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— 289 — A organizagiio actual da policia em Minas Let N, 30, DE JULHO DE 1892 Uma policia preventiva e repressiva, vigorosamente or- ganizada, com poderes que sejo a um tempo assaz ex Tensos para proteger todos os direitos e contidos em li- mites tio justos como claramente tracados para nto offendel-os ; uma policia que, pelo caracter imparcial de suas funcgdes, extranhas as lutas partidarias, pelo seo pes- soal escrupulosamente escolhido, por sua aptidiio e probi- dade, pelo numero ¢ estreita ligacio hierarchica de seos agentes, possa satisfazer 0 seo verdadeiro fim, que é, como diz Mittermayer, 0 de inspicar um temor salutar aos ini- migos da ordem’e a confianca a todos os bons cidadaos uma policia como essa, constitue uma das reformas mais essenciaes 4 efficacia da legislacdo que se destina a garantir aseguranca de todos os direitos, 05 da sociedade e 03. dos individuos, e, portanto, indispensaveis a0 bem ser € a0 adiantamenito do nosso’ paiz. O funccionalismo de nossa policia administrativa e ju- diciatia nao esta collocado pela lei ultima na altura de seos importantes deveres. A lei da reforma judiciaria de 1871, separando a policia da justiga, que até certo ponto se confundido nas mios de agentes amoviveis do poder administrativo, os quaes exer- lio actos proprios somente do poder judiciario, reduzio as attribuigdes do funccionalismo creado pela legislagao de 1841, mas deixou-o na mesma situacdo em que se achava pelo ‘vicioso systema da escolhado pessoal ¢ da gratui- dade dos cargos, exceptuados osde chefe de policia. E* manifesta a inefficacia desse systema para se obter um pessoal capaz de dard policia a forca que ella deve ter para Preencher 2 sua missio. Repugna 4 béa organisacio de uma policia_preventiva repressiva um systema que exclue, pelo caractet instavel € gratuito das funcedes, a acquisigao das aptiddes necessa~ Fias aoseo desempenho eque faz presuppor, para a escolha do pessoal, antes a confianga politica do que a confianga moral, o que é seinpre um texto para as accusacGes dos partidos, que veém nas autoridades policiaes os agentes dos interesses dos que exercem o governo, em yez de inarro : vous 58 ra — 290 — agentes de um poder tutellar, como ¢ 0 da policia que cor= responde ao seo papel, limitando a sua acgio aos meios pro- prios para prevenir ou reprimir os factos perigosos ou pu niveis. io se pode comprehender uma policia efficaz em wna sociedad j& adiantada sem wma organissefo forte, sem um pessoal nfo sé numeroso como s#rio, que inspire o res: peito e merega o apoio da confianga publica, $6 assim ella pode ter aacgGo rapida ¢ precisa, que € a condigso de seo Successo, ser a*guarda vigilante da seguranga social, da vida ¢ da. propriedade dos cidadaos, e estar constantemente i sua disposigho para prestar-Ihes o8 seos utels servigos. ‘© mecanismo da policia deve, pois, ser organisado de modo tal que a sua acco se mova’em toda a parte sem embaraco ¢ com seguranes para obstar os projectos criuninosos ou, ao menos, para reprimir sempre os que forem consummados, tirundo aos seos autores toda a espe tanga de poder illudil-a, cao mesmo tempo senso contida em uma sabia inedida para nfo atacar arbitrariamente os mesmos direitos que ella se destina a proteger. Exelue assim e:sencialmente a policia de win paiz livre tudo quanto posse convertel-a em aria politica, porque ella se propde, uio a servir quaesquer interesses ou odios partidarios, mas a velar attentamente pelos direitos da so- Giedade e de cada um dos cidadios, Se a reforma judiciaria de 1871 ¢ a actual tiverio em vista dar d policia preventiva repressiva o seo verdadeiro caracter, snpprimindolhe as funccées que a coufundiso com a justica, © pelus quacs exercia um poder abusivo jue