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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS CENTRO DE ESTUDOS CLASSICOS RECEPCAO DE JOAO CASSIANO E REFLEXOS NA FORMACAO DA LINGUAGEM LITERARIA PORTUGUESA EDICAO CRITICA DO. ESTABELECIMENTO DOS MOSTEIROS DE JOA CASSIANO (o1s., LISBOA, BN, ALC. 384) Volume 1 ‘Tese apresentada A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para obtengo do grau de Doutor em Estudos Literdrios ~ Literatura Latina por Maria Joao Toscano Rico Bolseira do Fundago para a Ciéncia ea Teenologia, Sob orientagdo do Professor Doutor Arnaldo Espirito Santo LISBOA 2011 Resumo. A tradugio portuguesa do Estabelecimento dos Mosteiros (ms. Lisboa, BN, Ale. 384), além de tinica no espago ibérico medieval, apresenta uma enorme relevaneia pela relagiio intertextual que mantém com © capitulo 99 do Leal Consellwiro de D. Duarte, sendo, sem diivida, um corpus representativo, no s6 do estado da lingua portuguesa do. principio do século XV, mas também da pratica da tradugdio medieval. No sentido de recuperar a teoria da wadugSo subjacente a essa_pritica, proporeiona-se uma visio de conjunto dos testemunhos greco-fatinos que sublinham o papel da aemulatio e dos testemunhos patristicos que visam a tansmnissto fiel do texto, relacionando estas tradi¢Ges com a teorizagdo humanistica de Alfonso de Cartagena Leonardo Bruno Aretino, contempordneos de D. Duarte. A recepeito do texto de Cassiano no meio claustral e extra-claustral portugues & determinada pela mediagao do tradutor ao nivel da interpretarao do comtetida € ao nivel da reorganizagio discursiva do texto na ‘lingua de destino’, raz8o que justifica uma abord: m metodolégica que tenha em conta esta dimensio comunicacional, quer na avaliago das escolhas do taduor pela fidelidade ao ‘texto de origem’ ou pela adequagio do ‘texto de destino’ ao contexto cultural do receptor, quer na apreciagdo da consisténcia da textualidade do ‘texto de destino” PALAVRAS-CHAVE: TRADUGAO PORTUGUESA MEDIEVAL, TEORIA DA TRADUCA, RECEPC: 0 TEXTUAL, EDIGAO CRITICA DO ESTARELECIMENTO DOS MOSTEROS DE JOAO CASSIANO (MS., LISBOA, BN, ALC. 384), LING (1420-1433), \A PORTUGUESA MEDIEVAL DO SECLLO XV. ABSTRACT The portuguese translation of the Estabelecimento dos Mosteiros (ms. Lisboa, BN, Alc, 384), besides being singular in the medieval iberic space, is extremely relevant by its intertextual relation with the chapter 99 of D. Duarte's Leal Consetheiro, being, undoubtedly, a representative corpus not only of the portuguese language status in the beginning of the XV century, but also of the medieval translation practice In order to recover the subjacent translation theory to that practice, a global approach is provided, relating the greek-latin practices that emphasize the role of the aemulatio and the patristic practices that aim at the faithful transmission of the text with the humanistic theorization of Alfonso de Cartagena and Leonardo Bruno Aretino, both contemporaneous of D, Duarte. The reception of Cassian’s text in the portuguese inner and outer cloister ambiencies is determined by the translator mediation through the contents interpretation and the discursive reorganization of the text in the ‘target Ianguage, a reason that justifies a method which takes into account the dimension of that communicability, either by the evaluation of the translator options regarding the fidelity to the ‘source text, by the adequation of the “target text’ to the cultural background of the receptor, or by the appraisal of the textuality of the ‘target text’ KEYWORDS: KEYWORDS: MEDIEVAL PORTUGUESE TRANSLATION, TRANSLATION THEORY, TEXTUAL RECEPTION, CRITICAL EDITION OF THE ESTABELECIMENTO DOS MOSTETROS DE JOAO CASSIANO (MS., LISBOA, BN, ALC. 384), MEDIEVAL PORTUGUESE LANGUAGE OF THE xv™ cenTURY (1420-1433) Tudo é graga de Deus. Agradecimentos Quero agradecer a todos os que estiveram presentes na minha vide, ao longo destes anos, ¢ me ajudaram a coneretizar este trabalho. Ao meu Orientador, Professor Doutor Arnaldo Espirito Santo, expresso a minha gratiddo pela amizade e acompankamento cientifico, ao Professor Doutor Paulo Simes Alberto pela atengdo e confianga A minha querida Familia, agradego todo o apoio e incentive dado, em especial, aos meus pais, Armando e Maria Inés, & minha madrinha, Maria Teresa, € aos meus filhos, Nuno e Francisco. Ao Servico de Empréstimo Interbibliotecas da Faculdade de Letras, pela disponibilidade e simpatia com que sempre acolheram os meus pedidos, ¢ a dois amigos, Filipe Avelar e Manfred Ott, pela preciosa ajuda. Volume! INDICE, RECEPCAO DE JOAO CASSIANO E REFLEXOS NA FORMACAO DA LINGUAGEM LITERARIA PORTUGUESA, 1 Ambito da Tese Il, Fundamentos da teoria da tradugio quatrocentista portuguesa TIL. A Recepeio das Institutioney de Joo Cassiano 1. De acto principatium uitiorum remediis 1.1, Apresentagao da obra... 1.2. Uitia et remedia 2. A tradugio portuguesa medieval de Joao Cassiano .. 2.1, Circunstancias da tradugao 2.2. Acgio do tradutor 2.2.1, Fidelidade e Adequagio 2.2.2. Textualidade 3. A linguagem da tradugio 3.1, Formagao e consolidagao da lingua portuguesa 3.2, Autonomia de lingua e influéncia do modelo latino... 80 91 oO 159 159 173 4, Neologismo ALL. Afixagiio 4.1.1, Derivagio 4.1.2, Modificagao 4.2, Empréstimo, 5, Latinitatis Imitatio IV. Reflexos na formacio da linguagem liferiria portuguesa V. Bibliografia 1, Textos LL, Fontes manuseritas 1.2, Fontes impressas 1.2.1. textos de Joo Cassiano 1.2.2. textos latinos e gregos 1.2.3. textos verndculos 1.2.4, documentos 2. Inventdirios, eatdlogos, concordineias ¢ outros livros de referéneia, 3. Estudos 189 189 189) 193 194 229 233 233 233 233 233 233 235 239 239 242 Siglas ¢ abreviaturas = | anterior Cidice alcobacense Biblioteca Nacional Conlationes, de Joo Cassiano (ed. Petschenig) edigao / editor Estabelecimento dos Mosteiros (Ale. 384) falio/Telios De institutis coenobiorum et de octo principalium wifiorum om. = | omissio Ppp pagina(s) SCC ~ |= | Santa Cruz de Coimbra si = | sine loco Sa = | sine nomine ss = | seguintes ST = [source text (= “texto de origem’) t = | iomo 1T |= | target text @ “texto de destino”) Var Variante vol. = | volume Critérios 1. As citagdes do texto latino seguem edigao critica de Petschenig, cujo pas identificado enire tragos obliques //, € apresentamse entre aspas baixas « ». 2. A colaciia entre a edigio critica de Petschenig e os testemunhos portugueses (Ale, 363 € $.C.C. 43) é assinalada sempre que implicar alteragaio na Ieitura do texto. 3. A tradugio da minha autotis encontra-se entre colchetes 1, Ambito da Tese Em meados do século passado, Nogueira’ definia como objecto da sua tese a determinagao da «linha de evolugdo da prosa portuguesa na Idade-Media» pela andlise de textos representativos da prosa medieval. No entanto, embora reconheca a importincia da literatura mondstica, desvaloriza completamente @ especificidade dos textos oriundos do processo de tradugao ¢ a influéncia que esta actividade possa ter exercido no desenvolvimento da claboragio discursiva ¢, consequentemente, na evoluedo da prosa portuguesa medieval ‘Anos mais tarde, Camargo” analisa a prosa medieval portuguesa emergente, a partir de uma tradugto do século XIV da Regra de S. Bento, mas, ainda que apresente uma exaustiva deserigdo de aspectos gramaticais dessa sineronia da lingua portuguesa. perde-se, no conjunto, a relagio que 0 texto tem com 0 modelo latino. Partindo da consideragio de que a tradugio constituiu uma actividade de exttuordindria relevancia no plano cultural e linguistica, nfo se podendo ignorar a importincia do seu contributo para o desenvolvimento das potencialidades expressivas € literdrias de uma lingua, a presente dissertagio fundamenta-se na conjectura de que a tradugZo de textos latinos foi determinante para a evolugao da linguagem titerdria portuguesa, na medida cm que bencficiou o enriquecimento lexical, a estruturagio de conceitos, a organizagao do discurso € a interiorizagdo de modelos retéricos e literdrios. Importa, pois, especificar os problemas fundamentais que emergem do ambito desta tese, de modo a delimitar o campo de anélise, a determinar uma orientagio tebrica © metodotogi coerente e funcional, ea estabelecer critérios valoratives para as categorias seleccionadas. © corpus utilizado 9a andlise textual compreende a tradugto portuguesa quatrocentista® (Esrabel mento dos Mosteiras, Lisboa, BN, Ale. 384} do De institutis " Noaueies, Maria de Lourdes Bettencourt de S&, 4s corremes do prosa medieval pornguesa, Lisbes {su.}, 1943 (Disseriagdo de Licenciatura em Filologia Rominica apresentada 4 Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), * Castano, Cacilda de Oliveira, 4 Formagéo da Prosa Pormguesa: A Prosa de Traduoio: “‘Regra de Sao Bento’ (sec. XIV), Ataraquare: {sa.], 1973 (Tese de Doutoramento apresentada 20 Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Lewas de Araraquata) AN presente dissertagao, dando continuidade ao trabalho iniciade em &mbito de Mesirado, completa a ‘digo erties do Ale. 384 (BN, Lisboa), com a edigdo dos Livros V-XIL. Cf. TOSCAND RICO, Maria Jodo, “A tradugio portuguesa medieval do Estabelecimento dos Mosteiras de Joao Cassiano (ms., Lisboa, BN, Alc, 384): contributes para o estudo da formaglo de uma lingua literaria”. Lisboa |sn}. 2000 W coenobiorum et de octo principalivan uitiorum remediis de Jo8o Cassiano, tendo por base o respectivo texto em latim’, cujo modelo se procurou entrever pelo estudo das Variantes dos dois testemunhos medievais portugueses’, cotejados com a edigto eritica de Petschenig, no intuito de aprender as condigdes subjacentes & recepeo do texto de Cassiano, © De institutis coenobiorum et de octo principalium uitiorun remediis & uma obra composta de duas partes que cirvularam separadamente até finais do séeulo VIL tendo sido posteriormente reunidas por se complementarem a nivel de contetido, Com efeito, nos Livros 1-1V. 0 autor apresenta elementos da tradigfio mondstica oriental, oferecendo uma imagem do monge ¢ um quadro de organizagao monéstiea gue, baseados no modelo apastilica, sirvam de proposta & institucionalizagao dos mosteiros da Gitia. Nesse sentido, enuncia as caracteristicas de que se deve revestit a este mondstica, estabelecendo uma relagdo com os elementos que constituem o habit dos monges egipeios e a respectiva significagao espiritual: de seguida, justifica o oficio divino da noite praticado no Egipto, bem como o oficio de dia observado na Palestina na Mesopotimia; por fim, explica como se processa a iniciagtio dos monges na vida monéstica e 0 propésito de edificagiio do espirito na viewude Em contrapartida, nos Livros V-XII, 0 autor oferece um plano de aperfeigoamento espiritual que consiste na progressio da virtude pela eliminagiio dos vicios de gula, luxtivia, avareza, ira, tisteza, preguica, vangliria e orgulho. Trata-se, portanto, de um texto fiterdrio de canieter religioso e de fungzio didictica, uma vez que define, expde, descreve, explica e exemplifica contetidos telativos & espiritualidade mondstica, mediante mecanismos linguisticos ¢ retdricos ajustados ao discurso peda 2égico. Um problema que se oferece € a representatividade deste texto no espago ibérico medieval. Se se considerar esta breve lista de tradugées de Joi Cassiano realizadas para romance, pereebe-se que a tradugdo das Insrinutiones constitui um caso isolado no (Disseriapao de Mesteado em Literaturas Clissicas apresentada & Lisboa). Para todos os efeitos, seguimos o texto latino da edigdo critica de Michael Petschenig (Cassianus, lohannes, Opera, recensuit et commentario critica instraxit Michael Petschenig, CSEL, vol. 17, pars 1 Pragac, Vindobonae: Tempshy; Lipsiae: Freytag, 1888), Contudo, também consultémos 0 aparato critica da edigao de Jean-Claude Guy (CASSIE, Jean, Jastiutions cdnobitiques, texte latin revu, introduction, ‘waduction et aoies par Jean-Claude Guy, Paris: Cerf, 1965), além dos eédives alcobacense (BN. Lisboa, Ale. 363) ¢crizio (BPMP, Porto, cid. 786, clim 43 de Santa Cruz de Coimbra). * Toscano RICO, Maria Jo20, “O modelo da tradugdo pomguesa do Estabelecimento dos Mosteiras (Lisboa, BN, Ale. 384)", estado em vias de publicaglo, 18 iculdade de Letras da Universidade de espago portugués‘, ainda que eros atribniveis a distracgdes de copia atestem a existéncia de um modelo anterior. Nao se pretende tecer consid goes sobre a qualidade de um texto que pode consistir apenas nam rascunho de suporte & escrita, mas este dado confirma a suposicao, ‘outrora pressentida por Dionisio’, de que as difereneas textuais entre 0 Alc. 384 e 0 Leal Conselheiro supunham uma fonte comum. Os testemunhos da tradugio das Jnstinuiones Sto © Portugués, XV, Lisboa: BN, Ale, 384" + Portugués, XV, capitulos 9-13 das Instindedes IX (anid 19271 BITAGAP), incluido no capitulo 18 do Leaf Conseiheiro (f. 20rv)? 4» Poruaués, XV, capitulo 7.1-2 das Jnstiaicdes VI (anaid 19258 BITAGAP), incluido 20 yo capitulo 99 do Leal Consetheiro (f. 93 + Portuguts, fins XV, Lisboa: BN, Ale. 212" (cépia do Ale. 384) ‘© Portuguts, XY, Lisboa: ANTTY Arquivo Distal, eapa do Livro de Notas 56 [ectual 70] (14- (07-1609), Cartorio Notarial de Torres Vedtees!* Nao ha vestigios de tradugio do De Incarnatione Dei'*, enquanto as Collaiiones'* foram largamente traduzidas: em aragonés. a partir do séeulo XLV, ¢ em cataltio, castelhano e portugués, a partir do século XV, + Aragonés, 1300-1400, Salamanca: Universitaria, 2025" ‘+ Aragonés, 1388-1401, Santander: Menéndez y Pelayo, M-15 (= 3)"* “ Fora co espaco ibérico, surge, em finais do séoulo XV, uma tradugdo italiana em Florenga do Livro IV as Insinitones. Cf. MANUSAICCU (Censimento. dei manoserith elle biblioweche italiane), Istinto Centrale peril Catalogo Unico dalle Biblioteche laiane per le Informazioni Bibliografiche, Biblioteca Medicea Laurenziana, Firenze, Red 79 (£154r-1681).Disponivel em www: . Diowts¥0, Jako. D. Duar, fetor de Cassiano, Lisboa: [sm], 2000 (Disseriagto de Doutoramento em Literatura Portuguesa apresentada & Faculdade de L.ctas da Universidade de Lisboa), pp. 63-64 “Biracar, Manié 1106; Lishoa, BN, Ale. 384 " BmacaP, Manid 1154: Paris, BN, Richeticu, Fonds Portugais 5 ® BiracA?, Manid 1154: Pari, BN, Richelieu, Fonds Portas S "Bin \GAR, Mani 1115: Lisboa, BN, Ale, 212 "CE imventrio, Cartirio Notarial de Tarves Vedras, Lisboa: ANTT / Arquivo Distrtal de Lisboa, 1995: Liveo de Notas nf 70 caixa 17, BiTAGAP, Manid 4319 (Descoberto por Pedro Pinta em 2009-04-21 idemificada por Harvey 1 Sharrerem 2009-06-01), No Horvlegitm Fidei de frei André do Prado (ca. 1380- post 1450), ocore uma referéneia a esta obra 4e Cassiano, no segundo capitulo do proémio. CL. DiONisio, Jodo, ap cit. p. 53. Fora do espago ibéric, surge, em finais do séeulo XV, uma tradugao italiana: British Library, Ad 22775 «EL libro dele colation’ di Sancti Padri conposto dal sapicntissimo et clarissima Abbate Johanni Cassiano" an Kalian transition of he Coflaiones Pairam of St. Joan Cassian, Paper: in double colums: XVih cent. Quarto.» CE. Disponivel em www: “URL: hitovwwwsbluk> ° era, Manid 3175: Salamanca: Universitaria, 2025. 