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tricomoniase @ uma infec a0 causada pelo proto- z08rio Trichomonas vagina- lis no trato génito-urinario dda mulher edo homem. € 0 tipo mais freqUente de vulvovaginite na mulher adulta Coube a Alfred Donné, na Franca, ‘em 1836, a descoberta do agente etiologico. Mais de 100 espécies do género ‘Trichomonas ja foram descritas, on- tudo trés delas foram isoladas no ho- mem: 0 T.tenax, na cavidade oral, 0 T-hominis, no tubo digestivo, ¢ oT va- Ginalis, no trato gBnito-urinario. Nao 6 relatado-patogenicidade pelas duas primeiras espécies © agente etiolégico O Trichomonas vaginalis 6 um pro- toz04rio cosmopoiita, anaer bio, pro- vido de grande mobiiidade, devido a seus quatro flagelos e uma membra~ na ondulante anterosateral, Tem uma estrutura que percorre todo seu cor- po, sendo proeminente na parte pos- terior — 0 axostilo. Sua forma é ova- Jada, medindo em média 15um, sen- do pouco maior do que um leucécito. Oniicleo, também oval, esta localiza- do proximo aos flagelos, No possul mitocéndrias, alimentando-se por fa- gocitose e osmose. Sua multiplica- 0 € por divisdo binaria, crescendo Interna Soo 66 DST Dept? brobiogiae Parastologa da Universidade Fedora! Fluminonee ProessarAssstnte@ Cete de DST (MiP) veretade Fedora Fumnense ©1880 — ECM Eton Cini Naina Lid Tricomoniase eae Cristiane Guimaraes Fonseca’ ‘Mauro Romero Leal Passos? bem em meio timido, pH de 4,9 7,5 A temperatura de 35 a 37°C. OT vaginalis @ morto facilmente pela dessecacao e exposigao prolon- gada a luz soiar. Contudo, em mate- Fial colhido da vagina misturado com ‘soro fisiolégico, é capaz de manter-se ativo, entre lamina e laminula, por ‘tempo superior a cinco horas. Epidemiologia ‘Avia de transmissao principal é 0 contato sexual ‘O ser humano é vetor e hospedei- ro Unico e obrigatéria do T. vaginalis, funcionando a mulher como reserva- torio. Em casos de infec¢ao crénica, ‘ohomem também atua como reser: vat6rio. E possivel, em condigées espe- ciais, a transmissao por meio de ba- nheiros publicos, saunas, toalhas de banho, material para exame gineco- légico indevidamente esterilizado, contudo estes casos sao estatistica- mente despreziveis, ‘Sua frequéncia varia de trés a 18% em pacientes assintomaticos atendidas em clinica _ginecolégi- caitt, Atraves de nossas veritica- ‘goes, encontramos aproximadamen- te 14% de processo intlamatorio por trichomonas em colpocitologias de pacientes atendidas no Instituto Gine- coldgico da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Leitzke et al.#) detec- taram tricomoniase em 27% das mu- Iheres que procuraram o Posto de Prevengao do Cancer Ginecologico da Escola Paulista de Medicina, em 1979 oancas Sentient Tansmissiis abildezemtyo 180 vo. 2.2, 3,4 DST — J bras Doongae Sex Taner, 212.54) 5256, 1880. Nao 6 comum a cura espontanea de mulher infectada. No homem po- de ocorrer a descolonizagao espon- ‘nea do trato urinario baixo em trés semanas, desde que nao ocorta rein- feceao ou infestagao crénica\” ‘A tricomoniase € a infecgao que mais se associa a outras DST. A as- sociacao com gonorreia varia de tres a 40%, Ovcinnikav®) mostrou, atra- ves da microscopia eletronica, a en- docitobiose, que representa a sobre- vivencia de Neisseria gonorrhoeae no interior do T- vaginalis, mantendo as neisserias suas caracteristicas morfofuncionais. Neste particular, Stree et al"3/estudaram in vitro mis- turas de suspensées da N. gonorr- hoeae, Mycoplasma hominis &C. tra- chomatis, ap6s a ingestao desses mi- crorganismos pelos trichomonas. AS culturas estudadas indicam que 0 go- nacoco e 0 micoplasma sao ingeri- dos e que o numero