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1 O Censo de 2010 ¢ as religides no Brasil: esboco de apresentacdo Faustino TEIXEIRA Introducao Os primeiros ntimeros do Censo de 2010 sobre as religides no Brasil s6 foram divulgados pelo IBGE no final de junho de 2012. Uma divulga- 40 que ocorreu quase dois anos depois da aplicagao dos questiondrios pelos recenseadores. O presente livro tem por objetivo trabalhar esses dados com o aporte de intimeros pesquisadores nacionais. Como por- ta de entrada, a provocagao de Pierre Sanchis, no sentido de augurar uma perspectiva analitica capaz de ultrapassar uma leitura superficial dos dados apresentados ¢ avancar na espessura desse campo religioso tao complexo e desafiador. Os capitulos seguem um fio condutor que acompanha as tendéncias apresentadas pelos indices do Censo. Parte-se de uma andlise mais geral dos dados (Anténio Flavio Pierucci e Marcelo Camurga), precedida de uma reflexao tematica sobre os mimeros censi- tdrios em torno da religido (Clara Mafra). A abordagem dos dados da declaragdo catélica vem desenvolvida por Carlos Rodrigues Brandao Silvia Regina Fernandes. O campo dos evangélicos, incluindo a avaliagao dos dados sobre os pentecostais, vem trabalhado por Leonildo Campos, Cecilia Mariz ¢ Paulo Gracino. Os sem-religido sao objeto da reflexdo de Regina Novaes, privilegiando o recorte geracional, O tratamento dos ndmeros sobre o espiritismo vem realizado por Bernardo Lewgoy ¢ so- iées afro-brasileiras, por Reginaldo Prandi, Luciana Duccini bre as religi Digitalizada com CamScanner ido informada pelos que se au © Miriam Rabelo, Os dados sobre a rel ‘as foram trabalhados por Elizabeth Pissolato. Fan 5 religiosas, incluindo a todeclararam indig seguida, 0 campo especifico das outras tradig es orientais (Frank Usarski), sobre abordagem dos indices sobre as religid« © islamismo (Paulo Gabriel H. da Rocha Pinto), 0 judafsmo (Ménica Grin e Michel Gherman) ¢ 0 circuito neoesotcrico (Leila Amaral). Com abordou-se também o tema da tr no Ambito dos domicilios bra nsmissio hase nos dados do Censo, 11 ¢ dos deslocamentos verificado: ado por Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa, s margens do Cen- relinic sileiros, © que foi realiz Ao final, Renata Menezes elabora algumas reflexé nas suas repercussdes, expectativas ¢ limites, lados do Censo de 2010 ¢ 0 resultado das ana- lises realizadas pelos diversos autores neste livro indicam uma imagem hem significativa do atual campo religioso no Brasil. Mas ha que igual- mente sublinhar as importantes mudangas sinalizadas no campo religio- so cm Ambito mundial, dat a decisao de inict entados pelo Pew Research so de 2010, com enfoque A apresentagao dos d nes far essa apresentagio com uma visio panoramica sobre os indices apres Center! em relatério sobre as religides mundiais, apresentados em 2012, em coincidéncia com a divulgagao dos dados do IBGE sobre as religiées no Brasil. Um olhar mais abrangente Em importante relatério publicado pelo Pew Research Genter em dezembro de 2012 sobre o perfil das religiGes mundiais, com base em dados de 2010, firma-se um quadro significativo de sua distribuigio no mundo”, O cristianismo continua hegeménico, abarcando 31,5% da po- pulagio mundial, com cerca de 2,2 bilhdes de adeptos’. O islamismo vem em seguida, envolvendo 23,2% da populagio geral, com cerca de 1. Trata-se de um dos mais importantes centros de pesquisa de opinido ptiblica dos Estados Unidos da América, Um think tank localizado em Washington, DC, que presta “informagoes sobre ques: que estio moldando os EUA € 0 mundo”. tes, atitudes e tend 2. PEW RESEARCH CENTER. The Global Religious Landscape — A report on the Size and Distri- bution of the World's Major Religious Groups as of 2010, dez./2012 [Disponivel em http:/www, pevwlorum.ory/globab-religious-landscape-exec.aspx ~ Acesso em 16/04/2013]. 3. F, dentee os eristios, os eatsicos acupam a primera posigio, respondendo pela metade desse comtingente de adeptos (50%) e, na sequencia, a tradigio protestante, com a incluso dos anglica- ‘outras tradigées evangélicas independentes, ¢ igrejas nao denominacionais (37%), bem como hao Ortodoxa da Grécia e da Riissia (12%). Digitalizada com CamScanner foes ee Os nao afiliados' vem em tetceiro lugar, abran- i hin dati Populagio global, em torno de 1,1 bilhdo de adep- mandial, com a Scupa a quarta posigio, cobrindo 15% da populagao ae badisse Dag a 1 bilhao de figis. Na sequéncia, apare- is seage iba - ais lies) as religides étnicas ou regionais (0,2% ~ 14 milhies), uutras religides (0,8% — 58 milhées)* e judaismo Pe Beografica, verifica-se que os cristios encon- nia América Large ioritatiamente na Europa (25,7% ~ 558.260.000), ee Ames | atina e Caribe (24,4% — 531.280.000) e na Africa Subsaa- 23,8% — 517.340.000). Por sua vez, os mugulmanos encontram- ~se mais presentes na regiio da Asia-Pacifico (61,7% — 985.530.000), Oriente Médio e norte da Africa (19,8% ~ 317,070,000) e Africa Sub. saariana (15,5% ~ 248.110.000). Sua presenca na Europa é menos des- tacada (2,7% ~ 43.490.000). Os ndo afiliados encontram-se situados de forma mais viva na Asia-Pacifico (76,2% - 858.580.000), mas marcam também presenca na Europa (12% ~ 134.820.000), América