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se NICS ICS IS DA CRIATIVIDADE HUMANA’ Dee Nect es RiceR Riemer) Beicmen ee ter BlRletin lies) Vitéria da familia Eeeletee alps folelgdYelaeienojesleigel Cena sgcteleel 4 clienagao parental ESPELHODA MALDADE Violéncia explorada pela midia reforca o debate em torno do fenémeno copycat — tendéncia humana de imitar um modelo de comportamento para reproduzir crimes barbaros CRISTINA VILLAGA DEFENDE UM PROCESSO CONSTRUTIVO NA TERAPIA DE CASAL PSICOLOGO, FACA FACIS E AMPLIE AS POSSIBILIDADES EM SUA PRATICA PROFISSIONAL S Acupuntura gy Arteterapia e GRO ELURES § Expresses Criativas s& Psicologia Junguiana Psicossomatica Psicologia Integrativa Transpessoal Auriculoterapia Estudos Avancados sobre Mitologia Terapia Ocupacional (Satide Funcional e Mental ) Obesidade e Medicina Chinesa TUI NA - Terapia Manual Chinesa REFERENCIA EM POS-GRADUACAO NA AREA DE PSICOLOGIA Cursos cadastrados no MEC Corpo docente formado por mestres e doutores MATRICULAS ABERTAS 2017 Reserve a sua vaga. “Todos os cursos estdo dentro do “mbito de atividades do psicélogo. OFACIS Faculdade de ics da Sue de Sto Paulo fua Dona nica Uchoo, 399/611 - Vila Marian {(préximo aos metrds Vila Mariana e Ana Rosa e a 20 minutos do aeroporto) (11)5085-3141 | www.facis.edu.br | atendimento@facis.edu.br H425 anos ajudando Offacistacuidadedecienclasdasaudedesp @faculdadefacis @Bfaculdadefacs @ conetruir futuros © editorial Glaucia Viola, exitora Efeito Copycat: quando a midia se torna cumplice o € de hoje que se discute a disseminagio da informagdo sem conteddo, 0 consumo desnecessirio motivado pela publicidade e, mais recentemente, o uso maléfico da rede mundial de computadores. E certo dizer que a mfdia modela 0 comportamento e a Psicologia est presente na anilise desse fendmeno. Somos expostos diariamente a processos de modelagem. Moda, estilos de vida, looks $410 apenas alguns dos varios exemplos que demonstram quanto nossas atitudes podem ser moldadas pelo espelho de artistas, novelas, propagandas e até mesmo por jornalistas que estiio inseridos nesse contexto como formadores de opinides. O tema de capa desta edigao da Psique coloca a teoria da modelagem em pauta, mostrando que a influéncia mididtica ea pra- tica desse modelo podem ser vivenciadas no ato de um crime sob 0 efeito cypycat, expressio em inglés que resulta da justaposicdo das palavras traduzidas “e6pia” e “gato”, fazendo uma alusio aos filhotes felinos que tendem a imitar 0 comportamento da mae. © efeito copycat tem sido sistematicamente apontado na literatura criminolégica sempre que um determinado caso “dispara’ uma onda de ocorréncias similares. Estudos avaliam, por exemplo, que quando acontecem suicidios ou homicidios de grande repercussio, pode fazer ‘com que, logo em seguida, surjam fatos da mesma natureza. A teoria da modelagem tem como um de seus precursores 0 psicélogo Albert Bandura. Ele afirma que as tendéncias violentas podem ser aprendidas desde cedo pelas criangas 20 observar outras pessoas praticando atos violentos, ou mesmo pela midia, com a exposicio aos filmes, aos desenhos e, hoje, aos canais de internet. Carla Daniela P. Rodrigues, autora do artigo sobre esse assunto, cita um estudo do pes- quisador americano Loren Coleman, em que relata alguns massacres ocorridos nos EUA que poderiam ter sido influenciados por outros semelhantes noticiados pela midia. “O autor estudou por ‘anos 0 comportamento suicida e homicida a partir do sensacionalismo nos casos policiais ¢ explica que 1e passassem a tomar conta do inconsciente de seria como se as informagGes, personagens e fatos de um pessoas propensas a praticar tais atos, até que elas realmente concretizem essas ideias’, diz a neuropsicéloga no texto. Essa pesquisa aponta, portanto, que pessoas vulnerdveis, principalmente as que sofrem de algum tipo de disttirbio psicol6gico, podem facilmente ceder A influéncia mididtica, desejando o reconhecimento € a fama advindos do protagonismo de um crime barbaro. Sendo assim, o artigo também tem o papel de tra- zer o importante alerta de que todos os meios que possam atuar como agentes sociais na formagao humana devem ser encarados com muito cuidado. Boa leitura! Gliucia Viola pique @escala.com.br avnvze facebook com/RevistePriqucCienciaeVida “Para as nossas agbes e omissdes, ndo é preciso tomar ninguém como modelo, visto que as situagGes, as circunstiincias e as relagdes nunca so as mesmas ¢ porque a diversidade dos carfiteres também confere um colorido diverso a cada agio” Arthur Schopenhauer Influéncia da midia Fenbmeno copycat indica que a exploragdo de noticias sobre crimes violentos motiva mais ocorréncias desse tipo MATERIAS ENTREVISTA Cristina Villaca, especialista em terapia de casal, revela qual © momento ideal para procurar © auxilio de um profissional SECOES visa acabar com o problema, 05 EM CAMPO causador de sérios danos 14 INFOCO. psicolégicos as criangas 48 PSICOPOSITIVA. 20 PSICOPEDAGOGIA 22 SEXUALIDADE, 32 COACHING 34 LIVROS 48 CIBERPSICOLOGIA. 50 NEUROCIENCIA 52. RECURSOS HUMANOS 54 SUPERVISAO 63 PERFIL, 64 DIVA LITERARIO 66 CINEMA 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE Em nome da famflia ’ Alienagao parental pode virar crime caso seja aprovado projeto de lei que Fe Acumuladores Pessoas que tém apego extremo a objetos podem esconder intensa angtistia provocada por um distirbio psiquico Dossie: PEQUENO MOSQUITO, GRANDE AMEACA Doengas como dengue, chikungunya e zika, provocadas pela picada do Aedes aegypti, podem ocasionar complicag6es neurolégicas, em consequéncia das febres hemorragicas Ne em campo CULTURA ORGANIZACIONAL DAR AUTONOMIA E LAZER AOS FUNCIONARIOS AUMENTA O SEU DESEMPENHO E O SEU ENGAJAMENTO. Funciondrios que nao se ajustam ao mundo corporativo tradicional ¢ 4 cultura da ‘empresa podem se engajar mais 4 companhia com o auxilio de job crafting e amplian- do 0 seu lazer. A conclusio € de estudo realizado recentemente por pesquisadores da Universidade da Geérgia, EUA, publicado no Academy of Management Journal. A saber, jab crafting € uma pratica que envolve dar autonomia ao funcionério para que ele desenvolva suas atividades levando mais em conta seus interesses e habili- dades pessoais e, ainda, formas criativas de executar tarefis, diferentes dos modelos utilizados pela empresa. Jé o conceito de lazer ampliado pode ser usado para mitigar 05 efeitos negativos do possivel “desajuste” cultural entre funciondrio e empresa e, mesmo, aumentar 0 desempenho do colaborador nessa situagdo. No caso da pesquisa em ques- tio, foi exatamente 0 que aconte- ceu com parte dos 193 funciond- ios observados, segundo selecao. de empresas do Craiglist. Feito devido diagnéstico de “desajuste”, eles responderam a questiondrios apés 2 realizacao de atividades sob job crafting ¢ lazer ampliado. Eles relataram seus valores individuais € no trabalho, seu nivel de enga- jamento ¢ satisfigdo, entre outras informag6es. Os pesquisadores en- viaram um questionério também ‘aos supervisores desses profissio~ nais para medir 0 desempenho avaliar 0 comportamento dos fun- cionarios, cruzando todos os dados. Os empregados que se envolveram mais regularmente em novas abordagens para suas tarefas ou alteraram, com autonomia, alguns pequenos procedimentos que vi- nham realizando na empresa foram significativamente menos propensos ao baixo ni- vel de engajamento ¢ desempenho. O mesmo foi verificado entre aqueles que tiveram seu lazer ampliado, Segundo os autores do estudo, pesquisas fiuturas podem se concentrar na experién- cia de “desajuste” com base em valores especificos dos funcionarios, ou sobre o efeito do rétulo de “desajustado” nos funcionérios, quando emitido por colegas de trabalho, entre outras possibilidades a partir do levantamento atual. Para SABER MAIS: R.M. Vogel, J. B. Rodel, J. W. Lynch. Engaged and productive misfits: how job craf- ting and leisure activity mitigate the negative effects of value incongruence. Acade- my of Management Journal, 2015; 59 (5): 1561 DOI: 10.5465/amj.2014.0850 swore portalienctevidn.combe por Jussara Goyano ‘CHA DE CADEIRA” FAZ MAL Até 4% das mortes no mundo poderiam ser evitadas reduzindo-se o tempo que as pessoas passam sentadas a0 longo do dia, segundo informagdes divulgadas pela Agencia USP. Isso representa 433 mil pessoas por ano, de acordo com estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Sao Paulo e da Universidade Federal de Pelotas. “No limite, reduzindo o tempo sentado em até 3 horas por dia, seriam evitadas 4% de mortes. Entretanto, reducdes mais singelas jé repercutiriam em grandes ganhos em saide publica. Por exemplo, reduzindo em 2 horas/ dia 0 tempo que ficamos sentados seriam evitados 2% das mortes; se for uma redugdo de 1 hora/dia, teriamos 1,2% a menos de mortes”, aponta © educador fisico Leandro Férnias Machado de Rezende, da Faculdade de Medicina (FMUSP) em nota publicada pela Agencia. MENINOS X MENINAS Oeestresse traumatico afeta os cérebros de homens e mulheres de forma diferente na adolescéncia, de acordo com um novo estudo de neuroimagem da Universidade de Stanford, Entre 0s jovens com transtorno de estresse p6s-traumatico, o estudo encontrou diferencas estruturais entre os sexos em uma parte da insula, uma regido do cérebro que detecta sinais do corpo e processa emogées e empatia. A insula ajuda a integrar sentimentos, agdes varias outras fung6es cerebrais. (Fonte: ScienceDaily.com) peiquecincingwida 5 6 * em campo COGNICAO EM IDOSOS PROTECAO CONTRA O ALZHEIMER SOB A MIRA DE CIENTISTAS Extensas placas proteicas ¢ ema- ranhados entre os neurénios so um indicador de Alzheimer no cérebro de idosos. Porém, uma pesquisa recente- mente divulgada pela Universidade de Northwestern, EUA, mostrou que indi- vviduos acima dos 90 anos e com a pre- senga desses fatores apresentaram boa ‘mem@ria © bom desempenho cognitivo até a sua morte. © hipocampo, regito do cérebro responsivel pela mem6ria, permaneceu relativamente intacto nesses individuos, ‘enquanto idosos com 0 ciclo completo da doenca (placas e deméncia) normal- mente apresentam menos neurdnios ati- vos nessa estrutura, além de danos em ‘outras reas cerebrais que controlam a finngao cognitiva. Quando as placas ¢ os ‘emaranhados aparecem no cortex fron- tal significa que a doenca de Alzheimer espalhou-se por todo 0 cérebro. © achado € pista para novas tera- pias contra a doenga e foi apresentado na Conferéncia Anual da Sociedade de Neurociéneia em San Diego, California. © préximo paso € investigar fatores alimentares, genéticos e ambientais que possam ter influenciado 0 desempenho esses idosos, protegendo seus neurd- nios da evolucao da doenca e dos efeitos t6xicos das placas e emaranhados. sigue citnciagvida COMPORTAMENTO E GOMSUMO QUEM SE ESTRE ESTA MAIS PROP COMPRAR OU POUF a A PAR? “O estresse leva os consumidores 8 poupar dinheiro’, responde Kristi- na Durante, professora associada de marketing da Rutgers Business School, EUA, em nota divulgada no site ‘ScienceDaily. com. Seu estudo publicado no Journal of Marketing Research, em ou- tubro deste ano, demonstra ainda que consumidores estressados focam em gastos necessérios, em vez de esbanjar nos su- pérfluos, entre outros comportamentos de consumo revelados. Em varios experimentos relacionando a presenca de certos hormOnios nos indivi- duos e o seu impeto consumidor, Durante e seu colega Julio Laran criaram situagées, eestressantes para os voluntérios participantes ou utilizaram relatos de estresse dos -voluntérios para aplicagiio dos testes. Diante de estresse, a maioria mostrou intengio de economizar dinheiro. Nessa situagto e frente A decisio sobre como gastar até US$ 250,00 — tendo como opcies bens domésticos essenciais e supérfiuos, incluindo centretenimento ~ 0 grupo que comprou itens considerados necessérios gastou mais dinheiro. (Nenhum grupo gastou todo 0 montante) ‘Uma raziio possivel para tal comportamento, segundo os pesquisadores, € a pre- senga do horménio cortisol, liberado em situagGes de estresse, que nos faz entrar em. alerta sobre possiveis ameagas e proteger recursos que garantam nossa sobrevivencia. Em outro experimento, os pesquisadores restauraram 0 senso de controle de um ‘grupo de estressados antes da decisio de