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O DISCURSO SOCIAL E AS RETORICAS DA INCOMPREENSAO betty tol ttc (Oe t deseo mteene NN ANGEROE — —] Cor ys Mate Ane capa Rate! Chim Projet rice a Massa Gnraes Lopes so erevind de texto Prepare Marcelo Dias aes Pees Daniela Siva Guanais Costa tora tronic GGaherme Jose Garbuio Martner Ficha ctalogrtcaelaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitiria da UFSCar Angerat, Ware sae "0 viscurso sociale as retoricas da incempreensio + consensos e conflitos na arte de (no) persuadir / Mare ager + organtzacio: Carlos Piovezant =~ So CarTos + eauFScar, 2015, 25. ih ~ $78-85-7600-409-7 1, Andlise do discurso. 2. Retorica, 3, Linguistica ~ historia, 1. Title. cop ~ 401.41 (204 cau = a0(042) "dso dieu reservados. Nenhuma parte esta obra pee epost Pe quale fra low quanger cis (ltdnicos ou ec, ind 4 € [yavain) ov arquivada cm quar sistema de basco de das sem pers eta ‘Wl do de ator SUMARIO Apresentagio 9 O DISCURSO SOCIAL: CONSENSOS E- RESISTENCIAS 25 Hegemonia, dissidéncia e contradiscurso: centro e periferias do discurso social 27 ‘A eoria do discurso social: espirito do tempo e recorte sincrénico dahistéria 47 ARETORICA DOS DESENTENDIMENTOS 73 A retérica da argumentagio como ciéncia des apro} Annogio de arsenal argumentative 91 Didlogos de surdos: sinopse de uma retérica antilégica 127 A WISTORIA RETORICA DAS IDEIAS E DA ARGUMENTAGAO 147 Argumentagio e intimidagao: a arte de persuadir ou de ter sempre raxio 149 O século das crengas politics: as religiSes mundanas no séeulo XX 177 Referencias 203 A RETORICA DA ARGUMENTAGAO COMO CIENCIA DAS APROXIMAGOES™ De constatacio geral e global, ainda que nao se perceba todo seu alcance, ao mesmo tempo metodol6gico ede alguma maneira existencia, a ret6rica, de Aristteles até nossos dias, enquanto ciéncia do discurso argumentado, preocupa-se essencialmente com as apraximagées. com 0 aproximativo, com o infralégico (0 que os angl6fonos denominam Jn- {formal Logic, que no é nem um pouco Iégico), com o incoerente € 0 heterogéneo maquiados por efeitos de linguagem ¢ reanimados por um pathos. retérica estuda, em matéria de deducio, silogismos “proviveis’, ou scja, fundados sobre uma premissa maior duvidosa, no universal, sobre um topos, quer dizer, um “lugar” recebido pela doxa, pela opiniio comum em uma determinada sociedade em uma dada época. e aplicado sob a forma de entimema & esquematizagio arbitrdria de uma situagio complexa; ela estuda, em seguida, indugbes generalizantes, que sio scm- pte abusivas, inferéncias deduzidas a partir de indices necessariamente ambiguos, analogias frigeis e homologias forgadas, alrernativas bindtias em que, sempre, um terceiro excluido se destaca e se encontra recalcado. ‘assim, por tais improvisos aproximativos, sempre precisamente discutiveis, que os humanos expéem suas “boas raz6es” em circunstincias ‘ordindrias da vida e procuram se persuadit reciprocamente dando sentido 4s coisa Todas as normas pretendidas que edicam os tratados de retsrica Para separar os esquemas accitiveis dos paralogismos ¢ los sofismas fo- Fam sempre submetidas & discussio, vilidas para uns ¢ io para outros ~ 0 que nao impede aos humanos de discutir sean que jamais estejam Teo cial pba em fan na vi LP Andere Re de ings Pranic (eo ea ned a po pr, Pa, 08, Ta del es Vie Sarge % de acordo, Nenhum argumento dialético, 1 n Perelman certa ver classificou como “qua completam 1 Me login aqueles que Ch ficou co © rigoroso nem necessirio em stas conclisoes. Nés, 08 human ontenamos,dscind ¢ debatendl, em articular do prowiyl wivel no porque amamos fcar na vida, mas porque pentane, taicinios inprfitose a vid persitente mas ou menor ep valem mais que a completa escuridéo, Partindo do verowimil-p Uiscutindo sobre o que é mas que podetiando ser, ou sobre o que se, mas que nao seri necessariamente, mal apoiados sobre a s tivas premissas maiores proviveis porque a “espcialistas”, os humanos,tais como sio ‘ue mit Poder “ ini tas “por todos” ou pelos istos pela ret6tica, aplicam cesses dados esquemas inferenciais que, como dizia a anotagio irnica 4, professores dos colégios de antigamente, nao sio “nem mesmo falsos” Eles séo ocasionalmente adequados, quando eles nio estio sendo conce bidos como enganosos. (Os retoresrepetem ha 25 séculos:afriaracionalidade nao ésucenre para persuadir; 0 emotivo, 0 impreciso, 0 vago, o ambiguo, o especulatvo 0 metaférico persuadem frequentemente melhor que boas razbes poi das sobre fatos ¢ sobre a estatistica. O que é entdo exatamente a “ligic’ de uma convicsio ou de um raciocinio? Com todo rigor, admirer os légicos, nio se sabe bem. “Nao ¢ bem claro 0 que significa ser légico pan tum sistema de crengas”,® conclui um légico.% Talvez seja racional fer sua parte & imagem irracional no proceso cognitivo, admite um out: “E concebivel, em suma, que um sistema balanceado de entendiment racional dependa de uma escolha feliz de certos mitos-metifors™ ( Iaiotia dos logicos € ainda menos laxistal). Dessa constatacéo resultam ao menos duas consequéncias, dois es dde mérodo, talver intransponiveise fatais, que comprometem a ret» 0 s¢ja, 0 saber que deveria partir da anzlise (sem a priori nem de forms Ainica) dos raciocinios colocados em dliscurso destinados a persuadi vida social. _ A primeria consequéncia € que, desde Aristoteles, 0 estusiose "etbrica esforgase, ao mesmo tempo de forma inevitivel, til ate jut no ear wha ean bel pte be ail” 95. Caden ps. mh eee, su, shay nai ae mean 4 ue bance ral undrtanding depen soem vi iva entre 0 acitivl or inacitvel ~ a dedusio entimemstica © a indugio generations te Jum lado, 0s sofismas ¢ 0 paralogismos de outro ~ sem que os suas tee tenham jamais ouvido a respeito dos crtétios de acetabildade ede ‘rclusio. A validade argumentativa é uma idein reguladora, es € wnng cxigencia que cada uum tem no espitito ao entrar em discussio, ela eth lgada Aida, pouco discutivel, de que o recurso