You are on page 1of 60
Li Po Tu escreves como 0 pissaro canta. Tew gorjeio? Verses. Se nio cantasses, as manbas seriam menos vermelbas ¢ os crepitsculos menos azuis. Quando a embriaguez te inspira, os Imortats incli- nam-se das nuvens para te eseutarem, © tempo sus pende seu vb, 0 bem-amado esquece a benamnada, Tu & 0 Sol e nds, os omtres poetas, somos apenay ostrelas. Acolhe, 6 mew amigo, o balbucio do mew respito! Tu Iw INeSES TRADUGAO DE ECiILIA MEIRELES Além da obra poética, conhecida por todos os brasileiros, a vasta personalidade de Cecilia Meireles sempre se expandiu por diversos camos da atividade intelectual, Educadora, folclorista, jornalista, ilustradora, interessacla de sempre pelo orientalismo, dessa afinidade espiritual nascetam muitos de seus exercicios como tadutora, uma das suas facetas menos conhecidas pela maioria dos leitores, Alem de pegas de Tagore, a grande poetisa dedicou-se 20 lon- go de anos ao estudo, traducio ¢ divalgasio da poesia oriental, ati vidade da qual resultatam diversas paginas em jornais da de emissdes radiofnicas, Com destaque especial — num conjun: to que inclui incursBes na poesia japonesa, érabe, persa, ete, — nos aparece o conjunto de traducdes de poemas chineses, muito espe cialmente dos dois grandes nomes icdnicos de Li Po ¢ Tu Fu, conhe- cidos ¢ assimilados através de ums! POEMAS CHINESES Li Poe Tu Fu POEMAS CHINESES Tradugao de Cecilia Meireles 1G pac ies bettie oo Bs im linrcia, pons alterativs, cediro rembalso pos no Bes Porapl e demas pes de Inga p dds Eines Nowa Frontera SA SUMARIO Dia pede arom deni pote ‘wtlizagdo ataalnente conbesos ou ge venbam a set Ns Introdugao fauramence desenvlvidos, dos talares dos dteitos do Autor Alexei Bueno Rus Bumbins, 25 ~—Boratogo (CEP 2251-050 — Rio de Jaci, Rl Bil Tel (021) $37-8770 — Fax (021) 286.6755 Enero elegsfie: NUOFRONT A lua de Li Po Meireles 7 Cecili Revdo poeta Ge Fernandes de Cove Clara Diane gin Fee Homenagem a Li Po Cecilia Meireles INDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, K} Li Ta Po, 701 L8S9p —Posmas chineses / LiPo, Tu Bu tadusio Cecila “Meteles: introdasao de Alexei Bueno. Rio de Jani- to :Nova Fronteis, 1996, Tu Fu 0 Contim dados bogrificos ISR 85.209.0779.2 1. Poesia chines, Tu Fu, 712-770. I, Meise, Cals, 1901-1964. I Tile Indice de tttulos ¢ primetros versos 13 epp a98.It 96-1069 DU 895-1 Oriunda de uma tradicio velhissims, a dos poemas de oti- gem oral compilados e fixados por Confiicio no Che Keng (Livro de poemas), um dos cinco liveos canénicos do gran- de Império, a poesia chinesa alcangou na dinastia Thang (618-907 d.C.) todos os pré-requisitos fundamentais a0 aparecimento de um petiodo clissico, As formas mécricas Jongamente evoluidas, a gramitica fixada, 0 léxico vasto € ‘uma tradicio literaria ancestral se reuniram em um pecfodo no qual a prosperidade a paz. possibilitavam uma demora- da atengio as coisas do espirito, em que o luxo da vida pala~ ciana ¢ 0 mecenato dos imperadores favoreciam os homens de letras. “Naquela época cada homem era um poeta’, jé foi dito sobre a dinastia Thang, e de fato as listas de pocias de certa fama chegam a recensear 2.300 nomes desse perfodo, coisa quase inimaginavel para nds ocidentals. De entte to~ dos, trés nomes se descacam consensualmente: Li Po (ow Li Tai Po, ou Li Bai, 701-762), Tu Fu (712-770) ¢ Po Chu Yi (ou Po Kiu-yi, ou Bai Ju-i, 722-846), mais ow menos nesta orem de importancia e divulgasao, ao menos no Ocidente, Os dois primeitos, na yerdlade, quase formando um diptico, sto a imagem exata da poesia chinesa para um ocidental su- ficientemente culto pata dela se ocupar sem maiores mergu- POEMAS CHINESES Ihos. Nada mais natural, portanto, que a escolha dos dois no esforgo de tradusio de Ceeflia Meireles, Li Po nasceu em 701 .C., ao que tudo indica em Chang-ming. provincia de Seu-tchwan, Suas fontes bioge’- ficas, como as de seus contemporineos, contradizem-se e oscilam frequientemente entre a lenda e a histdria, Li era seu nome de familia, Lai Po significando “grande brilho”, nome dado pela mae, segundo a tradigfo, por causa do brilho ex- traordinitio de uma estrela no momento de seu n ‘mento, Ap6s s6lidos estudos, obteve 0 grau de doutor aos vinte anos, Depois de um periodo de viagens, casa-se e vai morar com a familia da esposa em Han Chou, Gozando jé de in- discutivel primazia entre os letrados ¢ poetas de sta provin- cia, ransferi-se, apos outro periodo de errfincia, para a ca- pital, Chang An, no ano de 742, inicio da chamada era Tien Tao, de insuperado esplendor na corte. La péde mostrar seus versos ao principe Ho Chi Chang, que ordenon que Ihe servissem vinho quente em sua propria taca de otto, tendo depois relatado ao imperador: ‘Tenho em minha casa 0 maior poeta que jamais exis- tia. Até agora nfo me atteyi a falar dele a Vossa Mbjestacle, porque paclece de um defeito: bebe, ¢ as vyezes em excesso, Seus poemtas no entanto so to belos que o imperador julgaré por si mesmo, POEMAS CHINESES “Traga-ine o autor destes.poemést", forain aé palavras do imperador apés a leieara dos manuscritos, Numa outta versio, quem o teria levado a0. pals a a princesa Yu Chen, tendo sido recebido no Grande Salo das Sinetas Douradas, convidado 4 Mesa das Sete Jéias, ¢ finalmente 1 mm 756 ttansforma-se numa espécie de poeta oficial da agraciado com uma eftedra na Universidade: de Hang L corte. Participa de uma expedigio militar do principe Lin filho do imperador: Executado 0 herdeiro por suspeita de sedigio, 0 poeta é encarcerado, sendo absolvido das actisa- gies tempos depois, Reza a tradigio que certo dia, ébtio ¢ compondo alguns dos seus poemas a0 vinho, foi conduzico a presensa impe- rial, Nes homenagem @ favorita Yang Kuei Fei (imortalizada numa casio teria escrito trés célebres poemas em famosa nartativa, fonte de um filme de Mizoguchi), inter- pretados em seguida pelo grande cantor Li Huei Nien e pe- Jo proprio imperador; em sua flauta de jade, Invejoso de sua crescente ascendéncia na corte, 0 podte- toso eunuco Kao Li Hi convenceu a favorita do imperador sobre um pretenso duplo sentido em certos versos de Li Po coisa das mais compreensiveis em se tratando de poesia chinesa), que esconderiam uma sitira contra ela, utilizando- se entio de sua eélera para inteigé-lo com o imperador, Des- _gostoso com o episédio e com o ambiente cortesto, o poeta pedia insistentemene ao monasca a permissiio para se teti- POEMAS CHINESES ras, que the foi ourorgadla, juntamente com presentes repre searativos da permanente afeigio imperial Durante dez anos, de acordo com as narcativas, aps re~ tirar-se para meditaso nas montanhas, Li Po vagueou por todas as provincias e tabernas do império, Apés esses anos de dispersio na natureza, durante os quais teria composto inimeros poemas, morreui no ano dle 762, de maneita abso- Jutamente controversa em suas biografias. A lenda mais eéle- bre afirma que, estando em um barco, éhrio, tenton abragar a lua que se tefleria nas Aguas do lago, afogando-se. Temos af © mesmo mecanismo criador de mitologias de intimeras mortes Iendirias da Grécia antiga, como ade Anacreonte engaspado com um carogo de wv: Toda a poesia de Li Po esta carregaca de uma forte me- Iancolia pela passagem do tempo e das coisas, de uma visio desencantada da vida na corte, 0 que redunda num carpe dion muito proximo do de Horacio, mas pleno de um conv