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Robert Castel A INSEGURANCA SOCIAL O que € ser protegido? ‘Tradugao de Liicia M. Endlich Orth VOZES Petrépalis 2005 Ins prac | tosguanga soci Prot Pklonas BF © Editions du Seui ‘Titulo original francés: ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma clou quaisquer i g indo fotocépia e gravagao) 01 arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissi0 cserita da Editors, Edi raga Sheila Ferreira Neiva Projeto grifico: AGSR Desenv. Grifico Capa: Monique Rodrigues / Marta Braimnan ISBN 85.326.3109-6 (edigdo brasileira) ISBN 2-02-062349-8 (ediedo francesa) Est lint fo compose e impreso pela Fata Vores Lid Introducio, 7 1, A seguranga civil no Estado de dite ‘Modernidade e vuinerabitidade, ‘Seguranga piblica e liberdades piblicas, 22 2. segurane social no Edo protec, 27 A propriedade ou 0 trabal ‘Uma sociedade de semel 3. O crescimento da incerteza, Individualizagio e descol. (0 retomo das elasses perig 4. Uma nova problematic do rseo, 59 3s, perigos e danos, 60 izagdo ou coletivizagdo dos rscos, 64 5. Como combater a inseguranga social?, 69 Reconfigurar as protegdes sociis, 70 Segutizar o trabalho, 81 Conclusao, 89 Intaopucho edo civil que te eaters ber ies Fundameniais e detende a seg anga dos ben: decadéncia social. Deste duplo ponto de vista, vivemos, sem di da — pelo menos nos paises desen as mais seguras que ja existiram. Vistas da Europa Ocidental e da América do Norte, as comunidades que acabaram de ser pac as, devastadas por lutas internas, onde a justica era expedi parecem ser a ineranga de um passado quo. O proprio espectro da guerra, esta terrivel geradora de éncia, parece distante: ronda agora e as vezes atinge am: violGncia nos confins do mundo “civilizado”. Também alas dendsaquela inseguranga social permanente que resultava da vul- nerabilidade das condigGes e condenavs outrora uma grande parte do povo a viver “ao Deus dara”, mereé do minimo acidente de ppereurso, Nossa vida nfo se desenrola mais do nascimento a morte sem redes de seguranga. Uma bem chamada “seguridade social” 7 dticas diferentes, porque a seguranga c 108 de protegio que specifica dessas relagdes ambiguas: protegi ‘ou seguranga-riscos, na sociedade contempor ‘Vamos propor aqui uma pretenso de que dericos quete grimas, € até que pontoa vida anterior era nude e eruel ise politicos tais que faz. violencia nplamente estranguladas, a pre: ica uma verdadeira preocupagio pop mento destes tipos de sociedades. Mas cesta busca sc asscmelha cm certos aspectos aos esforgos emprega- encherum tonel d ides que deixa sempre escoar 0 eda decadéncia social for cupagdo coma seg no sentido estrito do te Como explicar este patadoxo? que nao se deveria opor insegurai antes o efeito de imente construida de pro- ncessem a dois registros contririos da experiéneia coletiva, A tegdes eas capaci de uma determinada sociedade de seguranca moderna nao seria a falta de protegdo, mas antes scu coloci-las em pratica, A inseguranga, em suma, é em grande parte inverso, sia sombra projetada num universo social que se ors 0 reverso da med: ia Sociedade de seguranga, 4 ldealmente, deveriamos no presente retracar a historia do es- tabelecimento desses sistemas de protegao e de suas transforma- {Bes até o momento —hoje—em que sua eficicia parece nao fun cionar pela complexificagio dos riscos que eles supostamente es Jo aparec de novos riscos de no formas de sensibilidade aos riscos. Programa que, evidente- ‘mente, nao podera ser completamente realizado aqui. Vamos con- tar-nos em esbogar esta trajetbria a partir do momento em quea problemitien da protegao se redefine em torno da figura do indi das as sobrtudo vivercoeado de satomas de argu nga que sto construgbes complexas e frigeis que trazem em si mesmaso risco de falar em sua tarefa ede dee ipa A vat ais Sta que 8 Goto Ge n dado imediato da consciéneia, Ao contriio, guranga no & inseguranga social duo moderno que istire- sos também na diferenga entre dois tipos de “cobertura” que ten- tam estrangular a inseguranga. Hit uma problematica da protegao civil ejuridica que remete & construgo de 20s obsticulos verificados das ex I que remete & const as para que cle por 2.08 prin . Esperamios