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a CUS S CCC Cm CMCC EDICOES LOYOLA Digitalizada com CamScanner Marto Ferrerra pos SANTOS 23 MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO Pusticagio Péstuma: o Autor deste auto-retrato faleceu no dia 11 de outubro de 1968. —— ert Digitalizada com CamScanner I, QUAIS SAO OS SEUS DADOS PESSOAIS E O “CURRICULUM VITAE”, EM SINTESE? Sou natural do Estado de Sio Paulo, filho de pai portugués, de familia de intelectuais, e de me amazonense, de ilustre familia cea- rense, Iniciei meus estudos num gindsio dos jesuftas, onde cursei até os dezoito anos de idade, ingressando, depois, no curso superior, onde me formei em Direito e Ciéncias Soci Casei-me aos 22 anos, com D. Yolanda Lhullier dos Santos, entéo com 19 anos; companheira fiel e sempre a estimuladora e inspiradora de meu trabalho. Tenho duas filhas, Iolanda e Nadiejda, ambas hoje casadas, dedicadas ao estudo, autoras de inimeras obras que, com grande éxito, se expan- dem pelo pafs, algumas com mais de dez edigdes. Mantive sempre uma atitude de independéncia e de liberdade, fugindo de toda participagéo, tanto quanto possivel, da vida politica @ das rodas literdrias, por considerar dissolvente o primeiro ambien- te e deletério o segundo. Em siléncio passei os anos estudando, de- dicando-me aos trabalhos de advocacia e ao magistério particular, bem como ao ramo editorial, até que tivesse meios de poder editar minhas obras, que iniciei, primeiramente, langando-as sob pseud6ni- mos, dos quais possuo um ntimero de mais ou menos quinze. SO Por volta de 1945 comecei a editar alguns livros com o meu prdprio nome. Procedia assim por saber que havia nascido num pais onde domina 0 preconceito de que obras de Filosofia nfo podem surgir & ainda provocam a desaprovagio de muitos, que nfo toleram a au- Gécia de um brasileiro tentar fazer 0 que se julga apenas possivel a intelectuais europeus. Na verdade, registrou-se que os meus livros editados com pseu- dénimos estrangeiros, tiveram realmente grande venda, sendo que Slguns atingiram até dezenas de milhares de exemplares. Mas quando > Digitalizada com CamScanner a a MARIO FERREIRA DOS sanrog om 1952 resolvi, definitivamente, entrentar a realldade ¢ editar og livros com meu préprio nome, contra a opinifio geral de todos, que prenunciavam 0 completo malogro dessa iniciativa, fiz uma experis: cia impressionante, Nao s6 obtive um éxito que foi muito alm de minha expectativa — porque a venda atingiu a ntmeros que eu jamais poderia caleular — como muitas de minhas obras chegaran a ter, no decorrer dos anos, cinco, sels, nove, dez © até doze edicoes, alcangando a milhdes de exemplares vendidos, o que, & primeira vista, Pareceria impossivel. Este fato impressionoume vivamente, porque, durante todo esse Perfodo, nfo lancei mio de nenhuma demagogia Publicitéria, no solicitei a quem quer que fosse neste pais a escrever Sobre os meus livros, pois nao enviei exemplares a ninguém, de modo @ nfo constrangélo a escrever alguma. coisa a respeito de minha obra, Meus livros foram, pois, entregues ao seu proprio destino, sendo que os leitores foram os tnicos propagandistas que eles tiveram, Fo. Tam aqueles que os aconselharam a outros leitores e assim as obras foram tornando-se conhecidas e procuradas. Nunca foram vendidas, mas compradas; nunca obtive a menor boa vontade de quem quer que fosse e poucos livreiros se interessaram pela colocagio de meus livros, pois a quase totalidade afirmava que n&o havia a menor pro- cura de obras de Filosofia. Eram os leitores que as procuravam, eram eles que vinham a minha residéncia buscar os livros e que me escreviam cartas solici- tando as obras. Foi assim que as vendi, sendo que a “Livraria e Edi- tora Logos Ltda.” e a “Editora Matese”, as editoras de minhas obras, estiio hoje organizadas e so, praticamente, as tinicas que as vendem, pois poucas editoras ou livrarias no Brasil trabalham com meus livros, mesmo porque nfo me interessa a distribuigio dos mesmos, dadas as dificuldades de reedicfio, que sio muito grandes. Dediquei-me, no decorrer de minha vida, ao estudo e durante grande parte dela, ao magistério particular, Nunca ocupei nenhum cargo em nenhuma escola, por princfpio. Deliberei, desde os pri- meiros anos, tomar uma atitude que consiste em nunca disputar car- gos que podem ser ocupados por outros. # uma questo de principio. Sempre decidi, criar o meu proprio cargo, a minha prépria posicéo e situagio, sem ter de ocupar o lugar que possa caber a outro. O meu lugar seria exclusivamente meu, criado por mim para mim mes- mo. His por que nfio disputo, nunca disputel, nem disputarei qualquer Posigdo que possa ser ocupada por quem quer que seja. A minha vida, em sintese, 6 simplesmente esta. Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO au II. QUAL A GENESE E O DESENVOLVIMENTO DO SEU PENSAMENTO FILOSOFICO E A SUA ATUAL ESTRUTURA? Meu pai, portugués de nascimento, caracterizavase por acentua- do ateismo e por uma marcante tendéncia anticlerical. Revelava, em todas as ocasiées, a sua oposicéo ao clero, Entretanto, tendo eu, desde cedo, mal aprendera a ler, me interessado por temas filos6ti- cos (e a consciéncia que tenho de mim mesmo nasceu da colocagéo de um problema filosdfico que tentei resolver), um dia meu pai me chamou e disse: “Meu filho, para teu bem vou fazer uma coisa que vai escandalizar os meus amigos: tu vais estudar com os jesuf- tas”. No dia seguinte, dirigiu-se ao gindsio dos jesuitas e, segundo 0 que ele me relatou depois, disselhes: “Todos sabem que sou adver- sdrio da Igreja Catdlica e que a tenho combatido desde mogo, mas sei que, para educar, vés, jesuftas, sois os mais capazes, Meu filho revela propensio para temas filosdficos; nfo quero exercer sobre ele a minha ag&o. Julgo que sois mais competentes do que eu para guiélo no conhecimento. De minha parte, prometo-vos que, em casa, respeitarei sempre as suas idéias”. Declaradas estas condigdes, fui aceito. O resultado foi que meu pai passou a ser mal compreendido pelos companheiros do grupo que ele dirigia, que julgaram a sua atitude uma verdadeira defeccdo, © que 0 levou a afastarse totalmente das atividades anticlericais ateistas. Com os jesuitas, desde o infcio, recebi a orientagéo que me apro- ximou da Filosofia Positiva, dela fazendo a espinha dorsal da estru- tura filosdfica que hoje tenho: a Filosofia Positiva e Concreta. Po-. sitiva no sentido da Filosofia que parte e permanece na afirmagao, no que constréi, que pertence a todos os grandes ciclos culturais da humanidade, mas que encontrou o seu desenvolvimento maximo no | pensamento grego e a sua coroagéo no pensamento ocidental, sob \, 88 linhas sem dhivida criadoras e analiticas da Hscoléstica. N&o sou escoldstico nem neo-escoldstico, porque sigo também ou- tras idéias, aparentemente afastadas, mas que conciliam, numa sinte- _5e, aquele pensamento com o que provém do pitagdrico-platénico, f- to que exponho e demonstro em meus livros. Digitalizada com CamScanner ‘MARIO FERREIRA’ DOS Santos 41a qi. EM QUE SITUAGAO SE ENCONTRA COM As SUAS PUBLICAQOES? favor indicar exatamente 0 titulo, niimero de paginas, ano, edi. tora das obras publicadas e também as obras filoséficas em prepa. ragdo, Que planos arquiteta para o futuro, no campo de atividades tilosdficas? Das obras por mim editadas, de minha autoria, e com o meu nome, posso enumerar as seguintes que fazem parte da “Enciclopé. dia de Ciéncias Filosdficas € Sociais”: 4.1) Filosofia e Cosmovisdo — 5." ed.; 1+ ed. 1952 — 256 p. + 2) Logica e Dialética — 5 ed; 1+ ed. 1954 — 336 p. + 3) Psicologia — 5+ ed; 17 ed. 1954 — 320 p. 4 4) Teoria do Conhecimento — 5: ed.; 1. ed. 1954 — 256 p. + 8) Ontologia e Cosmologia — 5. ed.; 1+ ed. 1955 — 256 p. + 6) Tratado de Simbdlica — 5." ed; 17 ed. 1955 — 256 p. +7) Filosofia da Crise (Tematica) — 4° ed.; 1* ed, 1955 — 228 p. + 8) O Homem perante o Infinito (Teologia) — 5. ed.; 1+ ed. 1955 — 256 p. + 9) Noologia Geral — 4. ed.; 12 ed. 1956 — 256 p. 410) Filosofia Concreta, I vol. — 5 ed.; 1 ed. 1956 — 256 p. +11) Filosofia Conereta, II vol. — 5. ed.; 1* ed. 1956 — 256 p. +12) Filosofia Concreta, III vol. — 5+ ed.; 1+ ed. 1956 — 256 Pp. +13) Filosofia Concreta dos Valores — 3. ed.; 1+ ed. 1960 — 256 p. +14) Sociologia Fundamental e Etica Fundamental — 3+ ed.; 1* ed. 1957 — 256 p. ++15) Pitdgoras e 0 Tema do Neimero (Temética) — 2" ed.; 1" ed. 1960 — 256 p. +16) Aristoteles e as Mutagdes (Temética) — 3° ed; 1+ ed. 1955 — 256 p. +11 0 Um e o Miiltiplo em Platéo (Temética) — 3" ed.; 1+ ed. 1958 — 256 p. +18) Métodos Légicos e Dialéticos, I vol. — 5* ed; 1* ed. 1959 — 228 p. +19) Métodos Légicos e Dialéticos, 11 vol. — 5. ed.; — 1* ed. 1959 — 228 p. +20) ase Logicos e Dialéticos, III vol. — 5+ ed.; 1 ed. 1959 — PB +11) Filosofias da Afirmagéo e da Negagho (‘Temética Dialética) — 2+ ed; 1+ ed. 1957 — 228 p, +22) Tratado de Economia, I vol. — 2. ed.; 1 ed. 1962 — 228 Pp. Digitalizada com CamScanner — MEU. FILOSOPAR‘POSITIVO.E CONCRETO 43 493) Tratado de Economia, IX vol. —-2"-ed.; 1+ ed. 1962 — 228 p- Filosofia e Historia da Cultura, I-vol. — 2* ed; 1+ ed. 1962 424) — 228 p. 425) Filosofia e Hist6ria da Cultura, 1 vol. — 2: ed.; 1+ ed. 1962 — 228 p. 426) Filosofia e Histéria da Cultura, III vol. — 2* ed; 1* ed. 1962 — 228 p. 421) Andlise de Temas Sociats, I vol. — 2+ ed.; 1 ed. 1962 — 228 p. 428) Andlise de Temas Sociais, II vol. — 2. ed.; 1+ ed. 1962 — 228 p. 429) Andlise de Temas Sociais, III vol. — 2* ed; 1+ ed. 1962 — 228 p. 430) O Problema Social — 2: ed.; 1.* ed, 1962 — 228 p. 0)31) Die. de Filosofia e Ciéncias Culturais, I vol. — 4* ed; 1+ ed. 1963 — 448 p. 0)32) Dic. de Filosofia e Ciéncias Culturais, II vol. — 4+ ed.; — vol. duplo — 448 p. 0)33) Dic. de Filosofia e Ciéncias Culturais, III vol. 4* ed; — vol. duplo — 448 p. 0)34) Die, de Filosofia e Ciéncias Culturais, IV vol. — 4* ed.; — vol. duplo — 448 p. 0)35) Dic. de Pedagogia e Puericultura, I vol. — 17 ed. 1965 — 256 p. 0)36) Dic. de Pedagogia e Puericultura, II vol. — 1.* ed. 1965 — 256 p. 0)37) Dic. de Pedagogia e Puericultura, III vol. — 1. ed. 1965 — 256 p. 0)38) Origem dos Grandes Erros Filosdficos — 1+ ed. 1965 — 220 p. 0)39) Protdgoras, de Platdo, com notas e comentérios — 12 ed. 1965 — 126 p. 0)40) Isagoge, de Porfirio, com notas e comentdrios — 1* ed. 1965 — 126 p. 0)41) Das Categorias, de Aristételes, com notas e comentérios — 2+ ed.; 1+ ed. 1960 — 180 p. 0)42) Grandezas e Misérias da Logistica — 1+ ed. 1966 — 170 p. 043) Invasdo Vertical dos Bérbaros — 1. ed. 1967 — 160 p. 0)44) Erros na Filosofia da Natureza — 12 ed. 1967 — 190 p. 45) A Sabedoria dos Principios — 1+ ed. 1967 — 384 p. OUTRAS OBRAS DE MINHA AUTORIA: — 0 Homem que Foi um Campo de Batalha — Prélogo da Von- . tade de Poténcia, de Nrerzscue — 1945 — Ed. Globo. ~ Curso de Oratéria e Retdrica — 12° ed; 1+ ed. 1953 — 256 p. *~0 Homem que Nasceu Péstumo (Temas nietzscheanos) — 3* eds 1* ed, 1954 — 275 -p, Digitalizada com CamScanner ARIO. FEI ; aa M RREIRA DOS sanzog 4+— Assim falava Zaratustra — Texto de Nretzscxe, com anilise ais pélica — 3¢ ed. (esgotada); 1 ed. 1954 — 345 p, 4+— Técnica do Discurso Moderno — “ed. 1953 — 255 p, 4-— Préticas de Oratdrla — 5+ ed.; 1+ ed. 1957 — 230 p, “+— Curso de Integracdo Pessoal (Estudos Caracterolégicos) — 6+ ed; 1t ed, 1954 — 255 p. +— Andlise Dialética do Marzismo — 1. ed. 1953 — 225 p. (esgotada). 