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Revita Dialtia de Dieto Tibutério 196 sidiariamente ac processo de embargos & execugio fiscal, niio se pode admitir {que a Fazenda Pablica recuse o fornecimento de c6pias do processo adminis. tuativo de constituicao do crédito tibutério. 4°) E absolutamente inadmissivel a tese segundo a qual a Fazenda Poblica no: pode ser obrigacia a produzir prova contra si mesma, Tanto porque 0 diteto de. ‘no produzir prova contra si mesmo é destinado a protegdo da dignidace hu~ ‘mana, do qual néo pode ser titular uma pessoa juridica de dreito publico,como, porque se tivesse a Fazenda esse direito poderia langar e cobrar tributos con~ {rariando as limtagdes constitucionais ao poder de tributar. ISS, Sujeito Ativo e “Local da Prestagio”. | A Importancia dos Elementos de Conexio para a Construgo Jurisprudencial Jodo Guilherme Sauer 1. Parece que esté se firmando, no Superior Tribunal de Justiga (ST), a interpretago de que, “com o advento da Lei ‘Complementar n® 116, de 2003" (LC n° 116), 0 sujsito ai- ‘yo do imposto municipal sobre servigos de qualquer natureza (1S) passou a ser, em regra, o Municipio no qual estejasi- tuado 0 estabelecimento prestador (REsp n° 1.139.S03/G0, Rel. Ministro Castro Meira, 2* Turma, julgado em 38.2010, Die de 17.8.2010; REsp n° 1.124.862/GO, Rel. Ministra Eliana Calmon, 2* Turma, julgado em 17.11.2009, Die de 712.2009; REsp n° 1,137.840/BA, Rel. Ministro Castro Meira, julgado em 3.8.2010, Die de 17.8.2010). 'Nio obstante 0 escripulo do Tribunal em fazer coinci- dir inicio da vigEncia da regra com a da LC n° 116, 0 que ‘esti a ocorrer, na verdade, é uma alteragdo, para melhor, da sua jurisprudéncia. Isto porque, ressalvada a ampliagio, por cla, das excegdes a essa regra geral, a LC n° 116 em nada inovou ao estabelecé ‘Como se sabe, a lei complementar nacional de normas gerais em matéria de ISS era, até 2003, o Decreto-lein® 406, de 31 de dezembro de 1968, € ele dispunha o seguinte: “Art 12, Considera-se local da prestagao do servico: a) odo esta- belecimento prestador ou, na falta de estabelecimento, 0 do domictio do prestador, b) no caso de construgao civil 0 lo- cal onde se efetuar a prestagdo (.).” Atualmente, a LC n? 116 prevé: “Am. 3°O servigo considera-se prestado ¢o impostodevido no loca doestabelecimento prestador ou, na falta do estabe- Tecimento, no local do domicilio do prestadar, exceto nas hip6teses previstas nos incisos 1 a XX, quando 0 imposto seri devido no local: (. (Segue uma longa lista de exce- Bes, a maioria das quais indie o local da presagio como Aquele onde a realizagio material do servigo sed). Embora a disciplina do tema se tenha mantido amesma, em substincia, a jurisprudéncia do STS firmou, na vigéncia do Decreto-lei n® 406, que o local da prestaglo somente po- Aeria ser 0 previsto na alinea “b” do seu artigo 12. 2. A fonte dessa jurisprudéncia foi a influente doutrina a Escola de Direito Tributério da PUC de Sio Paulo e 0 mais longo texto que ela produziu sobre a questo fo, salvo JoG0 Guilherme Sauer ‘Procuradar| ‘Aporentada do Estado {do Rode Janeiro eAdvogado no io de Janeiro ecm Sao Polo. ry Revista Dialtiea de Dieto Tuto 196 ‘engano, o do saudoso Professor Cléber Giardino, “ISS - Competéncia Municip: publ cado na Revista de Direito Tributdrio n® 32, ano IX, pp. 217 ¢ seguintes. Segundo ele - e fago aqui um apertado resumo -, a distribuicio consttucional «das competéncias ts esferas locais de poder se pauta, necessariamente, por um prin- ccipic implicito: 0 da territorialidade. Vale dizer: 0s estados, o Distrito Federal ¢ 0s Municipios exercem o seu poder dentro dos limites dos respectivos teritérios, de sorte que 0 fatos juridicos submetidos as suas leis sio apenas os ali ocorridos. Acrescenta que a hipdtese de incidéncia do ISS € a efetiva prestogao do servico, 0 ‘que ele chama de “material e efetivo desempenho do fazer”. Por conseguinte, 0 Municipio competente para fazer incidir 0 ISS sobre determinadz prestagao de ser- Vigos é,exclusivamente, aquele dentro de cujo territério ela materialmente ocorre. ‘Como a terrtorialidade & um prine‘pio implicito da prépria Consttuigao, conclu, sa previsio da alinea “a” do artigo 12 do Decreto-lei n? 406 era -cigo eu, pois 0 au- ‘tor no emprega a palavra!