tea embriaguez ¢ volipia que recorda Omar Khayyam, tudo cartegaclo, no entanto, de uma primordial presenga da natureza, de um modo tipicamente chinés. Li Po é enfim, um mestre insuperado nos dois estilos antagénicos ou com plementares, o Ko Lu, de poesia palaciana, cortesi, ¢ 0 Yao Fu, género mais livre e popular, diretamente ligado a miisica eas fontes foleléricas. POEMAS CHINESES Ta Fu noscew em 712, numa aldeia préxima de Syang Yang, na provincia de Hou Kwang, Desde a juventude de- monstrou, lado a ldo com os dotes intelecruais, certa in- constancia e um forte antagonismo em relaciio ao sistema de exames do velho Império, tinica via para os empregos piibli- cos ¢ a prosperidade social dos lerados, Fracassando nos ao destino exames em 736, parte em viagem, entregando- de poeta itinerante, perfodo em que conhece Li Po (que rnunea mais reencontraria e a0 qual declicaria um poema cé- Iebre) ese aproxima efemeramente do taoismo. Finalmente ‘na capital, desperta arencio geral e recebe um titulo honori- fico do imperador Ming Hwang. Enwe tenta atrair, através de varias obras, 0 favor imperial, apos novo fiacasso nos exames e uma vida de pobreza Casa-se por volta de 752, ¢ adquite uma pequena pro- priedade, Durante a revolta de Lu'Shan contra 0 trono, refr- gia-se nas montanhas de Chean Si, enquanto 0 proprio im- porador se retira com toda a corte para Seu-tchwan. Desse petiodo datam alguns pocmas célebres sobre a guerra e as esgragas do Império. Sufocada a revolta apos a abdicagio de Ming Hwang, Tu Fa retorna a capital, onde é finalmente agraciaclo com um cargo priblico pelo novo Iinperaclor, tornande-se censor ims petial em uma cidade do Chean Si. Apds um perfodo nessa localidade, perde o cargo e retira-se para Seurtchwan, so- 1" POEMAS CHINESES fiondo exrrema prentiria e assistinde A morte por fome de alguns dos seus filhos meados das anos de 760, passa a servir um senhor militar, cornando-se proprietirio respeitado em Kuei Cho. Morre em770, em circunstAncias nio-estabelecidas, de acor- do com uma versio em viagem pela provincia de Honan; conforme outra, evidente lenda antitética em relago aos seus anos de miséria, por excesso de comida e bebica a0 fim, cle uma festa de dex dias, Apesar do extremo classicismo da linguagem, a poesia de‘Tu Fa esta carregada do registro direto de uma época de guerras ¢ misérias, Sendo 0 mais erudito ¢ talvez.0 mais dif cil, por excesso de referéncias, dos poetas ca grande época, indo deixa jamais de ser um poeta da sociedade, mas também, da hist6ria, © que empresta uma perspectiva profunda a muitos dos seus maiores poemas. Toda a sua experiéncia pessoal de softimento é desta maneira canalizada para uma compreensao geral das desgracas das gentes, em suas ¥ riadas manifestagbes, apreendidas por uma solide moral confucionista. A tradugo da poesia chinesa sempre representou para 9 Ocidente um desafio insoltivel e de permanente fascinio. © eariter idcogeamitico do chinés, scu monossilabismo, a sintaxe extremamente simples © por conseqigncia sujeita a POEMAS CHINESES todas as ambigtiidades, a métrica ¢ o rimfrio rigorosamente codificados, o paralelismo de ideogramas-palavmas entre um verso e outro, a carga no geral intensa de referéncias histéri= cas e erudizas nos poemas — de dificil compreensio para os proptios chineses —, os eftitos expressivos dos tons, sem patalelo com a8 linguas ocidentais, todas essas dificaldades inremoviveis transformam a traduso da poesia chinesa em tum touy de force sem muita esperanga, mas sempre intentado, i sas”, escreve Camilo Pessanha, jé-ento havia anos morador chine- No sew “Preficio 4 tradugao poética das ¢ de Macau e familiarizado de perto com esses problemas: Isolei a tradugio de cada um dos versos, ¢ dentro dela conservei, nos limites do possivel, as idias ¢ simbolos a ordem original. Isto 6, da poesia chinesa busquei trasladar com exatidtio o que era teaslacivel — o elemento substantivo ou imaginativo; porquan- 0 0 elemento sensorial ou musical, resultando de uma técnica métrica especialissima (em que ha sa- biamente aproveitados recursos prosédicos de que as linguas européias nao disper), é absolutamente inconversivel. 's elementos intraduziveis & De especial selevo entre es a famosa projesio visual do conceito facultada pelos iddeo- gramas, fendmeno amplamente divulgado por Ezra Poured aps 0 contato com os eseritos do sindlogo Ernst Fenollosa, POEMAS CHINESES antecedendo as transposigies de Cath (1915). O que é in- reressante pensar & até que nivel essa espécie de polifonia expressiva propiciada pelos elementos visuais componentes de cada ideograma na leitura de ums seqiitncia deles no se cumpre com maior eficécia para os olhos de tm ocidental, livres do desgaste do uso constante, do que para os de tm chins. Da mesma maneita, uma polifonia expressiva pode- tia advir de qualquer leitura de palavras em lingua ocidental onde o senso etimologico das mesmas se mantivesse absolu tamente desperto, 0 que nao ocorte pelo desgaste do uso comum ¢ pela limitagio intelecto-sensorial na recepgio de informagdes, De um modo ou de outro, é esse o elemento ais intraduzivel da poesia chinesa, Nas versdes dos poemes aqui teunidos, da autoria de wm dos maiores e mais sutis manipuladores poéticos da lingua portuguesa, 0 que encontramos é a tentativa de substicuigao dos processos expressivos intraduziveis por uma exceléncia imagética ¢ sonora que os tente de certa maneira suprir, ini- camaneira de enfrentar as mencionadas dificuldades, Longa ¢ a relagio da lingua portuguesa com as questdes concementes 4 China, decorréncia dbvia do papel de Portue io ocidental do Extremo Oriente, gal no inicio da coloniza, Para nao lembrar outros noms ilustres, es de Camées e Fer- no Mendes Pinto sto suficientemente emblemiticos, No POEMAS CHINESES nosso século, a grande figura de Camilo Pessanha € 0 me- Ihor tepresentance desse contato dirsto. Para s6 nos restringirmos a0 nosso Ambito lingiiistico, no que diz.respeito 3s tentativas de tradusio da poesia chine- sa, os nomes de Machado de Assis, na “Lita chinesa” de lenas (1870); AntOnio Feijé, com © Cancioneinochints (1890) Alphonsus de Guimaraens, no péstumo Pastoral aos erentes do anor ¢ da morte (1923): 0 citado Pescanha — este com um, conhecimento direto — sf imediatamente lembrados, para ficarmos s6 com os autores de vasta atividade literdria, Entre 08 tradutores sindlogos se destacam os nomes do Pe. Joa quim A. de Jesus Guerta (tradutor do conjunto completo dos livros do cainone confuciano), Anténio Graga de Abreu o de Li Po e de Bai Jui), Gil de Car- ralho, etc, Como tradugdes de linhagem poundiana € neces- ‘com uma vasta traduga sitio lembrar alguns poemas do Che Kg ¢ de Li Po por Haroldo ¢ Augusto cle Campos, sendo especialmente interes sante a vers4o, por este iltimo, da exe 247 do livro candnico, que alcanga grande aproximagao sonora pela manutengio altamente virtuosistica do carder monossilabico do poema. A lista dos poetas que intentaram a temeritia transposiga0 junta-se agora, apés tantos anos de ineditismo, 0 nome de Cecil ctiagio dos dois maiores poetas chineses pela mnaior poetisa it Meireles, auavés dos poems reunidos neste Livro, re- brasileira de qualquer época. ALEXEI BUENO, BIBLIOGRAFIA ANDRADE: José Ignacio de, Ceres cts dt Insta ¢ di China 2 v. Lisboa: Imprensa Nacional, MDCCCXLVIL ANTOLOGIE DE LA