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12.0 AMBIENTE DA REVOLUCAO INDUSTRIAL epois da metade do seculo XVII, a revolucao industrial muda o curso dos acontecimentos, na Ingla- terra e mais tarde em todo o resto do mundo. Na Introdugao, a revolugao industrial foi enqua- drada entre as passagens fundamentais da historia humana: a revolucdo agricola neolitica e a revolugio urbana da Idade do Bronze. Agora precisamos descre- ver suas conseqiiéncias sobre o ambiente construido, Vamos relacionar rapidamente os fatos principais, que influenciam a ordem das cidades e do territério: 1) O aumento da populagao, devido a diminuicao do indice de mortalidade, que pela primeira vez se distancia decididamente do de natalidade ina Ingla- terra 0 indice denatalidade permanece quase constan- te ap redor de 87 por mil; 0 indice de mortalidade diminui de 35 por mil —por volta de meados do século XVIH — para 20 por mil na metade do século XIX). Por isso eresce o nimero de habitantes(na Ingla: terra de 7 milhdes em 1760 para 14 milhées em 1830); eresee a duragao midia da vida (de cerea de 35 anos para 50 e mais); modifica-se.a estrutura da populacio, porque aumenta 0 nimero de jovensdevido a queda da mortalidade infantil, Mas sobretudo rompese 0 secu- lar equilibrio entre geracdes, porque cada uma ocupa- va o lugar das anteriores e repetia o mesmo destino. Agora, cada yeractio se encontra numa situagao nova, e precisa resolver novos problemas. 2) 0 aumento dos bens e dos servicos produzidos pela agricultura, pela indastria e pelas atividades ter clartas, por efetto do progresso tecnologico e de desen- volvimento econdmico, Q aumento da populacdo e 0 aumento da produgao se ligam para formar umcirculo ascendente: os habitantes mais numerosos exigem bens e servicos mais ebundantes, que permitem um aumento ulterior da populaco; os bens e os servigos disponiveis em quantidads © om qualidade superior fazem aumentar a qualidade de vida das classes so- ciais, e produzem a busca de outros bens mais abun- dantes e mais diversos. 8) A tedistribuigao dos habitantes no territério, em conseqitencia do aumento demograficoe das trans- formacdes da producdo. Os camponeses cultivadores diretos se tornam assalariados, ou operarios da indtis- ria, e se transferem para onde existe disponibilidade de forea motriz para os estabelecimentos industriais, isto & nas proximidades dos cursos de agua e depois — ‘apés a invengfio da maquina a vapor —nas vizinhan- as das jazidas de carvao. Os estabelecimentos ien- dem a concentrar-se em redor das cidades; deste modo, as cidades crescem mais rapidamente do que orestan- te do pats, porque acolhem seja o aumento natural da populacao, seja o fluxo migratorio dos campos. Manchester, que em 1760 tem 12,000habitantes, na meiade do século XIX aleanga 400.000. Londres, que ja no final do séulo XVIII tem um milhdo de habitantes, em 1851 chega a dois milhdes e meio, isto 6 supera qualquer outra cidade do mundo antigo ¢ mederno. 351 4) O desenvolvimento dos meios de comunica- Ao: as estradas de pedagio, construidas com os méto- dos desenvolvidos por Telford e Macadam; os eanais navegaveis, construidos na Inglaterra de 1760 em diante; as estradas de ferro, introduzidas em 1825 e difundidas rapidamente na Inglaterra e em todos os outros paises; os navios a vapor, que no mesmo perio- do tem condigdes de substituir os navios a vela. Estes meios permitem uma mobilidade incompa- ravelmente maior: todas as mercadorias, mesmo as pesadas e pobres, podem ser transportadas para os locais onde sao solicitadas; as pessoas de todas as classes sociais podem fazer jongas viagens, ox morar num lugar e trabalhar em outro, deslocando-se a cada. dia ou a cada semana, 5) Arapidez.eocardter aberto destas transforma- g6es, que se desenvolvem em poucos decénios (dentro do arco de experiéncia de uma vida humana) e nao levam a um novo equilibrio estavel, mas deixam pre- ver outras transformagies cada vex mais profundas e mais rapidas. Nenhum