a esquemas vilidos ape nas pode aproximar da verdade ~ contudo, a essa exigéncia, evidente imprecisa, néo corresponde uma lista imutivel em duas colunas de for. tnasinferenciais vidas ¢ invilidas. Alguns argumentos que os tebricos julgam especiais esto onipresentes “na vida” e parecem incontorndveis; sera, antes, necessirio perguntar 0 porque cles “funcionam’. Percorramos a lista multiforme de sofismas clisscos. Essa lista é ‘como aquela das figuras e dos tropos: quanto mais elas existem com no- mes assustadores, mais os autores de manuais de outrora parecem con- tentes. A incoeréncia de critérios atinge néo menos que o fato de que 2 definigio e a desqualificagio passam apenas gracas a exemplos bem ncontrados, frequentemente caricaturados e frequentemente velhos como a prépria retérica, destinados a fazer admitir que nio se deve deci- didamente raciocinar dessa forma. Os erros légicos indiscutiveis (a néo conversbilidade da inferéncia: quando um carto nio tem mais combus- tivel ele tem um problema; ora, meu carro esté com um problema, entio dle esi sem combustivel) e os jogos de palavras perpassam abordagens simplesmente mais “frégeis” que outras que estamos prontos a aceitar, ou {ue ndo sio muito famosas ~ ou, as vezes, que sio pertinentes e especiais ém outrascircunstancias. Por outro lado, os argumentos tomados como vilidos, justamente porque eles nao estio vinculados ao sentido ligico, © sdo apenas porque conduzem, as vezes, a boas conclusées; mas podemos onsideré-los insuficientes se aumeentarmos o grau de exigénci. Aristoteles comeca seus Péri tin soppbistikin ‘elenklin, suas Refi ‘apie: sofisticas, com os sofismas para tén lexin, homonimias falaciosss, abuso de polissemia, mudanga de extensio ¢ de compreensio logicas, ‘dslizamentos sub-repticios", como diria Bergson. Avancemos, 020 ha f7ande problema em descartar tudo isso ~ mas “CRS = SS", sofisma pot "wocadilho tio tomado literal ¢ demonstrativamente, & urn ataho expres V0 € uma hipérbole (antes tola), nada mais. Em seguida, encontramos as supostas grandes transgress0es algal 4a abordagem argumentativa. Tomemos 0 Secundum quid: demons 1% apenas den certo ponto de vista parm iva enti, O Spas Sofia Seay wo, "as mulheres so tage generaizacio ab" tos aspectos,& : rods gener quid vem engl Palio Emam CSPAgUELE™, mas Objetaren,” franceses si frvolos doe, para usar sem grande prec wis po esercouipados: para i AGO Ye a posse! produit acioctnios prétens | ania Ad consequentiam: “Essa teoria € sexista ef; tains para prosperidade de uma ido apace 408 espititos milan efutagio decisiva de al teoria. fs como uma pes manus, com efeito, toda uma stie de sofia, cn “ghc ad rrandiam (voce deveria tet vergonha de ustenar um, sta como ess apenas um fascita ct.) ad mitericordiam (pela, Sentimentos), ad fgnorantiam ("prove que estou etrado!”), ad populim {ape 20 piblico, o povo, as suas palxdes, 20s seus preconceitos~ dz crenga na feigaria & crenga nas pesquisas), ¢ consensu omnium (ado a undo pens, eno voc! deve admit), ad odium (“julgament de intensio", imputagéo de més inteng6es dissimuladas sob a tese do ad- versirio), ad metum (especular sobte as possiveis consequéncias runs do ato impugnado, assustar). E, como podemos ver, uma bagunca de raciociios ou, antes, de curtos-ctcuitos argumentatvos, de padois ‘mos por nio pertnéncia direta e consequéncias forgadas (que voc nv tena solugo alternativa,ndo te obriga a aceitat aquela que é suger que mains pessoas atteditam numa colsa nto prova que ela € verdes fem mesmo argumenta verdaderamente muito a probabilidade de qe la o seja), argumentos que so fracos, mas relativamente aceitives de acordo com 0 contexto,... Nenhum deles & constantemente tui, ms todos si sustenrados por um pathos que sela sua fraqueaa ints Em todo caso, estamos em uma drea nebulosa. “Vamos dar esse pt? para Julie, ela tem tés flhos que ela cuida sozinha’: sofisma ad miso” dam se estou em um conte ser levada em conta; oem que somentea fia competi Por outro lado, argumento valido ainda qus ° se facaapelo aos sentimentos, i também a justiga. du aaunetio tion probata: A. & “explicado” por B, que nio € ©, ou tinds mais obscuro, Sim, voc# encontrou, como 1 exquema de raci s ee freudiana expl pape iemte” nao m ‘cin falacioso em sua prépria ace. hon gt Portamento bizarro por una insta ‘os indemonstrivel, a sociologia bourdiewsiana no comportamento por uny “habitus’ smemamos a sofistica? VE-Se que voce hesita NO sotisma ad ignonantian? Obviamente,o tent, que non nterpel om um "e voce, como sabe quc Deus no existe, isa encroy seen seme contitio”ébobo e chocante ndosobra menos que vanpumenn prove nega undado sem divida sobre um, rgumento ‘igorosa com sua inferéncia pelo néo conheci temos realm lente avangado 1 légica informal pouco imento € nio acontec- seo, é de boa aplicacio priticafrequente: Se ele estvesechegande da caagdo como voc? airma, 0 cachotto comecata a lati; ora, ele nao lee ent cle ainda nio chegou...”. Toda a epstemologa de Karl R Popper repousa sobre 2 accitagio de uma cerca validade ad ignorantam: ves teoria nao € provada porque uma objecao foi vitoriosamente refutada. ns uma resistencia continua a toda tentativa de “flsiicago” prova io a verdade do resto, mas © que chamamos de “slides” de uma teoria. Em sintese, nenhum ou quase nenhum dos supostos sofsmas secu larmente identificados séo esquemas absolutamente loucos ou estipidos, ‘mesmo se muitos nio séo famosos. A avalico depende das circunstincias do contexto. Um mesmo esquema é “ilégico” em um caso da espé- cic, aceitével em um outro. Muitos supostos sofismas sio, na verdade, atalhos de pensamento bastante legitimos. “Ataque” ad personam contra Heidegger: © que pode valer a filosofia de um hitlerista? Bem, haverd apenas os devotos do heideggerianismo para decrerar com indignacio ‘que essa objeciio-suspeita nio possui a menor consisténcia e para afasté-la de modo répido e definitivo. Caso