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TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA Estudo da Lei n° 12.973/2014: Da harmonizagao juridico contibil a tributagio de lucros do exterior Coordenadores Dantete Souro Ropricurs Naranart Marrins NOESES 2015 PERMUTA IMOBILIARIA: A NOVA CONTABILIDADE E 0S DESDOBRAMENTOS TRIBUTARIOS ‘José Henrique Longo do Ministério da Fazenda (atual CRF), Advogado em SE. Rafael Palma Bifano Pés-Graduado em Direito Tributério pela PUC/SR Graduando ‘em Ciéneias Contabeis em SP Advogado. 9: 1, O negécio juridico chamado permuta; 2. A permuta ia na contabilidade anterior & Lei n® 11.63822007 e na IN SRF n° OT; 3. As novas normas contibeis; 4, 0 conceto de receitana Lei n° 12.9732014; 5,0 tratamento das permutas imo- bilidrias na Lei n° 12.973/2014; 6. O Parecer Nor cosiT ‘n° 09/2014; 7. Consideragées finas; 8. Referencias bibliograticas. © objetivo deste Capitulo é apresentar consideracées acerca das alteragées introduzidas a partir de 2008 no tratamento contébil da permuta imobilidria promovida por empresa com objeto social de incorporacao imobilidria, e dos seus reflexos no ambito tributério. 181 ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA E pratica comum no segmento de incorporagées imobiliérias que os incorporadores oblenham a propriedade sobre 0 terreno objeto do empreendimento mediante a promessa de entrega de algumas das unidades auténomas a serem construidas nesse préprio terreno. Essa pratica foi por muitos anos entendida como um neg6- cio sem contetido mercantil, onde as partes trocavam entre si bens de valores equivalentes. OKEm decorréncia de tal enten- dimento, no pasado, era reconhecido que esse tipo de permuta representava um negécio que ndo trazia impactos tributéri por dele nao resultar acréscimo ou deeréscimo de patrim: Todavia, esse cenario foi alterado a partir de 2008 com a modificagao da Lei n° 6.404/76 que permitiu a convergéncia das normas brasileiras de Contabilidade com as normas interna- cionais (IFRS)? Do ponto de vista tributério, essas mudancas contébeis nao modificaram a apuracdo das bases de calculo de tributos no periodo de vigéncia do Regime Tributario de Transicdo, in- troduzido pela Lei n° 11.941/2009. Esse periodo foi encerrado em 31.12.2014° nos termos da Lei n° 12.973/2014. Assim, a partir de 2015 as incorporadoras _ irias enfrentardo o desafio de se adaptarem ao novo cenério tributario com implicagdes no custo tributario de seus empreendimentos. 1. O negécio juridico chamado permuta g6cio juri No Cédigo Comercial de 1850 havia um Titulo‘ que tratava 1. Exceto pelo Imposto sobre a Transmissdo de Bens Iméveis (TBD. 2. International Financial Reporting Standards. 3, Para as pessoas juridieas que no optaram em antecipar o fim do Regime ‘Tributério de Transicéo. 4. Titulo IX-~ Art, 221 - 0 contrato de troca ou eseambo mercantil opera ao mesmo tempo duas verdadeiras vendas, servindo as coisas trocadas de prego € ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA sobre o negécio la denominado “troca ou escambo mercantil”, © qual era, grosso modo, entendido como sendo a coneretiza- cao de duas vendas reciprocas, ao qual eram aplicdveis todas as disposicées inerentes ao negécio de compra e venda. Em outras palavras, os comerciantes realizavam transa- Ses com seus produtos, trocando-os por produtos de outros comerciantes, sem uso de dinheiro; ou seja, utilizavam os seus produtos préprios como meio de quitagao da aquisicio de produtos de terceiros. ‘Sobre o tema comentou Pontes de Miranda: A alusio a duas compras e vendas proveio das consideragées, encontradigas no século passado e no comeco deste, sobre se su. por, sempre, nas trocas mereantis, que se deu prego a cada bem assim mais se trocaram valores do que coisas 0 doutrinador deixou claro que nos negécios de escam- bo, consoante a redagéo do Cédigo Comercial, havia certo pressuposto de preco, visto que as partes envolvidas eram. comerciantes. Entretanto, afirmava esse autor: [Nao hi prego, no sentido préprio; porque um dos figurantes pro- ‘mete um bem, que ndo é dinheiro, e 0 outro figurante promete ‘outro bem, que nao é dinheiro.