativo, assegurado 0 contraditérioe | de qualquer cidadéo ou do aampla defesa. Publico, em processo administrative ou judicial, assegurado 0 contraditério e a ample defesa. Por fim, ressalte-se que uma entidade n&o pode ser qualificada como OS e OSCIP ao mesmo tempo. 23 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ORGANIZAGOES DA SOCIEDADE CIVIL A Lei 13.019/2014" trouxe uma disciplina mais abrangente e rigorosa acerca das parcerias entre o Poder Publico e as entidades do terceiro setor, estas Ultimas chamadas genericamente na lei de Organizacées da Sociedade Civil (OSC). Conforme o seu art. 1°, a lei institui normas gerais para as parcerias entre a Administracio Publica e Organizagdes da Sociedade civil, em regime de mtitua cooperacao, para a consecugdo de finalidades de interesse piblico e reciproco, mediante a execugao de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos de colaboragdo, em termos de fomento ou em acordos de cooperacao. Note que a Lei 13.019/2014 institui “normas gerais”, as quais séo aplicaveis as trés esferas de governo (Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios). Saliente-se que os entes podem estabelecer normas préprias e especificas, desde que observem as normas gerais contidas na lei. Nem todos os dispositivos da Lei 13.019/2014 sao obrigatérios para as demais esferas de governo. Por exemplo, o art. 15 preceitua que “poderd ser criado, no Gmbito do Poder Executivo federal, o Conselho Nacional de Fomento e Colabora¢éo, de composicéo paritdria entre representantes governamentais e organizacées da sociedade civil, com a finalidade de divulgar boas préticas e de propor e apoiar politicas e agées voltadas ao fortalecimento das relacdes de fomento e de colaboragéio previstas nesta Lei”. Como 0 dispositivo fala em “Poder Executivo federal’, é vélido apenas para a Unio. Abrangéncia Vamos entao falar a respeito da abrangéncia da Lei 13.019/2014, mais especificamente sobre o alcance dos termos “Administrag&o Publica” e “Organizagéo da Sociedade Civil", que s&o justamente as partes celebrantes dos instrumentos de parceira. 2A Lei 13.019/2014 teve sua vigéncia adiada por diversas vezes. Por fim, o prazo de vigéncia ficou sendo de 540 dias apés a data de sua publicagio (ocorrida em 1/8/2014). Assim, a lei finalmente entrou em vigor em 23/01/2016. Para os Municipios, contudo, a Lei 13.019/2014 s6 entra em vigor a partir de 19/1/2017, sendo facultada a implantagio das suas disposigdes a partir de 23/01/2016 mediante a edicao de ato administrativo local (art. 88, §§12 © 28) 24 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Em relagéo 4 Administrag’o Publica, a lei abrange os érgéos da administrag&o direta da Unido, dos Estados, DF e Municipios, assim como as respectivas autarquias, fundagédes e empresas estatais dependentes prestadoras de servico publico. Lembrando que ‘empresas estatais dependentes so as empresas ptiblicas e sociedades de economia mista, e suas subsididrias, que recebam recursos da Unido, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municipios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral. Ou seja, a lei nao incide sobre estatais néo dependentes e exploradoras de atividade econémica. Sendo assim, o termo “Administragado Publica”, para fins de aplicag&o da Lei 13.019/2014, compreende: Administragao Publica Eten Distrito Federal Municipios Autarquias Fundages EP e SEM "dependentes" prestadoras de servico piiblico Pee eR tc Quanto as Organizacées da Sociedade Civil, pode-se afirmar que sao todas as do terceiro setor que fagam parceria com o Poder Publico'. Especificamente, para fins de aplicacao da Lei 13.019/2014, o termo “organizago da sociedade civil” compreende: * entidade privada sem fins lucrativos que nao distribua entre os seus sécios ou associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou liquidos, dividendos, isengdes de qualquer natureza, participacdes ou parcelas do seu patriménio, auferidos mediante o exercicio de suas 18 Di Pietro (2014, p. 631) 25 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 atividades, e que os aplique integralmente na consecucdo do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituicéio de fundo patrimonial ou fundo de reserva; + sociedades cooperativas previstas na Lei n° 9.867, de 10 de novembro de 1999; as integradas por pessoas em situacdo de risco ou vulnerabilidade pessoal ou social; as alcancadas por programas e acdes de combate 4 pobreza e de geracéo de trabalho e renda; as voltadas para fomento, educacéo e capacitagéo de trabalhadores rurais ou capacitacao de agentes de assisténcia técnica e extensdo rural; e as capacitadas para execuc&o de atividades ou de projetos de interesse ptiblico e de cunho social. * organizacées religiosas que se dediquem a atividades ou a projetos de interesse publico e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente religiosos; OrganizacGes da sociedade ci eee Con NES Ereee tin Cree tact sem fins lucrativos Cer religiosas Detalhe é que a Lei 13.019/2014, de forma diversa do que ocorre com a legislagéo das OS e OSCIP, née prevé qualquer qualificagéo formal da entidade privada como OSC, mediante ato administrativo. Para ser considerada OSC, a entidade deve simplesmente se enquadrar em alguma das trés espécies listadas acima. A partir dai, caso a OSC venha a firmar parceria com a Administragéo Publica, deverd observar as exigéncias da Lei 13.019. Como regra, qualquer parceria firmada entre a Administragéo Publica e uma entidade considerada OSC devera observar as regras da Lei 13.019/14. Contudo, é importante ressaltar que a Lei 13.019 nfo revogou as leis anteriores que disciplinam outras modalidades de parcerias entre os setores ptiblicos e privado, especialmente as Leis 9.637/98 (Organizagées Sociais) e 9.790/99 (OSCIP). Em outras palavras, as exigéncias da Lei 13.019 po se aplicam aos contratos de gestdo celebrados com Organizacdes Sociais nem aos termos de parceria celebrados com Organizagées da Sociedade Civil de Interesse Puiblico, desde que 26 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 cumpridos os requisitos da legislacéio especifica. A Lei também ndo se aplica as parcerias entre a Administragéo Publica e os servigos sociais auténomos (art. 30, III, VI e X)**. A Lei 13.019 nao se aplica aos contratos de gestéo celebrados com OS, aos termos de parceria celebrados com OSCIP, nem as parcerias com os servigos sociais auténomos. Assim, por exemplo, determinada entidade privada sem fins lucrativos podera formalizar parceria com o Poder Publico assinando um contrato de gestdo e qualificando-se como OS ou firmando um termo de parceria e qualificando-se como OSCIP ou, ainda, firmando algum dos instrumentos previstos na Lei 13.019/2014 (termo de colaboraco, termo de fomento ou acordo de cooperacao, que veremos adiante). Dessa forma, pode-se afirmar que OS, OSCIP e OSC s&o espécies di tas entre si. Por outro lado, a Lei 13.019/2014 restringiu bastante a aplicagdo do convénio como instrumento de parceria entre o setor publico e privado. Isso porque, a partir da vigéncia da lei, somente poderdo ser celebrados convénios nas seguintes hipsteses*®: + Entre entes federados ou pessoas juridicas a eles vinculadas; = Com entidades filantrépicas e sem fins lucrativos no ambito do sistema Unico de satide, nos termos do §12 do art. 199 da CF®. Assim, no podem mais existir convénios entre entes federados e entidades privadas. As parcerias celebradas com entidades privadas que se enquadrem no conceito de Organizacao da Sociedade Civil teréo que ser formalizadas por meio dos instrumentos previstos na Lei 13.019/2014 (termo de colaboracao, termo de fomento ou acordo de cooperacao). 140 art. 3° lista outros casos em que as exigéncias da Lei 13.019/2014 nao se apticam, a exemplo das transferéncias de recursos homologadas pelo Congresso Nacional ou autorizadas pelo Senado Federal naquilo em que as disposicées especificas dos tratados, acordos e convencées internacionais conflitarem com a Lei 13.019; e dos aos pagamentos realizados a titulo de anuidades, contribuigdes ou taxas associativas em favor de organismos internacionais ou entidades que sojam obrigatoriamente constitufdas por membros de Poder ou do Ministério Pablico, dirigentes de drgio ou de entidade da administragao publica, pessoas juridicas de direito piiblico interno ou pessoas juridicas integrantes da administragao piblica. 50s convénios celebrados nessas hipdteses serdo regidos pelo art, 116 da Lei 8.66/93. 1 Art, 199. A assisténcia a satide é livre & iniciativa privada § 1 As instituigoes privadas poderdo participar de forma complementar do sistema tinico de saiide, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito ptiblico ou convénio, tendo preferéncia as entidades filantrépicas eas sem fins lucrativos. 27 de 125 ice ia mee cc er Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Formalizacdo das parcerias As parcerias entre a Administracdo Publica e as Organizagdes da Sociedade Civil devem ser formalizadas por meio dos seguintes instrumentos: > Termo de colaboracao: instrumento por meio do qual s&o formalizadas as parcerias estabelecidas pela administraco publica com organizacées da sociedade civil para a consecuco de finalidades de interesse publico e reciproco propostas pela administracéo piiblica que envolvam a transferéncia de recursos financeiros; » Termo de fomento: instrumento por meio do qual sao formalizadas as parcerias estabelecidas pela administracéo publica com organizagées da sociedade civil para a consecuc&o de finalidades de interesse publico e reciproco propostas pelas organizacées da sociedade civil, que envolvam a transferéncia de recursos financeiros; > Acordo de cooperacio: instrumento por meio do qual sao formalizadas as parcerias estabelecidas pela administracdo publica com organizacdes da sociedade civil para a consecucdo de finalidades de interesse publico e reciproco que néo envolvam a transferéncia de recursos financeiros; Note que as definicdes séo iguais nos seguintes aspectos: (i) todos 0s termos so instrumentos de parcerias entre a Administrag&o Publica e as Organizagdes da Sociedade Civil; (ji) todos os instrumentos tém por finalidade a consecug&o de atividades de interesse publico e reciproco. As diferengas sao as seguintes: enquanto o termo de colaboracao € proposto pela Administragdo Publica (a OSC é chamada a “colaborar” com a Administragdo), 0 termo de fomento é proposto pela Organizacdo da Sociedade Civil (a Administrag3o “fomenta” a proposta apresentada pela entidade), sendo que ambos envolvem a transferéncia de recursos financeiros (no caso, do Poder Publico para a entidade privada). Por sua vez, 0 acordo de cooperacéo é celebrado nas hipéteses em que pe hd transferéncia de recursos financeiros, independentemente de quem propée o ajuste. 