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a a “Ty a : Livto &, 0 DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA E DO ADOLESCENTE Michael Cole Sheila R. Cole : A Edigao Tradugéo: MAGDA FRANCA LOPES Consultorie, supervisdo « revisdo técnica deste edigbo: SILVIA HELENA KOLLER ficéloge pela PUCRS. Mestre em Picslogis do Deremhimento pelo UFRGS, ‘Doutore em Edvcagéo pela PUCRS, rfeisra dor Cursos de GraduagSo 1 Pox-Groduoga em Piesogio da UFRGS, 2008 Fothas Fever devolver esta wine er este original Ob eriginalmente publicada sob otto The development of ehidren Pisin publcado nos Estados Unides pela Worh Publthers, New Yor, New York Besingstke Copyright 2001, 1996, 1993, 1989 por Michael Cae e Shela R. Cla “Todos ot datos reserva, iit Cole Sat CCR, ISBN 0.7167-2823.3, Cope: Mado Rare Preporogée de origins: Solange Canta Lagerco Latur fin Ane Boff de Goooy Superisdo edteck: Ménice Balejo Conto Eatoragso elurice: POS edtorasdo letrnica Reterodos todos os ditos de publicagso, em lingua portuguesa, & ARTMED® EDITORA SA. ‘x. erbnimo da Ornelas, 670 = Sentara '90040.340 Porto Alegre RS Fone (51) 3330-3444 Fax (51) 3990-2978 E protbide« duplicagdo ou reproduc deste volume, no todo ou em parte, sb qctsque formas ou por qualsquer meio (eetSnica, mecinica, greverdo, foretpi, dsbuigso no Web e outer), sem permissdo exresia do Bator, sho PAULO ‘A Rebouges, 1073 ~ Jardine (08401.150 Sco Paulo SP Fone (11) 3062-3757 Fox (11) 3062-2487 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Estudo do Desenvolvimento Humano PRIMEIRAS INVESTIGAGOES ‘A DISCIPLINA DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO A ascensdo de uma nova disciplina Ciitéios de descrigdo cientifica Métedos de coleta de dados —Defineamentos-de-pesqais¢——————— Delineamentos do pesquisa e tdenicas de coleta de PSICOLOGIA.DO_DESENVOLVIMENTO. MODERNA (QUESTOES FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO dados em perspectiva (Questées sobre continuidade 12 bal da toc Questées sabre as fontes de desenvohimento Questées sobee as diferencos individucis ESTE LIVRO E 0 CAMPO DA PSICOLOGIA 00 DESENVOLVIMENTO 24 ‘ODeSENVOLMIMENTO OA CRANGA E60 ADOLESCENTE A pesca rar um des pros at rts qu quar ace pod pro Et ‘irede mater ints rons anes Dav W Pars, Long Engagements Oestudo do desenvolvimento da crianga é 0 estudo das mudangas fisicas, cognitivas e psicossuciais que as criangas sofrem a partir do momento da concep¢éo. Cada um de nés inicia a vida como uma tinica célula, ndo maior que a cabeca de um alfinete, Quando nascemos, nove meses depois, somos organismos inacreditavelmente com: plexos, compostos de bilhdes de células de muitos tipos diferentes. Respiramos por nds mesmos, exploramos 0 mundo com nossos sentidos, comemos, e comecamos a assumir 0 nosso lugar na familia e na comunidade que nos criou, Mas somos total- mente indefesos. No conseguimos nos virar na cama, nos alimentar, nos manter limpos e aquecidos, ou nos comunicar, exceto para demonstrar nosso incémodo através do choro e da inquietagio. Dois anos depois, conseguimos andar, falar, alimentar-nos (com ajuda, certamen- te) e brincar de faz-de-conta. Quando atingimos os sete, oito anos de idade, conse- .guimos transmitir recados, paricipar de jogos organizados sem a supervisio de adultos, € comesar a aprender as habllidades especializadas que precisaremos como adultos. Alguns anos mais tarde, conseguimos raciocinar hipoteticamente, assumi a responsa bilidade por nés mesmos e pelos outros, e até gerar nossos prOprios filhos, A tarefa cientifica bisica da psicologia do desenvolvimento é entender como esse processo notével acontece. PRIMEIRAS INVESTIGACOES Embora muitos eventos pudessem ser identificados como o ponto de partida do se dee reads eae Raat mA cre i oe areas se quaaas mento eypeeeeentmradar a Frovindn de Aveyron, procuando por coma, Hd algans meses gents sees So local Je hava pereidoo meninocnquanto cle esas oceeeds ace Sonia ors cia iced quart catadd Danette coe ea ee ‘crepe. A notin espalhouserapdamente quand o ment spaseea oa eda Soles orem velo. ee ere er case ca aienuneAclamguc puerta ts aca de sant de oe oe igrorare cvtumes oz contaibs