comprar. Esse grupo oi o que gastou mais, dinheiro. Ainda, a raiz do estresse definiu comportamentos especificos de consumo. As pessoas que disseram que estavam estressadas com relago a uma situagio de trabalho atual, por exemplo, eam menos propensas a gastar dinheiro com roupas, £20 paso que outras que estavam estressadas por seu ingresso em um novo emprego ‘eram mais inclinadas a gastar dinheiro com roupas novas. O fato € que ter algum controle versus nenhum controle parece afetar as de- cis6es de compra que as pessoas fzem quando esto estressadas, diz Durante a0 ScienceDaily.com. “Vocé pode ter situagdes em que o estresse e um alto nivel de con- trole podem methorar seu desempenho, como acontece com os atletas de elite, mas se voce tem alto nivel de estresse e baixo nivel de controle, € quando nossos esforgos ccognitivos podem ficar prejudicados e é isso que se quer evitar” PARA SABER MAIS: Kristina M. Durante, Juliano Laran. The effect of stress on consumer saving and spending, Journal of Marketing Research, 2016; 53 (5):814 DOL: 10.1509/jmr15.0319 Jussara Goyano ¢ jornaista.Estuda Psicologia, Medicina ‘Comportamental e Neuraciéncias, com foco em z resliéncia, bem-estar e performance. € coach cestiicads g elo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. a i woo portaleiensnerida.combe giro escala A ESQUERDA PERDE AS RUAS \ SOCIOLOGIA - EDICAO ¢ £ inquestionavel que um novo fenémeno na politica nacional pode ser observado de algum tempo para ca. As esquerdas perderam a exclu- sividade das ruas como seu palco principal das reivindicagées e, pou- £0 a pouco, vém perdendo a capaci- dade de interlocug4o com 0 povo. 0 cenario vem se desenhando ha anos, Com a queda do muro de Berlim e © fim da Unifio Soviética, a ideia de uma transformagao radical da estru- tura econdmica e politica de uma sociedade através da revolugio saiu de moda. A totalidade cedeu espago para a fragmentagio, ¢ o foco pri cipal do pensamento de esquerda se voltou para a cultura. Da luta de classes passou-se para temas como género, feminismo, aborto ¢ am- bientalismo. Apesar de serem as- suntos extremamente importantes, € fundamental reconhecer que a cen- SOCIQLOGIA A FILOSOFIA DA MUSICA LOSOFIA - EDICAO Masico, compositor e instru- mentista, tendo como foco princi- pal a viola caipira, Sidnei de Oli- veira também € fil6sofo © busca unir essas duas paixdes por meio de intersecgdes. Cursou Masica na Universidade de Sao Paulo ¢ Filo sofia na Universidade de Franca Sidnei também fez estagio na Uni- versidade de Leipzig, onde pode aprofundar uma pesqui relagdo entre a obra Tristado e Isolda de Wagner e a Filosofia da masica de Schopenhauer. Para ele, a pro- ducdo musical e a reflexao filos6fi- io um Gnico trabalho, pois sua misica esté inserida na Filosofia em que acredita e sua reflexio filo- s6fica se volta para a arte e, prin- a. Esse sobre a cipalmente, para a mésic: processo € compreendido por ele como “Filosofia da misica’, pois nao seria possivel analisar uma sem a outra. Sidnei arrisea dizer que hoje nao jo em relag as, Seu processo de criagio envolve tanto 2 mtisica quanto a Filosofia. © fato de conviver com miisica por mais tempo permite a ele uma “fa- cilidade” com a producio. O artis- ta pensa a Filosofia como um meio que proporciona & sua composiczo um diferencial entre alguns mi cos, principalmente no meio da vio~ la de dez cordas. “Compreender a Filosofia na esfera da Filosofia da faz: as duas are- miisica me permite dialogar com os textos filos6ficos juntamente com meu instrumento, quase de manei- tralidade desses assuntos reforca a fragmentacdo da politica. Com a permanéncia do Part dos Trabalhadores por 14 anos no poder, as pautas dos movimentos so- ciais de mulheres, LGBT, dos negros, foram incluidas na agenda politica. A oposicao, principalmente de direita, a0 governo passou a criticar no s6 a condugio econdmica do governo do PT, mas também, aproveitando- -se do conservadorismo da sociedade brasileira, as reivindicagdes dos mo- vimentos sociais citados. Nio é de estranhar que a correlagao de forcas no Parlamento brasileiro inviabilize ica entendida como lo qualquer poli avanco na luta pela ampliagao de di- reitos. Matéria completa esta na edi- cio 66 da revista Sociologia i ra metafisica, ou seja, € a tentati de passar para minha composicao a imersdo e a compreensio de uma determinada Filosofia’, resume Sid- nei, que concede entrevista comple- ta sobre esse e outros assuntos na edigdo 123 da revista Filosofia. swore poraliencnevi.combr psiquecinciagwrida 7 A CRISTINA VILLAGA YU o TERAPEUTA £ UM FACILITADOR DO DIALOGO po CASAL Para Cristina Villaga, especialista em terapia de casal, 0 profissional deve auxiliar, principalmente por meio de perguntas, para clarear as situacGes, focar nas questées, e nao nas acusag6es miituas, para diminuir os conflitos Por Lucas Vasques asais tém problemas, é fato. Alguns, poucos; outros, nem tanto. Na verda- de, 0 didlogo franco e desprovido de rancores € sempre uma boa alternati- va para elucidar diividas e resolver questées que podem ameagar a boa convivéncia entre os par- ceiros. No entanto, em determinadas situacées, principalmente naquelas em que, aparentemente, ninguém enxerga uma saida, é necessdrio 0 au- xilio de um profissional especializado. Mas nem sempre é facil determinar qual o momento exato de se procurar uma terapia de casal. Especialista no tema, Cristina Villaca afirma que € muito dificil definir especificamente quais os problemas que levam um casal a terapia. “Se enumerar questées mais comuns, fico na super- ficialidade e em generalizagdes, que ignoram o contexto e caracteristicas absolutamente particu- lares de cada casal, de cada pessoa que forma esse casal. Ficando isso claro, posso falar de situagdes swore portalienctevidn.combe que envolvem uma rotina “pesada” e desigual, questdes do ciclo vital (nascimento e educacdo dos filhos em diferentes idades, por exemplo), questées financeiras, sexuais, de projetos de vida divergentes, para citar alguns. Nada disso, porém, é fator Gnico, mas aparece como motivo para pe- dir ajuda”, esclarece. Cristina é especialista em terapia relacional sis- témica, em terapia de familia, casal e individual, em terapia comunitéria, no uso do desenho como recurso terapéutico, em mediagao de relaciona- mentos e integragdo de equipes em empresas. Além disso, é a primeira secretéria da Associa- cdo de Terapia de Familia-RJ, gestao 2014-2016, integrante da Abratef (Associagdo Brasileira de Terapia de Familia) e membro colaborador e da equipe de formagao do Cefai - Centro de Estudos da Infancia e Adolescéncia-RJ, membro colabora- dor do Instituto Noos-RJ e da Abratecom ~ Asso- ciacdo Brasileira de Terapia Comunitaria. Lucas Vasques ¢ jomasta e escreve nesta publcacso. psique cinciagvida 9 CoMo, DE FATO, FUNCIONA A TERAPIA DE CASAL? DE QUE FORMA 0 PROFISSIO- NAL INVESTIGA OS PROBLEMAS DO CA- SAL? A CONVERSA, NECESSARIAMEN REALIZADA COM AMBOS AO MESMO. PO, UM DE CADA VEZ OU APENAS UM DOS PARCEIROS? Cusrixa Vitiaca: Como € comum em varias reas do conhecimento e da pri- tica profissional, existem miiltiplas pos- sibilidades de compreensio e atuaco no exercicio da profissio. A minha especia- lizagdo é em terapia relacional sistémica, que inclui familia, casal e individual. A terapia de casal, dentro dessa visio, fun- ciona como um lugar de acolhimento, de oferecimento de um ambiente protegido © cuidadoso, em que 0 casal pode desa- afar, colocar suas questées e caminhar na construgdo de safdas para seus impas- ses, dificuldades e sofrimentos. O tera- peuta & um facilitador dessas conversas, usualmente bem dificeis, que colabora com seu conhecimento e experiéncia, principalmente através de perguntas, para clarear as situagdes, focar nas ques- tes, € no nas acusagées mituas, para diminuir 0 confito aproximando 0 dié- logo construtivo, colaborando para que 0 casal saia do circuito fechado dos proble- Quando a conversa é entre pats, 0 nome adequado seria terapia parental. O casal néo existe mats, dentro do concetto de que quando falamos em casal nos referimos ao conjugal. Esse didlogo é findamental para o desenvolvimento saudével dos filhos mas e caminhe para suas solugdes. A te- rapia acontece com o casal, mas quando ha enorme conflito ou algumas necessi- dades pontuais, cada um dos parceiros pode ser atendido individualmente. “PoDos 0 CASAIS COLECIONAM CONFLITOS, DE VARIAS EspBCIES. NO ENTANTO, ALGUNS ‘CASOS SAO TAO IN XSOS QUE f NECESSA- RIO AUXILIO PROFISSIONAL, NA TENTATIVA DE ENCONTRAR UMA SAIDA PARA OS PRO- BLEMAS DO RELACIONAMENTO. EM SUA OB- SERVACAO, QUANDO UM CASAL PRECISA DE TERAPIA? EM QUE MOMENTO CHEGA-SE A ESSA CONCLUSAO? Cuustina: Pensando de forma preventiva, seria interessante que o casal procurasse ajuda quando identificasse divergéncias importantes e repetitivas, sobre as quais no consegue chegar a bons acordos, 0 que € comum, por exemplo, com a edu- Na avalacdo de Cristina & importante que o casal procure ajuda quando identiicar divergéncias relevanles, como em relacso 4 educacao dos fihos 10. psique cenciatwida cago de filhos. Porém, a predominancia € pela procura profissional, quando hi, depois de varias ¢ desgastantes tenta- tivas, com conflito jé deflagrado, com adoecimentos e aparecimento de graves sintomas em um dos parceiros ou nos filhos. Acredito que temos ainda mui tas dificuldades culturais e sociais para © reconhecimento e procura desse tipo de terapia, sendo mais constante aida de ‘um ou outro para uma terapia individu- al, quando vio, ou o encaminhamento de filhos para tratamento. Isso em ter- mos de classe média para cima. Os ca- sais de mais baixa renda e nivel de for- ‘macio, embora reconhecam e procurem por ajuda, tém quase nenhum acesso a esse tipo de terapia, a terapia alguma, principalmente se moram nas periferias. Quando chegam a ser atendidos, os que tive contato e atendi, aderem com empe- ho € persisténcia a0 processo terapéu- tico, 0 que nos deixa a todos, terapeuta e ccasal, muito gratificados. ALGUNS FSPECIALISTAS AFIRMAM QUE, FREQUENTEMENTE, 08 CASAIS PROCURAM A TERAPIA DE CASAL. EM CLTIMO CASO, DEPOIS DE. CERCA DE SEIS ANOS DE BRIGAS DISCUSSOES, f MEDIA, © QUE PODE SER TARDE DEMAIS, ESSA INFORMACAO PRO- R CEDE E COMO ESSA SITUACAO POD! EVITADA? ‘Cuistina: Parte dessa resposta esta a ‘ma, no que seria uma procura preventi va, antes dos profundos e desgastantes conffitos e estresses. Nao acredito em tempo determinado - alguns conflitos se instalam rapidamente € podem ser tio devastadores quanto os que se arrastam por anos a fio. O conceito de tarde de- mais também € relativo. -wonportalcienciaevda.combe EQ SUA OPINIAO, A TERAPIA DE CASAL DE- VERIA SER A PRIMEIRA OPCSO PARA RESOL- VER OS CONFLITOS, EVITANDO O DESGASTE AO? Cuusriva: Penso que nfo. A primeira op- lo €0 casal desenvolver seus préprios re- cursos, além de somar com seus recursos individuais, ¢ conscg forma com suas. situagdes-problemas. Caso sintam que algumas sio muito di- ficeis ou delicadas, por exemplo, ou que varias se acumulam sem um encaminha- mento satisfatério para os dois, ou um dos dois, af sim a terapia entra como um terceiro titil para conversas construtivas, através dos recursos jé existentes ou cons- tituidos pelo proprio casal. A intengdo caminhar para a autonomia na solugio dos impasses, e nao na direcao da depen- déncia com o terapeuta. DESNECESSARIO DA Ri lidar da melhor (Os RESULTADOS DA TERAMIA DE CASAL DEN- TRO DA RELAGAO PODEM SER DIFERENTES St A TERAPIA FOR SOZINHA (APENAS UM DOs PARCEIROS) OU COM 0 COMPANHEIRO? Chistina: Acredito que sim. Transforma- Gées irdo ocorrer, mas possivelmente de forma desbalanceada, com o parceiro em terapia evoluindo de forma diferenciada. Entretanto, acho melhor que um se trate do que nenhum. (© HOMEM RESISTE MAIS A TERAPIA FAM: LIAR OU 1S80 & MITO? Chistiva: SO posso falar a partir da mi- nha visio e experiéncia, o que é restrito, claro. Nao sei dizer de pesquisas mais amplas e atuais, Vejo que as mulheres procuram mais servigos de satide em ge- ral, 0 que inclui satide mental e emocio- nal. Vejo também que isso est mudando ha cada vez mais homens tomando a iniciativa dessa procura. Interessante que tenho notado uma forte procura mas- culina através da internet, que