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9 5. A TEORIA DAS REPRESENTACOES SOCIAIS A Teoria das Representagdes Sociais (TRS) foi elaborada pelo psicélogo Serge Moscovici e difundida a partir de sua tese de doutorado, publicada na obra La Psycanalyse: son ‘mage ¢ son public (1961). A partir de seu estudo sobre a difusdo da psicanélise na sociedade francesa da época, Moscoviei procurou entender como as pessoas “leigas” se apropriam de Conceitos cientificos ¢ 0 utilizam em seu cotidiano, construindo uma rede de conhecimentos ao redor desse objeto, incorporando-a em seus sistemas prévios de conhecimento e fazendo circular as informagdes sobre eles, Moscovici elaborou, assim, uma teoria do senso comum. Esse autor considera esse conhecimento como uma forma de saber vilido, legitimado socialmente, criado por um grupo Social para interpretar determinados acontecimentos da vida, tentando explicé-los de modo que se tormem familiares. Nesse sentido, inserido num paradigma cientifico pés-modemo, Moscovici (1978; 2012) considera que o saber produzido pela ciéneia (conhecimento cientifico) € apreendido pelo homem comum por meio do conhecimento popular (senso comum), pessando de um saber do universo reificado para um saber pritico, pragmitico e inteligivel, sem que isso Signifique necessariamente uma redugo daquele conhecimento, mas uma reelaboragdo’ dele ara sua insergdo social. Dessa maneira, 0 senso comum na TRS nfo € cons lerado um conhecimento de menor valor, ou primitivo, mas um saber que tem especificidades diferentes do conhecimento cientifico. autor avatia que o conhecimento do senso comum nfo se contrapde ao cientifico, pois ele € outra forma de conhecimento, uma maneira de saber diferenciada tanto no que se refere & sua elaborago como no que diz respeito & sua fungdo. O senso comum tem como fungbes “orientar condutas, possibilitar a comunicagdo, compreender ¢ explicar a realidade social, justificar a posteriori as tomadas de posigdo e as condutas do sujcito, ¢ uma fungdo identitiria que permite definir identidades e salvaguardar as especificidades dos grupos” (SANTOS, 2005, p.4). Portanto, Moscoviei (2007) concebe as representagiies sociais (RS) como teorias do senso comutn, produzidas ¢ partilhadas socialmente, que orientam as priticas ¢ justificam as condutas de grupos sociais, assim como a compreensio de mundo dos sujeitos a partir da criagdo e difusdo de conecitos, explicagdes e afirmagbes acerca de determinado objeto social. * Publicada no Brasil, em 1978, com o titulo A representagdo social da psicandlise (MOSCOVICI, 1978) e republicada em 2012, com o titulo A psicanalise, sua imagem e seu piblico (MOSCOVICI, 2012), 80 Para fins de contextualizagao histérica do surgimento da TRS, situamos seu nascimento ‘num petfodo mareado pelo surgimento de um novo paradigma cientifico, que buscou a superagao do modelo vii incia moderna, de natureza positivista, O paradigma anterior supervalorizava os saberes cientificos em detrimento da cultura do senso comum, menosprezando ¢ desprestigiando esse saber. Para Santos (1989), essa mudanga acontece por meio do movimento denominado de dupla ruptura epistemolégica: a primeira & a do senso comum para a ciéncia; ¢ a segunda, da ciéncia para 0 senso comum, ja transformado pela presenga do pensamento cientifico, A esse respeito, esse autor reflete que, “enquanto a primeira ruptura é imprescindivel ara constituir a ciéncia, mas deixa o senso comum tal como estava antes dela, a segunda ruptura transforma 0 senso comum com base na ciéncia” (SANTOS, 1989, p. 41). Devido a ‘mudanga paradigmitica da ciéncia modema para a pés-modera, comega a acontecer uma nova relagdo entre ciéneia e senso comum. Santos (1989) afirma que a ruptura considerada deve acontecer de forma dual: tanto o senso comum como a ciéneia devem se superar mutuamente para a construgdo de um novo conhecimento, que deve ser acessivel a todos e no apenas aos sfbios ¢ que seré propagado por meio da comunicagao. Rompendo com os paradigmas cientificos entéio existentes, Moscovici (1978; 2012) ainda promoveu uma nova perspectiva cientifica dentro da area da psicologia social (VALA, 1993), Segundo Farr (1997), as correntes tedricas da psicologia social tinham posicionamentos polarizados nos valores individualismo-coletivismo, ou seja, ora davam especial valor a0 sujeito individual e viam a sociedade como a soma desses individuos (énfase no cognitivo), ora afirmayam que os sujeitos eram demasiadamente influenciados pela sociedade (psicologia das massas). Assim, essa nogdo busca superar a dicotomia individuo/sociedade, situando o fendmeno em uma perspectiva psicossocial. Em sua obra, Moscovici elaborou uma teoria acerca do fenémeno das Representagées Sociais, construindo, assim, um modelo te6rico para explicar ¢ compreender a construgéo social de tal conhecimento. Segundo Santos (2005), as representagdes sociais constituem-se como luma teoria (a teoria elaborada pelo autor) e também como seu objeto de estudo (os conhecimentos do senso comum). Assim, Moscovici (1978, p. 26) define a representagao social como “[...] uma modalidade de conhecimento particular que tem por fungao a elaboragdo de ‘comportamentos ¢ a comunicagao entre individuos” 81 5.1 A origem da Teoria das Representagdes Sociais: das representagdes coletivas as representagdes sociais A tworia das Representagdes Sociais parte da critica feita por Serge Moscovici a teoria do socidlogo francés, Emile Durkheim, sobre as representagses coletivas, que seriam fendmenos, formas de pensamento e saberes partilhados coletivamente capares de assegurat os laos entre os membros de uma sociedade. Durkheim, porém, opée 0 coletivo ao individual, considerando que as representagées devem ser div’ idas em individuais e coletivas, ¢ que estas exercem uma forga tal sobre o sujeito que o impossibilitam de incluir sua subjetividade. Para o autor, as representapdes coletivas so transmitidas ao sujeito e por ele reproduzidas (FARR, 1997). Para 0 sociélogo, as representages coletivas permitem uma compreensio do mundo que acontece por meio da experiéncia social, incluindo todos os fendmenos produzidos Socialmente, como a religido, mito, cigncia etc. Além disso, Durkheim considera que as Tepresentagdes so conceitos ¢ imagens advindos das estruturas sociais como modo de explicagao geral de ideais e crengas, mas que silo extemos aos individuos, estando acima deles © exercendo uma pressio coercitiva sobre eles (MARKOVA, 2006). Moscoviei, por sua vez, parte da premissa de que nfo existe separagao entre sujeito e objeto, mas uma dialogicidade entre esses dois universos. Assim, esse autor compreende que ‘do hi a dicotomia individualismo-coletivismo e defende uma teoria sociopsicolégica que leva em conta o individuo em interago com a sociedade. Para ele, o individuo tanto é um agente de mudanga na sociedade como ¢ um produto dela. Por isso, Farr (1997) afirma que a teoria das Tepresentagdes sociais é uma forma sociol6gica de psicologia social. Markova (2006) ressalta que 6 esse cardter dialégico que permite 2o sujeito a capacidade de coneeber ¢ criar realidades a partir da relagdo com os outros. Assim, retomando a explicagao de Moscovici (1978), a autora reitera que as representagSes sociais sao formadas em relagées ‘tiddicas entre sujeito-objeto-outro, Dessa forma, o ser social medeia as relagdes entre sujeito individual e objeto, o que descarta a concepedo dual sujeito (coletivo ou individual) - objeto, como antes era visto na sociologia ¢ na psicolo, Consequentemente, a representagao social nao € uma simples reprodugao do objeto, pois implica sua construgio ou transformagio, que acontece socialmente, a partir da comunicac&o com o outro. No conceito de representagiio coletiva, o conhecimento ¢ homogéneo para todos os ‘grupos da sociedade. ‘Iransmitido de uma gerag&o a outra, existe fora e independente