a fazia degenerar em instrumento de partido, é pr ciso, para que essa policia possa corresponder ao fim que Se quiz realisar, repdr ao seo servico um funccionalismo severamente escelhido pela sua intelligencia e honestidase, devidamente remunerado, e munido dos poderes necessa- rigs a0 cumprimento de sua missio. Nio deixamos de reconhecer que o fenccionalismo wido pela Lei de 3 de Dezembro de 1841 ¢ conssrvado pela recente reforma, offerece um aystema harmonico, ci que todas as pecs ‘se ajustio habilimente ara um resul- tado commum, Ahi, desde o centro, onde esté a intelli- gencia que delibera ‘e di imputso, até os poutos interme: diarios ¢ inferiores, occupados pelos agentes que devem executar o pensamento director e fazer activa a vigilancia da policia, ha verdadeira unidade ¢ harmonia, Os funceion: 10S, aSsuz NUMCTOLOS, nfo S6 se distribuem por todo o paz — 21 em circumscripgdes correspondentes aos seos cargos. como se unem por grdos successivos na hierarchia. Porém, esse organism, alids bem combinado, nao produz o dese- judo efleito em razio do mui defeituoso meio pelo qual se adquire quasi todo o pessoal quedevepol-oem movimento. Os cargos de delegado ¢ subdelegado de policia, ¢ os de in- spectores de quarteirio, além de ndo serem estaveis, nao sao retribuidos nem sujeitos ds condicdes proprias de uma catrcira. OS delegados e subdelegados, por si e por ses agentes, silo os fUnccionarios ineumbidos de fazer geral, activa ¢ immediata a vigilancia da policia. As suas func ‘es Iles impde o dever de observar attentamente todos os fuctos que possio interessar a seguranga social e indi dual, aitm de tomarem as precaucées mais opportunas ¢ acertadas, ¢ de proceder a todos os actos necessarios 4 pre- vengio ou 4 repressio do crime. So, portanto, esses func~ cionarios os olhos ¢ os bragos da administracto policial, assim como da justica repressiva, Essa importante e deli- cada tarefa, capaz de absorveraactividade de quem aeserce, néio pode ser confiada sé ao patriotismo dos cidadaos, ¢ prova 6 que os cargos policiaes sio considerados apenas como um onus, a que poucos se sujeitio hoje de béa von« tade, sendo por isso exercidas sem constancia e sem habili- dade pelo maior numero, ao qual fora inutil activar pelo receio da responsabilidade, que nulla, Comprehende-se a fraqueza de uma policia exercida por agentes que, embora scjzo numerosos e collocados em tolo 0 territorio, nio ligdo aos cargos, que accidental mente occupto, o profunco sentimento do dever que elles impdem, e que acho os mais faceis pretextos para esquivar- se de seo desempentio ou para deisal-os, quando se estimuta asua actividade. ‘Si se quer seriamente organisar em nosso paiz a policia para a prevencio ea repressdo dos crimes, é preciso consti- tuil-e uma funcedo retribuida, sujeita'a condigdes de adinissio ¢ estabilidade ¢ a uma tesponsabilidade real, em ‘orciem 2 escolher-se um_pessoal especialmente habilitado eque se colloque na _posigdo de inspirar o respeito ¢ a con~ fianga 4s populacdes. Usna tarefa difficil, meritoria e até perigosa, como €a de conter ou, ao menos, reprimir os malfeitores, s6 poderd ser satisfactoriamente ‘cumprida se a clla se dedicarem homens habeis e digaos, que por esse meio achein um emprego util aos Seos servicos, assim como um poderoso estimulo di consideragio publica, A Ingiaterra, cujo povo suby coneiliar admiraveimente, — 22 — pelo seo senso pratico, as garantias da liberdade com as exigencias da defeza social, €o paiz que tambem olferece um modelo na vigorosa organisacio de sua policia. A forca da policia ingleza resulta destes dous elementos : a rapidez de Sua acedo-e a multiplicidade de seos recursos. Com a instituic&o dos Constables, que seha desenvolvido e ge- neralisado, funccionande hoje nfo s6 em Londres, como