You are on page 1of 24
ABSTRACT: installacions started atthe end ofthe “seventies and i fs presently a recognized Aigured at ‘the artista! practice. Quite soon, it was called (0 renew the forms of traditional art representation. ilerent from the exhibsion of pctures onthe walls ‘te ennobles the place, requesting It sensorial and architectural quale. Installations are conceptual land scenke. This article proposes. on one hand, 10 examine regarcing. the duration, with elaborated ‘methods, the fundamental roll ef the space In the Installtion produetion and, on the other hand, 10 establish a genealogy of artists that contributed for {his defintion and that, doing so, constructed a exemplary contemporary work, founded inthe plas ie eld and susceptible of Instrctng architecture by ts social and urban elimension. By approaching the uses of sclentife an ory installation the article also views an ethnological perspective ofthe esthe- ‘ie procedure regarding races variety. KEY WORDS: space: pce: scenogaphy: etwelogy of present RESUMO: Surgida na virad dos anos 70, a inst Ingo € presentemente uma Agus reconheckla da rites artistes. Fo, bem lago, chamada a renovar 12 formas de representago da arte tradicional. Di erent da exposicio de quadres suspensos, ela cence olygar soca sus quaiades sensors earquitetuas A instalagfo € concetua e cencgrs- ‘ca. O presente artigo se prope, de uma parte, 4 ‘examina sob 0 aspecto da duragso,& uz de meto- dos elabrades, © papel fundamental do esparo na _produgio da istalagso e, de outa pate, estabele- (cer uma geneslogla de artistas que contbulram (para essa deffo e que, fazend iso, consruam uma abva contempordnen exemplr, indica no 20 @ Sylviane Leprun Art: Tare, retard ou - hasard terrasse «= es rare Ararat?’ ‘Michel Letts Jaime les olseaux qui sont sur le tolt, ls attendent, retenus muets iis ressemblent & nous assis, ‘puisque nous vivons surtout assis, ‘mais ils ressemblent aussi, sur le tol, aux gens. lo) Le tolt est um magnifique traln spatial Avant quills volent ils habitent le toit de la Villete Sont ies spectateurs acteurs de notre fer et vere. LOISEAU FAIT CROITRE LES PLUMES COMME LE MATHEMATICIEN FAIT CROITRE LES NOMBRES. Marlo Merz* LUGARES E PAVILHOES. ste texto, que se deve a Mario Merz e que figura como apoio da obra apresentada pelo artista no ambito da Nouvelle Biennale de Paris (Nova Bienal de Paris) em 1985, é uma resposta pes- soal, poética e espacial a arquitetura do grande pavilhdo. Este lugar, este “gran- de lugar”, como o qualifica Jean-Pierre Faye em um artigo dedicado a esse es- paco,* € um espago antropolégico, no sentido em que € fundado em uma Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai, 1999. pratica social e refundado em uma pré- tica artistica que evoca 0 social. “Os abatedouros da Villette j4 eram o en- contro de dois mundos acima do canal do Ourcq. Ao sul, pois, 0 pavilho, com seus condutores de bois, seus comer- ciantes de gado. Ao norte, os trabalha- dores dos acougues, que abatem os animais. Ao norte, esse proletariado da indstria de cares. Ao sul, aqueles que, as vezes, vao vaguear nas margens diferentes, (...) Mas, dai por diante, trata-se de outra coisa. Acima de Paris, © norte, € agora a megalépole das imigragdes - € esta poderosa riqueza dos choques de culturas, de linguas, de religides, de visdes. £ varias vezes a Europa, € varias Africas, magrebe e subsaariana, € a Asia anatoliana ou vietnamita.”* Segue uma homenagem apolada em Georges Boudaille, “por ter tido a audacia de vir desembocar neste porto fluvial e se territorializar aqui”.° A relagdo com o espaco do pavilhao, ampliado para 0 espago urbanistico e social do bairro dos abatedouros € aqui colocada em perspectiva por Jean-Pierre Faye, que aponta com forca e lucidez a dimensao socio-histérica, presentemente confirmada, do sitio da Villette. © lugar aqui € apreendido em sua essencialidade e em uma temporalidade recriada. “Era necessério esses criadores para dar uma nova vida a esse espaco, para que um didlogo ori as obras e esse lugar Gnico, cuja trans- pareéncia tivemos de controlar com difi- inal se estabelecesse entre culdade, & luz Incessantemente mével, ora poética, ora de uma dureza glacial, para criar as galerias de museus, Indis- pensaveis a uma boa visualizacao da pin- tura’,” acrescentava Georges Boudaille. Assim, ainda af a relaco com espaco € descrita e pensada como fundamen- tal. A modernidade, ou ao menos a contemporaneidade da arte inscreve-se em uma obra centenaria, um pavilhio Industrial, oriunda da grande tradicao novecentista expansionista, uma arqui- tetura de exposigao — sera lembrado 0 pavilhdo de Dutert, cuja forma e fungéo so exaltadas naquilo que o encarrega- do da Bienal chama de um “confronto flagrante entre as correntes dominantes (..)"2 Esta estufa para as artes” torna- se, portanto, um lugar emblemético € aberto para o ineditismo da arte. Lugar dos homens e das habilidades da came, que um John Baldessari traduz plasti- camente em um texto no limiar da et- nologia documentada, documentaria e comparativa: “Uma vista d’olhos nos pavilhdes nos quals as carcacas eram esquartejadas, atesta a calma do traba- Iho manual que nem roda de engrena- gem, nem linha de montagem tinha ainda cortado, e isso, aproximadamente no final dos anos 1880, quando, em Chicago, 0 abate em série era jé em- pregado”.'° O Grande pavilhdo foi con- sagrado na e pela arte do momento. As obras recentes, de menos de dois anos, pouco exibidas na Franga, conferiam ao lugar sua virgindade espacial. E por isso Manetras de instalagses «M21 mesmo, reconheciam-no/admitiam-no enquanto espaco cultural primeiro. O tempo péde demonstrar sua realidade cultural e intercultural e sua forca de evento. “Espaco. E disso que o homem modemo necesita, tanto quanto de pao. A fung4o clorofillana que garante a sobrevivéncia das sociedades urbanas passa por essas areas de respiracao”,'' eruditas e populares.'? Pois a Grande Halle (0 Grande Pavilhao) constitul-se como lugar-encruzilhada, fora do cen- tro, nas margens dos subirbios. As- sim, a Nova Bienal de Paris marca uma mudanga de rumo na historia dos lugares artisticos, pois se inscreve na historia espacial na alteridade da cidade e de suas mutages urbanas & n&o mais em um lugar cuja Imagem € fixa e imutavel. O sitio se decompde em lugares miltiplos, associados visual- mente € que sdo, ao mesmo tempo, outros tantos subespacos vivos e auto- nomos. Assim Niele Toroni o expres- sara ao evocar seu projeto, escrevendo essas poueas palavras no catélogo: “P.S. No exterior, uma parte do calcamento, sera talvez realizada segundo minha proposta “jogos de paralelepipedos”. Um calgamento dedicado a todos aque- les que pensam em mim cada vez que véem trés pontos pretos em quincunce (quinconce) (ver Petit Larousse en couleurs, p. 763)"."* A posiggo que aqui atribuimos ao lugar constitui um importante ponto de ancoragem do presente artigo, que sera Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 22 Sylviane Leprun. dedicado a apresentar a pratica da ins- talacdo, até mesmo praticas da instala- go em sua relagdo com 0 espaco e, particularmente, com 0 espaco arqui- tetural, considerando que a instalacao forma singular de ocupacao do espaco, oriunda de uma reflexdo espacial posta em perspectiva no campo pliistico. Aqui nos interessaremos _essencial- mente ~ e mesmo assim, néo podere- mos esgotar os diferentes aspectos da questo do espaco na instalagao ~ pelas premissas da instalago nos planos ou nos esbocos publicados. Signos, Vestigios, Memérias de Instalacdes © papel pléstico e diditico do desenho na percepsao € restitui¢so do espago na/da instalacdo € fundamental E uma escrita que constréi, estrutura o programa, 0 roteiro da peca. O reajuste in loco. Maateriais de trabalho, os esbo- es constituem o sedimento, a origem da obra. Arquivos no sentido literal do temo, a matéria desenhada da a peca (no sentido em que a instalagAo € uma encenagéo) sua dimensdo antropologi- a, © catélogo da Nova Bienal de Paris possibilita, assim, surgirem dez esbocos dos projetos apresentados no “Grande Pavilhao”. Trata-se cronologicamente de Mario Merz, John Baldessari, Ken Unsworth, Luciano Fabro, Niele Toroni, Daniel Buren, Ulrich Ricktiem, Giulio Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999. Paolini, Dan Graham, Holger Bunk.'