POESH CHINOISH CLASSIQUE, Paul Démnrill, Pa 19a. de, A dame hanmceae outros asrite ene & China Lisboa 4, 1983, antlegia de posia chinese Lisboa : sitio & Alvim, 1989, CHENG, Fransois, 1? Benue po «, Patis + Editions da S 1 (GLILLERMAZ, Patsiia: Lx pli chine Pare ¢ Seghers, 1987, IDBOGRAMA. Org. Haroldo de Campos. Sto Paulo : Cultix/Edusp, Iy EA GIRAUDIERE, H. de Chavanses, Les sino pendant ane période de 4458 cams, Vou : A; Mame ot Cita 1845, LIVRO DOS CANTARES : She Keng. Joaquin A. Guerra, Maco: Josue portugueses, 1979, PESSANHA, Camilo, Chint,eedee + trades Lisboa + Agincia Geral dae Colinas, 1954 Clepstdreouirss prema. Lisbos: Atica, 1969. POEMAS DE RAIJUY. Anténio Abreu. Masas Institut Cultural acau, 199 Aneénio Geaga de Abed, Macau :Inetinsto Caltutal 1990, POESIA CHINESA : del siglo XXIT A.C, « hs canciones de ly Reroluclén Calhaal, Marcela de Juan, Mack + Alianea Editorial, 1973, REMUSAT, Abel, Llenos de la grammaie cin, Paris : Maisonneuve et Cie, TBST. ISBN, Tsonming. Essa Ast Jean Deprelle, 192 ‘THE PENGUIN BOOK OF CHINESE VERSE by Robert Korewall and Nosman L. Smith, Bristol: Pengain Books, 1962, TUF: Selected Poems. Compilados por Ferg Chih, traduzidac poe Rev! pode clei. Lyon In Alley, Pekin Foreign Language Press, 1964 A lua de Li Po Hé mil e duzentos anos, morsia na China 0 poeta Li Po, Seu nome ¢ 0 deTu Fu restumem a gléria da poesia chi- nesa no sécuilo oitave que alguns consi- 6 proprio Ta Fi deram 0 maior dos dois, consideravao, a ele, 9 maior de todos. Dizem que Li Po morrew afogedo, tentando abragar a Ja, Se a versio nio for historicamente verdadeira, tem, pelo 6 valor de encerrar com um fecho postico tuma ex téncia que, de longe, parece fluruar como um véu entre as ‘aguas ¢ 0 luar, mais atenta a beleza geral do universo que 4s vantagens particulares do mundo, Todos conhecem o poema em que Li Po ctia, na solidi, tum grupo de trés amigos: ele, a sua sombra e a lua, Ao con= tnirio do que acontece com os amigos humanos, que se separam depois de beber, com a sua sombra ea lua o poeta se sente numa unio inseparivek: “nossos encontros', dizia, sto na Via Lact Em quase todos os seus poemas, a lua aparece, clara € proxima, como se realmente fossem dois companheiros de mos dacs, entre jantins e lagos, palicios, montanhas ¢ trios. “O luar € como neve a0 longo do muro da cidade...” ‘© arco da ponte parece a lua erescente. POEMAS CHINESES POEMAS CHINESES Nas aguas do lago, 2 lua € embalada com a cangio das Roguei-lhy me informasse flores e o poeta entristece, achando os temos de seu barco sobre a estagio de ane inoportunos tee pe réponda qe estdvames na época em gue a primavera hago Nab-bi embala a la de outono E faz cantarem os passaros, que se reflete na dgua verde ; B Come ex i ia enternecende, O rida dos mens renios interrompen Be s 0 bino de amor recomnecel « beber, ; ; red at « a cbegar gue os nenifares cantaven dua Rese ae «de now sorne « perder a nopto das coisas A lua aparece-the no jardim juncado de flores de pesse- gueiroja lua aparece-the nas ruinas dos palicios: Li Po nio podia imaginar que mil e duzentos anos de- pois da sua morte a lua se tornasse objeto das pesquisas a Hoje a de Si-hiang€ snc dancarina a bailar que hoje 2 vemos submetidh. Ele nto acreditava que a pus ras salas por onde desizaram tantas mullees formosas sss leant ll ctalavina ees Ali rt ots Li Po, que vivew algurm tempo na corte, onde o sew méri- escreveut to cra reconhecido, foi afastado por inteigas, e houve, cert A lua esti no cée sombric quando degou? meate, melancol can sua vida, Mas 0 vinho e a lua dissipa- Agora pousande« minb vow fiazer-lbe essa pergunita, the as amarguras: hee Os que querem apanbar a lua, nas podenn consepuir J que a vida €ilaséria como wn sonbo, 19 ent, no see curso, a Ta segue os nen por gue nos alormentans? £ deshunibrante como um esplbo voador Prefivo bber até cain, cobpcando-se dante da jaela vermelba As brumos azuis we extinguenn ¢ desaparecem, Rene one mas o seu puro esplendor cintila Ae acoder, elt am rotor Vemo-la somtente dnote subir por cima do mar Um pssaregoreava entre as flores de sepeme se perde nas nuvense desaparee 18 19 POEMAS CHINESES Os bomens de bye mao viem mais a lua de outrona Hamens do passade, omens de hye, como sina torre gu fai Tados contemplam a lua, todos como ago Nijo, Li Po no pretendia chegar & Ina, Bastavi-lhe que ela chegasse & taga em que bebia, como diz o final do poema Tudo o que deseo é que quando st canta es bee, 0 luar se reflita sempre no funde da taca de oure, CECILIA MEIRELES Homenagem a Li Bo da nossa Os dois nomes da possia chinesa, no século oitavo era, sio os de Li Po e Tu Fu. Li Po é, certamente, 0 que est mais perto da sensibil. dade ocidental. Seus delicados pocmas sio feitos de quase nada: sio como miniaturas do excelente desenho e escothi ds cores com luares, rios, flores, palicios, vuleos que asso. mam com um pouco de tristeza, de saudade, de amor e de alogria. Eles nos recordam wma China imperial de suilezas estéticas, ¢ melhoradla, no entanto, por lembrangas de bata- Ihas, com guerreitos ardentes ¢ cavalos bravios. Li Po nascew no ano de 701 ¢ morreu em 762, Seu pai, 6 general Li Kuang, veneera os hunos. Por intrigas de um eunuco — segundo se conta —, Li Po foi afastaclo da corte, Dizem que morreu afogadlo num rio, tentanco apanhar a imagem da tua refletida nas aguas, Essa versio da sua morte pode ser puramente lendiria, ados o encanto com que ele sempre se ocupou da lua, nos seus versos,¢ a circunstincia de celebrar também constante- mente 0 vinho como se na verdade o seduzisse 0 estado de embriaguez como uma flutuagio entre a vida e 0 sonho, Do aprego em que era tida, porém, a sua poesia, falam- nos clois poemas de seu colega Tu Fu, Um fala das qualicla- 21 POEMAS CHINESES POEMAS CHINESES S8 este hemnem & desgrazado! Como acreditar na justiga do Destino? Envelbwcoveis em sofrimenta, Depois de dez mil, com mil outones, des poéticas de LiPo e da sua superioridade em relagio aes artistas seus contempordneos, O outro reconta com saudade © amigo e prediz-lhe a gloria Futura com certeisa intuigao. Lé-se, no primeito: ‘ amie 1 intl imeortalidede srd a vosa compensapi. Tit escreves como 0 passaro canta, Teus gorjeios? Versos. Se tio cartases, as mianbis seria menes rubras; os ceps- cules, menos acts Este ana, cumprem-se mil e dazentos outonos de “ini til imortalidade”, sobre a morte de Li Po, para usarmos a Quando a enbriaguee te inspira, os Imortas inclinamse lexpressto de Tu) Fu Talvez nao tela eomplerametie ingtil das muvers para te wits © tempo suspende seu v60; 0 : ee ae tuma imottalidade feita de gragae beleza, que nos legaram os camanie esquece a propria armada, sauncuiais seus poemas. Ti és0 sol e nis, os outros poeta, peqpenas estrlas, Estas tradugSes.nem sempre concordam nas diferentes Fi ici verses ocidentais confrontadas, Mas dio uma idéia, embo- er ot en oe ra apagada, do génio do velho poeta chinés Li Po. Diz. © segundo poema, na segunda patte, pois que se CECILIA MBIRELES tzata de composigao relativamente longa Hi trtsnoites que sonbo comvoso, Vij, cada ves, gue estas sentindo, Que besitais em dizerme adeus Que eneneras os obsuicnss de cumin, Numeroststermentasrodam sobre lio ¢05 ros Temes que wso barco naufrague A ininba porta, lsais us mies aos voscs cables branes, somo 2 um peda triste vs pais 0 congo, Aide nl 08 reo, 