em diversos estados, a policia comprehende um pessoal de agentes tio numeroso como apto e experimentado, que se ramifica € se liga estreitamente pela hierarchia e a disciplina, podendo assim assegurar toda a elficacia is primeiras investigacdes ¢ @ descoberta dos crimes. Com fessas forcas sabiamente organisadas € com recursos que jamais faltao, a policia na Inglaterra facilmente reulisa a prizio dos culpados, procede a exames, buscase outros actos para indagar e surprehender os delinquentes, ¢ reune as Provas que devem ser produzidas peranteos magistrados. E’ tambem essa poderosa organisacio da policia que torna exequivel o principio do processo criminal inglez, fandado no. systema accusatorio, de que 20 queixoso ou accusador incumbe offerecer todas a provas e estabe- lecer, por seospropriosesforgos,as buses de sua accusagio. Concorre isso grandemente para fortalecer a acco da ‘po- licia, que combina a sua acco com a das partes lezadas, reguitando dali uma reciproca assistencia entre ella e 08 cidadios, que continuamente se auxilido para a descoberta das provas. Apreciando o vigorogo mechanismo da policia ingleza, que presta os mais assignalados servicos, Mittermayer ob- servou que os seos agentes sfo investidos de poderes mais extensos do que em qualquer outro paiz. As razdes que, se- gundo esse autorisado escriptor, explicio esse fcts, achéonse 1. Sobretudo no modo severo pelo qual se faz a escolha dos Constables, que s6 sfo nomeados definitivamente depois de experimentir-se sua aptidao por certo tempo de prova ; 3."'No caracter que mantem seos agentes como auxils res da justica, 0 qual, nfo permittindo tornal-os instramen- tos dos partidos ou do poder, Jhes trazo dever de se conte- rem na missdo de assegurar a ordem, de proteger as pessoas © a8 propriedades, ede cooperar efficezmente para a des- coberta dos crimes. Isso Ihes dd a estima do povo, assim como 0 concurso voluntario dos cidadgos para auxilial-os em Seos actos 5 3. Nas instrucgdes que hes tragdo claramente a linha — 293 — de sua conducta ¢ Thes impSem o rigoroso dever da prudencia e da moderacio para nao suscitarem conflictos com os cidadaos ; 4-0 Na responsabilidade illimitada pelos seos actos ; quer para com 08 Seos superiores, quer para com os cidadaos ; 5. Finalmente, no conhecimento notorio que adquirem nas suas relacdes com os individuos sobre os quaes exer cem ordinariamente a sua acco de vigilancia, em ordem a poderem com promptidao e sagacidade rastrear os crimes € descobrir os delinquentes. Os principios da organisacfo aperfeicoada da policia in- gleza merecem ser estudados, senio para imital-2, 20 menos para melhorar-se a nossa Considero uma reforma essencial a de instituir-se um systema em que 0s cargos policiaes, ao menos os de delega- fo e subdelegado, scjao retribuidos segundo permittirem as circumstancias do estado ; em que se estabelecdo diversas regras de admisso, pelas quaes se possa fazer uma escolha eserupulosa dos homens aptos e de inteira probidade, con- sultando-se, no as opinides politicas, mas 0 caracter moral ¢ as habilitages proprins para funccGes que devem ser exercidas com intelligencia e imparcialidade ; em que se as- segure dquelles funccionarios certa estabilidade, porque, supposto sejfio naturalmente amoviveis, devem todavia estar garantidos contra o arbitrario ; e em que, finalmente, se 05 sujeite a uma repressio inflexivel por todos os actos que comprometterem a dignidade e autoridade moral de suas funcedes. Com esa reforma penso que a nossa policia administra» tiva receberd um grande melhoramento, collocando-se na posieo que Ihe cabe, e como o exigem o$ interesses da so- ciedade. Monte Santo, 6 de Setembro de 1892. Severtno Evrocio Riseimo pr RezENDE

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