problema jamais é resolvido definitiva- mente, earranjo nenhum pode valer por tempo indeter- minado, mas somente por um periodo que se deve aprender a calcular, Um edificio nao mais éconsidera- do uma modificacio estavel, incorporada no terreno, mas um manufaturado provisério, que pode ser aubsti- tuido mais tarde por outro manufaturado. Torna-se possfvel, assim, considerar um terreno edificével um bem independente, com seus requisitos econdmicos devidos 4 nosicda. A nroenra,ane vineulas vagulaman- tares etc. 6) As tendéncias do pensamento politico, isto é,a desvalorizacdo das formas tradicionais decontrole pi- blico do ambiente construide (os planos urbanisticos, 08 regulamentos etc), que sio considerados sobrevi- vencias do antigo regime; ao mesmo tempo, a recusa de aceitar as dificuldades do ambiente como fatos ine- vitaveis, ¢ a crenca de corrigir os defeitos atuais com uma acdo calculada. Os economistas ensinam a limitar a intervengaio piblica em todos os setores da vida social, e também no urbanistico. Adam Smith aconselha os governes a vender os terrenos de propriedade piblica, para pagar suas dividas, Estes conselhos sio recebidos de bom grado pelas classes dominantes, que tém interesse em fazer valer, também no campo imobiliario, a liberdade da iniciativa privada, isto é, tém condigdes de aprovei- tar a desordem urbana sem sofrerIhe as conseqllén- cias, Mas algumas desvantagens de ordem fisica (0 congestionamento do tréfego, a insalubridade, a feit- va) tornam intolerdvel a vida das classes subalternas, © ameacam, a partir de cerlo momento em diante, 6 ambiente em que vivem todas as outras classes: Por isso, os representantes iluminados das classes domi- nantes, como os representantes das classes subalter- nas (0§ radicais e os socialistas) propdem novas for- mas de intervencaio pSblica, ou para corrigir separada e gradualmente os inconvenientes individuais, ou pa- ra recomecar desde o inicio, contrapondo Acidade exis. tente novos tipos de conjuntos habitacionais ditados pela pura teoria, Na primeira metade do século XIX, osdefeitosda cidade industrial parecem por demais numerosos incomuns para que possam ser eliminados compleia- mente. Entre a realidade e o ideal a diferenca parece impossivel de ser preenchida, Dividiremos, pois, nossa eemnsigha arn Anes partes, o dossweveremes necks eapt tulo: La realidade: 0 ambiente da cidade ¢ as prim: ras tentativas para melhoré-lo com reformes setoriais; Il. as alternativas para esta realidade, idealiza- das nos livros e postas em pratica como experiéncias excepcionais, longe das cidades existentes, Fig. 1136. A ponte suspensa sobre o Bstreitode Conway, construlda por Thomas Telford em 1826; gravura da época, Fig. 1187. A nowa paisagem da cidade industrial gravure de A. W. Pagin, de 1841. Figs. 1198-40. A estrada de ferro Londres-Birminghars,em constr ‘980 em 1836; 08 carves de seguranea. deprimeiraclasse usados nas esiradas de ferro da companhia Great Western, na Inglaterre, em 1839; 0 Vagio de Teresira Classe, quadro de Honoré Daumier. 553 ipdo de King's Cross em : & = Leaman game anh ‘idade, ou a marcha dos tjolos da cal; gravura de George Cruike Fig. 1142. Uma alegoria da clade industrial: Londves aaindo da jank, de 1828, he Fig. 1141, O exterior ¢ 0 interior da enta Londres, construida em 1850. Fig, 1148. Ouira alegoria da cidade industrial: O céu ea terra: B ‘muito bem viver com aarrecadaco das taxas,mas 60 ciabo ter de pagélasl; gravure de Rotert Seymour, de 1850. 5B Figs, 1144-46. Um bairreelegonte de Paris: rue de Rivoli, inieiada por Napoleto Ie completada na primeira metade do século XIX. Todas a8 cosas tém uma fachada uniforme, desenhadas pelos ar uitetos Percier e Fontaine, eimposta por regulamento ds constra- Bes seguintes. ‘Figs. 1147-60. Um bairro elegante de Londres:0 arvanjo de Regent Sirect e de Regent's Perk, projetado por John Nash em 1813 € Ralizedo entre 1420 ¢ 1880, As duas gravuras mostram dota tre. hos de Regent Street, o curva perto de Piccadilly Circus ¢ 0 retlt- Geo de Portland Place. Embeixo, 0 trabatho dos garotos nasminao inglesas do mesm. periodo. 