declan Quando be pessoa coon ce 2S rnagon Brcusaearsc ccc que ease qe alorseataneans ruse ans hens nave edefceaa qusndo onde suisse a aecrldade Os Une stat eee aang ies aac ane ee pees ae en Eo acu rut, coil respensvel pore conan que ovmeine ha tos torino desde ono da sie infancia “umn esuanto Se secendate eben tocis H-algoextoordinaro em seu cmmporamenta qusscieereces nouns omlianov teas rape (ade ie svete Cuando ovlatri do unciondtiochego a Pais causoufemagt. As pessoas acaram fatcinades pla sia ura da ange qos os os cieoear a o-Mernae Svagetnde sey’ Grosadinoreopearenpie mete facomo ssciatura nao cluadamodou quant porvousarccnn easecebade aie er gueiae ka ne teapot ere Ey scones as teas imams pepteans aa eee oa ae tes ferinos dos outros animes? O que acomtearia se esdecans tocents | rt tert es da sodedade humana? A€ que pont somos proluerdeneve stage Sa iste eg emus nang aie cua oe ar ce oe oe Victor © Menino Sshagem de Aveyron eos. COLE SHELA R COLE 25 No entanto, os planos para estudar 0 Menino Selvagem quase malograram. Os primeiros médicos a examind-lo diagnosticaram-no como mentalmente deficiente eespecularam que, por isso. seus pais o haviam abandonado para morrer. Recomen- daram que ele fosse colocedo num hospicio. E, inicialmente, foi lé colocado, até que Jean-Marc Itard (1744-1838), um jovem médico, discutiu 0 diagnéstico de retardo, tard argumentava que o menino s6 parecia ser deficiente porque havia sido isolado da sociedade ¢, por isso, impedido de se desenvolver normalmente. Na Franca do final do século XVIIL pelo menos uma em cada trés criangas normais era abandonada por seus pais, em geral porque a familia era pobre demals para sustentar mais uma crianga (Kessen, 1965). Itard acreditava que o menino fosse uma dessas criangas. O fato de ele ter sido capaz de sobreviver sozinho nas florestas de Aveyron argumentava contra a suposicdo de ele ser mentalmente deficiente. Tard assumiu pessoalmente 0 encargo de cuidar do menino. Achou que podia ensiné-lo a se tornar um francés totalmente competente, com 0 dominio da lingua Francesa ¢o melhor do conhecimento civilizado. A Franga havia recentemente derru- bado a monarquia e abracado as idéias politicas de liberdade, igualdade e fraterni- dade. Itard e outros defensores da repiblica queriam demonstrar que era poss(vel melhorar 0 desenvolvimento dos filhos dos camponeses, educando-os. Para testar sua teoria de que 0 ambiente social €o responsével pelo desenvolvimento das crian- 2s, Itard criou um conjunto elaborado de procedimentos experimentais de treina- ‘mento para ensinar © Menino Selvagem a categorizar objetos, raciocinar e se comuni ccar (Itard, 1801/1982). No inicio, Victor, como Ttard chamou 0 Menino Selvagem, fez um progresso répido. Ele aprendeu a comunicar necessidades simples, assim como'a reconhecer € fa escrever algumas palavras, Aprendeu a usar um urinol. Também desenvolveu afeicéo pelas pessoas que cuidavam dele. Mas Victor jamais aprenideu a falar € 2 interagir normalmente com as outras pessoas. "Apés cinco anos de trabalho intenso, Ttard abandonou sua experiéncia. Victor indo havia feito progresso suficlente para satisfazer os superiores de Itard, € 0 préprio. Itard estava em divida se o menino poderia fazer mais progressos. Victor foi man- tido sob 0s cuidados de uma mulher que era paga para culdar dele, Morreu em 1828, ainda chamado de 0 Menino Selvagern de Aveyron. Suas experiéncias inco- uns na vida deixaram sem resposta importantes questdes sobre a natureza huma- na, sobre a influéncia da sociedade civilizada e sobre 0 grau em que os individuos io moldados por uma ou outra dessas forgas que os estudiosos esperavam que fossem respondidas pela sua descoberta ‘A maior parte dos médicos e estudiosos da época finalmente conclufram. que Victor, realmente, havia nascido com uma deficiéneia mental, Mas-até hoje ainda hd davidas quanto a isso. Alguns estudiosos modernos acham que Itard podia estar certo em sua pressuposicéo de que Victor era normal quando nasceu, mas que foi retardado em seu desenvolvimento como resultado do seu isolamento social (Lane, 1976). Quando foi encontrado, Victor jé havia passado