19 Aragonés, 1400-1500, San Lorenzo de El Esvorial: Monasterio, S.L13 7 1400-1500, San Lorenzo de E! Escorial: Monasterio, 1014 # Aragon’ + Aragonés. XV, Guadalgjan: Bibl. Publica Provincial, 4” ‘+ Aragonés, XV, Biblioteca Real, Madrid: BN, 447 (B-103)"" © Aragon, * Catalao, XV, Madrid: Nacional, 10265 °° © Castethano, XV, Madrid: Nacional, 3639 * Castetiano, XVI, Madrid: Nacional, Ms’61 Portugués, XV, BN, Lishos, Ale, 385 * + Portugués, XV, BN, Lisboa, Ale, 386" # Portugués, XV fins, BN, Lisboa, Ale, 213 + Portugués, XV", BN. Lisboa, 1 fotha de guarda do Ale, 384 XVI, San Lorenzo de El Escorial: Monesterio, hlV.2 + Portguds, XV, BN, Lisboa, bfélio usado na reencademagio do Ale, 420° + Portugués, XV, ANIT, Fragmentos. Caixa 21, 1.2, Folio soto” + Portugués, XV, ANT. Fragmentos. Ceixa 21, 0.18 (Copa do Livro $99: Livro de “Reveta @ despesa geral” do tesourein do S, Ofieio, Mendes Botelho, 1562, Case Forte, Inguisigne de Evora)” © Portugués, XV, ANTT, Fi wementos. Ceixa 21, n.19 (Capa do Livro 600: Livro de “Reccita © espesa do Tesoureiro do S, Ofcka de 1563 em diante, Casa Forte, Inqwisigio de Evora)? + Porugués, XV, capitulo 3 da Colapdo VE (anaid 19260 BITAGA?) incluige no capitulo 43 do Leal Consetheiro (f 41-420)" \- Mand 1698: Santander: Menéndez y Pelayo, M-175 (= 3) Manid 1700: San Lorenzo de El Escorial: Monasterio, $..13, Manid 1699: San Lorenzo de El Escorial: Monasteria, dll 30. ’3, Manid 2275: Guadalajara: Bibl. Piblica Provincial, 4 Manid 1235: Biblioteca Real, Madrid: Nacional, 447 * Bera, Manid 3606: San Lorenzo de El Escorial: Monasterio, hIV.28 ® Barc s, Manid 1090: Madrid. Nacional, 10265, > BETA, Manid 3666: Madrid: Nacional, 3639, Bera, Manid 3741: Madrid: Nacional, Mssft (A % BITAGAP, Manid 1109: Lisboa, BN, Ale. 385. * Brraca?, Manid 1110: Lishos, BN, Ale. 386 * BryacaP, Manid 1029: Lisboa, BN, Ale. 213. * Biragap, Manid 4095: Lishoa, BN, Ale. 384 (Localizado por M. Schaffer € A. Askins em 2008-0: ¢ demtificado por Jodo Dionisio em 2008-05-27), ® NASCIMENTO, Aires Augusto € GOMES, Saul AntOnio, S. Hicemte de Lisboa e seus milagres medievals, Lisboa: Edigdes Didaskalia, 1988, p. 21; «A encadernagio actnal é tazdia e apresenta os planos de cartio recobertos a pele tutada de negro. Aquando da reencademagao fai utlizade para wuarda iniial um bifelio saido de um eédice com as Collationes de Cassiano (bifolio exterior do <. III, como se reconhece imediatamente pela assinatura © pelo thule corrente); anote-se, de resto, que tal bifblio foi coloceda invertido no sentido da altura.» * ASKINS, Arthur ef alif, Fragmentos de Textos Medieveais Portugueses da Torre do Tombo, Lisbos: Instituto dos Arquivos Nacionais ! Torre do Tombo, 2002, p. 44: «Colago XxxIv, eapitules 26-28)s, BiraGaP, Manid 3405; Cuma 19242, Thidem, p. 39: «Cologdo XX, capitalos 14-17)», BITAGAP, Manid 1839; Chua 10866 © fbidem, p. 1S: «Colagdes (XI: 16-17 © XIV: 7-8)v. BITAGAP, Mani 1164, * BITAGAP, Mani 1184; Paris, BN, Richeliew, Fonds Postugais S 20 4) 28 + Poruigués, XV, capitulo 8 da Colao XX (anaid 19261 BITAGAP) incluido no capitulo 42 do Leal Consetheira (fs, 42v-430)* Para além do contexto em que se realizou a traducao, ¢ necessario ter em conta o parentesco entre a ‘lingua de atigem’ (source language - SL) e a ‘lingua de destino (target language - TL) ~ 0 latim e 0 portugués. Como € sabido, o primitivo romance galego-portugués, formado no norte (Galécia Magna), durante © period suevo, e fevado para sul no tempo da Reconquista’, pertence ao mesmo continuum linguistico do ‘latim falado popular’, devido a um processo de distanciamento, por oposigo 2 outros romances que surgiram no decurso do dectinio do Império Romano, em virtude de o ‘latim falado popular” ja apresentar tendéncias especiais nos diferentes territérios Cireunstancias histéricas provocaram a separagio politica entre o condado da Galiza e 0 condado de Portugal, bem como a fragmentagio linguistica entre o galego e 0 portugués, levando o galego perder «pr essivamente 0 estatuto de lingua culta € fiterétian, por causa da supremacia politica de Castela sobre a Galiza, enquanto 0 portugués passou por um processo de elaborago legitimada pelo prestigio do latim: 0 dialecto centto-meridional elevou-se acima da variedade dialectal associado & classe social com poder e prestigio, ¢ a sua codiicagao e divulgagao, por intermédio do ensino © da aceitagdo da comunidade, permitiu o nivelamento linguistico € a constituigto de uma norma, favorecendo a aquisi¢ao do estatuto de lingua”. No entanto, ainda que o ‘latim falado popular’ constitua o seu substrato Tinguistico, o processo de elaboragio do portugués desenvolve-se pela proximidade com ™ Bracar, Manid 1154: Paris, BN, Richelieu, Fonds Postugais 5 % CasTRO, INo, “A elaboragio da lingua portuguesa, no tempo do Infamte D. Pedro”, Biblos, vel, 69, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1993, * houRatann, Christine, “Les formes du latin dit "vulgaite": essai de chronologie et de systématisation de Ppoque augustéenne aux langues romanes", Sep. Révwe des études laiines, 1. 29, Paris: Klincksieck, 1955, pp. 9-10: «On est actuellement d'accord pour adimeme que le schema waditionnel d'un latin volgaire, qui était un et qui se décomposa a un moment donné dans les langues romanes diverses, ne comespond pas a la réulité historique. Il aut plutdt se figurer un processus de différenciation qui est nargué, dés fe commencement, par des tandances asnérales qui se manifestent surtout le teritaire de Ia langue Tatine, et par des tendances spéciales qui se manifestent dans différents domsines. Quant 2 ces tendances spécieles, il faut comprer avec un processus lent qui cominence sur ehaque teritoite spécial ds Je moment oi Ie latin ya &té import. différenciation qui est définie par des facteurs speciaux pour chaque tenitoire: Ie substrat, la date de la colonisation romaine, la position sociale des colonisateurs, l'isolement de tel ou tel domaine, Pexistence de bilinguisme, Minfluence possible de superstrats, ete. Ces tendanees de dlfidrenciation s eccroissent avee ia diminution du pouvoir centralisateur de Rome.» © CanpeiRa, Esperanca, Entre 0 Portugués Amigo eo Portugués Clissico, Lisboa: Imprensa Nacional ‘Casa da Moeda, 2005 21 © modelo cultural veiculado pelo ‘Jatin literdrio™™*, cuja codificagtio apresenta caracteristicas menos inovadoras e mais normativas. Por esse razio, convém wr em consideragao as duas vertentes do processo de elaboraedo: uma linguistica, fundada na constituigio da norma (padrio), outra literéria, fundada na adopg20 de madelos literarios e retéricos latinos. Por seu tumo, enguanto o portugues se tomava a lingua de presti io, 0 restrito cireulo senhorial e ecle istico com poder e cultura encontrava no ‘latim literirio” 0 modelo” necessério a estilizagdio do portugués, ¢, embora a interiorizasio das regras tenha atravessado momentos menos inovadores, 0 portugués desenvolvia um estado normative, pela hierarquizagio de elementos ¢ selecg%o de variantes, ¢ recebia, mediante @ tradugio do latim, um vocabutirio técnica necessirio & comunieagio de realidades espirituais, filos6ficas, literarias e cientificas .... bem como uma estrutura retdrica indispensivel exposigo e argumentagio das ideias No entanto, a Tinguagem do texto é condicionada nfo s 6 por aspectos sociais ¢ culturais, mas também pela disponibitidade lexical da linguagem do wadutor constituida pelo vocabuladrio conhecido e utilizado, apesar de determinada pelo ‘texto de 4 origem’'' ¢ pela comunidade, cuja influéncia se divisa igualmente nas escolhas realizadas pelo tradutor™, Além dos problemas filolégicos enunciados, a tese conceme, fundamentalmente, a0 Ambito da tradugiio, No entanto, tendo em consideragiio que a tradug2o ultrapassa a situagdo comunicativa natural por ocorrer numa dimensio histérica e cultural diferente, subordinémos a concepgio de equivaléncia formal e dinamica proposta por Eugene A. ‘Nida a perspectiva funcionalista defendida por Hans J. Vermeer na Skopostheorie. De acordo com esta teoria, a tradugdo apresenta-se como uma “purposeful activity’, ou seja, uma acco intencional, interaccional, comunicativa ¢ intercultural, * CaunoLs, Gualtiere, “Latino volgare ¢ latino elassica®, Le Spacio Letterario del Medivevo, 1. JI Mediaeve Latina, vol. 2, Rema: Salerno Editrice, 1994, pp. 22-23: « . lating classico (che sarebbe pit ‘opportuno, » mio parere, chiamare leterario) .. quanto & important, per la definizione e Vindividuazione di un latino volgare, tener present il latino leterario e seguirlo nei suoi sviluppie nelle sue relazioni com le diverse reals linguistche ¢ sociali, almeno per aver chiari i puntichiave di rato i! quadro, punti che potrebhere essere.» " CaRDEIRA, Esperanea, op. cit. p. 60. Casino, Ivo, op. cit, p. 102 * NascEENnTo, Maria Fernanda, RIVENC, Paul, CRUZ, Maria Luisa, Portugués Fundamental, vol. 2 “Métodos e Documentos”, L 2 “Inquerito de disponibitidade”, Lisboa: Instituto Nacional de Investigagao ci ea da Universidade de Lisboa, 1987. © scHost, Henry, “Semantic Theary and Translation Theory", Theories of translation an anthology af essays from Dryden 10 Derrida, (ed.) Rainer Schulte and John Biguenet, Chicago: University of Chicago Press, 1992, p. 20), «The translator has to decide whether to maintain the cumbersome element, (0 replace it, oto leave it out. His choice will often depend on the public he is wanslati 2 com base num texto que necessita da mediagdo de um agente qualificado, o tradutor. que visbilize os esforgos e interesses dos diversos agentes envolvidos, tendo em conta @ cultura, as expectativas e necessidades comunicativas do receptor’, Esta perspectiva tem implicagdes na abordagem metodolégica, desviando 0 focus do autor para o leitor, na medida em que cabe 40 receptor atribuir ao “texto de destino’ a fungo comunicativa que deverd assumir nessa cultura. Fssa fungdo é determinada pelo skopos, um conjunto de indicagdes fornecidas pelo cliente ao tradutor, sobre ¢ destinatirio, o tempo, o espago, a ocasido, o meio da comunicagdo ¢ a fungio do texto, para que a tradugdo origine uma situagfio comunicativa bem sucedida. Deste mado, a recepgdo do ‘acto comunicative’ realiza- :. em primeiro lugar, pelo tradutor, mediante @ leitura e interpretagao do “texto de origem’, pertencendo-Ihe a responsabilidade de configurar 0 ‘texto de destino’ em conformidade com 0 skopos fomecido. Embora Nord tenha concebido um modelo de analise textual que visa a realizagio de tradugdes orientadas, mediante a selecgdo das estratégias nevessérias & consecugao do resultado definido no skopos, parece relevante aplicar esses pressupostos tedricos ¢ metodolégicos & anélise da tradugo portuguesa medieval de Cassiano, cujo skopos & conhecido por intermédio do Leal Consetheiro de D. Duarte, que apresenta a traducdo do passo /6,7.1-2/ do Estabelecimento dos Mosieiros como exemplo pata «her tornar algiia leitura em nossa lynguagems®. Por fim, se o tradutor, por meio da mediacio linguistica e cultural, imprime no. “texto de destino” todas as instrugdes necessarias para que este seja interpretado, dado que a sua leitura é¢ supostamente feita im absentia, a andlise da traducao deverd ainda considerar dois aspectos fundamentais: em primeiro lugar, se a recepgéo do texto de Cassiano produziu alterago de contetidos espirituais, explicagio de elementos culturais, gamento de referéncias intertextuais, adaptago as convengdes do receptor, omissdes, ete: por dtimo, quais os mecanismos usados pelo tradutor para estabelecer a equivaléncia textual ¢ consolidar a textualidade do “texto de destino’ Tendo estas consideragbes em mente, a parte II dedica-se a exposigdio desenvolvimento da problemética da tradugao. * NoRb, Christiane, Translaring as a purposefd activity: functionalist approaches explained, {Tvanslation theories explained), Manchester: St. Jerome, 2001, p. 12. “Noo, Christiane, Text Analysis Jn Translation: theors, methodology, and didacsle applieation of model for ransiation-oriented rext analysis, Amsterdam: Rodopi, 2005. * Dearts (Dom), Leal Consetheiro, edisao critica © anotada de Joseph M, Picl, Lisboa: Livraria Bertrand, 1942, pp. 372-374 ‘Na parie Ill, © capitulo 1 destina-se A importineia da obra de Cassiano no desenvolvimento da espiritualidade ocidental; 0 capitulo 2.1 & anélise dos factores extratextuais das diferentes situagdes comunicativas que envolvem quer 0 “texto de origem’ quer o ‘texto de destino’, acrescentando elementos novos ao estudo realizado em Ambito de Mestrado; 0 capitulo 2.2 ao estudo do ‘texto de destino’ e a andlise da recepedo do “texto de origem’, perceptivel no “texto de destino’, a0 nivel do contetido e da expressio; ¢, por fim, o capitulo 3 as circunstincias que promoveram a formagao ¢ consolidagio da lingua portuguesa e, tendo em conta as especificidades do “texto de origem’ edo “texto de dest no’, & andlise de tragos textuais relevantes para a determinagao do grau de influéncia do modelo latino sobre a formacdo da linguagem literdria portuguesa. Na iiltima parte, pretende-se, a titulo de conclusSo, sistematizar as reflexdes realizadas, no sentido de fundamentar a importancia da tradugo de textos latinos para a evolugao da linguagem literdria portuguesa Ii. Fundamentos da teoria da tradugio quatrocentista portuguesa Além da sua importincia linguistica, literéria e cultural, esta traduedo portuguesa Guatrocentista tem um valor inestimvel para © Ambito da teoria e prétiea da tradugo literdr medieval. A sua pertinéncia advém da relagfo intertexiual mantida com o Leal Conselheiry de D. Duarte, onde o Infante apresenta a tradugdo do passo /6,7,1-2/ do Estabelecimento dos Mosteiros como exemplo para «bem tornar algiza leitura em nossa bnguagens*. No capitulo 99 do Leal Conselheiro, D. Duarte sistematiza os procedimentos basicos para se realizar uma boa tradugio. O motivo € muito claro («Por que muytos que som leterados nom sabem trelladar bem de latym em iymguagems) € mostra que, embora a tradug@o seja uma actividade em uso, 0 conhecimento do latim no € garantia de qualidade. Em primeiro lug +, é necessdrio compreender a ideia contida na frase («conhecer bem a ssentenga do que ha de tomar»). Depois da leitura (Jectia) © compreensio (interpretatio), segue-se a tradugio do texto, de acordo com 0 critério de fidelitas 20 autor («poélla enteiramente, nom mudando, acrecentando, nem mynguande alga cousa do que esta scripto»). Em segundo, a opedo pelo yernicule («iodo seja fom] nosso Iynguauem serigto%) © a recusa do decalque («nom ponke pallavas lninadasy) € do estrangeirismo («nem doutra Dusnte (Dom), Leal Conselheire, op eit. pp. 372-374: «Capitulo LRIX Da mancire pera bert tormar algiza feitura em nossa Iynguagemt Por que ruyfos que som Jecerados nom sabem ielhadar bern de latym cem Iymauagem, penssey cscrever estes avysamentes, pera cilo necessarios. Prymciro, conhecer bem a ssentenga do que ha de tomar, ¢ poe enteiramente, nom mudando, acrecentando, nem niynguando alga, cousa do que esta soripo. © ssegundo, que nom ponha pallavras ltinadas, nem douteaIyeguagem, mas tod seja [em] nasso Iynguagem scripto. mais achegadamente ao geeral boo custume de nosso falar que se pode fazer. © terceto, que sempre se ponham pallavras que sejam dereitalynguagem, respondentes 20, Tagym, nom mudando has por outtas, assy que onde el disser per latym «scorreyar, nom ponha saastar»,e assy em oviras semelhantes,entend|enda] que tanto monta hia como a outras por que grande deferenga fez, pera se bem entender, seerem estas pallavras propriamente scriptas. O quarto, que nom ponha pallavras que segundo 0 nosso custume de fallar sejam avylas por desonestas. O quinto, que ‘guarde aquella orem que igualmente deve guardar em qual quer outra cousa que se screver deva, scilicet ‘que soreva(m} cousas de boa sustanca, claramente, pera se bem poder entender, e fremoso 0 mais que eile poder. ¢ curtamente quanto for necessario. E pera esto aproveita muyto parragrafar e apontar bem. Se hw razoar, fomain}do de latym em Iynguagem, ¢ outro serever, achara melhoria de todo juntomente per hidu seer feito. E por que per vosso requerimento fomey em Iynguagem simprezmente rimada de sseis, pees de hit conssoante a oragom de «justo juiz Jesu Cristo», voila fiz aquy serever, a qual, por a fazer ‘conssoar. nom pude compridamente dar seu lynguagenn, nem a fiz em outa mor forma por concordar ‘com a maneira eteengom que era feta em latym.» Iynguagem), segundo 0 eritério de puritas, atento as normas ditadas pelo costume e pelo uso (cansis achegadamente ao geeral boo custume de nosso fllar que se poder fazer). Em tereeiro, a escalha das palavras (electio uerborum) deve incidir sobre 0 termo equivalente («que sempre se ponham pallavras que sejam dereitaIynguagem, respondentes a0 Iatym, nom mudando hias por outras»), segundo o eritério de proprietas («assy que onde ei disser per Iatym wsconregar>, nom pont eafastan,e assy em ontras semelhantes enteneendo] que tanto monta hia como a outra), de forma a assegurar a perspiewitas («por qu nde deferenga faz, per bem entender, seerem estas paltavras propriamente seriprasy). Em quarto, a preocupagio pelo destinatitio e stas convengdes morais e soci is, segundo o ctitério de decorum («que nom ponka pallavras que segundo 0 nosso custume de fllar sejam avydas por desonestas). E, por iltimo, ccupa-se da composigdo, ou seja, da construgdo do nove texto, referindo-se a estrutura frésica (uque guarde aquelia ordem que igualmente deve guardar em qual ‘quer outra cousa gue se serever deva>), & preocupagdo com © contetido (\acilicet que serevalm) cousas de boa sustancian) © com 0 estilo («e fremos o mais que elle poder»), & necessidade de clareza («claramence, pera se bem poder entender») © de concisiio do discurso («e cunamente cuanto for necessarion), € acrescentando que estas qualidades podem ser alcangadas com a pontuagdio (‘apomtar bem») € a divisto de parigrafos («E pera esto aproveita muyto parragrafarn). De seguida, faz alustio a pritica comum da tradugio feita em conjunto, com divisio de tarefas, segundo a qual, 0 ttadutor traduz oralmente o texto de latim para vernéculo, enquanto © copista escreve @ tradugao reatizada, a semelhanca de um ditado, mas desaconselha esse procedimento, em virtude de se perder a nogo do conjunto («Se hau razoar, torna[nfd de latym ent Iynguagem, outro secever achat methoria de todo juntamente per hi seer feito), Por fim, D. Duarte exemplifica esses consellios com a tradugio de uma oragao que se encontrava em verso. Atente-se na consciéneia de que & necessério fazer opgdes, relativamente & métriea (wimada de sseis pees de bi conssoanted) @ Arima («por a fazer conssonrn), pata que correspondam & forma (ceonssoante a oragom de justo joie tesa Crstov») € 8 Finguagem («em Iynguagem simprezmente), bem como 4 intencionalidade comunicativa do texto latino («mem a fiz em outta mylhor forma por concordat com a mania e teengom que era feitaem latym). Os conselhos de D, Duarte apresentam uma estrutura bem delineada, ebordando os diversos problemas com que o tradutor depara quer a0 nivel dat interprefagiia, quer a0 26 nivel da produgdo eserita, Também noutro passo do mesmo capftulo, se enuncia a problematica da tradugio: AE traladey do livro des Stabellicimentos de sam Joham Cesiano por exempro esfa parte de hu eapitollo ajuso seripto ao pee da letera, que chamany os leterados «a contexto», 0 qual a algiius nom muyto praz, por seer scripto na maneiva latinada. E qnetiam que se tirasse a ssentengat posta em mais geerel maneita de falar. E outyos dizemh que bem thes parece. Porem, quando mandardes tomar alga leitura de latim em nossa linguagem, a mancirs que mais vos prouver mandaae que tenha aquel que dello tever cirrego.»" Embora 0 verbo guladar designe habitualmente o processo de cépia ou transcrigao, neste contexto, a forma