558 Figs. 1161-64, Viata do centro de Londres, publicada em 1851 pela firma Banks & Co: 0s monumentos, as’ casas e as oficinas sé0 ‘misturades numa desordem inexiricével, & S ig, 1155, On baron pobre de Londra, nb on vada ferovi- Ra 3: grauura de Gustave Doré de ‘Figs. 1168-60, “Uma cidade erst em 1440 e em 1840"; duas grasu- ras de Pugin. ig, 161, Um arapo de estabelosimentoainduaras ingles cabo. tao pl ria lento Seine a cde ab vingén, de 218 [teeny oh 8) Mien | ib i i | nt Hi | | ‘ig, 1162 Uma chops coerria para nove pasos, vista em Glas. Fg 168. Os pobres de Londres; uma vinheta de Punch, de 188 gow em 1948. Fig, 1164. Um grupo de casas operarrias (h) com latrinas exter- Fig. 1165. Os mortos de célera no distrito de Soho em Londres, em nas (1) em Nottingham, tirado de ume comissao de inquérito setembro de 1854; mapa desenhado pelo Dr. John Snow. em 1845 if es patio 1 Fontes pleas Lewis st mane orton pla ler stops | sone Les sa WARRINGTON st wi) ake RaNcurre st Fig, 1186, Oe tugirios de Parodise Rou, em Londres, ers 1853 Fig. 1187. A painagem deserita por Engels em 1845,aindaexistente ras perifera das grandes cidades contemporénens, bb4 O crescimento rapidissimo das cidades na época industrial produz a transformacio do nticleo anterior (que se torna o centro do novo organismo), e a forma- ‘cho, ao redor deste mticleo, de uma nova faixa construi da: a periferie O niicleo tem uma estrutura j4 formada, na Tda- de Média ou na Idade Moderna; contém os principais monumentos — igrejas, paldcios — que muitas vezes dominam ainda o panorama da cidade. Masnao pode sem mais tornar-se 0 centro de um aglomerado huma- no muito maior: as ruas s4o demasiado estreitas para conter o trinsita em anmanta, ag encaa fin damasia. do diminutas e compactas para hospedar sem incon- venientes uma populacio mais densa, Assim, as clas- ses abastadas abandonam gradualmenteo centro se estabelecem na periferia: as velhas casas se tornam casebres onde se amontoam os pobres e os recém- imigrados. Entrementas, muitos odificios monumen- tais da cidade historica — palicios nobilidnrios, con- ventos ete, — so abandonados por causa das revo lugGes sociais, e sio divididos em pequenas moradias improvisadas. As zonas.verdes compreendidas no organismo antigo — os jardins por trés das casas em fileiza, os jardins maiores dos palacios, os hortos —séo ocupadas por novas construgdes, casas e barracées industriais, Os efeitos destas transformagdes se somam ¢ se Wan mais graves pur volla de uieadus du séuuly XIX. Bisa classica descrigo do centro de Manchester, publicada por Engels em 1345: Na cidade vetha]as runs, mesmo as melhores, sBo estreitas € tortuosas, cs casas suas, vethas, em rainas,¢ 0 aapecto das ruae laterais # absolutamente horivel(.); s4o o8 restos da uelha Man- chester préindustrial, ewios antigos habitantes s¢ tranaferiram, ‘com seus descendentes, para bairros melhor constraldos, deixando ‘2s casas, que ve inham tornado pera eles demasiadamente miserd- tela, par uina raga de operdrioefortemente misturada com eangue Frlandée, Aqui estamos num bairro quase que exclusivamente ope- rério, poraue também os lojs e as taberuas no se dao ao trabetho ide parecerem um pouco asseadas. Mas isto ainda ndo é nada em comparagto com at vielas eos patios que se desdobram por trés elas, e aoa quais ne chega somente por meio de estretas paseagens cobertas através das quais nao passam nem duas pessoes uma ao ado da ouira, &diftelimasinar a degordenada mistura das casas, ‘que roca de toda urbantatice racional,camontoamento, pot ext00 literalmente encostades umas ds outros. E aculpa ndo ¢ somente dos edificios que sobreviveram aca velhoe tempos de Manchester: ‘em tempos mais recentes a confusdo chegou co maximo, pois onde {quer que houvesse um pedacinho de espaco entre as conatrugbes da Gpoce precedente, continuowse a constrair e a