28 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 See eset Sees) eee er ett) Tem por finalidade a Tem por finalidade | Tem por finalidade a consecuglo de atividades de _consecuco de atividades de | consecucdo de atividades de interesse piblico e_interesse —piblico | interesse_ —piblico reciproco. reciproco. reciproco. Proposto pela Administragéo | Proposto pela organizacao | Proposto tanto —pela Publica, da sociedade civil administragéo publica como pela organizagio— da sociedade civil Hé transferéncia de recursos Ha transferéncia. de | Nao ha transferéncia de financeiros recursos financeiros recursos financeiros Na celebraciio do termo de colaboracdo e do termo de fomento, a Administragéo deve indicar, de forma expressa, a existéncia de pré dotagao orcamentaria para execucdo da parceria, afinal, nesses casos, haveré a transferéncia de recursos financeiros para o parceiro privado. Ademais, a celebraco desses instrumentos (termo de colaboracdo e termo de fomento) depende da aprovacdo de plano de trabalho, que descreva 0 objeto da parceria, as metas a serem atingidas e respectivos parmetros de aferig&o, os projetos a serem executados e a previséo de receitas e despesas (art. 22). Para os acordos de cooperagao, tais exigéncias néo se aplicam. A lei também estabelece alguns requisitos a serem observados pelas OSC que desejam celebrar termo de colaboragéo ou termo de fomento. Conforme o art. 33, as OSC deverao ser regidas por normas de organizagSo interna que prevejam, expressamente (art. 33): * Objetivos voltados & promocdo de atividades e finalidades de relevancia piiblica e social; * Que, em caso de dissolucéo da entidade, o respectivo patriménio liquido seja transferido a outra pessoa juridica de igual natureza que preencha os requisitos da Lei 13.019 e cujo objeto social seja, preferencialmente, 0 mesmo da entidade extinta; " Escrituragao de acordo com os principios fundamentais de contabilidade e com as Normas Brasileiras de Contabilidade; * Possuir os seguintes prazos minimos de existéncia, admitida 2 reduco desses prazos por ato especifico de cada ente na hipstese de nenhuma organizacao atingi-los: 29 de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 © Um ano, caso a parceria seja celebrada com Municipio; © Deis anos, caso a parceria seja celebrada com o Distrito Federal ou Estado; © Trés anos, caso a parceria seja celebrada com a Unido. + Possuir experiéncia prévia na realizacdo, com efetividade, do objeto da parceria ou de natureza semelhante; + Possuir instalagées, condicées materiais e capacidade técnica e operacional para o desenvolvimento das atividades ou projetos previstos na parceria e o cumprimento das metas estabelecidas. Na celebrac&o de acordos de cooperacdo, somente serd exigido o primeiro requisito acima (objetivos voltados a promocdo de atividades e finalidades de relevancia publica e social), dispensando-se os demais. Perceba que a lei exige adequacdes estruturantes por parte das Organizacdes da Sociedade Civil, as quais deverio promover, quando necessério, alteragdes em seus estatutos sociais, ajustar suas estruturas administrativas e desenvolver metodologias de planejamento e gestao compativeis com as exigéncias do regime juridico das parcerias. A Lei 13.019 admite a atuagio em rede por duas ou mais OSC, sendo que uma delas ficaré encarregada de firmar o instrumento de parceria com a Administragéo, assumindo, assim, a__ integral responsabilidade pela execugao do ajuste. Para tanto, a OSC signataria do termo de fomento ou de colaboracao deve possuir mais de cinco anos de inscricSo no CNP] e capacidade técnica e operacional para supervisionar e orientar diretamente a atuacao da organizag3o que com ela estiver atuando em rede (art. 35-A). A atuagao em rede permite que a OSC signatéria repasse recursos as entidades no celebrantes, garantindo uma maior descentralizac&o das atividades. Por fim, ressalte-se que o termo de fomento, o termo de colaboragao eo acordo de cooperacdo somente produzirao efeitos juridicos apdés a publicagao dos respectivos extratos no meio oficial de publicidade da administrag&o publica. Chamamento piblico Como regra, a celebraco de termos de colaboracdo ou de termos de fomento depende da prévia realizagéo de chamamento piblico, exceto aqueles que envolvam recursos decorrentes de emendas parlamentares as leis orcamentérias anuais (art. 24 ¢/c art. 29 e 35, I). 30 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Por sua vez, os acordos de cooperacio serdéo celebrados sem chamamento publico, exceto quando 0 objeto envolver a celebracdo de comodato, doag3o de bens ou outra forma de compartilhamento de recurso patrimonial. *Termos de colaboragao Com chamamento publico *Acordos de cooperacgéo que envolvam compartilhamento de recurso patrimonial *Termos de fomento * Acordos de cooperacao Ae ris *Termos de colaboragio e termos de a fomento que envolvam recursos de publico emendas parlamentares as LOA O chamamento ptiblico nada mais é que um procedimento destinado a selecionar a OSC para firmar parceria, de modo a tornar mais eficaz a execucéo do objeto, no qual se garanta a observancia dos seguintes Principios e dos que |hes s&o correlatos (art. 2°, XII): Orne Ofer OT eer cet cy Principios do Cfiaraleene chamamento < (OIRTAGERE publico * Put Ora E tT rane EToR cna) onvocatério Oo tacos) 31de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Ressalte-se que, embora a Lei 13.019 deixe claro que a Lei 8.666/93 (Lei de Licitagées e Contratos) no se aplica as parcerias por ela regidas (art. 84), a doutrina entende que o chamamento publico é, em esséncia, uma modalidade de licitagéo, regida por legislacéo propria. Com efeito, a Lei 13.019 apresenta praticamente os mesmos principios previstos na Lei 8.666 (conforme listado acima), além de tratar das hipdteses de dispensa e inexigibilidade do chamamento puiblico, sangées aplicaveis a entidade, dentre outros. O chamamento piiblico deve observar as seguintes fases!”: Eee In parstiag Pen etry oe. ay Peete ty - Peete heart ere oer © edital do chamamento publico deve ser amplamente divulgado em pagina do sitio oficial da administragao publica na internet, com antecedéncia minima de 30 dias (art. 26). Ressalte-se que, com 0 objetivo que garantir a isonomia entre os interessados, é vedado “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocacéio, cldusulas ou condicées que comprometam, restrinjam ou frustrem © seu caréter competitive em decorréncia de qualquer circunsténcia impertinente ou parceria”. No obstante, é per * selecionar propostas apresentadas exclusivamente por concorrentes sediados ou com representacéo atuante e reconhecida na unidade da Federaciio onde seré executado 0 objeto da parceria; * estabelecer cldusula que delimite o territério ou a abrangéncia da prestagéo de atividades ou da execugéo de projetos, conforme estabelecido nas politicas setoriai: Para o julgamento das propostas, o art. 27 impée como critério obrigatério “o grau de adequacdo da proposta aos objetivos especificos do programa ou da agéo em que se insere 0 objeto da parceria e, quando for 0 caso, ao valor de referéncia constante do chamamento”. Note: esse critério de julgamento (grau de adequaco da proposta os objetivos da parceria e ao valor de referéncia) é obrigatério, mas a lei 17 Di Pietro (2014, p. 636) 32 de 125 Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 permite que outros critérios também possam ser previstos no edital (juntamente com o obrigatério, logicamente), conforme disposto no art. 24, §19, inciso V. Detalhe interessante é que a lei admite a selecdo de proposta que nao for a mais adequada ao valor de referéncia constante do chamamento puiblico. A unica exigéncia é que, neste caso, a escolha deve ser obrigatoriamente justificada (art. 27, §5°). 0 julgamento das propostas € feito por uma comissdo de selecéo previamente designada. Tal comisséo € um érgdo colegiado que deve contar a participagdo de pelo menos um servidor ocupante de cargo efetivo ou emprego permanente do quadro de pessoal da Administrag&o Publica (art. 2°, X). Ressalte-se que, se o projeto for financiado com recursos de fundos especificos'®, a comissao de selecao serd o respectivo conselho gestor, no se aplicando, portanto, a regra de conter pelo menos um servidor efetivo. Ser impedida de participar da comissao de selegdo pessoa que, nos ltimos 5 anos, tenha mantido relac&o juridica com, ao menos, uma das entidades participantes do chamamento pubblico. Configurado 0 impedimento, devera ser designado membro substituto que possua qualificacao equivalente a do substituido (art. 27, §§2° e 3°). Concluido © julgamento, a Administragéo Publica homologaré o resultado e o divulgaré no mesmo site em que o edital foi publicado (art. 27, §49). Importante destacar que a homologacéio nde gera direito para a OSC a celebrag&o da parceria (art. 27, §6°). Encerrada essa fase, a Administracao Publica proceder & verificagdo dos documentos que comprovem o atendimento pela OSC selecionada dos requisitos exigidos na lei, notadamente a adequac&o das suas normas de organizac&o interna segundo os critérios do art. 33 e a apresentacao de certiddes de regularidade fiscal e juridica, conforme rol do art. 34. Essa seria a fase de habilitacdo (art. 28). Como a fase de julgamento ocorre antes da fase de habilitagdo, pode-se dizer que no chamamento piblico ocorre a “inverséo de fa: como na modalidade de licitag3o pregio. 9”, assim 18 A lei nao define quais soriam esses "fundos especificos". 33 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Na hipétese de a OSC selecionada nao atender aos requisitos de habilitacdo, a Administrag&o poderd convidar a segunda classificada e, sucessivamente, as classificadas imediatamente seguintes, até que alguma aceite celebrar a parceria, nos seus prdprios precos e condigdes (art. 28, §19). Caso alguma OSC convidada aceite celebrar a parceria, a Administrac&o deveré verificar os respectivos documentos de habilitacdo. Maria Sylvia Di Pietro ensina que, embora a lei ndo o diga, é evidente que se nenhuma OSC preencher os requisitos, 0 procedimento teré que ser revogado. © art. 30 da Lei 13.019 prevé quatro hipéteses de dispensa de chamamento piuiblico: * No caso de urgéncia decorrente de paralisagéo ou iminéncia de paralisacao de atividades de relevante interesse publico, pelo prazo de até 180 dias; + Nos casos de guerra, calamidade piblica, grave perturbagio da ordem publica ou ameaca a paz social * Quando se tratar da realizacéo de programa de protecdo a pessoas ameagadas ou em situacao que possa comprometer a sua seguranca; * No caso de atividades voltadas ou vinculadas a servigos de educacao, saiide e assisténcia social, desde que executadas por organizacées da sociedade civil previamente credenciadas pelo érgao gestor da respectiva politica. Detalhe é que a dispensa nde € obrigatéria quando ocorre alguma das situades acima, cabendo @ Administragéo decidir discricionariamente pela dispensa ou pela abertura do chamamento piblico, mediante adequada motivacao}?. © art. 31, por sua vez, prevé a inexigibilidade do chamamento publico na hipétese de inviabilidade de competicéo entre as organizacgées da sociedade civil, em razio da natureza singular do objeto da parceria ou se as metas somente puderem ser atingidas por uma entidade especifica, especialmente quando: * 0 objeto da parceria constituir incumbéncia prevista em acordo, ato ou compromisso internacional, no qual sejam indicadas as instituigdes que utilizar os recursos; * A parceria decorrer de transferéncia para organizacao da sociedade civil que esteja autorizada em lei na qual seja identificada expressamente 19 Di Pietro (2014, p. 639) 34de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 a entidade benefi , inclusive quando se tratar da subvencéo social, observado 0 art. 26 da Lei de Responsabilidade Fiscal”. Ressalte-se que o chamamento piiblico é inexigivel sempre que nao for possivel haver competicao entre OSC. As duas situagées listadas acima sao apenas exemplificativas. A dispensa e a inexigibilidade devem ser justificadas pela Administrag&o. O extrato da justificativa deve ser publicado, na mesma data em que for efetivado, no sitio oficial da Administracao Publica na internet e, eventualmente, a critério do administrador publico, também no didrio oficial. Ou seja, a publicagao da justificativa no sitio oficial é obrigatéria e no diario oficial, facultativa. Sem essa publicidade, o ato de formalizagao da parceria por dispensa ou inexigibilidade seré nulo (art. 32, §19). Note que, aqui, a publicidade ndo é mero requisito de eficdcia, e sim de legalidade do ato. A publicidade da justificativa € para possibilitar a interposicéo de impugnagées, isto é, de contestacées a justificativa dada pela Administragao. Para tanto, o interessado deveré apresentar a impugnag&o no prazo de 5 dias a contar da publicagao da justificativa, sendo que a Administragéo deveré analisar o pleito em até 5 dias da data do respectivo protocolo. Caso a Administrac&o considere que ha fundamento na impugnacao, devera revogar o ato que declarou a dispensa ou considerou inexigivel o chamamento publico, e seré imediatamente iniciado 0 procedimento para a realizagéo do chamamento puiblico, conforme o caso (art. 32, §3°). Di Pietro ensina que, embora o dispositivo fale em revogagao (que supée desfazimento por razées de conveniéncia e oportunidade), se houver vicio de legalidade na dispensa ou inexigibilidade, seré hipétese de anulacdo. Na prova, porém, se cair “revogagio”, deve-se considerar correto, pois é 0 que est escrito na lei. Um dos fundamentos da Lei 13.019 é a “participacdo social” e, nesse sentido, o art. 18 institui o procedimento de manifestacdo de interesse social, como “instrumento por meio do qual as organizagées da sociedade civil, movimentos sociais e cidadéos poderdo apresentar propostas ao poder piiblico para que este avalie a 29 Art. 26.A destinagao de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir necessidades de pessoas fisicas ou deéficits de pessoas juridicas deveré ser autorizada por lei especifica, atender ds condigdes estabelecidas na lei de diretrizes orcamentdrias e estar prevista no orgamento ou em seus créditos adicionais. 