4+— Pdginas Varias — 10+ ed.; 14 ed. 1960 — 240 p. — Se a esfinge falasse... Com o pseudénimo de Dan Andersen — esg. 1946 — Ed. Sagitdrio. 250 p. — Realidade do Homem — Com o pseudénimo de Dan Andersen — — esg. 1946 — Ed. Sagitdrio. 250 p. +— Assim Deus falou aos Homens — 2+ ed. (esg.); 1. ed. 1958 — 128 p. 4+ Vida néo & Argumento — 22 ed. (esg.); 14 ed. 1958 — 124 p, 4+— A Casa das Paredes Geladas — 2.* ed. (esg.); 1+ ed. 1958 — 124 p. 4+— Escutai em Siléncio — 2+ ed. (esg.); 1+ ed. 1958 — 124 p, -+— A Verdade e 0 Simbolo — 2. ed, (esg.); 1. ed. 1958 — 124 p. +— 4 Arte e a Vida — 2. ed, (esg.); 1+ ed. 1958 — 124 p. -+— A uta dos Contrdrios — 2+ ed. (esg.); 1 ed. 1958 — 124 p. +— Certas sutilezas humanas — 2.* ed. (esg.); 1 ed. 1958 — 124 p. -+— Convite a Estética — 6.8 ed.; 1 ed. 1961 — 235 p. +— Convite 4 Psicologia Prética — 6° ed.; 1+ ed. 1961 — 240 p. +— Convite 2 Filosofia — 6. ed.; 1. ed. 1961 — 200 p. TRADUGOES: — Vontade de Poténcia, de Nrerzscue (esgotada) — Ed. Globo. — Além do Bem e do Mal, de Nrerzscue (esgotada) — Ed. Sagitério. — Aurora de Nietzsche (esgotada) — Ed. Sapitario. -— Didrio Intimo, de Amret (esgotada) — Ed. Globo. — Saudagdo ao Mundo, de Warr Wxrrman (esgotada) — Ed. Flama. Além dessas obras serfo publicadas a seguir: Brasil, pais sem esperanca? e Brasil, pais de excegéo. Na série das obras sobre Ma- tese, continuo na linha da Sabedoria dos Principios: A Sabedoria do Ser e do Nada, A Sabedoria da Unidade, A Sabedoria das Leis, A Sa- bedoria da Dialética — em 2 vols., A Sabedoria dos Esquemas — em 2 vols., A Sabedoria das Tensées, A Sabedoria da Filosofia Concrete. Além dessas, as obras de Anistéreizs e Prati, traduzidas e comenta- Digitalizada com CamScanner F MEU PILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 4168 das, fazem parte também da planificacio dos trabalhos jé realizados @ prontos, J preparados, As trés Criticas de Kant, Interpretagdo do Apocalipse de So Jodo, Os caminhos humanos para Deus — em vé- rios vols., As Enéadas de Prortno, comentadas, Opiisculos famosos de S, TomAs Dr AQUINo, comentados, 0 TawTe-King de Lao-Tse, comen- tado, Versos Aureos de Prrscoras, comentados, Pdginas Sublimes de Sio Bosvenrurs, comentadas, De Primo Principio de Scot, comentado; alguns livros de Santo Agostinho, comentados, e mais outras obras, que estéo planejadas, contudo ainda n&o foram iniciadas. Deixo de dar a lista das obras publicadas sob pseudénimos, que sobem a mais de vinte, porque pretendo conservar ainda em segredo a sua autoria, por motivos particulares, Atengdo: As obras assinaladas com o sinal + foram editadas pela Livraria e Editora Logos Ltda., enquanto as com 0) foram edi- tadas pela Editora Matese. IV. MISSAO DA FILOSOFIA NA VIDA CULTURAL BRASILEIRA HODIERNA Posso colocar-me na seguinte posicio: nds, brasileiros, por vi- vermos materialmente o universal humano, por n&o termos com- Promissos histéricos que pesem demasiadamente sobre os nossos ombros, nem tampouco compromissos filoséficos, somos um povo apto para uma Filosofia de carter ecuménico, uma Filosofia que corresponda ao verdadeiro sentido com que ela foi criada desde © infcio, Parto da posig&o pitagérica: Prricoras, diz-se, afirmou que era um amante da Sabedoria (sophia), da suprema Sabedoria, que cointuimos com a prépria Divindade. Este afi de alcancéla, os es- forcos para atingi-la, os caminhos que percorremos para obter essa Suprema instrugio (da{ chamé-la de Mathesis Megiste, que 6 a su Prema instrug&o), todo esse afanar é propriamente a Filosofia, Assim, posso admitir que hd vérios caminhos, embora sé haja um caminho real. Como fundamentava Pitégoras, repetido depois Por Aristételes, que a tinica autoridade na Filosofia é a demonstra- $80, sendo que esta deve ser apoditica, e, se possivel, com juizos Necessérios e até exclusivos, a Filosofia construfda deste modo s6 Ser uma: positiva e necessariamente concreta, que € a posicéo aue tomo aqui, Digitalizada com CamScanner fs MARIO FERREIRA Dog saNrog Podemos viver o universal, no sentido puramente os modos de ver e de sentir dos diversos povos, mas permanecer na situago de ser um povo que recehe todas as iadia vindas de todas as partes, que no possa encontrar um camine’ para si mesmo; temos de criar este caminho. A minha luta 6 esta, Sem esta visio positiva e concreta da Filosofia nfo seré possivel dar solugio aos inimeros problemas vitais brasileiros da atualidade, porque a heterogeneidade de idéins e posigdes facilita a de solugses, das quais muitas nfo sio adequadas as necessidades do Brasil, o tema é vasto e exigiria um trabalho especial. uantitatiyo, Podemos |v. QUE FAZER PARA QUE A FILOSOFIA ATINJA AS GRANDES MASSAS POPULARES E A JUVENTUDE BRASILEIRA? , Fazer a Filosofia atingir as grandes massas populares ser em primeiro lugar, obra que se cingird a descéla ao baixo grau de cultura de nossas massas populares. Precisamos estudar 0 que de- vemos fazer para erguélas até a Filosofia, o que sé poderd ser feito através de um desenvolvimento da cultura nacional —— em linhas distintas das atuais, que tendam & Filosofia Positiva e nfo a Filoso- fia negativista e niilista que penetra em nossas escolas. Quanto “A juventude brasileira, este é 0 mais grave de nossos problemas: somos um pais constituido de jovens, que formam a sua quase