contratio, inversamente, muitos esquemas identificados ¢ scolhidos nos Tépicos de Aristételes séo vilidos apenas em alguns ca- sos. "Se uma coisa é boa, mais dessa coisa é ainda melhor”, lugar quase ligico tomado como vilido que engendra invisivelmente o sofisma “se chocolate é bom, comer muito chocolate é recomendvel”t Justamente Porgue a retérica se funda sobre um repert6rio de esquemas t6picos, todos ruins 20 olhar da légica formal, todos imperfeitamente adequa os 20 mundo empirico, as fronteiras da sofistia estdo longe de serem ‘tangues. Algumas maneiras de raciocinar, por exemplo, a mancira Primeiros socialistas ~ “Para saber se um sistema social € defei- "woso, expée com facilidade o fourierista”” Gabriel Gabet,€ previo a Fourier, que apreseota ua doutis {LN TFs um av ri oi” de Chak Fos er then . osx lic spun los hens eo 9 2 ” 0 allo com ideal de uma sociedad perfeita, ny iggy slo em pat ; ela compara, 08 deetos das organizagies gan tode concer code rem ike» pce Frement 7059 enum da aonretyra alguns expiitos, Mais absurdas, “aberranes” oh bale rae emai dorosas (pois hé sempre um componen, rico na rejeigio de um raciocinio) para outros. ‘0 segundo erro de método se dé no fato de que a retéica, “prim, Jnr”, da Antiguidade aos tempos moderos, da filosofia e da logica, nr : opie as olhos dos sibio, desde Plato, de procurar apenas confi Srespstse os influencia pelasrazdes enganosas, de incutir ou conf spar ac crengas duvidosas e néo a pesquisar 0 verdadeiro eo certo acabou por“incorporar um grande complexo”, ela acabou por assumir com uma Certa vergonha essa inferioridade de estatuto ¢ dissimula em parte ese lado “faz tudo” da persuasio, descartando ao menos de seu estudopro- cesosidentifcados em abundéncia na troca de “razées” na vida soci, ‘mas tio obviamente estranhos a todo rigor ldgico que o retérico prefere simplesmente ndo levar em consideracSo ¢ se limita principalmente is -duas abordagens, as menos incertas, a dedugio ¢ a inducéo. Hoje ainda, com efeito, a retérica é &s vezes definida por sua propria infetioridade, por agulo que a ela falta a0 chat da lgica: cla se debra, diz o flésofo Jean-Brise Grize, sobre todo tipo de raciocinio discunsvo “ndo reunindo as propriedades mais caractristicas daquilo que é norm ‘mente chamado de demonstragio”.” Os filésofas racionalistas ¢ idealisas sempre desprezaram ¢ descartaram esse estudo vulgar e inferior. Pros ‘ando as formas puras ¢ exigentes do raciacinio, eles fecharam 0s olbes frente a essa razéo impura. Ao olhar da argumentagio légica rigom ra desagradar: ela € constantemente aproximativa, confusa, corm 4c pualogismos ou de raciocinios duvidosos, entrecortada ce movie A Passionais,cmaranhada de clichés, fizendo funco sobre presse Obscurecida por jogos de linguagem. Todos aqueles que ~ nie comprcendido nem Nietasche nem Russel — pensam que € prs? © Tene 0 véu das paavras para descobrie a verdade das coisis¢ ss 2 “ene dos so ee Hstamse da tetérica, Todos aqueles que Jean Paulhan ew Few Saar na nent oan ualificava de “mislogos” e de “tctrorists’ desconfiam da linguagem, de Shas aprximases S048 CONAINGES suas malcias. A ontario faa comtemporaneos, iso nio falta, que se interessam pela retrica, ree tom desconfiansa ¢ hostilidade Aquilo que concerme a pureas human procurada pela logica formal: hoje, a retérica, com Michel Meyer, Ruth “Amos, Georges Vignauxe muitos outros no mundo fancéfong esti cn vias de retomar um lugar eminente nas “ciéncias humanas” justamenve porque ela se interessa pelo plausivel, ndo pela certitude, pelo conjectural, io pela prova formal, pelo verossimel, néo pela Verdade metafuica, (Os tipos de argumentagéo sobre os quais a retrica geralmenve co- loca o impasse no séo entimemas (topos ~ aplicacéo — conclusios ¢¢ uma coisa ¢ absolutamente boa, mais dessa coisa é ainda melhor; ora, a liberdade de expressio é boa em si; entéo, uma liberdade de expressio sem nenhuma restricao nem limite ¢ excelente) nem esquemas doxos inferen. tes (toda mae ama seus filhos; ora, minha cliente é a mie do denunciant dda nio pode entdo querer lhe fazer mal). Esses tipos de raciocinios néo centimeméticos, dos quais ditemos algumas palavras — necessariamente sintticas nos limites deste capitulo, mais sugestivas que desenvolvidas =, tém no discurso © na vida pablica um lugar e um papel enormes. No entanto, eles sao fortemente deixados sob 0 siléncio pelos retsricos dlissicos e modernos que admitem bem o caso de indugéo, uma vez que Aristcles trarou especialmente dela, mas ignoram a abdugio, 0 contra- farual de cuja Revérica nada dizia,sio ainda superfcias ¢sintéricns sobre © raciocinio em muitas ramificagées, tendem a separar como um todo ou em grande parte o raciocinio por analogia ou a epitrope. Poderiamos retomar nossa demonstragio da “insustentavel fragili- dade" dos meios de persuasio naquilo que se refere 3 indugao. Segundo 4 tradigao aristotélica, a deducéo é 0 mais “nobre” dos raciocinios. A inducao, epagégica, dizem os Tépicos, “é mais clara ¢ mais acessivel a0 ‘vulgar, (mas] menos restritiva que o silogismo”." A indugio amplificada € aquela, somente ela, que serve para as circunstincias ordindrias da vida, que dé provas para alguns membros de uma classe (es vezes part Penas um dentte eles); ela “parte” de um ou muitos fatos particulates ela generaliza, ou seja, ela formula uma norma conclusiva que excede S’mpre largamente as premissas, A conclusio, dizem os manuals, € ver ira “na maioria das vezes”. Resulta dessa definigio, radicionalmente — © Ate 76 pa at mais € werdadeina pata 0 Wiico, fa ido ae te Behe, yea indugio re para lig aa sve nao produrir um “s6tido”, um “Saude perada pode ov Y 9 sla pode ou nao ser im opel ‘um aproximatiVos we : pod a abusiva, falacign ne ordem do provavel ou da ordem do sof, 1 aque ela pode ser da ordem do p ‘ofisma, Que vy brigacio clare precise mpée a quem indus e ge ren asiderat a dispesigao do auditério em genes 2 eentido que el. A