* O que se conclui é que a época havia negécios juridicos de troca que nao envolviam prego, todavia, no caso de trocas realizadas entre comerciantes havia esse pressuposto compensagéo reciproca (art. 191). Tudo o que pode ser vendide pode ser trocado. (..) Art 285 - Bm tudo 0 mais as trocas mercantis regulam-se pelas disposigbes do ‘Titulo VIIT-Da compra e venda mercantil. (BRASIL. Lei n° 556, de 25 de janho de 1850. Cédigo Comercial. Dispontvel em: < http:/www-planalto.govbr/ccivil, OSes! 10556-1850 htm>. Acesso em: 16 abr. 2015). 5. PONIES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado, ‘Tomo XXXIX, p. 462, atuslizado por Claudia Lima Marques, Ed, Saraiva, 2012. 6. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavaleanti. Idem, p. 460 ‘TRIBUTAGAO ATUAL DA RENDA implicito, o preco, resultando na sua equiparagao a compra e venda. Essa equiparacao, bem como 0 entendimento de que ha preco implfcito nos contratos de escambo, era combatida pelo autor, como se verifica de sua afirmacao: Por outro lado ¢ falso que haja, no contrato de troca, dois contra- tos, duas verdadeiras vendas| Em igual sentido, Orlando Gomes também critica a equi- paragao entre os dois inslitutos, quando nos ensina: A analogia entre a compra e venda e a troca no significa iden- tidade, reconhecida, sendo a impossibilidade de submeter fatal- ‘mente a troca ao regime legal da compra venda! ‘A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional por mais de uma vez manifestou-se, enquanto vigente 0 Cédigo Comercial de 1850, no sentido de que a operagao de permuta nao repre- senta compra e venda, por auséncia de prego, a exemplo do ‘entendimento externado no Parecer PGFN n° 454/92, onde consta expressamente que: “permuta e compra e venda, embo- ‘ra semelhantes, sdio institutos jurtdicos diversos”. As trocas ou permutas, em geral, eram regradas pelo art. 1.164 do CC/16. A redagao desse dispositivo, ao contrério do Cédigo Comercial, nao equiparava o negécio juridico de permuta & ocorréncia de duas compras e vendas, reciprocas ¢ simulténeas. Com a entrada em vigor do CC/2002, a parte do Cédigo Comercial que tratava sobre o Escambo Mercantil assim como 0 art: 1:164 do CC/16 foram revogados. A materia é hoje tratada pelo art. 533 do CC: Art, 583, Aplicam-se a troca as disposig6es referentes @ compra e ‘venda, com as seguintes modificacées: T.ldem. 8. GOMES, Orlando, Contratos. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 270 ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA_ 1. salvo disposigéo em contrério, cada um dos eontratantes pa- gard por metade as despesas com o instrumento da traca; IL-6 anulavel a troca de valores desiguais entre ascendentes © . Acesso em: 14 "TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA. 2. A permuta imobilidria na contabilidade anterior & Lei n° 11.638/2007 e na IN SRF n° 107/88 No Ambito das antigas normas contébeis (até 2007), as permutas imobiliérias eram tratadas como negécios sem substancia comercial, ou seja, 0 incorporador ao realizar a permuta nao apurava somente com tal operagéo nenhum re- sultado. Caso essa transacao fosse favordvel, do ponto de vista negocial, os seus reflexos seriam colhidos na negociacao das demais unidades autOnomas do empreendimento. 0 valor da transagao era o respectivo custo de aquisigao do imével dado em permuta, servindo como base para o regis- tro contabil correspondente. Assim, numa operacéo de per- muta o valor de um bem recebido, em troca de outro que era entregue, refletia o valor deste bem. Em outras palavras, se a aquisicao de um determinado terreno tivesse como contra- partida a entrega de um conjunto de ativos em valor X, esse valor X era o custo contabil atribuido a esse terreno. Quando a transagéo envolvia a promessa de entrega de unidades a construir, o esforco necessério para construir es- sas unidades auténomas