do individuo, ¢ pressiona os individuos a uniformizarem sua conduta ¢ pensamento. Os processos ‘SGo, entfo, estiticos e resistentes & mudanga. Jé as representagSes sociais se adaptam mais & 82 complexidade e dinémica das sociedades, variando conforme o contexto social e os ‘grupos Sociais, € as mudangas se dao paralelamente as transformagdes vivenciadas na sociedade. A esse respeito, Wachelke e Camargo (2007) destacam que a représentaeo social nao Se constitui como uma cépia fidedigna de um objeto e: tente na realidade objetiva, mas como tuma construgio coletiva em que as estruturas de conhecimento do grupo que o representa Tecriam 0 objeto com base em representagses jé existentes, Entendemos que a TRS parte do pressuposto de que os sujeitos criam teorias e buscam explicagdes sobre uma gama de assuntos que permeiam a sociedade. Essas explicagoes baseiam-se nas mais diferentes informagbes que circulam sobre o objeto, adquitidas por meio de diferentes fonts. Blas possuem uma l6gica propria endo séo simples opinises, pois caregam julgamentos de valor baseados também nas exp. ncias e crengas prévias pessoais ¢ grupais, Portanto, a concepetio de sujeito subjacente a teoria & a de um individuo ativo, inserido Socialmente em determinado grupo social, mas também construtor dessa realidade social, O sufcito ndo & considerado um mero processador de informagées externas, nem interage com 0 objeto social de forma neura; ao contréro, ele age de forma ativa no processo de apropriagio da realidade objetiva e no provesso de construgaio das representagves sociais (SANTOS, 2005). Por outro lado, é preciso ter em mente que as RS nao so um conjunto de representagGes individuais, pois elas sto construidas pelo sujeito em sua relagaio com o mundo, 0 qual configura, de forma social, uma rede de significados e representagSes a respeito de temas socialmente relevantes, como a escola, a politica, a saiide, a doenea, a moral, a rel cultura, a violéncia, a tecnologia, as desigualdades sociais, o trabalho, as profiss6es ete. Nessa iregdo, Jodelet (2001) postula que 0 ato de representar envolve um processo ativo de construstio © reconstrugdo mental do sujeito, de cardter referencial ~ as representagGes sempre Sto de alguém sobre algum objeto — e imaginativo, construtivo, autonomo e social, A ‘epresentario, entZo, funciona como um processo sociocognitivo, que envolve uma construyio Cognitive, mas que se encontra submetida ds condig6es sociais nas quais é elaborada ¢ transmitida (ABRIC, 1994), Desse modo, a0 representar, o sujeito realiza, de forma ativa, um processo de Teconstrugio do real por meio de priticas comunicativas que exercem um papel essencial no Processo de construggo ¢ difusdio de uma representagdo. Isso porque a comunicago permite uma troca de ideias entre os sujeitos a partir da interagdo deles com o grupo social em que esto inseridos € 0 surgimento de novas representagdes ou a propagagio de representages jé construidas no grupo (JODELET, 2001). Nesse sentido, a comunicago possui papel central no processo de elaboragio ¢ difusio as representagSes, uma vez que situa o sujeito no contexto social, cultural ehistérico,e permite 83 produydo de meios simbélicos para a construgtio da representagtio (JOVCHELOVITCH, 2008). De acordo com Jodelet (2001), os sujeitos elaboram representagSes sociais pela necessidade de compreender ¢ explicar a realidade, situar-se em grupos de pertenga, otientar suas praticas e justficar suas condutas. Entendemos, entfo, que as representagSes contribuem ‘os processos de assimilagao do conhecimento, na construgto de identidades individuais e Srupais, nas priticas (individuais e grupais), no comportamento intra e intergrupal, como também nas ages de resisténcia e de mudanga social. Considerada a especificidade das representagées sociais e compreendidos os motivos los quais criamos representagdes, faz-se necessério compreender como as representagdes sociais