totalidade. Dado o baixo grau de cultura que temos, nossos estudantes passam a formar uma elite intelectual, 0 que de- monstra a inferioridade em que nos encontramos. Na Historia, a juventude sempre 6 0 que decorre da sua prdpria natureza, apresen- tando aspectos positivos e negativos. Positivos, pela sua capacidade de ago e de idealismo; mas negativos, pela sua irreflexio, pelo seu despreparo e apressamento, que a leva a cair, facilmente, nas malhas dos grandes agitadores e a servir aos interesses de demagogos © PO liticos. Em todas as épocas da humanidade, uma parte da juven- tude mais ativa tendeu & luta a favor das mds causas, facilitando-as. Foram jovens que destruiram o Instituto Pitagdrico, condenaram S6- crates, perseguiram Anaximandro, Aristdteles, assassinaram Hipatia de Alexandria e perseguiram Santo Alberto, S. Tomas de Aquino, S. Boaventura, quando mestres na Universidade de Paris; que uiva- vam pelas ruas pedindo a cabega de Dante, de Savonarola, de Gior- dano Bruno; que acusavam Pasteur de “charlatéo” e atiravam pedras ———— et Digitalizada com CamScanner ee . VO E CONCRETO alt igo FILOSOFAR POSITY 0. wl meses jovens sfo ativos, eficientes na sua parte des- hé também uma juventude construtiva. Entio, o que trutiva. Mas ™ ¢ orientar a juventude brasileira, dar-ihe suficiente nos cabe fare positiva, conereta, de modo a imunizéla contra sabedora venilistas, para que possa por a sua capacidade de aso 8s cei ‘em algo concreto que beneficle o pais. Fora disso, e nada daré resultado. em Einstein. yI, QUAIS SAO AS CORRENTES FILOSGFICAS QUE A REFLEXAO FILOSOFICA DEVE LEVAR EM CONTA HOJE? Propriamente, julgamos que todas, porque encontramos hoje, na reflexGo filoséfica, a restauragio ou 0 ressurgimento de velhos erros jé refutados hé séculos e milénios, que passam por inovagdes extraordindrias para aqueles que ignoram as aquisigdes do passado. % necessdrio, assim, revisar tudo, para mostrar que muitas novidades atuais nada mais sio que velhos erros jé refutados, travestidos de “verdades superantes” VII. DADOS DO PROGRESSO DAS CIENCIAS EXPERIMENTAIS IMPRESCINDIVEIS PARA A REFLEXAO FILOSOFICA Como a pergunta exigiria uma anélise longa, sintetizar aqui o que penso, torna-se, para mim, um trabalho mais dificil do que expor as grandes contribuig6es que a ciéncia traz para as novas especula- Ges filoséficas. N&o que esta venha modificar as linhas mestras da Filosofia Positiva e Concreta; veio, ao contrério, robustecélas, mas trouxe contribuigdes que permitiram abrir campo nio sé para novas andlises, como também para melhor colocagio de outros problemas, além de uma revisio da Metodologia, sobretudo na parte da Dialética ao Trata-se da Dialética que possa de melhor modo aplicarse © Sem cone eativa, para que ela nfo se torne meramente abstrata temos tree srondéncia com a realidade concreta. Basta que salien- 8S pesduisag OS ImPortantissimos da ciéncia moderna. Primeiro, nein nom tomo da estrutura da matéria sensivel, que levaram Tar na constituicso da matéria, afastando-se o con- do século dezenove. Temos, assim, uma visio muito ampla do que aquela que os fildsofos anteriores pos- Be Digitalizada com CamScanner 418 MARIO FERREIRA DOs Santos sufam, também a Filosofia Positiva de séculos anteriores, , aproximan. do-se a passos gigantescos da concepcfo que os pitagéricos hay apresentado, e que fora considerada por muitos como exiravaee tomouse muito mais compreensivel. Naturalmente, se alguém oo” sidera que 0 ntimero 6 apenas o da matematica vulgar, o da extensae da quantidade, ou o esquema da participacio quantitative, & légico que a definigfio pitagdrica de que as coisas sfio mimeros passa a ter um sentido demasiadamente brutal e inaceltdvel, Mas no mo. mento que se compreender que mimero no 6 apenas isso, mas todo © esquema de participagio de qualquer espécie de unidade, porque 6 a manifestacdo da unidade sob todos os seus aspectos e, por tanto, sob todas as formas manifestativas em que se exija o mu meroso e, portanto, participado, participante e logos da participacao e que, segundo 0 logos, existem tantos ntimeros quantos logoi de participagio, j4 muda completamente o sentido e entéo podersed compreender que, segundo todos os possiveis aspectos em que se possa tomar a unidade, podemos construir matemdticas. A ciéncia moderna, gragas & penetracfio da Matematica, de inicio na parte quantitativa e depois no qualitativo — como se viu nas graduagdes —e nos relacionais — como se vé nos untores — caminha hoje, inevitavelmente, para uma penetragéo cada vez maior no caminho que jd fora percorrido pelos antigos pitagéricos. © progresso cientifico processouse e firmou-se na medida em que a ciéncia se matematizou; a ciéneia, por outro lado, separouse da Filosofia, nfo devido a essa matematizagao, mas em virtude dos fildsofos, que nfo compreenderam bem essa motematizagao, que de veria ter permanecido no campo da Filosofia Positiva, se realmente fosse concreta. Por isso, 0 aparente abismo hodierno entre Filosofia e ciéncia pode perfeitamente ser ultrapassado, flanqueado pela Fi losofia Concreta; 6 0 que estamos fazendo com as nossas obras, apesar de muitos julgarem ser impossivel a um brasileiro tentar fazé-lo. Segundo, ainda no campo da pesquisa da estrutura di a descoberta das tensdes, sobre as quais os fisicos modernos, estar recidos ante a sua realidade, procuram escamoted-la, sem poder en- frentar, devidamente, a implicéncia que a aceitagdo desta realidade exigiria, e que os levaria a uma especulagdo filosdfica para 4 qual nao estio preparados. ia matéria, ag 4 2reelta