remendar, ate rar de entre as casas a titima polegada de terra livre ainda suscetuel de ser uilicada. Para confirmar isto, anexo uma pequens parte da planta de Manchester; ainde nao £a parte maisfeiae nde represen- ta.nem um décimo de toda a cidade velh. ‘Este eaboge € suficiente paracaracterizara absurdaurbantati- ca de todo o bairro, especialmente perto da rio. A margem meridio~ nal é muito mais cecarpada e tom a altura de quinze a trina pés; sobre eat ingreme declive sto construtdas pelo menos tes fileiras de casas, dag quais a mais baixa se erque quase imediatamente fobreo rio UP, Bagels, A Situacdo da Classe Opertria na Ingleter ra — (18465), trad, it, Roma 1985) A periferia ndo é um trecho de cidadeja formado como as ampliagdes medievais ou barrocas, mas um temit6rio livre onde se somam um grande nimero de iniciativas independentes: bairros de luxo, bairros po- bres, indistrias, depésitos, instalagdes técnicas. Num determinado momento estas iniciativas se fundem num tecido compacto, que nao foi, porém, previsto e calculado por ninguém. Na periferia industrial perde-se a homogeneida. de social e arquitetonica da cidade antiga. Os indivi duos e as classes ndo desejam integrarse na cidade como num ambiente comum, mas as varias classes sociais tandem a se estabelecer em bairros diversos — ricos, médios, pobres — e as familias tendem a viver o mais possivel isoladas. A residéncia individual com jardim — reservada antigamente para os reis ¢ os nobres — 6 agora acessivel (numa versdo reduzida) ‘a08 ricos ¢ aos médios burgueses, e 0 grau de indepen- déncia reciproca se toma a marca mais importants do nivel social: os ricos tém casas mais isoladas — vilas, ou vilazinhas —, os pobres tém habitagdes menosiso- Jadas: casas em fileira ou moradas sobrepostas em edificios de muitos andares. ‘As ilustracies (Figs, 1144-68) mostram exem- plos de bairios ricos ¢ pobres. Pois faltam os regula- ‘mentos ou esto em desuso, a qualidade das moradias, mais pobres pode piorar até ao limite suportavel pelos trabalhadores mal pagos. iayu/-THMNa4 Fig. 1168, Uma parte do centro de Manchester. Grupos de espectiladores se encartegam de cons- tmair estas casas, umas poueas por vez ou em grandes, conjuntos, tendo em vista apenas obter o lucro méxi- mo: 0 operdrio, que recebe um salério apenascompati- vel com a sobrevivéncia, deve usar parte' dele para pagar o aluguel, e o proprietério, que construin uma casa 0 mais apertada possivel e com os materiais de qualidade inferior deve conseguir um lucrosuperior 20, custo de construcio. O encontro destas duas exigén- cias determina o cariter da casa e do bairro, ‘Acasa, por sua vez, pode também ser melhor do que a cabana onde a mesma familia morava no cam- po! of muros sdo de tijolos em vez de madeira, a cober- tuxa 6 do ardésia endo de palha,a mobilia coe corvigos ‘#80 igualmente primitivos ou ndoexiste, Mas.acaba- na tinha muito eepago ao redor, onde os refugos po- diam ser climinados com facilidade e muitae fungdes, — a cringiio de animais, o trénsito dos pedestres ¢ dos, carros, os jogos das cxiancas —podiam desenvolver so a0 ar livre sem demasiados estorvos entre si, Agora, 0 agrupamento de muitas casas num ambiente restrito, impede a eliminagio dos refugos ¢ o desenvolvimento das atividades ao ar livre: ao longo das ruas correm o8 exgotos descobertos, se acumulam asimundicies, enos mesmos espagos circulam as pessoas ¢ os veiculos, vagueiam os animais, brincam as criangas. Além do mais, os bairros piores surgem nos lugares mais desfa- vordveis: perto das indisirias e das estradas de ferro, Jonge das zonas verdes. As fabricas perturbam as ca- sas com as fumagas € 0 ruldo, poluem os cursos de ‘Agua, ¢ atraem um trinsito que deve misturar-se como das casas. Engels assim descreve os bairros periféricos de Manchester: A cidedenova se estence pare além da cidade vetha, em cima de uma colina argilosa entreo Irk e St. George's Road. Act termi- nna toda apartncia de cidade;fileivasindividuaie deeovas