era o valor contabilizado em relagao a0 terreno. ‘Como essa troca ndo representava alteracéo de valor de ativo, no havia que falar em receita nem em impacto no re- sultado do exercicio, havendo apenas uma movimentagao em contas patrimoniais, de ativos. Na pratica, isso significava que as unidades auténomas a serem entregues pelo incorporador, ao antigo proprietario do terreno, néo compunham a sua re- ceita uma vez que no eram produto de venda, mas de troca, sem preco. Esse tratamento era respaldado pela IN SRF n° 107/88, a qual, em seu item 2.1.1,!" previa que em operagées de permuta 10, BRASIL. IN SRF n° 107, de 14 de julho de 1988. Disponivel em: < hitp:/Avwar. ‘normaslegais.com brilegislacao/tributariofnsefl0T1988 him>. Avesso em: 14 abr. 2015. ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA nao havia resultado a apurar, excegao feita, apenas, as permu- tas que envolvessem o pagamento de torna, onde ela figurava como renda de quem a recebia: 2.1. —No caso de permmuta sem pagamento de torna, as permu- tantes nao teréo resultado a apurar, uma vez que cada pessoa juridiea atribuiré ao bem que receber o mesmo valor contébil do bem baixado em sua eserituragao. Ademais, algumas regiées da Secretaria da Receita Federal do Brasil manifestavam-se nos idos de 2008 no sen- tido de que no incidia IR para os incorporadores sobre as operacées de permuta imobilidria, inclusive se optantes pelo regime do lucro presumido." Entretanto, uniformizou seu entendimento no ano de 2010 para afirmar que a permuta promovida por incorpora~ dor imobiliério deve ser oferecida a tributagao no regime de lucro presumido. © Conselho Administrative de Recursos Fiscais apre- ciou 0 tema em poucas oportunidades, e, como se pereebe dos votos que sustentaram a deciséo, apenas 0 voto vencido se debrugou devidamente sobre o tema, sendo que a posicéo vencedora optou por adotar 0 entendimento da COSIT nas Solucées de Divergéncia publicadas em 2010." 3. As novas normas contabeis Com a entrada em vigor da Lei n° 11.638/2007 € 0 inicio da convergéncia das normas brasileiras de Contabilidade com as normas internacionais, a matéria das permutas imobilidrias 11. Solugées de consulta 230/2008 3 281-2008. 12, SolugSes de Consult 932/2010, 212011 e 31/2012, e Solugbes de Divergéncia CO- ‘SIT 05/2010 e 07/2010. 13, Acérdio 1902-001.217, 3 Camara /2*Turma e Acérdéio 1402-00.413, &* Camara, 2 Turma. 'TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA. foi objeto da Orientagao do Comité de Pronunciamentos Contabeis 01/2008 (OCPC1), em seus itens de 20 a 23: 20. Quando unidades imobiliarias de mesma natureza e valor s80 permutados entre si (apartamentos por apartamentos, terrenos ppor terrenos ete.) essa troca nao ¢ considerada uma transacao ‘que gera ganho ou perda. 21. Quando hé @ permuta de unidades imobilidrias que néo te- ham a mesma natureza e 0 mesmo valor (por exemplo, apar- tamentos construfdos ou a construir por terrenos), esta € con- siderada uma transa¢do com substincia comercial e, portanto, ‘gera ganho ou perda. A receita deve ser mensurada pelo seu va- lor justo. Entende-se como valor justo a quantia pela qual um ativo poderia ser trocado, ou um passive liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso em uma transagdo em que no existe relacionamento entre elas. Neste tipo de operacao, a re- celta é determinada pelo valor de venda dos imoveis ou terrenos recebidos. Excepcionalmente, quando esse valor néo puder ser ‘mensurado com seguranga, 2 receita deve ser determinada com base no valor de venda das unidades imobilidrias entregues. 22, No caso de permuta de terrenos, tendo por objeto a en- trega de apartamento a ser construido, o valor do terreno adquirido pela entidade de incorporacao imobiliéria, apura- do conforme eritérios descritos no item 21, deve ser contabi- lizado por seu valor justo, como umn componente do estoque de terrenos de iméveis a comercializar, em eontrapartida a adiantamento de clientes no passivo, no momento da assina- tura do instrumento particular ou do contrato relacionado & referida transagio. 