tem me levado a refletir sobre meios mais con- fortavei digamos assim, dos homens se aproximarem. Mas so apenas minhas impresses. Depois que o casal entra em terapia, nao vejo tanta diferenca de géne- ro nessa “resistencia” swore poraliencinevia.combr Voct ACREDITA QUE OS CONFLITOS EN- TRE OS CASAIS, APESAR DE SEMPRE TEREM EXISTIDO, PASSARAM A SER MAIS CLAROS E DISCUTIDOS NA MEDIDA EM QUE A MU- Xt VEM CONQUISTANDO SEU ESPAGO NA SOCIEDADE, EM RELAGKO AO TRABALHO, AO SEXO E A DEFENDER K RESPEITAR SEUS PROPRIOS DESHJOS? Chistina: Isso parece cla ciedade machista patriarcal, ou em qualquer contexto em que ha opressao, ‘0s conflitos ficam “engolidos” pelo des- nivel de poder, de acesso a discussiio de ideias € a canais de ajuda, por exemplo. numa so- Penso que ainda existe mutto pré-concetto sobre terapia em geral, sobre procura de atendimentos de satide mental, pstcolégica, emocional, Mas numa curva descendente, cada vex menos. Jé trve cliente que disse que estava em reuntao e nao na terapia © avanco dos espacos conquistados pelas mulheres e outros grupos, como LGBTs, ou minorias de varias naturezas, tem permitido, sim, uma troca mais clara de pensamentos e emogGes, 0 que pode levar a debates e confiitos. A TERAPIA DO “CASAL” PODE SER ACONSE- LHAVEL FORA DO CONTEXTO DA RELACAO AMOROSA? POR EXEMPLO, UMA TERAPIA CONJUNTA (PAI E MAE), NO CASO DE DIVOR- lO, PARA QUE 05 PAIS POSSAM LIDAR COM A SEPARACAO E NAO AFETAR OS FILHOS. Fa- ZBR ESSE TRATAMENTO JUNTOS PODE SER MAIS EFETIVO DO QUE SEPARADAMENTE, JA QUE 05 FILHOS SAO UM ASSUNTO COMUM E AMBOS PRECISAM “FALAR A MESMA LINGUA” QUANDO SE FALA EM CRIACAO? ‘Causa: Quando a conversa é entre pais endo mais casal, 0 nome adequado seria terapia parental. O casal ndo existe m dentro do conceito de que quando fala- ‘mos em casal nos reférimos a0 conjugal. Esse dislogo 6 fundamental para o desen- volvimento saudavel dos filhos e do bom exemplo de como, mesmo nao sendo mais casal, a responsabilidade e o afeto paren- tal devem prevalecer sobre quaisquer dife- rencas ou conflitos anteriores. EXISTE CERTO PRECONCHITO EM RELACAO A TERAPIA DE CASAL? OU SEJA, MUITAS PES- SOAS AINDA DIZEM QUE TERAPIA DE CASAL ACABA “FORGANDO A BARRA’, TENTANDO pique cinciagvida 11 PROLONGAR UMA RELACAO QUE 0 FIN? O QUE ACHA DESSA TESE? Cusrina: Penso que ainda existe muito pré-conceito sobre terapia em geral, sobre procura de atendimentos de satide mental, psicol6gica, emocional, mas numa curva descendente, cada vez menos. tive clien- te que disse que estava em reunido € no na terapia, mas € pouco comum comigo. Curioso € que, diferentemente da pergun- ta, 0 que mais ouvi 6 que quem faz tera- pia de casal acaba se separando. Bom, vai acontecer 0 que 0 casal ou um dos parcei- ros decidir, porque no cabe ao terapeu- ta se posicionar a favor disso ou daquilo. PERCEBEMOS TAMBEM ESSE PRECONCEITO NA RELAGAO HoMOarETIva. E COMUM CA- SAIS HOMOSSEXLAIS PROCURAREM POR ESSA TERAPLA? Custis: Cada vez mais comum, mas ainda pouco, no universo que eu conheco, em relacdo aos casais héteros. E ainda ha terapeutas que nfo atendem esse piblico, que dificulta demais a procura. QUAI SAO OS PRINCIPAIS CONFLITOS QUE LEVAM UM CASAL A TERAPIA? (Custina: Essa € uma resposta muito di- ficil. Se enumerar quest6es mais comuns, fico na superficialidade e em generaliza- ‘gBes, que ignoram © contexto e carac- teristicas absolutamente particulares de cada casal, de cada pessoa que forma esse casal. Ficando isso claro, posso falar de situagées que envolvem uma rotina “pe- sada" e desigual, questdes do ciclo vital (nascimento e educagao dos filhos em diferentes idades, por exemplo), questoes financeiras, sexuais, de projeto de vida di- vergentes, para citar alguns. Nada disso, porém, é fator nico, mas aparece como ‘motivo para pedir ajuda. AFALTA DE COMUNICACAO PODE SER APON- TADA COMO O PRINCIPAL PROBLEMA, QUE RODE DES! DES NA RELACAO? COMO FAZER COM QUE A COMUNICAGAO VOLTE A SER EFETIVA, SE A RELACAO ESTA DESGASTADA? ‘Cuusrina: Nem sempre ha falta de comu- NCADEAR OUTRAS. DIFICULDA~ 12 psique cenciatwida E cada vex mats comum casats homossexuats procurarem por essa terapia, mas ainda € pouco, no untverso que eu conheco, em relagao aos casats héteros. E ainda hd terapeutas que nao atendem esse piblico, 0 que dificulta demats a procura nicagdo, mas comunicagdes inadequadas, prejudiciais ao diflogo construtivo que se constitui de varias caracteristicas como escuta atenta, linguagem respeitosa e no violenta, legitimagao do que diz e sente a outra pessoa, tom de voz, escolha de mo- mento e lugar para conversar, entre ou- tras. Comunicar-se de forma positiva para © relacionamento € um de seus alicerces ‘mais importantes ¢ o terapeuta colabora muito para que isso acontega. A TERAPIA DEVE SULTORIO OU POL PARA SEREM DESENVOLVI- DAS DIARIAMENTE? Cuistint: © processo terapéutico € as mudangas esperadas acontecem na vida das pessoas fora do consultério. © aten- dimento é um tempo curtissimo no dia a dia do casal. No entanto, na minha forma de trabalhar, ndo cabe programar, instruir formas de agir. Pensamos juntos sobre quais so atitudes que facilitam a boa con- vivéncia assim como as que dificultam. DISCUTIR A RELAGAO, A HOJE TAO FAMO- sa DR, & UMA MANEIRA TERAPGUTICA DE SOLUCIONAR OS PROBLEMAS DO CASAL OU ‘NAO ADIANTA E ACABA, FREQUENTEMENTE, PIORANDO A SITUACAO? Cuisriva: Muito relativo isso. Dialogar, acredito, € sempre um timo e necessé- rio caminho, mas nao é 0 Gnico. Discutir ‘questdes da vida do casal 0 tempo todo e de forma agressiva nao ajuda. A atitu- de oposta, falta de didlogo, muito menos. Entdo, temos o famoso caminho do meio, ‘© que-como-quando conversar, tinico particular para cada casal e cada pessoa, ‘que pode ser negociado ou aprendido na vida em comum. QUANDO A INSATISFACAO RESIDE APENAS EM UM DOS PARCEIROS EO OUTRO ESTA FELIZ COM 0 RELACIONAMENTO, MESMO ASSIM £ NECESSARIO PROCURAR TERAPIA? INESsE CASO, OS DOIS DEVERAO SER ALVO DE ANALISE DO TERAPEUTA OU SOMENTE QUEM st INPELIZ? Cais: A simples disparidade desse lu- gar de um feliz e outro infeliz j merece atengio cuidadosa e reflexdes dos dois sobre como isso péde acontecer. Como ossivel que um dos parceiros se perceba feliz se 0 outro esta se sentindo infeliz € vice-versa? Para 0 casal, na minha visto terapéutica, € mais adequada e produtiva a terapia conjunta, acompanhada da tera- pia individual de quem nio esta bem. EXISTEM PESSOAS QUE DEBATEM SUA VIDA AMOROSA COM OS AMIGOS E NAO COM O DO CONFORME 0S CONS! ESSA PRATICA PODE Cust Amigos slo preciosos, parte importante da nossa rede social e afetiva de vida, ¢ participam, alguns, de nossa in- timidade. Conversas sto titeis e umas no substituem outras. O casal — e cada um dos dois ~ precisa conversar entre si e ter seus préprios critérios do que lhes € siti, tem significado ou nao, em relacdo ao que ‘ouviram de outras pessoas. Acho que isso € vilido para cada um de nés. A PESSOA QUE NAO SE SEA RELACIONAMENTO E. DE FAZER TERAPIA, MAS 0 PARCEIRO NSO ‘QUER, DEVE INSISTIR OU ESSE NAO £0 ME- 0 1E SATISFEITA NO LIOR CAMIN -wonportalcienciaevda.combe Cusrmia: B bastante comum, na minha experigncia, que uma das pessoas do casal queira mais a terapia do que 0 outro, ou ‘até queira sozinha. Falando por alto, vale insistir numa boa, sem brigar por isso, para que a terapia de casal possa aconte- cer, se ndo ser terapia individual. A CONCLUSAO DE UM PROCESO DE TERAPIA, DE CASAL PODE SER QUE O MELHOR A FAZER CAR A RECONCILIAGAO? Cuistiva: A meu ver néo ha objetivo, principalmente por parte do terapeuta, mas, sim, a procura pelo caminho do didlogo que leve o casal a conduzir sua vida, ea de cada um, da melhor maneira para eles, dentro de suas caracteristicas e contextos de vida. ALGUNS CASAIS, OU BOA PARTE DELES, ACREDITAM QUE O VAR © CASAMENTO. NA RE. APEUTA VAL SAL~ DADE, QUAL (© PAPEL, DO PROFISSIONAL NESSES CASOS? Arf QUE PONTO ELE PODE INTERFERIR NA RELACAO A DOIS? Ciusrina: Nao vejo 0 terapeuta no lugar de quem ativamente interfere, conduz, instrui, intervém diretamente na vida do casal. O terapeuta participa da conversa e, eventualmente, oferece hip6teses, possi- Mesmo num relacionamerto longo, no qual os parceros se corhecam bem, podem ocorter problemas. sétios, dependendo de como 0 casal estrultrou sua vida wore: poralciencaevidacombr Nem sempre hi Jalta de comunicagao, mas comunicacoes inadequadas, prejudiciais ao didlogo construltvo que se constitul de varias caracteristicas como escuta atenta, Jinguagem respeitosa e nao violenta, legitimagiio do que diz e sente a outra pessoa bilidades de atuagio, por exemplo, junta- mente com as colocadas pelo préprio ca- sal, que sabe (mesmo que no reconheca) ‘0 que é melhor para si. O terapeuta, como me vejo, € um facilitador do diflogo do ‘easal, quem ajuda a construir um ambien- te respeitoso, cuidadoso, positive, onde as conversas possam acontecer de forma di- ferente do que tem sido entre eles. UM RELACIONAMENTO LONGO TENDE A APRESENTAR MAIS PROBLEMAS PELO DES- GASTE NATURAL OU, PELO CONTRARIO, O conv RELACAO AO PARCEIRO, O QUE DIMINUL A CHANCE DE OCORREREM DIFICULDADES? Cuisnia: Isto 6 extremamente variivel, que depende de como o casal estruturou © conduziu sua vida juntos, de como duas pessoas diferentes conseguiram lidar com suas diferengas e caminharem juntas em seus projetos comuns¢ individuais, para ci- tarum dosaspectos presentesma vidaa dois. 10 AUMENTA © CONHECIMENTO EM. Exists k UM FORMATO DE TRATAMENTO? Cuustiva: A terapia de casal é uma espe- cializagao. Existem varias abordagens e também as particularidades trazidas por formagées anteriores e caracteristicas pessoais de cada terapeuta. Se o casal ou © terapeuta estio insatisfeitos com o pro- cesso terapéutico, hi, sim, outras possibi- lidades de procura para o atendimento. 1 DIFERENTES ABORDAGENS EM TE- INAS DE CASAL OU DEVE-SE USAR O QUE & A TERAPIA RELACIONAL SISTEMICA EM QUE SITUAQOES E INDICADA? usm: Vou tentar ser breve numa questo bem ampla. A terapia relacional sistémica coloca maior foco nas relagdes, no que acontece entre a(s) pessoa(s), as outras pessoas e ambientes de sua vida, considerando 0 contexto a sua volta, seus recursos ¢ os recursos disponiveis para 0 enfrentamento das situagées trazidas na terapia. E uma atuagdo baseada no didlo- go, na construgio de significados através das conversas conjuntas, em perguntas € reflexdes, na legitimagdo do saber, da competéncia, das particularidades de cada pessoa e/ou situacio, entre outros principios orientadores. Engaja o cliente na busca do melhor caminho para lidar com seus problemas, deslocando o tera- peuta do lugar de quem sabe “mais” para ‘0 de quem sabe “com”. Nao creio que haja uma indicagdo especifica — estamos pron- tos para acolher e acompanhar pessoas em sofrimento e/ou em movimento de busca de uma vida mais feliz. o pique cénciagvida 13 por Michele Miller sofisticada capacidade de O er imi a O buscar justifativas logicas para tudo 0 que acontece da RAZAO O DESASTRE MUNDIAL NO COMBATE A DEPENDENCIA QUIMICA PODE SER CONSIDERADO UM RETRATO DA NOSSA INSISTENCIA EM REDUZIR A IMPORTANCIA DO AFETO COMO AG & DE MUDANCA, COLOCANDO-O A SOMBRA DO INTELE! 