de organismos vidveis intracelulares decai muitoe a maioria dos gonococos estao mortos dentro de seis horas e todos os mico- plasmas dentro de trés horas. Nao existem evidéncias, seja através de cultura ou de microscopiaeletrénica, que aC. trachomatis persistaem cul- turas mistas com T. vaginalis. Patogenia Christian et al.) sugeriram que & ‘a movimentagao enérgica e intensa dos trichomonas contra as células sua principal aoao citotoxica, Varios estudos tentam estabelecer acorrelagao entre displasia cervical @ tricomoniase. Naguib®?), em 46 ca- 0s de colpocitologias classe II|-IV, encontrou 13 (28,3%) de associacdo com tricomoniase. Meisels®), em 39 casos de displasia, correlacionou 11 (28,2%) com tricomoniase. No insti- tuto de Ginecologia da U.FRw.,em31 casos de displasia cervical foram achados seis (19,35%) associados & ‘ricomoniase. Por outra observacao, de 137 processos inflamatérios por trichomonas, seis (4,37%) apresen- tavam associagdo com displasia cer- vical E necessario que se fagam estu- dos com analise de todos os éngulos, principalmente para essas patologias, do colo, que na verdade estao asso- Cladas com miltiplas infecgdes e in- flamagoes crénicas, traumatismo lo- cal (partos e abortamentos) ¢ 0 fatar de predisposigao individual. Acha- ‘mos que na patologia do colo os fa- tores sao multipios. Entao, antes de qualquer terapéu- tica mais agressiva no colo uterino, 0 mais logico deve ser proceder um tra- tamento locale sistémico, avaliacdo do parceiro, para posterior reavalia- g80 do caso. Oacompanhamentoci- tolégico revela comumente regres- ‘so do quadro displasico, Quadro clinico ‘No homem — Na quase totalida- de dos casos & assintomatico, mas al- uns apresentam quadro clinico tip co de uma uretrite nao gonocécica acrescido de prurido nomeato uretral ‘ou sensacéo de fisgadas na uretra Complicagdes como prosiatite, v- siculite e epididimite podem ocorrer, tendo comoagravante maior a oligos: permia, determinante, por vezes, de esterilidade conjugal ‘Na mulher —Aauséncia de sinto- mas ocorre com frequéncia nas mu- theres infectadas de tricomonas. En- {retanto como estas séo.capazes de transmitira doenga e amaioria apre- sentarao manifesiagdes clinicas, de- ver ser tratadas, Na fase aguda, 6 caracteristico corrimento vaginal abundante amarelo-esverdeado ou cinzento, es pumeso, com odor acre associado a edema e hiperemia da mucosa vulvo- vaginal e cervical. Este eritema toma aspecto de framboesa e representa uma colpite multifocal. O prurido va- ginal é freqdente, A distiia e/oupola- Citiria podem coexistir, bem como a dispareunia. Na forma crénica, que representa ‘a maior parte dos casos, todos os si- raise sintomas anteriormente descri- tos diminuem de intensidade e so bem tolerados pela paciente. O exa- me clinico revela leve ou moderado eritema vulvovaginal, com pouca se- cregao branco-amarelada, que pode ter bolhas e odor acre. Oaspecto de mucosa em framboesa desaparece. Odescontortoa micgaoea dispareu- nia quase nao sao relatados. Fre- QUentemente, na exacerbagao do quadro periodicamente. Fig. 2— Colpite — Observar aspecta bolhoso do corrimento vaginal Fig. 1 — Vulvovaginite por T: vaginalis Embora seja relatado que 0 T. va- ginalis 86 se desenvolve em epitélio. vaginal de mulheres adultas cujo pH varia de 4,5 5, a tricomoniase uro- genital pode ocorrer em criangas.O contato com fomites ¢ a principal via de transmissao, quando ndo existe o contato sexual. A sintomatologiaé ba- sicamente igual 4 da mulher adulta, entretanto é maior © comprometi- mento da regiao vulvar. Diagnéstico E incompleto o diagnéstico da tri DST ~ Jomel Basil de Doncas