* A posico que se atribui na informacdo € na composi¢ao a esses modos de re- presentacdo sublinha ao mesmo tempo a escala da realizagfo e a falta de do- cumentos sobre © sitio. Ao mesmo tempo, € um modo de significar a complexidade da realizag4o. Codificado © plano, ele da, de alguma forma, a medida da performance técnica. Buren néo diz nada menos em seu texto de apresentacdo. “O projeto deste trabalho ndo poderia existir sem a ajuda e a compreensao de Jean Nouvel, arquiteto da Bienal, de Patrick Bouchain, teto cujos conselhos e ajustes dos pla- nos permitem a edificagao do volume, e de Vito, construtor de cenérios de tea- tro!® que se encarrega da elaboracdo € montagem da pega em si.”'® Croquis, esboco € desenho preparatério, so outros vocabulos profissionals que in- troduzem/imiscuem-se_no espago da instalac4o, permitindo medir a parte de aleatorio do projeto, mas também a ne- cessidade de dominar 0 espaco, a fim de alcancar © efeito convencionado e desejado. “1 - Como realizar com ele- mentos caracteristicos da pintura (mol- duras, tecidos estendidos, pintura.. um trabalho em trés dimensdes (escul- tura e/ou arquitetura) que seja ndo sé relagio a/e em um lugar preciso (0 Grande Pavilhao da Villette) mas tam- bém seu proprio lugar, um sitio (uma vez realizado 0 projeto), e que, ade- mais, possa reconstruir-se em outra arqui- parte, colocando em jogo, simultanea e novamente, o lugar de acolhida e a si proprio? Antes de qualquer forma de projeto e, a fortiorl, de realizacdo, esses parametros formam 0 desafio que me agrada estabelecer aqui. 2 ~ Seja uma sala especialmente construida no Pavi- lha0 e que nao abrigaré nada além do olhar e da pessoa daqueles e daquelas que nela entrarao.""” Daniel Buren re- forca e legitima uma abordagem técnica e sensorial do espaco, juntando em um mesmo nivel de identificagdo. formas particulares do desenho de arquitetura, © plano eo croquis que funcionam de maneira complementar."® E “o que é decisive, ~ prossegue Daniel Buren ~ s6 a realizagSo via indicar visualmente (praticamente) 0 que esse trabalho quer dizer (teoricamente), ressaltanco entéo, as distancias entre uma hipétese de tra- balho e sua realizacéo”."° A continuagao desse paragrafo deixa ver toda esta parte de incerteza antecipacamente aceita, talvez até pesquisada no proje- to. Revirar, negar, confirmar, reforcar, contradicao so outros termos que sur- gem estruturados, na/pela perspectiva do projeto. “Pode-se dizer que (1) € (2) estdo ligados por uma vontade € uma logica te6ricas (abstratas) que s6 (3) viré negar, confirmar ou subverter, impli- cando entdo, por sua vez, 0 sentido fi- nal e intrinseco do “local” quaisquer que fossem suas intengdes (inclusive por analogias formais com outras es- truturas existentes). Como conseqiién- Maneiras de instalagses Ml = 23, cla, dessa parte (3), a Gnica, afinal, que deve ser levada em consideracdo, € im- possivel falar hoje. Cabe ao sitio ence- nar; a voeé, representar.”? Sitios em Majestade Esta conviccdo na fora do sitio manifesta-se, ilustra-se, desponta ainda bem recentemente no catélogo da IV? Bienal de arte contemporanea de Lyon. Com subtitulo de “o outro”, ela foi ins- talada e concebida no pavilhdo de Tony Gamier,”' prédio-guia da cidade de Lyon, e colocada sob a responsabilidade clentifica de Harald Szeemann, encarre- gado geral e responsavel pela concep- do da arquitetura. Os textos introdu- tOrios oficiais fazem referéncia a esse espaco excepcional, destinado a en- grandecer e exaltar a escolha das obras. O lugar aqui € uma vez mais percebido como um espago associador € funda- dor. O espirito do lugar engaja a quali dade plastica, estética e ideolégica da manifestag4o. Ainda aqui, 0 espaco so- cial intelro € considerado na multiviséo dos artistas convidados.” Oitenta e trés participantes, uma constélacéo de pro- cedimentos, que figuram na ficha téc- nica do catalogo. Este atenua toda clas- sificaglo excessiva, buscando mais fa- cilmente o destaque do carater proprio da pesquisa, isso em ura perspectiva sociocultural e intercultural. Instalages so assim reconstituidas, historicizadas Porto Arte, Porto Alegre, v.10, 1.18, p.19-42, mai, 1999, 2 Sylviane Leprun € reatualizadas em um espaco simbél co conjugado a uma prospeccdo da humanidade. (EAPO sobre as mutagdes do mundo e os sonhos infinitos dos homens.@6i SDERIS ES Rae ‘na duracdo, sem por isso contrariar © (GBPESHEND visitante pode assim des- cobrir ou redescobrir a instalagéo de Emery Blagdon (1907-1986), composta de “600 esculturas de fio de ferro, de cobre ou de madeira e de 80 pinturas reunidas como ‘obra total’ em uma cho- a da regigo de Sandhills no norte do Estado de Nebraska (Estados Uniclos)”?* A anilise exaustiva do catalogo nao é nosso objetivo; apontaremos, contudo, nesse corpus, a obra de Richard Serra, Olson (1985-1986), figura forte da es- cultura j4 a beira da instalacao, assim como a instalag4o de Chris Burden, The fying Steamroller, e a de Serge Spitzer, Re-search, Bread and Butter with the ever-present question of How to define the difference between a Baguette and a Croissant Este Gltimo projeto, con- cebido especialmente para 0 pavilhio de Tony Garnier € publicado sob dois modos complementares de visualiza- 40, um esbogo do projeto da instala- do, bem como uma fotografia feita durante a montagem.”* Esse duplo sis- tema de identificagao Ic6nica, destaca a permanéncia de um modo de repre- sentacao grafico sutil e preciso, que permite juntar-se em uma mesma perspectiva 0 projeto plastico e 0 es- Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal. 1999. paco arquitetural. Sem ser totalmente esvaziada, a posicdo atribuida ao dese- nho resta menor na publicag4o. Observa- se, todavia, 0 aporte de croquis em Hanne Darboven, Chris Burden, Serge Spitzer (j4 citado), Chen Zen, Marie- Ange Gullleminot, Plerrick Sorin e Nathalie Elémento.”* Richard Serra nao figura nesse conjunto de sete artistas, embora sua relacdo com o desenho seja essencial. Chris Burden, cujo desenho foi inserido na obra Chris Burden beyond the limits,” no ambito da expo- si¢do dedicada ao artista em Viena, em 1996, ilustra com interesse 0 vinculo entre 0 esbogo e a representacao foto- grafic. Ele é, com Serge Spitzer, Marie~ Ange Guilleminot, um dos artistas cuja postura conceitual e formal assim Identificada. Pierrick Sorin, menos elip- tico ~ na medida em que os outros de- senhos no so acompanhados de tex- tos explicativos ~ segue passo a passo a postura Inscrita na/pela instalacdo. O excerto aqul inclufdo traga os contornos do espaco “virtual”.* “Em uma sala preta, de no minimo 8 x 6m (altura mi nima de teto: 4 metros), s4o projetadas, uma frente a outra, duas imagens ani- madas (ver croquis). A esquerda, a imagem é constituida, de fato, por uma dupla projec4o: um auto-retrato foto- grafico preto e branco € projetado por um projetor de slides. Sobre essa ima- gem vem superpor-se uma imagem. animada projetada em video: ovos chelos de tinta que estouram sobre o retrato e criam uma imagem muito pictérica. A fixidez do rosto contrasta com a fragmentagdo das cores organi- cas. A imagem tem aproximadamente 3,20 x 2,30m (...) A personagem esta na escala real. A moldura de madeira cria em tomo dela a impressdo de que esta no v4o de uma porta.”? “O tratamento do documento reproduz, ou ao menos mostra, uma certa analogia com o dese- nho de Dan Graham apresentacio na publi- cacao da Nova Bienal de Paris te Ultimo caso, Dan Graham descreva com mais preciso as situa- es criadas entre “o executante” e “o pAblico” > mas a intencao de realmente espacializar 0 projeto em uma repre- sentag4o didético-funcional sublinha o parentesco com © processo formal No desenho de Nathalie Elémento, La maison est en carton les escaliers sont en papier (A casa é de papelio as esca- das sio de papel), 1996-1997, escul- tura em quatro partes méveis, pode-se ler: "Deve ser ‘Exposto’ de maneira que © espectador possa circular em torno®! ~ 0 objeto no cho, colocado de lado, protegido da escultura (croquis em bai- xo & esquerda)”.»