23, Prevalecem para as transagées deseritas no item 22 05 mesmos critérios de apropriacdo aplicados para o resultado de incorporaco imobilisria em seu todo. Pe Assim, de acordo com essa norma, reconhecimento con- tabil das operacées de permuta passou a ser efetuado de duas maneiras, a saber: (i) quando se permutam bens de nature- zas semelhantes (terrenos por terrenos ou apartamentos por |, COMISSAO DE VALORES MOBILIARIOS. Deliberagio CVM n® 561, de 17 de dezembro de 2008. Disponivel em: < http:|Wwww.evm.govbr/exportsites/cvmilegis- lacao/anexos/delif0500/deliS6consolid.pa>. Acesso em: 1d abr. 2015, ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA apartamentos) e (ii) quando se permutam bens de naturezas di- ferentes (terrenos por unidades a construir).. Para 0 primeiro caso, permuta de bens de naturezas se- melhantes, a Contabilidade reconhece a permuta como uma transagdo sem natureza comercial. Em decorréncia, 0 reco- nhecimento contabil se dé pelo valor do ativo entregue, sem no resultado da entidade contabil, tratamento esse bastante semelhante aquele que estava contido nos prineipios contabeis que vigoraram no Brasil até 31 de dezembro de 2007. J& no segundo caso, a permuta de bens que tenham na- turezas diferentes, a nova Contabilidade considera-a como sendo uma transacdo com substancia comercial, devendo ser reconhecida pelo incorporador como adiantamento do clien- te, utilizando-se como base do langamento contabil, 0 valor justo" do terreno recebido. Essa nova maneira de reconhecer contabilmente a tran- sagdo como um adiantamento do cliente, resulta por equi- parar, contabil e economicamente, a permuta a uma venda de unidades a construir, a qual é quitada a vista mediante a entrega do terreno. O valor desse adiantamento tem de ser reconhecido considerando-se 0 seu v , a0 contrério de tomar por base o esforgo necess4rio para a aquisi¢’o do terreno (custo das unidades a serem entregues ao antigo pro- prietério do terren Sobre o valor justo do terreno, vale ainda comentar que a OCPC1 define-o como preco de mercado do terreno recebi- do pelo incorporador, esclarecendo, expressamente, que esse montante representa a receita da operacao. Futuramente, na medida em que 0 custo das unida- des for registrado, esse adiantamento de clientes deverd ser 15, Valor justo é, conforme o Pronuneiamento CPC 48, “o prego que seria ecebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferéncia de um passivo em uma {transagio ndo forgada entre participantes do mereado na data de mensuragéo.” ‘TRIBUTAGAO ATUALDA RENDA computado como uma receita do incorporador, vez que deve ser reconhecida e registrada, sob a ética contabil, a venda das unidades auténomas dadas em pagamento a aquisicao do terreno. Dessa maneira, a nova Contabilidade, além de atribuir natureza comercial aos negécios juridicos de permuta, entre bens de diferentes naturezas, conferiu-lhes uma presungao de prego, o qual equivalerd, via de regra, ao valor justo do terreno. 4. O conceito de receita na Lei n° 12.973/2014 conceito de receita bruta sempre foi objeto de grandes debates em matéria tributaria, visto ser base de calculo para a Contribuic¢do ao Programa de Integracao Social (PIS) e para a Contribuig&o para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), bem como componente formador na apuracéo do Imposto sobre a Renda (IR) e da Contribuigéo Social sobre 0 Luero Liquid (CS) no regime de apuragdo do luero presumi- do ou arbitrado. art. 12 do Decreto-Lei n° 1.598/77, antes da alteracio promovida pela Lei n° 12.973/2014 definia o conceito de recei- ta bruta como sendo: ‘Art 12 -A receita bruta das vendas e servigos compreende o pro- duto da venda de bens nas operagbes de conta prépria eo prego dos servigns prestados. © Supremo Tribunal Federal e 0 Superior Tribunal de Justica jé haviam se manifestado no sentido de que quaisquer receitas decorrentes da atividade ou objeto principal da pes- soa juridica também sao consideradas receita bruta."