indugéo pensa “por omissio” wa mm excegio dos kiwis, dos avestruzes et Neral alizat no, Hpicamente,o, os voam (co! Cs 08 itali arms ‘cn excegio dos alrgicos a ghiten) eas mulheres adorns “hocolate (com excegéo das feministas). Diremos algumas palaras ~ em vista de identificd-as simples ere sumidamente ~ sobre os seguintss tipos, tirados de tratados de rece, (ou abordados com constrangimento em alguns parigrafos sinttics, mas tipos de raciocinio sobre os quais diversos filésofos, cognitivisay psicdlogos, socidlogos contemporineos deram atencéo ¢ cuja anilise do discurso mostra, por outro lado, a abundancia e a frequéncia bem como 2 importancia “histérica’: 0 raciocinio apagégico, a abdugio ou inf réncia i melhor explicacéo, diversas formas do raciocinio probabilisco, previsional ¢ conjectural, os raciocinios contrafatuais ¢ 0s “I6gicos" dos smundos possiveis, por fim, os raciocinios por analogia. 1.0 raciocinio apagégico ou ab absurdo. Ou A ow A; ora, A é absuto. intolerivel ete., entéo A. A rejeiggo de uma tese ou de um principio conduz a um absurdo, conduz. a consequéncias contraditérias ou a uma consequéncia necessariamente filsa ou (e & o caso que me interes ida social) a uma consequéncia insuportavel. Constatamos, com efeito, que um raciocinio apagégico ¢ © po? de partida de todos os socialistas utépicos (e de outros socialistas € P™ frssstas posteriormente, mas de maneira mais tortuosa, men0s © Go) Todo reformador deve se perguntar, antes de dsserat sob on ‘melhor © mais justaorganizagéo socal, se 0 justo aqui nio é neces" : i se acha? dn. imbecile se “o cana, hipdcrita ¢ astuto [nol ¢ 8 ‘Unico a raciocinar ‘com azo”? i imeiros es da vide em aqui um desses primei a ida em sociedade: ora a “conscincia” pode apenas faci i td 0 que vem dra do absurd moral onsen 8 © “fundado na razao”. “Ou 0 Ego comega € ceri we anes-€ esse €480, 0 interesse de cada um é exclusivamente relativo re eliidade nessa vida". Eis aqui, cam efeito, um indicador fa fe parece precisamente fundamentado, Ou 0 que mais? “Qual &0 de- dado a t230 daquele que € apenas chamado a vver ui tempo veg menos Fogo? De pasar ese tempo da mancita mais agradivel veel.) satsfizendo-se de tudo e sempre" Sempre rigorosamente IMFoxinado, mas cada vez mals desagradavel e insuportvel para o que “enomninamos a “consciéncia"! © homem honesto, de acordo com to- seas aparénias, € realmente um too, ele é “um ingénu eolo que cai ‘ium sofisma’.“* Nao é sensato lutar pelo improvavel surgimento de uma Maodade just. A impunidade do mau e do explorador é a regra aqui, res que a excegio. O sofrimento vio do inocente néo esti menos na trdem eterna das coisas. A promessa de uma préxima sociedade em que 1 lidade de uns nao seri a inflicidade dos outros & simplesmente uma quimera destinada a apariguar o ressentimento dos humilhados (0 reinado da fora, sob trapos democriticos ou nao, se perpetuari deinidamente, Face a essa légicas intoleriveis, ese queremos dat sat, podemos apenas raciocinar ab absurdo e construir uma alternativa do todo rollendo ponent —latim de escola para um procedimento-chave: aio sendo absurda uma das ramificagses da alremativa, mas ao contré- so infelizmente,racional, muito racional,e dolorosa oespitito se sente “forcado” a escolher a outra e a decretar a primeira excluida. 2.0 raciocinio por abdupdo, inicialmente apresentado por Chats S. Peice, aparece como fundamental para a pesquisa cientifica, para a des- coberta cientifica a despeito ou em fungao de seu carter conjectural. O que devo fazer face a um conjunto de fendmenos diversos, inexplicados concomitantes? A tinica resposta é: invensar uma tese que, se ela fosse verdadeira, daria razo “igualmente” a todos ¢ a cada um dos fendmenos rados. Os sdbios tém uma formula para transformar uma abdu- ‘oem uma hipérese ase testada: “tudo se passa como se..", Aabdusio ¢entio uma inferéncia que conduz 4 melhor explicagso possvel, ou sea, ‘melhor explicagéo imagindvel, Raciocinando a partir de dados incom- Precnsiveis em diregio a uma (hipé)tese que os explicaria, a abdlucio & = a are p % C9 3 sata cientco quae id oidiang, guy saoesentil ee ea asl asa re uma proposito derive de formas ny si ge adore, portant de algo cat, ig i plc ita “psurdo. A abducio néo & a prova cir sa evi, is en fos inTEOS QUE a conemp a amps com c)- Eo conto: endo day a ae ea fose verdad, podria acomod" bisa Mga"? A abdugio & a hipétese que, se ela Fosse vera dle “ar alia mas satisfatria ds Ftosinexpi roe camera ris Impress de verossinithang arian exustvidade dos fatos, de conc, enim. Scie vatashipoesesdisponiveis ou concebiveis, tomna-se precio dear Ielsaquels mais “cabelas” ( infelzmente entre as que senna de van a boa), Com efeto, para arbitrar entre abdugées posi, spino fk uso de um dispostivo de filtragem tépici: ela wi as tplicagées que colam melhor ao verossimil social ou loc. Serie jusamente 0 momento de fazer a mudanga, mas o custo psclig todo questonamento ampliado para o bem de uma abduso faz ‘cane mesmo de alge ci (endo lose, 3.0 raciocinio probabilistico, previsional ou conjectural. “Provird” em dois sentidos: um que € 0 mais corrente em retrica €aquele nf dda tépica e da doxa com seu grau de crenca vatidvel e indeciso. “Provie apresenta um outro sentido, contiguo, mas distinto, aquele de inks ias sobre possibilidades previsionais, Sobre a cotagao da Bol, sh 4 meteorologia, sobre os esportes, sobre a politica ¢ os acontecimes ‘mundiais, fzemos a todo momento, nesses casos, raciocinios “PO” "eis esse segundo sentido. A estatstica 6 entao a ciéncia quese ‘em controlar, em matematizar e em balizar o provavel nesse se" s ‘eorias da Decision making também vio procurar normalizat 8" men io Pa Previsionais. O raciocinio previsional, que reas dua abdugéo mais ou menos especulativs & A cots um rcioenio de egulardade: um vt Bo spain On ftequentemente,€ provével ques "2 PA que foi serd & aqui, se preferirmos, um topes foe ue Be 6 Sik ln tu el ima gue de dds. png to tho ge agp ere daca ah 4 poral. Ou. da, diremos 6 sens como pasado recente, Onto esquema frequen, aa Meo: ema cendénca € cescente até aqui, podeiosexeapolarana nae conerari UMA COA NUNCA Foi vst, la promeelmrs an produtité. Tudo iso pode funciona... salvo quando ing nna Finciona, quando 0 acontecimento inesperado desmente a conjecrar, & fee dt Regularidade da natureza ou da Uniformidade natural procure “im axioma metafisico para essas espécies de raciocinios. Se exsem lee ‘onsantes, com efeito, elas se aplicam tanto ao Futuro como ac passe ao presente. No curso ordinério da vida, eu quase nao encontro leis constantes, Ou quase ndo encontro o emprego nem desejo de formuli- Jas, mas acredito adivinhar, entretanto, sequéncias mais ou menos fxas, tendéncias notiveis, possibilidades fortes, probabilidades, cr assim bases aaniveis para as conjecturas.