muitos de seus anos de for- ‘macdo sozinho. Ele jé ultrapassara a idade que atualmente se considera ser o limite maximo para a aquisicdo normal da linguagem. Outros acreditam que Victor sofria de autismo, uma condigéo mental patolégica cujos sintomas incluem um déficit de linguagem e uma incapacidade para interagir normalmente com as‘outras pessoas (Frith, 1989). Também é possivel que 0s métodos de ensino de Itard tenham falhado que abordagens diferentes pudessem ter tido sucesso. Nao podemos ter certeza. ‘As tentativas de Itard para educar. Victor marcamo ponto de-partida.da.ciéncia — Ga psicologia do desenvolvimento porque Itard estava entre os primeiros estudlio- 505 a ir além da especulagio e a conduzir experiéncias para testar stias idéias. [AASCENSKO DE UMA NOVA DISCIPLINA ; ‘ -Embora na época de tard anda néo houvesse uma especalidadecintifieachamada polcologia de desenvolvimento ointeesse nas clangas e no seu desenvolvimento 26 © oeservoLMneNTO o CRUNGAE 00 ADOLESCENTE estava comegando a aumentar entre os reformadores sociais © também entre os, 4, Gientistas (Cairns, 1998). Durante o século XIX, a industrializacéo da Europa ¢ da 'E) América do Norte transformou a organizacéo social das pessoas. A industrializacdo “também transformou o papel das criancas na sociedade ¢ 05 ambientes em que elas se desenvolviam. Em ver de crescer em fazendas, onde contribufam com sua mao- —de-obra-e-eram-cuidadas por-suasmaes-e-pais até-atingirem-a idade-adulta,muitas ‘riancas foram empregadas em fabricas nas cidades industrials que se expandiam, Juntamente - e as vezes no lugar ~ de seus pais (Clement, 1997). Foi nessa época que o ensino foi disseminado. As criancas urbanas que néo twabalhavam eram, em geral, encaradas como uma responsabilidade da comunidade, que as encaravam como desordeiras. As escolas piiblicas foram criadas tanto para ‘aumentar o controle social sobre as criangas quanto por qualquer razdo académica, Elas consistiam em locais para supervisionar o desenvolvimento das criangas, quando rem os pais riem os empregadores as estavam supervisionando. Para aquelas criancas que faziam parte da forca de trabalho, 0 trabalho fre- lientemente envolvia longas horas em fabricas ou minas, sob condigées perigosas ¢ insalubres. Quando essas condigées se tomaram uma preocupagéo social, provo- caram maior atencio social ¢ aumentaram a atividade cientffica. © Comité de In- vestigagdo das Fabricas na Inglaterra, por exemplo, realizou um estudo em 1833 para descobrir se as criancas conseguiam trabalhar 12 horas por dia sem softer danos, A maioria dos membros do comité decidiu que 12 horas era um periodo de trabalho aceitavel para as criangas. Outros, que achavam que seria preferivel um perfodo de trabalho de 10 horas, estavam menos preocupados com o bem-estar intelectual ou emocional das criangas pequenas do que com a sua conduta moral. Eles recomendavam que as duas horas remanescentes fossem dedicadas a educa- 40 religiosa e moral das criancas (Lomax et al., 1978), Essa pesquisa inicial envolveu mais que uma resposta prética as preocupagées sociais. Os primeizos psic6logos do desenvolvimento e 0s médicos usaram os dados coletados para esclarecer questées basicas sobre o desenvolvimento humano e sobre como estudé-lo. Os primeiros estudos sobre o crescimento ea capacidade de trabalho A méo-de-obeo infant properconava rma contrbuigGo viol pera‘ Fenda {armiiar em muitos foros 60 séeulo XIX. Etter meninos e menines, fotagrofodor em um oparamento em [Nova York em forno de 1890, fern flows occ Se tabalhasiem fgulaemente desde de manhs até ¢ hate, conreguiam ganhor US§ 1,20 por a As cians constiuiom mao-de-chre fessencl em multe inisves, ot tes n ilo do sdcuio XX. Estes ‘meninos tobanovam nas mings de ‘arvéo da Pernayivaria, em 1911 ‘Alguns dels tnhom opencs sls cnos de ‘dode 27 das criangas, por exemplo, chegaram a importante conclusio tedrica de que oefeito do ambiente sobre o desenvolvimento pode ser mensurado. Os pesquisadores des cobriram que devido as suas longas horas de trabalho, e ao repouso ¢ 8 nutrigéo inadequados, as criangas que trabalhavam em moinhos téxtels tinham menor estatu- ae menos peso