do Norte (5,2% — 59.040.000) e América Latina e Caribe (4% — 45.390.000). Os hindus situam-se, sobretudo, na Asia-Pacifico (99,3% ~ 1.025.470.000), com uma menor presenga no Oriente Médio e Africa do Norte (0,2% - 1.720.000) e Africa Subsaariana (0,2% - 1.670.000). Os budistas tem melhor representagio na Asia-Pacifico (98,7% ~ 481.290.000), com pre- senga mais modesta na América do Norte (0,8% ~ 3.860.000) e na Eu- ropa (0,3% — 1.330.000). As religides étnicas ou regionais marcam sua presenca mais decisiva na Asia-Pacifico (90,1% — 365.120.000), bem como na Africa Subsaariana (6,6% — 26.860.000) e na América Latina e Caribe (2,5% - 10.040.000). Por fim, as outras religides tém também 4. Como tradugio de Religionsly Unaffllited, categoria que inclui ateus, agndsticos ou pessoas {que no se enquadram em nenhuma das religides indicadas na pesquisa. Destaca-se sua presenga em paises como a China, Japao ¢ Estados Unidos. Com base nos dados de 2010, o ja citado relatério do Pew Research Center indicou 0 envolvimento de 16,4% de toda a populagao americana nessa categoria. Mas segundo um survey mais recente do mesmo centro de pesquisa americano, realizado em 2012, esses mimeros cresceram, envolvendo agora 19,6% dos americanos adultos, dos quais 3,3% sio agndsticos e 2,4% ateus [Disponivel em http: /Awww.pewforum.org/Unaffiliared/nones- -on-the-rise.aspx ~Acesso em 20/04/2013]. 5, Nessa categoria incluem-se as religides afticanas religides americanas nativas ou dos povos originarios e as reli + bah’, taoismo, jainismo, xintoismo, tenrikyo, wicca, tradicionais, a religides populares chinesas, as ides dos aborigenes australianos. 6.-A categoria inclui as seguintes reli zoroastrismo e outras. Digitalizada com CamScanner ativa na Asia-Pacifico (89,2% — 51.850.000), bem como na América do Norte (3,8% ~ 2.200.000) ¢ Africa Subsaariang (3,3% ~ 1.920.000). As outras religides tém também sua presenga mais piava na Asia-Pacifico (89,2% ~ 51.850.000), bem como na América do Norte (3,8% ~ 2.200.000) e Africa Subsaariana (3,3% ~ 1.920.000), Por fim, o judaismo, que envolve 0,2% da populacio mundial, tem uma singular presenga na América do Norte (43,6% ~ 6.040.000), mas tam- bém no Oriente Médio e Africa do Norte (40,6% ~ 5.630.000) e Europa (10,2% - 1.410.000). Em clssico texto, 0 sociélogo Peter Berger questiona a falsa suposi- gio de uma decisiva afirmagio da secularizagao em curso. Trata-se, na verdade, de uma posigao que é alvo de debate, Para esse autor, 0 que ocorre de fato é uma singular e vigorosa “ressurgéncia” da religido, que ganha uma fisionomia particular nas pujantes presengas tanto da reno- vacio iskimica como da irradiagao evangélica, sobretudo pentecostal. Berger reage aos analistas que tendem a negligenciar o fator religioso em suas anélises da contemporaneidade, e reitera a singularidade desse componente religioso, que pode operar mesmo fora das atividades de instituigdes ou grupos religiosos formais, mediante valores difusos’. Para ele, nao hé razao plausivel que justifique a menor presenca do dado reli- gioso no mundo do século XXI’. Mesmo a Europa, tida por Berger como uma excegio, em razio da presenca de indicadores da secularizagio, “corre o risco de ser cada vez mais afetada pela nova onda religiosa”’. Em recente andli- se feita sobre “as mutagées do religioso na Franca contemporanea”, Philippe Portier sublinha a presenga de dois fenémenos simultaneos: a dessubstancializacao da civilizago catélica e o reencantamento da civilizagao republicana. Se em 1952 cerca de 90% dos franceses se declaravam catélicos, essa cifra sofre uma radical queda em torno sua presenga mais 7. 0 importante crescimento dos nio afiliados (Unaffiliated) em ambito mundial, como apontado nas recentes pesquisas do Pew Research Center, sinaliza uma distinta presenca desse religioso, en- volvendo também agndsticos ¢ ateus. Sio nada menos do que 1,1 bilhio de adeptos, cerca de 16% da populagio mundial (ama em cada seis pessoas). 8. BERGER, PLL. “La désecularisation du monde: un point de vue global”. In: BERGE! El : slobal”. In: BERGER, PL. (org.). Le réenchantement du monde, Paris: Bayard, 2001, p. 28. Cf. tb. p. 19-24. eaeted, 9. LENOIR, F. “Le P, 9. LENOIR, “Les metamorfores deta foi". Le monde des religions, n. $8, set/2012 Digitalizada com CamScanner de 2008, cnvolvendo agora nao mais que 42% dos adeptos, sendo os praticantes regulares em torno de reduzidos 8%, Por outro lado, ocorre uma grande proliferacao de religiosidade, de pluralizagao de denominagdes teligiosas, abarcando em torno de 75% dos franceses Cresce 0 cireuito dos “neoprotestantes”, bem como a circulagéo pe- los meandros da “nebulosa mistico-esotérica” e da “espiritualidade leiga”. A cosmovisio racionalista nao tem a mesma forga do pa sendo agora permead secularizada, P ado, ‘a pelo clima de incerteza de uma sociedade pés- ‘ ortier indica a vigéncia de uma peculiar situacao, que ¢ ambivalente, onde coexistem “a aspiracdo em favor da autonomia com a angistia da incompletude””, I Em seu editorial sobre as “metamorfoses da fé”, o historiador das religides Frédéric Lenoir indica como um panorama possivel das religi- 6es Nas préximas décadas a manutengao do crescimento cristao, ¢ em particular do