verbal «trsladey» refere-se ao processo de tradugao™, A terminologia utilizada por D, Duarte («scripto ao pee da leters, que chamam os leterados «a contexto»») tem sido habitualmente entendida como uma express&o sinénima da tradugdo «ad verbum» ou tradugao literal. Segundo as suas palavras, este método de tradugdo mantém as caracteristicas especificas do latim («o qual a algdus nom mayto prez, por seer scripto na maneira ltinada»)) €, por isso, a sua aceitabilidade gera controversa: se agrada a alguns («E outros dizem que bem Ines parece), nfo & bem aceite por aqueles que gostariam de ouvir um texto ao sabor da linguagem verndcula («E queriam que se tirasse a ssentenga posta em mais geeral maneira de falar). Apesar destes juizos de valor, a tradugo surge com base numa encomenda {aPorem, quando manderdes tomar aluGa leitura de latim em nossa linguagem») € € destinatario quem decide 0 10 de tradugio que pretende que o tradutor faga na qualidade de agente imtermediario (« maneira que mais vos prower mandane que tenha aquel que dello teverederezo>) Assim, a escolha do método de tradug0 - pro uerbo uerbum ou ad sententian — apresenta-se, do ponto de vista cultural, como uma questo de gosto, e, por isso, a soluedo ¢ indicar ao tradutor os parémetros do encargo, isto é, do skapos. Convém, pois, perceber que significado D. Duarte airibui ao conceito presente na expresso «seripto ao pee da letera, que chamam os Ieterados ¢@ contexion», uma vez que associa um invulgar juizo de valor representative do grupo de prestigio (letstados») responsavel pela elevagdo do portugues, facto esse por si s6 revelador da conscigncia linguistica e literériarelativamente ao processo da tradugo. Na verdade, as reflexdes de D, Duarte sobre a problemética da tradugao reflectem as linhas gerais da pritica seguida pelos Humanistas © herdada da © DuaRTE (Dom), op. cit, pp. 377-378. * Dionisio, Joo, DL Duarte, feror de Cassiano, op. cit. pp. 159-260. Antiguidade Classica por meio de S. Jerénimo, pela Epistola a Pamdéyuio™. Prova isso a referéncia a S. Jerénimo na introdugio & tradugdo do Libro de a Rhetorica de M. T., que D. Alonso de Santa Maria de Cartagena realizou numa das suas estadas em Portugal” e dedicou a D, Duarte. Ainda que nao haja nenhuma referéncia no Leal Conseiheiro 80 Libro de la Rhetorica de M, T., wadugio do De inuentione de Cicero realizada por Cartagena, é possivel encontrar pontos em comum entre a capitulo 99 e as reflextes do detio de Santiago na Jniraduccidn a esta tradugio. AD Introduction ‘Muchos fueron los que de la rethorica en los tlenpos antiguos fablaron, asi griewos como Jatynos, Pero aunque de Ja eloquengia de asaz d'ellos oy dura fa fama e de al sus famosas oraciones, -asi comme entre los griczos de Demostene>s © de Eschines @ ‘entre los latinas de Salusto-e de otros mas libros conpuestos de la arte iberal mesma que Haman rethévies yo non sé que de aquellos ny’ antiguas en ese tienpo paresean, si nom dle dos actores: ef une griego otro latin. El griego fue Arisotiles, que fAb16 en ello profundomente: ea non entendié aquel phiddsopho que det todo acabau Ia cbra moral si después de las Ethics € Poiricas non diese doctrinas de lo que a a eloquengi pertenesge @ canpuso vn bra que se llama de fa Rethérica, en gue escrivié muchas e nobles conelusiones pestenesgiemtes a esta arte de Jas quale, asi por thedloges commo por jurists, son muchas verses logares allegadas, cada unaa su propésito El otro fue latino € és es Marcho Tullio Ciera el qual eserinid inuchos libros & tractados de diversas materias, esriptos sso muy eloquente estile. E ente ellos conpuso algunos pertenescientes a te doctrina desta are. Ca, aunque en todos guardé €l bien las reglas de a eloquengia, pero non Sabl6 en woos ella ca una cosa es fablar segunt Ia ate otra ¢s falar de la arte. E él en fodos guards fa arte; pero non cn todos mas en algunos * JeROnIMO, Samo, Carta a Pamguio sobre os problemas da Traduucto, EP. 57. introdugto, vevisto de edigdo, radugdo e notas de Aites A. Nascimento, Colec¢do Medievalia 10, Lisboa: Ed. Cosmos, 1995, * Cartagena esieve em Postugal em quatro ocusites: de Dezembro de 1421 a Dezembro de 1422; de Inmeiro a Abvil de 1423; de Dezembro de 1424 a Abril de 1425; ¢ de Setembro a Dezembro de 1427. CF, Nascinsenr0, Aires Augusto, “Traducir, verbo de franteira nas eontomos da Idace Média", O Género do Texto Medieval, Medievalia 12, Lisboa: Ed. Cosmos, 1997, p. 129: «0 seu preficio 4 tadupio da Retoriea de Cicero, dirigido aD. Duarte pelo sno 1430». Cf. Magia MORRAS, “Repertorio de obtas, mss. y documentos de Alfonso de Canagena (ca. 1384-1436)". Bolerin Ribliggrijion do la Asoviaci Hispénica de Literatura Medieval, 5 (1991), Barcelona: Universitat Auténoma, p. 221: «Las opiniones sobre su datacion varian: Maseagna la sitia en 1421-1433 (7-8), Kohut en 1421-1424 (1977, 186. 14), Lavrance en 1428 (1990, 223). En mi opinidn fue comenzada ca. 1424 y terminada cu. 1431, ya que el prilogo (pp. 28-29) contiene referencias a las campafias contra los aragoneses (1429) y contra Granada (verano de 1430-1431) Cf. GONZALEZ ROLAN, T., MoaENO HERNANDEZ, A., SAQUERO SUAREZ~ SOMONTE, P., Humanismo » weorta de la maduccisn en Espana e lala en Jo prinsera mized det sigho NV edicidn y estudio de Ia contorversia Alphonsiana Alfonso Cartagena, L. Bruni y P. Candide Decembrie, Madrid: Ediciones Clisieas, 2000, pp. $7-58: «De imeniione (ea. 1428)»; p. 90: «y donde Finalmente comenzé, en tomo a 1424, le traduccién del De imentione de CicerSn, que terminaris en sierras castellanas pasiblemente en 1431.» 28 fabi6 de Ia arte, Estos sisson /£37/ muchos o quantos son, non To sé, mas los que contin mente pareseen son fos siguientes: el libro de fa Rethirica vieja e tro de la Reshirica eva © us libro que dizen del Orador e etro del Orador menor © un reve tractado que se llama De fa mig’ buena manera de los oredores ¢ otro que se yotitula la Tépieat los ueles, avngue por diversas maneras, todos tienden 2 dar doctrinas de la eloquengia, E estos, porque el de la Revhéria viefa es primero e avn porque fabla més largo, fue por vos escogida para que se posiese en nuestro lenguaje,¢ fizase asi por vuestro mandado, En ta astagisn del qual non debJo que fallaredes algunas pslabras mudadas de sw propria significagién e algunas afadidas, lo qual fize cuydando que conplia asf; ca non es, ste, libio de Santa Escriptura en que es heivor aflader © menguar, mas es conposigién magistal fecha para muestra doctrina, Por ende, guardada quanto guardar se puede la yatensin, aunque la propriedat de las palabras se _mude, non me paresce cosa _yneo#>ueniente; ca, commo cada lengua tenga su mancra de fablar, si el yutexpretador signe del todo fa letra, nescesaria es que {a escriptura sea obscura e pienda grant parte del Aulgor. Por ende, en las doctrinas que non tienen el vator por a abtordat de quien las dixo nin han sseso moral nin mistico, mas solamente en ellas se cata fo que Ta sinple letra flea, non me paresge daphoso retomar la ymtengién de Ja escripura en el modo del falar que ale lengua en que se pasa conviene. La qual manera de asladar aprueua aque singular trasladador, sant Geronimo, en uns solepne episiola que se sobreescive De fa ‘ms buena manera (3') del deciarar que enbié a Pamachio, entre otras cosas diziéndole “Ye non solamente lo digo, mas aun con libre box lo confieso, que en a _ynterpretagin de los Hibros grieges non curo de exprimir vna palabra por otra mas sigo el sseso ¢ efecto, saluo en las Santas Escriptura, porque all la horden de las palabras trae mixterio” E esta manere segui aqui porque mis sin trabajo To pueda entender quien leer Io aquisiees © aun por lo mis aclarar, commoguier que en Iatn esté toda junto e non tiene cra pation saluo la de Tos libros esa saber entre el primero e sepundo~ pero yo part cade libro en diversostulose los tulos en capitals sepin me pareseid que la diversi, de la materia pid. E donde el voeablo latino del todo se pudo en otro de romance pasar, fizelo; donde non se pudo buenamente por otro canbiar, porque a las vezes una palabra latina requiere muchas para se bien declarar e si en cada logar por ella todas aquellas se couiesen de poner farian confusa Ja obra, en el tal caso al primero paso en que la tal palabra ocurri se fllaré declarada. E, aungue despues se aya de repti, non se repite la declaragidn, mas quien en ella dnbsare reiome al primero logar donde se nonbré, el qual est en los méngines seiaado, ¢ verd su sigificagion Pero, aungue esto todo se faze, las conposiciones que son de sriengia o de arte liberal, para bien se entender, todavia piden estudio porque non consiste le dificultad de la seiengia tan silo en fa obscuridat dal lenguaje, ca si asi fuese, los buenos gramiticos entenderian qualesquier materias que en latin fuesen escriptas: e /f4') vemos et 29 contrario, ca mochos bien fimdados en Ia arte de la gramétiea entienden muy poco en los libros de theolosta ede derecho e de ovras sciengiase ates, aunque son escriptas en latin, sy’ non ouieron dactores d’ellas que los ensefinsen, Por ende, aunque esta Rethcrica sea traspuesta en Hano Lenguaje, quien entendevla quisiere conple que con actengién I lea. sn cop No entanto, os autores Tatinos usaram a pratica da tradugio para exercitar a aensulatio™, ou seja, estimular a criagio postica pela superagao do modelo grego, favorecendo, deste modo, 0 desenvolvimento das capacidades literarias ¢ expressivas da Jingu tating. No prélogo de Andria (166 a.C.), Teréneio procura apaziguar as criticas do publico relativamente ao facto de esta ser uma imitagAo da obra grega de Menandro, argumentando que a confaminatio era uma pritica comum entre gregos ¢ romanes, pois, n§o sé Menandro introduzira elementos da Perinthia na Andria, como também Névio. Plauto ¢ Enio se haviam servido deste método nas suas obras. «¢Nune quam rem uitio dent quaeso animum aduortte: Menander fecit «Andria» et «Perinthianns (Qui utramuls rete norit ambas nouetit, Non ita dissiili sunt argumento, et tamen Dissimili oratione sunt factae ae stil: (Quae conuenere in «Andrian» ex aPerinthian Fatetur transtalisse aique sum pro suis; 1d ist uituperant facturn aque in eo dispustant Contaminari non devere fabulas. Faciuntne intellegendo ut nibil intellegant? Qui cum hun accusant, Nacuiurn, Plautura, Ennium Accusant; quos hic noster auetores habe, Quorum aemulari exoptat neglegentiom Potius quam istorum obscuram diligentiam.»° Extimido dos Als. 1'- 5' do manuserito do El Escoria) T1112. Cf. PEREZ PRIEGO, Miguel Angel, “Proyeccin politica y pedagogica del Prologo a la RethSrica de Cicerén dedicado por Alfonso de ‘Cartagena al Infante D. Duarte”, no prelo, “BURNLEY, J. D..“Late medieval English translation: types and reflections”, The Medieval Trenslaror ~ the theory and pratice of translation in the Middle Ages: papers vead at a conference held 20-23 August 1987 at the University of Wales Conference Cenire, Edited hy Roger Ellis, Cambridge: D. S. Brewer, 5980, ps) wQuintilian, (X, v, 2-8) despises literal franslation, contrasting interpretation (inerpretatio) with emulation, (aemnJatio), the later indicating a spirit of competition threugh wich the translator seeks to imitate but improve on his source, altering its expression and ever its figures of thought to correspond with the genius ofthe Latin tongue. Thus, fiee-handling of the original has 2 reputable literary-theosetical ancestry.» ® TERENCE, Adrienne ~ Eumgue, Texte éabli et taduit par J. Marouzeau, Paris: Les Belles Leures, 1947, pp, 124-125, wv. 8-21: «Ajourd hui, uote, je vous prie, de quoi on ln fait ariel Menande a fait une Andrienne et une Périaibienne; qui connaitrait bien Mune des deux les connaitrait toutes deus: elles ne sont pas de sujes tellement differents, et sont néanmoins de facture différente pour le dialogue et pour le style I reconnait avoir fait passer de la Périnshiemne dans J'Andienne les élémenis qui s'y prétaient, et les avoir uriisés comme siens. Voild le procédé que ces wens Tui reprochert, et ils dispatent sur ce point 30 Também no prélogo de Adelphoe (160 a. ncio recorda que a pega Commorienies de Plauto & uma contaminatio da Synapothescontes de Difilo, justificando, deste modo, a transposigfo literal de um excerto dessa pega ignorado por Plauto, No entanto, néio menciona a contaminatio realizada a partir da pega grega de Menandro. ‘«Synapothnescontes Diphili comoediast Eam Commorientes Plautus fect fabulam; Jn gracca adulescens est, qui lenonieripit ‘Mereiticem in prima fabula; eur Plautus locum Reliquitintegeum; eum hie locum sarmpsit sib In Adelphos, uetbum de uerbo expressum extulit®™ Mareo Tillio Cicero, no De oratore (ca. $5 a.C.), conta que praticara a tradugdo dos melhores oradores gregos como exereicio escolar, visando 0 aperfeigoamento das técnicas oratorias © expressivas, na medida em que este exercicio suscitava o enriquecimento da lingua, nao sé pela importagio de termos estrangeiros, mas também pela criagao de palavras para designar novos conceitos™. No De optima genere oratorum (ca. 52 aC), Cicero impde alg ns procedimentos relativos & traduedo: a escolha de bons modelos e a adequagao do texto & sua finalidade, por isso admitiu a necessidade de traduzir os discursos de Deméstenes ¢ de Esquines na qualidade de orador, para que a linguagem, deixando-se amadurecer pela conformagao as normas da melhor oratéria grega, adquirisse todas as qualidades proprias do discurso e se tornasse modelo da oratéria romana®*, Deste modo, ajustando qu'il ne convient pas de contaminer des pidces. Est-ce que, & faire les entendus, ils ne laissent pas voir ‘u'ils n'y entendent rien? En accusant celui-ci, c'est Nevius, Plaute, Ennius, qu'ils accusent; voila ceux aque nowe auteur a pour répondants, dont il aspire & imier la nonchalance plutst que Fobseure diligence de ces gens.» TERENCE, Héeyre - Adelphes, Texte établi et traduit par J. Marouzeou, Paris: Les Belles Lettres, 1949, pp. 105, wv. 6-11: «ll y a une comédie de Diphile, les Sinaporhsscontes; Plaute en a fait sa piéce des Commorientes. Dans la piéce srecque il y s au dé>ut un jeune homme qui enleve une courisane & un Jeno; c'est un passage que Plaute a laissé infouché: or, notre auteur a emprunlé ce passage pour ses Adelphes, ety a transporté en fe rendant mot pour mat.» ® CiceRON, De / Orateur. Texte établi et ttaduit par Edmond Courbaud. Pats: Les Belles Lettres, 1967 XXXIV 155 «Postea mihi placuit, eoque sum asus adulescens. ut summorum eraforum Graceas erationes cexplicarem. Quibus letis hoe adsequebar ut, cum ea quae legeram Graeee, Latine redderem, non solum coptimis uerbis uterer et tamen usitatis, sed etiam exprimerem quacdarn verb imitando, quae noua nostris cessem, dum modo essent idoneeoy «Dans la suite je aavisai (tals alors un peu plus mir) de prendre des harangues éerites en grec par de grands oratenis, et de les traduire lbrement, Et voici le résulkat que obtenais: en donnant au teste que j'avais lu une forme latine, non seulement je pouvais me servir des meilleures expressions, en usage cher nous celles-la; mais par analogie vee le gree, j'en frappais de ovvelles, qui n’étaient pas moins bien accueillies des nbires, A conditions qu’eles fussent appropriées.» © CicinoN, LOratenr — Du Meilfeur Genre oi Orateurs, Texte &tabli et adult par Henri Bornecque, Poris: Les Belles Letires, 1921, V-15 «Bie labor meus hoc adsequitur, ut nostri homines, quid ab ills cexigant, qui se Atticos wolunt, ef ad quam eos quasi formulam dicendi revocent, intellegant.» («Ce travail 31 © cardeter ¢ forga das palavras ao crivo da puritas ou latinitas, a tradugao favorece © desenvolvimento da expressividade da ‘lingua de destino®, a0 nivel da forma e do contetido””, «Conveati enim ex Auticis duorum eloguentissimorum nebilissinas orationes inter seque contrarias, Aeschini et Demostheni; nee conuerti ut inlerpres, sed ut orator, sententiis isdem et earum formis tamquam figuris, uerbis ad nastram consuetudinem aptis. In quibus non uerbum pro uerbo necesse haul reddere, sed genus omne uerborum wimgue serwaul [Non enim ew me annumerare evieri putaui oportere, sed tamnquain appendere.»"