do que as criancas locais da mesma dade, que ndo eram submetidas a essas condigbes de vida, As avaliacoes de desenvolvimento intelectual mostraram grandes variagées nas aquisigées das eriancas, que pareciam depender da origem familiar e da experiéncia individual. Tais achados estimularam a continuacéo de ‘um debate cientficoe social sobre os fatores primariamente responséveis pelo desen- volvimento, ‘Um acontecimento crucial que estimulou um maior interesse no estudo cientifico das criangas foi a publicagéo, em 1859, de A origem das espéies, de Charles Darwin. A tese de Darwin, de que os seres humanos evoluiram a partir de espécies anteriores mudou fundamentalmente a maneira de pensar das pessoas a respeito das criancas. Em vez de adultos imperfeitos ~ para serem vistos, mas ndo ouvidos ~ as criangas, passaram a ser encaradas como cientificamente interessantes porque seu comporta- mento proporcionava indicios sobre as maneiras como os seres,humanos esto relacionados aoutras espécies. Tornou-se moda, por exemplo, comparar ocomporta: mento das criancas com o comportamento de primatas mais evolufdos para ver se as criancas passavam por um “estégio de chimpanzé” similar aquele através do qual imaginava-se que a es ar Figure :mbora esses paralelos entre as espécies tenhham se comprovado supersimplificados, a idéia de que o desenvolvimento humano deve ser estudado como uma parte da evolugio hhumana tem conquistado aceitacio geral Mais para o final do século XIX. a psicologia do desenvolvimento tornou-se uma forma legitima de pesquisa ¢ prética. Instititos ¢ departamentos especiais dedicados 20 estudo do desenvolvimento comesaram a surgir nas principais univer sidades norte-americanas e tanto agéncias governamentais quanto fundas6es filan- a 4 28 (O DESEHVORMMENTO BA CRANGA £ 90 ADOLESCENTE U6picas comegaram a subvencionar esforcos de pesquisa em desenvolvimento infantil, assim como a apolar revistas especializadas no cuidado infantil e no papel dos pais, Atualmente, ha uma ampla aceitacio popular da idéia de que a conducEo de pesquisas clentificas sobre criancas seja uma boa maneira de “tomar este mundo um mundo melhor através do desenvolvimento de pessoas melhores” (Young, 1990, p. 17). PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MODERNA A principal ‘preocupacio dos psicélogos do desenvolvimento contemporaneos € adquirir um entendimento sistematico do desenvolvimento da crianca, ou seja, da seqtiéncia de mudancas fisicas, cognitivas e psicossociais que as criangas, experimentam & medida que vao crescendo ~ mudangas que comegam com a con- cepgdo € que continuam durante a vida toda. O interesse.no desenvolvimento da eee a fee ees eee epee eee fae oe oe bteeed | Sarees Srna eee een een ees reine bdr emerald So ee ee ees ee ree ere Ge Semaea ra pea oar eanaseoeee map hleemeegeeerper eras ee aa st act sete ane ace Honea era ieaten soc ccenm ances - oo Peale hy anearnestieks 5 pe es See ee et nde to weg Tice eee eee eee ea ane ecere ree spec eeaies qotee ee ee cement tae rateleaes ea rece eae caren | oe + Oreerigos cornea tarde do cog de dei eerste one ar suareree tes eo + Oeoabaimey tfarede ea pe ou douse ee ean ran ffenestr aoe ee ee a crsrarie Se eee eee See tees ie tava contac So ae nn rena ayorateces eee ee eee cease tae asset eeass CO tnestgador nto pode usar procedimentos de esl aue poy som projudicar Ben ou pleologicomente ds efargas | Embora eceltemos 0 iia ica de plena revel das informa- um determinado estude pode necesstar do siglo ou diss | rol sobre seus objets. Quondo ose ou 0 dsm} ‘80 € considerado essencia pare a condugio do estudo, 0S in- Yesadore dev rvs Um cm en ue Moo mento est coreto Oinvesigador deve mante em sig todas os infrmagies cb das sabre os partcpantes da pesquso Imediatamente depos de os dados serem coletads,o nvestiga- dor deve esclorecer poro © partcipante da pessuise qualsquer! concepgées errBneas que porsom fer surgido. O lnvestigador também reconhece 0 dever de relatar achodos gerois para os} paricjpantes em termos opropiados ao seu enterimento. Quon fo voloresclentficos ou humonos podem justifiex a retengéo de informogdes, todo esforga deve ser