que a questo da inseguranga contempor Possa esclarecer se conseguimos : da impossibilidade de recobr fas ordens de protesao. Talvez est nto. em condigdes de compreender por ‘completamen- ‘ muito bem que a segurat outorgada, nem mesmo conquistada, porque aaspira wido se desloc: dos, Por consegui , uma reflexdo sobre a protegao civil ea protegio social deve nb iar-se sobre a prolifcrago contemporinea de uma aversiio ao risca que faz com que o individuo contempordineo ii proteger-nos ~a nio ser Deus ou a morte ~ se, para estar plena- 10 descobr 10 que se exige hoje para enfrentar da inseguranga: combater os fatores de ar livres de todos os perigos, mas talvez tenhamos a chance abitar um mundo menos injusto ¢ mais humano. 7 “A SEGURANCA CML NO ESTADO DE DIREITO idadec depende da foi ios. Pode-se entio falar de protegao préxima. Assim, a ye dominaram lelamente, na cidade, a pertenca jjurandos, corporagdes) insereve ‘mesmo tempo de nga ao preco de sua dependén- yesmas sociedades es a grupos de profissionais ( seus membros em sistemas fortes stanto, por si mesmas, clas estdo, isseguradas”: protegem seus membros com base em redes fechadas de dependéncia ¢ de interdependéncia. A inseguranga social Nessas sociedades —euja descrigao somos obrigados ficar aqui ~ também ex: seguranga inte m direito, sem constituigio politica e ncorréncia desenfr duos entre wuerra de todos contra todos. ma sociedade de inseguranca total. Livres de ivem sob 0 signo da mesmos 0 poder de Seria, portanto, todo regulamento col ameaga permanente, porgu em vio, alids—erradicar Jo intema e de in- ndos representavam. Se qui istoria da inseguranga e da luta contra ‘opersonagem princi ria o vagabundo, sempre percebido como pot dor, ¢ suas variantes abertamen Joss, Com0 0 lado, 0 ido, 0 outlaw — todos eles indi que representam umrisco de agressio eporqueo forte nais fraco que ‘-lo durante scu sono. Porconseguinte, & ide de ser protegido possa ser o impe- Iquer prego ica e de dissociagdo social, porque existem © agem fora de todo sistema de normas cole! mordial e absolutamente nece: das obrigagdes-protegdes tradi | Sabe-se que Hobbes viu na existér do absohuto Modernidade e vulnerabilidade o unico ntir esta seguranga das pessoas e dos bens, ¢ por isso ele geralmente ¢ malvisto. Mas certamente & preciso ter ‘Com oadvento da modemnidade, o estatuto jduo mudou um pouco da coragem intelectual de Hobbes para suspender por nente, Ele é reconhecido por si mesmo, independentemente ror legitimo que o despotismo do Leviata pode las isso nao quer di- a resposta, mas ua independéncia, ao co uma ne- ida, quem dewa primeira demo, inquietantee ide de seguranga que tem raizes antropologicas prof nte, do que seria de fato uma “sociedade de individuos”. “0 poder —diz Hobbes —se ele é extremo € bom, porque é Testemunha, através das guerras de religitio na Franga e da a protesao; ¢ € na protegio que reside a segurar Max Weber ordem social fun. -‘"&mbém dir, sob uma forma mais atenuada e que niio suscitow crengas tradicio- lio devexerclcio da Vidualizagao, che- ee deHIhbeS: (ciramente entregues a violéncia, Mas ha sobretudo uma contraparte 2. Thomas Hobbes. Le Li Pais Sigy 1971 1s sublinhada com men necessirios para govern dos os poderes politicos, o Estado absoluto lib do medo ¢ permite-thes existir livremente na esfera p horrivel Leviatd ¢ também este poder tutclar que permite luo existir como ele bem entende e pensar o que ele qu fimo, que administra o respeito pelas crengas antagonistas, (emépoca de fanatismo religios 19 € pouco) eacapacidade de cada um de fazer 0 que Ihe parece bom e de usufruir em paz os, frutos de seu trabalho. O prego a pagar ¢ bem caro, uma vez que se trata de renunciar totalmente a cios piblicos emsea «uz civil que s6 podem ser garanti- das por u bra do Estado pro hnustaco madera paterd Uvveaoata cultivar sua subjet A inseguranga social ‘mais ou menos acidental, mas uma dimensio consubstancial Acoexisténcia dos individuos numa sociedade moderna. Esta coc- xisténcia com o outro, sem diivida alguma, é uma chance, quando iio fosse porque € necessiria para formar uma sociedade, a despeito de todos aqueles que celebram ingenuamente os iver com” & uma necessidad tem seu