* O carater preciso do. croquis técnico €, todavia, atenuado pelo grafismo a main levée [a mo er- guida] ~ (processo j& encontrado nos desenhos citados) ~. Como um quebra- cabecas, 0 projeto se elabora, € pensa~ .” Talvez, nes- lucdo cronolégica Maneiras de instalages Mi) = 25 do, em, € a partir de, uma sucesséo de detalhes cotados, que visualizam — em particular ~ os sistemas de reunigo de fragmentos. Por mais diferente que seja, em nome de sua natureza mais técnica, esse desenho € um suporte fundamen- tal que estrutura a produgao da obra, “Dizer mi samento simples”. Material de pri- Meira mao, arquivo no sentido em que € uma meméria da obra, permite com- preender 0 process de elaborago do ob- jeto plastic. “Quanto mals eu desenho, me- Ihor vejo € mai preendo. Sempre houve uma correlacao entre a forga da obra e 0 grau para 0 qual eu desenho", indica Richard Serra em uma entrevista concedida a Lizzie Borden em 1977. A posigao que este artista concede a esse modo de escrita plastica, como vetor essencial de sua/da pesquisa, ultrapassa 0 modo convencional da representacao, para avancar/estender-se na direcio do ab- soluto da obra. “Posso observar meu progresso do comego ao fim e, as ve- zes, manter uma concentragéo conti- nua. Fica-se satisfeito. E uma das situa- g5es pouco numerosas em que posso compreender a fonte de meu traba~ Iho.” Para isso, todos os meios postos A disposiggo para “exterlorizar a obra por signos formais” podem ser utiliza- dos: * exatamente com um pen- com- pode-se fazer um plano, cons- Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 26 Syiviane Leprun truir uma maquete, captar o sitio, ela- borar um plano de fabricacao”,** outros tantos instrumentos possiveis para que advenham 0 objeto, 0 dispositive, a instalagao. O SENTIDO DA OBRA A INSTALACAO EM SUA HISTORIA Ceest ia distinction entre le pols préfa- briqué le Ihistolre et experience directe qui me ‘pousse a produire des choses qui n'ont encore Jamais été produttes. Jene cesse d'essayer de me confionter, aux contradictions de la mémoire, et de repartira 2610, de ne m’appuyer que sur ma propre expé- ‘lence et mes propres matériaux, méme lorsque je dls fre face a une situation qui ne pourra jamais étre résolve. Inventer des méthodes cont je ne sas len, utiliser ce que contient l'expérience pour que ce contenu me soft connu, pour enfin contester Tautorité de cette expérlence et donc me contester mol-méme2” O’elo entre’a Instalacao e\0"es- ‘pace construlu-se sobre a durasfo. A recente obra de Nicolas de Oliveira, Ni- cola Oxley e Michael Petry, /nstallations Tart en situation (Instalagdes arte em situagdo),® para apresentar uma selecao escolhida de obras, utiliza um recorte amplo e dlassificatério ao mesmo tem- po ~ embora os autores se abstenham }ol6gicos demais ~ que intro- duz quatro grandes categorias: “Local, Midia, Museu, Arquitetura”. Nao € nos- s0 propésito voltar a essas linhas e/ou categorias, que so apresentadas com de ser Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal. 1999. uma certa prudéncia, na medida em que exatamente os artistas podem, com legitimidade — indicam os autores ~, restabelecer varias segdes. Reter-se-a desta grade, uma dificuldade impor tante, que se relaciona em particular ~ mais além — com certas técnicas mais adequadas — penso especialmente na “Midia” — a constituir um corpus em que © espaco € evocado, apreendido em sua dimensdo antropolégica, isto €, levando em conta o lugar em sua com- plexidace espacial, inclusive em sua tertitorlalidade e sua propria hist6ria. Richard Serra encontra-se assim deslo- cado no capitulo “Sitio”, indicando por isso mesmo sua capacidade para abra~ car um espaco ampliado.*? Uma relagéo_ com © sitio, nunca desmentida, mas que nele se declina em territérios per feltamente identificavels. O sitio € um termo genérico que se pode decompor assim: "A malor parte de minhas obras {esculturas e desenhos) ¢ concebida em relacdo com o sitio. O sitio determina minha maneira de pensar 0 que vou fazer, seja um sitio urbano ou uma pal- sagem, uma sala ou um outro limite ar- quitetural”. J& Daniel Buren esta inte- grado na seco “Arquitetura". £ preci- samente entre essas duas linhas que os deslizes sAo os mais evidentes. Mas mais uma vez, esta anélise poderia ser prolongada, e Isso ndo é diretamente nosso projeto aqui. Em contrapartida, € interessante notar dentre os artistas convidados um certo numero deles que atravessa e/ou cruza 0 espago concei- tual da instalagao. Para eles deve-se di- zer que © temo ressalta 0 comércio comum da organizacZo do espaco € a engenhosa reuniéo de fragmentos. “O termo instalagdo designa um vasto conjunto de praticas e pesquisas da arte contemporanea. Além da nogdo ‘de exposic&o’, ou ‘de representacdo’, essa palavra evoca daqui por diante uma verdadeira atividade, téo freqlente hoje quanto qualquer outra forma de arte."*! Procurar-se-4 em vao na recente obra de Pascal Ancel, Une représentation sociale du temps,” uma definigéo da instalago. Em contrapartida, a instala- do esta presente na condicao de “nova disciplina", “mal definida, bloqueada entre a escultura e a pintura em volu- me”. O autor se empenha nesse texto ~ que se apéia especialmente nos traba- Ihos de Buren, Boltanski e Sarkis ~ em desmontar os mecanismos de produgso da instalacdo € sua relagéo com 0 tem- po. “A instalagao se esforca em deduzir as regras de um novo sistema de repre- sentacdo plastica, ela concilia seus meios com a expressao de uma intui¢ao iné- dita do mundo. Seus meios residem na utilizago do tempo.” Chantal Boulanger, precedendo de certa forma Pascal An- cel, escrevia como Introdug4o de seu artigo L installation au dela de in situ. “A instalagao €, sem daivida, a atividade que propde com mais acuidade 0 pro- blema da denominagao ou da designa- do de uma pratica artistica através da Maneiras de instalacces Ml = 27 critica. Parece que o termo nao chega a precisar a complexidade dos desafios inerentes a essa pratica. Em sentido es- trito, sua acepcdo remete a uma agdo € a seu resultado: colocar em uma certa posic’o, depositar. (GURMteNOSNanOSD “setenta, sua adocao parecia ir de par ‘com uma insistencia colocada no fato (GEIGETATTTESPARD) Esse gesto levava entéo em consideragao o contexto na- tural, a topografia de um lugar; @6E0ED (CEIRUSTALSGSONPOMTAMBIENLEDS storica- mente, a expressdio designa a experién- cia de uma escultura expansionista. No. curso da dltima década, as referéncias a acdo e ao contexto encobriam uma "Ideologia da reformulacao dos espacos: paisagens, arquiteturas, salas de expo- sicdes, museus (RSt@laneueHanaIZeO> _ganlzar um espago, explorando as pos- (Glades evariasmici Descobri-se «tun vontade de submeter 0 olhar & “experimentacio sensorial dos lugares. A Instalacéo péde, portanto, ser con: derada como o lugar ideal para repen- sar os limites das disciplinas”.? Dez anos separam essas duas publicacées. Para ser identificada e reconhecida no campo pistico, EUREEDRETEIED ‘teo" a instlagdo. parece, todavia _apresentar contomos indistntos, bus cando, por isso, repelir sempre 05 i ter de sues Inenen ces, tescreve Rober Atkins, a5 obras sem- “pre foram ‘istaladas’ nos espacos de “exposi, Mas na arte contemporanes, 4 palavainsalacHo designa obras con- Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 23 @ Sylviane Leprun (Gos adaptadas a esse lligan™)A nuanca € aqui importante, pois destaca preci- samente 0 que colocamos como preli- minar, a saber, @UPOSIeaONeSsenelaIn> “mentos constitutivos do projeto. Histo- ricamente, enfim, a palavra “Instalacao” deve ser aproximada da agao de insta- lar alguma coisa (1611), estendida ao local de habitagao (1867) e, “por meto- nimia”, do conjunto do que é instalado {apés 1850). Em todos esses empregos, ela procede do verbo instalar."** EXPOR A INSTALACAO Lorsque /‘investissals des lieux que talent pas consacrés 4 Vast Jfavals recours aux qualités des artistes dont fe savals quills étaient fats pour ces leux. Nous avons travaillés dans des usines dlésaffectées, dees gares vides, pour créer un dlalogue centre les oeuvres et espace. Dot la necessité oeuvres parfois grandioses:” Em 1989, 0 centro Georges Pompidou programava uma exposi¢4o- balango intitulada “A época, a moda, a moral, a paixéo 1977-1987". O catélo- go propunha um recorte que associava em especial “Pintura, escultura, Instala- Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal. 1999. 