® Noutro passo, defende-se das criticas feitas & sua tradugio, enumerando textos da literatura latina, cuja origem est intimamente ligada ao contributo da tradugéio de textos gregos” ¢ indica regras para a construgio de um discurso de qualidade™: conservar as caracteristicas do discurso ~ figuras de pensamento, de expressio de auguel je me sus livré a pour but de fire comprendre nos compatrotes ce u'is doivent exiger de wou gui veulent passer pour Aaiquese,potr ainsi die, a quelle formule d'éloquence ils doivent ls ramener.» * CopeLAND, Rita, Rhetorie, hermeneutics, and translation inthe Middle Ages: academe raditions ard sernacilar texts, Cambridge: Cambridge University, 1995, pp. 33-34: «The injunction to translate “non verium pro verbo,” but rather preserving the force ar figures of te language and the general sontentae, represents @ principle of conservation dinected, noo service ofthe source text, but the benefit ofthe target Imguage. Moreover, this injunetion against literalism is not framed in a context that favors meaning above lenguage or that directs attention tothe preservation ofthe signified, despite the way that this precept was fate interpreted within the patristic tradition of translation theory.» * Cicenow, L Oratew ~ Du Meilleur Genre d Oratewrs, op. ct, VM: «J'ai mis en latin les deux plus celebresdiscours des deux Aitiques les plus sloquents, Eschine et Démosthéne, discaurs dant un répond a Faure; je lesa mis en latin, non pas en traducteur mais en orateur les pensées reste les mémes, ainsi «que Jour tour et comme leurs figures; les mots sont vonformes & usage de notre langue. Je n'ai pas ort nécesssre de rendre mot pour mot; cst le ton et la valeur des expressions dans leur ensemble qu jai sardés. sk cru qu’ me fllait payer le lecteur non pas en comptantpidce par pie, mais pour ainsi dire pest la somme en bloc.» * ihidem, VI 18 «bic labor! nostro duo genera reprensionvm opponuntr. Vinum hoc: «Verum metus Graece.» A quo quaeratur eequid possint ipsi metius Latine. AKerum: «Quid istas potas legamy quan Graeeas?» dem Andiiam et Synephebos nee minus [Terentumn et Caecum quam Menandrum Yegunt, nec] Androraacham aut Ansiopam aut Epigonos Latinas recipiunt; (sed tamen Ennium et Pacusium et Acclum posus quam Eurpidem et Sophoclem legune Qued igitar est eorum in oralionibus e Gracea conuersis fatiium, nullum cum sit im uersibus?» / wAw travail que je présente on peut fare des objections de deux sortes, D’abord que ces discours sont mie en grec. Demandez & ce ertique sui et ses amis soni capables de mieux les mettre en latin, En second lea: peurcul ras lire vos taducions plutdt que le texte grec? Mais ceux qui parlent ans n'admetentis pas que I-andhienne, les Synéphebes, aussi bien qv'Andromague, Aimipe et les Epigones soient devenus latins? Alors que signifi, pour les discours tradats da grec, ce dai, guils ne manifestent pas pour les vers? © siden, Vil 23 «Quorum ego orationes si ut sper, ita expressero uirutibus utens ilorum omnibus, id xt sententis et carum figuris et rerum ordine, ueib persequens eatemus ut e@ non abborreant a more nostro (quae si e Graecis omnia conuessa non runt, tamen ut generis eiusdem sin, elaborauimus) erie regula, ad quam corum dirigantur orationes, qui Attice uolent dicere.» ! «Pour moi, si je sends leurs discours comme je Pespére, en conservant toutes les beauts, "esticdite les pensées, leurs figures et ordre des cévcfoppements, m’attachant & Vexactcude des mois dans le seule mesure of le permettalt Ie sie de notre langue (tous les mots grecs ne seront pas traduits, mais nous nous sommes appliques & ce quis soientrendus par des €quivalents, i y aua'un modéle, qui pourra serir 'éalon aux discours de ceux qui voudront parler comme les Atiques.» 32 construgo, escolher palavras do dominio comum da wadigiio e respeitar a correspondéncia de sentido mesmo que nao haja um equivalente directo do grego. No De finibus bonorum et malorum (45-44 a.C.), Cicero defende-se das criticas dirigidas A taducfo de textos filosdficos*', sublinhando a importancia de se poder discutir filosofia em latim™, A sua argumentacao deixa entrever questOes de fundo que relacionam o contetdo (res), a linguagem (werbwm) ¢ o publico a que se destina, que assume o papel de arbitro. Cicero procura conformar a linguagem ao conteiido dos textos conhecidos pela comunidade, apresentando solugdes que visam superar a resisténcia da comunidade as necessérias inovagdes linguisticas. Face & desconsiderago dos seus contempordneos pela lingua e literatura latina, incentiva os autores romanos a escreverem com correccao € estilo, para que as obras latinas alcancem a qualidade das ‘obras gregas e possam ser apreciadas e preferidas as tradugdes™, © Cictron, Des Termes Extrémes des Biens et des Maux, Teste étabi et traduit par Jules Martha, t 1, Livies Fl, Paris: Les Belles Lettres, 1928, 1, 11 «Non era nescius, Brote, cum, que summis ingeniis cexquisitague doctrina phitosophi Graeco sermone tractawissent, ea Latins literis mandaremus, fore ut hic rnoster labor in uatias reprehensiones incurreret.» / «le n'ignotais pas, Brutus, qu'en confiant aus lettres latines des sujets qu'avaient tits en grec des philosophes d'un tés grand genie et dune science profonde,'allais m’exposer, avec fe présent travail, a des critiques de plus d'une sorte.» © idem, ), IL 4 adn quibus hos primum est in quo admirer, cur in granissimis rebus non delectet eos scrmo pats, cum fidem fabellas Latinas ad uerbum © Graecis expressas non inuiti legant.» / «Mais abord il y a chez eux une chose dont je métonne: pourquoi sur les sujets les plus graves ne peuvent-ils souls Midiome de leur pays, alors que de petites pidces de theétre en latin, raduites du gree mot pat mot, sont pour eux une lecture qu'ls font sans mauvaise grace’ I, 17 «Quamguam, si plane sic uertere Platonenn aut Aristotelem, ut uerterunt nostri poeiae fabulas, male, credo, mererer de meis ciuibus, si ad corum cognitionem diaina ila ingeniatransfeerem. / «Quand méme je me bornerais A traduire Platon ou Aristote, comme nos poétes ant traduit les piéces grecoues, serait-ce vraiment un si mauvais service renda ‘mes concitoyens que de transporter jusqu'a eux, pour les leur faire connsitze, ces génies divins?»: 1, IV 10... nee eum isis tantopere pugnare. qui Graoca Tegere malins, mada legant ila ipsa, ne simulent, et is, sersite, qui uel utrisque lineris uti uelint nel, si suas habent, illas non magnopere desiderent» f «Sans rattarder a diseuter avec ceux qui aiment mieux lire les Grecs (pourvu qu’elfectivement ils les lisent et ne se boment pas 2 le fire croie), je serai wile et ceux qui voudront user des deux litgratures et ceux qui, ayant & leur disposition une Hitérature qui leur est propre, sTaccommoderant sans peine de se passer de Tautre.n: f, IV 11 «et tamen, qui diigenter haee quae de philosophia Tiveris mandamus legere assuenerit,judicabit nulla ad legendum his esse potiora.s / «l'ajoute ~ et quicongue s‘appliquera @ lire avee attention mes ouvrages philosephiques en conviendra ~ que la philosophic est, malgré tout, de toutes les lectures la plus profitable.» © Fhidem, 1,1 «Brunt etiam, et hi quidem eruditi Graecis liters, comtemnentes Latinas, qui se dicant i Graecis legentis operam malle consumere.» / «il en viendra d'autres encore, savantes celies-[6 dans les ledres grecques et délaigneuses des fatines. qui diront qu’elles préférent, travail pour travail, lite les textes grees | HI 10 Ego autem satis mirari non queo. unde hee sit (am insolens domestiearum rerun {astidium.» / «Et, pour ma part, je me demande toujours avec étonnement doit vient ce dédain si étrange pour les choses de ehez nous.» * bide. [ILS «. tamen male conuersam Acili mibi legendam putem, de quo Licinius: «Ferreum setiptorems, veri, opinor, seriptorem iamen, us legendus sit. / «le suis si éloigné de penser comme ces sgens-li que, malgré toute la perfection de I’Electre de Sophocle, je me fais un devoir de fire la mauvaise traduction d'Atilins 1, I16 «Quodsi Graeei leguntur a Graecis isdem de rebus alia ratione camposits, quid est. cur nostri a nostris non legantur?» «Si les Grecs sont ainsi lus par les Grecs, quand ils ne font ue présenter sous une forme différence les mémes idées, pourquoi les nétres ne seraient-ils pas hus par les notes’: I, HH 8 «Sed ex eo credo quibusdam usu uenire. ut abhorreant a Latinis, quod inciderint in inculta quaedam et horrida, de malis Graecis Latine scripa deterius, Quibus ego assentior, dum mado de 33 Quinto Hordeio Flaco, na Arte Poética (ea. 20 a.C.), explica os procedimentos que 0 pocta deve seguir para realizar uma obra literdria de qualidade. Também a expressfio «nec uerbo uerbum curabis reddere fidus / interpres»®® foi completamente desensaizada do seu contexto inicial, onde 0 pocta aconselhava o uso do modelo homérico, com a adverténcia de que era necessario inovar e evitar o plagio™. Lucio Aneu Séneca, nas Epistulae morales ad Lucilium (ca. 65). queixa-se da pobreza da lingua latina para exprimir 0 pensamento de Plato" e pede a Lucilio que Ihe permita usar © neotogismo “essentia” como equivalente de «odaia», outrora eriado por Cicero, mas nesse momento também utilizado por Fabiano. 4. cupio, $i fier! potest, propitiés auribus tuis aessentiamy dicere; si minus, dicam et iratis. Ciceronem auctorem his uerbi habeo, puto locupletem: si recentiorem quaers, Fabianurn, cisertum et elegantem. orationis etiam ad nostrum fastidium nitidse, Quid enim fiet, mi Lucili? Quomodo dicetur ovsia res necessaria, natura continens fupdamentum omnium? Rogo itaque permits mihi hoc uerbo ui. Nihilomimus, dabo ‘opera, ut us ate datum pareissime exeroeam: fertasse eantentus ero rnihi licere.»"* isdem rebvs ne Graecos quidem legendos patent. Res uero bonas uerbis elects graviter ornateque dictas, quis non Teger?» / «La raison, je erois, qui fait que certains personnes en sont venues & ne pas soufTir les traités en latin, c'est qu’elles sont fombées sur certaines oeuvres dun style vulgaire et sans aff, qui étaient deja mauvaises en grec et qui le sont plus encore en latin. Ces personnes, je les approuve. si tovtefois elles recomnaissent que, méme dans original gree, ces ocuvtes ne sont pas & hire, ‘Mais de bonnes choses, présentées dans un langage choisi, avee force et avec élogquence, qui refuserait de les lire?» © Hokscto, tree Postica, Trad, R. M, Rosado Femandes, 2 ed., Lisboa: Editorial Inquétiio, 1984, vw.133-134: ee Ho-pouco procurarss, como servil interpret, traduzir palavra par palavra. Ihidem, pp. 74-77 “Dificile est proprie communia dicere; tuque sectius Iizcum carmen deducis in actus, quam si proferres ignoteindictaque primus, Publica materies privat ius crit, si non circa uilem patulumgue moraberis erbem, rice ucrbo uerbuim curabis reddere fidus imerpres nee desilies imitatorin art, ‘unde podem proferre pudor uetct aut opers lex.» (Vw, 128-138), « dificit dizer com propriedade o que nto pertence & tradigio: melhor fards se 0 carme de Ilion em actos wasladares em vez de proferies, pela primeira vez, Factes inéditos e desconhecidos. Matéris a todos periencente sera tua Jegitima pertenga, se nfo ficares @ andar & volta no caminho wivial, aberto a todos, ¢ ‘2o-pouco procuraris, como servilimérprete, trauzir palavra por palavrs, nem entiarss. como imitador, ‘em quadro muito esteito de onde te impedirao de sair a timidez e a economia da obra. SENEQLE, Lentes u Lucilius, «2, Texte établt par Frangois Préclac et traduit par Henri Noblot, 2 €d Paris: Les Belles Lettres. 1958 (Livre VI, Lente 58, pp. 70-83), p. 70: 1. «Quanta nerborum nebis pauperis, immo egestas si, numquam magis quam holier die intellexi, Mille res inciderunt, cum forte de Platone loqueremnur, quae nemina desidersrent nec Raberent, quaedamn uere cuns habuissent, fastidio nostro perdidissent» / Cf, SENECA, Liicio Aneu, Cartas a Lucilio, por 3. A. Segarado e Campos (trad,), Lisboa: Fundagao Calouste Gulbenkian, 1991, p. 198: «te que pono é grande a nossa pobreza, dlirei mesmo 2 nosse indigéncia vocabular, nunca o tinha compreendiso tke bem como hje. Estévanios ceasualmente falando d2 Plato: mil nodes se nos depararam carentes, mas desprovidss, de um vocabulrio apropriado; em contrapartda ii muitas outras que tiveram nome, caido em desuso devido 30 nosso gosto requintado.» rider, pp. 71-72. CE. SENECA, Liicio Anew, Cartas @ Lucio, op. cit. p. 199-200: wo que pretendo é, se possivel, empregar & palavra esséneia (essemtia) sem chocar os teus ouvides: se os chacat, als, 34 Séneca, reflectindo sobre a evolugdo da lingua", menciona alguns problemas: associados & traduco, como a dificuldade de encontrar termos devidamente autorizados pelos autores ou equivalentes directos que evitem o uso das perifrases, aQuae sit hace, quseris? 70 dv, Dori sbi uideor ingen: in medio positum, posse sie ‘wansferti, ut dicam «quod est. Sed multum inleresse ideo: cogor verbum pro uocabulo ponere: sed ita necesce est, pontam «quod ests" Plinio, 0 Jovem, muma carta (ca. 85) de resposta a Comélio Fusco, indica alguns conselhos sobre a forma de estudar, entre os quais a tradugdo de textos do grego para latim e do Ietim para grego, uma vez que este exervicio trabalha a preciso e riqueza lexical, as figuras de estilo, a forga da exposigdo e, sobretudo, aumenta a aptidao eserita pela imitagdo de modelos de exceléncia. A tradugio permite também apreciar a beleza do texto ¢ educar 0 sentido critico € 0 gosto”! «eViile in primis, et mui praeceperumt, uel ex Graeco in Latinum uel ex Latino uertere in Graccum: quo sencie exercitationis proprictas splendorque ucsborum, copia figurarum, us explicands, praeterea imitatione optimorum simitia inueniendi facultas paratur. Simul ‘quae legentem fefellissent tansferentem fugere non possunt, Intellegentia ex hoe et idieium adquiritues cempregé-la-ci na mesma! Como garante deste vociibulo tenho Cicero, que me parece autoridade de pesos entre os autores mais recentes tenho Fabiano, escritor eloquente. clegante ¢ de estilo claro, mesmo para o nosso gosto sofistieado. Pois que havia eu de fazer, Lucio amigo? De que outro mode traduzit 0 grego clisia, essa nope imprescindivel que, por natureza, consttui © fundamento de tudo © mais? Pep portanto, que me consintas o uso daquele vaetbulo, De resto farei 0 possivel para usar com parciménia 8 {nia que me irés conceder: tlvez mesmio me contente com o simples facto de ma dares.» © SENEQUE, Leitres a Lucifius, op. cll. pp. T0-71: 2, «Pato intellegiistud uerbum interisse.(..) 3. Quosd rune devemere dicimus: simplicis illus uerbi usus amissus esto» / CF. SENECA, Liteio Anew. Cartas a Lueiti, ep. eit, p. 199-200: «Creia dever entender-se que se tata de um vocibutlo j4 passada de moda, .) Actualmente empregamos para a mesma nogdo 0 verbo decernere; ou seja, caiu emn desuso o emprego do verbo simples.» ” Ibicom, p. 12:7. / Cf. SENECA, Lévio Aneu, Cartas a Lucilio, op. cit, p. 200: 7. «Queres saber qual é? By (Co ser"). Passo parecerte homem de frac engenho: hi um recurso imediato, possa verter esse conceito pela expressio quod est aquilo que &°).» * CopeLAND, Rita (1995), op. cit, pp. 31-32: «Five elements in this passage form the grammatical- rhetorical nexus for sranslation,(..) The passage moves basically fom exereitario 10 enarrati, Translation develops frst 2 lexical command, “proprietas splendorque yesborum’, which falls within the grammatical domain of sciemtia recte loguendi; and second, we find the grammatical function of enarrario in the observation about close reading, “quae Iegentem lefellissent, transferentem fugere non possunt” Third, the development of "copia figurasum” and “vis explicandi” hovers on the boundary between knowledge (or scivntia) of the tules of specch (the figures, rules for exposition) and active experience (periia) in intelligent interpretation and presentation of the material. Fourth, the comment ‘inveniendi faculias paratu,” introducing the concept iavenire, brings us into the rhetorical center of the activity of translation, a6 we have now, in aboreviated form, the theory of enabling the future text, that is, the grounds” of invention. Finally, “intellezentia® and “iudicium’” (“perception and “critical sense”) introduce a hermeneutical dimension as complementary to the exegetical and hearistie funecions of ‘anslation.» 'PLINE, LE JEUNE, Levies, «3, Texte établi et raduit par Anne-Marie Guillemin, Paris: Les Belles Lettres, 1959, Livre VIL, Episrola 9, p. 16: 2. edi est avantageex avant tout, et on le conseille sans cosse, 4e traduire du gree en fatin et du latin en grec : ce genre d'exercice donne la propriété et la richesse dis 35 Aléin disso, Plinio aconsetha a Jer os melhores autores dentro de cada género”, para apreender o tema e as ideias principais e procurar rivalizar com eles na escrita. Nihil offuerit quae legeris hactenus, ut rem argumentumgue teneas, quasi aemulam scribere lectisque conferre ac sedulo pensitare quid tu, quid ille comodius. (..) Licebit lerdum et notiscima eligere et certare cum elects» Quintiliano, no De Institutione Oraioria (ca, 95), apresenta alguns exercicios que desenvolvem a aptidao escrita e a superagio do modelo (aemulario), entre os quais sugere a tradugio, pritica muito usada pelos antigos oradores”’, que consiste em apropriar-se da ideia original, exercitando, porém, a escolha lexical, bem como a abundancia ¢ variedade da ornamentagao. KEL manifesta est exercitationis hujusce ratio. Nam et rerum copia graeci auctores abundant et plurimum artis in eloquentiann intulerunt, et hos transferensibus verbis uti optimnis ficet; omnibus enim utimur nostri. Figuras vero, quibus maxime omatur oratio, multas ac varies excogitandi etiam necessitas quaedam est, quia plerumque a graceis, omana dissentiunt.»”” vocabulaire, I'sbondance des figures de style, des ressources pour le développement, et de plus imitation GTexcellents modéles engendre la faclité d'une invention aussi heureuse. Em méme temps des beautés qui auraient échappé au lecieur ne peuvent passer inapergues du tradueteur. Ainsi s’scquiéren Te sans critique ete gout © PLINE, LE JEUNE, ap. cit. p. 18: 15. «Tu memineris sui culusque generis auctores diligenter eligere, Ajunt enim mulium legendum esse, non multa.» / «Songez vous-méme faire un choix judiciewx parm 1s modales de chague genre. On dit en effet qu'il faut lire beaucoup ses atutewrs, mais non lie beaucoup dawseurs.» “ Thidem.,p. 16: 3. «ll ve sera pas mauveis, apres avoir fit une lecture de mani & ne retenir que le sujet ct les idées principales. de rédiger un travail sur ce modéle, de le ui comparer, ’examiner soignewsement quel point de vue on est infériewr ou supérieur. (..) Vous pouve2 parfois choisir des themes connus et rivaliser avec les auteurs de voire choi.» ° QUINTILIEN, Institution Oratoire, tA, Texte revn et traduit par Hensi Bornecque, Paris: Ed. Garnier 1933-1953, pp. 86-87: 10.5.2. «Vertere gracca in latinum veteres nostri oratoves optirsum judicabant, Id se L. Crassus in iis Ciceranis de Oratore libris dict facttesse, 1d Cicero sua ipse persona frequentissime praccipit: quin etiam libros Piatonis atque Xenophoatis edidit hoc genere translatos, 1d Messalae placuit, ‘multaeque sunt ab co scriptae ad hune modum orationes, adeo ut etiars cum ills Hyperidis pro Phryne \ifficilima Romanis subilitate contenderet» / «Traduire du sree en latin état, au jugement de nos anciens orateurs, e meilleur exercice, C’est celui que, dans les eéléhtes fivies de Cieéron sur FOrateu, 1 Crassus dit avoir souvent pratiqué; c'est celui que Cicéron recammande ms fréquemment en som propre norm; ila méme publié des ouvrages de Platon et de Xenophon, traduits dans ce but. Cet exercice a regu I'spprobation de Messsia et nous avons de Iui beaucoup de discours écrits suivant cette méthode: il me rivalisé de simpliité, qualité for difficile & acquétir pour des Romains, avec fe célebre plaidayer Hyperide pour Pheyne.» ” shidems, pp. 86-87 : 10.83, «Et 'on voit clairement ce que l'on se propose par cet exercice: les auteurs _rees ont une abondance d’idées extraordinaire; ils ont mis infiniment d'art dans leur eloquence; et, quand ous traduisons, nous sommes libres de nous servir des mots les meillens; tous Jes moxs, en effet, som biens & nous, Quant aux figures, le principal omement de 'éloguence, nous sommes forces également «en imaginer un grand nombre ct de les varie. car le génie des langues grecque et laine est rarement le 36 Outro exereseio igualmente til € a reescrita do texto por outras palavras, fazendo uso da pardfrase nfio para promover a interpretaglo, mas @ emulugo do texto”, pois, além de exigir uma leitura atenta do texto ¢ 0 conhecimento das suas especificidades, suscita também o desenvolvimento da eriatividade e da capacidade de expressii, «Non enim seriptalectione secura transcurrinus, sed tractamus singula et necessario inttospicimas et quantum virutis habeant yeh hoc ipso cognoscims quod imitast non possums. Nee alena tantum transfers, sed etiam nosiza plasbus modis actare prodert, tex industria sumamus sententias quasdam easque versemus quam numerosissime, velut adem cera alias aliasque formas duci sole.»"