so formadas e quais suas fungées. B sobre isso que discorreremos no prdximo t6pico. 5.2 ObjetivacZo e ancoragem: como so construidas as representagées soci De acordo com Moscovici (1978), a representapdo social de um objeto é formada, segundo a sua prdpria conveniéncia e de acordo com seus valores, por meio da reelaboraedo e Adaptasiio do conheeimento no contexto social do grupo. As representagGes so geradas a partic de um duplo processo: obj aio © ancoragem. A objetivagdo tem a fungao de tornar familiar algo desconhecido por meio de um processo de transformagao de um conceito abstrato em algo mais concreto e palpavel,ligando sentidos a imagens ou nicleo figurativo. Nesse processo, Certas informagdes sobre 0 objeto sto privilegiadas em detrimento de outras, simplificando-as © dissociando-as do contexto original. Assim, a objetivagdo faz. tomar-se real um esquema conceitual. Segundo Jodelet (2001), 0 processo de objetivagio divide-se em trés fases: construgdto seletiva, quando o sujeito seleciona e retira dos objetos algumas informagées atinentes a conhecimentos anteriores, valores culturais etc.; esquematizagdo estruturante, fase na qual é construfdo um nicleo figurativo a partir da transformagao do conceito; ¢ a naturalizagéo, momento em que os clementos do niicleo figurativo sto iden icados como elementos da realidade do objeto. As duas primeiras etapas revelam 0 papel da comunicasio © do Pertencimento social dos sujeitos na selego dos elementos constitutivos da representago. A objetivagao envolve, portanto, a concretizagdo e a naturalizago de uma representagao social ‘4 ma ancoragem © objeto € inserido num sistema de pensamentos preexistentes, Promovendo a constituieao de uma rede de significagdes em tomo dele, Para isso, sao atribuidos 420 objeto valores e priticas sociais jd presentes na sociedade e, assim, 0 objeto é associado a formas conhecidas ¢ reconsiderado por meio delas (SANTOS, 2005). Esse mecanismo constitu 84 as bases sobre as quais as representagdes se constroem, uma vez que é a partir dele que so atribufdos significados a0 objeto (por meio dos processos de classificagaio/categorizagiio, nomeagiio ¢ valorago) e ocorre seu enraizamento no sistema de pensamento e sua incorporagiio no social. A categorizagiio e nomeagdo permitem que os elementos do objeto, ao serem incorporados em um sistema de categorias familiares, deixem de set estranhos ¢ tornem-se familiares. Porém, nesse processo, no 6 abarcado todo 0 conhecimento sobre 0 objeto, ¢ a classificagdo mo ocorre de forma neutra, mas a partir de julgamentos de valor, diante dos valores sociais (]ODELET, 2005a; ALMEIDA, 2005), Esse duplo processo de formagéio da Fepresentao social ndo acontece de forma estanque, ou seja, a ancoragem ¢ a objetivagao se dio de forma interdependente ¢ simultanea. De acordo com Moscoviei (1978; 2012), cada representagdo possui trés dimensbes que correspondem & formagio do conterido da representagao e dizem respeito ao contexto social em que 0 individuo esta inserido: a atitude, a informagdo © 0 campo de representagdo. A informagdo corresponde & organizago dos conhecimentos que 0 grupo possui a respeito do objeto social, variando de acordo com a quantidade ¢ qualidade desse conhecimento; a atitude refere-se 4 orientacdo das condutas relacionadas ao objeto representado, a partir de julgamenios de valor; esses dois elementos (a atitude e a informagio) se estruturam no campo de representacdo, que remete a ideia de imagem, de modelo social, ou seja, & organizagao dos lementos jé estruturados na representagéo. ‘Na dindmica de construgdo ¢ engendramento social da representagiio hé que se destacar também sua orientagéo pritica e suas fungGes nas interagées sociais. De acordo com Abric (1994), as RS desempenham as fungdes de manutengdo da identidade, de saber, de orientaga0 ratica e de justificagao. Essas fungdes foram categorizadas pelo autor em: (i) fiunedo de saber, 0u seja, 