feto para que c retengao da informogdo néatenha conseqiéncios danesos pars oporticpante. Quando, ne decorrer de perquis, chegarem co iovestigadorin- formagées que pessam afetrsariamente o bem-star da crianga, 0 invesigador tem 0 respanscbilidode de diseut: essa informa- (Bes com especiclites do drea, pora que 0s pos possem conse- Suir 0 necessdrio ostiténcia pare seu fh. Quando se percebe que os procedimentos de pesquise podem resultar em conseqiéncias Indesejvels pore © portcipante, 0 Investigador deve empregar medidas acequodos >ara corgi es sos consequncies e considerar © replanejemarto do procedi- ecto : (Os investigadores dever ser erteriasas com ralesdo ds imolica- | 6s socials, polticas e humanas da sua pesqusc e devem ser Expeciaimente cuidadosos no opresentagéo des seus achados. | Esse padrdo, no entonto, de mado olgum nego cos investigado- reso drat de seguir quolquer érea de pesquss ou 0 direto de ‘observer podrées adequodos de relato cients. (Quando se acredita que um totamento experimental so inves: tigagdo bendfco 8 criongas, os crupos-contrcle devem ceceber outros tratamentos alternatives benéfices, se dszoniveis, em ver de nenhum tratomento, de RT No Bl ox pctlagor do desemehiment vila: a Raslsta 1941996 do Conse Nodna e aide pv pxautas cm anes (Minto, | 2: Sade, 1996) Racetrern © Cove Fear de Presto (200) eau eRe 06 bre x eg Ec pra periesem oe observavel, um processo mental. Piaget usou esses dados para defender a existéncia de um desenvolvimento que se processa por meio de uma mudanga em etapas ou estégios na mancira como as criancas entendem e experimentam o mundo. Ele acreditava que, em torno dos 10 a 11 anos de idade, a crianga comeseria a se tornar capaz de imaginar o pensamento como tum processo mental que nao pode ser visto. ‘Alexander Luria (1902-1977), psic6logoTuss0, usou o método de entrevista clini- ca para revelar diferencas qualitativas no pensamento em ambientes culturats distin- tos. Ele acreditava, por exemplo, que as pessoas que vivem em sociedades pré-in- dustrializadas, onde hé pouca ou nenhuma alfabetizacdo e ensino, categorizariam, 05 objetos segundo a maneira como eles sio usados na vida cotidiana, em vez de ‘segundo algum critério abstrato. Em um estudo, ele apresentou desenhos de quatro Objetos - um martelo, um serrote, uma tora de madeira e uma machadinha - a um \ grupo de vaqueiros criadores de gado e perguntou-Ihes quais dos objetos eram simi lares e qual ndo correspondia aos outros. A malor parte de nds enxergaria dois Nik ee k CHAELCOLE SHELA R COLE Margaret Beale Spencer sou ‘enenslvemente os méfodes do entrevista da abservogto em seu trabatho sabre Sauto-estme dor ctenget. Agu, ea ‘rebaine com alunos de ensino especial o ensino midio, que estéo partiipondo (de um programa de eprendogem boseado em computador “Rlinearmento longitudinal Passuiso no ‘uel 0s dada x60 coletodos do mesmo ‘tupo de erangas & medida que eles ‘creicem, duronte um periedo de tempo etineomento transversal Pesquisa na ‘ual erongas de wares Idades 360 ‘Studedor co mesmo temp. ~—yina Tori difeieite. 0 pesquisador que usa o deliriearnento longitudinal 49 critérios ébvios pelos quais esses objetos poderiam ser categorizados: ou como “col- sas necessdrias para se conseguir lenha” (o que excluio martelo) ou como ferramen- tas (0 que exclui a tora). Os individuos de Luria viram os objetos em termos com- pletamente diferentes, como esta indicado pela seguinte conversa tipica; Horn: Els todas se correspond! O seroteé para serrata tora, o martelo para martli la.e a machadinha para cort-la. E, se quser serrar realmente bem a tore, precisa do martelo, Nio pode dispensar nenhuma dessas coisas. Ndo ha nenhuma-que voce nio precise. “Luria: Mas um companhheiro me disse que a tora no pertence a este grupo. Honsem: Por que ele disse Iss0? Se dizemos que 2 tora ndo & como as outras coisas © a colocamos de lado, estamos cometendo um err, Todas essas coisas sio necessrias para Luria: Mas esse companheiro disse que o serrote, 0 martelo ¢ a machadinha séo de algum modo semelhantes, enquanto a tora nio é Homer: E dat que néo sejam semelhantes? Ela todas rabalham juntas e corcam a tora. ‘Aqui