- inconsttucional ‘A influéncia desse texto na jurisprudéncia do STS foi tiplamente infeliz. Pri- meiro porque, no entender de diversos tributaristas, ele era equivocado. Segundo Porque a imprecisio dos termos em que 0 jurista vazou sua conciusao decerto des- viou.a atengio do Tribunal da necessidade de submeter 0 juizo scbre inconstitucio- nalidade da norma complementar & sua Corte Especial. E terceiro porque os efeti- vos conflitos de competéncia que a jurisprudéncia surtiu trouxeram enorme trans- tormo para a vida tanto dos prestadores como dos tomadores de servigos. Quero versar, no item a seguir, os dois titimos inconvenient. 4, jurisprudéncia a que me refiro abragou completamente a doutrina de Cie ‘ber Giardino. Para ela, a teritorialidade das leis expedidas pelo Distrito Federal e pelos Municfpios é um prinefpio implicito da Constituigdo, 0 fate gerador do ISS ¢ ‘efetiva e material realizagio do servigo e, por isso, somente o ente politico em cujo tervt6rio o servigo assim se realiza possui competéncia para sobre ele cobrar 0 ISS. No entanto, nunca o Tribunal declarou a inconstitucionalidade do artigo 12, alinea “a”, do Decreto-lei n® 406. Embora esse raciocinio tenha inegvelfundamento cons- tituc onal, o STS, em vez disso, optou por empreender como gute uma “interpreta ‘so conforme a Constituigio”, asseverando que, a despeito das palavras do dispo- Sitivo, ele, na verdade, pretenderia atribuir a competéncia a0 Municipio em cujo terrtsrio se realizasse materialmente 0 servigo. 0 seguinte acérdao confirma a afirmativa: “Tributiro. ISS, Sua Exigéncia pelo Muniofpio em eujo Tertitérc 9 verificou o Fato Gerador. Interpretagio do Art. 12 do Decreto-lei n. 406/68. Embora a lei considere local da prestagao de servigo, do estabelecimento prestador (an. 12.do decreto-ein. 406/68), ela prevende que o ISS pertenca ao municipio em cujo terrtéri se realizono fto gerador 0 local da prestagdo do servigo que indica 0 municipio competent para a imposi- ‘Gio do tributo ISS), para que se ndo vulnere o principio consitucionalimplicito que Be i que e dove “Tr com 4 Como, fn erecran spe" 0 dsprivo compement ie ‘se implies rma lta ert! cm opin ae lame peo 0 “Texto Crain” oh Gp. 230622), ach. qe ado dnc Roviste Dials de Direito Tributdeo nt 196 os atribui aguete (municipio) 0 poder de tribwar as prestagées ocorridas em seu tervité- rio.” (REsp n° 41867-4/RS, * Turma, undnime, Rel. Ministro Deméerito Reinaldo, RSTI 0. 62, p. 49? Buscando dar cumprimento a um preceito constitucional implicito, 0 ST3 aca- ‘pou descumprindo outro, expresso: o que veda aos tribunais declararem a inconst- tucionalidade de atos normativos, a menos que pelo voto da majoria absoluta de seus ‘membros (artigo 97). Salvo lapso da minha parte, no consta haver a asseverada incompatibilidade entre o artigo 12, principio implicito sido jamais submetida a0 conhecimento da Corte Especial. E, omo se sabe, se um colégio judicidrio nega aplicagio a lei ou a ato normativo do poder piiblico por, mediante juizo de prejudicialidade, considerd-1o incompativel com a Constituigdo, o que se verifica é, exatamente, uma declaragio de inconstitu- cionalidade, para cuja proniincia se deve observar o chamado principio da reserva de plendiio. A jurispradéncia do Supremo Tribunal Federal (STF) sempre foi firme em proclamar que "reputa-se declaratrio de inconstitucionalidade 0 acérdio que - embora sem o explicitar - afasta a incidéncia da norma ordindria