evangelismo pentecostal e da irradiagao islamica, assim como a estabilidade de outras tradigées religiosas como o hinduismo, budismo e judaismo, Lenoir sublinha que ao lado dessas tendéncias, ¢ em concordancia com outros analistas franceses como Jean-Paul Willaime ¢ Raphaél Lioger, “as religides continuarao se transformando ¢ sofrendo os efeitos da Modernidade, notavelmente a individualiza- so ¢ a globalizagdo”. A tendéncia em curso indica a afirmacio “de uma visio cada vez mais pessoal da religiio”, dispondo os sujeitos de “dispositivos de sentido” singulares, seja pontuados pelo sincretismo ou pela bricolagem. As buscas identitérias e espirituais continuarao vigentes, salienta Lenoir, mas nao mais “vividas como no passado, dentro de uma tradic¢do imutavel ou de um dispositivo institucional normativo”". O campo religioso brasileiro e o Censo No prefacio deste livro, Pierre Sanchis confirma essa “reemergéncia” do sagrado na vida social e na experiéncia pessoal, que se da “ao lado e articuladamente com a secularizacao”. Constata ainda o crescente inte- resse pelo fendmeno religioso no ambito da academia. Dentre as linhas 10. PORTIER, P. “Les mutations du religieux dans la France contemporaine”. Social Compass, v. 59, n, 2, jun/2012, p. 193-207. 11, LENOIR, F, “Les metamorfoses de la foi”. Op. cit. Digitalizada com CamScanner so. Fragiliza-se 0 peso da tradigao e vem reforgada a busca de alternativg eae po oar ae a individual no proceso de afirmagio da identidade religiosa”, Mesmo assim, como mostrou Pierucci, apesar dese “declinio mode. rado, mas constante”, a presenga catélico-romana é ainda muito gran. de: *é catélico que nao acaba mais””*, O Censo revela a presenga de 123.280.172 milhdes de declarantes catdlicos, ou seja, 64,63% da po. pulagio total. A retragio do catolicismo nao reflete na diminuigio do cristianismo, j4 que 0 crescimento dos evangélicos vem se acentuando a cada década, Mudangas sio, de fato, visiveis no cendrio religioso brasi- leiro, com sinais visiveis de pluralizagao, mas o trago da hegemonia cris- ti permanece aceso: “O Brasil nao esta deixando de ser um pais cristao, embora seja menos catélico, protestante tradicional ou ‘evangélico de missio” em 2010°7', Somando os catélicos com os evangélicos chega-se a uma porcentagem de 86,8%, quase 90% de toda a populagao brasilei- ra declarante. Hé que sublinhar também o traco peculiar do catolicismo brasileiro, com suas malhas largas ¢ seu perfil plural. Um catolicismo m que Deus pode ter muitos que acolhe ¢ convive com a diversidade, rostos”. Sublinha-se que “talvez seja o exemplo mais fiel de uma tradi- cio religiosa — dentro ¢ fora do cristianismo — de um sistema de sentido 24 pluriaberto, multicénico e em constante transformacao ‘A continuidade do crescimento evangélico esteve também eviden- ciada nesse Censo de 2010. Na avaliacao de Cecilia Mariz e Paulo Gra- cino Jr, em capitulo neste livro, ocorreu um significativo incremento ios brasileiros”. 21. ALMEIDA, R. & BARBOSA, R. “Transmissio religiosa nos domi 22, PIERUCCI, A.F. “O crescimento da liberdade religiosa e 0 declinio da religiio tradicional: a propésito do Censo de 2010”. £ 0 pais com a maior presenga de catélicos em ambito mundial, seguido pelo México, Filipinas e Estados Unidos. 23. CAMPOS, L.S. ““Evangélico de missio’ em declinio no Brasil - Exercicios de demografia religio- sa 8 margem do Censo de 2010”. Isso também ja tinha sido apontado em PIERUCCI, AF. “Cadé nossa diversidade religiosa?” In: TEIXEIRA, F. & MENEZES, R. As religides no Brasil, Pett6pol Vores, 2006, p. 50. 24, BRANDAO, C.R. “Catolicismo. Catolicismos?” Em outro trabalho, Brandao sinalizou que “o catolicismo é uma religiio do padre e da puta, do policial e do bandido, do fiel paroquiano da Re- novagio Carismédtica Cardlica” e de pessoas que, como ele, na porta da igreja se perguntam: ““Entro ‘ou nio entro?’, ‘Comungo ou nao comungo”, ‘Sou catélico ainda ou ja ndo sou mais?” (BRAN- DAO, C.R. “Combinando crengas ¢ praticas”. IHU-Online, ano 4, n. 169, dez./2005, p. 74). Essa categoria “transformagio” é chave para entender no s6 0 campo catélico, mas todo o campo reli- 8ioso mais amplo. Pierre Sanchis acentuou a sua importéncia para entender ¢ explicar o “advento, desta ver inegavel, da pluralidade religiosa” no Brasil: SANCHIS, P. “Pluralismo, transformagio, emergéncia do individuo e suas escolhas”. IHU em Formagao, ano VIII, n. 43, 2012, p. 37. Digitalizada com CamScanner na presenga evangélica nas dltimas décadas, com um salto de 6,6% em 1980 para 22,2% da populagdo geral em 2010". Nada menos do que 42.275.440 milhdes de evangélicos para uma populagao brasilei- ra de 190.755.799", Esse crescimento nao se deve aos evangélicos de missdo, que permaneceram quase estacionados na iiltima década, na faixa dos 4% de declaragio de crenga”. Deve-se, sobretudo, aos pen- tecostais, que respondem por 13,3% da populagao brasileira, ou seja, 25,370.484 milhdes de adeptos™. Num divertido exercicio, Leonildo Campos assinala que os evangélicos conquistaram na ultima década cerca de 4.408 novos fiéis por dia, e os de origem pentecostal cerca de 2.124 por dia, sendo a Assembleia de Deus responsdvel por 1.067 adesdes diarias”. E extraordindrio esse