0". Sessenta artistas figuram nesta seco, dentre os quais, vinte e dois po- dem pertencer ao campo da instalag4o € estabelecerdo 0 tempo todo sua pra- tica nesse dominio. Trata-se de Joseph Beuys, Jonathan Borofsky,"* Daniel Buren, Tony Cragg, Walter de Maria, Barty Flanagan, Hans Haacke, Donald Judd, Anselm Kiefer, Jannis Kounellis, Bertrand Lavier, Robert Longo, Gerhard Merz, Mario Merz, Francois Morellet, Reinhard Muchal, Bruce Naumann, Jean- Pierre Raynaud, Thomas Schiitte, Richard Serra, Niele Toroni e Ger Van Elk.” A mistura desse conjunto com 0 corpus apresentado na obra /nstallations,® mos- tra um grupo de quinze artistas distri: buldos por diferentes orlentagSes previa~ mente definidas: “Local, Midia, Museu, Arquitetura”. Judd, Kounellis, Serra, Kiefer, Morellet, Walter de Maria ¢ Haacke esto situados na linha “Sitio”, a0 passo que Borofsky e Naumann se encontram na categoria “Midia”. Beuys, Cragg e Raynaud pertencem ao grupo “Museu” enfim Buren, Merz € Sciitte esto Inscritos em “Arquitetura’. Da lista constante no catélogo de Beaubourg de- sapareceram Flanagan, Kruger, Lavier, Longo, Gerhard Merz, Muchal, Toroni, Ger Van Elk. Restringindo-se mais 0 corpus, vé-se que somente Buren ¢ Mario Merz estavam presentes na oca- sido da Nouvelle Biennale de Paris em 1985. Um passo mais € se observa ain- da que Buren e Richard Serra nao figu- ram no catélogo de Lyon de 1997. Nes- sa perspectiva que visa avaliar o tempo todo a posigao da instalaggo em um projeto-quadro factual e datado, vé-se que um ntimero recente de Art press, publicado sob 0 titulo 69-96, avant gardes et fin de siécle 75 artistes ra- content leur parcours apela a varios artistas-criadores de instalagées, dentre os quais Baldessari, Buren, Graham, Haacke e Mario Merz. Esses artistas co- brem e determinam um perlodo de trinta anos de procedimentos plasticos € de pesquisas no campo da instalacAo, Uma analise desses catélogos e obras- chave de 1972 a 19975" poe em evi- déncia a presenga de um grupo de ar- tistas que, sem estarem presentes em cada obra e/ou catélogo, sfo varias ve- zes identificados. E constituem por isso mesmo um niicleo fundador reconheci- do. J4 mencionamos um conjunto de quinze artistas (Beaubourg 1987 / Ins- tallations 1996), que so igualmente recenseados no Petit dlctionnaire (1996). O cruzamento (Clair 1972 / NBP 1985 / Beaubourg 1987 / Installations 1966 / Art press 1996 / BL 1997), re- duziu esse corpus a seis artistas: Chris Burden, Richard Serra, Hans Haacke, Mario. Merz, Buren e Dan Graham, excluindo John Baldessari e Niele Toroni da selecdo escolhicia por/em Installations. De fato, uma lel- tura complementar permite assinalar a presenga de Buren ~ 0 tempo todo ~ na quase totalidade das publicacdes (5) Ele € seguido por Merz (4), Serra, Toro- Daniel m 29 ‘Maneiras de instalagoes ni e Haacke (3) Baldessari e Graham (2) por fim Burden (1). Daniel Buren e Mario Merz surgem assim como duas figuras-guia desta problematica plasti- co-espacial. Estes dois artistas, em Ii nhas diferentes, contribuem — ver-se-A ainda — para um conhecimento inter- cultural dos espacos plisticos e, desse ponto de vista, participam igualmente da construgao de uma antropologia dos conhecimentos plasticos no campo da arquitetura. A titulo de exemplo, du- rante esse perfodo Daniel Buren e Mario Merz expdem seus trabalhos no cape Centre d'art contemporain de Bordeaux.®* A problemética espacial comprometida nesse “armazém de especiarias”, lugar simbélico™ do comércio triangular da arte contemporanea, em uma cidade que foi a vitrina colonial do sudoeste, € posta em relevo a partir e na programa- do de artistas “cendgrafos”. Utilizamos propositadamente esse termo ligado & encenagdo, pois nos parece que um trabalho essencial sobre a dramatizacao do espago € efetuado nos projetos que serdo propostos. © que ~ em nome da propria natureza do espaco arquitetural — € um eco nos pavilhées industriai doravante € definitivamente exposicio- ais, e em particular o Grande pavilhdo da Villette, que recebeu Buren ¢ Merz ‘em 1985. No cape, a dimenséo espacial da pesquisa de Buren tomou senticio e coeréncia nos volumes, na medida em que os materiais plasticos (telas) foram realizados “ex situ’. “A catedral em Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal, 1999 30 BB Sylviane Leprun forma de iglu de vidro de 10 metros de diametro proposta ~ por Merz ~ para o cape Musée d'art contemporain de Bordeaux em 1987 levava 0 nome, por causa de sua tensdo de superficie, de “Gocela dacqua” (Gota d’agua). (...) No Entreposto Laing, a gota d’4gua incor- porava uma pilastra do hall com as di- mensées de um armazém de mercado- rias em um porto mundial. Uma mesa triangular de ferro, que a transpassava, colocava sua ponta onde a Agua corria de uma torneira em um balde, a ques- to em perspectiva “Che fare?”.®* O es- paso é, pois, aqui e em outros lugares, uma dimensao fundamental da instala- 40. Dimensao cujos modos de repre- sentacdo devem ser necessariamente miltiplos para poder apreciar o trabalho de espacializacto da pesquisa plastica. Parece-nos mais adequado falar de pesquisa € até mesmo de dispositive espacial, pois aqui consideramos uma construcao erudita, funcada em regras elaboradas em um campo semantico com dominancia artistica, mesmo que seja as vezes questionado. Os instru- mentos metodolégicos situam-se do lado desse territério. Abordaremos o terreno da instalagdo “ordinaria", nas linhas que seguem. Na vertente da re- presentacdo, o papel da imagem na constituiga0 do olhar antropo-plastico ja evocado nos paragrafos anteriores, € aqui fundado em materiais iconografi- cos diversos, mas com dominancia fo- tografica. Art press publica um croquis Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999. comentado, de David Medalla,* que nao esta em nosso corpus. E 0 Gnico desenho recenseado. O catélogo de Beaubourg € igualmente pobre. Toda- via, nele se destaca um desenho de Bruce Nauman (que ndo aparece em nossa lista), associado ao projeto reali- zaclo em 1984 na galeria Castelli em Nova York.*” De uma maneira geral, as obras no integram documentos de tra- balho em suas publicagdes. Poder-se-i apenas interrogar-se sobre essa ausén- cla ~ excetuando-se 0 catélogo de Chris Burden ja mencionado -, na medida em que © desenho freqiientemente dé conta do andamento e da espacializa- 0. A fotografia documental ~ muitas vezes Unica — ndo oferece seguida- mente sendo um dos aspectos das pos- siveis espacialiciades criadas pelo artis- ta. Seu interesse reside particularmente em sua capacidade de fazer falar a ins- talagéo com exatidéo e qualidade. Igualmente sua execucao € mais agra~ davel comparada a austeridade de um plano. Uma obra dedicada a0 projeto de Richard Serra, Maillard extended realizada em/para 0 viaduto de Grandfey, utiliza, com proveito, diferentes modos de visualizaco: plano cortado, fotogra- fia e desenho. O cardter monografico da obra € auxiliado pela hierarquizacao dos documentos, cujas interfaces judiciosas explicam a operacionalizag4o da insta- lagdo. “Essa ponte € de uma riqueza digna das gravuras de Piranése,® que se revela quando € desenhado ~ (diz-nos Richard Serra) -. A primeira vista — (prossegue ele) — 0 arco-mestre em plena ab6bada aparece como um m6- dulo, um elemento repetitivo, porque € encimado por uma série de arcadas re- gularmente espacadas. No entanto, quando se analisa a ponte, desenhan- do-a em detalhes, percebe-se que os arcos que formam seu esqueleto tem ralos diferentes e, portanto, ritmos di- ferentes. Os arcos se recortam: curvas desiguais se encontram contidas em estruturas que so, elas préprias, cur- vas. Observar a ponte em seus detalhes te da vertigem. Quando desenhas esses detalhes, perdes a nogao de ponte, e sua estrutura parece desvanecer-se em todo um conjunto de percepgdes con- traditorias.”