14 psique cenciatwida dentro e fora de nés nao é, 20 contrario do que parece, a protagonista das nossas decisdes. A verdade é que as razGes que arquitetamos por vezes com tanta engenhosidade tém pouca influ- éncia sobrea forma como vivemos ~ dos habitos e tarefas que executamos até as pessoas das quais nos aproximamos. A consciéncia nem tem acesso & maior parte do que est sendo proces- sado em nosso cérebro € & ali, nesse universo desconhecido da nossa iden- tidade, que sao feitas as escolhas que moldam a vida. E dali que surgem 0 que chamamos de insights, ali que nas- cem as paixGes, que se forma o senso de conexo e pertencimento e tudo 0 woo portaleiensnerida.combe que consideramos produto da intuigao. Isso explica por que as melhores ideias silo aquelas que dio a impressio de que nos encontraram, chegaram a nés — € nfo o contrario, Nao raramente, a forma como respondemos a situagdes emocionalmente muito significativas causa 0 mesmo estranhamento. Nao nos conhecemos tio bem quanto pensamos e os desafios da con- vivencia social e suas inevitéveis falhas de comunicacao nos enviam constan- tes pistas desse fato. Para que possamos nos entender melhor é preciso redefinir © conceito de “conhecer’, conforme conclui 0 neurocientista David Eagle- ‘man em Incégnito ~ as Vidas Secretas do Cérebro. “O autoconhecimento requer agora entender que 0 vocé consciente 86 ocupa uma salinha na mansio do cérebro e que ele tem pouco controle sobre a realidade que vocé constréi. A invocacdo ‘conhece-te a ti mesmo’ precisa ser considerada de novas ma- neiras’, avalia. A sensacao de ter 0 controle abso- luto dos proprio atos e reagées pode trazer seguranga em alguns momentos, mas ser um peso esmagador em outros, pois vem com carga de responsabilida- de e culpa. Nao apenas somos pouco compreensivos com relacio as proprias fraquezas ou falhas: dificilmente in- terpretamos os comportamentos dos outros como resultado de fatores que ficam fora do campo do intelecto. Como ja verificou 0 neurocientis- ta portugués Antonio Damasio, somos incapazes de tomar qualquer tipo de decisio sem antes consultarmos nosso campo emocional. E_nossas emocdes sdo extremamente suscetiveis aos mais variados fatores, momentaneos ou en- raizados: caréncias plantadas ainda na infiincia, dificuldades, alteragdes hormo- nais, cansago, falta de sono, problemas de satide e todos os tipos de medos in- fluenciam profundamente a forma como agimos, pensamos e nos relacionamos. “Sentimentos, juntamente com as emogées de onde eles surgiram, nio so swore poraliencinevia.combr ARMAR EMBATES CONTRA O INTELECTO, AO SUPERESTIMAR SUA CAPACIDADE DE CONTROLAR O COMPORTAMENTO, EM ALGUMAS CIRCUNSTANCIAS PODE SER MUITO INEFICAZ um luxo supérfluo. Eles servem como guias internos e nos ajudam a comuni- is que também servem de guias elusivos. De forma contréria & opinido cientifica, so t8o cognitivos quanto ou- tras percepgdes”, escreveu Damfsio em seu fantastico O Erro de Descartes. Ao investigar pessoas com danos no sistema limbico, onde as emocdes so geradas, cle perceben nelas uma incapacidade de fazer até as mais sim- ples escolhas. A imparcialidade em qualquer tipo de julgamento, portan- to, é sempre suspeita, e até o mais ra- cional dos seres humanos é refém de suas emogGes, mesmo que escondidas timidamente sob 0 manto da razao. Por isso, armar embates contra o intelecto, a0 superestimar sua capacidade de con- trolar 0 comportamento, em algumas circunstancias pode ser muito ineficaz. Um bom exemplo disso est na di- ficuldade de mudarmos alguns com- portamentos, tendo a raz nos con- vencido de que € 0 que deve ser feito. Nao nos falta o conhecimento de ar- gumentos légicos que suportem a mu- danga, nem quem tente nos influenciar usando racionalidade. Mas a l6gica, apesar de impressionar, € pouco mo- tivadora quando o que se busca é um movimento profundo. Dentro desse de- safio, encontram-se vicios de todos os Ere OnLUT ey Mati Creme Lua ‘Scmes incapazes de formar quaiquer tino de decisao sem antes conautarmes nosso campo emocional. Os meds, por exemple, infuenctarn profundarnente a forma como agimos. dersamnos e nos relacionarnas PARA. -XERCER UMA ACAO TRANSFORMADORA NA VIDA DE ALGUEM E PRECISO BUSCAR CONEXAO AFETIVA ANTES DE OFERECER Q) JALQUER SOLUCAO BASEADA NA RAZAO. ISSO SE CONSTROI PELA FORMA COMO NOS COMUNICAMOS tipos ~ das condenadas dependéncias quimicas as inevitiveis e mais aceitas dependéncias emocionais. Seja qual for a forma que assumem, elas surgem da mesma necessidade, que é a busca por vinculos. Portanto, se o comporta- mento nasce e reside na via emocional, €somente por meio dessa via que pode ser alterado. Para exercer uma agdo transforma- dora na vida de alguém é preciso buscar conexio afetiva antes de oferecer qual- quer solucio baseada na razio. Isso se constr6i pela forma como nos comuni- camos. Uma comunicagio eficaz atinge positivamente 0 campo emocional em um nivel subconsciente ~ algo muito mais poderoso que a supervalorizada comunicagio verbal. O amor e a em- patia nfo se transmitem apenas com palavras. Blas t@m seu papel e podem 16 psique enciagvida assegur-los, mas pertencem ao univer- so limitado e questionavel da razio. O desastre mundial no combate & dependéncia quimica pode ser consi- derado um retrato da nossa insistén- cia em reduzir a importancia do afeto como agente de mudanga, colocando- -0 & sombra do intelecto. Lutamos usando palavras castigos como ar- mas e, quando 0 método falha, promo- vemos 0 isolamento dos desobedien- tes. E 0 vinculo com as drogas, na falta de outros significativos, torna-se ainda mais necessério. Acs poucos, a discussio sobre 0 que © vicio de fato representa esti se distan- Michele Miller ¢ especiasta em Newrocincias ¢ Newopsicologia a Educacto, Pesquisa e cra ferrementas para o desenvolvimento da Inguagem€ autora do blog wwwleitursesentdo blogspot.com ciando do preconceito e oferecendo so- lugdes mais humanas e eficazes. O caso de Portugal € um exemplo disso: diante da evidente ineficiéncia dos tratamen- tos tradicionais, que partem de um jul- gamento moral, 0 pais tomou a inédita iniciativa de descriminalizar 0 uso de todas as drogas. A questio passou a ser tratada como um problema emocional € de satide. A penalizacdo foi conver- tida para a agdes motivadoras, com a atuagdo, em casos mais graves, de pro- fissionais da saiide mental e assistentes sociais. Quinze anos depois, podemos dizer que o resultado foi um sucesso. Os indices de reincidéncia uso conti- nuo de drogas cairam de forma inédita € 05 casos de morte por overdose foram reduzidos drasticamente. No Brasil, a conquista recente no tratamento da dependéncia foi a libe- ragdo, pela Anvisa, da importagio e uso da Ibogaina, uma substancia psico- délica retirada da raiz de uma espécie de arbusto afticano, Até hoje ndo se encontrou forma mais eficaz de livrar alguém de algum vicio. Enquanto cen- tros de recuperacto aleangam éxito proximo do zero no abandono defini- tivo as drogas, o uso da planta oferece, em uma Ginica sessdo, uma taxa de 70% de chance de recuperagio. A substin- cia promove alteragdes quimicas no cérebro favordveis 2 mudanga, mas seu grande éxito est em manter o paciente livre do vieio ~ 0 que pode ser explica- do por sua profunda aco psicolégica A droga permite 0 acesso a mem6- rias € a todas as emogdes encobertas pela capa impermeavel da lucidez. Atua no nivel em que as verdadeiras transformagdes ocorrem, como uma sesso intensiva da mais eficaz. das te- rapias ~ aquela que age onde a logica no chega e promove percepgdes que no cabem em palavras. ea woo portaleiensnerida.combe MOMENTO DO NO DIRECTION HOME BOB DYLAN A mais completa biografia do artista Centenas de livros foram publicados sobre Bob Dylan, mas este é 0 unico escrito com a cooperagio do biografado. Robert Shelton teve acesso exclusivo aos familiares e migos bem proximos de Dylan, algo que nenhum NO DIRECTION HOME A VIDA E A MUSICA DE Livro: No direction home - A vida e a miisica de Bob Dylan Numero de paginas: 788 Editora: Lafonte outro jornalista conseguiu. Finalmente, depois de 20 anos de muita pesquisa, No Direction Home foi publicado pela primeira vez em 1986 € aclamado como biografia essencial desse gé- nio de temperamento dificil, mas apaixonante. A editora Lafonte relanga essa biografia num momento em que Bob Dylan ganha o Prémio Nobel de Literatura 2016, “por ter criado uma nova expresso poética dentro da cangio”, grande tradigio norte-americana segundo a secretaria permanente da Academia Sueca, responsavel pela premiagio do Nobel, Sara Danius. Se a Academia surpreendeu a0 conceder 0 Prémio Nobel a um compositor, aqueles que conhecem a sbra de Dylan sabem © quanto de poesia ¢ literatura ela carrega. “O reconhecimento do Nobel 4 sua miisica, entendida como um organismo vivo no qual as letras sio 0 corpo sobre 0 qual se apoia 0 resto, € portanto algo hist6rico”, escreveu Fer- nando Navarro, no Ed Paés. Desfrute desta biografia. “Ki, ew recusei todos os pedidos. E estou the dando todo 0 apoio. Eu estou confiando em vocé para trilhar este ca- minho comigo.” Bob Dylan A venda nas livrarias (1\i Saraiva Veja outras informacées no site: www.editoralafonte.com.br psicopositiva -MORRER PODE PARECER ESTRANHO, eo, z é MAS VIVER ALHEIO DE SI MESMO ento ele, desesperado com © rumo que as coisas ha- viam tomado, avangou so- bre a mulher, desferindo-lhe repetidos golpes de faca que, seg damente, reafirmavam a dimensao de seu fracasso: como homem, como marido, como pai daquela linda fa- milia congelada nas lembrangas das midias sociais. Seria preciso apagar o s de sua existéncia, ja que nio seria capaz de conviver com seu peso acusatério. No derradeiro controle da realidade que o cer 18 psique denciatvida _ TAMBEM E UMA FORMA DE MORRER joga os dois filhos do 18° andar, ati- rando-se, em seguida, rumo ao final de seu sofrimento. No apartamento, a carta deixada sobre um mével qualquer enumera “justificativas” para o ato. Todas elas girando em torno de um fracas- so profissional, uma cartada arris- cada para ganhar mais (¢, € claro, assumida apenas pelo “bem da fa- milia") € um contrato mal acordado que Ihe trazia revés financeiro. A despeito do tom de folhetim, a cena acima descreve um fato real xe por Lilian Graziano ocorrido no Rio de Janeiro ha pou- cos meses. A imprensa, como nao poderia deixar de ser, recorre a especialis- tas para explicar o fato. Alguns sto comedidos ao fazé-lo, Em sintese, afirmam que nao é possivel que se faga nenhuma andlise confiavel sem que se conhecam os envolvidos. Ja outros, deslumbrados com seus mi- nutos de fama, desferem um sem- -niimero de asneiras que giram em torno de valores materialistas, pres- ses da sociedade de consumo € woo portaleiensnerida.combe SOMOS LEVADOS A CRE R NO SUCESSO. COMO SENDO O RESULTADO DE ALGO. UMA ESPECIE ~ DE POTE DE OURO NO FIM DO ARCO-IRIS. MAS O VERDADEIRO SUCESSO E PROCESSO coisas do género. De fato, s6 existe a tragédia: onista que uma razao que justif a doenga de seu prota no enxergou nenhuma_alternati- va, nenhum outro recurso, sendo 0 escolhido, para lidar com seus pro: blemas. © que jamais saberemos ~ que para tanto pr ‘amos conhe- cé-lo profundamente - sao as razdes que o levaram ao desenvolvimento de sua doenca, Contudo, uma coisa parece certa: dentro da sua confusio mei © suicida parece realmente acreditar que seu ato se justificaria pelas 4 carta derradei s que descreve em sua (0 estamos aqui dis- sas do homicidio/sui- Isso posto cutindo as e: cidio, mas talvez possamos analisar a justificativa deixada pelo suicida, essa sim talvez um retrato de uma sociedade doente e com individuos alheios a si mesmos. Desde que nascemos somos edu cados para atingir 0 sucesso. Nos. sos pais, zelosos, empenham-se para isso logo nos nossos primeiros anos de vida, a0 nos escolherem a melhor escola possivel, o curso de inglés, 0 reforgo de matemitica, os sermdes sobre a importancia dos estudos. Mas, afinal de contas, 0 que signi fica o sucesso? Seria o resultado de um trabalho constante? De dedica ¢do a um objetivo? Muitos dir que sim e 6 justamente ai que se en. contra o problema Somos levados a crer no sucesso como sendo o resultado de algo. Uma espécie de pote de ouro no fim do arco-iris. Mas 0 verdadeiro sucesso € processo. Parafraseando Guimaraes, eu diria que “ele se dispée pra gente € no meio da travessia” A crenga no sucesso (¢ mo na felicidade) como resultado de algo facilmente leva o crente a associi-lo a simples conquista de metas ¢ objetivos, o que traz em si algumas implicagdes. A prin delas € simples: ndo ha garantias de que possamos atingi-los. Muitas coisas podem acontecer no meio do caminho ¢ uma delas - talvez a mais dramitica de todas ~ seria uma vida inteira vivida com sentimento de fracasso ¢ infelicidade por algo que ndo se conquistou: “Pobrezinho, morreu de enfarte a um més da tio sonhada aposentadoria!” A outra implicagdo da crenga no sucesso como resultado do cumpri mento de metas € a necessidade de nos perguntarmos se nossas metas so dignas de nés. Se retratam quem somos, nossos valores m nossa verdade mais profunda. Ai sim s intimos, entra o perigo de construirmos uma vida nao simplesmente buscando o sucesso como a conquista de algo, mas de um algo estéril, destituido de n6s mesmos. Nesses casos, talvez 0 suicidio represente o fim de alguma coisa que ha muito havia morrido. Lian