contribuigdo importante 6 a referente & genética, que eo notes Subsidios para a melhor compreensio do homem, para * 's estudos antropoldgicos e uma nova reflexio em torno da ignificacio do ser humano, ae Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 419 Poderfamos citar intimeros outros aspectos, que também séo imprescindfveis para a reflexio filos6fica. Alids, sio tantos, que nfo caberiam, naturalmente, no espaco que temos para responder. O que queremos apenas salientar 6 que devemos compreender que, das cau- / 88 as leis e aos princfpios de cada ciéncia, podemos aleangar-uma” sabedorla que estéacima de toda ciéncia,uma_sabedoria como a_estudaram_os grandes pensadores de todos os tempos, que 6 8 “Décima Ciéncia” dos antigos, de que nos falava Séo Boaventura. } Essa Ciéncia, cabenos construfla; seré a metalinguagem_ do | homem, unindo todos os especialistas numa visio global. Essa construcio é a nossa grande tarefa atual, para que possamos apro- | veitar as grandes contribuigées da ciéncia na elaboracéo de uma visdo filos6fica mais completa, mais perfeita e mais atuante para um melhor futuro da humanidade. Assim abriremos campo para novas. andlises, nfo mais as que colocavam mal as questées, de modo a tornélas, por isso mesmo, insoltiveis e estéreis suas disputas, mas langando novas disputas num campo mais fértil, mais criador, sob aspectos mais seguros, que poderio abrir ao homem novas perspec- tivas, com dados extraordindrios, em beneficio da cultura do homem de amanha. § diante deste horizonte, ante esta aurora que se anun- cia, que me anima o que tenho realizado, muito embora eu nao seja compreendido por muitos daqueles que se dizem amantes dessa sofia, a Matese, a sabedoria, a intuicio sapiencial. Posso, agora, completar a minha resposta ao item IV, dando, assim, © sentido da reflexdo filosdfica que se pode atribuir ao pensamento brasileiro, se ele quiser ser genuinamente filosdfico. Todos aqueles que, no Brasil, revelaram que possuiam mente filosdfica — e nao foram muito numerosos, porém brilhantes — tenderam sempre para um pensamento de cardter sintético, isto 6, nio ficaram totalmente Ppresos 4s correntes filosdficas européias e dependentes delas. Sem- Pre houve, entre nds, o desejo de abarcar o universal e esta caracte- ristica 6 naturaimente justa e prépria de um POvo que vive em si mesmo este universal. Por isso, o Brasil 6, dos paises atualmente ), existentes, mais capacitado para uma Filosofia universalizante ou, / menos, para uma nova linguagem filoséfica, capaz de unir © pensamento_ / que divergiu to profundamente no campo jé esgotado do pensamem -to europe. Aqueles que nfo pensam assim, que nfio admitem essa, Possibilidade para nds, que continuem vivendo o seu modo de pen- |, 88. Nés preterimos, porém, divergir. ce i pelo Digitalizada com CamScanner = MARIO FERREIRA Dos sanrog VIII. COLABORACAO DA FILOSOFIA PARA HUMANIZAR A CIVILIZACAO Esse item pode-se dividir em trés: 1°) a humanizacao da ciyi. lizagio atual; 2°) @ evidenciagéo do valor da pessoa humana e 3°) a contribuigéo para a paz interior e felicidade do homem. Primeiro: hoje, sobretudo no mundo livre, gragas ao surgimento de um desejo ecuménico de aproximacéo dos homens, a humaniza. go da civilizagéo pode ser obtida — em parte, naturalmente — pela colaboragio da Filosofia, pela revisio honesta de todos os grandes autores do passado, que foram caricaturizados, falsificados e apresen- tados num sentido que nao é realmente o da sua Filosofia. Pode. rfamos citar aqui, desde os pitagéricos até 0 século passado, autores que precisam ser revisados e reestruturados, para evitar-se aqueles “gables convenues”, aquelas mentiras histéricas, os mitos e as inter pretagdes falsas que se fazem da sua obra, com o simples intuito de denegrilos ou de favorecer outras posic6es. Devemos tomar a seguinte posicio: procurando primeiro tudo 0 que nos une, depois pensemos em estudar 0 que nos separa, para ver se, 0 que nos se- para, pode sofrer modificagdes ou acomodacées, que permitam que aquilo, que nos une, fomente a humanizagéo da prdpria civilizacio. Dai decorreria, pois, inevitavelmente, a segunda parte, sobre o valor da pessoa humana que, sem diivida, sofreu, neste século, devido ao desenvolvimento dos totalitarismos, uma afronta & sua dignidade. De todos os lados surge este tema, que pode e deve ser reestruturado em termos positivos e concretos. Finalmente, resultaria, entéo, a ter- ceira parte, porque a paz, a tranqiiilidade interior, a serenidade do espirito s6 podem ser alcancadas quando a mente assenta plenamen- te na Sabedoria, alcancando aquelas verdades, que esto a0 nosso aleance e que séo 0 fundamento de nossa verdadeira felicidade. Seguimos em suma, o preceito de Pitégoras: “Ama a verdade até o martirio; nao ames, porém, a verdade até @ intolerancia”! Pro- curando 0 que nos une realmente com todas as outras correntes © posigées filoséficas, podemos abrir caminho para uma compreensio nos aspectos em que encontramos diferencas, que, muitas vezes, so apenas acidentais e nao aptas a justificar uma separagio Pro funda. Esse jé seria um caminho de maior aproximagao entre 0S homens, porque, na medida em que nos dedicamos & leitura dos textos, vamos compreendendo a agio nefasta dos intermediérios. Sabemos que, na Filosofia e temos milhares de exemplos para citar, os intermedifrios, os discfpulos, em regra geral, falsificam a obra dos mestres segundo determinados interesses. Os adversérios car / | aa Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 421 caturizam segundo outros