35 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 possibilidade de realizado de um chamamento piiblico objetivando a celebracdo de parceria”. A Administragéo deverd tornar piiblicas as propostas em seu sitio eletrénico e, se entender que hé conveniéncia e oportunidade para a realizagéo do procedimento de manifestacéo de interesse social, o instauraré para que a sociedade seja ouvida sobre o tema (art. 20). Apés esse procedimento, a Administracdo poderé, novamente de acordo com sua anélise de conveniéncia e oportunidade, independentemente do resultado do procedimento, desejar celebrar ou nao a parceria. Caso deseje celebrar, devera instaurar o chamamento publico para que as OSC apresentem suas propostas e planos de trabalho, seguindo as regras previstas na Lei 13.014. A realizacéo do procedimento de manifestacao de interesse social no obriga a Administracio a fazer 0 chamamento piblico nem dispensa a convoca¢so por meio de chamamento publico para firmar a parceria. Ressalte-se que a realizacdo do procedimento de manifestaco de interesse social pe é uma condig&o necessdria para a realizagdo do chamamento ptblico. Com efeito, segundo o art. 21, §3° da lei, “évedado condicionar a realizacéo de chamamento piblico ou a celebragéo de parceria & prévia realizagio de procedimento de manifestaco de interesse social”, Para fechar este topico, cumpre destacar que, na seleco das entidades, a Administracéo Publica devera adotar procedimentos claros, objetivos e simplificados que orientem os interessados e facilitem o acesso direto aos seus orgdéos ee instancias decisdrias, independentemente da modalidade de parceria (art. 23). Vedacées O art. 39 da Lei 13.019/2014 apresenta uma série de vedagdes relacionadas a situacéo das OSC e de seus dirigentes. Nos termos do referido dispositive, ficaré impedida de celebrar termo de colaboraciio, termo de fomento ou acordo de cooperacdo, ou de receber novos recursos no ambito de parcerias em execug&o, a OSC que: + No esteja regularmente constituida ou, se estrangeira, nao esteja autorizada a funcionar no territério nacional; 36 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 * Esteja omissa no dever de prestar contas de parceria anteriormente celebrada; + Tenha como dirigente membro de Poder ou do Ministério Pablico, ou dirigente de érgéo ou entidade da administracéo publica da mesma esfera governamental na qual serd celebrado o termo de colaboracao ou de fomento, estendendo-se a vedagdo aos respectivos cénjuges ou companheiros, bem como parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até 0 segundo grau; * Tenha tido as contas rejeitadas pela administracdo publica nos Ultimos cinco anos, exceto se: a) for sanada a irregularidade que motivou a rejei¢&o e quitados os débitos eventualmente imputados; b) for reconsiderada ou revista a deciso pela rejeicéo; c) a apreciacéo das contas estiver pendente de deciso sobre recurso com efeito suspensivo; * Tenha sido punida com uma das seguintes sangées, pelo periodo que durar a penalidade: © suspensdo de participagao em licitagdo e impedimento de contratar com a administragao; © declaragéo de inidoneidade para licitar ou contratar com a administracao publica; © Suspensdo temporaria da participagdo em chamamento publico e impedimento de celebrar parceria ou contrato com a administracéo publica; © declaracao de inidoneidade para participar de chamamento ptiblico ou celebrar parceria ou contrato com a administracao publica; + Tenha tido contas de parceria julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federacdo, em decisao irrecorrivel, nos ultimos 8 (oito) anos; * Tenha entre seus dirigentes pessoa: © cujas contas relativas a parcerias tenham sido julgadas regulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federacéo, em deciséo irrecorrivel, nos ltimos 8 (oito) anos; © julgada responsavel por falta grave e inabilitada para o exercicio de cargo em comissao ou fungao de confianga, enquanto durar a inabilitagdo; © considerada responsdvel por ato de improbidade, enquanto durarem os prazos estabelecidos nos incisos I, II e III do art. 12 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992. 37 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Ademais, a Lei também apresenta vedacgées relacionadas ao objeto da parceria. Com efeito, é vedada a celebraco de parcerias que tenham por objeto, envolvam ou incluam, direta ou indiretamente, delegacdo das fungdes de regulagdo, de fiscalizagdo, de exercicio do poder de policia ou de outras atividades exclusivas de Estado (art. 40). Contratacées realizadas pela OSC As despesas relacionadas a execuciio da parceria serdo efetuadas sob a responsabilidade exclusiva da Organizagao da Sociedade Civil, a qual cuidara do gerenciamento administrativo e financeiro dos recursos recebidos, inclusive no que diz respeito as despesas de custeio, de investimento e de pessoal (art. 45, c/c art. 42, XIX). Em outras palavras, a lei no exige que a OSC faga licitagdo conforme a Lei 8.66/93 nem que siga os procedimentos de regulamento préprio para empregar os recursos transferidos pela Administragdo Publica. A OSC é quem ird escolher onde e como aplicar os recursos da parceria, logicamente, respeitando os termos do plano de trabalho e as demais cldusulas do termo de fomento ou de colaboracao. A OSC po precisa realizar licitagao nem seguir regulamento proprio para empregar os recursos transferidos pela Administracgao Publica. Ainda que a lei no exija a realizag&o de licitagdo para aplicagao dos recursos da parceria, € importante salientar que o regime juridico instituido pela Lei 13.019 tem como fundamentos a “gest&o ptiblica democratica, a participag3o social, o fortalecimento da sociedade civil, a transparéncia na aplicacgdo dos recursos publicos, os principios da legalidade, da legitimidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da economicidade, da eficiéncia e da eficacia’. Assim, quaisquer atos adotados com base na Lei 13.019 devem observar tais principios, inclusive as contratagées realizadas pela OSC. A Lei 13.019 expressamente veda que a OSC utilize recursos vinculados parceria para finalidade alheia ao objeto pactuado. A OSC também no pode utilizar os recursos da parceria para pagar, a qualquer titulo, servidor ou empregado publico, salve nas hipéteses previstas em lei especifica e na lei de diretrizes orcamentérias (art. 45, Ie II). Por outro lado, pederdo ser pagas, entre outras despesas (art. 46): 38 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 + Remuneracéo da equipe encarregada da execucao do plano de trabalho, inclusive de pessoal préprio da organizacéo da sociedade civil, durante a vigéncia da parceria, compreendendo as despesas com pagamentos de impostos, contribuigdes sociais, Fundo de Garantia do Tempo de Servico - FGTS, férias, décimo terceiro saldrio, salérios proporcionais, verbas rescisérias e demais encargos sociais e trabalhistas; * Diarias referentes a deslocamento, hospedagem e alimentacdo nos casos em que a execucéo do objeto da parceria assim o exija; * Custos indiretos necessdrios & execucéo do objeto, seja qual for a proporgao em relagao ao valor total da parceria; * Aquisicggo0 de equipamentos e materiais permanentes essenciais & consecucao do objeto e servicos de adequacio de espace fisico, desde que necessérios a instalaco dos referidos equipamentos e materiais. Vale destacar que o pagamento de remuneracio da equipe contratada pela OSC com recursos da parceria nZo gera vinculo trabalhista com o poder piiblico (art. 46, §3°). Ademais, a responsabilidade pelo pagamento dos encargos trabalhistas, previdencidrios, fiscais e comer relacionados & execugao do objeto previsto no termo de colaboracéo ou de fomento é exclusiva da OSC, no implicando responsabilidade solidéria ou subsididria da administragao publica (art. 42, XX). Prestacdo de contas A OSC deve prestar contas @ Administrag8o Ptiblica com a finalidade de demonstrar a boa e regular aplicagéo dos recursos recebidos, especialmente no que tange ao cumprimento do objeto da parceria e ao alcance das metas e dos resultados previstos. A prestac&o de contas compreende duas fases: 1) Apresentacao das contas, de responsabilidade da Organizacéo da Sociedade Civil; 2) Anélise e manifestacao conclusiva das contas, de responsabilidade da Administragée Publica, sem prejuizo da atuacéo dos érgaos de controle. prazo para prestagao de contas pela OSC é de até 90 dias a partir do término da vigéncia da parceria, estabelecido de acordo com a complexidade do objeto, ou no final de cada exercicio, se a duracéo da parceria exceder um ano (art. 69). 39 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ee seen asl alert ENCE are} de um ano rear eon Ta © prazo para prestacéo de contas poderé ser prorrogado por até 30 dias, desde que devidamente justificado (art. 69, §4°). A Administragéo Publica deve analisar a prestagdo de contas apresentada no prazo de até 150 dias, contado da data de seu recebimento ou do cumprimento de diligéncia por ela determinada. Tal prazo é prorrogavel por igual periodo, desde que justificado. Como resultado da anédlise, a Administracéo Publica deve apresentar uma manifestagdo conclusiva acerca da prestacao de contas, a qual, conforme o caso, poderd ser pela: * Aprovagae da prestacao de contas, hipétese na qual as contas seréo consideradas regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, © cumprimento dos objetivos e metas estabelecidos no plano de trabalho; * Aprovagao da prestacao de contas com ressalvas, hipstese na qual as contas seréo consideradas regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falta de natureza formal que nao resulte em dano ao erdrio; ou * Rejeicéo da prestacéo de contas, hipétese na qual as contas seréo consideradas irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes circunsténcias: ¥ omiss&o no dever de prestar contas; ¥ descumprimento injustificado dos objetivos e metas estabelecidos no plano de trabalho; v dano ao erario decorrente de ato de gestio ilegitimo ou antieconémico; ¥ desfalque ou desvio de dinheiro, bens ou valores piiblicos. Se a Administrac&o constatar alguma irregularidade ou omisséo na prestagdo de contas, antes de rejeitd-las, deveré conceder prazo de até 45 dias para a OSC sanar a irregularidade ou cumprir a obrigacdo. O prazo de 45 dias pode ser prorrogado, no maximo, por igual periodo, e deve ser computado dentro do prazo de 150 dias que a Administrag&o 40 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 possui para analisar e decidir sobre a prestagdo de contas. Assim, por exemplo, se a Administrago conceder 90 dias para a OSC se explicar (45 dias originais mais 45 de prorrogac&o), teré apenas 60 dias para analisar a prestag&o de contas. Transcorrido o prazo para saneamento da irregularidade ou da omiss&o, néo havendo a correcio, ai sim a autoridade administrativa competente deverd rejeitar a prestagdo de contas e, sob pena de responsabilidade solidaria, determinar a imediata instauragéo de tomada de contas especial?!, adotando providéncias para apuragao dos fatos, identificagéo dos responséveis, quantificag&o do dano ao erério e obtencao do ressarcimento, nos termos da legislagao vigente. Quando a prestag&o de contas for avaliada como irregular, a OSC poderd apresentar os recursos administrativos cabiveis. Se a deciséo da Administragao for mantida, e desde que ndo tenha havido dolo ou fraude e seja 0 caso de restituicéo integral dos recursos, a OSC podera solicitar autorizacdo para que o ressarcimento ao erdrio seja promovido por meio de agées compensatérias de interesse publico, mediante a apresentacao de novo plano de trabalho (art. 72). Por fim, cabe informar que, para possibilitar o controle social das parcerias, a Administragdo Ptblica deve manter, em seu sitio oficial na internet, a relacdo das parcerias celebradas e dos respectivos planos de trabalho, até 180 dias apés o respectivo encerramento. Por sua vez, a OSC deve divulgar na internet e em locais visiveis de suas sedes sociais e dos estabelecimentos em que exerca suas acdes todas as parcerias celebradas com a Administracao Publica (arts. 10 e 11). Sangées e responsabilidades A Administragéo Publica podera aplicar sangées 4 OSC na hipdtese de execug&o da parceria em desacordo com o plano de trabalho e com as normas legais. Logicamente, na aplicagdo de sangdes deve ser garantido o direito de defesa prévia. As sanges que podem ser aplicadas a OSC so (art. 73): > Adverténcia; 2.4 tomada de contas especial é um procedimento que tem como objetivo apurar eventuais danos a0 erdrio o, se for o caso, Identificar os responsdveis. Depois de concluido no ambit da Administragio Piiblica, é encaminhado ao Tribunal de Contas competente para julgamento. 