SexusmenteTansmissivesarildzembro 1990 90.240 23,410 68 ‘comoniase urogenital baseado ape- as na anamnese e sinais objetivos do exame ginecolégico. (© metodo mais correto para firmar-se 0 diagnéstico é através do exame direto. A citologia corada e a cultura de secregao podem ser tam- bem usadas. ‘Oexame direto oua fresco consis- teemcolocar uma gota da secregao do tundo de saco vaginal posterior & ‘uma gota de solucao de cioreto de s6- dio.a0,9% entre laminae laminula e ‘observar ao microscépio. Com obje- tiva de 10X ou 40X, & possivel visuall- Zar 0 protozoario movendo-se ativa- mente entre células epitelias € leucs- citos. Oestregago cérvico-vaginal cora- do pelo método de Papanicolaou ou de Shorr revela citélise, leucdcitos & muco caracteristico de aspecto gra- nuloso, Alteragdes infiamatorias in- tensas sao observadas nas células, epiteliais, sobretudo apagamento de bordas ectoplasmaticas, halos peri- nucleares e pseudo-eosinofilia. Opa rasita, as vezes de dificil visualizacao, apresenta forma ovalada ou arredon- dada, corado em tons claros de ver- de ou cinza, Podem ser percebidos ainda nucleo excéntrico e diminutos {granulos avermelhados no citoplas- ma. ‘A coloiagao pelo Giemsa, quando empregada, revela o parasita corado em azul ‘A colposcopia, embora nao seja exame rotineiro para o diagnéstico da tricomoniase, agrupa dados bastan- te suspeitos. Observa-se conteido vaginal esverdeado, espesso @ bolho- so, Amucosa cervical e vaginal, ede- maciada e hiperemiada, apresenta pontilhado vermeho fino de colpite ci- fusa e focal. A aplicagao de acido acetico provoca vasoconstricga0 das algas capilares, diminuindo a nitidez do pontilnado. O teste de Schiller re- ‘ela iodopositividade, com pontilhado branco tipico. ‘A cultura em meios de Feinoerg- Whittington CPLM, Kopferberg, Trus- seloude Loewe da bom resultado. To davia, o seu emprego na pratica me dica, além de onerar eatrasar odiag- néstico, ndoapresenta resultados t80 melhores do que 0 exame direto que justifique sua feitura, exceto para fins de pesquisa ou quando sob forte sus- peita clinica, o exame a fresco © co- rado se revelam repetidamente nega- tivos. Fig. 3 — Aspecto de colpocit de forma oval Fig. 4 — Aspecto da colpocitologia corada observando-se alteragbes celulares com binucleagdes inclusive O controle de cura deve ser feito através do exame fresco e da citolo- gia corada, Tratamento O tratamento deve ser simultaneo para os parceiros sexuais, sendo sis- témico e local para amulher e apenas sistémico para o homem. © médico deve orientar para que seja felta abs- tinéncia sexual e para que nao sejain- gerida qualauer bebida alcodiica, pois o aparecimento de nauseas, vo- {54 OST — Jornal Bras de Doonas Senusmente Taramissiis abridenomixo 1990 ol 282.3, 4 mitos, célicas intestinais, tonteiras e rubor cutdneo é frequent. - Segundo afirmacao de Hurley'"®, a associagao de candidiase e trico- ‘moniase é infrequiente, ocorrendo na pratica em 0,3% das pacientes, 0 Que nos leva a repudiar 0 uso de as- sociagao medicamentosa e preferir drogas especitficas para o tratamen- to da tricomoniase. Medicacéo sistémica * Metronidazol — 250mg (1 compr'- mido) VO. a cada 12 horas por 10 dias. * Nimorazol — 1g (2 comprimidos de 500mg) VO. a cada 12horas. To- tal de seis comprimdos * Ornidazol — 1,59 (3 comprimidos de 500mg) VO. Dose inica. © Tinidazol— 29 (4 comprimidos de 500mg) VO. Dose tinica. Medicacéo local * Metil-Partricina — 1 6vulo ou 1 aplicador cheio de creme (25.000 ULL) na vagina ao deitar, durante 15 dias, * Metronidazol — 1 dvulo ou 1 apli- cador cheio de creme na vagina 20

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