*' lugar atribuido a leitura © A compreensdo dessa obra de arte, colocada em perspectiva na escultura, encontra-se reforcada por uma aborda- gem metodolégica da qual o desenho faz parte integrante. Ele acha, assim, lugar na publicagdo, na qualidade de fonte arquivistica. Nao € uma ilustrago plastica do trabalho, mas a expressdo de uma pes- quisa sobre a ponte de Maillart. “Por essa extensdo da passagem de pedes- tres, eu ndo sé liguei as partes separa- das da ponte, mas também revelei a falha de Maillart."* Lembremos que a ponte construfda no fim do século XIX pelo arquiteto sufgo Robert Maillart, aluno de Gustave Eiffel, € um simbolo intercultural pois liga duas margens do Maneiras de instalagses Ml = 31 rio Sarine, lingtisticamente separadas. Margem direita que fala alemao e mar- gem esquerda, francés.® Trata-se da primeira encomenda sufca de Richard Serra. Cenas de instalacées A relagfo com o suporte visual que toda publicacao ligada a uma expo- si¢go constitul ~ encontra ~ e concluire- mos com esse documento ~ uma res- posta sintética e especialmente de- monstrativa - de um ponto de vista da reconstitui¢éo espacial — no catalogo que acompanha a instalacdo de Cathe- rine Beaugrand, Le masque de la Mort rouge (A mascara da morte vermelha).* A relacéo com a arquitetura € aqui per- feitamente explicitada pela artista em seu texto introdutério, em que ela indi- ca que 0 tema de sua pesquisa se en- ralza em um artigo do arquiteto Peter Eisenman, no qual este tltimo cita o conto de Edgar Poe para falar “do gro- tesco e do arabesco”.~ Aqui, o papel do espaco € fundamental, pois coloca em cena, em uma seqiéncia de sete pegas, uma dramatizagao festiva da morte, da peste. Este texto servira de pretexto para conceber, elaborar, cons- truir uma “cena” que o autor diz preferir ao termo “instalag4o".” Da sala do coro, ao termo de marinha, a arrumagio inte- rior de uma casa, a instalacao se identi- fica e se constréi na exemplaridade do Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 32 Sylviane Leprun profano e do sagrado. De fato, 0 ter- mo peca é pretexto para declinar possi- vels semanticas que sugerem também posturas especificas do vaguear por esses lugares _indepen- dentes € solidérios ao mesmo tempo, que se constitui em meméria para 0 vi- sitante, © trabalho sobre 0 espaco ar- quitetural € aqui alimentado por uma estada no Japo, € a exposicao € o resul- tado de uma colaboragao entre a Franga, 0 Museu de Kitakanto de Maebashi e 0 Museu de Arte e Historia de Ashiya. © catélogo® sobre 0 qual nos detemos aqui € uma tentativa erudita de recons- tituigzo do conceito cenografico da Instalagao. A leitura retroversa sugere, mais do que impée, percursos espaciais. © plano é assim associado a uma ma- neira de album flexivel e encaderado, colocado em uma capa, espécie de es- crinio descritivo do projeto. Sobre essa capa, figura 0 esboco da espacializacio, bem como um desenvolvimento colori- do das pecas. O todo € acompanhado de fotografias. Por fim, um disco laser, “Lettre d'amour 1995" 6 inserido nessa capa. O catélogo se apresenta assim como um objeto para ver, mais do que um livro de feitio classico. O espago no coracéo do roteiro esta inteiramente contido nessa proposta experimental, “o que mais me interessou no Japao” foi a arquitetura ~ como que repetindo alguma coisa que se produz como por acaso”, escreve Catherine Beaugrand em concluséo a sua apresentagao.”" itante. Um. Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai, 1999. Essa estreita relago com 0 espaco ar- quitetural encontra de alguma maneira um prolongamento sutil_e atencioso nesse catélogo que € também uma en- cenagao, precisa, preciosa e aleatéria, que se desvela € se aprecia, como eco do projeto. A dimensao intercultural do projeto € também sensivel em um du- plo tratamento museal e viso-literétio. PERSPECTIVAS E SABERES DE INSTALACOES As figuras da instalacao plastica apresentadas neste artigo constituem uma orientagéo das posturas e dos protagonistas dessa pratica. A instala~ so — foi visto — por causa de seus contetidos € processos de operacionali- za¢éo — pode socorrer-se das ciéncias humanas e de uma antropologia plasti- co-espacial. Pouco se explorou 0 liame profissional entre a instalacdo ¢ o espa- go. Nessa vertente, Buren ¢ Serra ilus- tram com pertinéncla uma pesquisa estabelecida sobre a estreita relacdo entre o projeto plastico, 0 espaco e os conhecimentos tecnolégicos especiali- zados. Com efeito, a complexidade cada vez mais confirmada da instalacao pde em jogo competéncias € qualifica- Oes que se situam as vezes fora do campo conceitual da instalagéo € soli- citam habilidaces especificas. Neste terreno, pode-se afirmar sem grande risco de erro, que a instalagéo € uma pratica privilegiada para abordar a in- terdisciplinaridade artistica e a interface que estimula arte e técnica. A pratica da instalagdo, baseada teoricamente nas proximidades do campo attistico, cons- titul um verdadeiro territério de pesqul- sa que estabelece uma relagdo essencial entre as artes plasticas, a arquitetura e as déncias humanas. Trata-se de fato de uma inter- disciplinaridade erudita, mas que nao deixa de interrogar outros conheci- mentos autodidatas sociologicamente constituidos. Af esta um dos aspectos igualmente fundamentals da instalacao © de suscitar interro- gages por parte das culturas populares. © carater visual e "oral"? demandaria um estudo mais aprofundado. O uso, a pratica da instalacéo ndo € uma ex- clusividade da pratica artistica. A Insta- lagao coletiva, doméstica, propde o problema da construg4o simbélica do espago em qualquer sociedade. E, por- tanto, por um efeito de espelho que nosso olhar pousa, ao termo deste tra- balho, sobre instalages reais ou fortul- tas, observadas particularmente na Afri- ca. Que este territério seja eminente- mente pléstico, € uma evidéncia. Mas estudar os termos eruditos e/ou nor mais dessa plasticidade, equivale a destacar usos/os usos plésticos no quo- tidiano € por isso mesmo a tensionar a rogagbes por parte “das culturas. populares. Maneiras deinstalagses Mi] = 33 Instalag4o qualificada, no campo artisti- co ocidental. Notar-se-4 que, no corpus dos artistas recenseados por este arti ‘go, no consta nenhum artista africano. De fato, a instalagdo de produtos em um mercado; da roupa intima, a beira de um rio; de uma sucesso de unida- des de habitacdo sao outras tantas ma- nelras de pensar o espaco individual coletivo. Cada instalagao € uma hist6- ria, que se encarrega das hist6rias pas- sadas e do presente do grupo. A insta- lagdo € uma resposta adaptada, efé- mera, freqiientemente _transformavel (vitrina de mercados), que ordena, exi- ee ae be e constréi uma ver- dadeira “sociabilidade plastica”.”> De fato, esses materials _fotograficos que recolhemos na ~~ Africa Ocidental ques- tionam a vertente plastica sobre os li- mites da construgao erudita no campo da instalacdo. Os iglus de Marlo Merz ~ que, se concordara, convocam também a arquitetura vernacular ~ s4o préximos, por causa de sua configuracdo, sua matéria, sua textura, das chogas tuare- gues feitas de papeléo reciclado nos campos de refugiados de Agadez, em Niger, em 1972. Entre essas duas ar- quiteturas, um vinculo real formal. Em um caso, oriundo de uma tradi¢ao do estabelecido € no outro, de uma relei- tura de uma pratica espacial. A extrema simplicidade do espaco seduz Mario Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 34 Sylviane Leprun Merz, que obtém por resposta o des- pojamento de uma populacao aniquila- da e dizimada pela fome. Arquiteturas sem arquitetos, o igiu e a choga saaria- na denunciam um mundo de violéncia onde 0 espago habitado € 0 refiigio dos homens. Iluminado por essa ar- quitetura do indizivel, o iglu de Merz toma sentido em lugares carregados eles proprios de espiritualidade espa- cial: a capela Saint-Louis do hospital da Pitié Salpétriére’ ou os armazéns Lainé. Abordando a pratica da instala- do pelo lado das escritas normais’® do espaco, nao nos situamos essencial- mente na filiagao das mitologias oriun- das dos anos 70.”