05 grandes atulba a capital 2 Li Po LiPo I Recordagao na calma da noite Dance da minha exindj edtendesse'o ian, Parece geaca no chi, Levanto a cabesa: avisto!a montanha e a la. Torno a deitar-me, E penso na minha terra natal POBMAS CHINESES Combate-se ao sul da muralba O iano passat combatiarse pronimo ds nascentes’dlo {rio Sankan; este ano, combate-se nas estradas de T’sang-he. Mergulhamos'as armas nas ondas do lago Chizo-chi Levamos os ca alos a pastar nas neves das montanhas deTiien, do de dez {mil ki Os nossos soldados estio completamente exatstos. Combate-se por toda parte, numa exter Os barbaros ocupam-se de assassinar como nds de Desdi antigtiidade véern-se ossos brancos pela arvia amarela, Outrora, construfra-se a Grande Muralha para fixar a morada dos birbaros, Depois, foram levantadas torres com archotes. Os sinais dos atchotes atclem sem cessar: as longas campanhas no terminam, 0 LPO Combate-se nas planicies: mata-se, morte-se, 605 cavalos dos mortos relincham, levantando queixas [ao céu, Os corvos bicam as entranhas dos mortos, depois voam e pousamenas nos ramos das drvores [seca Os soldados fogem, enlameados, por entre as ervas. O general em vio se esforgar nada consegue. Sabei que as armas so uma coisa perversa 0 sbio nao recorre « elas senio a contragosto. at Os corvos crocitam na noite Nuavens de pocira amarela sobre os maros da cidade. Os corvos volt: as ninhos ¢ crocitam nos N.a0s s ramos, Por detsas da cortina azulada da sua janela tuma jovern tece um brocado em seu tear De repente, para com a langadeira: pensa tristemente no maride que esta longe. grimas. Lipo Pensamenios da primavera As ervas sto como fios aztis-esverdeados A amoreira deixa pender seus ramos verdes. Bo tempo em que se pensa no dia do regtesso, 6 momento em que a minha dor se torna insuportivel Vento da primavera, nio te conheso! Por que entras pelas minhas cortinas de gaze? 3 POEMAS CHINESES Meto-dia TA s mupetis nad lees vents €sereindy eprociminsed [meio-cia Diante das flores, um regato corre, ao longo dos amos. bi Os homens nfo podem compreender a alegria que ¢ dizem que estou alegre sem motivo, como uma [erianga, LiPo Margens do rio tio outono A\ jgua profiinda € limpids, sob a lua branca Ao luat, véemese voar as gargas brancas. Ouco a rapariguinha que colhia castanhas voltar; na noite, pela estrada, a cantar. | \ POEMAS CHINESES Bebo sozinho ao luar Bhnete a8 flotes hdiurn|jarrosde vinho, Sou o tinico a beber: no tenho aqui nenhum amigo. Levanto a min! «aga, oferecendo-a a lu | com ela ea minha sombra, ja somos trés pessoas. | Mas 2 lua no bebe, a minha sombra imita o que [faso. A sombra ¢ a lua, companheitas casuais, divertem-se comigo, na primavera Quando canto, a hua vacila | Quando danso, « minha sombra se agita em redox | Antes de embriagados, todos se divertem juntos, | Depois, cada um vai para a stia casa Mas eu fico ligado a esses companheiros insensiveis io na Via Lactea. ! nossos encontros 36 LiPo Com a taga na mdo, inierrogo a lua A\ tua esté no céu sombrio, Quando chegou? Pouso a minha tara, para fazerthe essa pergunta, Os que quetem apanhar a lua no © podem conseguir: No entanto, no set curso, a ja acompanha os homens. deslumbrante como um espelho voador, diante do [Pavilhio Vermelho. As brumas azuis se extinguem € desapa ¢ seu puro esplendor cintila Vemo-In somente 4 noite subir do mar e perder-se nas [nuvens Os homens de hoje nao véem mais a lua de outrora ‘A lua de hoje iluminava 0s homens do passado. Homens do passado, homens de hoje — torrente que [flai — todos contemplam a lta, que a todos parece a mesma. Tudo o que desejo € que, a hora de cantar e beber, co luar se reflita sempre no fundo da taga de ouro. DOEMAS CLINESES Flauta, a noite, em Lo- Yang De onde vem este som de laita de jade que voa na [noite? Levado nas sas do vento primavesil, enche a cidade, Quando, numa noite assim, se reconhece na melodia a [firia do “Salgueiro:quebrado”, Quem nto sente dentro de sia saudade do campo (naval? Po Rosa vermelha A esposa do guerteino esti sentada a janela. De coragio aflito, borda uma rosa branca numa [almofaca de seda Picou-se no dedo! Seu sangue corre na rosa branca, {que se torna vermelha. Seu pensamento vai ter com seu amado, que esti na [guerna ¢ cujo sangue tinge,talvez, a neve de vermelho. uve © galope de um cavalo.. Chega, enfim, seu [amado? E apenas 0 coragio que Ihe salta com forga no peito.. Curva-se mais sobre a almofada e borda com prata as lagrimas que cercam a rosa vermelha. MAS CHINE Sts Despedida (Acompanbando um amigo) A verde moneanha se estende para além da’ Muatha [do Notte, Beancas fguas cercam a Muralha de Leste, Quando aqui nos separarmos, sercis a erva aquitica vogando para grandes distincias. As nuvens errantes me far’ © pensar em quem viaja. O sol poente me recordars o antigo amigo, Ja vos afastais e acenamos com as mios, Nossos cavalos, um para 0 outro, relincham [tristemente. uo Cagada Os fithos da fronteita ignoram por toda a vida os [livros Niio sabem sendo cagat; orgulhosos de serem flexiveis © Agcis No outono, seus cavalos bérbaros engordam, precisam, [de ervas, asela, com perfil desdenhoso ¢ eles entio sobem pa [ealtivo: seus chicotes de oump afloram a neve; a bainha de suas espadas estala Meio ébrios, chamam seus falcdes e partem para os [campos distances, Distendem seus arcos, que quase se arredondam e [nunca erram o alvo. Unmaa flecha assovia: dois grous negros caem a0 mesmo [tempo. A beira do lago, quem os vé fica apayorado, pois sua ferocidade e bravura enchem o deserto. (Pechado até a velhice aris de cortinas, como pore o letrado competir com o cavaleizo?) Por CHINESE A uma beldade do caminko O scataleita pies aleivamente ss:flores'caican Seu chicote vai rogar a elegante c: ager, A beldade sorti, levantando a cortina de pér © como dedo aponta, a0 longe, seu Pavilhio vermelho. ut po Diante do vinho Virthoide va, Tasas de ouro, Uma jovem de quinze anos que chega num esbelto [cavalo, Saas sobrancelhas, pintadas de negro, Saas botas, de cetim yermelho, Ela teopega um pouco nas palavras, mas canta com [meiguice No rico festim, embriaga-se nos meus bragos. — Que fare’ de ti, sob as cortinas cor de hibisco? POEMAS CHINESE Lupo Melancolia (Lamento) Prazeres de paldcio | } A thova'e adotsvel como'a flor, Menina, mote numa casa de ouro. Mas a antiga ¢ preciosa como o jade. Moga, habito o Palacio de Parpura. Ondulante, a flor nio se sabe conten, Flores da montanha enfejtam-me © penteado. i | Puro, 0 jade nao muda, E bordado de cravos meu vestido de seda | A que hoje ¢ antiga foi nova, outrora. Quando saio do palicio profundo, } A nova sera antiga, um dia. © catto do Imperador sempre me acompanha. Vede-a casa de outro da Rainha Chen! Receio apenas o fim das cangdes ¢ das dangas } nascem teias de aranha ens suas cortinas silenciosas. que se apagam como nuvens cor-de-rosa I] | 7 "Arainha Cl’en era prima do imperador Wa, gue em pequeno, dizi" «a pudesse despost escondia-s ima casa de ouo” Desposoina ¢ ais tarde. abandonou. (Nota de P, Guillermaz POEMAS CHINESES Colheita de lotus A beim do tiacho'Jo Woh) airisdgad quetcolheniloead conversam ¢ riem por entre as flores. a [agua, O vento faz flutuar suas mangas perfumadas, que sol ilamina seus vestidos novos, que brilham fesveagam no ar Quem sto os belos eavaleitos da mangem? Aos tis, a0s cinco, eles aparecem através