™ Por outro lado, $.° Agostinho, na Docirina christiana (ca. 397), sublinha que 0 conhecimento das linguas é um recurso fundamental, pois permite verificar a adequagao das versdes biblicas latinas, cotejando-as com o texto grego e hebraico”. Algumas palavras, como as interjeigdes, so intraduziveis™ © outras palavras e expressdes nfo QUINTILIEN, op. cit. pp. 86-87: 10.5.4, «Sed ef ila ex Latins conversio multum et ipsa contulerit. Ac de carminibus quidem netinem credo dabitare, quo solo genere exercitationis dicitur usus esse Sulpiclus. (.) 5. Neque ego paraphrasim esse nterpretationem tantum volo, sed circe cosdem sensus certamen atque semulationer.» / «Mais transerire avec d'autres mots des texts latins sora également ts utile. El, pour les vers, je crois que personne n’en doute: c'est méme le seul geare d'exersice pratique, dit-on, par Sulpicius.(..) Et je voudrais que la paraphrase ne se borat point a une interprétation, mais qu'il y et, auiour des mémes pensées, une iute d'émulation.» * biden, pp. 88:89: 10.5.8-9. all ne sagt plus dune lecture ot rien ne nous arréte ot qui averse rapidement leurs oeuvres; nous fevenons sur fous les détails, nous sommes obligés de les examiner de pres, et toute Ia fore nous en est connue par le seul Fait gue nows ne pouvons les inter. Et ce n'est pas seulement & reproduire sous une autre forme les oeuvres daulrui que nous wouverons du profit, mais foumer de plusieurs fagons ce que nous aurons éerit: par exemple, nous choisirons & dessein cersaines idées et leur donnetons le plus de formes différentes possible, de méme que Ton fagonne Te méne jorceaw de cire en figures qui ne se ressemblent jamais.» AUGUSTINE, De Doctrina Christiana, edited and translated by R. P. H. Greea, Oxford: Clarendon Press, 1995: pp, 72-73 (IXK16): 34. «Conta ignota signe propria magnsm remediuim est linguaram cognitio. Et latinee quidem linguae homines, quos nunc instruendos suscepimus. duabus allis ad scriptursnam divinarum cognitionem opus habent, hebraea scilicet et graeca, ut ad exemplatia praccedentia recurratur si quam dubitationem attulerit latinorum interpretum infinita varias.» / 34, «An ‘important antidote to the ignarance of literal signs is the knowledge of languages. Users of the Latin language ~ and itis these that I have now undertaken to instruct ~ need two others, Hebrew and Greck. for an understanding of the divine scriptures. so that recourse may be had to the original versions if ny uncertainty arses from the infinite variety of Latin translators» © Ihidenm, pp. 72-73 (I1X1.16): «Quamquam et hebraca verba non interpreta szepe inveniamus in libeis, sicut camen et alleluia et racha et esanna et si qua sunt alia, Quonim partim propter sanetiorem auctoritater, quamvis inierpretari potuissent, ctvata es! antiuitas, sieu amen et alleuia, parti vero in liam lingoam cransferri non potuisse dicuxtur, scut alia duo, quae poswimus. 35, Sunt enim quaedam verbs certarum linguarum. quae in usum alterias Tinguae per inierpretationem transire non possint. Et hoc smaxime interiectioa:bus aecidit, quae verba motum animi significant potius quam senventice conceptae tllam particulam, Nam et haee duo talia esse perbibentur; dicunt enim sacha indignantis esse vocem, ‘sama laetantis. 36. Sed non propler haee pauca quae notere sique interragare facillimum est, sed propter diversitaes, ut dictum est, interpreiui illarum Tinguarum est cognitio necessaria.» / «Though we often find Hebrew words untranslated ithe texts ike amen, allefuia, racha, esanna, In some cases, although they could be transleted, the original form is preserved for the sake of iis solemn authority (50 amen, alletuia; in others, ike the other two that { mentioned, they are said to be ineapable of being translated 37 podem mesmo ser traduzidas literalmente‘!, E necessdrio que 0 tradutor possua uma vasta cultura’, para conseguir manter 0 sentido que 9 autor imprimiu ao texto original", caso contrario, realiza uma tradugio falsa 4Et talia quidem non obscura, sed falsa sunt. Quorum alia conditio est; non enim intellegendas, sed emendandos tales codices potins praccipiendum est.» No século LV, a pedide do papa Damaso, S. Jernimo realiza a versio latina do Antigo Testamento (Vulgata). a partir da versio grega Sepruaginia®’, controlada por outras verses gregas, Apesar de o grego ter sido a lingua religiosa até meados do into another language. 35, There are certain words in particular languages which just eannot be translated ino the idioms of another language. This is especially tue of interjections, which signify emotion, rather than an clement of clearly conceived meaning: two such words, itis said, ae racho, a word expressing anger, and osanna, a word expressing joy. 36. But it is not because of these few words, which it is easy enough to note down and ask other people about, but because of the aforementioned diversity of ranslaiors that a knowledge of languages is necessary.» AUGUSTINE, op. cif, pps 7677 (XHt,19) «aut Hinguarum illarum, ex quibus in ltinam seripturam pervenit petenda cognitio est aut habendae interpretationes eorum qui se verbis nimis obstrinserunt, nor quia sufficiumt, sed ut ex eis lbertas vel error drigatur aliorum, qai non magis verba quam sententias intespretando sequi mafuerunt, 4. Nam non solum vesba singula sed etiam locutiones saepe trasferuntur 4quse omnira in latinae linguae usum, si quis consuetudinern Veterum qui latine locuti sunt tenere vohuerit, iransire non possint.» / «we should aim ether to acquire a knowledge of the languages from which the Latin scripture derives or to use the versions of those who Keep excessively close to the literal meaning. Nor that such translations are adequate, but they may be used to contro! the freedom or error of others who in ther translations have chosen to follow the ideas rather than the words. 44, Translators often meet not only individual words, but elso whole phrases which simply cannot be expressed in the idioms ofthe Latin language, at least no if one werts to maintain the usage of ancient speakers of Latin.» © diem, pp. 76-77 (H,Xi,19); 43. «Sed quoniam et quae sit ipsa sententia quam plares interpretes pro sua quisque feevliate aque fudicio conantar elogui non apparel, nisi in ea lingua inspiciatr quam interpretantur, et plerumque a sensu auctoris devius aber inferpres, si non sit doctissimusy / 43, «Because the exact meaning which the various translators are trying to express, each according to his avn ability and judgement, is noi clear without an examination ofthe language being translated, and because @ tyanslator, unless very expert, often strays away from the author's meaning © jbidem, pp. 74-75 (Un, 18}:-41, «EL ex ambiguo linguae praecedents pleramque interpres fllitur, evi non bene nota senrertia est, «t eam significationem transfert quae a sensu sciptonis penitus aliena est» / 41, «Ambiguity in the original language often misleads a translator unfamiliar with the general sense of @ passage, who may import a meaning which is quite unrelated tothe writer's meaning.» idem, pp. 7475 (Ih Nik. 18} 42. «Et alia quidem non obscura sed false sunt. Quorum alia conto es son enitn intellegendos, sed emendandos tales codices potius praccipiendum est.» / 42. «Any other vanslations ofthis are not obscuee, but plain wrong. They differ from the preceding cases, and our advice -nust be not to seck an interpretation of such cents, but an emendation.» © Hor, Henri Van, Histoire de ta Traduetion en Oceidem ~ France, Grarsde-Bretagne, Allemagne Russie, Pays-Ras, Patis: Ed. Duculot, 1991, p. 12. A versio grese dos textos hebraicos do. Antigo Testamento (Septuaginia) realizoo-se por ordem do rei Ptolomeu M1, fundador da biblioteca ce Alexandra, no século IM] a.C., para servir & leftura sinagogal da comunidade judia instalada em Alexandria € nas margens do Nilo. A sactalidade dos textos religiosos fundaménta-se. na narrativa Ficeional dos setenta e dois sibios que isoladamente traduziram os textos sagrados e obtiveram um texto idorico 38, século HII’, a expansto do Cristianismo promoveu a tradugéo do texto sagrado para latim e, mais tarde, para as linguas vernaculas™”, No seguimento da sua actividade, $, JerSnimo justifica procedimentos utilizados na tradugio de textos religi sos: a _manutengao de palavras hebraicas de ambito religioso bastante enraizadas nas primeiras comunidades cristas de origem judaica, a recusa de elementos contrarios & ortodoxia, a afirmagdo da fidelidade ao texto original. A propisito da transcrigio de certas palavras hebraicas, $, JerSnimo explica a Marcela que inicialmente nfo se justificara uma tradugdo, pois es primeiras comunidades cristds eram de origem judaica, e que, mais tarde, tal nfo se fizera para nfo causar perturbagdo, visto que, segundo Origenes, cada Hngua tinha caracteristicas préprias © nenhuma tradugao iria conseguir manter o sabor que a palavra tinha na lingua original. Referinde-se ao prefacio da tradugdo latina do Peri archon, realizada por Rufino, S. Jerdnimo reforga o critério de evitar os elementas contrarios a ortodoxia, por raz6es de fé ¢ por considerar que o texto de Origenes fora corrompido™, e confirma os © Hook, Henri Van, op ci, p. 13. lusque vers le milieu du I" siécle, le gree demeura la langue unique du chistanisme, et cest seulement sos Vieior I, pape de 189 & 198, que fe latin apparut pour la remiére fois et comme langue secondaire ” Jidem, p. 14. sLes besoins d'une communauté chrétienne en expension rapide posérent trés vite Je probleme dela traduction du Nouveau Testament en d'autres langues que Je latin.» 5 Jexonte, Saint, Lenres, t. 2, Paris: Les Belles Lettres, 1951, p. 18: «XXVL Ad Marcellam. 1. Nuper ‘cum patiter essemus, non per epistlam, ut ante consueueras, sed praesens ipso quacsisti quid ca uerba ‘quae ex Hebraco in Latinum non habems expresso, apud suos sonarent, curque sine inerpretatine sint posit, ut est itd: alleluia, amen, maran atha, ephod et cetere, quae in scriptaris eonsperse memorasti. 2 ‘Ad quod nos, quia distandi angustia coartamur breuiter respondemas sive septunginta interpretes sive postalos id curasse ut, quoniam prima ecclesia ex Tudaeis fuerat congregata, nihil ob credentiom scandalum innouarent, sed ita ut a parvo inbiberant traderent; postea uero quam in universas gentes evangelitdilatatus est sermo, non potuisse semel suscepta mutay, licet et ilud in libris suis quos eEmymeexoiic uocat, Origenes adserai propter vemaculum linguae uniuscuiasque idioma non posse ita apud alios sonare ut apud suos dicta sunt, et multo esse milius ininterpretata ponere quam wim incrpreratione tenuare.» / «1. Naguére, comme nous élions réunis, ce est plus par lee, selon ton habitude antérieure, mais personnellement ct de vive voix que tu m’as demandé, a propos des mots {ébreux que nous ne trouvons pas tradvits en Jatin, quel éiait leur sens chez les Juifs et pourquoi on les reproduissit sans les traduire, comme, par exemple: alleluia, amen, maran atha, ephod et les autres, épars dans les Ecritures, et que tu as mentionnés. 2. Voici notre réponse, couree parce que nous sommes géné par la difficuté de dicter. Tantfes soixante-Uix interprétes que les potres ont pris grand soin, puisque la primitive Elise s'étit reerutée parmi les Juifs, de xe seandaliser aucunement les croyants par des innovations, mais de tansmetire tous les textes fels qu’on les en avait imbus dans leur enfance: plus tard, lorsque la prédication de I'Evangile se ft étendue & tous les peuples il ne fut pas possible de changer ce que Yon avait une fois adopté; pourtant. dans ses lives qu'on appelle exégétiqnes. Origéne allézue aussi le motif suivant: chaque langue posséde ses particulartés idiomatiques: les mots ne peuvent ainsi avoir la mméme tonalité pour les érengers que pour fs indigénes qui les prononcent: i est done bien préférable de les transcrze sans les traduire que d'en affair fa Valeur par une traduction.» © Ioidem. t, 4, Patis: Les Belles Lettres, 1954, p. 109; sLXXX. 2, Hune ergo etiam 10s, lie non eloquentise uiribus,discipinae ramen regu in quantum possums sequimur, obseruantes silicet, ne €8 quae in libris Origenis a se ipso ciscsepantia inueniuntur aique controri, proferamus. (..) edidimus, brevissimo fibello.superaddita, in quo euidemtibus, ut arbitror, probamentis comuptos esse ia quam 39) critérios de fidelidade ao texto original”. As referéneias ao literalismo pretendem certificar © seu trabalho perante uma comunidade preocupada com as fontes e a transmissfo fiel do texto sagrado. Confrontando duas edigdes gregas desse texto, uma comum, que foi corrompida a0 longo da tempo, ¢ @ dos Setenta, que se manteve inalterada, a fim de empreender a tradugao dos Salmos para fatim, S. Jeronimo dirige uma longa carta a Sunia e Fretela, referindo as diferengas encontradas entre as edigdes € alguns problemas. entre os quais: © as palavras idiomiticas 3. ethan ese realm bon interprets, tii exprimat proprietate, is codicibus 18, «dn coder: «Ego autem dixi in excess mentis meae.» Pro quo in Latin legebatur: «in pauore mean, et nos iusta Graecum transtulimus, € 74 éxaTdoet p00, id ext, ain excessu mentis meae». aliter enim éxcr7aa1w Latinus serio exprimere non potest nisi canentis excess. liter me in Hebraico legisse nowetam, «in stupore et admiratione meas.» 30-aHlace superflua sunt, ef non debemus in putida nos usrboram interpretatione torquere, cum damn aon sit in sensibus, quia unaquaeque lingua, ut ante iam dni, suis proprietatibus loguitur.»" © os determinantes possessivos 7. «De octavo psalmo: «Quoniam uidebo caelos tuos.» Et dicitis quod «twos» in Graceo non habgat. Verum est, sed in Hebraco legitur wsamacha». quod interpretatue «eaclos wos». plurimis ab heretics et maliuolis libros eius ostendimuse» / «C'est done Ini qu’ notre tour ~ quoique avec ‘une moindre élequence. mais autant que possible solon les mémes principes scientifiques ~ nous allons suivre; je veux dire: nous metirons tous nas soins & ne pas publier des passages qui se trouvent dans les livres d’Origene, mais sont en désaecord et en opposition avec se propre peasée.» "© JeRéaae, Saini, ep. cit. 14, pp. 110-111: aL XXX, 3. .. ne adataliguid hie seripuurae, ne anferat, ne inserst, ne inmutet; sed conferat curn exemplaribus unde scripserit, et emendet ad litteram, et distinguat; et inemendatum uel non distinewum eodicem non habeat, ne sensuuin diffculias, si distinetus eodex non |: maiores obscurtates legentibus generet>»/ equ'au present écrit il n’ajoute, nine supprime, ni n’iusére, ni we change quo} que ce soit, mais qu'il le colladionne avec les exemplaires qu'il aurs copiés, qu'il le corrige lett par fetre, qu'il le ponctue, qu’ n’ait pas en sa possession un manuserit incorrect ou sans ponctuation, de peur que la difficulié de sainsi le seus ~ dans le cas ol le manuscrit ne serait pas ponctus = ne cause de plus grandes obscurités aux leeteus.» S\ Ihidem, t. 5, Pasis: Les Belles Lettes, 1955, p. 106; «CVI, 3, c'est la régle dun bon interpréte exprimer Tes iditismes d'une Tangue par les expressions propres de la sienness biden, p. 13; «18, Av mxéme psaume: «Pour mi j'ai dit dans Vextase de mon esprity, au lien de quoi on list dans les manuscrits latins: «dans ma frayeur», quant & nous, nous avons traduit, d'aprés le grec: sidans V'extase de mon esprity; le mot gree ne peut en langue latine sexprimer que par wextase de espritn. Mais je savais bien que j'avais lu aute chose dans Mhebyeu: wdans ma stupeur et mon fonvement».» * Ibicem, p. 117: «BO. Tout cela est supertfu, et nous ne devons pas novs torturer pour une traduction affeetée des mots. quand il n'y a mul dommage pour Te sens; chaque langue, comme je Vai deja di sexprime par ses idiotismes.» > biden, p. 108: «7. Du psaume VIII: «car je verrai tes cieuxo, Et vous dites: Je grec n'a pas «tes». Crest vrai. Mais en hébreu on fit esamacha», qui se wraduit: «tes cieux»» 40 + o.uso do singular / plural 98. «Pro quo seriitis in Graeco inueniti iret ceo, i est, «tanquam cervip, singularem rnumeeum pro plural + atradugio metonimica 9, gE pro egentbusy, tem in Hebraco, quam in cutis inerpetibus, lnimishy posi suet miro, quomode pro inimicisy, «gentesy mutatae sit” * aadigho de palavras 11. adn eoden: et enavet nos indie, qua invocaverimus te» Pro quo legisse nos dicts: sin quocumgue die»: sed superius eum Hebraica ueritate concordat, ubi seripium est cebjomp, i est, ain digo. 0! + arecusa da tadugdo literal, palavra por palavra 17. «Quod si tansferte uoluerimis ad uerbum, domnis quisy, in xorogANar interpretationis incurrimus, et fit absurda transtatio.s”™ » aambiguidade 17, wSed quia diasaphy uerbum ambiguum est, et potest vtrumque sonare, nam et «session, et wiabitation diciturs» *aelegancia literdria da eufonia 26. Pro quo in Gracco serptum sit: €v» vets €@vecu; sed si dtu fuisset in Latino: in Similtudinem in gentibus», oxagionay essex, et proptetes absque damna sensus ‘enprettions elegantia conseruata est!” 29. «ln eodem: «Et dominabuntur eorum iusti»» Pro ciustisn, cis, id est, «restos, in Gracco wos legisse dictis sed hoe propter etduriav ita in Latinum uersum est.» * os \énimos 32, «a. nam et in Hebraco choredn habet, id est, keTaBiBagor: qued nos possumus dicere, «deponen: et Symmachus interpretates est ro'rdyaye.»"