crescimento pentecostal em termos abso- lutos, na faixa de 17 milhées de fiéis entre os anos de 1991 a 2010. Mas os analistas advertem que o crescimento evangélico, incluindo os pentecostais, no pode ser muito otimizado, j4 que na ultima década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi menor do que 0 ocorrido na dé- cada anterior. Como mostrou Paulo Ayres, 0 crescimento dos evangé- licos entre 1991 e 2000 foi de 120%, enquanto na tiltima década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi de aproximadamente 62%”. Vale registrar, no campo pentecostal, o decréscimo de figis - em niimeros 25, Em Ambito mundial, é o quarto pais com a maior presenga de evangélicos (protestantes) no mundo, depois dos Estados Unidos, Nigéria e China 26. Como indicam Mariz ¢ Gracino Jr, levando-se em conta as sltimas trés décadas, 0 crescimento evangélico foi de aproximadamente 540%: de 7.886 milhes em 1980 para 42.275 milhoes em 2010. 27, Houve, na verdade, um pequeno decréscimo dos evangélicos de missio na dilrima década, que passaram de 4,1% para 4% dos declarantes, ou sea, 7.686.827 miles de adeptos. eem ialea através 28, Em seu capitulo, neste livro, Marcelo Camurga enfatiza a vitalidade dos pentecost particular da Assembleia de Deus, no sentido de “acdnipanhar a capilaridade da geografias probilidade e 0 transito de populagdes para lugares mais recdnditos e inalcangaveis do pais, {eorganismos igeis,miltiplose funcionais” (CAMURGA, M.A, “O Brasil religioso que emerge do Censo 2010: consolidagies, tendéncias e perplexidades”). 29, CAMPOS, LS. “Evangélicos de missio” em declinio no Brasil”, No caso do catolicismo ocor- yeu o contrario, com uma sangria didria na ordem de 465 adeptos por diana wltima década, Dai se dizer, com acerto, que o catolicismo é um “doador universal”, o “principal cleico” da arregimen- tagio de adeptos pelos outros credos ou pelos sem religito (MONTERO, P. & ALMEIDA, R. “O Compo religioso brasileiro no lima do séulo”. Ins RATTNER, H. (org). Brasil no liar do séudo XXI Sio Paulo: Fapesp/Edusp, 2000, p. 330). 30, MATTOS, P.A. “A relevante queda de crescimento evangélico revelado pelo Censo de 2010". Cadernos IHU em Formagao, ano Vill, n. 43, 2002, p. 30. 25 Digitalizada com CamScanner absolutos - ocorrido na tiltima década on igrejas ino eee on a Congregagio Crista do Brasil, a Igreja Universal do Se or ea lereja do Evangelho Quadrangular. Incremento import reve por sua vez, a Assembleia de Deus, a maior do campo pentecostal ~ com. 12,3 milhdes de adeptos -, que registrou um aumento de 4 milhdes figis na tiltima década’". 5 ‘a difeuldade de precisdo analitica na apreensao correta dos dados sobre os evangélicos deve-se, em parte, 20 significativo niimero de fis “evangélicos nao determina. vangélicos classificados na categoria de eine , perfazendo 21,8% de dos”. Nada menos do que 9,2 milhées de pessoas patamar que envolve 5% de toda todo o contingente evangélico, num e de tod alistas os identificam como “evangé- a populacio brasileira. Alguns an a licos genéricos” ou “evangélicos sem igreja”, indicando a afirmacao de | uma diversidade interna no campo evangélico, seja mediante caminhos diversificados de assungao da pertenca evangélica, seja no exercicio de crenga fora das instituig6es, ou na miltipla pertenga evangélica. A in- sergdo desse item classificatério no Censo de 2010 acaba dificultando a aferigao analitica do real crescimento evangélico, seja dos evangélicos de missdo ou dos evangélicos pentecostais”. Para o tedlogo luterano Wal- ter Altmann, esse grande contingente de evangélicos nao determinados “j4 alteraria substancialmente os mimeros referentes a igrejas de origem pentecostal, mas extraordinariamente os referentes as igrejas de missio que muito possivelmente ficaram subcontabilizados””®. Sem religiao Em artigo publicado em 2004, Anténio Flavio Pierucci buscava ex- plicar o “declinio das religides tradicionais no Censo de 2000”. Ao tratar do refluxo do catolicismo, justificava a situagdo com o clima instaurado nas sociedades pés-tradicionais, com a crise das filiagdes tradicionais: 31. Mas mesmo com esse incremento, houve um recuo no SO perces i evangélico, como assinalaram Mariz e Gracino Je, "passant de aceon tiltimo Censo” (“As igrejas pentecostais no Censo de 2010" ak 32, MARIZ, C. & GRACINO JR., P. “As igrejas pentecostais e 0 Censo de 2010”. Segundo Ricar- do Mariano, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 30/06/2012, “o inchaco da categoria ‘evangélca nao determinada’ reduziu artificialmente o crescimento penrecostal” (“Ein marcha transformacao de demografia religiosa do pais"). ee ae 33. ALTMANN, W. “Censo IBGE 2010 e religido”. Op. > Ps 1.128, Digitalizada com CamScanner Nelas 0s individuos tendem a se deseneaixar de seus antigos laos, por mais confortiveis que antes pudessem parecer. Desencadeia-se nelas um processo de desfiliagdo em que as pertengas sociais ¢ culturais dos individuos, inclusive as religiosas, tornam-se opcionais e, mais que isso, revisaveis, e 0s vinculos, quase s6 experimentais, de baixa consis 10, claro, as religides tradicionais™. téncia. Sofrem, fatalmente, com A crescente afirmagio dos sem-religido nos dois tiltimos censos pode encontrar uma pista de