custo, Hobbes colocou bem alto, ¢ eertamente alto de- ais, © prego a pagar para eft io. Mas se é verdade queai é ncial a uma sociedade de indivi- duos, e que se deve combaté-la inevitavelmente, a fim de que cles possam coexistir no seio de um mesmo conjunto, esta ex io se- ce cabe ao primeiro chefe instituir um Estado vo para desempenhar a fungao de prover \bdinos, dotado de um poder efet as protegdes ¢ garantira sogu Aliiis, se Hobbes de to dcida, exa- zmais do que antecipar sob uma for 1 paradoxal e provocadora uma parte importante do que va nar-se a vulgata dos liberais, cujos tragos podemos encontrar até os nossos dias. A comegar por John Locke, que passa por set o pai is complacente do liberalismo, Trinta anos depois de Hobbes, nem moderno que, através mento de suas atividades, constrdi sua inde- 4a com seu trabalho e se torna simultaneamente pr io de si mesmo e de seus b A inseguranga social hhumano é senhor de ‘des-edotrabatho desta mes- ia, da doenga, trabalhar. E a par- niio podendo ser comprado pat voto, nem intimidado para constituir-se uma clientela. A propric= dade numa Repiiblica moderna, cuja configuragio é tragada por Locke, é 0 suport \ ser reconhecido como tal de um Estado é necessiria para que 0 individuo possa dispor da i- berdade de desenvolver seus empreendimentos ¢ usufruir em paz 05 frutos de seu trabalho, Isto & t2o certo que Locke vé ai o fu ‘A inseguranga social propriedade dos bens, ‘mesmo que estes bens tomam ppossivel, a condigao da liberdade c da independéncia dos cidadaos. Os homens, diz Locke, no é 0 Leviatd de Hobbes. Ela poderé is, formas de representagio democratica certo ponto pelo menos, a expresso da vontade iado liberal, cujo modelo foi tragado por Locke e ques ri com o mandato inicial que guranga, proteger as pesso: peito ao mesmo tempo de Isto no é contraditério. Este Estado é um Estado de direito que se concentra em suas fungdes essen 10 da ordem pibli- cae de garantia dos iuos. E proibido, menos em prineipio (pois nos fatos as coisas serio mi plicadas), imiscuir-sc nas outras esferas, econémicas € so% Sociedade. Mas 0 Estado seri ao mesmo tempo rigoroso na defesa da integridade da pessoa e de seus direitos e implacvel contra os ig0s ca propricdade (sangdes do cédigo penal contra os aten- também represstio, que podera ser violenta, is de subversio da ordem proprietéria). Res- nos a um julgamento de ordem moral, podemos cenun- ciar uma contradigo no funcionamento do Estado liberal. Ser-Ihe-a A inseguranga social to, defendendo os direitos civis e a integridade das pessoas’, mas haverd indignagio pelo fato de ter sido este mesmo Estado quees- dos operitios paris is forgas armadas ow as 1 da Guarda Nacional. Mas pode-seatenuar esta aparente con tradigio compreendendo que o fu é exatamente assegurar a protegio 10, aprotecdo das pessoas é eco de seus bens. Seu mandato manuitencao da or dem, através de operagdes de poiicia, & defesa da ordem social fundada na propriedade, se for neces fando, “em caso de forga maior”, meios 80 ou por inconseqiiéncia na categoria dos irc sagrados na De dad, 2, Este esforgo vai esigualdades reais osenodzpendi da piso, Opro- femilkaresde pessoot cn 2» Prayile que ot rete, Arte de plo guth, Deprabatades ‘A insepurangasoeal antropolgico profundo, porque ela aparece — Locke foi um dos. primeiros a percebé-lo —como o alicerce a partir do qual o indivi- ‘duo que se livrou da protegao-sujeigao tradicional pode encontrar apenas pelos conservadores ¢ pelas correntes mais moderadas (burgueses, se quisermos), da época pré-revoluciondria ourev' ria, mas também por seus repres ropriedade, mas restrin acesso de todos 0s cidadaios ela, Robespierre quer redefinir 0 mites da propriedade pela lei Saint-Just sonha com uma Repiibli os, inclusive para defender a patria com am efenderiam assim a0 mesmo tempo a Repii to de cidadaos adossado a propriedade: “As propriedades dos pa- ttiotas sao sagradas™. Somente grupos extremamente marginais pensaram e agiram além deste horizonte da propriedade pr como os babovistas que pagaram com a propria vida. Mas eles ceram ultraminoritérios e estavam fora do campo da construgio do Estado modemo tal como ela prevaleceu até os nossos dias (com excegiio do que se