tudo funciona dreito, gut tudo isso € imo, (hua, 1976, p. 58) A abordagem de Luria € um uso cléssico da entrevista clinica. O investigador testa a percepcio do individuo desafiando suas respostas &s perguntas ¢ sugerindo pontos de vista alternativos (as vezes incorresos). Como foi indicado pela entrevista ‘cima, para 0s individuos de Luria, “similar” com referéncia aos objetos apresenta- dos parecia significar “executar a mesma atividade”. Contrapondo as respostas dos seus individuos as respostas dadas pelas pessoas que haviam freqientado a escola e comesado a participar das formas industrializadas da atividade econdmica e das relagBes sociais, Luria chegou & conclusio de que os vaqueiros tradicionais organizam seu pensamento em termos de conceitos que relacionam de perto os objetos com stas fungies e no desenvolvem o pensamento tendo como base os objetos pertence- rem a mesma categoria abstrata, : (© ponto forte dos métodos de entrevista clinica € que eles proporcionam um insight na din&mica do desenvolvimento individual. Cada pessoa entrevistada propor- ciona um padrao distinto de respostas que corresponde as suas experiéncias indivi- duais, Mas 0 método de entrevista clinica tem suas limitages. Em primeiro lugas, para chegar a conclus6es gerals sobre 0 t6pico da entevista, 0 clinico precisa ignorar as diferencas individuais entre as entrevistas a fim de poder chegar ao padrao geral ‘Mas, quando o padréo geral aparece, 0 quadco individual desaparece. Em segundo lugar, como o método se baseia primordialmente na expressio verbal, néo é adequado para o uso com criangas muito pequenas, que tém dificuldade para se expressar plena ou precisamente. Isso acontece especialmente quando se tenta avaliar a capa~ cidade cognitiva das criancas, pois as pequenas, em geral, entendem muito antes de elas proprias conseguirem explicar 0 seu entendimento, DELINEAMENTOS DA PESQUISA Seo objetivo da pesquisa € esclarecer 0 processo da mudanga desenvolvimental, ela deve ser planejada para revelar como os fatores responsavels pela mudanga atuam no decorrer do tempo ~ ou seja, como a mudanga € produzida nas diferentes idades. Hi dois delineamentos basicos de pesquisa usados pelos psicélogos para esse pro- pésico: longitudinal e transversal. Cada um leva em conta a passagem do tempo de inal retine informagdes de um grupo de criancas & medida que elas crescem, durante um peri- odo de tempo ampliado. O pesquisador que usa o delineamento transversal rei- ne as informagdes sobre criancas de varias idades ao mesmo tempo. Esses delinea- mentos podem ser usados em conjunso um com 0 outro € com quaisquer das téenicas de coleta de dados jé discutidas. Cada delineamento tem suas proprias vantagens € desvantagens. ( 50 (© DESENVOGAMENTO DA CRANCA E00 ADOLESCENT? (Os defnearrentos longiudinis ecompanham os resmas pessoes otrnds dot ono. Delineamentos longitudinats Os pesquisadores que escolhem um delineamento longitudinal slecionam uma amostrarepresentativa da populagio que desejam estudarecoletam dados de cada pessoa em duas ou mais idades, Por exemplo, Jerome Kagan (1994) conduziu uma *equipe de pesquisa na Universidade de Harvard que acompantiouocomportament de um gropo de criangas desde pouco depois do seu nascimento até o inicio da adolescénia. Esse estudo proporcionou a evidénda, anteriormente mencionada, de que as criangas que sf0timidas ¢ inseguras aos 2 meses tein probablidade de ser timidas ecautelosas até 12 ¢14 anos, Sem as mensuragoes longitudinal seria impossivel descobrir se ha continuldade nos padroes de comportamento ou se 0: processos mudam &imedida que acriang cresce, Outosestudoslongitudinais impor lantes concentraram-se em tpicos variados, tals como personaidade (Friedman et al, 1995), sade mental (Werner e Smith, 1992), temperamento einteligencia (DeFries cat, 1994), desenvolvimento dalinguagem (Fenson eta, 1994) eajusta- mento social (Cairns e Calrns, 1994) = Os delineamentos longitudinais pareceriam ser uma mancira ideal de se estu- dar o desenvolvimento porque se ajustam as exigencas de que o desenvolvimento Seja estudado no decorrer do tempo. Infelizmente, as pesquisas longitudinal t£m algumas