“ O senso comum sugere, no entanto, que seri frequentemente bom, para nao ser pego despreparado, prevertam- bhém o imprevisto. A contrario, o principio de precaugao é uma aplicacio ao futuro das desagradéveis “ligées do passado”, concluindo para nao reper o que conduz ds guerras e aos massacres, 20s édios do século XX, também 3s catdstrofes ecolégicas, raciocinando que as mesmas causas in suceterdo ou poderio ter os mesmos efeitos. (Isso valeria para as mudan- c2sdlimaticas bem como para os projetos revolucionétios.) 4 0s raciocinios contrafatuais. Os raciocinios que cabalhim sobre ‘mundos possves ou raciocinam sobre o mundo empiric a partir de mun- dos aleemativos, a partir de imaginagdes contrdrias & empiria, comegaram 4 atormentar os légicos e os cognitivistas por volta dos anos 1970 (Lewis Caroll é um precursor dessa reflexio).” Anteriormente, tudo « passa como se 0s fil6sofos e os retores 20 longo dos séculos jamais tivesem per- ‘bido essas maneiras de argumentar tio frequentes € to pouco sceitives, ‘do mal empregiveis na légica aristotélica, Entre os ret6ricos clissico, ape- ‘as Balthasar Gibert, no século XVIII, os notou brevemente ¢ to pares ‘visto que havia um grande problema com a passagem de Cero, dus ‘cia admiravelmente, e 0 raciocinio por ficgéo que ela comport: nn ite 79, Lei 20). O delineate data os xpi a sae 8 eaten cer? oxstem argumentos qe S40 apenas funda Ine aguas ficgdes © que si0 de uma prande po myo ex: “Se eu fzesereviver Cadre reas feariam espantados, voces devem ear them contentes com sua morte” ti 0s contafituais sio “condicionais conteirios 20s fatos% 0 jocines que denominamos contrafatuais covariacionais © mesg oy nimfpanabaundos ou quiméricos ("se De Gaulle reaparecesi hoe {que ce dira..") diferem muito entre cles, ¢ a apreciagao de sua validade son propor. Mas todos fazem intervir uma ficgo conti an, TE (quo da imaginasio hipotética sobre o eal como na abdusio) Nis menos que 0 raciocinio abdutivo, 0 contrafatual, acabamos por an. tr desempenka tm papel eminente na descoberta cientifia. Gales, Newton, Einstein ou Niels Bohr tinham que fazer um monte de Denker. perimenten, expriéncias mentas, raciocinios sobre mundos posses « {obre situagées imagindrias para chegar as suas teorias. O universo que vai do distante Big Bang ao muito futuro Big Crunch é um “mundo pos sivel” dos cientificos que, até aqui, 0 estado do cosmos néo refura. contrafatual & constante na troca conversacional, nas midis, nos proprios livros académicos, mas quanto mais nds vamos em direcio 20s discursos controlados e instituidos, mais ele se torna suspeito, ¢, em todo, caso, se nfo é interditado de enunciar, e de enunciar conclusées ares dele, ndo se diz que podemos nos autorizar a “tirar dai” grande cols: Entretanto, nés nao podemos deixar de imaginar “cendtios” alternatives € nos pér a raciocinar sobre eles antes de voltarmos de nossas nue 4 tezolocar nossos pés no cho. As pessoas durante a conversa ordiniss ("se minha pobre mie ainda vivesse, ela seria centendtia...") "=" ‘odo 0 tempo ao contrafatual, e mesmo aos “cabeludos”, de que ees 8 i Lipo 4 contrario com uma acrobacia de raciocinio ee Hac entadores os erudtos uizamno com heii satendo ee ent a ndagem acrobdtica. Eu posso comprometer “fiat onrfaalene vobre os atentados dou de serene aera tastes tedurdo ap a Casa Brac” eS sem frustrado a tempo seu compld....”. Talo ber, mais ou menos o que voc’ diz, e depois? Se a fuga de Varennes tivesetido Jit? Se Napoledo tivesse ganhado em Waterloo? Se os naristastiveseer, mnhado a guerra? Se John F. Kennedy tivesse sobrevivido a0 atentade fe Dalas?” O que podemos tirar dessa premissa contrafatual da infe, réncia que segue que sca interessante e pertinent ao mundo real em que Napoleio vencera ¢ Hitler também? Todo raciocinio variacional sobre» lo parte de um estatuto ambiguo entre o significative, 0 “profundo” ‘co aberrante. Na verdade, nenhum historiador, mesmo 0 mais sério, nao pode evitar de esborar no seu caminho de pesquisa um “O que se teria pussao se...”, mas simplesmente, se ele & exatamente “séio", le nio perde muito tempo, ele volta a0s fatos; ele nio o desenvolve em toda sua ‘extensio ¢ néo vai até o fim do contrafatual... Uma vez que, justamente, io fim. 5. raciocinio por analogia nio tem apenas uma mé fama, ele atrapa- Iha roralmente, apesar de sua frequéncia (e ele atrapalha mesmo, 20 que parece, 0s pensadores da “Iégica natural”, uma vez que eles nio falam dele), tanto é que nao encontro um livro em francés que trate desse objeto desde 0 pequeno estudo de Maurice Dorolle, realizado hé mais de meio séeulo. O que vale uma argumentagio que repousa sobre uma metéfo- 1a? Bem pouco em estrita razo légica, mas frequentemente bastante em eapressvidade e em atalho — entao, em poder persuasivo. “O raciocinio Por analogia parece ter encontrado pouca aprovacio dos légicos”, escrevia ‘entio Maurice Dorolle, “ele aparece como um método acessério ou de segundo plano, nao suscetivel de descricéo ldgica rigorosa, que nao situa- ‘mos ou que situamos mal entre