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Mitos Tucanos 4.

Gastos com o funcionalismo: uma comparação entre Lula e FHC

Guilherme Santos Mello 1

Talvez o maior mito eregido acerca do governo Lula ao longo de seus 8 anos seja o
de que teria expandido os gastos do setor público de forma descontrolada através do
crescimento indiscriminado dos gastos com pessoal. Para melhor nos contrapormos a este
mito, faremos uma análise acerca da pretensa elevação dos gastos com pessoal, que levaria
a deterioração das contas públicas e a degradação da composição dos gastos públicos.
Concentraremos esforços em demonstrar que o governo Lula, ao invés de elevar os gastos
com pessoal, na realidade logrou reduzi-los como proporção do PIB, além de realizar a
expansão do investimento público, que se elevou em todo o período, alterando
positivamente a composição dos gastos totais.

Conforme pode-se observar no gráfico 1, o governo FHC inicia sua gestão com os
gastos com pessoal e encargos sociais em torno de 5,1% do PIB. Com o fim da inflação, a
retomada de taxas de crescimento econômico ainda baixas porém mais elevadas e uma
política deliberada de arrochos salariais para o funcionalismo público, os gastos com
pessoal e encargos/ PIB se reduziram para algo em torno de 4,3%. A partir de 1997, no
entanto, com as consecutivas taxas baixas de crescimento do produto somados a um
recrudescimento dos gastos com pessoal, esta relação volta a se elevar para a casa dos
4,81% do PIB em 2002, último ano de gestão tucana. Onde esta o pretenso “ajuste fiscal”
tão propalado pelos tucanos? Certamente não nos gastos com pessoal.
O governo Lula, que tem inicio em 2003, logra reduzir rapidamente esta relação
para novamente algo em torno de 4,3% do PIB, mantendo este patamar até 2008, ano da
crise financeira internacional. A manutenção dos gastos de pessoal como relação do PIB
em níveis mais baixos demonstra não apenas o contrário da tese difundida pelos tucanos
de que o governo do PT teria sido “gastador e irresponsável”, como também denota a
conciliação entre a preservação do peso relativo desses gastos e a recomposição dos
salários do funcionalismo, arrochados desde o primeiro governo FHC. Ou seja, temos a
preservação da participação de Pessoal e Encargos no PIB, mas esse último cresceu cerca
de 37% em termos reais durante o período permitindo a recomposição dos primeiros.

1
Doutorando em Economia da UNICAMP.
Gráfico 1 – Evolução dos gastos com pessoal e encargos sociais / PIB

A partir de 2008, verificou-se uma elevação substancial da relação em questão,


decorrente da manutenção do ritmo de crescimento dos gastos com pessoal e encargos
apesar da queda acentuada do PIB, compondo assim uma estratégia contra os efeitos
deletérios da crise econômica. Com a retomada do crescimento em 2010, pode-se observar
novamente uma queda no patamar desta relação para a casa dos 4,6%. Mais uma vez, onde
esta a tão propalada gastança do dinheiro público com pessoal e encargos, tese tão cara à
oposição?

Por fim, é fundamental frisar que, além de realizar uma redução da relação gastos
com pessoal/PIB, o governo do presidente Lula também conseguiu ampliar em 1,2% do
PIB os investimentos públicos totais, capitaneados pelo crescimento dos investimentos das
empresas estatais (esta modalidade de investimento elevou-se significativos 0,8% no
período de 2002/2010), denotando uma melhoria substancial na qualidade do gasto
público e crescentemente retomando o papel do Estado como gerente e investidor na
estrutura econômica nacional. Com programas como o PAC 1 e o PAC 2, a recomposição de
diversas carreiras e setores de planejamento no serviço público, além de diversos
investimentos produtivos das estatais, o Estado Brasileiro vêm retomando sua capacidade
de planejar e investir, gerando emprego e renda e servindo como um incentivador e
direcionador para o crescimento do setor privado, sem com isso perder o controle das
contas públicas. Isso denota que, sob o ponto de vista estrutural, estaríamos passando por
uma alteração substantiva na qualidade do gasto público, mantendo os gastos com pessoal
sob controle e elevando a participação do investimento público.

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