0 individuo torna-se capaz de compreender ¢ explicar a realidade, integrando um novo conhecimento a saberes prévios e, assim, construindo novos conhecimentos; (ii) fimedo ‘identitéria, a qual permite a manutengao de uma identidade social, situando o lugar dos individuos em seus grupos de pertenga; (iii) funedo de oriemtacdo, que prescreve comportamentos ¢ préticas, orientando o individuo e definindo o que é aceitivel dentro de seu ‘grupo social; por fim, ) fuuneao justifcadora, a qual faculta aos sujeitos justificar suas condutas e suas tomadas de pos io, além de explicar suas agbes. Podemos depreender, portanto, que as representacdes sociais so construidas com fins raticos, de elaboragio da comunicagao e dos comportamentos dos individuos, numa relagao de interdependéncia (MOSCOVICI, 1978). Dessa forma, investigar as representagées sociais de determinado grupo sobre determinado objeto implica a compreenséo de como se dé o 85 Proceso de construgto do pensamento social das priticas comuns entre os membros desse grupo em relagio ao objeto em questi. Por esse motivo, $4 (1998) reitera que nem todo conhecimento social constitui-se como uma representaglio ¢ que no hé representago social para todo objeto social. O autor afirma ue, para ser construida uma representagdo social, o objeto deve ter relevancia cultural, ser polimorfo (assumir diferentes formas para cada contexto social) e estar inserido de forma consistente nas priticas (discursivas e de comportamento) do grupo (SA, 1998; SANTOS, 2005). Dito isso, entendemos que, para o grupo de doventes do curso de Pedagogia, o prop curso constitui-se como objeto de representagdes sociais e, assim, sobre ele sto construfdos discursos, priticas diversas e posicionamentos valorativos. Dessa forma, buscamos, no proximo tépico, situar o curso de Pedagogia enquanto objeto de representagées sociais para 0 grupo esquisado, como também contextualizar a abordagem da teoria que nortearé nosso estudo. 5.3 O curso de Pedagogia como objeto de representagées sociais Como explicitado anteriormente, os sujeitos constroem representagdes sociais para se comunicarem e agirem. Assim, as investigagSes em representagSes sociais auxiliam na compreensio de como os objetos so imbricados consistentemente nas priticas grupais, buscando apreender como os grupos produzem conhecimento e priticas sociais sobre esses objetos. Dessa forma, para ser objeto de representaco, este necessita ser tema de discussa0 entre os membros do grupo e gerar priticas discursivas e de comportamentos. Nesse sentido, toma-se relevante situar 0 curso de Pedago; enquanto um abjeto socialmente relevante para o grupo composto pelos seus docentes. Com aspecto polimorfo, que € evidenciado quando consideramos sua trajetéria histérica ¢ os atuais embates ora postos a respeito do curso ~ jé discutidos no capitulo anterior ~ que conferem x ele contornos distintos, ‘© curso torna-se, assim, objeto de discussao no grupo de professores nele atuantes, Dessa forma, esses docentes constroem um sistema de significagdes em torno desse curso, interpretando-o a partir das relagées sociais e do sentimento de pertenga grupal, que agirlo como guias de ago. Essas representagées so construidas com base nas mais diferentes informagGes e julgamentos de valor adquiridos por diferentes fontes, mas também a partir de experiéncias pessoais ¢ grupais. Aqui evidenciamos que, embora um grupo social seja visto como um conjunto homogéneo de pessoas que compartilham determinados conhecimentos, priticas, visdes de ‘mundo, crengas, valores ete., essa homogeneidade se da em nivel macro, pois consideramos 86 ue 0s sujeitos possuem a sua individualidade e a resguardam quando inseridos em ‘grupo. Moscovici (1978) jé indicava que nfo hi apenas consensos e homogeneidade de pensamentos dentro do grupo, mesmo que construam e compartithem de pensamentos, pontos de vista, valores € crengas. Abric (1994) complementa essa