as formas tipicas de raciocinio”.” Nio é de forma alguma um raciocinio banal por semelhanca, 0 que denominamos ‘um raciocinio de aposta, £. ao contrério um raciocinio de transferéncia de «vidéncia por meio de uma distante homologia; trata-e de um raciocinio ue conduz de uma estruturagéo-fora” em diregéo a um tema. “O que di originalidade a analogia ¢ o que a distingue de uma identidade parcial — 2 pacer bai em Fn 99) 7 Deveisarp ‘ , 2 NT: Seong 6 ar compl uma pl, cond pra ert (rain) a “aT a pg i ep a sen 9 {Re eo dp. San oar por ene, pcm “tio (rine ‘Seca ucyornndace oul eco oa una ei) ‘Mon emer igtaq pti gl op xin gprs plug ro a) 7 co én de ge 20 Quand F vee Renan, pata explicar a fatalidade de sug amv nia, escreve “0 catoicismo € uma barra de Fett, Nig i con ya bra de ert", le efx iminosamente compre esa pera que exstia apenas a escolha ente "se curva? gy pr que & a teseimplicita do lacuntio raciocinio acima.* A etter, “saibeinin ou epitope é — como quase todas as imagens-arpumeny, oma remorivacao de caracteres lexiais (0 catolicismo & “rgd” “inflexivel’)¢ ela conduz a um adnato, uma impossiblidade figura, “discutir com uma barra de ferro”, Ela & paradoxalmente cara, embon scja semanticamente discordante ¢ logicamente incongruente. Ela in. tau jasamente uma omologia de relages entre umn ford (al ue segue conosco, quando nos batemos com uma barra de ferro) eum tema (entrar em conflito com a Igreja romana). Ela ndo é uma demonstacio “séria’, se excluimos do sério a homologia intuitiva entre duas ordens de coisas absolutamente incomensuriveis, mas ela convence. O raciocino analégico faz construir uma estrutura racional que ser4 percebida cone ‘somorfa de uma outra situada em um outro “dominio” e ele engend uma ia de evidéncia, Ele néo compara dois objetos (igi = barra), mas vai ritmicamente de uma relagéo a outra, Trata-se aqui de ur tipo de racocinio que, como a alternativa, a abducio, a contrafitualite de, como todos os tipos que precedes, € incumensundvel & dedugio 08* inducéo e que néo pode ser hierarquizado em graus de menor valida légica em relacéo a elas. ds de ser uma relagio de semethanea, cy ¢ Uma isc eee Hi uma conclusio a ser tirada disso tudo? Uma conclusio m0 us para todos os meios: trata-se para a retérica de se redefinit © abt Cénciaanaltca que observa o mundo empirco endo mais ma maneira, uma escolistica normativa, ‘Toda a exposici® 4 convida a 4 cuss "vida a concluir que hd mais coisa sobre a terra € 108 i 7 a pad a9 3) chy el ae de pti ee ria oun 96 Nernst alee vadkdnainenedeoinal =p tiv cw Marc Arex so si eorzadas pela retrica argumentativa de antes e ainda de hoje rw andemos eno ui alargamento decidido da abordagem e uma re py de ua ver por tos, 2s subtrigios normative, * rexdrica em nossa perspectiva € essa, ela pode ser apenas esa: no ma ciéncia propria, nem ensinamento dogmético, mas aanilise tebtica aia de uma ciénciainfndida em todos os homens, mesmo os mais ooantes cincafaz-tudo ¢aproximativa, mas eminentement "huma- £0 que detaca precisamente 0 velho Pierre Ramus: “Arisételes dita 0 primeiro dos Elenches que todos os homens, até mesmo os idiotas, 2 sem de alguma forma da Dialética,e praticamente sem instrugio fxm uso daquilo que a Dialétca ensina por suas regrase preceitos”* » 10GOS DE SURDOS de uma retérica antilégica’ pis sinepse Exe capitulo encontra-se dividido em trés partes: apresen siamenne a problemdtiea ger de nos watada de retrace aida, ebogaremos duas iustragées de nossas reflexées: uma trata da izgumentacio contrafatual e a outra de um tipo ideal de “gi umentativa, sobre 0 qual publicamos outrora um estudo particular: a logica do ressentimento. “Aarte de persuadir” e a razao dos fracassos Publicamos recentemente um tratado inticulado Didlogos de and cujo subticulo é Retérica antilgica, em homenagem a uma obra peidida do sofista Protégoras. Essa obra coloca-se sistematicamente no contrapé do que se diz e se escreve desde entio em matéra de discurso ‘#pumentado. Consideramos, na condigéo de espectador e de empitists, ‘mediante a simples observagio do intercimbio das “boas ranics’, das vig e das opinides, os debates e as disputas num estado se socie= de, que as categorias e 0 quadro geral seculares do que se designa como 2 etérica’séo absoluramente inadequados; que para analisar 0 discurse ‘ocial, convém, sob a maioria dos pontos, colocar-se no conteapes ¢ ANS © preciso também introduzir nodes ¢ procedimentos que es manuals ‘ora sistematicamente. ba ap ty ie se a (Ue aca fo nine un caters yc a atl Tag de ag uray a Hib Vae Sassi ivamente de v ae ca de uma ei do pouco pereebida € diante de uma definigig, chida, a0 passo que cla € evidentemente ine anto os de antigamente quanto 0s de hoje, def were Nldsica heatiicamtente a rtdrica como “a arte de persuadir ply lTccurso", Essa definigio somente é aceita porque nao nos detemos ela, Podemos opor-the algumas objegSes elementares: 0s humang, argumentam de modo constante, certamente ¢ em todas as citcunstin. cias, porém, eles, de maneita rec{proca, se persuadem muito pouco ou raramente, Do debate politico & discusséo doméstica, e desta a polémica filosofica, é,em todo 0 caso, a impressio constante que temos todos nés diariamente. Essa constatagio levanta uma questo que se coloca como tum obstéculo para esta cigncia secular da ret6rica: nao se pode construt ‘uma ciéncia partindo de uma eficécia ideal, a persuasio, sendo que el corre apenas excepcionalmente. Dept dest primeira objeto formulas, tra outs gio ou vvirias outras podem nos ocorrer: considerando 0 fato de que os huma- nos se persuadem tio raramente, por que eles nao desistem, mas persis tem em argumentar? Nao apenas isso. Os individuos e os grupos huma- nos geralmente fracassam na tentativa de modificar as convicgées dos ‘outros, mas nada aparentemente os desencoraja de continuar tentando. Fles sio capazes de sustentar assim controvérsias (filoséficas,religiosas, politica