Graziano ¢ psicdloga e doutora em Psicologia pela USP. com curso de extens3o em Virtudes e Forcas Pessoa peo VIA stitute Universitaria e dretora do hstituto de Ps aracter, BUA E professora joga Postiva e Comportamento, ‘onde oferece atencimento clnico, consuitoris erpresara e cursos na sea srazeno@psicoboglspostivacembr FRIEDRICH NIETZSGHE ENTRE 0 PASSADO E O FUTURO UM CONVITE PARA Coola tas. 1b) 3:3 MELHOR ESSE PENSADOR, QUE APONTAVA AS CONVICCOES COMO O GRANDE INIMIGO DA VERDADE. een etc Rg eran (ere 0) mbora muito bem-intenciona- dos, percebo que alguns pais agem de modo a criar obs- téculos para que os filhos se tornem alunos brilhantes, auténomos, motivados e bem-sucedidos. Empeci- Ihos s4o criados mesmo por excesso de zelo, de protecdo e outros por simples ingenuidade, a que todos nés estamos sujeitos quando somos jovens 20 psique cignciatvida Algumas orientag6es podem ajudar ‘a. quem deseja ter um filho que, mesmo ndo sendo (pois nfo precisa mesmo set) 0 primeiro da classe, teri tudo para se dar muito bem na vida acadé- mica e mais tarde na vida profissional. Imagine que ao invés de seus fami- liares lhe perguntarem como vocé vai, Ihe perguntassem sempre sobre seu saldo bancario, seu salério, suas pro- da classe TODOS OS PAIS DESEJAM QUE SEUS FILHOS SE SOBRESSAIAM NOS ESTUDOS, POIS A CULTURA EO PREPARO ACADEMICO SAO UMA ESPECIE DE GARANTIA DE UM FUTURO por Maria Irene Maluf MAIS TRANQUILO mogées no emprego... como vocé se sentiria? Da mesma forma se sentem as criangas cujos pais as pressionam diariamente com perguntas do tipo “que nota vocé tirou hoje?” ao invés de se importarem em saber como foi © seu dia na escola, se aprendeu coi- sas novas, se foi divertido estar com 0s amigos. O aspecto humano nunca pode perder espago para a produgio! woo portaleiensnerida.combe Fazer as ligdes junto com o fitho: a principio, toda crianga precisa de al- guma ajuda, até para se organizar e compreender 0 que € exigido dela. Mas fazer pela crianga, seja 0 que for, € contraindicado, pois, além de Ihe dar a impressdo de que ela sofre de alguma incapacidade, cria depen- déncia. © correto € 0 pai ou a mae checar se as tarefas foram feitas com esmero, ouvir as dividas e orientar, quando possivel. Mas as dificuldades devem ser encaminhadas aos profes- sores. Ligdo de casa é um importan- te momento de aprendizagem para a crianga desenvolver a sua cognic¢ao ¢ metacogni¢4o. Outro problema é per- mitir que tarefas sejam feitas as pres- sas, As vezes no carro, outras na porta da escola, com 0 adulto ditando as respostas: a ligdo no é uma provagaol Além disso, criar responsabilidade é uma conquista gradativa e, na pratica, nunca se desenvolve quando outras pessoas fazem por nos. Resolver os problemas dos filhos para poupé-las: se desde pequenos os filhos se habituam que tudo sera provido e resolvido pelos pais ou adultos de modo geral, eles dificilmente apren- derdo a planejar, se organizar, prever necessidades futuras, suprir faltas. Se tornario jovens frageis, imaturos, de- pendentes e frustrados. Aprenderao 2 postergar suas responsabilidades & espera de alguém que os venha so- correr de Gltima hora. Infelizmente ha familiares que chegam ao cimulo de tentar justificar comportamen- tos de desleixo e desinteresse dos filhos com atestados de transtornos de aprendizagem para que possam usufruir de beneficios desnecessa- rios. Um exemplo que constitui uma verdadeira temeridade e que deve ser combatido. Na vida profissional como sera que esses pais pensam em proteger os filhos? Qual desafio te- ro capacidade de enfrentar, se mes- ‘mo os pequenos problemas nao tive- rem sido resolvidos? wore: poralciencaevidacombr A PRINCIPIO, TODA CRIANCA PRECISA DE ALGUMA AJUDA, ATE PARA SE ORGANIZAR E COMPREENDER O QUE E EXIGIDO DELA. MAS O ASPECTO HUMANO NUNCA PODE PERDER ESPACO PARA A PRODUCAO Premiar boas notas: se 0 prémio for um abrago, um carinho, uma come- moragio familiar, tudo bem. Mas tro- car notas por bens materiais desvirtua a educaco € aumenta o sentimento de frustragio naquela crianga que, embora se esforce, no consegue ser bem-sucedida. Notas se conquistam, ndo se compram: nio tém preco, tém valor. Valor correspondente ao empe- nho de cada um. Por isso, 0 que vale ndo € 0 “10”, mas a superagdo gradati- va em relacio a si mesmo. Estudo e prazer: todo mundo sabe que antes de entrar na educagao for- mal as criangas adoram os livros. Todas parecem que serdo leitoras vorazes, mas bastou entrar no ensi- no formal e uma boa parte parece que perde o prazer de ler. Quando se impoe gradativamente a obrigagio, a crianga bem-educada compreende que est crescendo e suas responsabilida- des também e que mesmo que prefi- ra naquele momento estar brincando, € necessdrio ler um livro ou estudar. A obrigagao deve vir primeiro, antes das brincadeiras. A superprotecdo dos pais que nao dio as devidas responsa- bilidades aos filhos cria criangas que lo querem ler, ndo querem fazer li- fo, ndo querem enfrentar nada que os desaponte, desafie ou desagrade. Gra- dativamente vdo se afastando do ren- dimento escolar médio de sua classe. Surgem problemas de aprendizagem, perfeitamente evitiveis! O respeito pela escola: 6 ainstituigao socialmente destinada as criancas com varias metodologias, justamente para que as familias busquem e esco- Iham aquela que mais se aproxima da linha educativa que oferece em casa. Saber identificar ¢ respeitar os pontos em que familia e escola nfo concor- dam € primordial para a manutengio do aluno nesse ambiente e até como licdo de vida: afinal, nenhum lugar, nem mesmo a familia, & perfeito! Sempre h4 um ponto de discordan- cia, que desagrada e exige paciéncia e compreensio. Falar mal da escola ou dos professores entdo é inimagindvel, {fa que esses profissionais representam 0s pais dentro da escola, a qual em Gl- tima anilise foi selecionada pela fami- lia para seus filhos. Oassunto obviamente nfo se esgo- ta por aqui, mas tudo que se refere a respeito humano, afetividade, estimu- lo intelectual, dignidade, valores faz muito bem e € bom para o futuro das criangas. A dedicacao ao filho nao é apenas cuidar fisicamente dele, pagar boas escolas, oferecer férias e brinque- dos, fazer-the as vontades, mas the dar estimulo e oportunidade de crescer de modo auténomo, responsivel, dentro de normas socialmente aceitas, para que se desenvolva a partir de suas ca- racteristicas pessoais ¢ assim atinja o seu melhor, tanto pessoal como social ¢ profissionalmente. ea Maria rene Malif ¢ especiasta em Psicopedagogia, Educacto Especial Neuroaprencizagem Foi presidente nacional da Associacao Brasiera de Psicopedagogia - ABPp (gestdo 2005/07) € editora da revista Pscopedagogia da ABE» @ autora de artigos em publicagbes nacional eIntemacionals, Coordena curso de especialzaco em Neuroaprendizagem. renemaluf{@uolcombe sigue cinciagvida 21 sexualidade Por Giancarlo Spizzirri MARCAS INDELEVEIS AS CONSEQUENCIAS QUE O ABUSO SEXUAL NA INFANCIA E NA ADOLESCENCIA DESENCADEIAM AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO TEM SIDO TEMA DE DIVERSOS ESTUDOS 8 transtornos psiquistricos na idade adulta, relaciona- dos a eventos traumaticos com cunho sexual sofri- dos na infancia e na adolescéncia, podem ter influéncia de diversos as- pectos, entre eles: idade do inicio do abuso, sua duragao (por exemplo: epi- s6dio isolado ou miltiplos ~ ao longo do tempo), ameaga ou gravidade da violéncia (em alguns casos, com ris- co de vida), grau de relacionamento da vitima com 0 agressor, diferenca de idade entre a crianga e o perpe- trador. A futura adaptagao social das vitimas varia de individuo para indi- viduo, conforme o tipo de violencia softida, auséncia de figuras parentais protetoras e da capacidade de reagao individual diante de circunstancias que geram sofrimento. © abuso sexual ocorrido na in- fancia tem sido considerado como um fator de risco para ideagées e/ou tentativas de suicidio; e também apre- senta uma relagdo estreita com outros transtornos psiquistricos, como a de- pressiio, o estresse pés-traumitico ea dependéncia quimica (uso de drogas). Além dos mencionados anteriormente, ha relacao do abuso sexual na infancia com disfungdes sexuais, transtornos de ansiedade e perturbacdes do sono. As sequelas emocionais comu- mente relatadas compreendem: senti- 22 psique cgneiatvida mentos de baixa autoestima, dificul- dades de dizer nao, culpa, sensacdo de descontentamento e/ou raiva com © préprio corpo, impressio de estar “sujo”, em alguns casos, surgem pen- samentos obsessivos, como lavar-se constantemente; além disso, € fre- quente a dificuldade no estabeleci- mento de relagdes de confianga com outros individuos adultos. Também esto descritas dificuldades no de- senvolvimento emocional em adul- tos que vivenciaram abuso sexual na infancia, e, por consequéncia, na sua maturidade comportamental. Varios individuos adultos referem problemas em dar e receber afeto, alegrarem-se em ocasides habituais da vida, além de apresentarem desin- teresse por atividades recreativas e que propiciem satisfagao. O ABUSO SEXUAL OCORRIDO NA INFANCIA E CONSIDERADO UM FATOR DE RISCO PARA IDEACOES E/OU TENTATIVAS DE SUICIDIO Outro aspecto que merece con- sideracdo € 0 risco para doengas se- xualmente transmissiveis, associado a0 fato da imaturidade fisica; ou seja, pelos 6rgao genitais no estarem com- pletamente desenvolvidos, as chances de contaminagio aumentam. Alguns paises tém dados da relagao entre abu- so sexual ¢ contaminagao pelo virus da Aids, como exemplo quase 5% das criancas infectadas na Nigéria foram contaminadas em circunstancias que envolviam abuso sexual. No Brasil, os dados epidemiolégicos sobre essa rela- ‘¢20 silo escassos, apesar dos esforcos ‘empreendidos pelas autoridades nessa averiguacio. Por sua vez, para outra doenga sexualmente transmissivel, © condiloma acuminado, verifica-se que a principal via de transmissio em criangas € em decorréncia de abuso sexual; além dessa, 0 papiloma virus (HPV) tem como meio de transmissio relevante essa conjuntura. Hii situagdes nas quais 0 prove- dor da familia (geralmente 0 pai ou padrasto) € 0 perpetrador, e muitas familias podem ficar vulnerdveis na dimensdo econdmica com a possi- bilidade de se retirar essa pessoa do convivio familiar (na0 € incomum o acobertamento da situagao de abuso sexual por parte dos familiares pré- ximos crianca). Muito embora nao seja a melhor alternativa, hd circuns- -wonportalcienciaevda.combe sauna ewe ENO A, tancias nas quais é recomendavel que a crianga seja encaminhada para um local fora do ambiente familiar, como parentes préximos, casas de apoio ins- titucionais, ou uma familia adotiva; situagdes essas que implicardo numa ruptura ¢ rearranjo familiar, e sem di vida sdo casos que merecem assesso- kento profissional especializado. Além do que foi considerado, esti descrito que hi relacdo entre um indi viduo — na grande maioria das vezes swore poraliencinevia.combr do género masculino — ter sido abu- sado sexualmente durante a infancia ¢ ele mesmo ser um possivel abusador no futuro, entretanto mais estudos sao necessrios para identificar as variiveis que compéem essa associat tanto, cada crianga reagiré de forma jo. No en- ferenciada ao abuso sexual. Estudos que contemplem res sexuais que nao tenham vivenciado essa situagdo durante a infincia pode- Hlo contribuir para 0 melhor esclare- luos abusado- Giancarlo Spizzir¢ psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (Pq) da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em Sexualdas ‘Sexualidade Humana da USP. ProSex) do Pq e professor do curso de espe Violencia em EFEIZ©@ DOMING Crimes violentos e de grande repercussdo na midia, segundo uma linha de pensamento chamada ‘teoria da modelagem’, podem desencadear outros, servindo de modelo comportamental e Provocando o fenédmeno copycat Por Carla Daniela P. Rodrigues iscute-se, ha tempos, nas diferentes éreas da humani- dade, como Antropologia, Sociologia e Psicologia, 0 poder de influéncia que a midia pode exercer sobre a sociedade, Entende-se aqui, por midia, todos os canais de transmissio de informagées, por meio impresso, eletrénico ou digital. O termo, hoje, é amplamente utilizado como si- nénimo para meios de comunicagio em massa. ‘A midia foi, 