dos chordes Mas seus eavalos baios partem, relinchando entre as [Aores caichs. E as mogas, decepcionadas, encristecem em vio, Rewnido de amigos (Vigilia amistosa) Para lavar velhas mégoas, & preciso beber mil fiascos. f A lua bianca deve impedir 0 sono. tas para as palavras paras As belas noites 83 Ebrios nos deitaremos na montanha deserta. Céue terra nos servitao de colcha e travesseito, JOEMAS CHINESES Didlogo na montanka Perguntais por que moro na verde montanha. Intimamente sotrio, mas nfo posso responder. As flores de pessegueito sio levadas pela agua do tio. Hi outro céat ¢ outea terza, para além do mundo dos {homens 48 Lipo Prazer do mercador O siajante dos mares cavalga 0 vento celeste e{os-teoapcita wo bare k balers longa ccrn'debear'anto, como 0 pissaro nas nuyens Queivsa da primavera En cavalo branco, de sela de euro, meu inaride (partiw para leste do mar Liao. Sobias-continas de snda, sob 3 colehia biwlida, durma; [0'venco da‘peinavera, Bale jancla Balas) a lig) qie'se vetisava, igo Gm [olhar furtivo A initia vole que se extingue Bots eb leay enrem pelle paren esiam-ae de enizha [solidao, Cando das cabegas brancas Sempre me repetieis: “Envelheceremos juntos. ‘Ao mesmo tempo que os meus, tous cabelos se [eornario brancos como a neve das montanhas, como a lua de [verio...” Hoj venho, desesperada, dizer-vos adleus. , Senhion, soube que amais outra mulher Pela tiltima vez, enchamos com o mesmo yinho as [nossas dias tagas. Pela tltima vez, cantai a cangio que fala ce um passaro [morto sob a neve. Depois, embarcarei no tio Yurkett cujas aguas se dividem para leste e para oeste. Para que chorais, jovens nowvas? Desposarcis talvez um homem de cova que vos repetird sinceramente: “Envelheceremos juntos.’ PORMAS CHINESES Prazeres de uma noite de vero ‘A fastamosnos dla montanha azul e a 10a nos feaiiiienha © votvalho totna pésadas as mangas da nossa roupa Voltamo-nos pata avaliar a distancia percorsida mas uma bruma esbranquigada afoga © campo, De mos dadas, aqui estamos diante da casa ristica onde os amigos nos esperam. Agora caminhamos a0 longo de uma alameda bordada [de bambus que nos rosam, quando passamos. Estamos todos reunidos! Que flicidade! Servem-me vinho perfumado, Canto a cangto do [""Vento nos Pinheitos”. Os rounindis, as ras ¢ os insetos cantam também a0 [mesmo tempo. Fidelidade Daas andorinhas, mais duas andorinhas... As andorinhas voam sempre aos pares. Quer em torre de jade ow em pavilhio de laca, nJo pousam nunca uma sem a outra, Quer avistem balaustrada de mirmore ow janela [dourada, no se separam nunca. Hayia duas andorinhas... Quando ardea a trave de [cedro que abrigava seu ninho, refugiaram-se no palécio do rei de Wu. Mas o palicio do tei ardeu © o macho e os filhotes foram queimados também. De volta, a fémea ficou contemplando as ruinas do [paliécio. Esta historia me entristece profindamente. iy Por LiPo $s CHINESES i . Lembrangas Melancolia dos degrans de jade | Boo onatho que faz brilhar os degraus de jade? 10 voltaras? A quela noite; névava no jae Liang Auleles dhonien porque Eu sentia frio e tu nio percebias. Hy : ; ; : iH, Esta noite, contemplei as arvores de jade Atrayés das continas de contas de cristal, sob as quais, oitrora, costumava esperar por ti, Bt lua de outono olha para.o poema que:escrevo sobre a melancolia dos degraus de jade. s Garga brane Esse gearide floco deinere uma garga branca que acaba de pousar no lago azul Imovel, na extremidade de um banco de areia, a garga branca observa 0 inverno, No palito de Tebao-Yang Ais flores substituttam neve quie pousava nos ramos do abricoteiro, O sopro da joven primavera aquece 0 campo ¢ 08 ramos dos salgueitos sussurram de Felicidade © canto do pissaro yng acorda a Floresta, A andlorinha, afinal de volta, voa rene aos telhados. Dangarinas coroadas de glicinias brancas bailam no palicio azal A festa durard até os reflexos da aurora dangarem nas cortinas de seda, Agora, a lua ilumina 9 jardim, juneado de flores de pessegueitos. Vem comigo, bela meninat ‘Vamos escutar 0 rumor de asas gue hd nos bambus tocados pela brisa 7 POEMAS CHINESES Duas flautas Una noite em que éu tespirava 6 pecfume das flores Abeta do rio, © vento trouxeeme a cansio de uma flauta distante Para responder-lhe, cortei ttm ramo de salgueito a cangio da minha flauta embalou a noite encantada. Desde entio, todos os dias, a hora em que o campo adormece 08 pissaros ouvem a conversa de dois passaros desconhecidos, caja linguagem, no entanto, compreendem. Lito Cangéo da tristeza Senhor, tu ainda nos ofeteces vinho Mas to 0 ponhas nas nossas éagas Quero cantar-te a Cangio da Tiisteza, Eis o instante em que 0s teus convivas esto menos [alegres, om quee 0 riso vacila © instante em que as dangatinas eambaleiam, € as tulipas deixam cair as pétalas, Eis 0 finico instante em que o meu coragio fala com sinceridade, Senhor, tu possuis palicios, guerreiros invenciveis perfumado vino... Eu nio tenho mais que o met alatide, que canta cangdes amargas hora em que as tulipas deixam cair as pécalas Nesta vida nfo temos seniio uma certeza: a morte. Estas bocas que beijamos estariio um dia cheias de fren, POEMAS CHINESES. este alatide que vibra sob os meus dedos setvira de poleiro para as galinhas. © tigre salta nos vales onde vagava outrora 0 peixe Mang. © coral atapeta os barrancos onde desabrochavam, outrora, violetas. scutai, 18 longe, no campo branco de kaa, acuta os macacos que choram acocorados nos timulos em abandono! Agora, Senhor, esvaziemos de um trago as nossas [tagast.. Lire Ruinas de Su-Tai Cresceramn arbustos nas tufnas do palacio, Hoje, a lua de Siskiang € tinica dangarina a baila nas salas por onde desizavam tantas mulheres [Formosas ol A ten amigo Wang-Luen No imamento’en queiee afaseavarea prada © bateo que me conduzia, ew ouvi — eu, Li Po — uma cangio de dilacerante [dogura. © mar jé tinha mil pés de profundicade, nas o afeto que te fez cantar por mim, Wang-Luen, era ainda mais profundo. L1P0 Umm dia de primavera Noisaividina mindoséabendsiamignindewonho, Eneio, pata que nos atormentaremos? Prefito beber © dia ineeio, ¢ ficar deitado & sombra. Ao acordar, olho em redor um passaro gorjeia entre as flores. Rogo-lhe que me informe sobre a estagio do ano, ¢ ele responde {que estamos na época em que a primavera faz cantarem os pissa Como principiava a enternecet-ine, recomecei a beber, cantei até a lua chegar ede novo tornei a perder a nogio das coisas, 6 POENAS CHINESES Passeio entristecido O iago Nan-hus embala a ua de outono que se reflete na Agua verde, © rumor de meus remos interrompeu. ‘co hino de amor que 08 neniifares cantavam a lu LiPo Longa viagemn Ni pade conter a alegri que me tinha trazido amanhi de onter E nao posso enxotar a jeza que me wae. a manhi ee hoje, Passaros migratérios atravessam 0 cu, Lutam contta o vento do outono. Encho a minha taga ¢ olho para lange. Penso nos grandes poetas que ja nao vive recordo seus versos, e digo a mim mesmo que eu também seria capaz de escrever poemas [sublimes se puidesse pairar no céu, entre 03 astr0s. Em vio bebo para afogar minha amargura, Neste mundo, quando as coisas nio correm como [desejamos, deve-se, como tu, tomar uma barca, de cabelos ao vento, e seguir pelo mar. POEMAS CHINESES Caracteres eternos Erccrero versos, Levanto a cabegae velo na rhinha {jancla bambus que se balangam. Fizem um ruido de fonte, © eéu é azul. Os earacteres quie trago parecem brotos de ameixeitas esparsos na neve. © perfume das pequenas latanjas de Kiang-nam se [evapora, se as guardardes por muito tempo nas mios. As rosas precisam de sol. As mulheres precisam de [amor Os caracteres que trago nao precisam senito do rumor dos bambus: ¢ sho eternos! eternos! Lipo Em Nanguion QO baaet ie taitnliesits enstiantey 3 prosperidade ¢, por fim, & morte de seis seinos! Bavazio tts vezes a minha taga em tua honra © 4 tua gloria dedico estes versos. ‘Teus jardins floridos no sio tao grandes como os do claro pais de Thsin: mas tuas colinas tém curvas mais graciosas que as montanhas de Lo-yang. Outrora, neste lugar se elevava © magnifico palacio do rei de Wu. Hoje, a erva ondula no cha Que testa desse palicio dos Tehin, que abrigou uma dinastia faustosa e temida? — Ruinas onde as cigarras cantam. Os temp. os homens passam como a égua do Yang-tskiang gue contemplo... 