interesses, e o resultado 6 a deformacio total do verdadeiro pensamento do autor. A obra apresentada de segunda, terceira ou quarta mio esté completamente desfigurada, 0 que permite ao autor um ataque fécil, pois nfo 6 dificil destruir caricaturas. H4 casos, na Filosofia, em que autores tiveram suas obras refutadas antes de as terem publicado, eram, pois, obras co- nhecidas sé pelo autor. Muitos livros meus foram “refutados” antes de serem publicados, pelo simples fato de eu pretender tratar de tal ou qual matéria. Sem nem ao menos saberem qual a minha verdadeira posigéo num assunto, j4 havia adversérios para refuté-los. N&o em piiblico, porque isso eles nfo tém coragem de fazer, mas nos “corredores”. IX. A FILOSOFIA NACIONAL E 0 PENSAMENTO FILOSOFICO ESTRANGEIRO Quando hoje se visita Portugal e se vé qual a atitude predomi- nante neste pais em relacéo ao seu patrimOnio filosdfico, espanta verificar a completa ignorancia sobre o que de grande jé se realizou na Filosofia Portuguesa. Atualmente, nada se estuda, nas escolas, da Filosofia Portuguesa dos séculos XV, XVI e XVII. Parece qué Por- tugal nada realizou; desconhece-se que, por quase dois séculos, a Filosofia Portuguesa imperou no mundo. Desconhecem-se autores como: Petrus Hispano; Anténio a Santo Dominico, O.P.; Francisco Sudrez, S. J., que embora espanhol, viveu grande parte da sua vida intelectual em Portugal, onde adquiriu o seu saber, além dos ou- tros dois Francisco Soares, lusitanos; Martim de Ledesma, espanhol de origem, cuja formagio intelectual realizou-se igualmente em Por- tugal; Francisco a Cristo, O.S.A, e Egidio da Apresentagio, OSA, Andréias de Almada, S. J.; Ludovico de Sotto Maior, O. P.; Gabriel da Costa; Hector Pinto, O. 8; Hieron; Francisco da Fonseca, OE.S.A; Manoel Tavares, da Ordem carmelitana e Francisco Carreiro, da Or- dem cisterciense; Jorge O. Serréo, S. J; Ferdinando Peres, embora nascido em Cérdova, foi outro que adquiriu a sua cultura em Por- tugal; Ludovico de Molina, 8. J., nascido na Espanha, viveu, contudo, a maior parte do seu tempo em Portugal, onde estudou e foi discf- pulo de Pedro da Fonseca, S. J., 0 Aristételes portugués; Petrus Luis, S. J; Ant6nio Carvalho, S. J; Baltazar Alvares, S. J; Hieronimus Fer- nandes, S. J.; Gaspar Gongalves, S. J.; Ludovicus de Cerqueira, S. J. Gaspar Vaz, S. J; Diogo Alves, 8. J; Francisco de Gouvéa, S. J. Ferdinando Rébelo, S. J.; Gaspar Gomes, S. J.; Benedictus Pereira, Digitalizada com CamScanner ‘a MARIO FERREIRA DOS santos 5. 33 Sebastiéio de Couto, S. J; Bldsio Viegas, 8. J; Emanuel do Géis, S. J; Cosmas de Magalhées, 8. J; Pedro da Orta, $. 3; Joa de Séo Tomés, O. P., para citar apenas alguns, Portugal nos deu esta floragdo de fildsofos, afora os mais conhecidos, como Sanches ¢ ow. tros, porque correspondem & atual maneira de filosofar no mundo moderno. Perguntase: Podese falar numa Filosofia de Portugal ou apenas numa Filosofia em Portugal? Respondo: Podese falar, sim, numa Filosofia de Portugal e tam. bém numa Filosofia em Portugal. Nos, brasileiros, contudo, por um espfrito de colonialismo pas- sivo, que nos domina até hoje, nfo cremos em nés mesmos. 86 damos valor Aquilo que tem origem estrangeira, e nfio seja de Por- tugal, porque também esta procedéncia nfio goza de nossa admiracio. ¥# natural, pois, que falar numa Filosofia Nacional cause manifesta- c6es de completa descrenga. Nao acreditar que ela exisia, nem tam- pouco que possa surgir, 6 atitude geral. Ainda hoje, “famosos pro- fessores de Filosofia” em Portugal dizem que é impossivel criarse ‘uma Filosofia autdctone naquele pais. Para o portugués, 0 que vale 6: “Penso, logo nfo existo” ou “Existo, logo néo penso”. Podemos dizer que existe uma Filosofia no Brasil, mas se quiséssemos realmente falar numa Filosofia do Brasil, tal atirmagio exigiria exame. Nao co- nhecemos obra de criagio propriamente peculiar. Se estamos ten- tando realizar algo nesse sentido, néo podemos afirmar, por motivos Sbvios, que 0 seja. Podemos dizer que, pela nossa completa liber- taco de um passado metafisico, filoséfico, histérico, que pese sobre nés e entrave as nossas possibilidades de agio, estamos em condi- cées de criar uma Filosofia Ecuménica, uma Filosofia que seja real- mente a Filosofia, por entre os muitos modos de filosofar. A heterogeneidade nas modalidades de filosofar surge nos perio- dos de predominancia do empresério utilitério no contexto de uma cultura. Quando este predomina, prevalece a moda que penetra em todos os setores: na Filosofia, na Arte etc., como acontece no mun do atual. Esta variagdo tremenda de iddias, as quais surgem de todos os lados, ndo revela nenhuma pujenga; é ao contrério, um in dice de fraqueza, como a do perfodo final da cultura grega @ ale xandrina, A Filosofia Positiva (fundada na positividade do ser, que alcanca a perenidade, porque atinge as leis eternas) e Concreta, Pre Gisamente, porque, captando estas leis, relaciona todos os matizes le todos os aspectos formais — para darlhes uma unidade superior — 6 necessariamente Concreta, embora nio no sentido vulgar do Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 423 termo. A Ciéncia, felizmente, conseguiu libertar-se da moda, como o fez a Matemética; por isso, como se construiu uma Matemética, uma Ciéncia, também se pode construir uma Filosofia. Em que o pensamento brasileiro pode beneficiar-se do pensamen- to filoséfico estrangeiro: reunindo 0 que hé de positivo em todas as grandes realizagdes, provenham de onde provierem, construindo, depois, uma nova concregio e oferecendo-a ao mundo. Esta