20s poucos, se desenvolvendo e crescendo em seu im- portante papel de informar a sociedade, embora, muitas vezes, venha a tornar-se também “formadora” de opinides e ideologias, ¢ a influéncia gerada por ela, hoje, atinge patamares altissimos. Moda, expresses, esti- los de vida, looks sio apenas alguns dos varios exemplos que demonstram ‘© quanto nossos comportamentos podem ser moldados ou modelados see COMPORTAMENTO NO UNIVERSO INFANTIL eae que a TV ocupa no cotidiano infantil ainda € polemica e tema de muitas discussdes. Alguns estudiosos continuam afirmando que a televisso permanece sendo a baba eletronica preferida pelos pais. E muito importante que es8es pais conhecam a funddo 0 contetido dos desenhos que seus filhos assistem, ois € comprovado cientficamente que eles podem influenciar 0 comportamento infantil. Criancas imitam a violencia dos desenhos, cujos contetdos podem transmitir a mensagem, mesmo subliminar, de que a violéncia ¢ aceitavel, normal @ até divertida. Sabe-se que criancas copiam o que veem e, até certa idade, possuem dificuldades para diferenciar a fantasia da realidade, necessitando de corientacao e diregdo nesse sentido. Sendo assim, desenhos, filmes e jogos infantis precisam passer pelo crivo dos pais, para que ndo comprometam significativamente 0 desenvolvimento emocional e social de seus fihos por influéncia de artistas, novelas, propagandas ¢ até mesmo por jorna- listas que estio inseridos nesse con- texto como formadores de opinides. Importantissimo meio para pro- por reflexdes, a midia pode se trans- figurar como um canal de grandes mudangas sociais. Campanhas de doagio de sangue, de incentivo a sus- tentabilidade, campanhas pela paz sio exemplos positivos que ganham proporsées enormes gracas a midia! Muitos assuntos polémicos e até considerados tabus por anos foram ¢ estio sendo retratados em novelas, que alcangam a grande massa da popula- io, provocando reflexdes e mudangas, como, por exemplo, na novela Lagos de Familia, em que se discutiram aleucemia € 0 transplante de medula; em Paginas da Vida, em que a sindrome de Down foi amplamente exposta; ou em Caminho das Indias, em que a esquizofrenia foi um dos importantes temas abordados. ‘A midia sindnimo de meios de comunicagdo de massa, assume papel importante na influéncia ‘exercida sobre 2 sociedade, tanto para o bem quanto para o mal 26 psique cienciatvida O comportamento imitado serviria como inicio para um processo mais amplo e complexo. Nesse contexto, a midia, em suas diversas vertentes, assim como a literatura, funcionaria como um manancial de situagdes que Poderiam ser imitadas Por outro lado, © incentivo a0 consumismo, principalmente ape- lando para o piblico infantil, e os padroes de beleza impostos pela cul- tura da vaidade e do corpo sio exem: plos negativos de como as pessoas podem ser manipuladas pelos meios de comunicagio. Uma das bases tedricas que tenta explicar esse comportamento social tao influenciavel € a teoria da apren- dizagem social, também chamada de “teoria da modelagem’, que sustenta a ideia segundo a qual os individuos podem aprender comportamentos sociais de maneira informal, através da observacio daquilo ou daquele que pode ser chamado de “modelo”, que geraria, nesse sentido, comporta- mentos modelados. A teoria da modelagem tem como um de seus precursores 0 psicélogo Albert Bandura, que, em seus estudos, demonstrou que as tendéncias violen- tas podem ser aprendidas desde cedo pelas criangas ao observarem outras pessoas praticando atos violentos, ou woo portaleiensnerida.combe mesmo pela midia, através de filmes, desenhos e outros canais. O autor estudou bastante 0 comportamen- to agressivo em criangas ¢ descobriu que as que sao expostas a situagdes de agressividade nio sé apresentam um comportamento imitative dessa agressividade como também outros tipos de agressividade, nao vistos no “modelo”. Assim, 0 comportamento imitado, segundo a teoria, serviria como inicio para um processo mais amplo e complexo. Nesse contexto, a midia, em suas diversas vertentes, assim como a literatura, funcionaria como um manancial de situagdes que poderiam ser imitadas. Da mesma forma como bons mo- delos podem ser copiados, um mau comportamento também pode servir de referéncia 2 quem nao tem uma boa e equilibrada estrutura psiquica. Sendo assim, e seguindo essa linha de pensamento, crimes violentos de grande repercussio na midia po- deriam desencadear outros, servindo de modelagem comportamental e gerando o que a literatura crimino- logica chama de fendmeno copycat. A expressio em inglés é formada Por prevencée, 0 meio polcsl evita divulga as estatistcas de succios swore poraliencinevia.combr Moca, express6es e estios de vida sdo alguns exenplos que demonstram o quanto 0 comportamento, ode ser moidado por influéncia de artistas, novelas e propagandas Da mesma forma como bons modelos podem ser copiados, um mau comportamento, como um crime, por exemplo, também pode servir de referéncia a quem nao tem uma boa e equilibrada estrutura psiquica pela jungao das palavras copy, que quer dizer “copiar’, e cat, que signi- fica “gato”. Ela esta relacionada, ori- ginalmente, ao que acontece com os filhotes de gatos, que, juntos, tentam imitar o comportamento da mae. Ela tem sido largamente aponta- da cada vez que, apés a ocorréncia e divulgagao de um crime, outro seme- Ihante 20 anterior é praticado, carac- terizando 0 processo de modelagem. Dessa forma, a midia teria, de certa maneira, responsabilidade sobre es- sas ocorréncias, uma vez que 0 sensa- cionalismo ou a cobertura exagerada de um crime poderiam promover a ocorréncia de outro. Crimes violen- tos, homicfdios em massa, massacres, suicidios estariam entre os maio- res copycats. Estes dltimos, chama- dos também de suicidios em cluster, estariam atrelados, geralmente, & * Expectativa da autoeficacia * ‘Alem ce ser urn dos precursores da teoria d3 modelagem. © psicdlogo canadense Albert Barxiure dedicou esforgos no sentido de Cconstruirigacdes entre a teoris do apren- izado tradicional e 3s teotias da persora= lidade cogntiva por meio do seu conceito de “expectativa da autoeticéca’ Ele tamer trabalhou pare conectar a Psicologia Clinica abordagens emprricamente orientacs para © conhecimento da personalidace. 30 3sso~ Cia aPsicologie cognitiva com principos do behaviorismo, com 0 infuto de pesquisar 2 relacao entre as expectativas das pessoas © seus corrpottamentes. pique cenciasvda 2 see COMPORTAMENTO No meio policial € tao relevante o fenédmeno copycat que algumas cidades chegam a vedar a publicacao em jornais, ou de qualquer outra forma de chegar ao puiblico, das estatisticas de suicidios. Na maioria das vezes eles nem chegam a ser noticiados imitacio de suicidios de pessoas fa- mosas. Em 1994, quando 0 musico Kurt Cobain, da banda Nirvana, co- meteu suicidio, outros ocorreram se- guidamente ao fato. Algumas letras de misicas ¢ até a literatura estdo relacionadas esse fenémeno também. Um exemple foi © que ocorreu com 0 romance, até hoje referéncia no meio literdrio, Os Sofrimentos do Jovem Werther, do renomado escritor Johann Wol- fgang von Goethe, que o escreveu em 1774. Na histéria, o personagem principal, Werther, apaixona-se por uma jovem prometida a outro. De: ludido com a situagio, o protagonis- ta comete suicidio, descrevendo-o em detalhes. Como uma epidemia, nos anos subsequentes 4 publicagio do livro, em toda a Europa varios jovens cometeram suicidio, muitos deles reproduzindo a mesma cena descrita, com 0 livro aberto sobre a mesa. O romance chegou a ser proi- bido em diversos paises, como Ita- lia, Alemanha ¢ Dinamarca, O fato 28 psique cignciatvida ‘A midia é um importante meio para propor reflexes e provocer mudancas sodiais. corno em. ccarnpanas de doa¢ao Ge sangue, de incentivo 3 sustentabildace e pela paz ficou tao conhecido que a expressio “efeito Werther” comegou a ser utili- zada em situagées de imitagio. Epidemia tragica D urante os anos de 2007 a 2009, 0 pequeno condado de Bridgend, com 130 mil habitantes, no Pais de Gales, Reino Unido, vivenciou uma tragica epidemia de suicidios de jo- vens amigos. No total, foram mais de 25 mortes, sendo que, s6 no decorrer de um ano, 17 jovens cometeram sui- cidio, uma um. oe Em 129 quando o idole e musco Kurt Coban, vocalsta ds bands Nrvane. cometeu suciio, howe ‘ites cutras coorencias serehantes na sequéncia Os pais de adolescentes e jovens estavam desesperados ¢ comegaram a criticar a midia, na cobertura das mortes, dizendo que os casos po- diam estar sendo desencadeados por influéncia da exagerada exposicio dos casos. Um estudo realizado pela Uni- versidade de Colimbia, nos EUA, pelo Departamento de Epidemiolo- gia revelou uma forte relagao entre as publicagdes impressas, em redes sociais, em canais de televisio sobre suicidio e novos casos. Uma nova polémica em relagio a isso ganhou grandes proporgoes com a morte do ator Robin Willia- ms, em 2014. Na época, a Academia, responsivel pelo prémio Oscar, re solveu publicar uma homenagem a0 ator, colocando a foto do Génio da Limpada, personagem dublado por ele no filme Aladim, da Disney, junto com a seguinte frase: “Génio, agora voce esté livre”, O site do laboratério de pesquisas sobre comportamento suicida, da Universidade de Glas- gow, publicou imediatamente um texto de adverténcia, dizendo que tais palavras poderiam influenciar diretamente pessoas com tendén- cias suicidas, em relagio & utilizagio da palavra “livre”, que poderia ser woo portaleiensnerida.combe interpretada como o término de pro- blemas e sofrimentos encarados por alguém nessa situagao de vulnerabi- lidade em relagio ao suicidio. No meio policial é tao relevante © fenémeno copycat que algumas ci- dades chegam a vedar a publicacao em jornais ou de qualquer outra for- ma de chegada ao piblico, das esta tisticas de suicidios. Na maioria das vezes eles nem chegam a ser noticia dos, por medidas de prevengio. pesquisador Loren Coleman, dos Estados Unido: livro intitulado The Copycat Effect ~ How the Media and Popular Culture Trigger the Mayhem in Tomorrow's Headlines (sem titulo em portugués), citando alguns casos de massacres escreveu_ um cocorridos no pais, que poderiam ter sido influenciados por outros seme- Ihantes noticiados pela midia. O autor estudou por anos 0 comportamento suicida e homicida a partir do sensa- cionalismo nos casos policiais e chega a dizer, em seu livro, que seria como seas informages, personagens e fatos de um crime passassem a tomar conta do inconsciente de pessoas propensas a praticar tais crimes, até que elas re- almente concretizem essas ideias. md tives swore poraliencinevia.combr Massacre Hight School, em que dois estudantes a escola onde estudavam. Durante 0 bombas e explosivos, os dois jovens feriram mais 21 estudantes, além de PARA SABER MAIS INFLUENCIA NO COMPORTAMENTO HUMANO ateus da Costa Meira, estudante de Medicina de uma renomada universidade de Sio Paulo, protagonizou, em 1999, até entdo, um dos crimes inéditos no Brasil. o assassinato em massa, Mateus matou trés pessoas. feriu quatro e colocou em risco @ vida de mais 15 pessoas, na sala de exibic3o de um cinema, em um shopping center, na cidade de So Paulo. Mateus entrou na sala como espectador, sentou-se na primeita fla e assistiu as primeiras cenas do filme Clube da Luta Em determinado momento, levantou-se, foi a0 banheiro e tirou da mochila uma metralhadora, com a qual disparou contra o espelho, como se quisesse atingir sua imager. Depois voltou a sala de exibicao, virou-se para a platela, de costas para a tela e comecou a atirar, atingindo algumas pessoas. Mateus foi condenado a 120 anos de prisio, e os argumentos utilzados em sua defesa eram de que o jover estaria sendo influenciado psicologicamente por um game. que trazia, em seu conteudo, uma cena semelhante, de um tiroteio dentro de um cinema, Ainda hd muitas controversias sobre 0 assunto, mas muitos estudos em Psiquiatria, Psicologia e Pedagogia defendem a ideia de que os games e filmes violentos podem afetar mentes perturbadas psicologicamente, provocando uma mudanca de comportamento e até mesmo o fendmeno copycat O pesquisador americano Loren Coleman escreveu livro baseado em seus estudos de anos em que cita casos de massacres que