° Em contrapartida, a instalagdo que se considera € indisso- ciavel de seus materiais arquivisticos. E uma resposta as indagacdes do pre- sente. O cardter efémero dessa pratica encontra-se cada vez mais deslocado no terreno da conservacao, 0 que im- plica reinstalagdes museograficas.”” Ao contrério, na recente instalagao “Jar- dins de papier” (“Jardins de papel”),”* Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999. que a manifestacZo de Lausanne Jar- dins 97 suscita, os autores Jean-Claude Deschamps Paysagestion SA esco- Iheram realizar um Jardim efémero, uti- lizando “as bolas de papel, recolhidas no caminho da reciclagem, (eles) inter- rogam © ciclo do documento, matéria- prima da arquivacao. Sabe-se, com efeito, que, paradoxalmente, os arqui- vos devem por vocacao eliminar para conservar”.” Seria de considerar-se uma tipologia e uma simbélica das matérias da instalagdo, na perspectiva de uma reflexao sobre as sensorialida- des da instalag4o. Essa posi¢éo a- arqueologica € a-museogréfica € uma derradeira resposta aos saberes acu- mulados, as classificagées infinitas. A instalagéo de papel - que responde a uma estética do efémero ~ € uma ex- pressao Ultima da fonte escrita e dese- nhada. Uma proposigao plastica e orga- nica, de uma arte em ato, isenta de todo academicismo. Postura desejével € desejada para essas praticas espera- das/entendidas e ainda incertas. Maneiras de instalacses Ml = 35 NOTAS ''N, da Tradutora ~ Impossivel reproduzir em portugues a homofonia utilizada como recurso poético no verso citado: todas as palavras terminam com o mesmo som “at”. A titulo de in- formacdo apenas, faremos a traducdo mals ou menos literal dos textos poéticos acima. Arte: Tara, retardo ou — acaso terraceado ~ muito raro Ararat? “Amo os passatos que estdo no telhado / Eles esperam, conservados mudos / parecem-se a és sentadios, / pois que viveros sobretudo sentados / mas parecem-se também, sobre o te- Ihado, as pessoas. (...) O telhado € um magnifico trem espacial. / Antes que eles voem habitam o telhado da Villette / Sao os espectadores atores de nosso ferro e vidro. / © PASSARO / FAZ CRESCER AS PENAS / COMO O MATEMATICO / FAZ CRESCER OS NUMEROS ? Michel Leiris, Langage tangage ou ce que les mots me disent. Gallimard, 1985, p. 11. > Citado no Catélogo Nouvelle Biennal de Paris. Electa Moniteur, 1985, p. 11. * Jb, Jean-Pierre Faye, “Le grand lieu". p. 8-27. Ib, p. 27, © 1b. Na €poca, Jean-Pierre Faye eta secretatio geral do College international de philosophie, Georges Boudaille, delegado geral da Bienal de Paris, era responsavel ha treze anos pelo evento ctiado em 1959. 7 {b., Georges Boudaille. “La Nouvelle Biennale de Paris”. p. 10. Este devia insistir na estreita colaboragao estabelecida com os arquitetos encarregados da renovacdo, a fim de garantit a perfeita protegao das obras. Crago de paredes, especialmente, destinadas a receber 05 qua dros pendurados e que deviam comrgit a iluminacdo. or ° Servimo-nos de Georges Boudallle. 16, p. 9. Vé-se ai também uma proximidade com as construgées das exposicdes universais. "© Jb, John Baldessari, “La Villette”. p. 124, Texto traduzido do inglés por Anne Dagbert. Esse texto acompanha 0 esboso, “Projet pour la Biennale de Paris”, 1985, de John Baldessarl, “Art is Food for Thought and Food Costs Money, ou “STAKE : Food for Thought Food Costs Money, conjunto de fotografias preto € branco ¢ em cores, pintura acriica, 365 x 1219cm, 1985, col. do artista, p. 125 © 323. Destacar-se-4 igualmente o interesse sociolingtiistico do artista, que ‘exprime em seu repertério — espécle de index das palavras-chave ~ no campo das préticas ligadas ao abate dos bovinos. De um ponto de vista semantico, essas definic&es sublinham o carater histérico e simbélico da palavta escolhicla. —_____Patto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 36 BBs syiviane Leprun " Jean-Pierre Faye, “Le grand lieu”. Op. cit, p. 18. "2 Nao menos do que cento e vinte artistas foram apresentados na Nova Bienal. © namero das obras por autor € variavel, a amostra situa-se entre 1 € 19. Ahearn, Baselitz, Beuys/Palk, Boltanski, para citar apenas aqueles que constituem corpus no minimo (1). Jean-Fréderic ‘Schnyder expora 19 telas, superando Evert Londiquist (13), Eduardo Arroyo (12) e Enzo Cuchi (10). © inventario completo clos trabalhos de Julian Schnabel, Takis, Franck Stella e Bill Woodrow nao figura no catélogo, cf. p. 328-329. A “Lista das obras expostas” mostra ainda varias interven- ‘ses importantes ligadas ao espaco do Grande Pavilhao: Buren, “La rencontre des sites”, Keith Haring “Interventions en divers lieux de la Grande Halle et a I'extérieur", Mario Merz “Inter- vention en trols dimensions au fronton de la Grande Halle”, Thomas Schitte “Projet Halle aux boeufs" ¢ Niele Toroni, que apreende de maneira complementar ¢ dissociada 0 espaco interior € exterior, “Jeu de pavés", cf. p. 323-329. A analise dessa lista pde também em evicencia 0 pouco lugar conferido ao termo “Instalacdo” (mesmo que © conceito € a expresso desse con- ceito existam mais fortemente na exposi¢ao). A palavra € precisamente fixada por Beuys in Vidéo-installation’, 1985, coll. de l'artiste, Kim Jones, “/nstallation-performance, eau, boue, végétaux, peinture, 1985", Yannis Kounellis, “Sans titre, installation, technique mixte, 1985, coll. de 'artiste e Ken Unsworth, “Installation, galets, 1985, coll. de artiste”. ® Niele Toroni. Jb, p. 168. Marlo Merz, dessin pour la Biennale de Paris 1985, John Baldessari, projet pour la Biennale de Paris, 1985. Ken Unsworth, dessin pour Vinstallation 4 /a Biennale de Paris 1985: “Pierre suspendue 1978", série “Piere’, 1974-1978, pedras de rio, fio metilico preto, didmetro: 320cm, Luciano Fabro, projet pour la Biennale de Paris 1985. Cabeca de mulher colorida, de 2,30m de altura, com chapéu em fitas de cobre, de onde parte uma tela pintada de 30m de comprimento. Niele Toroni, “Projet impossible”, 1984, (Nesse projeto, o trabalho/pintura re- produzido n&o esté na escala do prédio). Daniel Buren, dessin préparatoire initial, Follonica, Italla, agosto de 1984, Ulrich Ricktiem, croguls pour Installation a la Biennale ce Paris 1985. Giulio Paolini, étude pour “le Triomphe de la représentation”. Dan Graham, projet pour la Biennale de Paris 1985. Holger Bunk, Installation pour la Biennale de Paris, croquis, p. 119- 125-129-151-169-173-177-181-281. Observa-se que o termo “projeto” ressituado no quadro da Bienal € mais freqiientemente utlizado para qualificar o documento. E de notar igualmente a referéncia ao desenho (1), a0 croquis (1), a0 estudo (1). J4 0 termo “instalagao” € utilizado duas vezes, identificando exatamente a forma plastica em Holger Kunk e associaco a desenho ‘dessin pour installation”, em Ken Unsworth. '5 A relagdo com 0 teatro demandatia ser aprofundada posteriormente a partir do conceito de cenografia e das pesquisas que propdem “uma nova dimensao cénica”, e nas quals, técnicas cénicas e técnicas graficas so associadas. Devem ser lembrados nesta perspectiva os "Textes manifestes” de Poliéti, escritos entre 1955 e 1962, que anunciam um perfodo de forte subversio sociolégica, e que foram reunidos in Scénagraphie Scémiographie, Denoél, 1971, p. 29-31. 0 Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal. 1999. Maneiras de instalagses Ml = 37 autor introduz claramente a relagdo entre as artes plasticas, a arquitetura ¢ a encenacdo teatral, in “Architecture et scénographie”, p. 30-31 'S Daniel Buren, “La rencontre des sites”, /b., p. 172. A relag4o que Buren estabelece com a arquitetura € uma dimensao de sua pesquisa plastica pouco explorada, que demandaria um deslocamento de ponto de vista sobre sua obra. "Ib. A totalidade do texto mereceria ser publicada in extenso tanto ¢ um modelo de analise espacial, apreciada na vertente arquitetural 8b, p. 173. ° Wb, p. 172. » 1 ‘Daniel Buren, terminaco em Berlim, RFA, em 11 de dezembro de 1984”. 2' Tony Garnier, arquiteto lionés (1869-1948). £ consideraclo um dos precursores do urbanis- mo moderno por seu projeto de “Cité industrielle” (1901-1904), que ele concebe quando de sua estada na Villa Medicis. O grande pavilhdo (previsto inicialmente em concreto) inscreve-se no programa do “Marché aux bestiaux et Abattoits de la Mouche” da cidade de Lyon, (1905- 1928). Os projetos de abatedouros das cidades de Reims (1907) e Nantes (1911) néo sergo realizados. Conforme Bernard Oudin, Dictionnaire des architectes de l'antiquité 4 nos jours, Seghers, 1982, p. 182, e Olivier Cinqualbre, “La lecon industrielle", in Tony Gamier. L ‘oeuvre complete, Centro Georges Pompidou, 1989, p. 139-145, ® Cf. especialmente 0 Ministro da Cultura e 0 deputado-prefeito de Lyon, in Catalogue 1V éme. Biennale d'art contemporain de Lyon (V'autre), 1997, p. 11-12. ® /b,, “The healing machines” (As maquinas curadoras), 1956-1986. Reconstituidas em Lyon por Dan Dryden, Dan Christensen , Eleanor Sandresky e Trace Rosel, Emery Blagdon Project”, p.42. % Jp, p. 16-77-102-103-116-117. 