41. de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 > Suspensio temporaria da participacdo em chamamento publico e impedimento de celebrar parceria ou contrato com érgéos e entidades da esfera de governo da administragéo publica sancionadora, por prazo nao superior a dois anos; > Declaracao de inidoneidade para participar de chamamento piiblico ou celebrar parceria ou contrato com érgaos e entidades de todas as esferas de governo, enquanto perdurarem os motivos determinantes da punigao ou até que seja promovida a reabilitagiio perante a prépria autoridade que aplicou a penalidade, que seré concedida sempre que a organizacao da sociedade civil ressarcir a administrag&o publica pelos prejuizos resultantes e apés decorrido 0 prazo de dois anos. Importante notar que tanto a suspensdo temporéria como a declarag&o de inidoneidade impedem a OSC de participar de novos chamamentos piblicos, assim como de celebrar parcerias ou contratos com a Administracao Publica. A diferenca € que o impedimento da suspensdo tempordria abrange apenas os érgéos e entidades da esfera de governo da administracéo publica sancionadora, enquanto que a declaragéo de inidoneidade abrange todas as esferas de governo Assim, por exemplo, uma OSC que tenha sido punida pelo Municipio X com suspensdo temporaria de dois anos, néo podera, nesse periodo, participar de chamamentos ptblicos nem firmar parcerias e contratos com os érgaos e entidades do Municipio X, mas poderé fazé-lo com qualquer outro Municipio, assim como com os Estados, 0 Distrito Federal e a Unido. Por outro lado, se a mesma OSC tivesse sido punida com declarag&o de inidoneidade, ficaria impedida perante o Municipio X e também perante todas as demais esferas de governo (outros Municipios, Estados, DF e Unio). Em outras palavras, a suspens3o temporéria 6 uma sancéo “mais leve” que a declaracdo de inidoneidade. Outra diferenca é em relagéo ao periodo do impedimento: na suspenséo temporaria, a OSC fica impedida por, no maximo, dois anos; jé na declaracgao de inidoneidade, o impedimento continua enquanto perdurarem os motivos determinantes da punicao (podendo, portanto, ser superior a dois anos) ou até que seja promovida a reabilitagaéo perante a prépria autoridade que aplicou a penalidade. Detalhe é que a reabilitacdio so sera concedida apds o prazo de dois anos e somente se a OSC ressarcir a AdministracSo Publica pelos prejuizos resultantes. 42 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 A aplicagdo da suspensio temporaria e da declaragéo de inidoneidade é de competéncia exclusiva de Ministro de Estado ou de Secretario Estadual, Distrital ou Municipal, conforme o caso. Como se trata de competéncia exclusiva, nao pode ser delegada (art. 73, §2°). Em relagio @ adverténcia, a lei é omissa; sendo assim, pode-se assumir que é aplicada pela autoridade competente dentro do érgiio ou entidade que firmou a parceria. A aplicagéo de penalidade decorrente de infrago relacionada a execucao da parceria prescreve em 5 anos, contados a partir da data da apresentagao da prestacao de contas. Ou seja, passado esse prazo, a Administrago ndo mais poderd aplicar as sangdes da Lei 13.019 4 OSC infratora. Detalhe é que a prescrigéo sera interrompida com a edig&o de ato administrativo voltado @ apuracao da infrac&o (art. 73, §§ 2° e 3°). Por exemplo, se apés 4 anos e 11 meses da data da apresentac&o da prestacéo de contas (ou seja, faltando apenas um més para ocorrer a prescrigéo) a Administrago instaurar um processo administrativo com o objetivo de apurar a infragéo cometida pela OSC, o prazo de prescrig&o sera interrompido, permitindo que a Administragéo puna a OSC ainda que © processo administrativo se prolongue por periodo superior a um més. coed Pessoal, é isso que tinha para passar acerca da Lei 13.019/2014. Logicamente, 0 contetido da aula nao dispensa uma leitura atenta da norma. A seguir, ainda no estudo sobre as entidades paraestatais, vamos falar sobre as entidades de apoio. 43 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ENTIDADES DE APOIO Maria Sylvia Di Pietro define entidades de apoio da seguinte forma: Entidades de apoio - pessoas juridicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituidas por servidores ptiblicos, porém em nome préprio, sob forma de fundac&o, associac&o ou cooperativa, para a prestacéo, em cardter privado, de servicos sociais nao exclusives do Estado, mantendo vinculo juridico com entidades da administracao direta ou indireta, em regra por meio de convénio. © exemplo mais comum desse tipo de entidade s&o as fundacées de apoio que atuam junto a hospitais publicos e universidades piblicas. Trata-se de pessoas juridicas privadas, sem fins lucrativos, que cooperam com a Administracéo mediante a celebracdo de convénios. A professora Di Pietro ensina que as atividades prestadas pelas entidades de apoio possuem carater privado. Nao obstante, sempre que receberem ou de qualquer modo utilizarem recursos piiblicos no desenvolvimento de suas atividades, estarao sujeitas as regras basicas de direito publico aplicdveis a toda e qualquer pessoa que, de alguma forma, receba ou administre recursos publicos””. As entidades de apoio geralmente assumem a forma de fundagdo (de direito privado, nao integrante da Administragdo Publica formal), mas também podem ser constituidas na forma de associagdo ou cooperativa. N&o existe uma lei prépria que regule as entidades de apoio de forma geral. Existe apenas a Lei 8.958/1994 que veio disciplinar apenas uma espécie de entidade de apoio, qual seja, as fundacées instituidas com a finalidade de apoiar projetos de ensino e pesquisa de interesse das Instituigdes Federais de Ensino Superior - IFES e demais Instituigdes Cientificas e Tecnolégicas - ICTs. A referida lei estabeleceu exigéncias de controle, de fiscalizago pelo Ministério Publico, nos termos do Cédigo Civil e do Cédigo de Processo Civil, de prévio credenciamento junto aos Ministérios da Educag&o e da Ciéncia e Tecnologia, de prestac&o de contas, além de requisites para a utilizag&o, pela fundac&io, de servidores publicos e de bens publicos, neste Ultimo caso mediante ressarcimento. 2 Alexandrino, M.e Paulo, V (2014, p. 161). 44 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Segundo a Lei 8.958/1994, as IFES e as demais ICTs podem celebrar convénios e contratos com as fundacées de apoio por dispensa de licitago. Mais que isso, a lei permite que outras entidades da Administrag&o Publica’, a exemplo da Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico - CNPq, também contratem as fundacdes de apoio por dispensa de licitaggo. 5. (Cespe — MPTCEI/PB 2014) As fundacdes de apoio as universidades publicas federais integram a administracao indireta. Comentario: As fundagdes de apoio sao entidades paraestatais que cooperam com as universidades pliblicas mediante a celebragao de convénios. Portanto, nao integram a Administragao Indireta, dai o erro. Gabarito: Errado 23 Especificamente, a Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, 0 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico - CNPq, as agéncias financeiras oficiais de fomento e empresas piiblicas ou sociedades de economia mista, suas subsididrias ou controladas (art. 1°-A). 45 de 125 ice ia mee cc er Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 AGENCIAS EXECUTIVAS E REGULADORAS No processo de modernizagao do Estado, uma das medidas adotadas foi a criagio de um grupo especial de autarquias”*, denominadas agéncias, as quais podem ser classificadas em duas categorias: v Agéncias executivas, com a funcdo de executar certas atividades administrativas tipicas de Estado; e v Agéncias reguladoras, com a fungéo de controle e fiscalizagéo de pessoas privadas incumbidas da prestacdo de servicos publicos delegados sob a forma de concessao ou permissao. Ressalte-se que a instituigéo dessas entidades nao trouxe qualquer novidade quanto a sua natureza juridica, pois continuam a ser autarquias, integrantes da Administracéo Indireta. A inovac&o reside, apenas, na relativa independéncia que a ordem juridica Ihes conferiu em aspectos técnicos, administrativos e financeiros”®. Vamos dar uma olhada nas principais caracteristicas dessas agéncias. AGENCIAS EXECUTIVAS De inicio, nunca é demais lembrar que as agéncias executivas nao so uma entidade paraestatal. Tampouco séo uma nova espécie de entidade administrativa. Trata-se, na verdade, de uma qualificago que poderé ser conferida pelo Poder Pblico as autarquias e as fundacées pblicas que com ele celebrem contrato de gestio e atendam aos demais requisitos fixados na Lei 9.649/1998. © contrato de gestéo que possibilita a qualificacéio como agéncia executiva é aquele previsto no art. 37, §8° da Constituicao Federal, a saber: § 8° A autonomia gerencial, orcamentaria e financeira dos Srados e entidades da administracdo direta e indireta poderd ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e 0 poder ptblico, que tenha por objeto a fixagao de metas de desempenho para o érgao ou entidade, cabendo lei dispor sobre: I- 0 prazo de duragao do contrato II - os controles e critérios de avaliagéo de desempenho, direitos, obrigacées e responsabilidade dos dirigentes; III - a remunerac&o do pessoal. 2 No caso das agéncias executivas, a qualificagao também pode ser dada as fundagGes piiblicas. 25 Carvalho Filho (2014, p. 494). 46 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Portanto, ndo se trata do mesmo tipo de contrato de gestdo que é firmado entre a Administrac&o Direta e as organizacées sociais, 0 qual possibilita que estas entidades privadas recebam fomento do Estado e, em consequéncia, tenham de se sujeitar a fiscalizagéo do emprego dos recursos pblicos recebidos. Diferentemente, o contrato de gestdo previsto na Constituicéo é um ajuste firmado entre a Administragdéo Direta e entidades da AdministracSo Indireta, ou entre érgdos da prépria Administracéo Direta. Por meio do referido instrumento, os orgaos e entidades assumem © compromisso de cumprir determinadas metas e, em contrapartida, ganham maior liberdade de atuag&éo, por meio da ampliagéo da sua autonomia gerencial, orcamentéria e financeira. Os controles sobre esses érgaos e entidades passam a ser menos rigidos, sobretudo nas atividades- meio, e se voltam para o controle finalistico, de atingimento de resultados. Em especial, quando o contrato de gestéio de que trata o art. 37, §8° da CF for firmado entre uma autarquia ou uma fundacdo publica e o respectivo Ministério supervisor, esta autarquia ou fundag&o poderd ser qualificada como agéncia executiva. Um exemplo atual de agéncia executiva ¢ o INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normatizagao e Qualidade Industrial?