interpretacao nessa abordagem de Pierucci. Os declarantes que se encaixam nessa categoria esto mesmo desencaixados de lagos institucionais, situando-se, melhor, como peregrinos do sentido. Sao pessoas que, como bem expressou Silvia Fernandes, esto “em re- definicao de identidade”. Dentre os tipos predominantes de sem religiio encontram-se aqueles que se desvincularam de uma religido tradicional ¢ afirmam sua crenga com base em rearranjos pessoais; aqueles que pas- saram por diversos transitos, mas que nio se encontraram em nenhum deles; aqueles que mantém uma espiritualidade leiga ou secular; aque- les que mantém uma filiacdo fluida em razdo da indisponibilidade de participacao religiosa regular e aqueles que se definem como ateus ou agnésticos”. No Censo de 2010, foram cerca de 15,3 milhées de pessoas classifi- cadas nessa categoria de sem religido, ou seja, 8% da populacio geral. E, curiosamente, o grupo dos agnésticos ou ateus nao é 0 mais expressivo dentre os declarantes, envolvendo respectivamente 124,4 mil (0,07%) € 615 mil (0,32%) pessoas. No capitulo redigido para este livro, Regina Novaes destacou nessa categoria uma presenga jovem, sendo a idade média em torno de 26 anos. Dai ter privilegiado esse recorte para 0 desenvolvimento de seu trabalho. Sao jovens que “vivem, sobretudo, nas cidades”, embora nao estejam ausentes no campo, com boa repre- sentagao no Sudeste. A autora identificou em suas pesquisas a presenca, entre os jovens, de “historias de conversdes e de desconversdes, de tran- sitos e combinagdes no interior de suas familias multirreligiosas”. Em sua pertinente anélise, Regina reconhece que na trajetéria dos jovens —_— 34, PIERUCCI, AF. “*Bye bye, Brasil” ~ Estudos Avancados USP, v. 18, n. 52, set--dez./2004, p. 19. 435. Dentre os analistas que buscaram clasificar os sem-rligido, cf. FERNANDES, S. “A (re}cons- trugio da identidade religiosa inclui dupla ou tripla pertenga”. Cadernos IHU em Formasio, ano Vill,» 43, 2012, p. 24. CE. tb. RODRIGUES, D.S. “Os serm-religido nos censos brasileros: sinal - Horizonte, v. 10, n. 28, out.-dez./2012, p. 1.137. declinio das religides tradicionais no Censo de 2000”. de uma crise do pertencimento institucional”. Digitalizada com CamScanner entrevistadas pelo IBGE existem, de fato, experiencia de destliggg Gan \ 4 : i ; pi TAliaagiy apressadas, pois para muitos jovens as instituigdes religiosay MO Perde Hen o seu valor de locus de agregagio, motivagao ou afirmagao de Mid © que ocorre, na verdade, €a redefinigio de vinculos ou pertencinn que se firmam de outros moos, e nem sempre “por dentro doy enn institucionais, mas também fora ¢ 4 margem”, Nesse sentido, mesmo desafeigio religiosa, mas que & problematico fazer pene WeHitg, ng H lecharay, -se ‘sem religiio’ pode ser um ponto de partida, um inter FERN engy . e e realiza sinteses Dessoaig pertencimentos ou um ponto de chegada ond combinando elementos de diferentes tradigdes religiosas ¢ esotérleas” Espiritas ¢ afro-brasileiros As taxas de crescimento nominal, no Censo de 2010, também Vigo. raram para a declaragio espirita, Houve na tiltima década um acréscimg vigoroso de adeptos do espiritismo kardecista, que passaram de 1,3%, em 2000 para 2,02% em 2010. Sio hoje cerca de 3,8 milhdes de se. guidores do espiritismo no Brasil, Como mostra Bernardo Lewgoy, *o Itimas décadas, por um proceso de espiritismo brasileiro passou, nas transformagao, de minoria religiosa perseguida para alternativa religios sa legitima, que oferece explicagao de sucessos, conforto para alligdes ¢ cura espiritual de inforttinios, a partir de uma doutrina que se pretende simultaneamente cientifica e religiosa””. A presenga espirita na sociedade brasileira nao consegue ser captada satisfatoriamente pelos dados do Censo, que traduzem simplesmente um olhar de “superficie”. Lewgoy chama a atengo para “as dindmicas e estra- tégias de mobilidade e afiliagao religiosa concreta dos atores sociais” que s6 com 0 aporte de pesquisas qualitativas, com bons recursos hermenéuticos, conseguem ser delineadas. Ha que sublinhar, igualmente, um dado reiterado por analistas das ciéncias sociais a propésito da “impregnagao espirita da sociedade brasileira”. Como mostrou Gilberto Velho, entre outros, 0 “tran se, possessao e mediunidade so fenémenos religiosos recorrentes na socie= dade brasileira”. E nao s6 no espiritismo, mas também nas religides afro, nO pentecostalismo e outros grupos religiosos. Esse autor chega a sugerir que 36. NOVAES, R. “Jovens sem religido: sinais de outros tempos", 37. LEWGOY, B. “A contagem do rebanho ¢ a magia dos mimeros ~ Notas sobre o espiritismo 80 ‘Censo de 2010”. Digitalizada com CamScanner em torno da metade da populagio brasileira “ ‘participa diretamente de siste- mas religiosos em que a creng: : 2 nos espiritos e na sua periddica manifestacio através dos individuos & caracteristica fundamental”, © socidlogo Candido Procépio de Camargo, com base nos censos de 1940 a 1960, sublinhava o papel singular do “ gradiente espiritismo- sumbanda” como “beneficidtio” do Processo de transicao religiosa em curso no Brasil”, Reginaldo Prandi, em capitulo deste livro, lembra essa Previsiio de Candido Camargo, e mostra como ela, de fato, nao se rea- lizou. O