25 Jb,, cf. Serge Spitzer, “1995-1997, detalhe da instalacao durante a realiza¢o, no pavilhéo de Tony Garnier. Obra feita com 0 concurso técnico e financeiro da Aerocom Gmbh co € sécios”, p. 116. 26 Jb, p. 86-102-116-129-148-153-177. »” Chris Burclen beyond the limits, in “The flying steamroller project”, “The flying steamroller, Zeichnung/drawing, 1991, Tusche auf Papier, 28 x 22cm em tinta sobre papel, 11 x 8,5 in. Exhibition February 28 th August, 1996, MAK- Austrian Museum of Aplied Arts, Edited by Peter Noever, 1996, p. 45. Chris Burden estudou arquitetura no Pomona College, de Clairmont bem como na Universidade de Irvin na California. Ele € conhecido na Franca por sua realizacéo a Tour des trois-Museaux, 1994", Courtesy FRAC Champagne-Ardenne, Reims, /b., p. 106. O inventério do catélogo provocou o aparecimento de um nimero conseqtiente de desenhos Porto Arte, Porta Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1900 38 El syiviane Leprun reproduzidos com escalas varidveis, (3 x 4a 19 x 15cm. Alguns dentre eles (5) “Drawings for Dream Exhibition at the MAK (17 x 22 in", so editados em cores. No capitulo intitulacto “Architecture”, 12 desenhos (1984-1996), sao acrescentados as fotos. © conjunto dos dese- rnhos constitui um corpus de 30 documentos. £ de notar-se igualmente uma forma de “roteiro” que comporta fotografias anotadas, p. 54-57. O aporte desses desenhos € fundamental, pols permite medir 0 carater lddico e sérlo do projeto. % Servimo-nos do autor que fala “de momento virtual”. "E 0 que é ainda mais interessante no 0 momento em que a casca quebra , mas 0 momento em que ela ainda ndo esta totalmente quebrada. © momento que ndo existe, 0 momento virtual”, citado in Piertick Sorin, Catalogue .. Lyon... Op. elt., “Piertick Sorin, Projections 1997; instalagao video (video e foto), p. 152. € Croquis pour Projections, 1997", p. 152. O vinculo com o video é uma linha importante da pesquisa. De um ponto de vista cenografico, Poliéti o assinala in “Notes pour un programme de recherches (1967”, “Il Emissions audio-visuelles”, p. 61 ® Jb, p. 153. O “Visitante”, assim chamado, esta inscrito no enquadramento, colocaco na es- cala e situado espacialmente. % Cf. in Catalogue... Ib, Dan Graham, “Miroir pour un exécutant et un public”, p. 188. Essa instalagdo-performance foi apresentada a “De appel”, em Amsterda, nos Pafses Baixos em ju- nho de 1977 € ao PS 1, de Nova York, em dezembro de 1977. 8 Esse dispositive integra a mobilidade do espectador. Inscreve-se em uma filiago cénica coriunda das pesquisas dos anos 70, ¢ sobre a qual convirla voltar em uma interface instalagao- cenografia. 2 Conservamos a grafia do autor. /b., p. 177. » fb, p. 176. » Richard Serra, Ecrts et entretiens 1970-1989, “Propos sur le dessin", publié par le Stedelijk ‘Museum, Amsterda 1977, Daniel Lelong éditeur. 1990, p. 82. % jb, p. 73. ib, » Richard Serra, R. S. Recent Sculpture in Europe, 196 -1988, Galerie m. Bochum, 1988: tradu- zido do inglés por Bernard Hoepffner, citado in Catalogue, Biennale... Op. cit. p. 77. N. da Tradutora - Tradugao para 0 portugués: “E a distingao entre 0 peso pré-fabricado da historia e a experiéncia direta/ que me leva a produzir coisas que nunca foram produzidas ainda. / Nao cesso de tentar confrontar-me com as contradigdes da meméria / € de partir do zero, de me apolar apenas em minha propria experiéncia © meus préprios materiais, / mesmo quando devo enfrentar uma situago que nunca podera ser resolvida. / Inventar métodos dos quais nada sei, / utilizar 0 que a experiéncia contém para que esse contetido seja conheciclo por mim, / para, enfim, contestar a autoridade dessa experiéncla e, portanto, contestar a mim mesmo. Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999. Manelras de instalagses Hl = 39 icolas de Oliveira, Nicola Oxley, Michael Petry, com textos de Michael Archer, /nstallations Fart en situation, Thames and Hudson, 1997. As publicagbes-balanco sobre as quals se apéla nosso artigo trazem um esclarecimento mais declaradamente institucional franco-francés ~ apesar da presenca de artistas estrangeiros. Nao se pode sengo desejar uma pesquisa de maior amplitude sobre esse assunto interdisciplinar. Notar-se-4 uma auséncia de informacdo sobre os critérios que permitiram a selecéo dos artistas € das obras, nessas publicagdes. Esta falta ndo péde ser sanada e evidencia os limites atuals da pesquisa. A selecdo constitul uma “Visio”, segundo os termos de Harald Szeemann. Ver-se-A na escolha desses materiais ~ eles préprios seletivos ~ uma maneira de territorio exposicional da instalacéo, de 1972 a 1997. Conside- ramos cronologicamente: Jean Clair, Art en France, une nouvelle génération, Chéne, 1972, Catalogue Nouvelle Biennale .., op. cit, 1985, Catalogo L'époque, la mode, la morale, la pas- sion. Aspects de Vart daujourd hui 1977-1987, 21 de maio ~ 17 de agosto de 1987, Centro Georges Pompidou, /nstallations ... Ib, 1996, Art press, Spécial, Hors-série, n® 17, 1996. » Em um capitulo intitulado “Play it Again, Sam", Richard Serra coloca 0 problema de um dié- logo construido € Iicido com a arquitetura, citado in “Ecrits ... op. cit, publicado em Arts Magazine, fevereito de 1970, p. 16. ‘© “Eu retino, prossegue 0 autor, toda informaco possivel sobre 0 que define o sitio: mapas topograficos, planos em elevacso, Isomettias arquiteturals: em seguida, meco e balizo o sitio. Algumas obras so realizadias, da concepcao a execucdo, Intelramente imével , no sitio. Outras sfo executadas em atelié, Como tenho uma noc3o multo exata do sitio real, fago maquetes de aco que experimento em uma grande calxa de arela. (..) As estruturas s4o 0 resultado da ex- periéncia, nunca faco croquis ou desenhos para minhas esculturas, ndo trabalho sobre um con- ceito ou uma imagem a priort.” In Jb., Entretien avec Bemard Lamarche ~ Vadel, New York, mai. 1980", p. 147. 4 Installations ... Op. ct, “Preface”, p. 7. Pascal Ancel, Une représentation sociale du temps. Etude pour une sociologie de I'art, L'Harmattan, 1996, p. 48. ® Parachute, Chantal Boulanger, “L'installation au dela de I'/n situ: Jocelyne Alloucherle, Mario Bouchard, Loulse Viger”, n® 42, margo, abril, malo de 1986, p. 16. * Etendemeos por “espaco pista” uma configura, um stem de rlages ils, sn sori, mates, que orden eextatifeam o espago ete eo sua profiedadeantopot- (GDA cimensao plastica do espaco tem a ver com a cor, com os materials, com a ambiéncia, a luz, todos fendmenos complementares, indissociavels da percepcao plastica. "Robert Atkins, et extaue de art contempora, Pee de Hector Oblk, Abbeville Press, (G]EEPBMA Acrescentemos que, em alguns casos, 0 projeto arquitetural € uma resposta pte i engencis ets drethas do programa de stlago das cre. sabe eae sunto: Sylviane Leprun, “Places et lieux de I'art dans les expositions universelles. Jeux et enjeux scénographiques”, in Figures de ‘art. 38. Trimestre 1997, (a paraitre). Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999 40 BB syiviane Leprun “S Dictionnaire historique de la langue francaise, “Installer”, Le Robert, 1992, p. 1033. *7 Harald Szeemann, “Des expositions faltes d'amour et d'obsessions", Entrevista por Jean- ‘Wes Jouannais, in Art press ... Op. cit, p. 105. N. da Tradutora ~ Tradugao do texto em epigrafe: Quando eu investia lugares que néo eram consagrados a arte, / eu recorrera as qualidades dos artistas dos quais eu sabia que eram feitos para esses lugares. / Trabalhamos em usinas desativadas, / gares vazias, para crlar um dislogo centre as obras € 0 espaco. / Dai a necessidade de obras as vezes grandiosas. Jonathan Borofsky fez seus estudos de escultura (Universidade de Camegie-Mellon), depois na escola de arte € arquitetura de Yale. Cf. Petit dictionnaire.... op. cit, p. 38. O critério da formacao em arquitetura e seu papel na pratica da instalagao e sua relaco com o espaco seré objeto de uma andlise posterior. Todavia, percorrendo a lista (36 artistas) estampada na obra de Atkins, somente 3 artistas so suscetiveis de responder a essa orientagao. Trata-se de Jo- nathan Borofsky (citado), Chris Burden, Sol LeWitt. Tony Smith (que ndo esté nesse co/pus) trabalhou como arquiteto apés haver realizado estudos de arte. Sol Le Witt fol grafista junto a0 arquiteto lan Ming Pei. Devem ser destacadas igualmente instalages da arquiteta escocesa Caroline Wilkinson. Um outro critério interessante poderia ser avallado, 0 da formagao multi disciplinar. A titulo indicativo, selecionar-se-do: Nam June Paik (mdsica-composigao/histéria da arte/filosofia), James Turrell (arte/psicologia), Walter de Maria (histéria/pintura). ® L’époque, ... Op. cit, p. 89. Lista exaustiva das obras, p. 10-15. Nesse grupo, “Peinture, sculpture, installation”, contam-se 60 artistas, que, em todas as segdes misturadas, eram 67. ® Um corpus de 216 artistas figura na obra. 51 Robert Atkins em seu Petit lexique ..., apresenta o termo “instalacao” em 1970 nos Estados Unidos e na Europa. © In Collection, “Christian Boltanski, Daniel Buren, Gilbert et George, Jannis Kounellis, Sol Lewitt, Richard Long, Mario Merz”, de 29 de junho a 30 de dezembro de 1990, capc Musée dart contemporain, 1990, p. 57 seg., ep. 177 e seg. 2 © carater dos vinculos simbélicos entre as Instalagdes € 0 espaco cemandaria um estudo comparativo sobre os lugares fundadores ¢ que suscitam intervencées plasticas originals. * Luc Lang, “L’Atlas et le calendrier’, Jb, p. 71 € seg. ® Marlis Graterich, “Marlo Merz: avec att, au dela de l'art", Ib, p. 200. % David Medalla, “Série New York Epiphanies (les anneaux d'or)”, Projet installation, p. 87. © Bruce Nauman, “Dream passage with 4 corridors, 1984", p. 260. Esta instalago provinha das pesquisas efetuadas sobre os “espacos pensantes”, Iniclados desde 1968. A exposico da galerla Castelli era composta de espagos temporarios € se intitulava: room with my soul left out/room that does not care, p. 259. Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mal. 1999. Maneiras de instalacses M41 *8 A notar, no catélogo Jean-Clair, L’art..., op. cit., uma pagina analitica ~ preto e branco ~ que comporta fotografia documentaria, esboco preparatério e fotografia in situ, de uma instalacao de Titus-Carmel. Exemplo do processo analitico do artista. Titus-Carmel, “Le modéle: Forét vierge/Amazone mars 1971”, “Desenho 64 x 48 1971” (fotografia Florin Dragu), “La copie: Reconstitution olfactive de la Forét vierge”, A.RC., Musée d'art modeme de la Ville de Paris, marco de 1971, p. 53. ® Richard Serra, Maillard extended, Bentelli, 1989. © Serra faz referéncia aos célebres “Vedute” de Piranése. Aqui a forca da cenografia esta intel- ramente na extrema maestria do desenho. Sabe-se o que essa pintura deve as pesquisas de Piranése. Esse elo historico e camal é reativado nessa citacdo. Conviria prolongar-Ihe a andlise em estudos de casos estimando © campo pictérico no territério da instalagao. 1 Jb,, “On the bridge: RS: Richard Serra HS: Harald Szeemann’, p. 23. “p, © Jp, “Introduction Harald Szeemann”, p. 12. &* Jb, cf. “Richard Serra en Suisse”, para onde o artista fol convidado desde 1969. A notar uma exposicao em 1988, em Kunsthalle de Bale (installation a base de dessins), p. 42. © Exposicéo Catherine Beaugrand, “Le masque de la mort rouge 1994", Instalagao que com- porta 7 estruturas, monitores de video e retroprojecbes. Materials diversos. H.: 3,8m x 1.: 4,1 xL.: 21,4m, Centre d'Art contemporain de Vassiviere, 17 de feverelro ~ 5 de malo de 1996. (© catélogo que comporta duas partes, uma em francés e outra em japonés Integra 8 planos: 1 plano de conjunto com localizacio do dispositive e 7 planos de detalhes de elementos que compéem as pesas, repartidos de maneira igual nas duas partes. As indicacées técnicas sdo em japonés. © Ib, p.4. © ib, p.8. &® Jb, O termo “InstalagSo” (1349; de /nstalle). Este nome integra uma dupla perspectiva, a da duragao e a do provisério, in Dictionnaire alphabétique et analogique de la langue francalse, Le Robert, 1978, p. 766. Ver nossa propria defini¢ao no inicio deste artigo. O catélogo fol realizado por ocasiao da exposicao que aconteceu de 1 de outubro a 13 de novembro de 1994 no museu de Ashiya, (...) depois, de 23 de novembro a 15 de janeiro de 1995 no museu de Kitakanto em Maebashi (...) € na primavera de 1995, no Centro de Arte contemporanea de Vassiviére em Limousin, in Jb, p. 2. % Catherine Beaugrand obteve uma bolsa do Ministério dos Negécios estrangeiros em 1993. Ela fol premiada da Villa Kujeyama em Kyoto, no Japao onde permaneceu sete meses, de mar- 0 de 1993 a setembro de 1994, Ib. p. 15. 1 Ba p.9. Pit Arte, Porto Alegre, v.10, 0.18, p.19-42, mal. 1999 42 BB syiviane Leprun 7 J semelhanga das sociedades sem escrita, ou das arquiteturas sem arquitetos, postulamos que pode existir um modo de tradi¢ao da instalacdo transmitido oralmente. Introduzimos in “Perégrinations méridionales de Marseille a Alger, interfaces paysagéres”, a idéia de uma “lin- .gua materna das formas (...) dada, adquirida por aprendizagem comum, quotidiana, domésti- ca do olhar, antes que intervenha uma escolarizacao mais académica das normas estéticas”, in Rives nord-méditerranéennes, Publication du Groupement scientifique do CNRS “Nord- Méditerranée” Cultures et civilisations méridionales (Xle - Xxe. S.), n® 8, 1993, p. 92. ® Entendemos por “sociabilidade plastica” formas cle coabitacao( Ses) quotidiana (s) em que o campo da plastica se situa na escala da palsagem urbana (design de espaco) € convoca formas socials a0 mesmo tempo estruturadas e espontaneas: vitrinas em particular. Esses modos de apropriagdes espaco-plisticos integram tanto a dimensao efémera da instalac&o quanto sua ‘encenaco. Cumpre conceber a "sociabilidade plastica” como a expresso de condutas indvi- duals e coletivas que no concernem imperativamente a0 dominio das artes plasticas, mas cuja traducao visual sugere uma possivel interpretagao nese territério. O conceito de “etno- plastica” valida esta relagdo fundada sobre a interface ciéncias humanas ~ artes plasticas. 2 "Noi girlamo intomo alle case o le case girono intomo a nol”, cf. in Jnstallations. Op. cit, p. 166. 75-Tomamos de empréstimo aqui a Daniel Fabre. In Ecritures ordinaires. Paris : POL, 1993. 5 A exposig4o “Mythologies quotidiennes” realizou-se em Paris em 1977. 2” questao da reinstalagao das obras € importante € demandaria por si s6 um longo desen- volvimento, Ela € proposta no curso dos anos 80. Serd citado, a titulo de orientacdo, o artigo de Susan Hapgood, “Remaking Art History”, in Art in America, julho de 1990, p. 115 e seg. Esta sintese da uma luz critica sobre as posturas contraditorlas dos artistas que praticam a ins- talagao, a respeito das reinstalagdes museals In Les Archives de la Construction modeme,tcole polytechnique fédérale de Lausanne, 29 de agosto - 12 de outubro de 1997. * “Jardin de papier, installation 1997", in Anne-Marie Bucher et Plerre Frey, Jardins de papler, ‘matértauxx por une histoire des jarclins en Suisse romande, Les Archives de la Construction modeme, 1. 66-67. Um plano de situagdo e uma fotomontagem do projeto sto integradios & publicacao, SYLVIANE LEPRUN; Sylviane Leprun é professora universitatia de artes plasticas. Diretora ad- junta (Arts plastiques et Arts appliques) ca UFR SICA (Unidade de formagéo ¢ pesquisa, Cién- cla da Informagao da Comunicagéo € das Artes) e pesquisadora da equipe IMAGINES ~ 1/H/S (Imagens-Hist6ria-Sociedades) na Universidade Michel de Montaigne, de Bordeaux Il ‘No ambito da UFR de Artes plasticas ~ Paris | Panthéon-Sorbonne, ela € também membro do CERAP (Centro de Estudos ¢ Pesquisas em Artes Plasticas) do DEA (Diploma de Estudios ‘Aprofundados) de artes plisticas, pesquisas fundamentals e aplicadas. SONIA TABORDA: Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Arte, Porto Alegre, v.10, n.18, p.19-42, mai. 1999.

You might also like