pertinente & lide para decidi-la sob crtirios diversos alegadamente extraidos da Constituigo” Visto que a orientasao jurisprudencial do ST ngo foi regularmemte firmada, frus- traram-se, por longo tempo, as esperangas dos contribuintes numa atuagao correti- va por parte do STF. Atuagdo que se impunha, particularmente, porque 0s conflitos cde competéncia em matéria de ISS, que vinham sendo satisfatoriamente dirimidos ppelo artigo 12 do Decreto-Iein® 406 - que, asim, desempenhava a contento sua fun- ‘¢80 constitucional (Constituigao, artigo 146, inciso I) -, passaram a putular. Pode ‘Se afirmar que nunea houve tantos municipios irrogando-se o poder de cobrar 0 ISS sobre os mesmos fatos geradores, nem tantos contribuintes em diivida sobre a qual ‘municipalidade pagar ‘Sob o Decreto-Iei n° 406, um fator por si s6 reduzia - como continua a reduzit, nna vigéncia da Lei Complementar n® 116 - as incertezas que a jurisprudéncia da ‘Conte Superior propiciou: arestrigio do mimero de municipalidades que poderiam, razoavelmente, se inttular & cobranga do tributo. Pela orientagso do STI, todo e No revo sn cme indneros ous, REsp 18.38, Tura, nine, Rel Mini Gare Vii, D1 de 5199 Rp 115298, Tara nine Rel, Misi Peps Mann DIU Ue F198 Eiseinimaws oes, RE 3003900, 1 Tar nine, Rel Mins Sepa Pees, DIU de 215 199%, 0.39.15 noSTF je, Smal Vinal, de 1 "Vn esa Se rev de ln (CF aio Sa de "ao de ene cronies oa, eror nn dele expreamen ncaa Ue eo ‘arma pd publi os Se edt, ao aoa od em parte” ene @ ST om pagum ‘to posted ales" doaipp 12 do Desens encanta conta Consiga gus “Neng fess cm cose, pesado es Mais ive Unleem uw suo eaablsime to pest ‘arog psa» dca de feos em ese (ene aos, ide 0 samo fei 9 1 ‘Mise lame Cale 2 REx 1175980, 2 Tuma, ad em 103.2010) ror apne pce ‘Se Primera pgs dass niet intone pel ST) og et hie ce ‘in mst plo enor vena em igo da Lida Ago Dis Je Incense, um ven Ply us lk ee aplinda rca conrta.Segind, pre sree pose! de ‘teres cmc, or si, sins “tanger ecg dase len" de ro 3 epee ser: A (2. Comer ocd presto do sevigo(~) ola de se eer apres” Set ti ams mci com io oral, tr a 2 86 Revista Dialtea de Dieto Tributrio ni 196, ‘qualquer muniefpia - e eles sto mais de 5.500! - pode ser 0 sujeito ativo da obriga- ‘slo tributéra, bastondo que uma empresa, que Ié nio esté presente, seja considera ‘da como tendo prestado um Gico servico isolado, fisicamente, no seu tert Mas, 0 que € prestar um servigo, fisicamente, no terrtério de um determinado mu- nicipio? ‘A casulstica das dificuldades que a realidade pritica opde A resposta dessa per- zgunia é infinita, Mes, figuremos um exemplo. Uma empresa de Porto Alegre fabri- cca bombas de sucgio. Os aparelhos se caracterizam por uma certa sofisticaglo, de modo que o seu adequado funcionamento depende de serem instalados mediante \éenica especial, que s6 a fabricante domina, As bombas so vendidas em todo 0 territério nacional e, toda vez que 0 sf, pessoal da fabricante se desloca até 05 do- ‘mieitios dos adquirentes para instali-las. Volta e meia, uma bomba apresenta defei- tos que exigem reparos somente realizéveis na fabrica. Feitos 0s consertos, pessoal da fabricante se desloca novamente até aqueles domicilios, para reinstalar as bom- ‘bas. Em que municipio sio prestados esses servigos? 'E inegavel que, isica ou materialmente, eles 0 sio em, pelo menos, dois muni- cipios. Mas nlo € possivel segmentar-se 0 servigo de modo ase recolher 0 ISS a cada uma das municipalidades, por isso que ele ¢ realmente, um 36, embora de execu- ‘glo continuada. O dono da bomba nao esta interessado nas técnicas aplicadas pela fabricante no scu reparo; ele quer é que ela seja posta a funcionar, no seu domicii ‘easeu contento, Ocontrato é de resultado. O problema no ¢, todavia, juridicamente insoldvel Com efeito, sendo nico, o servigo s6 existe quando se completa, nos termos do artigo 116 do CTN. Se