que se destaca nos tiltimos censos é um “declinio constante” do conjunto das religides afro, sobretudo da umbanda, mantendo-se no reduzido patamar de 0,3% da populagao brasileira. Prandi reconhece que na tiltima década houve uma “pequena reagio da umbanda”, que passou de 397.431 adeptos, em 2000, para 407.331, em 2010. Mas ad- verte que “o fraco crescimento observado foi insuficiente para recuperar as perdas sofridas anteriormente”. Trata-se de uma perda que se revela Progressiva, desde o Censo de 1991, quando a umbanda e o candomblé Passaram a contar com estatisticas separadas. O mesmo nao ocorre com 0 candomblé, que em 2000 contava com 139 mil adeptos e ganha um acréscimo de 28 mil adeptos em 2010, passando a 167 mil declarantes. Mas assim como ocorre no aferimento da declaragao dos espiritas, também com respeito As religides afro-brasileiras ha dificuldades preci- sas de detectar a real presenca da umbanda e do candomblé no Brasil. Como indica Prandi, o Censo “sempre ofereceu ntimeros subestimados dos seguidores das religides afro-brasileiras, o que se deve as circuns- tncias hist6ricas nas quais essas religiées se constitufram no Brasil e a seu cardter sincrético daf decorrente”. Continua vigente a tendéncia de adeptos das religides afro-brasileiras camuflarem sua identidade regis- trando uma declaragdo de crenga distinta, seja na rubrica catélica ou espirita”. po Sd shane ETE ete E je ~ ia das sociedades complexas. 3. ed. Rio de . VELHO, G. Projeto e metamorfose ~ Antcopolog ‘ ae Zabar, 2003, p. 53-54. Cf. tb. SANCHIS, P. “O repto pentecostal 4 cultura catdlico-bra- Agee ANTONIAZZI, A. et al. Nem anjos em deménios ~ Interpretagoes sociologicas do pentecostalismo, Petrépolis: Vozes, 1994, p. 37. a 39. CAMARGO, CRE. Catélicos, protestantes,espiritas. Petropolis: Vozes, 1973, p. 24. 40, PRANDI, R. “As religides afro-brasileiras em ascensio ¢ declinio”. Cf. tb. FOLMANN, J.I. chante teligoso eo “permanente peregrinar™. Cademos IHU em Formacio, ano Vil, n. 43, 2012, p. 14. a0 Digitalizada com CamScanner & abordagem mais otimista sobre os rumos das relipiony Ay -prasileiras, também presente neste livro, as pesquisadoray Lucian, | Duccini ¢ Miriam Rabelo reconhecem que, apesar de 4 reduzidy “jogam um papel importante om Numa expressiio numérica, essas religides debates sobre formagiio da sociedade brasileira ¢ na politica identitg, ise dessas autoras, Oo que ria de segmentos desta sociedade™"', Na and 0 Censo de 2010 revela é “uma recuperagac > vinham perdendo adeptos”. cimento negativo entre os anos de 1991 ¢ 2000, os dados do dlkimg.- Censo revelam um “incremento de 12,5 sobretudo em razio do ordem de 31,2%, bem como da » no crescimento dessas } Se houve um creg, religides, que até en! % crescimento do candomblé, que foi umbanda, na ordem de 2,5%. Tradicdes indigenas ¢ outras religioes Os dados indicados pelo Censo de 2010 com respeito as tradigdes indigenas no Brasil revelam um crescimento com respeito 4 década pas- sada. Enquanto em 2000 os ntimeros indicavam 10.723 adeptos de tra- digées indigenas, no ano de 2010 esse numero passou para 63,082. O tratamento dessa questao no presente livro ficou a cargo de Elizabeth Pissolato”. Uma importante observagio feita pela autora em seu traba- lho diz respeito a inadequagao da utilizagao da categoria “raga ou cor” para favorecer 0 autorreconhecimento indigena para muitos dos adeptos que se autodeclararam indigenas, mesmo nao reconhecendo tais critérios como indicativos dessa pertenca. Isso denota um componente de “valo- rizacao cultural” implicado na inclusio da categoria “tradigdes indige- nas” na pesquisa censitdria a partir de 2000. Dentre outros destaques de sua interpretagio vale registrar a presenga significativa de indigenas que se autodeclararam sem religiéo, em torno de 14,5%, bem como 0 crescimento daqueles que se autodeclaram evangélicos (25%). Quanto aos que se autodeclaram catélicos (51%), que é uma porcentagem alta, houve um decréscimo na tiltima década, j4 que em 2000 eram 58,9%. A autora sublinha como um traco importante o “aumento extraordinario” ocorrido na tltima década, e destacado no Censo, das declaragées de 41, DUCCINI, L. & RABELO, M.C.M. “As religides afto-brasileiras no Censo de 2010", 42. PISSOLATO, E. “‘Tradigdes indigenas’ nos censos brasileitos ~ Questia,em torno do reconhe~ na ¢ da relagio entre indigena ¢ religiio”, Digitalizada com CamScanner indigenas em favor das “tradigdes indigenas” como religio, de 1,4 dos declarantes em 2000 para cerca de 5,3% em 2010, Com base nos dados do Censo de 2010 nao ha como negar a forga do referencial cristéo na sociedade brasileira. Mas jf se comega a perce- ber nele uma diversificagio cada vez mais evidenciada. Junto com essa multiformidade interna ao campo cristao, verifica-se também uma plu- ralizagao religiosa cada vez maior, com visibilizagio crescente. As outras religides, que no Censo de 2000 concentravam 1,8% da declaragao geral de crenga, passam agora a responder por 2,7% dessa declaragio”’. Na presente obra, essas outras religiosidades foram abordadas em quatro frentes: religides orientais, islamismo, judaismo e circuito neoesotérico. Os niimeros relativos as religides orientais foram trabalhados por Frank