®. Os contratos de gestdo das agéncias executivas serdo celebrados com periodicidade minima de um ano ¢ estabelecerao os objetivos, metas ¢ respectivos indicadores de desempenho da entidade, bem como os recursos orgamentarios e financeiros necessarios ao cumprimento dos objetivos e metas ¢ os critérios e instrumentos para a avaliagéo do seu cumprimento. Nos termos do art. 51 da Lei 9.649/1998, além de celebrar o contrato de gest&o, a autarquia ou fundac&o ptiblica deveré ter um plano estratégico de reestruturacio e de desenvolvimento institucional em andamento. Os planos estratégicos de reestruturacéo e de desenvolvimento institucional definiréo diretrizes, politicas e medidas voltadas para a racionalizacéo de estruturas e do quadro de servidores, a revisio dos processos de trabalho, o desenvolvimento dos recursos humanos e o fortalecimento da identidade institucional da agéncia executiva (art. 52). 28 Ver Dacrato 29/1998, que qualifica o INMETRO como agéncia executiva. 47 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Apés a celebracdo do contrato de gestéio, o reconhecimento como agéncia executiva é feito por decreto do Chefe do Executivo. Se a entidade descumprir os requisitos e exigéncias previstos no contrato de gest&éo, poderd ocorrer a sua desqualificagéo, também mediante decreto. Nessa hipétese, a entidade simplesmente deixaré de possuir a qualificacéo e a autonomia caracteristica de uma agéncia executiva, mas no sofre qualquer alteragSo na sua condigSo de autarquia ou de fundagSo publica. Por fim, vale ressaltar que, nos termos do art. 24, §1° da Lei de Licitagdes?”, nas compras, obras e servigos contratados por agéncias executivas, a licitag&o é dispensdvel quando o valor do contrato é de até 20% do valor maximo admitido para a utilizag&o da modalidade convite, ou seja, o limite para as agéncias executivas é 0 dobro do aplicavel a Administrag&o em geral, que é de 10%. Esse limite ampliado proporciona maior flexibilidade e autonomia nas contratacées efetuadas_pelas entidades qualificadas. Ressalte-se que 0 art. 24, §1° da Lei de Licitagdes também estende o limite ampliado de 20% acs consércios ptiblicos, as empresas plblicas e as sociedades de economia mista. 6. (Cespe - AGU 2012) A qualificacao de agéncia executiva federal € conferida, mediante ato discricionario do presidente da Republica, a autarquia ou fundacao que apresente plano estratégico de reestruturagao e de desenvolvimento institucional em andamento e celebre contrato de gestdo com o ministério supervisor respectivo. Comentario: O item esta correto, nos termos do art. 51 da Lei 9.649/1998: Art 51. © Poder Executivo podera qualificar como Agéncia Executiva a autarquia ou fundacao que tenha cumprido os seguintes requisitos: | - ter um plano estratégico de reestruturacao e de desenvolvimento institucional em andamento; I - ter celebrado Contrato de Gestao com o respectivo Ministério supervisor. § 10 A qualificacéo como Agéncia Executiva sera feita em ato do Presidente da Repu 27§ 10 Os percentuais referidos nos incisos I e Il do caput deste artigo sero 20% (vinte por cento) para compras, obras e servicos contratados por consrcios piiblicos, sociedade de economia mista, empresa publica e por autarquia ou fundagio qualificadas, na forma da lei, como Agéncias Executivas. 48 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Detalhe € que a qualificagao de agéncia executiva é ato discricionario de competéncia do Presidente da Republica (decreto). Gabarito: Certo AGENCIAS REGULADORAS Agéncias reguladoras, em sentido amplo, seriam érg&os ou entidades com fungo de regular a matéria especifica que Ihe esta afeta. No caso, regular significa organizar determinado setor afeto a agéncia, bem como controlar as entidades que atuam nesse setor. Na Aula 2 ja vimos alguma coisa sobre as agéncias reguladoras. Vimos, em especial, que geralmente sdo instituidas sob a forma de autarquias sob regime especial. Portanto, as agéncias reguladoras, assim como as demais entidades estudadas nesta aula, também n&o s&o novas entidades juridicas acrescentadas a Administragdo Publica formal. Séo, isto sim, uma espécie de autarquia, dotadas de maior autonomia que as autarquias comuns, sobretudo em relacao a estabilidade relativa de seus dirigentes. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo propéem o seguinte conceito para as agéncias reguladoras: Agéncias reguladoras - trata-se de entidades administrativas com alto grau de especializacio técnica, integrantes da estrutura formal da administrag30 publica, instituidas como autarquias sob regime especial, com a fung&o de regular um setor especifico de atividade econémica ou um determinado servico_ptiblico, ou de intervir em certas relacdes juridicas decorrentes dessas atividades, que devem atuar com a maior autonomia possivel relativamente ao Poder Executivo e com imparcialidade perante as partes interessadas (Estado, setores regulados e sociedade). Exemplos de agéncias reguladoras que se enquadram nesse conceito s&o a ANATEL ~ Agéncia Nacional de Telecomunicagdes; a ANP - Agéncia Nacional do Petréleo; a ANEEL - Agéncia Nacional de Energia Elétrica; a ANAC - Agéncia Nacional de Aviagdo Civil; a ANTT - Agéncia Nacional de Transportes Terrestres, a ANVISA - Agéncia Nacional de Vigilancia Sanitaria; a ANA ~ Agéncia Nacional de Aguas, dentre outras. Os autores ressaltam que essa definigéo foi construida a partir das caracteristicas estabelecidas nas leis instituidoras das agéncias 49 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 reguladoras atualmente existentes, haja vista n&o existir uma lei que discipline as agéncias reguladoras de uma forma geral. Desse modo, é possivel existirem agéncias que néo se enquadrem em um ou outro aspecto apresentado no conceito. Por exemplo, embora todas as agéncias reguladoras até hoje instituidas na esfera federal tenham adotado a forma de autarquia sob regime especial, n3o ha obrigatoriedade de que seja sempre assim. Em tese, elas poderiam, inclusive, serem érg&os despersonalizados integrantes da Administragao Direta. No entanto, costuma-se adotar a forma de autarquia sob regime especial em raz&o das atividades exercidas pela entidade, tipicas do Poder Ptiblico (regulacdo, poder de policia, aplicag’o de sangdes etc.), 0 que demanda a natureza juridica de direito publico. Ademais, as autarquias sob regime especial séo dotadas de maior autonomia em relacao ao Poder Executivo do que os érgaos da Administragéo Direta e até mesmo do que as autarquias comuns, caracteristica essencial para o tipo de atividade que exercem. Pode-se considerar a existéncia de dois tipos de agéncias reguladoras no direito brasileiro: * As que exercem tipico poder de policia, com a imposicéo de limitagSes administrativas, fiscalizago e represséio; é 0 caso, por exemplo, da Anvisa, da ANS e da ANA. = As que regulam e controlam as atividades que constituem objeto de concessdo, permissdo ou autorizacgao de servico ptiblico (telecomunicagées, energia elétrica, transportes etc.) ou de concesséo para exploragéo de bem piblico (petréleo, rodovias); é 0 caso, por exemplo, da ANATEL, ANEEL, ANP e da ANTT. Detalhe interessante é que, de todas as agéncias reguladoras, apenas a ANATEL e a ANP possuem previséo especifica na Constituic&o, sob a expresséo “érgdo regulador” (art. 21, XI e art. 177, §29, inciso II, respectivamente?’). As demais tém base exclusivamente nas leis que as criaram. 28 Art. 21. Compete & Unio: XI - explorar, diretamente ou mediante autorizagao, concessio ow permissio, os servigos de telecomunicagdes, nos termos da lei, que dispord sobre a organizagéo dos servigos, a criagdio de um Srgdo regulador e outros aspectos institucionais; Art. 177. Constituem monopélio da Unido: 1a pesquisa e a lavra das jazidas de petréleo e gis natural e outros hidrocarbonetos fluidos; 50 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Geralmente se associa 0 surgimento das agéncias reguladoras com o processo de Reforma do Estado, no qual se buscou reduzir a presenga do Estado em dreas nfo exclusivas, especialmente naquelas ligadas 8 exploragao de atividade econémica. Efetuou-se, ent&o, um movimento de desestatizagao, compreendendo a alienacdo de empresas estatais e as concessdes e permissdes de servigos publicos. Nesse processo, 8 medida que o Estado deixou de exercer atividade empresarial, intensificou 0 exercicio da sua fung&o regulatéria, através da criacSo de diversas agéncias reguladoras. O objetivo era proteger os interesses dos usudrios e de assegurar a universalidade dos servicos piiblicos delegados & iniciativa privada. Por isso, Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo ensinam que nao é raro se fazer confuso entre a fungio regulatéria do Estado e o movimento de desestatizacio, tomando um pelo outro. Todavia, salientam os autores, a regulaclo da atividade econémica nao precisa ser exercida especificamente pelas agéncias reguladoras surgidas no processo de Reforma do Estado. Por exemplo, o Banco Central, o Conselho Administrativo de Defesa Econémica - CADE e a Comissao de Valores Mobilidrios - CVM desempenham fungao regulatéria nas respectivas areas de competéncia, e jd existiam muito antes do aparecimento das atuais agéncias. Ademais, a atividade regulatéria pode ser exercida por érgios da Administragao Direta e pelo Poder Legislativo, nos termos do art. 174 da CF. Portanto, embora o processo de desestatizagao tenha ampliado a necessidade de regulagio, a criag3o de agéncias reguladoras ndo é sinénimo, nem decorréncia obrigatéria da privatizacio de empresas estatais, pois a fungdo regulatéria é atividade tipica do Estado. As agéncias reguladoras exercem uma fungao tipica de Estado, relacionada @ regulagdo de servicos ptiblicos e de atividades econémicas delegadas para a iniciativa privada. A regulago é uma das formas possiveis de intervengao do Estado no dominio econémico (intervencdo indireta). A outra forma é a intervengdo direta, por intermédio das empresas estatais. No exercicio da fungao regulatéria, as agéncias reguladoras podem editar normas, exercer fiscalizagéo sobre as empresas concessionérias, Il-a refinacao do petréleo nacional ou estrangeiro; § 2° Alei a que se refere o § 1° dispor sobre: IIl-a estrutura e atribuigdes do Oredo regulador do monopélio da Unido; 51de125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 aplicar sangdes, solucionar conflitos entre as empresas e os clientes e solucionar reclamagées dos consumidores. 