passow no leste da Europa ¢ em outros lugares no prolongamento da Rev hevique de 1917, mas isto é A ins Seguranea pitbliea ¢ liberdades pibli dos individuos, fundada vada garante, no sentido p vida social (em caso de‘doenga, de acid c.). Ela toma init “o soci détficit de recursos neck proprios faz justi (€0 trabalho das “forg: como se supde, a segul da orde! soctae, Pai, 2 essencial de salvaguardar a independéncia dos pelo desenrolar ‘a0 mesmo tempo a prote- no Estado de d lode que a propriedade pri- 5 reveses da lecidos para compensar 0 rer em sociedade por seus ios podem proteger-se wdo seus prOprios recursos, © podem 3 5 5 g iberdades funda ico da vida social que garantem no cotidiano, nga dos bens e das pessoas). 1902, 9.6 A inseguranga social somente soo poder idades de atentar de esmagar sem net contraa seguranca ‘ou menos demoeriit do despotismo ou do total pode ser protetor a aquele que Hobbes ca existéneia de princi separaciio dos poderes, 0 ct icio de um poder absoluto c eri mte, as condigdes de mente comandadas pela preocupa- sho exclusiva da eficdcia. De modo mais geral, quanto mais um Estado se afasta do modelo do Leviatd ¢ desenvolve uma sgurara protegao abs Perar esta contradi¢io seria necessirio, como Rousseau ja viv "muito bem, que todos os cidadios fosscm virtuosos, ou que fos- 2 rang dos a tomar-se virtuosos. Mas todos 0s cidadiios niio nga absoluta dos bens e das pessoas jamais ser’ completamente assegurad: crito no ceme da aplicagao da li. lizagdo de processos cada vez mais complexos que mantém e até aprofundam a distancia entre o que prescreve a or informa as priticas sociais. tomou na Franca, por oca se nos dias de pessoas numa so- ciedade como a nossa, comparada, por exemplo, com o que acon- {ece hoje com mais da metade do planeta, ou com o que acontecia na Franga hd um século™. Mas nem por isso. aque traduz um tipo de relagao como Es modemas. Porque o individuo & super porque ao mesmo tempo se sente frdgil e vi Estado qule o proteja. Assima “dem ‘aparece m forte nas sociedades modernas do que nas sociedades que as pre- ipagao em grupos de pert fe a pressao se exerce essen\ Estado, que corre o isco de ser censurado de ser muito invasor. Mas se ele protende serum Estado de direito, s6 pode decepcionar de, O génio de Hobbes nos ajuda a tomar consci que estrutura a problemdtica da seguranga ci modemas. Nessas sociedades de individuos, a demanda de prote- Gio & infinita, porque o indi protegio de proximidade, ¢ mento no quadto de um Estado absoluo (aqucle que Hobbes via por isso é que ta irons bem real do sentimento contempordneo de inseguraga Pode portanto ser compreendido como um efeito vivido no cotici- exacerbadas de um recurso ao dircito em tod ia, 416 as mais privadas. O ser humano moderno quer absolutamente {ue The seja feita justica em todos os dominies, inclusive em sua ci aos advor seguranga es de sua vida cotidiana, o que desta vez 25 seguranga so abre caminho & onipresenga dos policiais. Essas duas podem recobrir-se completamente, deixam s1 cia que nutre o sentimento de inseguranga, Mais ai se aprofunda entre um legalismo que se reforga ¢ uma demanda de protecdo que se exacerba, Assim, a exasperacio da preocupacio securitiria gera necessariamente sua propria frustragio, que nutre ‘© sentimento de inseguranga, Talvez se trate de uma contradigdo inerente ao exere democracia modema. A contradigdo se exprime pelo fato de que a ito, mas que este direito pode sem di cumprir-se plenamente sem mobilizar meios reconhe: vente neste momento, que a demanda de seguranga se tradu imediatamente poruma demanda de autoridade que, se cla for entregue a seus proprios arroubos, pode ameagara democracia. Um governo democritico é colocado aqui em mi posigtio. Exige-se, de um lado, que ele garantaa segu- Wea €, de outro, cle-é condenado, reprovando-se seu /axis caso tenha caido nele. Mas seri que o excesso de autoridade cexige de um Estado de direito pode exereer-se num quadro vert deiramente democritico? Quer se trate da “guerra contra o terto- como ela & conduizida pelos Estados Unidos, ou d Iernciayzero” pregada na Franga cont ai ito bem que Estados que divulgam sua fideli tos hum 10 de querer dar a este respeito ligdes 10 resto