a fabricante 0 deixa pela metade, ela simplesmente no 0 presiou. Consequentemente, 0 servigo esté prestado se e quando a fabricante reins {ala as bombas no domictlio do cliente, a contento dele. Petos crtérios do STI, € a0 ‘municipio do domictlio do tomador do servigo que o ISS deve, afinal, ser pago. “Abstragio feita da lei complementar, esta incorreta essa solugdo? Nao. Mas serd a ‘inica correta? Nao. Seré ela satisfatdria ou conveniente? Também nao. ‘Ocritério do STI torna, na priticae na maioria dos casos, a fabricante das bom- ‘bas do exemplo coatribuinte de tantos muniefpios quantos sejam aqueles nos qu: ‘05 tomadores dos servicos - e ndo a sua prestadora - estejam estabelecids ou do- liados. E sabido que a condigdo de contribuinte, no Brasil, obriga a empresa a dotar-se de um considerdvel grau de organizagao: instalagdes, métodos e pessoal contibeis, emissiio de cheques, posse das guias de pagamento da pessoa politica competente etc. Essa organizacio deve também dominar razoavelmente a legisla- «80 dos seus credores tributdrios ¢ estar habilitada para satisfazer-Ihes tempestiva- mente as exigéncias, de vez que as penalidades para a sua inobservancia sio pesa- das. Dificilmente uma s6 unidade empresarial - um estabelecimento, em suma - da fabricante exemplificada poder desenvolver as atividades que Ihe so proprias e, ainda, corresponder a isso tudo’. Essa é, ald, uma das razGes por que as empresas ‘No meso semi, Hema Rie de Mace Darina Pra dy 1. So Pals KF, 1978 p $010. > Na Mins han Chun eater elds acon dosti per no REP {6717890 que eer sa nt 3, evista Dialética de DirltoTebutaro n¥ 198 ” {endem a possuir uma pluratidade de estabelecimentos. S6 que mais dificitmente ainda poderdo elas possuf-los numa miriade de Municipios. (0s Fiscos municipais tampouco estdo livres dessa especie de vicissitude. Pre- cisam langar os créditos correspondentes aos seus impostos, o que Ihes exige terem ‘cesso 40s contribuintes para, a0 menos, iscaliz4-os e praticarem os atos de comu- ricagdo compreendidos nessa atividade. E a distancia ¢ adverséria desses objetivos. ‘As legislacdes municipais acusam a presenga de semelhantes dificuldades e to- ‘mam a usual providéncia de contornd-las mediante a atribuigo, 20s tomadores dos servigos, da responsabilidade pela retengio, na fonte, do ISS incidente sobre servi- 0s que, segundo suas préprias normas, so prestados nos seus territGrios. Na pré fica, novamente, a atribuigdo de responsabilidade & fonte pagadora acaba por tra- duziuma vial substi bur: obras, Sseiada penalizadaé, somenie ela, fonte. 'S6 que isso introduz mais um fator de confusto e inseguranga. F que a fonte pagadora também entra em divida sobre a qual munic{pio pagar 0 [SS sobre o ser- vigo que Ihe prestado e, como se livra de responsabilidade usando os recursos que retém, propende instintvamente a fazé-lo sempre. O que nio exonera o prestador de ter que cumprir sua obrigagio para com a municipalidade em cujo terrtério esté estabelecido e que, fatalmente, dele a exigirs. ‘5. Mais do que o até aqui exposto, a experincia tem demonstrado que a inter- pretagio do STI, ora ritcada, causa muito mais problemas do que os resolve, o que repito, ndo condiz. com a vocagdo das normas interpretadas, que é justamente diri- ‘mir conflitos de competénci Claro esté que essa disfungao hermenéutica nfo seria suficiente para dar-se por equivocada a interpretagio da Corte Superior. Afinal, pode muito bem ocorrer que odefeito esteja na norma mesma, nio na interpretagao e, grave que ele seja por ra- duzir inconstitucionalidade, ndo pode a corregio interpretativa iludir o que a Cons- tituigdo mands®, ‘A questo é: as circunstincias dea legislagdo dos Municipios s6 poder viger nos seus territérios ¢ de estes se delimitarem geograficamente implicam somente serem Villdas normas, emanadas das municipalidades em cujos lerTitOrios os servigos se- jam fisicamente prestades, que definam essas mesmas municipalidades como sujei- {os ativos do ISS sobre eles incidente? 