* A principio, a interpretagéo dos tribunais superiores nao tinha 0 condo de alcangar as operagées de permuta 16, AgReg, Resp. 371.258-6/SP Resp, 929521 e Siimula STF 423, ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA imobiliaria (sem torna) pois elas ndo implicavam nenhum tipo de receita (“género”), e por isso sequer poderiam ser conside- radas na “espécie” receita bruta. Todavia, apés a alteragéo promovida pelo art. 2° da Lei n® 12.973/2014, 0 art. 12 do Decreto-Lei n° 1.598/77 passou a ter a seguinte redacdo: Art. 12. receita bruta compreende: 1-0 produto da venda de bens nas operagées de conta prépria; 11-0 prego da prestagéo de servigos em geral; I~ resultado auferido nas operacées de conta alheis;e IV - as receitas da atividade ou objeto principal da pessoa juridi- ca ndo compreendidas nos incisos I aI. Nota-se, na nova redago do artigo, a formalizagéo da interpretagao fornecida pela Suprema Corte do significativo alargamento do coneeito de receita bruta, passando a com- preender néo apenas 0 produto da venda de bens e servicos, mas também quaisquer outras transag6es relacionadas ao objeto principal do contribuinte, desde que se caracterizem como uma receita. Esse alargamento dé abertura para que seja considerada como receita bruta qualquer langamento contébil em resultado que seja credor, desde que decorrente da atividade empresarial do contribuinte. Ai, incluem-se as permutas imobilidrias que, nos termos da OCPCl, passaram a representar operagées com reflexo em conta de resultado. Por consequéncia, tal abrangéncia interfere diretamente na apuragao da base de célculo do IR e da CSLL, a0 menos das pessoas jurfdicas submetidas ao lucro presumido e ao lucro arbitrado (bem como na apuracao de PIS e de COFINS em qualquer regime de apuracdo). ‘TRIBUTAGAO ATUAL DA RENDA 5. O tratamento das permutas imobilidrias na Lei n° 12.973/2014 Além de ampliagao do conceito de receita bruta, a Lei n° 12.973/2014 trouxe, ao alterar o art. 27 do Decreto-Lei n° 1.598/77, que trata da atividade imobilidria e da tributacao de seus resultados, regras especificas visando harmonizar anova contabilidade e a base de céleulo dos tributos, quanto ao reco- nhecimento e tratamento das permutas imobilidrias. Tais regras, em linhas gerais, partem da aplicagao do con- ceito da OCPC1 quanto ao reconhecimento da transagéo a0 seu valor justo, 0 que permite apurar lucro ao realizar uma permuta imobilidria. Esta 6 a nova redac4o do dispositivo: Art. 27- O contribuinte que comprar imével para venda ou pro- mover empreendimento de desmembramento ou loteamento de terrenos, incorporacao imobiliéria ou construcdo de prédio des- tinado & venda, deverd, para efeito de determinar 0 luero real, ‘manter, com observancia das normas seguintes, registro perma- nente de estoques para determinar o custo dos iméveis vendidos: i) § 1° O lucro bruto na venda de cada unidade seré apuredo & reconhecido quando, contratada a venda, ainda que mediante instrumento de promessa, ou quando implementada a condigéo | suspensiva a que estiver sujeita a venda. § 2° Na corregio de que trata o item II, o contribuinte poder, & 0, observar o disposto no art. 48 e no § 3° do art. 41. ‘imobilidrias, a pareela do luero bruto decorrente da avaliagao a valor justo das unidades permutadas seré computada na determi- ‘ragio do luero rel pelas pessoas juridicas permautantes, quando ‘0 imével recebido em permuta for alionado, inclusive como parte {integrante do custo de outras unidades imobilidrias ou realizado a qualquer titulo, ow quando, a qualquer tempo, for classificada no tivo ndo circulante investimentos ou tmobilizado, (..) (Destaque rosso)" 1. BRASIL. Decreto-Lei n° 1.598, de 28 de dezembro de 1977.Altera a legislagdo do "TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA Esse Iucro, nos termos do novo § 3° do art. 27 do Decreto- Lei n® 1.598/77, € tributavel, podendo ser a tributagao diferida para o momento da alienagdo das unidades auténomes nas quais 0 terreno haja sido computado como custo, desde que 0 valor seja controlado em subconta especifica. E também requisito do deferimento que o bem seja utilizado para a finalidade de incorporacéo imobilidria, caso contrério o eventual ganho resultante da avaliagao a valor justo deveré ser tributado no momento em que o bem for reclassificado para o imobilizado. 