é a Yinica possibilidade que nos cabe e que estamos em condigdes de realizar, muito embora a maioria de nossos intelectuais nfo creia nisto e negue, terminantemente, que tal seja alcancdvel por nés, agulando-se com sanha contra quem tentar fazélo. X. DEVE ABRIR-SE A REFLEXAO FILOSOFICA PARA UMA VISAO TRANSCENDENTAL DA REALIDADE, NA PERSPECTIVA DAS RAZGES METAFiSICAS? Sem uma visio transcendental da realidade nfo pode haver Fi- losofia, porque se esta se distingue da Ciéncia por dedicar-se esta ao estudo das causas préximas e a Filosofia As causas primeiras e ltimas, fatalmente esta deverd ter uma visio transcendental da rea- lidade ou, pelo menos, tocé-la, abordéJa. Ora, além das causas primel- Tas e ultimas, temos de estudar os princfpios, objeto fundamental ‘da Méthesis Magiste — dos pitagéricos que chamamos Matese- em por- tugués — cuja elaboracio estou realizando em obra especial, que € a Ariomdtica baseada em Boécio. ¥ a Décima ciéncia dos pitagéricos, a Contemplacdo sapiencial de Sio Boaventura, a Sapiéncia de Santo Tomés ete. Esses principios sio matéria que constitui, propriamente, o que em todos os ciclos culturais, em todas as altas religides se chama de Sabedoria: Sabedoria infusa ou Sabedoria em que o homem participa da Divindade, ou ainda a propria Sabedoria divina que o homem pode abordar, tocar e na qual consegue penetrar. Sio temas que, naturalmente, exigem discuss6es sobre os seus principais aspectos. Mas o que é inegavel, e néo poderé deixar de abranger nenhuma visio filos6fica em profundidade, é que h4 princfpios eternos, leis eternas, que dominam todas as coisas, as quais nfio devem ser con- fundidas com as leis naturais nem com as da ciéncia. Este estudo lovaré, inevitavelmente, a uma visio transcendental da realidade e sem ele nfo se faz Filosofia em profundidade, mas apenas de super- Digitalizada com CamScanner MARIO FERREIRA DOS SANTOS 424 tieie. Esta tendéncia, de uma Filosofia que nfo ultrapassa a ima. aacta da esquematica — que o homem pode construir apenas dentro ne — predomina no mundo moderno, de sua experiéncia mais vulgar xI. QUAL EA {NTIMA CONEXAO ENTRE A POSICAO GNOSIOLOGICA, METAFISICA E ETICA; ENTRE A [TEORIA E A PRATICA? i hd duas perguntas: *) a que interroga Parecenos que aqu gnosioldgica, metafisica e ética sobre intima conexéo entre @ posigio © 2+) a intima conexio entre a teoria e & pratica. Responderei & primeira, depois & outra. As dificuldades no cam- po da Gnosiologia, da Metafisica, inclusive no da Ztica, surgem na- quele filosofar que coloca o homem quase como um ser estranho ‘ante o universo, o qual é impermedvel para ele. Coloca, assim 0 homem numa situagéo de ser completamente ilhado, bloqueado, sem a menor possibilidade de penetragio mais profunda. As conseqiiéncias deste pensamento pessimista, possivel, com 0s nossos meios cognoscitivos, cende e dar, também & propria Etica, uma visio transcendental. Desta forma existe a tendéncia a considerar todo 0 filosofar do homem apenas como uma obra humana — restringida, portanto, aos limites de nossa experiéncia — fundamentada nos dados de nossos sentidos e meios limitados de conhecimento. Chega-se, ademais, & conclusio de que todo e qualquer esquema que construamos jamais corresponde & realidade que nos ultrapassa. Estamos em pleno agnos- ticismo, ceticismo, pessimismo, ficcionismo, pragmatismo, materialis- mo, niilismo, “desesperismo”; s&o conseqiiéncias que surgiram do filosofar moderno. Portanto, inegavelmente, a reflexSo filoséfica deve abrirse para uma visio transcendental da realidade, sob pena de nos perdermos em armadilhas feitas por nés mesmos, afirmando uma deficiéncia que, na verdade, nio temos. negativista, sfio as seguintes: nao é alcancar o que nos trans- A segunda parte da pergunta 6 important{ssima. Surgem nos ere as discussdes em torno da teoria e da pratica, da Filosofia ad Hencia Especulativa, da Filosofia e da ciéncia prética. Avass® eapeeer ee are fildsofos de maior responsabilidade intelectual Sepeets dos grandes trabalhos realizados — que fazem a nitida dis- ordi 4 ea © prética — que chegaram até nds, & maior mae jpletamente desconhecida para aqueles que nfo tém lgago com a Filosofia Positiva e Concreta, a qual per Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 425 tence aos grandes ciclos culturais da humanidade. Resultado: esta- mos hoje vivendo uma completa confusio entre teoria e pratica. | Estabelecese determinadas proposigdes tedricas, julgando-se que elas || sdo perfeitamente prdéticas e vice-versa. Algumas proposigGes, ex- traidas exclusivamente da prdtica, passam a constituir verdadeiros || axiomas tedricos. O resultado é que vivemos hoje num mundo de | utopias e quimeras; como conseqiiéncia, hé desilusdes, cujo resul- tado final 6 desespero, i XII. A FILOSOFIA & UMA CIENCIA OBJETIVA OU UMA PRODUCAO PESSOAL, PURAMENTE SUBJETIVA, DO PENSAMENTO? Aqui esté um ponto de partida, verdadeiro divisor de dguas. Desde 0 momento em que nos coloquemos na posigao de quem pensa que a Filosofia é mera producio pessoal, puramente subjetiva do pensador, pomos aquela no campo da Estética, Mas se admitimos que a Filosofia é uma ciéncia objetiva, isto é, uma busca humana da sophia suprema, que nos ultrapassa e transcende, ela adquire uma feicio completamente distinta, Em todos os ciclos culturais, a Filosofia Positiva e Concreta é uma ciéncia objetiva. Em todos os momentos de decadéncia ou refluxo, que sio varios, ela se torna puramente subjetiva. ) A Filosofia Moderna est caindo no subjetivismo. Vimos até a /tendéncia de um Helsenberg