Usarski“*. Nessa classificaciio esto envolvidas a tradigao budista, hinduista, as novas religides orientais (Igreja Messianica Mundial e outras novas religides orientais) e as outras religides orientais. Como assinala 0 autor, essas tradicées religiosas nunca alcangaram um “patamar quantita- tivamente significante” no Brasil. Permanecem como “minoria religiosa” no pais, envolvendo a estreita parcela de 0,22% da populacio brasileira’. Dentre essas tradi¢des, destaca-se o budismo, com 0,13% da populagio brasileira’. Segundo Usarski, “a adesio a uma das ‘religides orientais’ é um fenémeno relativamente incomum entre brasileitos”, ainda que 0 cotidiano da nagio seja penetrado por simbolos e técnicas culturais pro- venientes do Oriente. Esse envolvimento nao vem, porém, traduzido em disponibilidade de adesio especifica a determinada religido oriental. Com respeito ao Censo de 2000, houve um crescimento na adesao a uma das religides orientais, expresso no aumento de 32.902 pessoas declarantes. Em termos de localizacdo geografica, estas tradigdes religiosas esto me- Ihor representadas no Sudeste, envolvendo 78,5% dos budistas, 66,91 % —_—_—_ ps sti is da populacio, religiio pessoas com 43. IBGE. Censo Demografico 2010 ~ Caracteristicas gerais da p cs ; deficiéncia. IBGE: 2012, p. ‘92, Ha que sublinhar também os dados relativos & declarago de mil- tipla religiosidade no Censo de 2010, envolvendo 15.379 pessoas, ov seis 0,01%. Ja 0s dados trlacionados as religides nao determinadas ou mal-definidas, envolvem 628.219 pessoas, ou sei 0,33%. . 44, USARSKI, F “As ‘religides orientais’ segundo o Censo Nacional de 2010". : budismo (243.966 ~ 0,13%), hinduismo (5.675 ~ 0,003%), Iareja doutras novas religies mundiais (52.235 - 0,03%) e outras 48. De forma pormenorizada: Messidinica Mundial (103.716 ~ coe religides orientais (9.675 ~ 0,005%)- 46. Com tespeiro a0 Censo de 2000, houve um acréscimo de 29.093 adeptos. 31 Digitalizada com CamScanner dos adeptos de uma das chamadas novas religioes ies e ea dos seguidores das outras religiGes orientais. Na avaliagao He Users : a socie- dade brasileira, sensivel 4 interlocugéo da alteridade, ‘oferece os con. digdes para a ‘evolucio’ das ‘religiGes orientais"”, embora a afirmagig dessa presenca religiosa parece ainda improvavel num futuro prdximo, tendendo a manter sua condigio de minoria religiosa, Quanto ao islamismo, que tem uma pujante urradiagao mundial, Ha, porém, que des- tacar 0 seu crescimento no pais entre os dois tiltimos censos. No Censo de 2000, o ntimero de declarantes muculmanos foi de 18.592, Passando Para 35.167 no Censo de 2010. Trata-se de um crescimento consider4- vel, mas que no quadro geral da populacdo brasileira representa apenas 0,02%. A anilise destes dados foi desenvolvida no livro por Paulo Ga- briel Hilu da Rocha Pinto”. O autor sublinha que os dados apresentados pelo Censo nao coincidem com os indices apresentados pelas instituicdes encontra-se no Brasil com presenga mais modest: islamicas presentes no Brasil ou suas liderangas, que indicam um nimero bem maior, estimado entre 1 a 3 milhdes de adeptos. O que se observa, na verdade, indica o autor, é um real crescimento das instituigdes islami- cas no pais, que chegam a quase 100 em 2012, com maior concentragao nas regiGes Sul e Sudeste. O islamismo no Brasil tem um trago bem ur- bano e um indice importante de presenca masculina, com presenga mais destacada em Sao Paulo (42% dos muculmanos declarados) e Parana (27%). Registra-se ainda outro dado importante, que é 0 aumento do numero de conversées de brasileiros ao isla", © tema do judaismo foi desenvolvido por Monica Grin e Michel Gherman. Os dados apontados pelo Censo indicam a Presenga de 107 mil adeptos desta tradigio religiosa” peito a 2000, quando estavam repre: Os autores destacam a complexidade esgota nos limites da religiao, > com um leve aumento com res- ‘sentados por 101 mil seguidores. da identidade judaica, que nao se , indicando que aqueles que se declaram —______ 47. PINTO, P.G.HLR. “Isla em niimeros — fatores, entre os quais Pode ser visto, em diferenn 3 ; ; mugulmanas do Sudeste. Cf. PINTO, P.G.HLR. isl welgitae a geperoo nas fefaeer : : religido e elvan Pol6gica. Aparecida: Santuério, 2010, peIpsaig, Ne caeio— Una aordagem ane 49-0 que representa 0,06% da Populagio geral, Digitalizada com CamScanner judeus ao responderem ao Censo nao si ees io “necessariamente ‘praticantes do judaismo’” Be a Sublinham que o trago caracteristico do judaismo no Brasil é a sua diversificacdo plural, abarcando desde o judaismo ortodo- X0, que vem aos poucos se consolidando, até comunidades mais inova- doras, influenciadas por priticas da New Age. Trata-se de um judafsmo “mais multifacetado em suas manifestagdes do que apenas uma religiio monoteista e de fronteiras tradicionalmente fechadas a conversio de no judeus”**. A comunidade judaica no Brasil, que se destaca dentre as outras comunidades desta tradigéo nas Américas do Sul e Central, concentra-se sobretudo nos grandes centros urbanos. O Censo de 2010 sinalizou também a presenga das tradicdes esoté- ricas no Brasil, com um registro minguado de 0,04% de declaragio de crenga, mantendo 0 mesmo patamar indicado no Censo de 2000, com