etc.) intermindveis sob a forma de fracassos persuasives infin- davelmente repetidos. E por que evidentemente acontecem esses fracassos repetitivos’ O ue nao funciona no raciocinio posto em discurso, na troca das “boas r= 2es"? O que pode nos ensinar uma pritica téo frequentemente conden 420 fracasso , porém, incansavelmente repetida? Quando os “sujeis falantes” sio engajados em uma situagao de comunicagao, esperam lca” ‘sar seu objetivo — que é 0 de comunicar e, em geral, admitimos que S° funciona. Mas, quando as pessoas mais especificamente se poet 3 a8 ‘Menta 0 que é uma subcategoria maior da comunicagio, 2 eeunsmiss {i ‘mensagern” jamais ocorre perfeitamente: os incerlocutores pete 8? que a parte adverséria nao somente nao chega as mesmas con® due eles © permanece estranhamente inacessivel as provas submetslt thas também notam que ela raciocina de modo atmavessado € 080 PS" ese livro parte efet dencia que parece ter sid é universalment que é univers fensivel. Os manuals, 12 sas fandamentais que Setiam as tinicas req cos ee ebate. 180 ocorte de modo que temo Mena grande questo ase espondida de que, qui const o o desacordo perdura, isso nay eer beta sfilha, quando desacordo perdura, isso nao diz tespeito unicamente ido dos argumentos, tampouco ds dferencas de peraiey arnt forma, 3 mance deconebé-oy, a0 mae eed spndOs “ rors ligicas, Sto as divergentes “mancira de concebé-loy” que seas seer amos em nosso tatado, come reorias da comunicagio pecaram efetivamente por otimismo no alo XX. Uma psicossocologia da miscommunication do maken Jerre tualmente no mundo anglofono ea perebe xf umm omen se aesigacio promissor. "Aretérica, antes, no sentido como se a concebe, como uma ciéncia elzada dos debates bem regulados eda persuasioracional, deve, par “nlesmente observa o mundo tal como ele se dé eentendé-lo, tran tc uma céncia dos desacordos persstentes © dos malentendidos que sexlum do intercimbio das “boas razdes". Por que frequentemente achamos os outros irracionais? Nossa anise da argumentagio na vida publica desemboca num quesionamento mais amplo sobre a racionalidade dos discuss que sio socados na sociedade; questionamento que se resumiria numa simples ‘qestio: Por gue frequentemente achamos os “outros” irracionais? “Nos nos julgamos reciprocamente do mesmo modo: uns ¢ outros atecerosloucos’.* Assim fala Sao Jeronimo, ao tratar das polémicas en- ‘te cistdos € pagios. Escolhemos essa proposicio como epigrafe de nosso ‘sudo. Séo Jeronimo, na verdade, tinha razdo ao menos sobre esse ponte: ° polemistas pagios, quando falavam dos cristios, refuravam-nos cert ‘nente em nome da Razdo, porém sem imaginar, nem por um instante, mh ser compreendidos por estas pessoas absuras, faniticas, ranco- ‘ss da vida € a quem os deuses haviam privado de rodo 0 bom senso. i Nowso livro esti, assim, sob a invocagio nio somente desse “a 2764 mas também sob a de Dom Quixote: Conhecemos a bela anil “4 Antonio Gémez-Moriana sobre o encontro entre Dom Quisore¢ a phe XLV. Pera emensiucm nobis ukemi (Ss Jno 98 be ye mencionamos anterionENte NO capitulo rp 16 Mercado 8 andlise que most ia Ho dirs socials trata de a lise quem 3 dc ere humans que se encontramt sobre 1m mesma yg on een romanesca no proprio nascimenta qq 2 pv ej chae tenia 52 ie nin on ine exe dos meteadores UE CFUZAFIN seu cami aaa a Dulinca del Toboso €2 mas bela dama do univer trercadores,interpelados por essa bravata, mas que pertenciam » yy, vrenratiade que chamariamos de moderna, mercantile pricy, yr tram ao nabrecavaeio que, se ee exibise um camafeu ou um reat travou dama, les poderiam farce seu julgamento com base em pro ocumentais.Posiio 4 qual o homem da Mancha replica, furiosamen dinendo que, se ele Ihes mostrasse um retrato de Dulcincia, eles evider temente nao teriam nenhum mérito ao admit 0 fato e que lhes convey reconhecer os charmes da dama com base simplesmente na crenga em sua fala, Uma légica da honra feudal do arcaico Dom Quixote opsese nesse diflogo de surdos, a uma logica “experimental” que é a seu aveso Esse episddio cémico é apresentado por Cervantes, na aurora da moder nidade, como um encontro de dois universos mentais néo contempor- neos, ungieichzitig teria dito Ernst Bloch, que petmaneceriam absuros « ilbgicos um para o outro. Todos os tipos ideoldgicos que a ciéncia politica se propde a dex ver ~ tais como a causalidade diabdlica do racismo e do antissemitismo (Ion Poliakov'®), 0 Paranoid Style 0 pensamento gnéstico do soc- lismo revolucionrio (Eric Voegelin, Wistenschaft, Politik und Gros”) 6s pensamentos nacionalstas e populistas carregados de resentment (Nietzsche, Scheler) ~ foram qualificados como “irracionais” por us © Por outros; “irracional” é, no fundo, um termo de condenagio dis '6gicas diferentes da “minha’, termo cujo contetido varia segundo 0 > sicionamento do enunciador. Por que, supondo que a razio humara seja tinica, os homens & frentam to frequentemente ocasides em que se defrontam com st ‘ogaitivos ¢ com “loucuras” argumentativas entre seus semelhante ‘que a linguagem, supostamente encarregada de reunir 0s homes ‘mente os encerra na opacidade frustrante da incompreensio recip 130 ipstese: FHPEUFAS ATRUMENtativas,discordancias de Jogicas No centro de nossa teflexao sobre as tracas d ge maniagios a8 vergéncas das tom, pias Hnermindvels tesurgentes * io argumentada, le "Tarses"©05 fracassox wadas de posicio, os debates « nna vida ppiblica, sobre as di fol » € 05 fracassos da persuasi, sie ss ips € ts ca, Sobre sentiment, no menos Hegen tence expres0 POT UNS € POF OULOS que Seu adverstio denatdnn cicanserevernos, com efeito, uma hipétese radical: aquela da existences, de rupeuras de Ligicas argumentativas, Sea incompreensio argumentativa concernisse banalmente o mal -enendido ~ cert dficuldade de ouvir e compreender~ seta sfciente dcobstruir a5 orelhas, set paciente e benevolente para prstar baste atengio, Mas talver em alguns casos, como aqueles