6, Penso que esta ¢ uma tipica questio de conflito de les €, obscrvados certos, temperamentos, pode ser encarada do mesmo dnguio e sob os mesmos principios ue regem os conflitos entre leis de nagées diferentes, isto, 0s do chamado Direi- to Internacional Privado (DIP). Com efeito, a doutrina invariavelmente argumenta que, no plano internacional © aleance das normas do estado nacional sempre foi determinado pela sua capaci © Eycomefein 0ST nase messed ltd na RES 1.17580, frida tas ci, nven ace ‘ened que eft, geal frma exper probe st mp Ces, anda i,m Sex 135 nine ee wo map aba 155 Na Vere, «Consul ee s cma ale (Compete os) esti") gun tut cmptecns iis ever ens bes de dete pl cyt: Reo ts soi pipiens me es 2 Revista Diaétice de Dirsto Tributtion* 196 evista Dialtia do Divsito Tibutélo nt 196 ~ dade de faz6-lus valer. Na formulagdo kelseniana, a soberania se reduziria & eficé. ‘cia espacial da ordem jurfdica denominada “Estado”. As regras de superagio dos Conflitos teriam vindo a reboque desse fator empitico, sob a infusho da crescente interdependéncia dos estados’. Ora, como anota Antonio Roberto Sampaio Déria, ainda que, no plano interno, a unidade da soberania afaste a necessidade de limita. ‘glo da competéncia tributdria, pois ela mesma alija, por definigH0, qualquer outra do seu raio de acdo, tommando impossfvel o aciimulo de incidéncias, “a instituigdo dde um novo modelo de organizagio politica - a federaglo - acarretou na érbita i {emma dos pafses que a adotaram, problema andlogo ao verificado na esfera interma- ccional”™, Os “temperamentos”, a que aludi,residem, exatamente, na presenga de uma ‘Constituigio que preordena os conflitos, mediante atribuigdo de competéncias. No ‘mais, nada hi que impega a busca da solugio dos conflitos espaciais mediante re- {curso 208 principios do DIP; antes, tudo 0 impie. Alids, af esta 0 nosso Codigo"Tri- putirio Nacional (CTN) a dispor que, ressalvado o previsto nele prépro, “a vigén- cia, no espago e no tempo, da legislagio tributdria rege-se pelas disposigOes legais aplicdveis as normas juridicas em geral”, 0 que obviamente inclui, por exemplo, a Lei de Introdugdo a0 Cédigo Civil - na qual, diga-se, a teritorialidade a que alude ‘a doutrina acolhida pelo ST) nio goza de preeminéncia’. Postas assim as coisas, é inegével que uma ordem juridica vige num espago determinado, Nao fosse assim, s6 haveria uma tinica ordem juridica ou - o que dé no mesmo - um s6 estado. Isso no quer dizer que niio possa haver mais de uma ‘ordem juridica vigendo simultancamente sobre o mesmo espaco, jf que, para ficar hum s6 exemplo, a federagdo se caracteriza exatamente por isso: duas (ou mais, como no caso brasileiro) ordens juridicas vigorando no mesmo local. Mas, nesse caso, a vigéncia de cada uma dessas ordens juridicas resulta da diferenga das maté- rias sobre as quais incidem as suas normas. Pois bem, esse espago onde vige a ordem juridica se designa, juridicamente, pelo termo ferritério, Este no se confunde necessariamente com aquelas ‘reas que con- smplamos recortadas nos mapas, nem induz aos termos rerritarialidadle e extrater- ritorialidade", Mas € dbvio que os mesmos fatores hist6ricos, politicos e juridicos {que formataram 0 estado modero, marcado pelo sedentarismo, tornaram as fron- teirs signos exteriores visiveis, que nos auxiliam a reconhecero teritério e, por isso, fazem a influéncia da vontade humana na sua observiincia ser mais extensa e direta do que a inspirada em outros fatores, especialmente a partir do momento em © intercdmbio entre 0s povos conduziu & perda do prestigio de que a nacions dade outrora desfrutara’. Desse modo, aquelas reas demarcadas geograficamente fo 0s principais pontos de referéncia. quando se tem