7. (Cespe MPTCDF 2013) As agéncias reguladoras consistem em mecanismos que ajustam o funcionamento da atividade econémica do pais como um todo. Foram criadas, assim, com a finalidade de ajustar, disciplinar e promover o funcionamento dos servigos puiblicos, objeto de concessdo, permissao e autorizac&o, assegurando © funcionamento em condi¢des de exceléncia tanto para o fornecedor/produtor como principalmente para 0 consumidor/usuario. Comentario: A assertiva apresenta a definicéo correta acerca do papel das agéncias reguladoras no funcionamento da atividade econémica do pais. Gabarito: Certo 8. (Cespe - TCU — AUFC 2011) As agéncias reguladoras, no que se refere concessao, permissao e autorizagao de servico puiblico, ndo possuem a atribuicao de definir 0 valor da tarifa, por se tratar de matéria adstrita & atuagdo do proprio poder concedente. Comentario: © item esta errado. As agéncias reguladoras que atuam no controle e fiscalizagao das concessées, permissées e autorizacées de servicos publicos possuem sim atribuigado de definir o valor da tarifa cobrada dos consumidores. Segundo ensina Maria Sylvia Di Pietro, “as atribuicgdes das agéncias reguladoras, no que diz respeito & concessao, permissao e autorizacao de servico piblico resumem-se ou deveriam resumir-se as fungdes que o poder concedente exerce nesses tipos de contratos ou atos de delegacao: regulamentar os servicos que constituem objeto da delegacao, realizar o procedimento licitatério para escolha do concessionario, permissionario ou autorizatario, celebrar 0 contrato de concessao ou permissao ou praticar ato unilateral de outorga da autorizacao, definir o valor da tarifa e da sua revisao ou reajuste, controlar a execugao dos servicos, aplicar sangées, encampar, decretar a caducidade, intervir, fazer a rescisdo amigavel, fazer a reversao de bens ao término da concessao, exercer o papel de ouvidor de dentincias e reclamagées dos usuarios, enfim, exercer todas as prerrogativas que a lei outorga ao Poder Publico na concessao, permissao e autorizago”. Veja, por exemplo, competéncia atribuida 4 ANATEL pela Lei 9.742/1997 na regulagao dos servicos de telecomunicacées: Art. 19. A Agéncia compete adotar as medidas necessarias para o atendimento do 52de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 inleresse publico € para o desenvolvimento das telecomunicagbes brasileiras, atuando com independéncia, imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade, e especialmente VIl - controlar, acompanhar e proceder a revisdo de tarifas dos servigos prestados no regime publico, podendo fixa-las nas condicées previstas nesta Lei, bem como homologar reajustes; Art. 103. Compete a Agéncia estabelecer a estrutura tarifaria para cada modalidade de servico. § 1°A fixag&o, o reajuste e a revis4o das tarifas pode rao basear-se em valor que correspond a média ponderada dos valores dos itens tarifarios. § 2° So vedados os subsidios entre modalidades de servicos e segmentos de usuarios, ressalvado 0 disposto no paragrafo unico do art. 81 desta Lei. § 3°As tarifas sero fixadas no contrato de concessdo, consoante edital ou proposta apresentada na licitacdo. § 4° Em caso de outorga sem licitacdo, as tarifas serdo fixadas pela Agéncia e constarao do contrato de concessao. Quanto as agéncias que atuam no exercicio de poder de policia (ex: ANVISA e ANS), as atribuigées sao aqueles inerentes a esse poder, tais como as de normatizar as atividades (nos limites legais), fiscalizar 0 cumprimento das normas e aplicar sangées. Gabarito: Errado Como se vé, além de exercerem atribuicdes administrativas ordinarias, préprias do Poder Executivo, as agéncias reguladoras também desempenham competéncias assemelhadas as funcées legislativa (editar normas) e judiciéria (solug&o de conflitos). Por essa razéo, existem autores que consideram dificil enquadré-las na tripartic&o cléssica de Poderes. Todavia, mesmo quando exercem fungées assemelhadas as fungdes legislativa e judicial, suas decisées no perdem a natureza administrativa, vale dizer, n&o s&o atos legislativos, capazes de criar direito novo, n&o previsto em lei anterior, nem sdo atos judiciais, dotados de definitividade. Além disso, no se pode perder de vista que as agéncias reguladoras pertencem & Administragao Indireta do Poder Executivo. Em relag&o a solucio de conflitos, é importante destacar que as agéncias reguladoras, diferentemente do Poder Judicidrio, que sé age quando provocado, também devem atuar de forma prévia e sistematica no acompanhamento da atuacéo das empresas reguladas, buscando prevenir o surgimento de controvérsias. 53 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Lembrando que a atuacdo das agéncias reguladoras de forma alguma afasta a possibilidade de apreciacio do Poder Judicidrio acerca de qualquer les&o ou ameaga de lesdo a direito. 9. (Cespe - TCU - AUFC 2011) As decisdes definitivas das agéncias, em regra, no so passiveis de apreciacao por outros érgaios ou entidades da administragéo publica, Comentario: © item esta correto. Em regra, as decisées definitivas das agéncias nas matérias de sua competéncia constituem a ultima instancia de natureza administrativa. E isso ocorre, primeiramente, pela propria natureza juridica das agéncias que, como entidades da Administragao Indireta, nao estéo subordinadas a alguma instancia superior para a qual se possa apresentar recurso hierarquico. Outro fator é a alta complexidade das matérias que geram os conflitos solucionados pelas agéncias reguladoras, 0 que faz com que seu corpo técnico, altamente especializado nessas matérias, seja percebido pelas partes diretamente interessadas como o foro natural de mediagao e solugéo dos conflitos. Apesar disso, parte da doutrina sustenta que, excepcionalmente, as decisées das agéncias reguladoras podem ser reapreciadas pela Administragaéo Direta (leia-se: Ministério supervisor), especialmente nas hipéteses em que a agéncia pratica atos ilegais. E 0 chamado recurso hierarquico Impréprio. Dai o “em regra” do enunciado. Gabarito: Certo 10. (Cespe - MPU 2010) Considere que os representantes legais de uma empresa distribuidora de energia elétrica estejam inconformados com deciséo da Agéncia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), reguladora do setor elétrico. Nessa situacao, no cabe recurso hierarquico da deciséo da ANEEL, salvo quanto ao controle de legalidade. Comentario: O item esté correto. Nos casos de atividade tipica de regulacao, a agéncia tem total autonomia para agir, nao sendo possivel que suas decisées sejam reformadas por outros érgaos administrativos, nem mesmo pelo Ministério supervisor, através de recurso hierarquico. Porém, quando extrapola os limites da sua competéncia definidos em lel, parte da doutrina admite o cabimento de recurso hierarquico impréprio dirigido ao Ministério supervisor da agéncia. Além do controle de legalidade, 54de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 ‘outras situagdes em que seria possivel a interposicao de recurso hierarquico impréprio seriam: quando a agéncia se distanciar da politica de Governo; ou quando se referir a atividades meio da entidade. Gabarito: Certo Quanto ao poder regulamentar das agéncias reguladoras, os regulamentos por elas expedidos séo conhecidos como regulamentos delegados ou regulamentos autorizados, uma vez que, nas matérias de natureza estritamente técnica, eles nao se limitam a dar fiel execugéo a lei, mas podem complementa-la, desde que observem as diretrizes e os limites nela tragados. A possibilidade de sua edic&o, contudo, deve estar expressamente prevista em lei, vale dizer, as agéncias ndo podem editar normativos inteiramente auténomos, sem lei que os autorize. Ademais, as agéncias, mesmo sendo dotadas de amplos poderes normativos, néo podem criar obrigagées novas, que nao contem com previséo legal. 41. (Cespe - ANATEL 2012) A ANATEL, por ser agéncia reguladora integrante da administragao indireta, exerce 0 poder regulamentar com maior vigor, podendo inovar na ordem juridica com a edig&o de atos normativos primarios e regulamentos auténomos. Comentario: Embora o poder normativo das agéncias reguladoras seja considerado bastante amplo, possibilitando que elas, _ inclusive, complementem a lei em determinados aspectos de natureza técnica, em hipétese alguma as agéncias podem inovar na ordem juridica com a edigao de atos normativos primarios e regulamentos auténomos. Com efeito, a atuagao normativa das agéncias reguladoras, complementando as disposicées da lei, depende de expressa autorizacao dada pela prépria lei, vale dizer, consiste na edigao de regulamentos delegados ou autorizados. Gabarito: Errado Aspecto relevante do tema diz respeito & necessdria autonomia da atuagéio das agéncias reguladoras, caracteristica tomada como a mais importante a ser conferida a essas entidades. E que, para desempenharem sua fungo de controle e fiscalizacéo com imparcialidade e rigor técnico, a atuagao das agéncias néo pode ser influenciada pelo interesse das empresas reguladas, e nem mesmo pelos 55 de 125 an _ a Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 interesses do préprio Governo ou dos consumidores. A autonomia deve existir perante todos. Essa relagdo entre as agéncias reguladoras e as demais partes interessadas é objeto de estudo da teoria da captura, pela qual se busca impedir uma vinculag&o promiscua entre a agéncia, de um lado, e o governo instituidor ou os entes regulados, de outro, com flagrante comprometimento da independéncia da pessoa reguladora (0 chamado “risco de captura”). No que tange ao risco de captura da agéncia pelas empresas do setor regulado, geralmente dotadas de grande poderio econémico, a doutrina ensina que um dos instrumentos mais eficazes para evita-lo é proibir que © ex-dirigente do érgao regulador, nos meses seguintes & sua exoneracio, seja contratado por empresas do setor por ele regulado. Essa “quarentena” é uma forma de evitar que o ex-dirigente se utilize de informages privilegiadas para beneficiar a empresa regulada. No Brasil, a Lei 9.986/2000, que dispde sobre a gestéo de recursos humanos das agéncias reguladoras, estabelece a obrigatoriedade de quarentena dos ex-dirigentes, nos seguintes termos: Art. 80 O ex-dirigente fica impedido para o exercicio de atividades ou de prestar qualquer servico no setor regulado pela respectiva agéncia, por um periodo de quatro meses, contados da exoneracao ou do término do seu mandato. § 1o Inclui-se no periodo a que se refere o caput eventuais periodos de férias no gozadas. § 20 Durante o impediment, o ex-dirigente ficaré vinculado agéncia, fazendo jus a remunerac&o compensatéria equivalente & do cargo de diregdo que exerceu e aos beneficios a ele inerentes. § 30 Aplica-se 0 disposto neste artigo ao ex-dirigente exonerado a pedido, se este ja tiver cumprido pelo menos seis meses do seu mandato. § 40 Incorre na pratica de crime de advocacia administrativa, sujeitando-se as penas da lei, 0 ex-dirigente que violar o impedimento previsto neste artigo, sem prejuizo das demais sangdes cabiveis, administrativas e civis. § So Na hipétese de 0 ex-dirigente ser servidor publico, poderd ele optar pela aplicacéo do disposto no § 20, ou pelo retorno ao desempenho das fungées de seu cargo efetivo ou emprego publico, desde que nao haja conflito de interesse. 56 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 Além da quarentena dos ex-dirigentes das agéncias reguladoras, que possui previsio legal, a jurisprudéncia também nao tem aceitado a realizagdo do movimento inverso, ou seja, do dirigente de empresa do setor que vai ocupar cargo nos érgaos diretivos das agéncias. Como exemplo, 0 TRF da 5@ Regido j4 impediu a nomeagao para vagas de Conselheiro Consultivo da ANATEL, destinadas a representacéo dos usuérios, de determinadas pessoas que haviam ocupado cargos em empresas concessionérias, tendo-se fundado a deciséo na evidente suspeic&o que o desempenho de tais agentes poderia ocasionar”. De um modo geral, os autores apontam a previséo de mandatos fixes para os dirigentes como um dos mais importantes e mais utilizados mecanismos para assegurar a imparcialidade das agéncias reguladoras. No Brasil, atualmente, os dirigentes de todas as agéncias federais possuem mandato fixo, a teor do art. 9° da Lei 9.986/2000: Art. 90 Os Conselheiros e os Diretores somente perderao 0 mandato em caso de renuincia, de condenagao judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar. Pardgrafo unico. A lei de criagéo da Agéncia poderé prever outras condigées para a perda do mandato. Ressalte-se que, como dispde 0 pardgrafo tinico do dispositive acima, além da rendncia, da condenacdo judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar, a lei de criagéo de cada agéncia poderé prever outras condicées para a perda do mandato. Outros instrumentos tedricos para conferir autonomia as agéncias reguladoras seriam o estabelecimento de fontes préprias de recursos, provenientes do proprio exercicio da fungéo regulatéria, a nao subordinaco hierérquica a qualquer instancia de governo e a indicagdo de dirigentes pautada em critérios técnicos, sendo preferivel que sua indicacéo n&o seja ato exclusivo do Poder Executive, e sim um ato que conte com a participagao do Poder Legislativo. Quanto a este ultimo ponto, cumpre salientar que os dirigentes das agéncias reguladoras federais séo nomeados conforme o procedimento previsto no art. 52, III, "f” da CF, ou seja, o Presidente da Repiiblica escolhe a pessoa para ser dirigente de agéncia reguladora, mas s6 pode 29 TRFS: Ap, Civel 342.739 57 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 nomed-la apés aprovacdo do Senado Federal. Ademais, os indicados