™ * JexOME, Saim, op. cit. $,p. 109 «9, A le place, érivez-vous, on tron dans le gree: «eamme ceux No comentario & tradugiio dos Salmos, S. Jerénimo reflecte sobre problemas lexicais, morfalégicos, sintdeticos, desde os aspectos actisticos, que podem influenciar a eufonia, ais opgdes retéricas. Entre preocupagées de ordem filoldgica ¢ a fixagtio e recepgio do texto, S. Jerénimo recomenda que nfo se incluam as notas marginais na tradugao do texto’, que nio se perea tempo em discussées desnecessirias™, que se conserve a eufonia ¢ a propriedade dos termos Iatinos'””, caso nfio haje alteragio no sentido do texto. Na Epistola a Pamaquio, “De oplimo genere interpretandi” (ca. 405), S. Jeronimo procura defender o seu trabalho de compromisso entre as culturas judaiea. grega e latina das acusagdes que suscitou, apoiando-se na autoridade de autores * TEROME, Saint, op. cit. 1. 5, p. 120: wl. Au méme psaume: alls ont vu tes entrées. 6 Dieu.» A la place Ade quot il serait erit dans Te grec: «Tes entrées ont e1& vues, é Dieu» Doidem, p. 124: «48. An meme psaume: «Ma chair a défuilli et aussi mon coeur.» Aw liew de quot certains observent un ordre fautif: «mon coeur et aussi ma chair a detail.» © biden, p. 125: «CVI 48, Vnde si quid pro studio ¢ lateve additum est, on debet poni in corpore, ne prigrem translationem pro scribentium uoluntate conturbet» / &Si, pour Pete, on a cro devoir ajowter tune annotation en marge, elle ne doit pas étre incorporée au texte, pour que la traduction, qui a la priori ne soit pas woublée au gré des scribes.» Foidem, p. 130: «CV1 54, wt quaeso vos, ut hulusmodi ineptias, et superfiuas contentiones, ubi nua est sensus inmuratio. declinetis» «Et je vous supplie, quand les discussions de ce genre sont ineptes et supertlues,c'est-a-dite a ol il m'y'@ aucun changement de sens, de vous y refuser.» " Dbidem, p. 131; «CVI 55, Eadem igitur interpretandi sequenda est regula, quam saepe diximus, «ut Ubi» non fit darwmum in sensu linguae, in quam (ransferinnus, eid et proprietas conseruetae) / «Par consequent, il faut suivre la régle de traduction que nous avons souvent indiguée: lé ol e sens ne subit aucun dommage, que on conserve Peuphonie et Ia propristé des termes dans la langue olt Pon traduit» 42 chissicos ( io de jceto e Horicio) ¢ contemporéneos (Evagrio de Antioquia e Hild Poitiers) ¢ afirmando que o tradutor deve atender ao sentido do texto e escrever com clegéncia © estilo, reservando somente ao texto biblico maior Iiteralismo na correspondéncia lexical ¢ na ordem das palavras na frase, devido a0 seu caricter peculiar «Ego nim non solum fateor, sed libera uoce profiteor mic in interpretatione Greccorim albsque seripturis sanctis, ubi et verborum evdo mysterium est, non uerbum € verbo sed sensu exprimere de sensu" © franciseano inglés Rogério Bacon, em “De militate grammaticae” (ca. 1262), terceira parte do Linguarum cognitio, sublinha a impossibilidade de se conservar na tradugio as especificidades de outra lingua, e. fazendo referéneia a epistola de S. Jeninimo, defende a conhecimento do grego e do hebrew para resolver problemas de 108 interpretagio dos textos sagrados decorrentes da tradugdo'®. Ao longo da exposigiio, outras razdes sto apontadas para 0 conhecimento das linguas: a compreensio do 8 JERONIMO, Santo, Carta a Pameiguio sobre os problemas da Tractugdo, op. eit. pp. 60-63: «5. Ego nim non schum fateor. sed fibera uoce profiteor me in ieterpretatione Graecorum absque scripteis Santis, ubi et erborim ordo mysterium est non uerbum e uerbo sed sensum exprimere de senst.(.) Quam nos uertatem iniempretaionis, bane erudti soxoriiow mincopent.» «Pela minha” pat realmente, no apenas confess, mas proc a plenospulnides que quando traduzo os textos greges = «que no sejam as Sauradas Eserituras (one até a estutra da fase € mistro) —no€ palava a pala, nas send que ei exprima.(.) Aquilo gue vis designs por fidelidade em adugho, os homens de ‘saber chamam-the gosto afectado, kako¢nAiar (cacozelia)» * Bacon, Roger, The ‘Opus Majus” of Roger Bacon, (e6.) John Henry Bridges, Frankfurt: Minerva, 164, vol. 3, Linguarum ecenito, pp. 80-8: «Nam tots texts sacer a Graco et Hebrico transfss est «ec pilosophia ab his et Arabica duct et sed impossibie est quod proprcts unin ingse serve in alia. (..) Quapropier quod bene fac es in una lingua non est possibile vt tansferatur in alam secankiam ejus propricttem quam habuit in prior, Unde Hicronyius in epistola de optimo genere inceptetndi sie det, “St aé serum intrpetar,sbsordum reeonat. Quod st oui non videtur linguse zratiam intepretatone mar, Homeram sd verbum exprimat in Latinum. Plus aliquid ican: eandem in sa lingua prosae verbis interpretetur, videbst ordinern riciculum et poeta eloquentissmin logaenem.” Quisangue enim aliguar seientiam ut logiam vel lism quameunque bene seat, eam nitatar in linguam convertere maternam, videbi se non Solum in sentents sed in verbie deficer, ita quod scieniam sc translater malls itllgere poet secundum ipius seiertie potestate Et ideo walls Tatinns saientam sevipnirae sacrae et philosaphise pote t oportt integer, nisi intellgat Iingucs @ auibus sunt rash. [Pos todo o texto saztado fei vertido do Grego e do Hebreu, ¢destes do Arabe xtra filosoin as immpossvel qae a propriedade de malig Sa preserve nas outras. .} Pe esta raze, o que fics bem numa lingus no & possvel waduzir para ours sezundo a mesma propriedade «qe possia na anteroe. Onde Jerinimo na episol primo genere interpretand assim ci: "Se tradi 8 letra, soa absurdo. Se alauém nto concordar que a beleza de urna lingua € alterads pela traducZo. que Traduza Hometo letra em Iatim, Digo mais isto, gue 0 tahtze em prosa nas ingus: veré uma constrago absurda & um posta eloquentissimo a exprimir-se mal”. Todo aque que. sem divida, souber her alga ciéncin come logice on ourra quslqueresfooe-se por wala na ling matennt: ver que se pede nio 36 nas expressdes, mas também nas polaras, de modo que ¢ cincia assim tradvcida ninguém podera compreender segundo a autoridade da propria ciéncia. E, por essa razio, nenhum latino podera compreender como convém a sabedoria das Sagradas Eseritras © dfilosofa, a nfo ser que onhega a aguas das quai foram radia) 43 vocabulirio cient fico integrado na lingua Jatina’'”, a correcedo dos erros e " fentes nas tradugdes dos textos teoldgicos e filos6ficas''', sobretudo, relacionados com a ortodoxia’ Os Humsnistas receberam, por meio de S. Jernimo, uma terminologia que se presta a grandes equivocos, pois procura conciliar priticas que pertencem a duas tradigdes diferentes: a tradigtio retérica (tradugdio ad uerbum) ¢ a tradigio. patristica (iradugie ad sententiann). Na verdade, enquanto os autores clissieos viviam num contexto cultural bilingue'’ que favorecia a tradugio “intralingual”, como meio de exercitar a gramética e & ret6rica (enarratio poetarum | inuentio). mediante a imitagio dos modelos gregos e a sua emul: 10, 08 autores patristicos, vivendo num contexto de ruptura linguistica, investiram na tradugio “interlingual” como forma de promover a transmissao fiel do texto! "Bacon, Roger, op cit, p. 81: «Secundo consierandum est quod intrpretes non habuerunt voeabale in Latino pro seientistransferends, quia non foerun: primo composirae in. lingua Leting. Et propter hoe posuerunt infiniza de fnguis aliens, quae sieut non inteliguneur ab ei qui las lingnas ignorant se nee rite proferuntur nee serituntur ut deel» / [Em segundo lugar, deve-se observar que os interretes no tinkam voefbales no latim para waduzir as ciéncies, porque no foram. no prineipio eseritas na lingua latina. E, por causa éisio, empregaram numerosas palavras das linguns estrangeras. que, como na sho compreendidas pelos que desconhecem esses linguas, assim nem sfo bem pronuneiadas, nem escitas como conver] "© biden, p. 94: «Senta rato est propter comectionem errorum ef flstarum jnfinitarumy in texts sem theologiae quam philosophias, non solum in litera sed in sensu.» /[A sexta raze & em vista da convoys dios enos ¢ des infnitas flsidadss no texto tamo de teologia como de flosofia, nfo sé ns palara, mas também no semi.) idem, p, 10k: «Septima ratio, quare necesse est ut Latin’ sciant Hinguas, est specialiter propier sensus falstatem, ets litera esset verissima, Nam tam. in theologia quam in phlosophia necessariae sunt interpretationes, et praecipue in cextu Sacro et fn textu medicine et scentiarum secrearum, quae nttis cccultantur propler lgnorantiam inerpretationum.» / {A sétima razdo, pela qual é necessério que 03 Latinos conhegam as linus, especialmente por cause da flsidade do sentido, ainda que as palavras sejam as mas correcias, Com efeto, tanto na zologia coma na filesofia, as interpretagdes 530 recessérias, quer, sobretudo, no testo sagrado, quer no texto de medicina e das ci€ncias secretas, a8 quais sh demasiado obscuras por causa da ignorincta das interpresegses } Copetanp. Rit (1995), op_cit. p. 21: «Translation played a limited role in the grammatical program, ‘whieh i to be expected, both because ofthe preliminary, foundational neture of grammatical taining, and because of the restrictions placed upon interpretive ectity within grammar. The mest abvicus function of transation isis role inthe bilingual context of Roman education, Here Greek was originally taught side by side with Latin, and exercises in converting Greek texts into Lain and vice versa were commonplace. With the decline in Roman bilingualism during the second and third centuries of the Enpire, it became necessary o teach Greek as foreign language.» "idem, p. 43: «Patrisicecicism borrows the terminological apparatus of Cicero and Horace, ba in onder to generat «theory of translation directed almost entirely at mesning and at siuificaton outside the claim of either souree or target language. (..) As early Christan semiology aecords human language a secondary, although necessary, role in relation to the primacy and stabilty of civine signification, so patristic translsion theory is concemed mainly with recuperating a trahful meaning beyer the accidents of human fingustie multiplicity.» 44 A técnica da tradugiio ad sententiam''® foi ensinada pelo professor bizantino Manuel Crisoloras (1350-1415), que, por Salutati (1331~ intermédio do chanceler humanista Coluecio 1406), veio para Florenga, em 2 de Fevereiro de 1397, ensinar grego a um grupo de estudantes, entre os quais se encontravam Leonardo Bruni Niecoli, ae bert Decembrio, Guarino Guarini ¢ Cencio de Rustici Influenciado por Colucci Salutati, que defendia o conhecimento dos textos clissicos e a tradugao ao nivel da res, Leonardo Bruni (ca. 1370-1444) verte, em 1403, do grego para latim, 0 tratado De libris gemtitium legendis, em que S. Basil o defende o valor dos estudos clissivos na educagtio da juventude para tegitimar o estudo da literatura paga por cristdos. Em 1412, pede a Niccold Niccoli (1364-1437) que Ihe envie © que considerava ser o praefatio de Cicero as verses dos discursos dos oradores gregos, Esquines e Deméstenes. contra ¢ em defesa de Ctesifonte, ou seja, 0 De optino genere oratorum'. Além da sua extensa ¢ variada produgio literaria'"*, verteu do grego para latim diversos autores, como Aristéfanes, Aristételes, Plat&o, Plutarco, Demdstenes, Homero, Xenofonte ¢ $. Basilio, ¢ desempenhou cargo de secretarius qpostolicus com quatro Papas - Inocéneio VII (1404-06). Gregério XII (1406-08), Alexandre V (1409-10) © Jofio XXII (1410-15), tendo s Poggio di Guccio Bracciolini (1380-1459), chanceler de Florenga, que, em carta datada lo depois substituide por de 18 de Maio de 1416, conta a Niccold Niccoli que se encontra a estudar hebreu'"”, 0 que the dari oportunidade de conhecer 0 método de trad ilizado por S. Jerénimo'™. Em carta de 15 de Dezembro de 1416, Poggio conta a Guarino que esteve no Mosteiro de S. Galo, onde, com os seus colegas da Ctiria, Cincio Romana "5S GoNZALE2 ROLAN, op oft, p. 35 «.. vba conocer una nueva téoniea de traduccign, la comversio ad sententia, euyo objeetivo fundamental era repraducir fieimente no las palabras del riginal sina sus ideas, es decir su contenido o significacién. Asi pues, las tadveciones del griego al latin realizadas por Ios humanists itlignos durante la primera mitad del sigh XV tendrian como raxgo comin el de pretender ser files al pensaiiento 6 eantenida de original» tiem, p25 "” BorLzy, Paul, Latin Translations in the Renaissance: The Theory and Practice of Leonardo Bruni {Giannozzo Maneti and Desiderius Erasmas, Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 20. "perez GONZALEZ, Maurilio, "Leonardo Bruni y su trtado De inerpretanione recta”. Cuadernos de Filotogia Clisica, Estudios Latinas, XS. 8, Madrid: Facultad de Filelog, 1995, pp. 197-198, \ Prasatori Latin del Ouatrecenta - Buonavcorso da Momenagso, Lapo da Castiglionchio, Poggio Bracciolni, A eura di Eugenio Gacin, vol. 2, Torino: Giulio Einaudi editore, 1976. p. 218: «dicebam nuula de liters hebraiis,quibus operamn dba. © fbidem, p. 218: «quam eis nulls usus esse conspiciam ad sapientiae facutaiem, confen tamen aliquid ad stadia nostea humanitats, vel ex hoe maxim quia morem Hieronymi in ransferendo cegnovi 45 Bartolomeo Aragazzi da Montepulciano, encontrou e copiou os primeiros eédices de autores classicos para envié-los a Leonardo Bruni ¢ a Niceold Niccoli'” Os antecedentes da polémica sobre a tradugao encontram-se no principio do sécule XV, quando Leonardo Bruni verteu integralmente do grego para latim a Ethica Nicomachea de Aristételes (1416-1417), atacando no profagus o tradutor medieval, ao qual se refere como membro da Ordem dos Dominicanos'™. Tinha, sem divida, em mente Guilherme de Moerbecke (ca. 1215 ca. 1286), que, em 1260, fizera a revisio da versio integral da Ethiea Nicomachea de Aristételes, realizada, do grego para latim, por Robert Grosseteste (1168-1253), bispo de Lincoln € mestre de Rogério Bacon (1214- 1294). Era este 0 texto oficial das Universidades europeias que a versio de Bruni pretendia substituir*, Nesse sentido, ofereceu-a, em primeiro lugar, ao Papa Martinho V, colocando-a sob a sua protecgao'™, por meio de um praefatio em forma de carta datada de 1419; de segui la, apresenta, no prologo, uma severa eritica ao wadutor medieval!