presente 0 termo territéri Porém, a fungio delimitadora da vigéncia das normas no espago, que o terri rio desempenha, no implica necessariamente, como avancei, a adogio exclusiva do chamado principio da territorialidade, no conceito que dele faz a corrente de jurise tus abragada pela urisprudéncia do STI, para a definigdo das competéncias legisla- tivas. Embora haja férmulas diversas para exprimir tal conceito de territorialidade, pode-se dizer que, segundo a doutrina do DIP, ela impera quando as pessoas, as coisas ¢ as situagSes verificadas, geograficamente, em determinado local estejam -submetidas, apenas, 20s poderes estatais (normativos, administrativos ou judicirios) com sede no terrtério onde ele, local, se situa, com exclusdo de todos os demas" Esta acepgdo de werritorialidade é que a doutrina em analise diz ser 0 contetido de um principio imlicito da Constituigio®, ‘A propria Coastituigio desmente,entretanto, a proposigio segundo a qual a ter ritorialidade, assim entendida, constitua um principio implicito dela. ‘A Unitio Federal é um dos componentes do Estado Federal brasileiro, em pé de igualdade com o: estados, o Distrito Federal e 05 Municfpios (Consttuigéo, artigo 18, caput). Tribulos sio criaturas da lei ordindria, dos entes auténomos da federa- ‘G20. Os tributos da Unido Federal nio so tributos da Reptblica Federativa do Bra: sil, mas de um dos seus entes aut6nomos. Pois nada existe na Consttuigao obrigando ‘© egislador complementar, ou mesmo o legislador ordindrio da Unido, a s6 fazer sci je a nei Sac . 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Ama a ngs dns ‘acc tras ep «pees da erties ene a Europ ale viene. Depot ‘eto omer sen bniger pane no sain nade esas deat Er cc. 29) No Diino Ineo o Brel bano ua Co cone ea Ai qo a ‘Coin ato 6 ni 90 Revista Dialtice do Dirsto Tibutdrio nt 196 incidir 0 seu imposto de renda sobre situagBes verficadas inteiramente dentro do territ6rio nacional. Pode-se dizer que o contrério &, ao menos, muito frequente" ‘Quando dispde sobre a transmissio causa mortis e doagio, de quaisquer bens ‘ou direitos (artizo 155, inciso I), a Constituigdo reza que, caso o objeto da transmis- silo causa mortis ow da doagio seam bens mévels,iulose eréitos, competente seré 0 “Estado onde se processar 0 inventério ou arrolamento, ou tiver domicflio o doa- dor, ou o Distrito Federal” (pardgrafo 1°, inciso ID). O critétio af € puramente for- ‘mai - 0 Estado ande se encontra a comarca na qual se presta a jurisdigio volunté- ria -, nada tem a ver com a materialidade da regra-matriz de incidéncia, e obedece a consideragdes eminentemente priticas, que repelem a conferéncia, & territorial dade, da generclidade peculiar a qualquer principio. ‘Um argumento, enfim, pée por terra, a meu Ver, o da doutrina prestigiada pelo ST), Nao hi um mm? do solo patrio que ndo componha o territério de urn munict- pio. A propriedade de um imével nio construfdo ¢ um direito da mesma natureza, independentemente da localizagdo do bem, de modo que a chamada materialidade dda hip6tese de incidéncia de um imposto que a atinja é essencialmente idéntica. No ‘obstante, a Corstituigdo defere a competéncia para instituir o imposto sobre a pro- priedade predic| ¢ territorial urbana aos municipios (artigo 156, inciso 1), 90 passo {ue a insttuigao do imposto sobre a propriedade territorial rural compete & Unio (artigo 153, inciso VI), ainda que o imével rural e 0 urbano estejam no mesmo “Municipio ¢ pertengam a mesma pessoa. I Isso de modo algum quer dizer, repto, que 0 fator ferrtério nio deva ser le- vado em conta pelo legislador complementar, 20 editar normas gerais com vistas a Girimir confites de competéncia. Conflitos de leis no espago se verificam, precisa- mente, porque ha fenémenos juridicamente regrados que espalham suas diferentes

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