ideia, considerando que as representagSes Sociais sto marcadas por diferencas interindividuais ¢ que a homogeneidade e estabilidade da representagdo no ¢ definida pelo consenso de todos os sujeitos sobre 0 objeto, mas pela organizagdo de scus elementos dentro da representagao. Trata-se, enti, muito mais de um sentido comum dado a0 objeto, mas que resguarda as diferengas dos sujeitos. Essa caracteristica assinala que 0 objeto em questio comporta nfo s6 consensos como também conffitos entre os. membros do grupo em questio. A esse respeito, Machado (2013) postula que é preciso ter clareza que as representagtes no se constituem como “coros coletivos”, uma vez que os grupos sociais, sobretudo nas sociedades modemas, sdo diversificados, possuindo tipos de informagées, imagens e atitudes multirreferenciais. Essa autora diz ainda que é 0 carter prético que confere representatividade 4205 objetos, nfo apenas por serem grupais e compartihados dentro de um grupo. © grupo de professores do curso de Pedagogia do Centro de Edueago & formado por Profissionais de diferentes dreas (pedagogos, socislogos, il6sofos, psicélogos ete.), licenciados ou bacharéis, com uma diversidade de experiéncias profissionais anteriores, ou nfo, & sua atuago no curso, Enquanto grupo social, esses docentes possuem em comum a pertenga ao Centro de Educagao da UFPE e a atuagao no curso de Pedagogia, que transfere para eles uma identidade grupal e um sentimento de pertenga a esse grupo. Mesmo constituindo-se enquanto um grupo de profissionais, que possui uma quantidade maior ¢ de mais qualidade de informagées sobre o objeto em questéo. levamos em consideragao, ainda, na construgdo da representacao deles, suas especificidades de contexto local como de trajetéria formativa. Como as representagdes construfdas pelos docentes guiam suas priticas, torna-se necessirio apreender as representagSes sociais construidas pelos docentes que esto Participando ativamente no proceso de formagio do pedagogo na formasio inicial que acontece no curso de Pedagogia, pois as RS que cles possuem do curso, enquanto guias de ago © justificadoras de condutas, norteiam todo o funtcionamento do curso, desde a elaboragio do Projeto Politico Pedagégico, a selegio das disciplinas e ementas da grade curricular até a prépria pratica docente. Para isso, optamos, devido a natureza de nosso objeto, de nosso grupo investigado e dos objetivos da pesquisa, pela abordagem processual da Teoria das Representagées Sociais. Uma vez inaugurada a TRS por Moscovici, os estudos e pesquisas em tomo dela foram sé ampliando © conferindo novas roupagens a essa teoria. Nao se afastando da ideia original do autor, novas 87 correntes tebricas foram se desenvolvendo e enfocando, cada uma delas, determinados aspectos da corrente original, chamada de grande teoria. Situaremos, de forma breve, cada um dos esdobramentos da grande teoria © certificaremos nossa escolha teérica pela abordagem processual. A abordagem processual ou dinamica, difundida por Jodelet (1989), esté vinculada & investigagdo do processo de formagéo transformagio das representagoes sociais, com énfase no estudo dos processos de ancoragem ¢ objetivagao e nas trés wensdes da RS: a informacdo, 4 atitude ¢ 0 campo. A corrente liderada por Doise (1990), denominada de societal, vincula a ‘eoria a uma perspectiva mais socioligica, buscando compreender o eontextoe a reprodugdo da ‘epresentagdo entre os grupos. Por sua vez, a abordagem estrutural, desenvolvida por Abric (1994), dé €nfase ao conteiido das representagdes e & sua organizagio. No préximo capitulo, apresentaremos o percurso tedrico-metodol6gico da pesquisa € discorreremos sobre toda a trajetoria percorrida, a escolha e utilizagiio dos métodos de coleta de dados. Além disso, apresentaremos os participantes e 0 Iéeus da pesquisa, bem como os procedimentos de andlise dos dados coletados,

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