ou grupos deruss estio esparsos aqui acolé como pequencs aldeias sobreo despido terreno argiloso, onde ndo eresce nem um fio de relua; ‘casas estac em péssimo estado, nunce consertadas, suis, dotades de moradies ein sdtdes émidos e insalubres; as ruas ndo estio ‘ealgadas nam tm canaisdeescoamento, mas horpedam wm ser- nndmero de cot6nias de porecs, encerrados em pequenos pitios ou livres para passear pele declive. Bstas ruas so do lamacentas que ‘somente quando 0 tempo € muito seco-se tem alguma possibiidade de atravessd-lss sem afundar até wos tornoeeloe a cada paseo. Vimon cama ne cidade welhe fol a puna neaen gua provi n ‘agruparento das casas, Cada case éconstrutda sem levar absoli- tamenteems conte as outras cases, eos pequenas cuntos livres entre ‘cata habitecao, por falia de outro nome, sao chamados patios. Nos Dairros perféricos, encontramos um maior esforgo de siatemati dail. Ovspaco entre duas rues édivididoem pétios mats regulares, ‘na muir parte das vers de forma quedrada, aproximadamente este Lea: p00 assim disposios desde o inicio e aos quais se chega, das rues, através de passagens cobertos. Mas se a disposigeo absolutamente destituida de um piano jé era ido neviva & sede dos habitantes ‘Derque impedia a ventilagto, este modo de encerror os operériog am ‘pétios cereados por todos 08 iadas de construebes 0 € muito mais, O ‘ar néo pode absolatamente sair dat; as prépries chaminés das ‘casas, enguarto 0 fogo € mantido acoso, consttuem a tinea via de ‘salde’ para o ar vicindo dos patios, ‘Bim dpoeas mais recentes pasvon a ser adotado outro modo de ‘construir, que se torncu agora geral. As casas operdrias no mais ‘do construtdes individualmente, mas quase semprepor dazias, ou ‘aos montoes; um s6 empresario constrot wa ou mats rus por bez, Estas oo entéo digposias da seguinte moneira: urs lado constitu do peas casas da primeira fer, qu stot fertunalas por or uma porta posterior e um pequeno pétio, pelas quais épedido wn ‘aluguel dos mais altos. Por trés do muro dos patios destes casas ha uma viela epertada, a rua secundaria, que ¢ obetrulda por constr $800 nate duno exirensidaden ¢m qund dovennbeatatradiert ae ‘esireito bees ox wma passagem coberts. Aa cases quedo pare este beco pagar um nluguel menor que os outros, e geralmente s¢0 08 ‘mais deslecxadas. Flas tém o muro posterior ere comurm com & (ereeira fleira de cosas, que olhan do lado opotso para 2 ria, ¢ Pagan um aluguel inferior ao ds primeira filera, mee euperior Co dda segundo. Bis, mais ou menos, 0 dispasieto das ruas erie fibre de tase, a ced via Flas, 1169-70. Detathes dos novos bairros de Manchester: esbocos ‘anes ao livro de Engels Com este sistema de ccnsirupdc, a ventilagto das casas ca primeira fileire bastante boa, ea das casas da tercerafileira pelo ‘ments no # plor emcompararao com es constragoze correspordlen- toe do vstho sistema; masa fileie central & mal ventidada palo ‘menos tonto quantoas casas dos pétios, ea rua secundaria &sujae esquélida no menos que os préprios patios. Os empresérics prefe- rem este sistema de canstruedo porque poupa espaso e consente explorar ainde mais oF operdros mois bem pagos, medianie os ‘alugusie meio altoe dae cevas da primeira e da verecira filirs. Estes empreendedores, em parte para nde diminuir ov lucras que thes derivam dos alugutis, em parte porque se aprozina 0 momento da restituigdo do terreno onde surgem as consirusdes, {gastan pouco ou nadaemreparos; por cause das crises comersiais ‘pelo conseqilonte desemprego, muitas wzee ruasinteirae perma necern desertas, eem conseailéncia disto as casas desmororam bem depressa.e ve tornam inabitéves Big, de fato, a deserig&o de um bairro de easas degradedas: Nuima depretedo bastante profuade, eircundada por altas fabricas. poralias maraens cobertas de construedes¢ de aterros 8 Jantam em dois grupos verea de 200 casas em sua meioria com a ‘parede posterior comum duas a duas, onde moram, no total, cerca fie 4.000 pessous, quase todas ilandesas. As casas