Poderiam ter sido influenciados Por outros noticiados pela midia reverberando a teoria da modelagem m 1999, uma noticia estarreceu 0 mundo: o massacre de Columbine planejaram e executaram um ataque massacre, que envolveu uso de armas, mataram 12 alunos, um professor cometerem suicidio. As causas e mo- tivagdes para o crime, que vinha sen- do planejado por eles durante muito tempo, até hoje nio foram totalmen- te esclarecidas. Muitas discussdes enyolvendo temas como bullying, psiqu cinciagvita 29 see COMPORTAMENTO ‘A Academia publicou uma homenagem a Robin Willams apés seu suicdio, colacando a foto do Génio da Lémpada junto com a frase “Génio, agora voce esta live” e foi advertica acesso a armas por jovens america- nos, liberdade na internet, uso de an- tidepressivos por adolescentes e pri- ticas de exclusio social, entre outros, foram mencionados como supostos gatilhos para o trigico evento. Po- rém, a policia documenta, por meio de depoimentos, que, ao vasculhar a casa e os objetos dos adolescentes, foram encontrados didrios pessoais dos jovens relatando que eles deseja- ‘vam praticar um crime e atentado de igual importancia e repercussio ao de Oklahoma City outros grandes crimes que ocorreram nos Estados Unidos, nos anos 90. O caso foi um dos mais conhecidos no mundo todo, inclusive chegando a ser representado THE CHOKING GAME - O JOGO DA MORTE ecentemente, uma noticia chocou pais e autoridades: a morte de um garoto de 13 anos, em Sao Vicente, litoral de S40 Paulo, durante uma partida de um jogo on-line, tendo sido, inclusive, presenciada pelos outros jogadores em tempo real, pela internet. Outras mortes de garotos da mesma faixa etéria, nas mesmas condigées, tidas como suicidio, est40 sendo investigadas por todo © pais. O jogo é conhecido nos Estados Unidos como The Choking Game. ‘Aqui, ganhou tradugdes como: Jogo da Asfivia, Jogo do Enforcamento, Jogo do Desmaio ou Abrago do Ursa. Segundo as instituicdes Ericks Cause e Instituto Dimicuida, j vitimizou mais de 1.260 pessoas e chegou ao Brasil ha dois anos, mas s6 agora tem se difundido. Ele consiste na interacéo de varios participantes on-line (ou, em alguns casos, em grupos presenciais, principalmente na escola) e. em certo momento, aquele jogador que esta perdendo a partida é desafiado ‘a um sufocamento ou enforcamento. A intengio é bloquear a passagem do ar ara 0 cérebro por alguns instantes, provocando desmaio para que, ao retornar, © Jovem sinta~se em estado de euforia, como se tivesse usado uma droga. No aso do jogo ocorter pela internet, geralmente o desafiado esta sozinho e tenta realizar 0 proprio sufocamento ou enforcamento. Quando ocorre em grupos, nna escola, um ou mais jogadores pressionam fortemente o peito do desafiado, até que ele desmaie. Tudo é sempre filmado e o video postado imediatamente, sendo viralizado na internet. participante desafiado demonstra, assim, na viso (deturpada) do grupo, coragem, influenciando outros a fazerem o mesmo. Desafiar 0 perigo e 0 medo € uma das caracteristicas comuns a adolescéncia, mas sabe-se que o cérebro, nessa idade, néo est maduto suficientemente para que o adolescente possa ‘compreender e calcular os riscos e as consequencias de seus atos. Muitos jovens esto atentando contra a vida, como uma brincadeira. Alguns morrem durante © jogo e outros podem permanecer com sequelas cerebrais irreversiveis pela perda de oxigénio no cérebro. € preciso urgentemente rever o conceito de que criangas e jovens estao protegidos em casa. Muitos deles passam horas sozinhos, trancados em seus quartos, sendo influenciados pela midia e, como demonstrado, podem estar colocando suas vidas seriamente em perigo. no cinema. Sua divulgago massiva na midia pode ainda ter provocado, por anos, ondas de outros massacres realizados por novos imitadores. Em 2012, novo massacre ocor- Em 2012, um massacre ocorreu nos EUA, no Colorado. Um atirador entrou em uma galeria de cinemas na pré-estreia do filme Batman, o Cavaleiro das Trevas, e atirou no publico. Logo em seguida a essa tragédia, outra bem parecida ocorreu em uma igreja 30 prique diénciatvida reu nos EUA, no Colorado, Um atirador entrou em uma galeria de cinemas na pré-estreia do filme Bat- man, 0 Cavaleiro das Trevas, e atirou no publico, em determinada cena em que havia tiros. Dozes pessoas morreram e 30 ficaram feridas. O detalhe é que o atirador estava fan- tasiado de Coringa. Logo em segui- da a essa tragédia, outra bem pareci- da ocorreu em uma igreja. Muitos sio os estudiosos que pesquisam sobre o fendémeno copy- cat € a respeito do perfil dos sujei- tos que poderiam ser influenciados Muitos sao os estudiosos que pesquisam sobre o fendmeno copycat e a respeito do perfil dos sujeitos que poderiam ser influenciados nesse contexto. Pessoas vulneraveis, com disturbios psicolégicos, podem facilmente ceder a influéncia midiatica nesse contexto. Pessoas vulnera- veis, com disttirbios psicolégicos, podem facilmente ceder a influén- cia midiatica, desejando o reconhe- cimento e a fama advindos do pro- tagonismo de um crime barbaro, de grande repercussio. Linchamentos N: Brasil, o fendmeno copycat estd muito presente nos lin- chamentos. Segundo as estatisticas, ha uma tentativa de linchamento por dia no Brasil. Em 2014, houve, durante © periodo de trés meses, vinte casos de linchamento cole- tivo. Grande parte deles ocorrido logo depois de a midia noticiar um + Efeito Werther + (© chamado efeito Werther designa um Comportamento imitative, proveniente da influéncia de outto e que surgiu a partir da epidemia de casos de suicidios apds a pu dlicagdo da obra Os Sofrmentos do Jovern Werther. de Joba W. von Goethe, em 774 € que confava a historia de um rapaz que, esiudido amorosamente. comete suicido Inaugurando 0 Romantismo, a iteratura, que até entdo reratava a sociedade, passa a ser vista como prinopal melo de comunic¢so 2 influenciar 2 sociedade. Nesse contexto, (© suickko comeca a ser encaredo no 50 ‘como fato psicologico, mas tarmbém como um fenomeno social swore poraliencinevia.combr anterior com destaque. Outros cri- mes barbaros de grande repercussa0 podem ter servido de modelo para outros do mesmo género. Em 2002, um desses crimes chocou os brasileiros: Suzane von Richthofen foi a mandante do as- sassinato de seus pais, executado pelo namorado Daniel Cravinhos e © irmao deste, Cristian Cravinhos. Suzane e os irmios confessaram que queriam o dinheiro dos pais dela. Em 2004, apenas dois anos depois, outro filho ¢ acusado de assassinar © pai ea madrasta: 0 ex-seminarista Gil Rugai. Novamente 0 motivo do crime era a heranga. Jé em 2013, outra tragédia sur- preende a populacio e passa a ser manchete de todos os jornais e ve iculos de comunicacio, explorada massivamente: 0 caso Pesseghini, em Sao Paulo, no qual os membros de uma familia (pai, mae, avé e tia- av6) sao, supostamente, assassina- dos pelo filho do casal, um menino de 13 anos, que ficou conhecido no Brasil todo por Marcelinho, e que teria, apés matar a familia toda, ido a escola e voltado para casa para co- meter suicidio. Apesar de controv. sias e muitas polémicas em relagio & cena do crime, a versio de que 0 garoto realmente matou a familia é a mais sustentada, até por falta de provas contrarias. REFERENCIAS COLEMAN, ‘The Copycat Effect - How the Mecia a Videos de assaltos praticados por bandidos vesticos de pal rede recentemente.o que desencadeou casos registrados no mundo todo, inclusive no Brasil Comprovando o fendmeno co- pycat, apenas quatro dias apés o caso, outra tragédia envolvendo um policial e sua familia ocorreu em Mairingue. O policial e sua esposa foram executados, enquanto o filho, baleado na cabega. © meio social em que estamos inseridos contribui essencialmente para 0 nosso desenvolvimento. Es- tamos expostes diariamente a mo- delos e processos de modelagem do comportamento. Dessa forma, todos os meios que, de alguma forma, possam atuar como agentes sociais na formacao humana devem ser encarados com muito cuidado, discernimento e res- ponsabilidade, para que possamos, como sociedade, incorporar experi- éncias ¢ atitudes positivas. ° the Mayhem in Tomorrows Headines. Nova York: Paraview, 2004 BANDURA. A. Social Learning Through Imitation. incon NE: Universty of Nebraska Press, 1962, sigue iinciagovida 31 coaching por Eduardo Shinyashiki manter a ALTO GRAU DE QUE BUS PESSOAL E PROFISSION/ AL E QUE TS ENCONTRAR NAS EMPRE: rganizar, gerir, liderar, en- tre outras imtimeras atri- buigées do mundo cor- Porativo, geram tensio e estresse, 0 que acaba nos desestabili- zando em certos momentos. Mas dian- te desse cendrio, ser possivel manter a produtividade ¢ os resultados sem que 32 psique cgneiatvida AS EM QU se percam a serenidade e o controle da situagio? Como podemos agir de forma mais eficaz e enfrentar melhor os desa- fios do cotidiano profissional? Antes de tudo, € necessirio enten- der que para sobreviver aos incontéveis compromissos, a correria do dia a dia e as exigéncias de produtividade e prazos, JLTADO T B PARA A Vv IDA MBEM ESPERAMOS -RABALHAMOS & preciso de disciplina mental, compor- tamental e algumas atitudes que colabo- ram para a eficécia profissional. Nao acumular trabalho, por exem- plo, € um ponto muito importante. Adiar as tarefas a serem feitas ndo & algo inato no ser humano, mas sim um. habito que pode ser mudado ¢ treinado. -wonportalcienciaevda.combe Mantenha a atengdo no movimento ati- vo € construtivo que precisa ser feito. As vezes, as pessoas adiam trabalhos que poderiam ser resolvidos em poucos minutos. Quando nfo temos tempo suficiente para finalizar um trabalho, precisamos nos questionar e compre- ender que 0 problema no € o tempo, mas sim algo que estamos fazendo de forma improdutiva ou que estamos dei- xando de fazer. Distragdes variadas ou até mesmo pessoas que esto ao redor podem gerar interrupgdes que roubam um tempo precioso, por isso é preciso cuidado nese aspecto. Se permitirmos que conversas, co- mentirios, telefonemas, celular € men- sagens nos distraiam demais e tirem a atenco € 0 foco durante o trabalho, & necessirio treinar a nossa capacidade de concentragdo direcionada. O suces- so € 0 éxito exigem uma mente ordena- da, que sabe, naturalmente, concentrar a atengdo na tarefa que esté fazendo, que no € afetada por intervengio ex- terna, mas mantém seus pensamentos constantemente organizados e focados por um periodo suficientemente lon- go de tempo. Isso permite fortalecer autoconfianga, calma, clareza mental e forga interior. Pesquisa realizada pela Robert Half nos Estados Unidos, com 300 diretores de RH, revelou que uma mesa desor- ganizada coloca em cheque as compe- téncias e a eficacia de um colaborador. Essa €a percepgiio de 32% dos entrevis- tados pela consultoria ~ e eles nao esto errados. Um local de trabalho coberto de papéis e materiais bloqueia a produ- tividade e aumenta a confusio, nio 56 externa e concreta, mas também men- tal, de pensamentos, decisdes e ideias. A desordem desenvolve um circulo vi- cioso: adiar a organizacao do ambiente de trabalho cria a desorganizacao que, por sua vez, alimenta a procrastinagao e mantém a desordem. Alguma vez ja aconteceu de perder muito tempo procurando algo fora do lugar? Demora-se mais tempo procuran- wore: poralciencaevidacombr do documentos na bagunga do que em decidir agir e organizar o que é preciso. Quem consegue organizar seu sistema e ambiente de trabalho aumenta muito a sua performance e os seus resultados. Uma organizacdo externa e material ajuda a criar uma organizagdo mental e vice-versa. Porém, grande parte da ener gia e do tempo desperdicados € decor- rente de uma mente desorganizada, ou seja, pela falta de objetivos claros, de pla- nejamento ¢ de definigao de prioridades. MANTENHA A ATENGAO NO MOVIMENTO ATIVO E CONSTRUTIVO QUE PRECISA SER FEITO. AS VEZES, AS PESSOAS ADIAM TRABALHOS QUE PODERIAM SER RESOLVIDOS EM POUCOS MINUTOS Para evitar essa perda, mantenha 0 foco no planejamento € no no impro- viso. As vezes, recusamos a nos pro- gramar por acreditar na ideia de que 0 improviso esti associado & liberdade, quando, na verdade, € 0 contrério. Li- ve 6 quem sabe planjar, pois consegue equilibrar melhor o tempo, as exi cias, tarefas ¢ a dnsia dos prazos que se aproximam. Priorize