™, para defender a sua versio da agitagio que iria causar'”®. No praefatio citi ido ao Papa Martinho V, Bruni argumenta que os opasitores & sua versio nfo sabem grego e, por isso, no podem ajuizar os erras da versio Prosatori Lavini del Quastsoceno, op. cits p. 2446 «Est autem monasterium Sancti Galli prope vrbem rhane milibus passuum XX. Itaque nonnulli animi lasandi et simul perquisendorum librorum, quorum ‘magnus numerus esse dicebatur, gratia co perreximos. Ibi inter confertissimam librorum copiam, quos longum esset recensere, Quintilianum comperimus adhuc salvum et incolumen, plenurs tamen situ et pulvere squalentem. (...) Reperimus praeterea libros tres primios et dimidiam quarti C. Valevii Fleect Argonauticen, et expositiones tamquam thera quoddam super oete Ciceronis arationibus Q. Asconii Pedian, claquentissimi viri, de quibus ipse meminit Quiatilianus. Hee mea manu transeripsi, et quidem velociter, ut ea mitterem ad Leonardum Aretinum et Nicolaum Florendiaum.» ®! Gonzitez ROLAN. T., ap. eft, p. 178, L. 3-5: «Constat enim illus raduetionis auetorem, quicumque tandem is fuerit (quem tamen Ordinis Praedicatoram fuisse manifestum est) 2 phidem, p. 7. "4 Universidade de Salamanca foi a primeira a adopter a versio bruniana da Evhica Nieomachea, uma vyez.que o Popa Maniinho V fez depender disso a aprovagiio, em 1422, dos Estatutos da Universidade de Salamanca, A versio de Bruni também teve una ripida difusto em Tula, pois desde 1425 0 filésofo e médico de Viena Ugo Ben2i fazia uso dela nas suas lighes piblicas sobre 0 texto aristotlico. Ct. GONZALFZ ROLAN, Top. cit, pp. 73, 95 € 345- nota 70, "5 GONZALEZ ROLAN, T., ep. cit p. 74: La tactic elegida por L.. Bruni fe, primero, ponerse a cubierto bajo el parayuas protector del Papa y, a continuackén, lamar la atencion sobre su obra recurriendo @ una provecscién gue él sabis intolerable para muchas sensibilidades contemporaneas, a saber. un ataque en {oda regla y sin concesiones contra el autor y a traduccibn medievales.» © phidem, p. 74: «Que L. Bruni era consciente desde un principio del revuelo que provocaria no ye ta ‘radnceién, sino su prologo. queda confirmado en una carca (I. IX, ep. XXVI) enviada (CE. L. Mehus, op, cil, Vol. 2, 230-234} por ef humanista forentina a Ivan Nieolis, en la que, tras defender in Erhicorsm interpretations, quam nuper edi su taduecisn de 7 dyafén en el sentida de summum bonum y no en eh de Bonu, como habia hecho ef taductor medieval, le dice la seguiente: Videbam enim ab ipso intfo imargnas michi controversias non defuturas praeseriim adversus eos, ud vetustas, ut vere dicam, ambages ex antique ilfafinterpretarione imbibissent.» 46 medieval!””, porque esté consciente da dificuldade em substituir uma versio, cuja tradigdo remontava ao século NII € contava com o apoio de notas e comentarios’ No prologus'”®, Bruni apresenta trés criticas fundamentais ao tradutor medieval A primeira critica é dirigida a falta de competéncia linguistica em grego e em latim'™": no que diz respeito a “lingua de origem’, pela md interpretagao do texto grego'™!; quanto lingua de chegada, pelo desconhecimento das potencialidades da lingua’, que leva o tradutor medieval a traduzir sem pericia', a manter helenismos'**, a nie fazer uso de zados' vocabulos utilizados por autores autor > © a néo manter a mesma equivaléncia entre as palavras"®, A segunda critica refere-se ao escasso conhecimento da matéria filosdfica, também responsavel por certas escolhas lexicais inadequadas'"”; “horus” em ver de “honesius”, “delectatio” em vez de “uoluptas”, “tristitia” em vez de “dolor”, “eligere” em vex de “expetere”, “malitia” em vez de “uitiunt". A terceira critica diz respeito a deseleganeia do estilo”. A semelhanga de Aristételes, que. segundo a autoridade de Cicero, soubera conciliar a eloquéncia com a sabedoria!™, emethang dos antigos tradutores latinos (Plauto, Teréncia e Cicero), que verteram os textos gregos GonzALeZ ROLAN. T.. op. cit, pp. 73-74: «En la praefaio le expresa al Papa su sospecha de que no fatarn quienes, dsconccedores dels letras greens ¥, por ell, ineapaces de dscemi los defects de la traduccion medieval, opongany combatan In suye, aunque la verdad es que se hd adelanado elles al Tedactar su proemia: Quas! vero suspicor fore non nullas qui forsam grecarum ltzrarum ignartet ddjectus(glosa supine id st tratuctionis ange) minine fer noscere valemcs ic mee abort refragabinn (glosa supraineal: id est contatcent vel repngnabinl) pro discussione rerum ipserion dquedam prenisin "8 Ibidem, p. 74: «Parece evidente que L. Bruni no esperaba que st traduccidn transitase por wn camino: de reas, dco el anzigocleanando por ls versisn de Grosststey la prevsible resistencia de prfiscres oy intelectual a experimentar novedades abandonando un texto que. ademas de bien conocido, les resultaba comodo, dadas las notas y comentarios que Jo acompafiaban.» "8 idem, pp. 178-193. ° Phd, pp. 178-179, L 6: ogbe Graeas neque Latinas itera sts sivise.» 8 Fbidom, pp. 178179, 1. 6-7: Nam et Graeca multis in locis male aceipit ...s, pp, 186-187, 1. 102-104: «tlsec vt apud Latinas wocabulis distinta stn, si etiam apd Graecos; ite il, si modo quiequam ingeligere, numquamn confudiset» ™ Fhidem, pp. 178- 181, 1. 9-11: «Quin etiam frequenter uetborum, quae optima et probatissima Latinitas habe, ins argue in opuletia nostra mendicans.. » P pbidem, 1781791, 7-8 «st Latina sie priiter et indocte reddit.» "3 fbidem, pp. 180-181, L. 11-13: «... cum Graeco uerbo Latinum reddere nesciat, quasi desperans ct consi inope t,t acent, Grose dim, = Tbidem, pp. 186-189, 1. 120-122. «Primum quacro, quae causa furit ab usu loquendi Cicerois Senecae, Boeti, Lactani, Hierongmi et aliorum nostrorum recedend’ 36 Thidem, pp. 182-183, L. 46-47: «Sed quid ego aut de collatione uttiusque Tingwae aut de accurata verbo representatione dispute?» ' Ibidem, pp. 184-185, 1.. 78-80: «Atqui fieri potest, ut ipse in philosophia doctus fuerit. Sed equidem non po, cim idem psu res quoque sis com notinibas confonerte.» 198 Phidem, pp. 178-179. 1. 8-9: «... ut uekemonter pudendum sit tam supinae crassaeque vuditatis.» ' phidem, pp. 180-181, 1. 16-19: wAiqui studiosum eloquentize fuisse Aristotelem et dicendi artem cur sipientie conianisse et Cicero ipse multi in locis testatur et iri eius sumo cum eloquentiae studio huculentssime seri declarant» aT respeitande nio s6 o contetdo, mas também o estilo'”, Bruni afirma como principio da técnica de tradugio"! 0 uso das possibilidades expressivas do latim para exprimir com propriedade e elegincia o pensamento grego'”. Na conclusio' do prologus, Bruni sintetiza os argumentos usados para Justificar esta nova versio da Ethiea Nicomachea: a necessidade de um texto latino que transmitisse com propriedade ¢ elegancia a obra aristotélical Alonso de Santa Maria Cartagena (ca, 1384/86-1456) € 0 outro interlocutor da polémica sobre a tradugo. Enviado como embaixador de Juan Il corte portuguesa, na companhia do secretdrio real Juan Alfonso de Zamora, com o objective de negociar a continuagdo das tréguas e a paz entre os dois reinos, Cartagena compde a sua primeira ‘obra, Memoriale wirtutum (1422), compéndio de origem aristotélica’ © realiza tradugdes de textos ciceronianos De senectute (1422), De officiis (1422), Pro Marcello (1422-1427) © © De inuentione (1424-1431), que terd coneluido depois em terras castelhanas. Também traduziu Boccaccio'*, Séneca'‘’. Vegécio'*, Quinto Curcio & Aristoteles!, tendo side defensor tanto do uso de latim como do vernaculo™. 'S8 GONZALEZ ROLAN, T., ap. cif. pp. 180-181, L. 29-36: «Videmus Plautum quidem et Terentiom, poetas comicos et de leuissimis rebus Gactantes, Menandri fabulas ex Graeco sumpias sic Latinas fesse, ut Cuneta etiam minatissima exprimant; nee tamen uerbis Graecis tuntur neque elegantia summa ilis deest neque omatus. Ciceronem quogue in his libris, in quibus hace ipsa ab Aristotele taciata petsctipsit, ‘numguar exprimendi faculias, namquam ubertas orationis defects "" Jbidem, pp. 337-338, nota 4: «La vineulacién entre contenido y forma y, en dtima instancia, entre filosofia y retévies, inspirada en la tradicién platnica, es un principio fundamental det planieamienta retorico de CicerSn (...) que Bruni reivindica como eriterio oriemador de la técnica de traduccién para cexigir Ia adecuacién a Ja lengua originaria, tanto en la expresién de] contenido como en Ia propiedad de Tas palabras y la clegancia de! estilo.» ¥2 Jbidem, pp. 180-181, L, 24-26: «Nee wero mihi quisquam obiecerit Latinae linguae inopiam. Navn ike quidem abunde locuples est, ace ad exprimendum quad uis, uerum etiam ad exomnandam satis»; pp. 182- 183, L. $9.61: «Atqui poterant haec omnia, quae cb ignorantiam reliquit, commode et eleganter Latine i "8 jbidom, pp. 192-193, L. 183-190: «Ego igitur Infinitis paene huiusmodi errortbus permotus, cum hace indigna Arisotele, indignaque nobis a¢ lingua nostra arbitrarer, cum suauitatem horum librorum, quae Graeco sermone maxima est, in asperitatem conuersam, nomnina iniovta, res obscuraias, doctinam labefactatam uiderem, laborem suscepi nouae traduetionis, in qua, ut cetera omittam, id assecutam me [ue ut hos liaras mune primum Latinos feeerim, cur antea non essen.» '* yhidom, p. 339. nota 19: «Leonardo vemata el prOlogo sintetizande los argumentos de su critica a la ‘raduccion medieval: 1a radeza del estilo {asperiias), la inadecuada seleccion del vocabulsrio (nominata Jngoria) i incomprensién del contenido (res obseuratae) y de la docevina (loetring labefacta).» * Compéndio dos Livros HI-VII éa Fthica Nicomachea, cuja Fonte foi In elecem libros Ethieoram {ristoelis ad Nicomachum Expositio de Tomas de Aquino. redigide entre 1266-1267. *® De castbus virorun ilasirium (1422), » Obras senequianas ou pseucosenequianas (1430-1434), como Libro de la providencia de Dios, Libro de laclemencia, Libro de lus siete artes Hberales, Libro de la vide bienaventurada, ™® Epivoma cei miliaris Mais tarde, @ tradugio para castethano da versio bruniana da Ethica Nicomnachea (Cf. SAQUERO SUAREZ-SOMONIE, Pilar, “Actitides renacentistas en Castilla durante el siglo XV: Ia correspondencia centre Alfonso de Cartagena y Pier Candice Decembrio”, Cuadernos de Filologia Clisica (Estudios Latinos), ns.1, Madrid: Ed, Univ, Complutense, 1991, p. 207) 48 © tratado elaborado por Cartagena em defesa do tradutor medieval, Declamationes super translatione Ethicorum Aristotelis'’' (1431-1432)', faz parte dos Declamationum libri, obra que cantém todos as escritos que fizeram parte da polémica sobre a traducdo, compilada por Pier Candido Decembrio e dedicada a Humphrey de Gloncester! No prélogo, Cart .geoa explica as circunstaneias que precederam a elaboragao do tratado, escrito em forma epistolar, cujo destinatario, Femando, parece ser Fernéin Pérez de Guzman (1376/79-1460)'**. Cartagena recorda que, durante a sua estada em Portugal, como membro da embaixada de Castel (provavelmente @ Gltima, entre Setembro e Dezembro de 1427), teve oportunidade de se relacionar com homens cultos que tinham estudado cm Bolonha, Por meio de um deles, possivelmente Velasco Rodrigues, que, em 11 de Margo de 1425, comprara ao fivreiro florenting Piero Betweci duas tradugdes do grego realizadas por Bruni e um Teréneio', Cartagena toma conhecimento das tradugies latinas de autores gregas realizadas por Bruni: os discursos de Esquines e Deméstenes contra e em defesa de Ctesifonte, também traduzidos por Cicero, além do De leyendis gentilium libris de S. Basilio. A. propésita dos discursos desses grandes oradores gregos, Cartagena faz referéncia nfo s6 & Epistola de S. Jerénimo a Pamaquio, sobre os problemas da wadugtio, “De optimo genere interpretandi” (n° 57 do corpus hieronimianum), que também menciona as tradugd de Cicero, mas ainda a0 De optimo genere oratorum, © praefatio de Cicero a essas tradugdes', texto que se sabe ter sido solicitado por Bruni a Niccold Niecoli, em carta datada de 1412. Cartagena Jevanta a suspeita de Bruni ter seguido a uaduglo que Cicero fizera desses autores gregos, embora diga que nao teve agesso as tradugdes de ambos" Uma vez em Salamanca (ca, 1430-1432), Cartagena tomou conhecimento da versio de Leonardo Bruni da Ethiea Nicomachea, por intermédio de um sobrinho do "8" GonzaLe7 ROLAN, T., op. cit p. 198, "8 poilem, pp. 194-265, "© Makin MORRAS, op. cit, p. 226: «Escrito en Salamanca en 1430, dfndido en Basilen en 1426» ' GonzAtez ROLAN, T., op. cit, pp. 87-88, '* Tbidem, pp. 92-98. "SS pbidem, pp. 340-341 "5" poidem, 9. 198, L. 40-47; «... quas nedum Hieronymus noster, sed et Cicero ipse commendat, qui cum de optime modo dicendli dissereret, has se transtalisse non modicam gloviatur in praefatiuneula sua illarum materiam competenti dectaratione demonstrans; cuius transiatio si Leonardo innotwit. mihi notum ron est, sed apud nos non habetur: etenin se las in Latinum craduxisse fatentem lege, sed ipsam ‘raductionem non legi.» ®"Bomey, Paul, op. cit, p20. 49 destinatario, identificado como sendo Vasco Ramirez de Guzméin'® e, desagradado nao. 36 com a critica de Bruni ao tradutor medieval, mas também com a sua tentativa de substituir 0 texto institufdo pela tradig&o, resolveu tomar a defesa do tradutor medieval. ‘Na introduedo (capitulos I-11), Cartagena situa a polémica no campo da filosofia € no no campo da filologia, justificando, a im, que o desconhecimento da lingua grega nao o impede de tecer as suas consideragdes, visto que a ratio é universal e que a tradugao latina certamente segue o texto aristotélico'®. Depois sugerindo que Boécio foi o primeiro tradutor, contrapde o critério da brewitas & acusagio bruniana de obscuritas'® ¢ a existéncia de uma técnica deliberada 4 acusagao bruniana de falta de critério’®', Também contrariamente a Bruni, Cartagena defende 0 uso de helenismos. Justificando que a lingua resulta de um proceso evalutiva e que a possibilidade de incorporar palavras estrangeiras promove uma constante adaptagao as necessidades linguisticas'®™ E, além de ser pritica comum em textos de natureza técnica cientifica'™, constitui ura opgiio preferivel & pardfrase'™', apés o devido esclarecimento do seu significado. Cartagena sustém que a «expulsién de tos helenismos de fa Erica bruniana conlleva una serie de nocivas consecuencias: la desviacion doctrinal, la destruccién del verdadero mensaje aristotélico, la traicién a la proprietas verborum»™, No desenvolvimento (capitulos 1V-IX), Cartagena contesta as acusagdes de Bruni, reforgando que todas as escolhas lexi is foram realizadas pelo antigo tradutor, segundo o critério filoséfico, para que nfo se cometessem incorrecgbes na transmissio do contetido™. Por isso, nao aprova que Bruni sugira que se use “scurrilitas” em vez de iocus ” em vez de “eutrapeli em vez de “Iudus”. 'S GONZALEZ ROLAN, T., op. cit, p. 94: «Pues bien, Vasco Ramirez de Guzman (ca, 1396-1439), autor de la sraduecidn al eistellano de ls Conjuracion de Catinay la Guerma de Yugura,preisamente a insane du pare etn Péter de Guin, para nosotros scrino al que server Cartagena, pass, comn ny bien han staldo G, AvenoesyJ. 1. Perez Passi, esta en Ha ene 1221) 122 tcompatianda al Scrtario Real de Tuan, Pedro Femangez ce Lagu, y de all regres com nam ‘ellison ef wram fardelion cum libris ene los que posiblements se encontrabe Ia trauelsn de Busi de lac aridicn, '© pbidem, pp, 204-207, L. 125-128: L. 130-134; L. 146-148. ‘© Ibidem, p, 342, nota 37 € pp. 208-209, 370-171 Yodo. 342, note 38 e pp 208-209, 1183-184, © Jbidem, pp. 212-213, L. 224-229. ' pbider, pp. 208-211, 1. 186-188; L, 197-200;1. 211-212. 46" podem, pp. 212-213, 2 * CARTAGENA, Alonso de, EI ‘Memorial de virindes': la sraducciin casteliana del “Memoriale virtutwn de ilfonso de Cartagena, (a) Mas Cannpos Souto, Burgos Insite Municipal de Culture, 200, p48. 486 GoNZALEZ ROLAN, T., op. cif, pp. 214-215, 1. 262-264, 1, 483-889, 50 Ei seguida, Cartagena refuta a acusagfio de Bruni de que o tradutor medieval nao faz uso dos termos usados pelos autores consagrados, demonstrando que a verdade filoséfica nfio pode ser subordinada a eloquéncia'” e que as opgdes do tradutor foram feitas criteriosamente. tendo em mente as subtilezas do pensamento aristotélico', ©, “aristitia® a “dolor, “matitia” a*uitivon™ preferindo “delectatio” a “wohypras” . Na conelusto (capitulo X), Cartagena reforga a superioridade da tradugao medieval, aconselhando o destinatirio a continuar a usi-la quando tratar das questdes morais. A versio de Bruni aconselhada pela clareza do discurso, para mais facilmente se compreender 0 sentido de certas passagens, no entanto n&o deveria seria adoptada’ Membro da segunda embaixada castelhana enviada pelo rei D. Juan 11, em finais de Maio de 1434, ao Concilio de Basileia, Cartagena ai permaneceu de 1431 a 1439, onde conheceu humanistas itelianos, como Francesco Pizzolpasso. Poggio Bracciolini Pier Candido Decembrio'™. Em 1436, entregou o seu opisculo a Francesco: Pizzolpasso, arcebispo de Milo, que o remetew a Bruni, com uma carta, A 15 de Outubro do mesmo ano, Bruni responde a Pizzolpasso, rebatendo todas as criticas ao prélogo e A tradugio da Ethic Nieomachea formuladas por Cartagena, nas Declamationes'”. Desconsiderado pelo seu trabalho, Bruni sente-se como S. Estévio a quem todos atiraram pedras ¢ como S. Jerénimo contra quem todos protestaram pelas suas tradugdes, No entanto, afirma que a sua verséo foi criteriosamente elaborada’”® ¢ que se difundiu rapidamente'””, Bruni procura desmoralizar Cartagena’, retorquindo todas as ofensas sentidas: a suspeita de se ter apoderado das tradugdes de Cicero'”, a comparagio entre os 80 italianos ¢ os hispanos'™", a recomendagdo em nao adoptar a verso bruniana'*', a critica sem fundamento a sua versio". Primeiro. Bruni detém-se no tema e apresenta uma 8 Gonzatee ROLAN, T. op. cit. pp. 232-233, 1, 479-480. "© fbiciom, pp. 232-233. 1. 479-480: pp, 240-243, 586-591 °° Tbidom, pp, 282-253. 1. 737-742 jbiderm, pp. 234-257. L. 110-773. "" fbidem, pp. 262-263, 1. 860-862. " jpicesm, pp. 262-263, 1. B63-865. "8 Thicdem, pp. 264-265, 1. 876-882. abide. 