sao vethas, tuias edo tipo menor, av rues sao desiguaie, choiaa de buracoe com parie ndo ealeadas ¢ deatituldas de canalizacto. Lixo, refuses € ldo neuseante sdo esparsos por ioda parte en enormes quantida: ties, no meio de pocas permanentes, a atmosfera ests” pistada pursues exalagdese turcada epolulda por una dizia de chanines lume massa do mulhorea e de criances eaferrepadas vagueie pelos tarradores,suias como os porcos que se deleitarn sobre os montes de ‘naas e nas pocas Fig 1171. Una “aldeia de harmonia e de sooperagto”; esboco ‘anexado ao relatério de Owen, de 1817. Este ambiente desordenado e inabitavel — que chamaremos de cidade liberal — é o resultado da su- perposiciio de muitas iniciativas piblicas ¢ particula- es, ndo-teguladas e ndo-coordenadas. A liberdade in- dividual, exigida como condicao para odesenvolvi- mento da economia industrial, revela-se insuficiente para regular as transformagies de construcdo e urba- nismo, produzidas justamente pelo desenvolvimento econdmico. As classes pobres sofrem mais diretamen- te os inconvenientes da cidade industrial, masas das- ses ricas ndo podem pensar em fugir deles por comple- to, Por volta de 1830 o célera se espalha pela Europa, vindo da Asia, e nas grandes cidades se desenvolvem as epidemias, que obrigam os governantes a conigir pelo menos os defeitos higiénicos, isto é, a se chocar com o principio da liberdadede iniciativa, prociamado na teoria e defendido obstinadamente na pritica na primeira metade do século, ‘Na Inglaisiwe, um grape dé incionsiies's da homens politics radicais promove uma série de inqui- sigdes sobre as condighes de vida nas cidades (publica- das em 1842, 1844, 1845, e utilizadas por Engels fem seu livro }é citsdo). Os piores detalhes sobre as casas ¢ sobre os bairros operdrios so apresentados & opinido pablica, que reage e reclama uma intervene: mas s80 necessarios anos de discussdes ecirradas pa- ya se votar a primeira lei sanitéria, no verdo de 1848. Na Franga, durante a Monarquia de Julho, os inquéritos sobre a vida dos operirios sao feitos pelos grapos de oposicdo, socialistas © catélicos; somente depois da revoluedo de 1848, a Segunda Republica aprova a lei sanitaria de 1850. Estas duas leis — eas aprovadas em seguida na Italia (1865) € nos outros Estados europeus — serao utilizadas na segunda metade do século XIX para ad- ministrar a cidade pés-liberal, da qual iremos falar no proximo capitulo. 1 No duro apés-guerva de 1815 em diante, nascem algumas propostas revolucionérias, politicas e urba- nisticas, para mudar ao mesmo tempo a organizagao social e a organizacio dos conjuntos habitacionais. A sociedade tradicional produz.o dualismo entrecidadee campo, a nova sociedade deve produzir um conjunto habitacional novo, de medida calculada, intermedia- ria entre uma cidade e uma herdade: bastante pequeno para ser organizado de modo unitario, mas bastante firande nara tornma rida eran fimnioa aentturaleamnle- ta, suficiente a si mesma. Robert Owen (1771-1858), um rico industrial in- glés, propde dispor um grupo de cerca de 1.200 pessoas num terreno agricola de mais ou menos 500 hectares. ‘As habitagies formarao um quadrado; trés lados s20 destinados as casas individuais para os casais e os filhos com menos de trés anos; 0 quarto lado, para os dormitérios dos mogos, a enfermaria e o albergue para 0s visitantes. No espaco eentral sao previstos os edifi- cios ptblicos: a cozinha com 0 restaurante comum, as eseolas, a biblicteca, o centro de encontro para os adul- tos, as zonas verdes para a recreacdio ¢ os campos esportivos. Ao longo do perimetzo externo, os jardins das casas e um anel de ruas: mais além, os-estabeleci. DOT Mig. 1172, 4 aldeia a ser construlda em Harmony, em Indiana, por iniciativa de Owen; gravura publicada em 1825. mentos industriais, os armazéns, a lavanderia, a eer vejaria, o moinho, 0 matadouro, os estabulos e os edi civs rurais. Faltam os tribunais e as prisdes, porque a nova soctedade nao tera necessidade