um aumento reduzido: de 67 mil declarantes em 2000 para 74 mil em 2010. A abordagem desse circuito neoesotérico ficou a cargo de Leila Amaral". A autora mostra com pertinéncia a tendéncia hoje em curso para o aumento de disponibilidade dos individuos para a “experimenta- ao religiosa, para além de seus limites institucionais”. Como parte des- sa cultura religiosa errante, inserem-se aqueles que emigraram das religi- Ges institucionais, aqueles de religiosidade nao determinada ou nticleos daqueles que foram classificados entre os sem-religido. Na visio de Leila Amaral, o ntimero reduzido de declaragées nesse campo tem também a ver com o fato de que as pessoas que se inserem no circuito neoesotérico no se definem ou se reconhecem nessa rubrica. Ou seja, a classificacao escolhida pelo IBGE para situar esse “circuito” religioso nao da conta de captar com preciso o fenémeno desses “buscadores da nova era”, Em tentativa de explicagio, a autora arrisca-se a dizer que os adeptos des- as académicas e qualitativas, estariam se circuito, com base nas pesq' cas © qual “pulverizados por entre as diversas categorias identificadas no Censo de 2010”. Para além de sua insergio no campo definido das tradigées esotéricas, estariam também presentes entre os espiritualistas”, os sem- 50. GRINN, M. & GHERMAN, M, “Judaismo ¢ 0 Censo de 2010", 51, AMARAL, L. “Cultura religiosa errante ~ © que o Censo de 2010 pode nos dizer além dos dados”. ; “ic ti década: de 39.840 eum © na declaragio de erenga espiritualista na iltima elms em 2000 para 6 1739 declarantes em 2010, ¢ agora representamn 0,03% da populagio veral. Digitalizada com CamScanner -religido, e também entre aqueles situados nas tradig6es religiosas tradi. cionais, como as cristis, e no catolicismo em particular. O trago peculiar dessa “cultura religiosa errante” é a experimentagao ¢ 0 transito. O que ha nela de central “é a suspensio dos comprometimentos identitarios que possam se apresentar como um obstaculo para a experimentacio de sentido”. A abordagem das religiées vi Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa em torno dessa tematica do transito religioso no Brasil, mas privilegiando o proceso de transmissio religiosa no ambito familiar”. Partindo do pressuposto da importancia dos domicilios como “espagos privilegiados” da reproducao religiosa, os autores lancam a hipétese de que a familia vem perdendo o seu lugar na transmissao e propagagao da religido. O fenémeno atual da pluralizagao religiosa repercute também nesse campo familiar, que passa a lidar com a complexidade das identidades fluidas e 0 recorrente trinsito religioso, Os autores buscam, com base nos censos, dimensionar em que ciclo de em complementada com a reflexao de vida as religides sio mais frequentes e indicam: conforme a faixa etdria aumenta, deixa-se de ser catélico e comeca-se a se declarar sem religiio em um primeiro momento, que é seguido pela adesio aos evangélicos, principalmente os pentecostais. Mas con- forme se direciona para o final da vida, as pessoas ficam mais religi sas e se distribuem entre catélicos evangélicos. Imagem do Brasil O livro conclui-se com o capitulo de Renata Menezes e traz a baila uma série de reflexdes e indagagGes sobre o Censo de 2010. Aborda ini- cialmente a grande repercussao ¢ ressondncia alcangada pela divulgacao dos dados sobre religido em ambito nacional. Langa algumas hipéteses singulares sobre os ntimeros da religido apresentados no Censo e as inci- déncias dos dados sobre as representagées do Brasil. O Censo apresenta nao sé uma “autodeclaragao religiosa”, mas também um retrato do pais: a cada década, um novo censo traz consigo a tensio de apresentat uma imagem do pais que pode nos surpreender e com a qual preci- saremos nos acostumar e tentar interpretar. E como se a dinamica de transformagées do universo religioso estivesse continuamente redefi 53. ALMEIDA, R. & BARBOSA, R. “Transmissio religiosa nos domicilios brasileiros”. Digitalizada com CamScanner nindo a cara da nagio ao redesenhar os contornos do pertencimento igioso de seu povo", Com essa ampla apresentagio do livro, busca-se incentivar 0 leitor vavangar com calma na leitura de cada um dos capitulos presentes na elementos para melhor entender esse complexo e ligioso brasileiro. Vai aqui o sincero agradecimento a cada um dos articulistas, que se dispuseram a atender com generosidade ‘alizado. Os capitulos trazem uma riqueza de reflexio que ¢ inegivel, favorecendo aos estudiosos, mas também ao ptiblico em ge- ral, um rico panorama dessa imagem do Brasil através dos dados sobre religido, fornecidos pelo IBGE com o Censo de 2010. Vai também um agradecimento especial a Editora Vozes, pela acolhida da proposta e ao Iser-Ass , € em especial a Névio Fiorin, pela preciosa ajuda na re- i840 dos originais. Em nome de todos os autores que contribuiram para a realizagio dessa obra, a nossa sincera homenagem a Antonio Flavio Pierucci, falecido em 2012, a quem vai dedicado este trabalho. obi © armar-se de dindmico campo rel ao convite re; ites e usos dos 54, MENEZES, R.C. “As margens do Censo de 2010: expectativas, repercussoes, ins do Ce RC. Bi Digitalizada com CamScanner

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