1A area dosidenses Persia andbhwalkamuniatanee gue cantei para os homens. E os homens se rita! “Tomei meu alatide, fui sentar-me no ropo de uma [montanha ¢ eantei para os deuses a cangao que os homens no tinham encendido, O sol baixava. Ao ritmo da minha eangio, os Deuses [dangarams nas nuvens encarnadas que flutuavam no cét Lipo Uae ree bretiaedl A brisa faz ondular os nemtifares sje: perfinite vethetubaletinand paldei exguido no meio do lago. Um pouco embriagada, Li -ambalei De repente, © sorri, 6 POEMAS CHINESES A volta da felicidade VAsaoligtie civiaioaniartisy na sombra perfumada das salas do paléco, deta dow bosques, deers das cortinas de seca, belas mogas fazem vibrar alatides e pecras sonoras, As arias que elas tocam so levadas pela brisa 20 Imperador, que sorti. Uma alegre multickio se comprime a beira do lago. Chamam os barqueitos As ilhas verdejances ouvitdo muitos beijos. A Agua eebenta na proa das barcas cobertas de tendas de varias cores, Tis mil encantadoras mosas oferecem & Primavera 6 tributo de seus risos. Batem sinos e tambores. Que barutho! que alegria! O pow também eseé alegre: danga, canta o hino da [paz Lipo Eo Imperador contempla a sua obra a felicidade de todos. Os trinta e seis Imperadores imortais dizem 20 nosso {soberano que pode ir encontiar-se com eles. Seus carros de nuvens passam diante de seus olhos [maravilhaclos Mas 0 nosso Imperador nfo nos abandona eeu clamo: " Vivei por tanto tempo como o monte Nanteha POUMAS cHnests O pavilhao de porcelana No meio do lago eleva-se um pavilhao de poreelana [branca. Para chegar Is € preciso atravessar uma pequena ponte de jade que tema curva de um tigre pronto para o assalto, Nesse mintisculo paldcio, retinem:se amigos: conversam, bebem, contemplam na agua verde 0 ondulante refleso las pednias que enfeitam a balaustrada do terrago. Alguns, de mangas arregagadas, barrete enfiadlo até os [olhos, escrevem versos, O arco da ponte parece a lua erescente, Qs reflesos das pednias siv como mo is dangando, O pescador A terra sorveu a neve, Tormamos a ver as ameixeiras em flor, Sio de ouro, as folhas novas dos salgueitos: dle prata, as agitas do lago. Polvilhadas de ouro, as borboletas, agora, pousam a cabesa de velido no coragio das flores. -ador levanta a rede Em seu barco imével, 0 pe [gotejante, agitando a 4gua quieta ‘asa, como uma andorinha no Pensa numa moga, em ninho. Pensa numa moga, em casa, esperando como uma ‘andorinha o set companheiro. Por S CHINESES Canto de guerra Nia frontcim do Sula aria os pés da montana, patece um campo de neve, Nos muros da cidade rendida, © luar parece geada Ouviu-se um coque de cornetas, a noite E a noite inteira os soldados do Norte olharam com saudade em ditegto i suas casas, Lipo Cangiio do rio Mau barqainho é de ébano; tninha flaista tom chaves de ouro, Como o sumo des phintas absorve as manchas da seda, 0 vinho absorve a tristeza do corasio. Com um bom vinho, um barco gracioso 0 amor de uma linda jovern, como invejar os deus 75 POEMAS CHINESES Fim da tristeza As pequenas vagas brilham a0 Iuar que prateia a limpidez verde da agi, Estou s6 no meu barco, que desliza a0 sabor das [ondas dle vez em quando, toco a Agna com os temos A noite ¢a solidao enchem-me 0 coragio de tristeza, Eis um tufo de nenuifares com suas flores como pétolas enormes. Afigo-as suavemente com os remos. As folbas agitadas murmuram com meiguice. As flores, inclinando as cabecinhas brancas, parece que falam comigo, Os nentifares querem consolar-me S6 de vé-los, porém, minha tristeza ja estava [esquecica LPO No Norte a wossi relva é azul como jade. Aqui nossas amorcitas deixam pender os ramos verdes, E finalmente pensais em voltar, agora que men coragio esti quase quebrado.. O bisa da primavera, se nio te conhego, por que entreabres as costinas de seda de mea leito oll de tai Pape ne le wr dos enuans de trate Cilia Metele Poona de Tu Fu a Li Ps Frcs 83 Poema de Tu Fu a Li Po “Tuescreves como o pissaro canta, Teu gorjeio? Versos, Se no cantasses, as manhas seriam menos vermelhas € os creptisealos menos aznis Quando a embriaguez te inspira, 08 Imortais inelinam- se das nuvens para te escutarem, o tempo suspende seu vo, 0 bem-amado esquece a bem-amada Tu é& 0 Sol e nds, 05 outros poctas, somos apenas es- trelas. Acolhe, 6 mew amigo, 0 balbucio do meu respeito! 8 POEMAS CHINESES Tu eu Poema de Tu Fu a Li Po Tits noites Es Passavas a mio pelo cabelo branco, mos de cipestre, gtidas venho sonhandé contigo: io me iragam mais flores, mas Was 4 minha porta. onde mergulhare! meu rosto! alma, Quando o sol desaparece detrés das montanhas, ponho como se uma grande dor te amangurasse a o meu traje azul, de mangas leves, ¢ vou dormir entre os Depois de dez mil, cem mil outonos, bambuas que ela amava nio teris outro prémio que o prémio inditil da imortalidade. 86 8 POEMAS CHINESES Os perfaines da. primavera ¢ 0s raios obliques do sol aua essam as minhas janclas? E a hora em que os bar= queitos comegam a cozinhar 0 artoz para a refeigio da noite. Os prais piam. Rincha um carro Bebo — e os meus cuidados misturam-se aos insetos alados que zumbem na irisagio vermelha do jardim. 88 Tu PL Odtrora, num palicio ornado de be nheci a felicidade, Queimayam-se aromas 2 minha pas- sagem, on dormia em almofadas de seda cercado de cantoras ¢ tangedoras, ¢ nfo’ via sendo jarcins atape- tados de pé do coral isrado nesta fortaleza do Kusit-t[ang,] Hoje, ene ros apelos das sentinelas e nfo ouso mais que os sinis 6s gritos dos macacos que se divertem a9 Tuar entre os rochedos, Espero, Estremeso, Petco a coragem. Se a0 menos avis= tasse as luzes da nossa capital..mas tenho que conten- tarsme com a vista da constelagio que brilha no alto dessa distante cidade. Quando a minha tristeza se torna por demais pesada, vou sentar-me no terrago do Norte, onde © vento acu mula as flores de uma invisivel amendoeira. POBMAS CHINESES (Em casa de meu amigo Teheng-Tsé letrado do pafs de Uti) Que alegria, essa noite. A mesma lampada nos ilu- minava.. ‘mo envelhecemos! Como passam depressa a ado- lescéncia ¢ a mocidade! Pensar que a maior parte dos nossos amiigos ji est nos Jardins sem Luz!.. Estou tio emocionado que deves sentir hater meu coragi Depois de vinte anos, aqui estou sentado em tua casa. Quando nos sepatamos, ainda nao estavas casado, e cis que acaticiei teus filhos e tuss flhas! Deste a essas criangas uma educagio perfeita, Sinto que te inclinaste sobre cada uma delas como te inclinavas, outrora, sobre os belos poemas que escrevias Nas proximidades de tua casa, teu filho mais velho m cumprimentou respeitosamente, Perguntou pela minha satide, pela minha familia, pela minha terra natal, Des- calpa-me, crianga, por nio te haver respondido, Eu es- % TURD cutaya 0 murmiirio de um riacho que me conhecett quando eu era pequenino como tu. Nossa velha amizade, Tehang-Tsé, ¢ 0 meu mais precio- s0 tesouro, pois estamos na idade em que 0 passado tem mais perfume que um ramo de lilases em flor: OEMAS CHINESES O vento gelado das montanhas Vuchan desenraiza as érvores, ¢ a implacével inundagio aumenta dia a dia. Nio se distinguem mais nem as montanhas nem a pla- nicie, Nevoeiro ¢ agua afogam todas as coisas, No entanto, florescem os meus tiltimos criséntemos Quando passares, Yung-Hi, para o teu barco diante do mett jatdim ¢ contempla-cs. Teus pensamentos se ilue minarao com suas vibrantes cores. 