querendo colocar a prépria Ciéncia no / subjetivismo, pela sua teoria da indeterminacio. Hé necessidade de | esclarecer-se, sobretudo para aqueles que querem fazer Filosofia, o seguinte: se desejam fazer obra puramente subjetiva, dediquem-se & Estética e deixem em paz a Filosofia, assim como se pede aos posi- tivistas que fagam Ciéncia e nfo Filosofia, porque séo coisas que devem ser distinguidas, cuja confusfio s6 atrasa o progresso intelec- tual da humanidade. Filosofia exige demonstrag’o e ndio meras asser- g6es. Ademais, nfo devemos confundir jilésofo com pensador — que também trata de Filosofia — e muito menos ainda com profes- sor de Filosofia, Em nossa época, o professor J4 se julga “dono” da Filosofia ©, neste caso, h4 o perigo de se pensar que o fim é uma Filosofia de professores para professores de Filosofia. Digitalizada com CamScanner ‘< MARIO FERREIRA DOS santog QUE PENSAR SOBRE O PROBLEMA Do xii. ATE{SMO CONTEMPORANEO? Este tema 6 de uma vastidio tremenda, jé que o atefsmo con. temporfineo no surge a rigor de uma especulagio filosdtica, mas, sim, de certas decepg6es de cardter mais ético do que filosético, ‘A meu ver, 0 ateismo nfo surge, propriamente, em torno do Deus Uno e de seus atributos, mas, em torno dos atributos do Deus Trino, do Deus pessoal ou dos atributos morais de Deus. Néo conhego ne- nhum trabalho, de nenhum atefsta, que se limite a atacar, especifica- mente, 0 Deus Uno. Conhego agnésticos e cépticos, mas nfo ateistas que tomem uma posicio definitiva, negadora da possibilidade de um Ser Supremo. O atefsmo é sempre o produto de uma ma colocagéo do problema de Deus. Como “na Filosofia nfo hd questées insohi- veis, mas apenas mal colocadas”, 0 atefsmo moderno parece uma questo insoltivel porque 6 mal colocada. Todas as ocasiGes em que tive a oportunidade de me encontrar com ateistas, bastou-me pedir- Ihes que descrevessem 0 que entendiam por Deus, para, nessa des- cricéo, verificar quais as razdes de seu ateismo. Foime fécil afasté- los de sua posig&o e colocé-los na aceitagio de um Ser Supremo, o que 6, para nés cristéos, 0 ponto de partida para uma total re cuperacio. XIV. EM QUE SENTIDO A REFLEXAO FILOSOFICA PODE TER TONALIDADE CRISTA? PODE 0 CRISTIANISMO PRESTAR BENEF{CIOS AO FILOSOFO? Eis também outra questéo que, bem colocada, 6 de solugéo facil. O ponto de partida esté em saber o que se entende por tonalidade crist@. Se considerarmos Cristo sob um aspecto, no qual podemos encontrar-nos quase todos, isto 6, representando Ele o que © homem tem de mais alto na sua forma perfectiva, caminhando para a Divindade — ou mesmo, neste sentido, reaproximandose do Ser Supremo — podemos atirmar que a reflexio filosdfica nio pode deixar de ter uma tonalidade cristi. Nao pode haver uma reflexio verdadeiramente filoséfica que nfo erga o homem do menos para 0 mais. Portanto, o Cristianismo presta e sempre prestou beneficios 20 filésofo, raz&o pela qual a Filosofia teve o seu maior desenvolvi- mento sob a égide do Cristianismo. Serd também apenas através da Digitalizada com CamScanner MEU FILOSOFAR POSITIVO E CONCRETO 427 concepgao cristé, que se poderd realizar uma Filosofia superior capaz de unir os homens e fazélos se compreenderem, pois Cristo representa, no homem, tudo quanto ele tem de mais elevado. Ja di- zia Pitagoras que a verdadeira piedade — alids, a eusébeia — era a justa e nobre veneragao da Divindade, consistindo aquela na prética de nossos atos perfectivos superiores. Aproximamo-nos, pois, de Deus na medida em que praticamos, de modo mais perfeito, os nossos atos. Em suma: a eusébeia (a verdadeira piedade), para os pitag6- ricos, é a assemelhago a Deus. Este conceito nfo é exclusivo dos pitagéricos, mas de revelag&o universal, de todos os ciclos culturais. A verdadeira Filosofia caminha paralela & Religido, porque, se esta é © caminho para elevar 0 homem a Deus pelas agdes, aquela é 0 ca- minho para elevar 0 homem — pela meditagio, pelo pensamento, pela pesquisa, pela especulago — também, a Deus. Por isso, a Religiio pertence & vida pratica e a Filosofia sobretudo & vida especulativa — © que nfo impede que a Filosofia especule também sobre a vida prética ¢ nela atue dentro das normas desta. Isto corresponde & von- tade, a0 entendimento humano na sua ago em busca do bem; mas a Filosofia é a vontade e a especulacaio em busca da verdade. Conseatien- temente, 0 homem, & medida que especula pela verdade, aproxima-se do Ser Supremo e & proporcio que busca o seu justo bem aproxima- -se de Deus. Esta 6 a razio por que o divércio entre Filosofia e Religiio — que se procurou fazer no mundo ocidental como também J4 se fez em outros ciclos culturais, em situagdes correspondentes a esta — 6 apenas uma covardia, a ser substituida por uma atitude herdica, enfrentando, mostrando os defeitos dessa posigao e propondo os verdadeiros caminhos de ascensio, Visto sob este aspecto, o Cristianismo 6 universal, porque per- tence a todos os ciclos culturais. Ele foi o pensamento verdadeiro mais profundo de todos os ciclos culturais, sendo, por isso, insepa- rével da Religiio do homem nos seus aspectos perfectivos. # 0 ho- mem enquanto Vontade, Entendimento e Amor, correspondendo, na concep catélica, as Trés Pessoas da Trindade. Caminhando neste sentido, retiraremos o homem do pantano em que esté afundado, do estado de desespero no qual imergiu, podendo tornar a oferecer- Ihe uma nova perspectiva e esperanga, que poderd solidificar uma £6 verdadeira e robusta. Digitalizada com CamScanner

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