suas atividades tarefas, permitindo que seus proprios projetos sejam concluidos com mais eficacia. Quando nos distraimos, temos a tendéncia de agir de forma improdu- tiva. Além disso, € muito importante saber dizer nio quando necessirio, pois a0 assumir compromissos que ndo so Eduardo Shinyashiki ¢ paestrante, consultor orgarizacional especilista em DDeserwolvimento das Competéncias de Lideranca e Preparacio de Equipes E presidente do inttuto Eduardo Shinyashikie também escitore autor de Importantes livros como Transform seus Sontos em Vics (Edltora Gente, sua ‘publicacao mais recente. wwwedushin.com.br de sua competéncia, seu tempo e ener- gia podem ser desperdicados. Uma mente organizada permite ter agio e nao procrastinar, portanto treine sempre o habito de agir. Uma vez identificados 0s objetivos ¢ as so- lugdes, € importante segui-los, e a au- todisciplina é essencial para bloquear os eventuais hibitos limitantes. Nao bastam os dons naturais, os talentos € potenciais, se estes ndo forem aper- feigoados, direcionados ¢ colocados a servigo de um obj Sabemos que algumas variveis so imprevisfveis e fogem do nosso con- trole, mesmo fazendo todos os plane- jamentos possiveis. Mas, exatamente por essa razifo, treinar a capacidade de planejar nos permite antecipar as con- sequéncias, prever quais resultados as aces poderio ter, e gerenciar melhor as urgéncias que podem aparecer. As- sim, ficamos mais disciplinados e au- mentamos a nossa prépria realizagdo ¢ satisfacdo. O paradoxo € que quando estamos agindo dentro desses padrées de com- portamento - acumular trabalho, per- mitir interrupgOes € manter a desor- ganizagdo ~ perdemos muito tempo € nos tornamos extremamente ocu- pados e atarefados, e acabamos de- dicando pouco tempo e atencao para verificar e avaliar para onde estamos indo, qual a direcao do nosso trabalho e da nossa vida. Nao precisamos mais enfrentar continuamente emergéncias, nem fi- carmos esgotados trabalhando de for- ma confusa e improdutiva, mas pode- mos encontrar energia, calma interior e vontade de realizar cuidando do que realmente € importante e, assim, con- quistar resultados significativos para todas as esferas da vida. ° psiqu cignciagvita 33 Por Lucas Vasques Op¢do por Lacan (ideias atuais) A obra Por que Lacan? integra a Coleco Grandes Psicanalistas, que tem a ambigSo nao apenas de apresentar ao leitor as principais coordenadas do trabalho do reconhecido psicanalista francés Jacques Lacan, mas também de situa-lo em nosso tempo e em nosso contexto cultural. Christian Dunker traz sua abordagem sobre esse grande psicanalista a fim de nos revelar o seu lugar ¢ a sua inserg&o no ‘campo psicanalitico, bem como indicar de que maneira 0 contato com suas ideias contribui até os dias de hoje para o entendimento dos problemas que nossa época suscita e para a clinica do mal-estar con- temporiineo. O trabalho de Lacan ganha importincia e relevancia apés a Segunda Guerra. Ele teve contato com a Psicanilise por meio do surrealismo. A partir de 1951, opondo-se aos pés-freudianos, que promoveram a Psicologia do Ego, propde um retorno as ideias de Freud. Por que Lacan? ‘Autor: Christian Ingo Lenz Dunker Ecitora: Zagodoni Paginas: 272 Um olhar da Psicologia Politica (movimentos paradigmaticos) No livro Pauicologia, Politicas ¢ Movimentos Sociais so analisados movimentos sociais paradigmaticos da contemporaneidade: 0 Movimento de Trabalhadores Sem Terra, 0 Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros, as manifestagdes politicas de rua atuais, o Movimento Guerrilheiro Armado, a légica terrorista, a relagdo da sociedade com as politicas sociais de Estado e a questio de género na midia. A Psicologia Politica € um dos mais férteis campos teéricos para a compreensio dos movimentos sociais contemporineos. Essa potencialidade vem de sua capacidade de articular, em seu repert6rio interpretativo, contribuigdes tedricas e técnicas da Psicologia, Ciéncias Politicas, Sociologia ¢ Filosofia. Especialmente na América Latina, oferece uma perspectiva plural e mt dos fenémenos psicossociais, nio se restringindo a um psicologismo do social, ou a um sociologismo do psiquico. Psicologia, Politicas e Movimentos Sociis ‘Organizadores: Domenico Unng Hur e Fernando Lacerda Junior Editora: Vozes Paginas: 208 ; Anorexia e bulimia (reflexoes do exercicio clinico) eek O livro Paicandlise de Transtornas Alimentares traz importantes reflexdes que resultam do exerci nico da Psicanilise e do estudo sistematizado para compreender o funcionamento metapsicol6gico de pacientes com anorexia e bulimia nervosas. A obra, que retine artigos de alguns dos mais renomados especialistas em transtornos alimentares, nacionais ¢ internacionais, representa a unido de esforgos em torno do compromisso de divulgar informagées sobre patologias alimentares, cuja prevencio e tratamento demandam uma nova abordagem. Composto por 18 artigos de 24 autores especialistas na Grea, o livro apresenta textos que contemplam desde revisio da literatura cientifica aplicada & tematica até as repercussGes psicol6gicas dos cuidados maternos. A obra visa dar um embasamento teérico e empirico de uma nova abordagem e visio para o tema dos transtornos alimentares. Psicanalse de Transtomos Almeniares ~ Volume i Organizadora: Cybelle Weinberg Ezitora: Primavera Editorial Paginas: 272 34 psiqu cgneiatvida -wonportalcienciaevda.combe iu} | ow Q 5 om or fe) a ao a 0} ie Comaltaeed neurologicas nas FEBRES HEMORRAGICAS Rata competéncia vetorial como a do mosquito. Aedes aegypti, vetor bem ao ambiente urbano densamente'p com deficiéncias e estilos de vida da p C40, e gera habitats ideais/para 0 mosquito Se , Por Beny Schmidt e Cassyo Rodrigues mdftins de Macédo SS P4ae on 36 Vacina EFICAZ ainda é um DESAFIO A prevencao das enfermidades provocadas pelo mosquito ainda é uma drdua e complexa tarefa, quase impossivel de ser atingida, fragilizando os atuais meios disponiveis para que se evite sua aco egundo dados da Orgar zagio Mundial da Saude (OMS), nos ultimos 50 anos a dengue aumentou em 30 vezes e se tornou endémica em 128 paises. A doenca atingiu 0 pice em 2015, quando o Brasil teve uma das piores epidemias da hist6- ria, com 1,6 milhao de casos. Mesmo apés o lancamento da Dengvaxia® (recombinante, atenu- ada) permanece a imunizacio con- tra os sorotipos dengue 1, 2, 3.¢ 4 em trés doses, Vale ressaltar que a vacina nao protege contra os virus chikungunya e 2ika. Em consonincia ao New England Journal of Medicine, Dengvaxia® fun- cionou em 93% dos casos graves da doenga e reduziu em 80% as inter- nagdes. A eficicia global ficou nos 66% dos casos. Foram mais de duas décadas de pesquisas e 0 desenvolvi- mento de 25 estudos clinicos em 15 paises. Cerca de 30 mil voluntérios (3,5 mil no Brasil) tomaram doses da vacina durante trés fases de pes- quisa clinica. Instituto Butantan, em S30 Paulo, deve ter uma fabrica dedi- cada & produgao da vacina contra dengue até o final de 2016, segun- pique cinciatvid do anunciou o diretor do institu- to, Jorge Kalil. Até junho de 2017, a unidade deve estar equipada e preparada para a produgao da va- cina, desenvolvida em parceria entre o Butantan e os Institutos Nacionais de Saiide dos Estados Unidos (NIH). Quanto as medidas de preven- a0 da chikungunya e zika ainda permanece © combate aos mosqui- tos transmissores. As mesmas agoes que previnem a dengue so capazes de prevenir todas as outras. O Aedes aegypti esta presente em 23 paises do continente ameri- cano, nas regides tropicais da Afri- ca, chegando A ilha da Madeira, em Portugal, e ao estado da Florida, nos Estados Unidos. Em alguns lo- cais, sua populacio é controlada de- vido 4 competicao com outra espé- cie de mosquito do mesmo género, © Aedes albopictus. Febre chikungunya hicungunha ou catolotolo é uum arbovirus, do género A/- phavirus (Togaviridae). Seu nome otigindrio do idioma maconde, ou shimakonde, que é uma lingua fa- lada no norte de Mogambique, na provincia de Cabo Delgado, ¢ tam- bém falada no sul da Tanzania, na fronteira com Mogambique. ‘A primeira epidemia da doenga foi em 1953. O termo provém da raiz verbal kungunyala e significa “tornar-se dobrado ou contorcido”, em referéncia 4 aparéncia curvada dos pacientes, motivada pelas in- tensas dores articulares e muscula- res, caracteristicas da doenga. Em Angola a doenga € popularmente conhecida por catolotolo, palavea proveniente do quimbundo katolo- tolu, derivacao do verbo kutolojoka (‘prostrado”). Antigamente estava confinada na Africa, Entretanto, ela tem mi- grado para as Américas, Europa e Asia, 0 que vem preocupando as au- toridades de sade. Sintomas N: chikungunya, os sintomas predominantes sio febre alta, dor muscular nas articula- es, cefaleia ¢ exantema. Costu- mam durar de trés a dez dias ¢ sua letalidade, segundo a Organi- zagio Pan-Americana de Sade, é rara e menos frequente que nos casos de dengue. woe portaleiensnerida.combe eed a cet Tecra Cee eae! Decca U=joeo)-s6)-9) IPE Sze.) ava 38 O tratamento é feito para com- bater os sintomas, com analgésico (paracetamol), hidratagio ade- quada e repouso. A enfermidade ainda no conta com tratamento especifico. Apenas os sintomas sio combatidos com analgésicos e antité:micos que nao sejam a base de aspirina (écido acetilsalicilico). © Instituto Nacional de Alergia © Doengas Infecciosas (NIAID) dos EUA prossegue na tentativa de desenvolvimento de uma vacina eficaz para imunizacio contra chi- kungunya, ainda sem resultados permanentes, permanccendo as medidas preventivas contra 0 mos- quito Aedes aegypti. Os exames laboratoriais anali- sam isolamento viral, RT-PCR (ma- terial genético do virus) e sorologia. duas linhagens de zika, uma de origem africana e outra de origem asidtica, a ultima predomi- nante no Brasil. Em 1947, foi identificado en- tre os primatas em uma floresta de Uganda (Floresta de Zika) um virus transmitido por meio de relacio se- xual e, principalmente, pela picada de mosquitos irmaos do nosso ve- Tho conhecido Aedes aegypti, muito parecido com o que transmite den- gue ou febre amarela urbana. Em algum momento impre so do final da primeira metade do século XX, 0 homem entrou nesse ciclo aparentemente harménico entre macaco e virus e passou a ser o que chamamos de hospedei- ro acidental. Foi assim com o zika € outras doengas infecciosas como malaria, febre amarela e doenga de Chagas. io somente a dengue (FDH)I. mas existem outras enfermidades que podem ser desencadeadas pelo mosquito Aedes aegypti como a febre chikungunya,febre amarela urbana e febre zika (ZYKV) sigue ceneiasida microcefalia ndo é uma mé- formacio nova, é sintoma de algum problema no organismo da gestante ¢ do bebé, ¢ pode ter di versas origens como: infeccées so- fridas pela mae durante a gravider rubéola, citomegalovirus, toxoplasmose, sifilis, hipotireoidis- mo, varicela, herpes zoster ¢ intoxi cago por metilmerctirio Outras formas de exposigio da gestante so através de agentes tera- togénicos durante a gravider (radia- ao, substancias quimicas, consumo de Alcool ou drogas), desnutrigio, fenilcetomiria, diabete mal controla- dana mie durante a gestacio e lesio ou trauma no cérebro do bebé, por exemplo, na hora do parto. Nessa situagio, a microcefalia s6 aparece conforme o bebé vai crescendo. O Ministério da Saude alte- rou de 3 meses para 3 anos a idade maxima para identificagio de be- bas afetados pelo virus zika, sendo considerados nao s6 0 tamanho da cabega da crianga, mas outros sin- tomas para notificar criangas com sindrome congénita do zika. Os resultados de exames como a tomografia computadorizada e a res- sonincia magnética podem dar indi- cios sobre eventuais mas-formagdes no cérebro. Quando o cérebro é tam- bém menor que o padrio, o distir- bio pode ser chamado de microcefa- lia. Os problemas mais comuns em criangas com microcefalia sao atraso intelectual e motor, paralisia cere- bral, epilepsia, distirbios oftalmol6- gicos e hiperatividade. Veja quadro Caracteristicas da microcefalia. © continente afticano, origem da humanidade, reino da versidade, é interessante fazer um esforgo para tentar imaginar uma floresta onde macacos vivem em harmonia com a natureza € entram woe portaleiensnerida.combe

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