32 TU FU Minha alm majestade humilhava a montanha Nanchan, Como um. cou naquele palicio de Pong-lai, cuja Léeus desmesurado, sta torre de porcelana jortava’até as uvens, € 0s poctas af tecebiam o orvalho do céu. No ocidente, brilhava 0 lago Yao. No oriente, elevava-se a Porta Han-Kuan, onde se dissipava outrora a nuvem melha que tinha anunciado a chegada de Lao-Tsé Nos jardins de Pong-lai, eu vejo ondularem sempre os leques de plumas cle faisio, resplandecerem as escamas balangar-se a fumaga dos aromas. de ouro do Dragio Naguela época, sentado diante da Porta de Anil, eu co- mandava a ordem das ceriménias, recebia os potentados do Império, presidia as oferendas do quarto dia da pri~ moira lus, Terminada a minha tarefa, compunha versos que as musicistas cantavam no dia seguinte, POEMAS CHINESES Lembro-me também do ditoso vale de Kuan, onde os picos aziis do‘Tchang-nan se tefletem no Merpél trans iil: Colhia-se tanto arroz, ali, que as cotovias tinham sempre a sua paite. © pissaro Pong-huang erwelhecia em paz em suas grandes Atvore , ¢ belas mogas brinca- vam conosco por entre as arvores de canela, Ji entdo o senhor do Impétio se dignata hontar com a sua estima 0 modesto pincel. Letrados ilustres eram amigos meus. Passivamos a noite embarcados, ¢ nessas canges desliz am pela noite amorosa. O igo de Kuan-ming — essa maravilha da época dos Han! Ele via passarjuncos enfeitados com estandartes, ¢ agota nfo & mais que o espelho da Fiandeira celeste, insensivel 2 geada, Seus nemvifares e seus l6tus matizam ainda o véu negro com que o outono a recobriu, esse véu de grfios de Kumi. Mas o vento, em breve, se desfolhars. Estou s6, com meas tristes pensamentos. POEMAS CHINESES Criar uma filha para easisla com um soldado. Antes abandond-la na estrada, ao nascer! Senhor, trancei meus cabelos, no dia do casamento, mas © nosso leito nio teve tempo de se aquecer. Ao cair do sol, tornei-me vossa esposa, ¢ logo nos separamos, as primeiras lezes da aurora! Agora, penso na morte que vos ameaca a cada instante, Vivo em agonis. Men coragio se despedaga Tinha prometido a mim mesma acompanhar-vos pot toda parte... Percebi que a minha presenca vos aumen- taria os cuidados. Nio pronuncicis com muita fieqiiéncia o nome de vos- sa jovem esposa. Esforcai-vos por esquecer tudo 0 que nao seja vosso dever de soldado, 6 TU PU Se-eu estivesse conrosco, senhor, lé longe, entre os vos sos camaradas, talvez a vossa coragem diminuisse. Levei muitos meses a tecer meus vesticos de fino pano, m dtivida, nunca os vestirei, em vossa homenagem. S Renur ici as jOias, as pincuras. Renunciei as flores. Mas contemplo os pissaros que voam aes pares ¢ invejo-os, esposo, quando se poderio encontrar os nossos POEMAS CHINESES Exmpureeis a tremer;a porta da entrada da'minha cass, Bieta engen Alin is nobus ob tetonhecerem. Por fim, langaramn-se ein meus bragos. vimas corviam Nio podiam cter que fosse eu... Suas Lig pelas mangas da minha roupa Ji se havia espalhado a noticia da minha chegada, Al guns moradlores da aldeia, mepados no muro do jardim, me contemplavam com assombro, A noite inteira as luzes ficaram acesas, Meus amigos cereavam-me, Parecia um sonho, Logo que me pude livrar dos negocios piiblicos, voltei para minha aldeia, onde me esperasam minha graciosa mulher ¢ meus belos filhos. A passear com eles pelo campo, recordarei o pasado. Naquele tempo, a guerra ainda nao ensangiientava 0 nosso pais. Naquele tempo, todas as noites, ett ador- mecia feliz, TU BL Hoje, uma tempestade medonha detruba os templos e dlestri os mais humildes laves. Os esposos adormecem, de maos dadas, como para um adeus. © arroz e o levedo tivetam tempo de fermentar na cuba... Transvasai sem demora essa bebida poderosa que nos far esquecer as calamidades acuais! Entrai, meus velhos amigos. Podereis indagar das mi- has viagens... Entra, teremos tages suf Tristemente, Uang- Tsai, dizes que este vinho € fraco.. nao havia nin- Ai de nés! Eu sei por qué. Eu sei qui guém para tratar da vera, pois 0 exéreito do Oriente leyou todos os nossos filhos! sno cruel! Escutai mi- Mas deixemos este vinho de um nihas cantigas, que vos reconfortario. E cantei até de madrugada. Quando me calei, esses ve~ Ihotes, que tudo haviam perdido, sorriam, a claridade amanhecente. POEMAS CHINESES Vi gre como a primavera, Verei nde! Em tedor da minha casa canta um tiacho ale- talvez gaivotas, se 0 vente se levantar, Como jamais recebo visitas, ndo mando varrer as alias cdo men jarcim, Pisareis num rapere de folhas Tei is de desculpar-me pelo modesto almogo que vos ofereco, porque o mercado € muito longe. Acteditai que me esforgarei por dizet-vos coisas agradaveis, para com- pensar a rusticidade da minha mesa. Hesitais? Temeis importunar-me? De qualquer modo, beberemos juntas, ¢ brindaremos com o tinit dos copos por cima da cere; O regato bifurca-se e seus dois bragos formam um anel em redor da aldeia, Minha casa, situada na bifurcagio do regato, & 0 castaio esse ancl de prata, Nela reina a felicidade, As andorinhas constroem os ninhos entre as vigas da minha yaranda. Pousam libélulas nos meus iris, 100 a bruma Comemplo os pomares por onde flucua w azul, Minha bela esposa faz um desenho quadriculado num pedago de pano. Meu filho entorta uma agulha para fazer'm anzol Minha sate nao ¢ formidavel; ¢ s6 tenho ne mentos, de medi 101 POFMAS CHINESES DNhiitdieidessrt/ extendexse umaniddhensquekia pall dite, eichain beloe dehajale biol roeanSanh bi phasielos Sao ilcstre, Bla dererie teinas vans a'vida tanto a maltrarou que ela agora pede asilo as florestas. Uma inundagio de sangue submergia minha pitta Meas irmos foram degolados, Nem mesmo os pu eenterrar, a eles, que eram chefest Tempo de injustiga e de egoismo! Desprezam-se os ven= cidos, voltam-se a8 costas aos aflitos.. desgrasado de vos, se cais! Crer na piedade dos nossos semelhantes € tuma loucura tio grande quanto contar com a chama de tuma candeia exposta ao vento. Como as pessoas do. tempo, meu marido & covarde e Fiaco. Basta-the que sua nova esposa tenha um corpo de jade. No entanto, 0 passaro Yugn nfo abandona jamais a companheital No entanto, os létus noturnos perma- necem insensiveis ao brilho do sol! 102 Tu FU Esposo meu! Os olhos da tua nova esposa te deslum- bram, ¢ seu sortiso te embriaga, ¢ suas cangdes te impe~ dem de ouvir os meus solugos... A Agua de uma fonte da montanha perde a limpide, quando se fiz