0 resultado dessa determinagdo é que para o incorpo- rador teria sido assegurada a neutralidade temporal sobre 0 suposto ganho decorrente da diferenga entre o valor justo do terreno recebido ¢ o custo de construcao das unidades autd- rnomas que serdo entregues. ‘Todavia, nao hé na Lei n® 12.973/2014 nenhuma outra dis- posigao que confira tal neutralidade tributaria (até o momen- to da alienagao e do efetivo reconhecimento da receita), além do art. 10 do préprio Decreto-lei, para o fato de que a transa- ‘go que antes era reconhecida como nao geradora de receita, troca do terreno por unidade imobilidria, inclusive por nao ter prego, passa a ser uma transacéo comercial com pre¢o, portanto suscetivel de tributagao. Ocritério do art. 27 remete ao modo de tributagao previs- to pelo art. 10 do Deereto-Lei n° 1.598/77, onde o reconheci- mento da receita de um empreendimento imobiliério se dé na medida em que seja verificada a evolugao fisica da obra, um método comumente conhecido como POC:* Art. 10 - Na apuragéo do resultado de contratos, com prazo de execuctio superior a um ano, de construcéo por empreitada ou de fornecimento, 2 prego predeterminado, de bens ou servigos a serem produzides, serdo computados em cada periodo: imposto sobre a renda. Disponivel em: < http:/wwwplanalto.govbricivil_O3/de- cereto-Lei/del1598 htm>. Acesso em: 14 ab. 2015. 18. Percentage of Completion. "TRIBUTAGAO ATUAL DA RENDA 1-0 custo de construgéo ou de produgéo dos bens ou servicos incorrido durante 0 periodo; IL- parte do prego total da empreitada, ou dos bens ou servigas 1 serem fornecidos, determinada mediante aplicagao, sobre esse prego total, da porcentagem do contrato ou da producao execu- {ada no periodo." Como o conceito de receita, na troca de terrenos por uni- dades imobiliérias, foi ampliado e como a nova Contabilidade assim o trata para fins patrimoniais, é possivel concluir que as permutas imobiliérias originam agora receitas, e que essas re- ceitas sio passiveis de gerar reflexos tributarios, ja que, como mencionado anteriormente, algo que antes néo compunha 0 resultado das vendas passou agora a compor. Por outro lado ha um forte entendimento por parte das autoridades tributérias quanto ao contetido negocial das per- lidrias e que, em certa medida, esclarece a razéo pela qual nao corista da Lei n° 12.973/2014 nenhum dispositi- vo conferindo neutralidade tributéria temporal & mudanga de critério representada pelo registro de permutas em conta de receita, a nao ser o reconhecimento conforme o POC. 6. O Parecer Normativo COSIT n° 09/2014 Afirmou-se anteriormente que com 0 advento da OCPC1 as permutas imobiliérias, envolvendo troca de ativos de na- turezas diferentes, passaram a ser tratadas como transagdes comerciais para fins contabeis e, em decorréncia, para fins de apuragio de tributos; entretanto, esse nao é um entendimen- to paeffico. A Receita Federal do Brasil vem emitindo entendimen- tos reiterados no sentido de que negécios juridicos de per- muta imobilidria, por serem compra e venda reciprocas, cereto-leiidel1598.htm>, Acesso em: 14 abr. 2015. ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA deveriam ser considerados como geradores de receitas para fins tributarios. Manifestagées nesse sentido constam das Solugées de Consulta ns® 32/2010, 21/2011 e 31/2012, além da Solugao de Divergéncia n° 07/2010. ‘Trazendo uma nova manifestagao acerea dessa discus- sio, e com fundamento na suposta equiparagao dos insiitutos de permuta e de venda e compra em razao do disposto no art. 533 do CC, recentemente foi publicado o Parecer Normativo COSIT 09, de 04 de setembro de 2014, por meio do qual ficou firmado em definitivo o entendimento da Receita Federal do Brasil de que o valor de imével recebido por incorporador, em negécio de permuta, deve ser considerado como receita para fins de tributagéo, quando esse incorporador for optante pelo regime de apuragao do IR e da CSLL com base no lucro presumido. Esse entendimento, reiterado por parte daReceita Federal do Brasil, pode justificar a auséncia na Lei n® 12.973/2014 (re- sultado da MP n° 627/2013) de um dispositivo conferindo neu- tralidade tributéria temporal ao valor do imével recebido em permuta (0 valor desse imével era, na Contabilidade antiga, correspondente ao custo de construgao das unidades auténo- mas permutadas), visto que no entender do Fisco esse mon- tante sempre representou uma receita. Se essa linha de raciocinio prevalecer, diversos impactos tributérios poderdo resultar de negécios juridicos de permuta, notadamente no que tange A tributacao pelo IR, pelo CSLL, pelo PIS e pelo COFINS, aumentando significativamente os custos associados a alguns empreendimentos imobiliérios. 7. Consideragoes finais ‘Tomando por base as alteragées trazidas pela OCPC1, pela Lei n® 12.973/2014, bem como pelo entendimento reitera- do das autoridades tributdrias, 6 possivel delinear um quadro TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA desfavoravel ao incorporador imobilidrio que pretenda confe- rir aos negécios jurfdicos de permuta imobi dente tratamento de fora do campo de incidéncia tributéria, sempre em coeréncia com a natureza juridica do instituto. Assim, deixamos ao leitor algumas questées que mere- cem ser estudadas com maior profundidade: (a) Sendo a auséneia de prego parte indissociavel da permuta, qualquer que seja a sua espécie, teria a norma contabil o con- dao de modificar a natureza civil de um negécio juridico? (b) Considerando-se que a OCPC! diferencia as permutas imobi- lidrias nas quais se entregam bens de naturezas diferentes (por ‘exemplo: terrenos por unidades) daquelas onde se trocam bens de idéntica natureza (por exemplo: terrenos por terrenos ou apartamentos por apartamentos), determinando que estas tilt. mas ndo sejam reconhecidas como receitas, poder-se-ia atribuir tratamentos tributérios distintos a cada um desses dois casos? {c) Seria o simples recebimento do imével, por parte do ineorpo- rador, suficiente elemento para determinar riqueza ou renda realizada, sem a qual nao hé capacidade contributiva para o pa- gamento de tributos? © cenério posto traz uma grande inseguranga juridica para um importante setor econdmico do Pafs, gerador de mi- Ihdes de vagas de trabalho, merecendo atencao por parte das, autoridades da Receita Federal do Brasil, dos nossos julgado- res ou mesmo dos legisladores. 8. Referéncias bibliograficas BRASIL. Lei n° 556, de 25 dejunho de 1850. Cédigo Comercial. Disponivel em: <_http://www.planalto.govbr/ecivil_03/leis/ 10556-1850.htm>. Acesso em: 14 abr. 2015). BRASIL. Decreto-Lei n° 1.598, de 26 de dezembro de 1977. Altera a legislacdo do imposto sobre a renda. Dispontvel em: ‘TRIBUTACAO ATUAL DA RENDA < _ hitp:/www:planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1598. htm>. Acesso em: 14 abr. 2015. BRASIL. IN SRF n° 107, de 14 de julho de 1988. Disponivel em: < http:/swww:normaslegais.com.br/legislacao/tributario/ insrf1071988.htm>. Acesso em: 14 abr. 2015. ° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui Disponivel em: < http:/www.planalto.govbr/cci- vil_03/leis/2002/110406.htm>. Acesso em: 14 abr. 2015. COMISSAO DE VALORES MOBILIARIOS. Deliberacio CVM n° 561, de 17 de dezembro de 2008. Disponfvel em: < http://www.evm.gov.br/export/sites/evm/legislacao/anexos/ deli/0500/deli561consolid.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2015. GOMES, Orlando. Contratos. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavaleanti. Tratado de direito privado. T. XXXIX. Atualizagao de Claudia Lima Marques. Sao Paulo: Saraiva, 2012.

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