deles (Hig. 1171). Este plano € apresentado entre 1817 182) a0 governo central ingles ¢ as autoridades locais, mas sem sucesso, Owen tenta po-lo em pratica por conia propria na América: compra, em 1825, um terreno em Indiana, onde deveria ter surgido a primeira aldeia- modelo (Fig. 1172), mas teve de adaptarse a uma aldea Ja existente, e a experiéncia fracassa algunsanos de- pois, Charles Pourier (1721837) & um eseritor, que publica na Franca durante a Restauracdo a descricio de um novo sistema filoséfico ¢ politico. Ele classifica as “paixdes” que produzem as relagies entre os ho- mens, ¢ projeta um grupo suficiente para ativar todas estas velacies, formaclo por 1.620 pessoas de diferente posicdo social, estegrupo —chamado Falange —deve- 4 possuir um terreno de uma légua quadrada (250 hectares) ¢ morar num grande edificio unitario, 0 Falanstério, Fourier descreve-o minuciosamente: é um paldcio monumental em forma de £2, eomo Versailles, com um patio central e varias patios menores. Qandar térreo ¢ interrompido pelas passastens para deixar en- trar as carrocas, ao passo que no primeiro andar cor- rem as galerias cobertas que poe em comunicacdio to- dos os outros loeais, substituindo as ruas. Os adultos séo alojados nos apartamentos do segundo edo tercei- roandar; os mocos sao concentradas no mezaninoe os héspedes lozo abaixo do telhado (Figs. 117374) Este modelo, mesmo que engajado, exercen uma faseinacis extraontinérin em muitos paises; as tenta- 508 livas de polo em pratica sao cerca de cingtlenta, na Franea, na Russia, na Argélia e na América, entre 180 e 1850. Mais tarde, duranie o Segundo Império, um industrial de Guise, Jean-taptista Godin, reanza para seus operarios um edlificio mais modesto, inspira- do no Falanstério de Fourier, que ele chamou Familis tério (aqui cada familia tem'suas acomodagoes parti- culares}. 0 edifico principal compreende trés blocos fechades de quatro andares, ¢ os patios de tamanho modesto, cobertos por vidragas, fazem as vezes das tuas interas. Os servieos — as escolas, 0 teatro, a lavanderia, os banhos piblicos e os laboratdrios —'se eneontram em alguns edificiosacess6rios, e oconjunto «stitisolado num parque, circundado pela enseada de um rio (Figs. 1176-82), Apés 1880, a fabrica e o Pami- listério so administrados por uma cooperativa dos operarios. Estes modelos — irrealizaveis na primeira meta- de do século XIX, e superados pelo debate politico da, segunda metade do séeulo — sao 0 contesriotesricoda cidade liberal; de fato, deslocam o acento da liberdade individual para a onganizacao coletiva, e t@m em vista resolver de forma piiblica todos ou quase todos os aspectos da vida familiar e social. Nascem do protesto pelas condicies inaeeitiveis da cidade existente, e pro- curam pela primeira vez romper seus vinculos recor rendo A andilise e A programagao racional: slo miiqui nas calculadas para aliviar o homem do peso da organizacio fisiea tradicional, queretarda as transfor- macdes politicas e defende 0 sistema dos interesses existentes. Antecipam, portanto, — como tentativas, iscladas — a pesquiss eoletiva da arquitetura moder na que ter’ inicio no séeulo eeguinte Fig. 1173, Planta esquemética do Falanstério de Fourier, extratia da descriedo de 1841: em preto, as ruas internas sobreelovadas, Fig. 1174, Seceto esquemética do Falanstério de Fourier - - 1 afro unt pao apd 2 2 2 rerio de igan Cn one , 8 tatoo como apstr don ge [Sse toon a aes oa cas t > ‘4.80 ins internoe FB ontenda pelt Paso 5,50 ¥, Zedidon aston Fig. 1175, 0 Falanstério, na interpretasdo do jomalista emericano Albert Brisbane. 56Y Fig. 1177. Planimetria do Familistirio de Guise em seu extodo ‘sual, | ‘Figs. 1178-79. Planta e seccto do corpo central do Femitistér. ig, 1180. Vista do pétio ccberto de vidror, em seu catado otual. ile (91-1182. Vista a vdo de pasearo do Familisterio e vista {interna do jardim de infncia; gravurae publicadas por Godin em 1870.

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