20, © biden. pp. 26 "iden, pp. 268-268. © Ybidem, pp. 268-269, "8 tpidom, pp. 272-295, °° Foden, pp. 270-271, biden, pp. 2710271, *! Fbidems, pp. * Tbidem, pp. 51 10 correcta, supondo que. se o problema da tradugdo reside no conhecimento das linguas, Cartagena ndo poder pronunciar-se acerca da sua versio, uma vez que n&o sabe grego'™, Depois refuta as criticas de Cartagena, reafirmando a 188 escolha de «siamnunt bonum» em vez de «bonum»'®®, acusa-o de nao dominar a lingua latina, permitindo a incorporagiio de palavras estrangeiras no léxico, enquanto ele 186 somente aceita a5 palavras usadas pelas autoridades'™ e critica-o por aprovar a versio medieval, que se afasta do contetido © do estilo do texto aristotélico'*”. Além disso, observando que o tradutor medieval nao é Baécio, recorda as duas versdes da Etica anteriores & sta, a primeira realizada do drabe em época posterior ao fildsofo Avertdis, a segunda realizada do grego por um britanico', Por ultimo, defende-se da acusagao de 88 ter denegrido o tradutor, quando apenas quisera criticar o seu trabalho'®®, ¢ reforga as criticas formuladas e demonstradas com exemplos'”’ no prdlogo da versio. Antes de concluir a carta, despedindo-se do seu destinatério, Bruni estabelece uma comparagio entre as pinturas de Giotto € os textos de Aristételes, para reforgar a sua indignagio perante o trabalho realizado pelo tradutor medieval!” Desconhece-se a resposta de Cartagena, mas, pouco tempo depois, Poggio Bracciolini esereve a Bruni uma carta’ (Bolonha, 10 de Abril de 1437), com a qual Ihe entrega 0 que Pier Candido Decembrio (1399-1477) the havia enviado: uma carta de Cartagena a Pizzolpasso (ca. 1370-1443), arcebispo de Milo e érbitro da contenda, ¢ © opisculo de Decembrio a tomar a defesa de Bruni. Poggio, apesar de reconhecer a amizade de Decembrio, procura acalmar os animos, mostrando a Bruni que Cartagena fala com moderagio € que & saudivel exercitar o espirito em disputas isentas de "8! GONZALEZ ROLAN, T. op city pp. 274-275, L125. "8 Fide, pp. 274-275, 1. 126-132 "85 Fbicem, pp. 276-277, L. 147-130, © reiden, pp. 28 205.219. * fbidem, pp. 2 237-239. dbidem, pp. 282-285, 1, 246.254; «Atque ut seias, duae fuerunt ante me, quod equidem uiderim, inerpretationes Fihicorum: una, quam ex Arabe lingua traductam constat post Auerzois philosophi tempor, quae quoniam anterior est, “uetus” appellatut; alia hace posterior et nouior a Britamo quodam tradueta, evius etiam procemium legimus, Quomodo jgitur Boelhii fuit ista noua interpratatio, eum uctustailla et anterior post Auerroin fuerit, Boethius uero aliquot saeculis Auerroin anteea¥» ! «Y para que fo sepas: antes de la mia, que en verdad yo haya visto, hubo dos tradueciones de la Erica. Una que consta que esté waducide de [a lengua arabe después de la epoca del fldsofo Averross. la cual, come es anterior, se denoraina ‘antigua’; 1 otra, posterior y nis reciente, fue traducida por un britsne, de la cust hemos leido el proemio, ;Cémo es que existid una traducién nueva de Boecio, cuando las dos iencionadas son posteriores a Averroes y Boecio precedi a Avertoes varios sighos?», idem, pp. 284-285, 1.255.260. " Pbidem, pp. 284-285, 261-265, > Ibidem, pp. 284-285, 1. 267-272 hide, pp. 286-287 52 ultraje'’. No entanto, Bruni envia a Pizzolpasso uma longa carta de resposta, na qual nfo se revela tal apaziguamento'™. De facto, depois de se mostrar agradecido pelo apoio de Decembrio'’, Bruni declara que sustenta uma opinifo completamente divergente'® de Cartagena, justificando os seus argumentos com o apoio de citagdes'”” extraidas das Declamationes de Cartagena e da sua carta de 15 de Outubro de 1436, Estabelecendo que a tradugio correcta € 8 que corresponde ao texto grega'™, Bruni afirma que quem desconhece a lingua nfo pode pronunciar-se sobre a fidelidade 199 da tradugdo «Statin enim quo de agitu in ipso firmamento causa principalique iudicio (cum omnis contentio nobis de interpretation sit et probatum fuera me omnem intepretationem ita demu esse rectam, si Graeco respondeat,uitosam, si non respondeat, nec posse qui Graccum neseit de interpretationis uesitate eogvescere) iste eo confugit, ut quamuis, fateatur se linguam Graccam ignorare,aihilominus de ueritate interpretations ésputaze se posse contendat per conieeures quasdam et uerisimilitudins, nec ineligitdisputandi genus ase induc in quo niil aud sit, ns plane duinare»®® Depois recordando que Cartagena sustentava que a tradugao medieval estava correcta, pois concordava com a razdo””, critica-o por atribuir ao tradutor o papel de 3 GONZALEZ ROLAN, T., op. eit pp. 286-287, L. 7-8, 10-11 "4 Thidem, pp. 288-329. “5 tbidem, pp. 288-289, L. 10-14. idem, pp 288.289.1146 » biden, Carta V, pp. 292-293, L, 83-85 / Carta TIL, pp. 266-267, t. 12-13; Canta V, pp. 294-295. 1. 89- 91 f Carta I, pp. 368-269, 1. 16-19; Cat V, pp. 298-299, 1. 155-161 Cara Dl, pp. 274-275, 10 111; Carta V, pp. 298-299, 1.175177 Cara Il, pp. 294-278. 1, 114+ 116; Carta V, pp, 304-305, 1. 261- 263 (Carta lik pp. 273-273, 7-7, 18 pbicemt, pp. 310-311, L. 346-354: pp. 316-319, £, 455-463. °° tbidern, pp. 308-311, .. 324-342 / CF. Canta IIL pp. 274-277, 1. 123-140, 3" fbidem, pp. 288-291, L. 17-26: «Pues de inmediato en la prueba misma de la causa de que se trata y en el asumo ramen bide cuenta Ge ue odo el conflict gra para nosotos en fme al radock, ) de que ha sido demesirado por mi parte que toa la aduccion een detiniiva,coreca si se ajista al ego y defectuosa sino ee ass, y que quien desconcee el griego no puede entender averca de la ‘eracldad dela raduciim, éste se refuga en que aunque reconozea que desconoce el rego, se empeha 0 obsante en que puede polemlzar sobre la veracidad de la traduccion mediante suposicones breciciones no cnprende que ha plntead un tipo de pom en la que no pce haber otra cosa " Didem, pp. 290291, 1. 27-26: «.. quod puat eum, oui libres Aristtelis de Greeeo in Latinum transfer, non 2d uetba Aritelis respcere debere nec qu ditt Aisoeles, se guid dice debea in Latium tansferten, pp. 316317, & 442447; «Noo debenns, ing, quid Arstoeles dat atenere sed quid corsonet moral philsephiae; nam nee Aristotees ips tamquan princeps phlesephiam nobis trait neque tama potesttem habens, sed poi tipe aberrasse», CT. Decamaones, pp. 20% B05, 182134, wan eg Latina ing tlre proptegue srpta st etre psi coneode, hon x Gravco consonc,disctlemisix pp. 206-207, L. 144-148: «Cum igi Aristtelesipse non ratonem ab auctor, sed aoctortatem 4 mone consecs ex,quegu ration orsond, hace Aisles dinise pulandus est et Graece ebiremur seriptum fuse, uicguid Lass vevbis wanslatio nostra sapinter eprom. 33 definitor & de index, quando o wabalho do wadutor consiste em verter para a sua lingua o que esté na lingua estrangeira, sem nada mudar. «Nam cum interpretatio nil aliud sit, quam unius linguae in alteram expressio, officium certe intexpretis est non diuinare neque eoniectare nec pro arbtrio suo dicere nec ad opinionem aliquam suam uerba defletere, sed simpliciter ae protinas sine lla mutatione, tin aliena est lingua, sie in sua referte; nam warare interpretinefas est.» Além disso, Cartagena incorpora palavas estrangeiras no léxico, defendendo io, que essa pritica é fundamental para a vitalidade da lingua®™, Brani, pelo contrd considera que essa pritica pde em risco a pureza da lingua’ e apoia-se na resisténcia oferecida pelos autores classicos & adopgio de palavras estrangeiras””, Para se conhecer © uso das palavras, Bruni aconselha a ler os autores antigos™”, para que se possa escrever com propriedade, usando “respublica” em vez de “politia”, «ex bono et aequo» em vez de “epiichea”, “populavis status" em vez de “democratia?™, Bruni contesta a intervengo de Cartagena no problema da fidelidade a0 texto mas, ao referir- ao estilo, da-Ihe uma oportunidade de intervir™”. A titulo de exemplo, recorda que substituiu a palayra grega “eutrapelia” por “comitas”, ao passe que Cartagena considera que se deve continuar @ usar “eutrapelia”, apenas por The parecer significar algo diferente de “comitas”. Aborrecido com esta falta de critério, Bruni declara que “euirapelia” em grego significa propriamente “comiias” € que € uma tradugao palavra por palavra At enim, inquam, seio “eutrapelisn” Graece “comitatems” proprie significare idque esse verbum e uesbo»"” A seguir, Bruni explica como aleangar 0 ificado de uma palavra: ou pelo sentido etimoldgico ou pelo uso entre os autores”! GONZALEZ ROLAN, Top ft pp. 290-291, 1.3 ®Ibidem., pp. 290-291. 1.32-38, CE. pp, 310311, L. 351-3 ‘Biden, pp. 208-215 5 Ibidem, pp. 326-327, L. 604-607. 2° Jbicewn, pp. 290-293, L, $1-86; pp. 326-327, 1.607-611 © Perez GonzAutz, Maul, “Leonardo Bruni y su watado De ferpretavione recta”, op, ca p. 207 « * Toidem, pp. 214-215. «.. ut conspicuum sit non ab eratonibus modo, verum etiam a philosophis huiusmodi exomationes frequentari et maiestatem orationis totam peri, isi servate esrum figura tcansferantury “idem, pp. 218-219: «Videtis in his Verbis(..) elegant, varietatem et eapiam cum exematicnibus {urn verborum, tum etiam sententiarum» =" fhidem, pp. 218-219: «Quod enim misteria est civiis et eloquentiae capax, nals fere lacus ab e0 tractatur sine rheterico pigmeato atque colar, ut interdum etiam festiviztem in verbis oratoriam persequatur» Biden, pp. 220.221: «Dissipata namque et inconeinna treductio onsem proinas laudem et gratia prim auctorisexterminat.» 59 Aristételes, também traduzido pelo tradutor medieval”, eritjeando 0 seu processo de tradugdo: 0 uso de palavras latinas desconhecidas™’, 0 acréscimo de palavras’*', a ma compteenstio do sentido das palavras («sophisma» nfo significa “sapientia”, mas “deceptio et cavillatio”P e 9 emprego de palavras impropriamente usadas”?. De seguida, apresenta alguns exemplos de impropriedade lexical devido as expresses da lingua («iudicium furtin | «praetorium firtiv). aos termos de cultura («prineipatus» / ! spopularem statum, caristocratiany | soptimorum gubernationen, «Epiikiay 1 «ex bono et aequow"". Por fim, lamenta a falta de estilo na construgfio das oragdes e afirma ter apresentado exemplos bastantes que mostram 0 descuido da tradugdo medieval da obra aristotélies, No capitulo «és, Bruni tinha a intengdo de apresentar excertos extraidos de S Jeronimo © de Ciecro que provassem que a sua critica & tradugio medieval seguia preceitos apoiados nestas autoridades, contudo a obra nao foi coneluida, Apesar disso, * PeRez Gonzan.e7, Manrili, “Leonardo Bruni y su watado De interpretatione recta, op ek. p. 208, nota 1; «Roberto Cabezagruesa mejor que Guillermo de Moerbeke, segiin E. Franceschini, «Leonardo Bruni if “vews interpres” dell'Erica Nicomackea di Aristotelen, Medioeva e Rinascimento (Stud tn gnore di B. Nardi), Florencia 1955, 300-319.» © Jbidem, pp. 222-223: «Nam ego id verbum numquam audivi hactenus neque legi nee quid importet imtelligo. Si in extwema barbarie id verbum in usu est, doce me uid apud barbaras significet «gprolocutionis gratia loqui». Nam ego Latinus istam barbariem tuam non intelligo.» *" Jbidem, pp. 222-223: etoui quod inguit «sapiemter loquunter>, in Graeco non est wloguuntur», sed id _yerbur ex se ipso interpres adiunxitor 2° Joidem, pp. 222-225: «Deinde quod inguit asapiemters, male capit; «sophisma enim non «sapicntiany», sed edeceptionem et cavillaionem significat, © Ihidem, pp. 224-225: «ltaque now recte transtulit,cunnaliud pro alio posuerit nec vim servaverit Graeci verbion * Ibidem, pp. 226-227: aArisioteles autem hoe ita ponit, ut exercitationes corporum ad bellicos usus signet.» Tbidenr, pp. 228-229; «Sed bonus ile interpres ista non legerst. Verum pro ucensu» ehonocabilitatern> somniavit, novum faciens verbum a se ipso quod nemo ante posuerat» © ibidem, pp. 230-281: «2 me simplicem!, qui cola et commata et periodos et divendi figuras ac ‘erborum sententiarumque ornamenta servari postulem ab hujusmodi Rominibus, qui nedum ista non seatiunt, sed ne primas quidem literas tenere videancur: tanta sunt jgnorantia ruditateque loquendi» Ihideos, pp, 230-731: «Et tamen dabo veniam in quibusdam paucis admodum peregeinis ct reconditis, si nequeant commode in Latinum traduei.» 60 percebe-se a divergéncia de conceitos © critérios entre Bruni e Cartagena Desconhecedor da lingua grega, a relagdo de Cartagena com o texto nfo pressupde critérios filolégicos nem atende & tradigo textual, antes se baseia em critério de autoridade que nao | ‘itima as escolhas do tradutor. Apesar disso, contraria em Bruni o recurso a uma linguagem de marca ciceroniana para transpor contetidos aristotélicos?™, © De imerpretatione recta é, na verdade, uma obra amadurecida pela pratica e pela reflexdo. Bruni repete conceitos outrora apresentados, como a definigo da iles tradugao”**; desenvolve a concepgdo da tradugiio como uma arte, a partir dos si com outras artes, como a poesia, a pintura e a escultura™™; elabora, a partir das criticas & 61 0 traduclo medieval”, uma ratio”, cujos preceitos acabam por constituir um método de tradugio: desenvolve a consciéncia de um officium interpreti®®, cuja qualidade depende de uma inferpreiatio recta, que se traduz na equivaléncia ao nivel do eontetido € da forma, Por isso, além do requisito de que © tradutor deve possuir um profiundo dominio de ambas as lingua, baseado na Ieitura dos autores consagrados, Bruni acrescenta a sensibilidade auditiva, «auris severum iudiciumy, que permitira ao tradutor escrever com elegdncia e ritmo, Bruni também aprofunda os problemas relacionados com o estilo e a composigo, comprovando com exemplos varios que os textos filos6ficos de Platfo e Aristételes possufam ritmo e omatos que também deviam ser considerados na tradugo. Além disso, ainda que mantenha claramente a sua oposigio aos helenismos, abre excepgBes aos casos em que a lingua latina no possua nenhum equivalente™. 8 NascnsENTO, Aires Augusto, “Traduzir, verbo de fronteira nos contornos da Iade MEdia", op. ci p. 28 ® GonzALez ROLAN, T.. op. cit, Carta IL (15 de Outubro de 1436) pp. 274-275, 1 125-126; Carta V pp. 310311, L, 345-354; Cf, PEREZ GONZALEZ, Mawrili, “Leonardo Bruni y su tratado De interpretatione Yecta’, ap. elt. pp. 206-207: «Dico igitur omnem interpetationis vim in eo consiser, ut, quod in altera lingua sctiptum sit, iin alteram recte traducatur. Recte autem id facere nemo potest qui non multam ac magnam habeat uriasque finguae pertiam, nec id quidem satis.» / aPues bien, afirmo que toda Ia esencia de Ja traduccién consiste en trasladar correctamente una lengua lo que se ha escrito en otra, Pero comectamente esto no lo puede hacer alguien que no posea mucho y gran dominio de ambas lenguas», © Jpidem, Carta IN (18 de Outubro de 1436) pp. 284-285, L. 267-272: CE. PEREZ GONZALEZ, Mautilio, “Leouardo Bruni y su tratado De imorpretatione recta, op cit, pp. 210211: &,. equaquam rectum est in his ertibus quae peti flaitant» " Iicem, Prologo da versio da Ethica Nicomachea pp. 268-269.1. 30. *2 Jpidem, Carta II (15 de Outubro de 1436) pp. 268-260, 1. 28.30; CF. PEREZ GONZALEZ, Maurilio, “Leonardo Bruni y su tratado De fnverpretatione recta", op. cb, pp. 22-213: ebfaee est enim optims imterpretondi ratio». * thidem, Cara V pp, 290-291, 34 * peREZ GONZALEZ, Maurito, “Leonardo Bruni y su tratado De interpretatione recta, op. cits pp. 210- 21}: dlabo veniam in quibustam patcis admodum peregrinis et reconcitis, si nequeant commode in Latinum ‘waduei, Enimvero, quorum optima habemus vocabula, ea in Graeco relinquere ignorantissimum ests ‘«cQué decir de las palabras dejadas en griego, que son tan numerosas que alguna traduecién suya parece mitad erieyo y mitad latin? Y sin embargo nada se ha dicho en griego que no pueda decirse en Tatin. No cobstanic, le cxcusaré en algunas pocas palabras may extraias y ubstrusis, en el caso de que no puedan ‘radveirse apropiadamente al latin. Sin duda alguna, supone una fata total de conocimientos dejar en _griego aquellos vocablos de los que tenemos excelentes sindnimies > * GonzALsz ROLAN, T., op. cit, pp. 182-183, 4. 48-49: «At hic noster interpres [tradutor medieval], 2 dbidem, pp. 182-183, C. 46-47: «Ged quid ego aut de collatione uirinsque linguae aut de accurata uerborum repraesentatione dispute 28 dhidem, pp. 190-191, L. 153+ yaeaw, * Ibidem, pp. 192-193, . 183-190: «Ego igivurinfinitis paene huiusmodi erroribus permotus, cum haee indigna Aristotele, indignaque nobis 2c lingua nostra arbitrarer, cum suauitatem horum librovum, quae Gracca setmone maxima est, in asperitater comuersam, nomina intorta, res obscuralas, doctrinam labefactatam uiderem, laboret suscep! novse taductionis, in qua, wt cetera omitam, id assecutum me _pulo, ut os libres nue primum Latinos fecerim., cum antes non essent.» © Tbidem, pp. VF8-179, L. 6-8: «Nam et Gragea multis in locks male aceipit et Latina sie puerilter et indocte reddit ..»: pp. 180-181, L. 11-12: «eurn Gragco uerbo Latinum reddlere nesciat ©" Dbidem, pp. 276-277, L, 158: ; pp. 272-273, L, 82: «.. 1 uetetem interpretationem legeret..% pp. 274.273, |. 123-127: «Omnis quippe contentio nobis de interpretaione est: interpretatio autem omnis reola, si graeco respandett,uitiosa, sinoa respondet. aque omnis inerpretationis contentio unius Hingnae ‘ad alterany estos pp. 276-277. L. 134-140: «Vieum tu eam anteponis, quia elegantior sit, an guia uerior? Si quia clegantior, nihil profecto sepis; si quia verior. quomedo id iadicare potes, qui Graecum nescis, ad quod omnis ueritas intempretationis est necessario referenda? Nullo certe modo wullague vatione. Itaque tecum de ueritate interpretationis contendere nibil est aliud, quam cum vaticinance alique somnianteue contendere.»; pp. 282-283, L, 29-232: «Sed illud deterius, quod eam Boethii puat, nec intlligit quantum figura nitorgue dicendi, qui in Bocthio cminet, ongisshme absit ab illius interprets deliratione. Nos cee nnuliam Boethii ioterpretationem habemus ..»: pp. 284-285. 1. 251-252: «Quomodo igitur Boethi fui ista sroua intetpretatio 62 5: uEt saepe quaerimus uerbum Latinum par Graeco et quod idem

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