falas prticas e metodol6gicas que restringiram seu uso. Fara comeca, classi dispendiosas de realizar, partcularmente se devem ser conduzidas durante \éris anos. Requerem o compromlsso a longo prazo de umm pesqulsador para com uma aventura incerta, além diss, alguns pats se recusam a permitic que seus filhos partcipem de um estudo prolongado, Se essa recusass40 mals freqientes em um fripo socal, econémico ou émmico do que em outro, podem formar a amostra nao . Fepresentativa da populagdo do estudo como um todo £ também comuim que algu- mas das ciansas que comecam um estado desse tipo salam dele, madando, assim, aamostra de varias maneras, o que enfraquece as conclusdes a serem extraldas uta difeuidade com os dclincamentosIongitudinais €queas pessoas da amos- tra podem ficar acostumadas com os varios procedimentos dos testes ¢ das entre- 7 vistas. Em outras palavras, elas podem aprender a responder da manelta esperada a Em conseqtincia disso, € dificil saber se as mudancas nas respostas da pessoa no d decorrer do tempo representam um desenvolvimento normal ou, simplesmiente, 0 efeito da prética em se submeter aos testes ¢ em responder as entrevistas. Finalmente, 0s delineamentos longitudinais, s vezes, confundem (misturam) 2 influéncia das mudancas relacionadas com a idade e a influéncia de fatores relacionados especificamente a coorte do grupo da amostra. Uma coorte €uma Atesede Danvin de ques sees humanos se desenvolveram a partir de espécies ____previamienteexistentes aumentou interessecienifico pelasciancas.inspiran: do os cientsias a estudé-as em busca de evidéncias da evoluco. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MODERNA » Os psicélogos do desenvolvimento modernos estudam as origens do compor- tamento humano e a seqiléncia das mudangas fisicas, cognitivas e psicosso- ciais que as criancas softer & medida que vao crescendo, »- Uma tarefa importante dos psicélogos do desenvolvimento é aplicar 0 conheci- ‘mento que adquirem para a promocio do desenvolvimento saudével. QUESTOES FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO > Muitas questées cientificas e sociais sobre o desenvolvimento giramem torno de tds preocupagées fundamental 1. 0 proceso do desenvolvimento € gradual e continuo ou é marcado por descontinuidades abruptas, por meio de ctapas ou estégios? 2. Como 0s aspectos inatos e o ambiente interagem para produzir desenvol- vimento? 3. Como as pessoas desenvolvem caract tumas das outras? » As questdes sobre a continuidade ramificam-se em aspectos mais especificos: 1. Até que ponto somos parecidos e diferentes de nossos vizinhos do reino animal? 2.0 desenvolvimento envolve 0 acimulo gradual de pequenas mudancas quantitativas ou ha estagios de desenvolvimento qualitativamente distin- os? 3. Ha periodas crfticos no desenvolvimento? » As questées sobre as fontes de desenvolvimento deram origem a pontos de vista concorrentes sobre as contribuigées da biologia (natureza) edo ambiente (educacio) para o pracesso do desenvolvimento. » 0 problema das diferencas individuals concentra-se em duas quest6es: 1. O que torna os individuos diferentes um do outro? 2, Até que ponto as caracteristicas individuais sao estaveis no decorrer do tempo? cas estveis que as diferenciam A DISCIPLINA DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO » 0s psicélogos do desenvolvimento usam vérios métodos de coleta de dados tem seus esforcos para conectar teorias abstratas as realidades concretas da experigncia cotidiana das pessoas. Esses métodos sdo delineados para garan- tir que os dados usados para explicar 0 desenvolvimento sejam objetivos, confidveis, vélidos e passiveis de replicacéo. » Sao proeminentes entre os métados de coleta de dados usados pelos psicélogos do deserivolvimento: (a) auto-relatos, (b) observagao naturalista, (c) experi- mentacéo € (d) entrevista clinica » Os delineamentos de pesquisa que incluem comparasdes entre criangas de idades diferentes permite aos pesquisadores estabclecer relagées entre os fe- némenos do desenvolvimento. Alguns delineamentos de pesquisa bisicos 44 \ | So MCDAEL COLE & SHELA R COLE 6 1, Delineamentos longitudinais— as mesmas criangas so estudadas repetida- mente durante um periodo de tempo. 