que Jean-Francois Lyocrd classifcava como 08 “difrend” os humanos néo compreen- dem seus raciocinios reciprocos porque eles néo usam (ou talver néo sem completamente; nés teremos de estabelecer qual o quantum de divergincias pode ser suficiente para bloquear um debate) 0 mesmo cidigo reérico? Esta nogio de “cédigo” supée que, para persuadir, para fazr-se compreender de maneira argumentativa e para compreender seu inedocutor, € necessirio dispor, entre as competéncias mobilizadas, de ‘eps comuns do argumentivel, do cogaoscivel, do discutivel, do persua- sive, talvez um problema maior susja se estas regras nao forem regula- ‘4s por uma Razdo universal, transcendental ea-histrica; se estas regras 'o forem as mesmas em todos os lugares ¢ para todo mundo. © problema que estabelecemos no inicio pode daqui por diante manifesar nos seguintes termos: as linguagens pablicas, as argumen- Liles © os discursos que coexistem € se trocam em um estado de so- Gelade distinguem-se uns dos outros, evidentemente, pela divergéncia 4 pontos de vista, pela disparidade dos dados retidos ¢ alegados, pela ‘scompatibilidade eventual dos vocabulérios ¢ por aquela dos esqueras ‘ucionais que informam esses dados, pela disconincia tanto cis pre Ins como das conclusoes, pela oposigio dos intereses «is mee “Sueles que os produzem — todos elementos que ji si0 sium sceptives de por a prova a paciet ms vote 4 iades da communi 1 Iloquear a discussio ~, mas eles nig c de aos imterlocutores € d sad cries dierent incompasivi Os dna S€ divide vente, mais dnsperavelmente, por Kyi, 2p, roa Se me iedade remontam todos da mesma razdo, da mesma racion areumentativa? Por conseguinte, eles sio passveis dos mesos teanscendentais de validade racional? Nossa questio procura saber se & possivel distinguir da cto consitutva da erica da argumentagio ~ que consiste em consideny divergéncas de ideas susceptveis de serem arbitradas pela discussy submetdas 3 apreciaio de um terceiro elemento que se supe nia po tilhar dos intereses em confronto, sendo, contudo, capar de aalia. 4, pesar a nazis mais ou menos boas das tesessustentadas~ uma catepny de desacordos intransponiveis pelo fato de que as mesmas repras di gumentagio ¢ os pressupostos fundamentais quanto a0 que é“raciona! “evidence”, “demonstrivel”, “cognoscivel”, néo constituem um teeny comum. Essa € uma situagio em que os adversitios de ideias acahan por se perceber uns em relacio aos outros como “loucos” e renunciam simples e razoavelmente a discussio entre eles. Desde Atistételes, o homem & um Animal racional, a menos que dle 1nio seja louco. O raciocinio conforme a razao estd supostamente enca- regado de responder a crtérios precisos e, por outro lado, ele € suposo como normal. Ora, estou convencido de ter a lado e ndo compreendo nada de seus raciocinios;é preciso entio que vor: seja “louco”. E um bom raciocinio que me obriga a concluir asim, mes ‘mo que, certamente, eu sinta que me falta clareza e que vou indigni-lo. (Oshomens tendem a declarar “irracionais” as crengas, a preferéncia¢3 cscolhas que nao compreendem, e a distancia “ideoldgica” nio é mens seradora de sentimento de irracionalidade que a distincia cultural gos que coexistem em tm et lide Citing Rupturas afetivas AS ruptura retéricasaparecem também, quase sempre, como OP" fa aletivas: os argumentos de seu aversiio the parecem colocals do senso comune, ao mesmo tempo, suas ideas o choca, 0 uh" 2 indignam, causan-he desgosto, oirvtam exatarnente por aque ‘exonhece como sendo um delitio, Pascal havia bens conseatado 0se80 Mat gro Por que seri que um coxo ni nos ina u pitito cox nos ittita? Po paris aque um coxo reconhece que andamos dite . + enquanto um esplrito como diz que somos nds que coxeamos."" izagdo em dois campos Aida que se opere de modo geal, a polrizasiolevanta novas ques ges Porque a razio “comum’, em uma conjunturae setor determina. {hs aplicada a um problema, engendra, tipicamente ao que ela parcce, ‘icularmente, argumentativo e racional. As ideologias do ressentiment a aor cy 9 Cad ut 12 os fabuladoras de raciocinios conspiratério. grandes fal Pais Og ‘ce lio passat seus fempos a preparar suas tram, como esses conduridos malic ase versirios que el aa po param ce ajustarinteresses rf pooaco confirmados pela observaga0, f preciso supor uma imens con conspiratoria do mundo vai juntamente com o rac, ragio. A visio conspirat : = “Te ressentimento: do fato de que alguns sio vistos em posigio avaneing, bjetos da vontade impotente, empresta-thes um plano malign, inagio (send bonito ver que Set sucesso seja para algum clhay ‘um altimo objetivo de hiperdominagio, de apuramento ion de dor innocent), dos desvantajosos ¢ das vitimas. ‘A categoria extrapsiquidtrica de paranoia tomou, na ciéncia politic americana, um sentido estabelecido, ensinado nas escola, para dei. nar algumas tendéncias culturais nacionas. Isso desde a clisica obra de Richard Hofstadter, The paranoid style in American politics. O que o pensador americano escrevia neste famoso livro era 0 que ele chamava de “estilo de pensamento” generalizado, marcado por “raciocinios cx gerados”, por um espirito de desconfianga e por fantasias conspirators (conspiratorial fantasie:"). Varios politlogos americanos diagnosticam na cultura piblicaatual aressurgéncia em resistencia a uma “ligica pare noica”,cujasteses conspiratérias de dircita e de esquerda sio os sintoms. Richard Hofstadter, inicialmente, havia assimilado esse estilo paranoco a0 “cxireme right wing’, porém, desde entio, ele expandiu, “So% dos americanos pensam que 0 governo esconde a verdade sobre a existéncia de formas de vida extraterrestre”.** A vantagem do estudo reeérco, © encontro destas categorias fluidas dos politdlogos, & de liberaresquems de raciocinio que retornem e caracterizem uma tendéncia do pense to € nao de etiquetar as coisas como “crenga’, “desrazio”, “paranoi’,

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