devem preencher certos critérios técnicos, além de possuir reputagéo bada. € o que diz a Lei 9.986/2000: Art. 50 O Presidente ou o Diretor-Geral ou o Diretor-Presidente (CD 1) e os demais membros do Conselho Diretor ou da Diretoria (CD II) serao brasileiros, de reputacao ilibada, formacao universitaria e elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serao nomeados, devendo ser escolhides pelo Presidente da Republica ¢ por ele nomeados, apés aprovacsio pelo Senado Federal, nos termos da alinea f do inciso III do art. 52 da Constituic&o Federal. Cumpre observar que as agéncias reguladoras séo dirigidas em regime de colegiado, por um Conselho Diretor ou Diretoria composta por Conselheiros ou Diretores, sendo um deles o seu Presidente ou o Diretor-Geral ou o Diretor-Presidente. As agéncias reguladoras, na sua condigéo de autarquias, s&o vinculadas a Administracéo Direta; no ambito federal, elas se vinculam ao Ministério correspondente a sua érea de atuacéo. Por exemplo, a ANATEL é vinculada ao Ministério das Comunicagées e a ANP, ao Ministério das Minas e Energia. Portanto, as agéncias reguladoras se submetem ao controle finalistico (tutela administrativa) efetuado pelo respectivo Ministério supervisor. As leis instituidoras de algumas agéncias reguladoras preveem a Qbrigatoriedade de celebrarem contrato de gestéo com o Poder Executivo, hipstese em que sua autonomia em relacio ao orgéo supervisor se vé ampliada ainda mais, sendo o controle direcionado para o alcance de metas e resultados. Além da tutela administrativa, as agéncias reguladoras também se submetem aos controles judicial e legislativo, este ultimo incluindo o controle exercido pelo Tribunal de Contas. Nesses casos, 0 controle sobre as agéncias ndo possui qualquer particularidade em relag3o ao que € exercido sobre as demais entidades integrantes da Administracao Publica. Por fim, vale observar que as leis instituidoras das atuais agéncias reguladoras estabelecem, em alguns casos, instrumentos especificos de participagéo popular, com destaque para a consulta ptiblica e a audiéncia piiblica. Esses institutos, de maneira geral, permitem a manifestago dos agentes econémicos e dos consumidores sempre que 58 de 125 an _ — Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 possa ser editado um ato ou tomada uma decisdo que possa afetar o direito deles. 12. (ESAF - CGU 2008) Pelo sistema constitucional brasileiro, a categoria das agéncias reguladoras apresentam competéncia de natureza a) legislativa e administrativa b) legislativa, administrativa e jurisdicional. ) exclusivamente legislativa. 4) administrativa e jurisdicional e) exclusivamente administrativa Comentarios: As agéncias reguladoras sao entidades administrativas, integrantes do Poder Executivo e, portanto, suas competéncias possuem natureza administrativa (op¢ao “e”). E certo que algumas de suas competéncias possuem caracteristicas semethantes as fungées legislativa e jurisdicional, por exemplo, quando editam regulamentos e quando solucionam conflitos entre empresas concessionarias e usuarios dos servicos publicos. Porém, frise-se, tais competéncias s4o apenas semelhantes as fungées legislativa e jurisdicional “tipicas”, mas com elas nao se confundem, por Ihes faltar determinados atributos. Com efeito, os regulamentos editados pelas agéncias reguladoras nde podem inovar no ordenamento juridico, vale dizer, nao podem criar direitos e obrigacées nao previstos em lei. O poder regulamentar das agéncias, embora seja considerado bastante amplo, nao pode extrapolar os limites estabelecidos pela lei. E quanto 4 solugao de contflitos, as decisées tomadas pelas agéncias nao possuem o atributo da definitividade, podendo ser apreciadas pelo Poder Judiciario, desde que provocado. Portanto, pode-se afirmar que, mesmo quando editam normativos ou solucionam contflitos, as agéncias reguladoras exercem competéncia de natureza administrativa. Gabarito: alternativa “e” 43. (ESAF — STN 2013) A transferéncia da funcdo normativa (sobre matérias determinadas) da sede legislativa estatal para outra sede normativa denomina-se: a) Remissao. b) Delegagao recepticia c) Reserva legal 59de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 @) Deslegalizacao. e) Desconcentracao. Comentarios: Trata-se do fenémeno da deslegalizacao (op¢ao “d”), que consiste na possibilidade de o Legislative rebaixar hierarquicamente determinada matéria para que ela possa vir a ser tratada por regulamento. Ou seja, ocorre a deslegalizacao quando uma lei editada pelo Poder Legislativo contenha autorizagao para que um regulamento, editado pela Administragao Publica, venha a tratar sobre a matéria regulada na lei. Um exemplo é a Lei 12.382/2011, que fixou o salario minimo para 2011 e permitiu que o reajuste ¢ a atualizacao do valor fossem feitos mediante decreto. Embora muitos doutrinadores sejam contrarios a pratica da deslegalizacdo (por exemplo, Celso Anténio Bandeira de Melho e Justen Filho, para os quais nesse caso, a lei atuaria delegando competéncia legislativa, o que sé é possivel em sede constitucional), costuma-se indicar que esse Instituto oferece substrato tedrico juridico para a criacao e funcionamento das agéncias reguladoras, principalmente em razéo do poder normativo dessas entidades. E que, conforme salienta Maria Sylvia Di Pietro, as agéncias reguladoras esta sendo dado o “poder de ditar normas com a mesma forga de lei e com base em pardmetros, conceitos indeterminados, standards nela contidos”. Em outras palavras, uma lei deslegalizadora estabelece diretrizes para que um regulamento possa vir a atuar dentro desses standards estabelecidos. Assim, prossegue a autora, a lei muitas vezes utiliza conceitos juridicos indeterminados, cujo sentido tem que ser definido por érgaos técnicos especializados. Por exemplo, a Lei 9.782/1999, que criou a Anvisa, da a ela competéncia para estabelecer normas e padrées sobre “limites de contaminantes, residuos toxicos, desinfetantes, metais pesados e outros que envolvam risco a satide” (art. 7°, IV); a Agéncia, dentro de seus conhecimentos técnicos, vai poder, licitamente, sem inovar na ordem juridica, baixar ato normativo definindo os “contaminantes”, os “residuos técnicos” etc., & estabelecendo os respectivos padres e limites. Trata-se de conceitos indeterminados que a Agéncia vai tornar determinados. Todavia, frise-se, se a Agéncia for além do previsto na lei ao exercer essa funcao, estara infringindo o principio da legalidade. Gabarito: alternativa “d’ 60 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 14. (Cespe - AGU 2012) As relacées de trabalho nas agéncias reguladoras sao regidas pela CLT e pela legisiacao trabalhista correlata, em regime de emprego publico. Comentario: © quesito esta errado. Os servidores das agéncias reguladoras federais so regidos pelo regime estatutario previsto na Lei 8.112/1990, e nao pela CLT. Originariamente, o art. 1° da Lei 9.986/2000 estabeleceu o regime celetista para as agénclas. Todavia, a eficdcia deste dispositivo foi suspensa em razao de medida liminar deferida pelo STF no bojo da ADI 2310, na qual o Supremo considerou o regime de emprego piiblico incompativel com a atividade a ser desenvolvida pelo pessoal das agéncias reguladoras. Essa ADI acabou por perder seu objeto com a promulgacao da Lei 10.871/2004, cujo art. 6° prescreve que o regime juridico do pessoal das agéncias é o instituido pela Lei 8.112/1990, ou seja, o regime estatutario aplicavel aos servidores federais em geral, sendo esta a regra atualmente vigente. Ressalte-se que, nos termos do art. 3°, paragrafo unico da Lei 10.871/2004, aos servidores das agéncias reguladoras, no exercicio das atribuigdes de natureza fiscal ou decorrentes do poder de policia, sao asseguradas as prerrogativas de promover a interdic¢do de estabelecimentos, Instalagées ou equipamentos, assim como a apreensao de bens ou produtos, e de requisitar, quando necessario, o auxilio de forca policial federal ou estadual, em caso de desacato ou embaraco ao exercicio de suas fungées. De fato, como se percebe, prerrogativas dessa espécie nao se compatibilizam com o regime celetista. Gabarito: Errado 15. (Cespe - SUFRAMA 2014) As agéncias reguladoras, por atuarem na regulacéo do mercado, so consideradas entidades paraestatais que atuam em colaboracao com o Estado. Comentario: © quesito esta errado. As agéncias reguladoras geralmente sao instituidas como autarquias de regime especial. Portanto, sao entidades administrativas integrantes da Administragao Indireta. Ao contrario, as entidades paraestatais so entidades privadas, sem fins lucrativos, que atuam “ao lado” do Estado, recebendo fomento ptiblico para o desenvolvimento de atividades de interesse pliblico, mas sem pertencer a Administragdo Publica formal, direta ou indireta. Gabarito: Errado 61 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 PRINCIPAIS DISTINGOES ENTRE AGENCIAS EXECUTIVAS E REGULADORAS Para finalizar este capitulo, vamos elaborar um quadro comparativo para sintetizar as principais diferengas entre as agéncias executivas ¢ as agéncias reguladoras”’, Podem ptiblicas. ser autarquias ou fundacdes Trata-se de qualificacZo formal, prevista na Lei 9649/1998, art 51.e 52 ‘A qualificac3o. formal como “agéncia executiva” tem consequéncias juridicas definidas (ampliag’o de autonomia) e é conferida & autarquia ou & fundago publica mediante decreto. Pode ocorrer a desqualificacao da entidade, mediante decreto, o que nada afeta a natureza da entidade, que continua sendo a mesma autarquia ou fundacdo publica. A celebracéo do contrato de gestao é condi¢&o obrigatéria para @ qualificaco. Uma autarquia qualificada como agéncia executiva pode ou néo ser uma agéncia reguladora. Sao autarquias sob regime especial. Trata-se de denominacao utilizada pela doutrina e em leis administrativistas No é uma qualificacao formal, atribuida por algum administrativo, consequéncias juridicas definidas. O grau de da entidade depende instrumentos especificos que a respectiva lei instituidora estabeleca. ato com autonomia dos Nao existe a figura da desqualificagéo de agéncia reguladora. A lei instituidora pode _ou_n8o impor a celebracdo de contrato de gestéo. E possivel uma agéncia reguladora ser qualificada como agéncia executive, caso preencha os requisitos legai: peered Bom, finalizamos aqui. Vamos agora ver como os assuntos estudados s&o cobrados em prova 30 Adaptado de Alexandrino, M. e Paulo, V (2014, p. 170), 62 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 QUESTOES DE PROVA 16. (ESAF - ANAC 2016) Assinale a opedo correta a) O poder das agéncias de regular determinado segmento de mercado inclui-se no poder regulamentar conferido ao Poder Executivo. b) Na definicao das potestades conferidas as agéncias reguladoras, inclui-se a definicdo e a formulacdo de politicas publicas ¢) Atividades que envolvem o exercicio do poder de policia com a aplicagao de sangées nao podem ser atribuidas, nem mesmo por lei, a pessoas juridicas de direito privado, portanto a atividade regulatoria pressupde 0 exercicio por pessoa juridica de direito publico. 