2, Delineamento transversal ~ diferentes criancas de varias idades so estu- dadas a0 mesmo tempo. 3, Delineamentos sequenciais da coorte - 0 método longitudinal é repetido com varias coortes, cada uma delas estudada longitudinalmente. 4. Delineamentos microgenéticos - as mesmas criancas so estudadas repe- tidamente por um espaco de tempo curto durante um perfodo de mudanca rapida. » Nenhum método ou delineamento de pesquisa pode fornecer as respostas Para todas as questdes que os psicélogos do desenvolvimento procuram resolver. A escolha do delineamento da pesquisa depende da questio espect- fica que est sendo tratada. » A teoria desempenha um papel importante na psicologia do desenvolvimen- to, proporcionando uma abordagem conceitual ampla dentro da qual os. métodos ¢ 0s delincamentos de pesquisa s4o organizados e os fatos podem ser interpretados. ¥ Quatro abordagens teéricas importantes organizam uma grande proporgdo da pesquisa do desenvolvimento da crianga: 1. Segundo a abordagem da maturagio biolégica, as fontes do desenvolvi- mento sao fundamentalmente endégenas, originando-se da heranca bio- légica do organismo. 2. De acordo com as teorias da aprendizagem, a mudanga do desenvolvi- mento € provocada principalmente por fatores exégenos que surgem no ambiente. 3. De acordo como construtivismo, o desenvolvimento surge da adaptaco. ativa do organismo ao ambiente. Os papéis dos fatores ambientais e biol5- gicos sdo de igual magnitude. 4, Da mesma forma que o construtivismo, o culturalismo atribui importan- ia tanto aos fatores biolégicos quanto aos fatores ambientais do desen- volvimento, mas também enfatiza que as interacées a partir das quais 0 desenvolvimento emerge so, fundamentalmente, moldadas pelos padzées de vida que compéem a cultura de qualquer grupo dado. ESTE LIVRO E © CAMPO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO » Oconceito da mudanga biossociocomportamental destaca as maneiras pelas Quais 0s fatores biol6gicos, sociais e comportaynentaisinteragem em um con- texto cultural para produzir mudanca desenvolvimental. Ter sempre em mente esses fatores nos ajuda a manter um quadro do desenvolvimento integral da crianga. PALAVRAS-CHAVE mostra representativa, p. 38 experimento, p.43, aprendizagem, p. 57 filogenia, p. 30 auto-relato, p. 39 grupo-controle, p44 - —-biografia do bebe-p-39 — grips experimental p-4 confiabilidade, p. 38 hipétese cientifica, p. 43 coorte, p. 50 maturacéo, p. 56 correlagio. p. 43 método clinico, p. 47 cultura, p.30 método microgenético, p. 52 delineamento longitudinal, p.49 __ mudangabiossociocomportemental, p.60 delineamento seqilencial da coorte, p. 51 natureza, p. 35 4s 66 CO OESENVOLANENTO OA CRUNCA D0 ADOLESCENTE delineamento transversal, p.49 nicho desenvolvimental, p. 41 desenvolvimento da crianga, p.28 _objetividade, p. 38 ecologia, p. 40 observacio naturalist, p. 39 educagéo, p.35 ontogenia, p. 31 end6geno, p. 55 periodo critico, p. 33 estégios d fodo senstvel, p. 35 euro gral “——~—replicabilidade, p. 38 cetologia, p. 40 teoria, p. 54 exégeno, p.57 validade, p. 38 QUESTOES PARA PENSAR 1, Usando argumentos das quatro perspectivas teéricas descritas neste capitulo, 4 quatro explicacées possivels para o comportamento do Menino Selvagem. de Aveyron. 2. Partindo da sua experiéncia, dé um exemplo de como 0 estudo cientifico do desenvolvimento da crianca tem afetado a maneira como estéo sendo criadas, as criancas da geracdo atual 3. Vocé tem alguma pergunta a fazer sobre o desenvolvimento das criangas? Como acha que os cientistas podem conseguir achar a resposta? 4, Relacione t1és maneiras pelas quais a pessoa que voct era aos cinco anos de idade se diferenciava da pessoa que vocé era aos 15 anos de idade. Rotule ‘essas diferencas como qualitativas ou quantitativas, 5. Relacione duas maneiras importantes nas quais vocé se parece com seu me- hor amigo ¢ duas maneiras importantes em que vocés sio diferentes. Que fatores causais vocé acredita serem fundamentalmente responséveis por cada uma dessas semelhangas e diferencas?

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