errante. Encarrego a minha fiel amiga de ir vender as contas dos meus colares, ¢ pego apenas & madzessilva que conserte © meu teto de bambu. POEMAS CHINESES YA vsorreite dattare rgeso:vetioo ulula ned’pinheirbs,/os ratos fogem 4 minba chegada e vio se esconder sob as volhas telhas. Que monarca fez outrora construir este palacio de que nao restam senio ruinas no flanco de uma montanha abrupta Chamas a uladas correm pelo solo. Pereebem-se gemi- dos, estertores. Essas dez mil vozes da nacureza formam tum selvagem concerto que aumenta 0 aspecto tigico do outono, © dono deste palicio possuia belas dangarinas, que hoje sto fria poeira, Possuia cartos, guerreitos. De todo sse fausto, dessa gloria, que ficou? Um cavalo de mar- more que jaz na erva, Quisera fazer transbordar minha tristeza imensa num poema duravel, mas choro —e treme o pincel na minha mito, 108 Una cangao, 20 longes. Hum mendigo: Se ee eanta, esse velhinho que jamais teve nada, por que gemes tty tu que possuis tio belas recordagoe: 10s POEMAS CHINESES Minha barca deslizarépida. Contemplo o tio. HA nu- vens passando pelo céu. A gaa € nbéan uo noite cara, Quando uma nuvem escorrega pot cima da lua, vejo-a escorregar no rio ¢ patece-me que vago em pleno céa Penso em minha amada, que se teflete assim no mew coragio, 106 Ezsperamos pelo crepuisculo para passearmos de barco. Uma leve brisa enctespa a dgua azul © embalo os ne nifares. Pelas margens, por onde chovem flores de cere- jeira, avistamos ternos passeantes. Meus galantes amigos preparam bebidas geladas. As elas mogas cheitam ghicinias brancas. Olho para uma nuyem que paita por cima de nds, Va mos ter chuva, E eu comporei alguns versos sobre a inconstancia da felicidade. 107 POEMAS CHINESES Tice) cera cana daosinhwsintasiaod Bicone apenas um monte de cinzas, no seu lugar. Ca sado de chorar, saltei para uma barca, Per dler esquecer minha magoa no vento maz No yasto mar, numa noite de safira, tomei da minha flauta ¢ toquei, para o Ivar de vero, uma melodia em que solusava toda a minha angiistia, Mas a lua cobriu com um veut seu costo de velhal Voltei para a terra, fai para a floresta, As arvores, desta ved, nfo me responderam! Compreendi que a minha felicidade estava para sempre sepultada sob as cinzas da casa da minha infancia Yoltei pata 2 beita-mar, Estava a ponto de precipitar- me nas ondas quando passow uma barea branea, condu- ida por uma moga 08 O tu que sortiste para mim quando eu sofia! © tu que me salvaste! Reconstruitei no teu coragio a casa da mie nha infancia! 109 POEMAS CHINFSES 0. quando cheguei, interrompendo a lata, galos, aos gritos, preparavam-se para brigar, Voaram logo, assustados, para a rvore E.s6 entao se pode pereeber que eu batia a porta Vi aparecetem trs out quatro velhotes, que me perguntaram se ct vinha de longe. Cacla um trazia na mao sua caneca de vinho que, tutyo a0 derramar, ficava limpido, em seguida. Lamentaram muito que 0 vinho fosse leve Nio havia ninguém para trabalhar nos campos, com tantas agitasSes, os soldados que no davam [rréguas ¢ toda a mocidade na guerra Os velhotes pediram-me que cantasse, depois de beber, ¢ mal puderam conter a sua emogio. Quando acabei de cantar, olharam para o céu, suspiratam e comesaram a chorar. ru FL Lamento pela minka cabana destruida pelo vento do outono No oitaro més em pleno outono, o vento rug ¢ leva num turbilhao as trés camadas de palha da {minha cabana. © colmo voa, atravessa 0 tio, espalha-se pela ribanceira. © que vos alto fica suspenso nos ramos da geande {floresta, 8 ravinas, 6 que voa baixo cai vai girando cair n As criangas da aldeia do sul riem-se da fragueza da [minha velhi tém a audicia de me roubar as claras: abertamente arrancam 0 colmo ¢ fogem por entre os [bambus. Grito até ficar com a boca seca: nio adianta nada, casa, sispito, apoiado ao meu bastfo, Volto pa O vento cessa bruscamente, mas as nuyens continuam, [negras, 9 céu de outono ¢ silencioso e escurece com o vit da (tarde. POEMAS CHINESES Os lengSis e cobertas sto velhos, frios como ferro, as criangas, sensive ‘oni repugnaneia, rasgacam-nos a [pontapé Todos os leitos do aposento sto timidos: no ha um sinto edibras nas pernas, nio as posso estendon, AMlijo-me, lamento-me, durmo muito pouco, a noite ¢ longa ¢ timida, como a poderei passar? Quem pudesse construir um vasto edificio com [milhates de pesas, imenso, que protegesse todos os que tm frio no mundo, deixando-os de rosto feliz! © vento ¢ a chuva nio 0 poderiam destruir: seria s6lido como uma rocha. Aide mim, quando chegara o momento de ver de [tepente essa casa aparecer diante dos meus alhos? Minha cabana desmoronou-se, Aqui you morrer do [fio que entra, E tudo estar’ bem Indice de titules e prineiros versos LIPO A dangarina mies a agida 69 A meu amigo Wang-Luen 02 A we bolded A volta da felicida Babe soz nar 3 0 har 36 Cameo da tris Gangs do rie 75 Canto de Cars Colbena de Com 19g na i, in a lua Hest a Daspedida Acompanba terra 7 res cers 66 dy va sanigs) 40 Diigo n Diante do vinbo 48 Dinisflantas 58 anha 48 Fin Nanguion 67 Fudelidade 53 Fim de tit Filauta, a neite, om Lo-Vang 38 Carga branca Lombrangas. 54 Lenga viagen: 63 Margens do rie wo stone 38 Meie Mela Melenvolie (Lamwente) 44 No palicio de Tebao-Yang 57 cola dos degrans et No Nore © pouibiodeporlana O peseador 75 Os corvos ercitam na noite 32 Passio enristeido. 04 Ponsanientos da primavera 38 Prazer do mercador 49 Prazeres de uma notte de vero 92 Prazercs do polio 45 Quis da primavera 50 Resordapio na cata da noite 29 Reiriéo de aaiges (Vile samistosa) 47 Rosa verndha Rutnas de Su-Tat 61 » Uin dia de primavera 63 POEMAS CHINESES TU EU Minha bares desea. 106 Atorreme saltae ruge,.. 108 Nio me tragam mais flores, Criar una filha... 96 a7 Desi rever a casa... 108 Nan vale desert, 102 Fry casa de mew amiga O ago de Keanming «, 98 Tebeng- Ti, lntrads do pais Os galos, aos gritos, .. 110 & We) 90 Os perfumes da primavera Empante, a tremer ». 98 8 Esperamos pelo crept Oatrora, ium palicio .. 89 107 O vento gelado 92 Lament pele sninba cabana Poona de Tu Tu a Li Bo ss desteuila plo vents do outone Parma de Tu Fu e Li Po 86 11 Se ew estvesse convosca... 97 Lembro-me também. Una cangio, 20 longe.. 105 Minha alma .. 98 Vineet. 100 4 te Hf imps ma cic: de Sto Pao, cen agosto cde 1996, pola Geatica Hib pura a Edzora Nova Front (tipo wxado no teto fo Centaur. no compo 13,5/20. ‘Os folios oo mick eda cap fora ei is Minson Tipografa Edo Lic, ‘Opopel do miclog polen bold Op, canto sen 2503, eodacs ‘Nao encontrando exe lv aa vasa, pedir polo Reembolso Pos LEDITORA NOVA FRONTERA Fu Busbiea, 25 —Boratogo 51-050 — Rio de Jairo, RU Brasil cesas ¢ inglesas, primordialmente, sobre o complexo ¢ requintado licismo da China ducante a nossa Idade Média. Inédito até agora, este conjunto de cerea de setenta poemas — de aproximags tuma litiea a rigor intraduzivel — vem enriquecer a bibliografia bra- sileira sobre a poesia oriental, re- yelar um aspecto pouco ou nada conhecido da grande poctisa bra- sileira ¢ oferecer ao leitor os ele- mentos recuperiveis de um lirismo extremamente rico em ressonin- cias e sinest » distante © proxi- mo de nés ao mesmo tempo, pelo que tem de longinguo na sua six tuagio histérica © génese verbal como pelo que tem de universal ¢ perene como est in © experiéncia humana Tstragio da exp Orquiden, bolo chinée ds belezs

You might also like