4) A autarquia pode ser desqualificada de agéncia reguladora caso ela descumpra exigéncias estabelecidas na legislacdo ou no contrato de gestao. e) Uma agéncia reguladora nunca podera ser qualificada como agéncia executiva. Comentarios: vamos analisar cada alternativa: a) ERRADA. O poder das agéncias de regular determinado segmento de mercado, exercendo atividades normativas, executivas e, por vezes, judicante, deriva do chamado poder regulatorio, que néo se confunde com o poder regulamentar. Este Ultimo é privativo do Chefe do Executivo, e Ihe permite editar normas gerais para o fiel cumprimento da lel. O poder regulamentar possui carater politico, ao contrario do poder regulatério, que é de indole técnica. b) ERRADA. As agéncias nao possuem a prerrogativa de definir e formular politicas publicas, tarefa que fica a cargo do chamado niicleo estratégico do Estado (Presidéncia da Republica e Ministérios, na esfera federal). As agéncias, por sua vez, possuem a missao de operacionalizar as. diretrizes do nticleo estratégico para o seu setor de atuacdo. c) CERTA. Segundo entendimento pacificado, a aplicacao de sancées no exercicio do poder de policia nao pode ser delegada a pessoas juridicas de direito privado. Algumas correntes defendem que outras fases do ciclo de policia, notadamente fiscalizacdo e consentimento, poderiam ser delegadas a entidades de direito privado, mas a aplicacdo de sangées nao. Logo, é correto afirmar que a atividade regulatéria pressupée 0 exercicio por pessoa juridica de direito puiblico, Nao é por outra razéo que, no nosso ordenamento, as agéncias reguladoras sao constituidas sob a forma de autarquias. d) ERRADA. “Agéncia reguladora” nao é uma qualificacao. A entidade ja nasce com esse “titulo” que, na verdade, decorre das atribuicées que a lei Ihe 63 de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 conferiu. Portanto, nao ha como ocorrer a “desqualificacao” de uma agéncia reguladora, ao contrario do que ocorre com as agéncias executivas. ¢) ERRADA. Nao existe tal impedimento. Agéncia reguladora pode sim se qualificar como agéncia executiva, bastando que assine contrato de gestao com 0 Ministério Supervisor. Gabarito: alternativa “c” 417. (ESAF - ANAC 2016) As agéncias reguladoras federais, como autarquias especiais, possuem caracteristicas diferenciadas das demais autarquias federais. Analise as assertivas abaixo, escolhendo a op¢do correta. |. As agéncias reguladoras so submetidas ao controle externo do Tribunal de Contas da Unido (TCU), mas nao so obrigadas a prestacdo de contas convencional aos érgaos de controle interno. Il. A ANAC, por ser uma agéncia reguladora e gozar de independéncia administrativa, no se submete ao controle do Tribunal de Contas da Unido, especialmente no que se refere a procedimentos licitat6rios no setor de aquisicbes e compra de servigos para a avia¢ao civil Ill, A independéncia politica das agéncias reguladoras é decorrente da nomeacao de sua diretoria pelo Poder Executivo, apos aprovacéo do Senado Federal, para o exercicio de mandatos fixos e nao coincidentes. a) Todas sdo verdadeiras. b) Somente a Ill € verdadeira. ¢) Todas sao falsas. ) Somente a Il e a Ill s4o verdadeiras. e) Somente a |, Ile Ill so verdadeiras. Comentarios: vamos analisar cada alternativa: 1) ERRADA. As agéncias reguladoras s4o submetidas ao controle externo do Tribunal de Contas da Unido (TCU), e também so obrigadas a prestacao de contas convencional aos érgaos de controle interno. ll) ERRADA. A ANAC, assim como qualquer outra agéncia reguladora federal, se submete ao controle do Tribunal de Contas da Unido, notadamente nas suas atividades administrativas, como a realizacdo de procedimentos licitatérios. Ill) CERTA. Embora a banca tenha considerado a alternativa correta, vale a ressalva de que, segundo a doutrina, o mais correto seria afirmar que as agéncias reguladoras possuem autonomia administrativa, e nao politica. Afinal, as agéncias sao entidades administrativas e nao s4o capazes de definir 64:de 125 —— o-=- = Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 politicas publicas, mas apenas de dar execucao as politicas estabelecidas pelo nticleo estratégico do Estado. De qualquer forma, é certo que o mandato fixo de seus dirigentes é instrumento para assegurar a independéncia das agéncias. Isso porque o mandato fixo impede que os dirigentes das agéncias sejam livremente exonerados pelo Chefe do Executivo, 0 que, ao menos em tese, evitaria que se submetessem a eventuais pressées do governante, podendo focar nos aspectos técnicos que devem gular a atuacdo das agéncias. Gabarito: alternativa “b’ 18. (ESAF - ANAC 2016) Assinale a opcdo correta a) © termo de colaboracdo ¢ 0 instrumento que a Administrago Publica devera adotar em caso de transferéncias voluntarias de recursos para a consecucao de planos de trabalho propostos pelas organizagées da sociedade civil. b) A organizagéo da sociedade civil indicaré ao menos um dirigente que se responsabilizaré. de forma subsididtia pela execugdo das atividades e pelo cumprimento das metas pactuadas na parceria ¢) A eventual inadimpléncia da organizacdo da sociedade civil no pagamento dos encargos trabalhistas relativos ao cumprimento do termo de colaboragao ou de fomento € de sua responsabilidade, havendo apenas a responsabilidade subsidiaria da administragao publica parceira ) Como regra, a Administragao Publica, para poder celebrar as parcerias previstas na Lei n.° 13,019/2014, esta obrigada a realizar o chamamento publico, ressalvadas as hipoteses de dispensa e inexigibilidade de tal procedimento. ) Nas contratagdes de bens e servigos que efetuem com o uso de recursos transferidos pela Administraco Publica, as organizagdes da sociedade civil estdo obrigadas a realizar licita¢do nos termos da Lei n.° 8.666/93. Comentarios: vamos analisar cada item: a) ERRADA. 0 termo de colaboracao € 0 instrumento que a Administracao Publica devera adotar em caso de transferéncias voluntarias de recursos para a consecugao de finalidades de interesse publico e reciproco propostas pela administragao publica que envolvam a transferéncia de recursos financeiros. b) ERRADA. A banca se baseou no art. 37 da Lei 13.019/2014, que foi revogado pela Lei 13.204/2015. Pela antiga redacdo do dispositive, a responsabilidade do dirigente era solidaria, e nado subsidiaria, dai o erro. c) ERRADA. A responsabilidade pelo pagamento dos encargos trabalhistas, previdenciarios, fiscals e comerciais relacionados 4 execucao do objeto previsto no termo de colaboracao ou de fomento é exclusiva da organizagao da sociedade civil. Dessa forma, a inadimpléncia da OSC em 65 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 relagdo ao referido pagamento nao implica responsabilidade solidaria ou subsidiaria da administracao publica (Lei 13.019/2014, art. 42, XX). 4) CERTA. Segundo o art. 24 da Lei 13.019/2014, “Exceto nas hipéteses previstas nesta Lei, a celebragao de termo de colaboragao ou de fomento sera precedida de chamamento publico voltado a selecionar organizagées da sociedade civil que tornem mais eficaz a execu¢do do objeto”. e) ERRADA. © art. 43 da Lei 13.019/2014 previa que as OSC deveriam observar os principios da Administragao Publica e regulamentos préprios em suas contratagées realizadas com recursos transferidos pela Administragao Publica. Ou seja, a Lei nao exigia a observancia dos procedimentos previstos na Lei 8.66/93, dai o gabarito. Ressalte-se, contudo, que tal dispositivo foi revogado pela Lei 13.204/2015. Nao obstante a omissao atual da lei sobre 0 assunto, o entendimento é que a OSC nao precisa realizar licitacao nem seguir regulamento préprio para empregar os recursos transferidos pela Administra¢éo Publica. De qualquer forma, deve observancia aos principios administrativos, que sao inafastaveis quando se trata da gestao de recursos publicos, Gabarito: alternativa “d” 19. (ESAF — DNIT 2013) A respeito das agéncias reguladoras e das agéncias executivas, analise as assertivas abaixo, classificando-as como Verdadeiras (V) ou Falsas (F). Ao final, assinale a op¢o que contenha a sequéncia correta. () Aagéncia executiva é uma nova espécie de entidade integrante da Administracao Publica Indireta. () © grau de autonomia da agéncia reguladora depende dos instrumentos especificos que a respectiva lei instituidora estabeleca. () Ao contrario das agéncias reguladoras, as agéncias executivas ndo tém area especifica de atuacao. () As agéncias executivas podem ser autarquias ou fundagées publicas. a)V,F.V,V b)F,V,V,V OF.F.V.V aV,V,V,F e)F,FLFLV Comentarios: Vamos analisar cada assertiva: 66 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 (i) FALSA. A agéncia executiva néo é uma nova espécie de entidade integrante da Administra¢ao Publica Indireta, e sim uma qualificacao atribuida as autarquias e fundacées que celebrem contrato de gestéo com o Poder Executivo. (ii) VERDADEIRA. No geral, 0 grau de autonomia da agéncia reguladora depende dos instrumentos especificos que a respectiva lei instituidora estabeleca. E na lei que esto previstas as hipéteses de destituicao dos dirigentes, a origem de suas receitas, os limites do seu poder normativo etc. Lembrando que algumas leis instituidoras preveem, ainda, a obrigatoriedade de que as respectivas agéncias celebrem contrato de gestdo com o Poder Executivo, hipétese em que a autonomia em relagao ao érgao supervisor se vé ampliada ainda mais. (ili) VERDADEIRA. Alternativa confusa. Quanto as agéncias reguladoras, o modelo adotado no Brasil ¢ 0 unisetorial, quer dizer, para cada area de atuagao, uma agéncia reguladora. Por exemplo, transportes terrestres — ANTT; energia elétrica — ANEEL; aviago civil - ANAC, e assim sucessivamente. No entanto, a doutrina nao costuma fazer essa avaliagdo em relacao as agéncias executivas. Alias, a rigor, uma vez que sao autarquias ou fundagées publica, até se poderia argumentar que as agéncias executivas devem observar o principio da especialidade, principio aplicavel 4s entidades da administracao indireta. (iv) VERDADEIRA. Agéncia executiva é uma qualificago dada a autarquia ou fundagao que celebre contrato de gestéo com o érgao da administragao direta a que se acha vinculada, para fins de ampliagao de sua autonomia. Gabarito: alternativa “b” 20. (ESAF — DNIT 2013) A respeito do terceiro setor, analise as afirmativas abaixo, classificando-as como verdadeiras ou falsas. Ao final, assinale a op¢4o que contenha a sequéncia correta. () Integram o terceiro setor as pessoas juridicas de direito privado, sem fins lucrativos, que exercem atividades de interesse publico, nao exclusivas de Estado, recebendo fomento do Poder Publico. () As entidades do terceiro setor integram a Administragéo Publica em sentido formal. () O terceiro setor coexiste com o primeiro setor, que € 0 proprio Estado e com o segundo setor, que é o mercado () Integram o terceiro setor as organizacées sociais de interesse ptiblico e as organizagées sociais a)V,V,F,V 67 de 125 a i eee ee Direito Administrativo para RECEITA FEDERAL Teoria e exercicios comentados Aula 03 b)V,E,V,V ©)F,F,V,V d)V,F,F,V eV, V,V,F Comentarios: Vamos analisar cada alternativa: 1) VERDADEIRA. Ressalte-se que existem entidades que integram 0 terceiro setor, mas que nao recebem fomento do Poder Publico. Para integrar 0 terceiro setor, basta ser pessoa juridica de direito privado, sem fins lucrativos, que desempenhe atividades de interesse ptiblico. Quando recebem fomento do Estado, as entidades do terceiro setor passam a ser entidades paraestatais. li) FALSA. As entidades do terceiro setor nao integram a Administragao Publica em sentido formal. Sao entidades que atuam “ao lado” do Estado, em colaboracao com ele, e nao “dentro” do Estado. iil) VERDADEIRA. iv) VERDADEIRA. As OS e as OSCIP sao entidades privadas que se qualificam junto ao Poder Publico para receber fomento com vistas ao desempenho de certas atividades de interesse publico, sem fins lucrativos. Gabarito: alternativa “b” 21. (ESAF - SUSEP 2010) Acerca do tema "Agéncias Executivas e Agéncias Reguladoras”, € correto afirmar. a) a denominacao "Agéncia Executiva” designa um titulo juridico que pode ser atribuido a autarquias e fundagdes pliblicas, ndo traduzindo uma nova forma de pessoa juridica publica, b) as Agéncias Reguladoras gozam de uma autonomia precaria, conferida pela simples contratualizacao de suas atividades. ¢) as Agéncias Executivas surgem da descentralizagao do Estado e da substituicao da sua fun¢éo empreendedora, 0 que requer o fortalecimento das funcdes de fiscalizagao. d) na Unido, o titulo de Agéncia Reguladora € conferido mediante decreto do Presidente da Republica ) em geral, as Agéncias Reguladoras implementam as politicas pUblicas, sem se ocuparem de disciplinar a atuacao de outras entidades. Comentarios: Vamos analisar cada alternativa: a) CERTA. “Agéncia Executiva” nao é uma nova categoria de entidade da Administragao Publica formal, e sim uma qualificacdo que pode ser conferida as autarquias e fundagées piblicas que celebrem contrato de gestdo com o 68 de 125 —— o-=- =

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