do mundo, -agados de escorregar compre uese 6 2 A SEGURANCA SOCIAL NO ESTADO PROTETOR «a social como a inseguran- estar ao abrigo igni Portanto, o sentimento de inseguranga : ered dess lades. Por exemplo, seja ela devidaa doi 0 desemprego ou idade om ra- n evento que compromete a eapacidl duos de assegurar por si mesmo sua independéncia social. no estiver assegurado contra esses imprevistos, vive na insegu- neia secular que foi partihad: de parte do que se el Bemnocomeco dose representante dos pequenos assalariados da época, diaristas, ma- nobreiros, “carregadores e trabalhadores bragai Be A inseguranga social ‘A inseguranga soe A form exatidio a si tral. Mas cla traduz sobretudo com mui A propriedade ou 0 trabalho ida outrora pela n lares, em particu! sto central nao foi absolutamente levada em consi- ara sobrevi c deragao na légica da construgao do Estado liberal. Houve, em par- ticular por ocasizo da efervescéncia revolucionsria, uma certa to- mada de consciéneia da gravidade do problema. Esta intervengio ida por um deputado da Montagne, Harmand, na ses= ‘da Convengio de 25 de abril de 1793, ¢ fora de tempo, impressionante: Os homens que quiserem ser verdadeiros confessartio ado igualdade po- misativogoda © desejo A propasito desta dimensio maciga da problemiética da inse~ guranga, a idcologia da médernidade que se impde a partir do sé culo XVII comprovou, pelo menos num primeiro tempo, um formidavel indiferenga. Sublinhou-se que sua concepgao da inde- pendéneia do individuo se construiu através da valotizagao da propriedacle, acoplada a um Estado de direito que supostamente inga dos cidadiios. Esta con mentea questo do estatuto, ou da falta deestatuto, do indi viduo nao proprietirio. O que ser de todos aquele no ta base de recursos Totnes tigentacaseaceccamte pres | obra pet gece manne) pee Marx, mastum autorobscurodo fimdo séculoXVINl,“aclassenio | fghbe um obstieulo intransponivel& realizagio deste “desc proprietiria”?" Os individuos privados do suporte da propriedade ‘ slo assimilados, por um e recido como o abbé Si- cyés, a uma multidio imei pedes sem liber= dade, sem moralidade, possuindo apenas suas mios, que pouco a alma absorvida”, ‘mais numerosa dos cidadios” é 0 con- stituigdes sociais proporciontr a0 homem esta igualdade de ccusou sem atingir os propri A questi é exatamente esta e, 4 época, ela nio podia rece- ber outra resposta senio 0 comunismo. Neste sentido, Gracchus 793, citado por Marcel, 1989, p21 ‘A inseguranga social Babeuf responde diretamente a Harmand, mas o lastimiivel fra- easso da Conspiragio dos Iguais mostra ao mesmo tempo que no do século XVII est a levava a umiy impasse. Tudo se do século XIX, pelos responsaveis pol ram para a edificagiio do Estado moderna, O lei cegoismo, desprezo de com Peter W: © projeto de Declaragao dos Di sociedad liberal formulada por exempl reitos Humanos edo Cidadio impasse sobre as condigdes sociais da ios liberais foram consideraveis ¢ de: intagdo dos print trosas. Nao foi apenas a “Furopa Oeidetal, depos hhunanidad, {A insoguranga social izagdo e de suas , mostrada nas iniimeras pinturas do auperismo” do século XIX. Foi de modo mais geral a perpetua- 20 de um estado de inseguranga social permanente que afeta a a das categoria populares. Eu diria “que infecta’/A inse- age como u ‘maneira de lagos sociais iduos. Ela induz uma “cor- a expresso que Richard Sen- Estar numa inseguranga per- nem antecipar po- rostio do cat ranga social faz desta vida um com! apés dia, cuja saida & cada vez mais incerta. Pod: desassociacdo social (0 contritio de coesio s nome a este tipo de sit XIX, condenados au inseguranga permanente por falta de ter 0 n sobre 0 4) Tal é face sombria do Estado de direito. Ele deixa “ao Deus dara” a condigao daqueles que nao tém os meios de assegurar sua existéncia pela propriedade, Agindo assim, ele clude a ques vantada por Hobbes de uma maneira paradoxalmente critica, pois ela se refer xavam do mesmo mal em ‘membros deuma soci ti: como proteger fodos os tira seguranca de todos os jos/nio-pro- individuos no quadro da Nova forgus: WW Morton and § A insoguranga social sua critica sobre este ponto é to deixa inalterivel a condigo social de la por uma inseguranga permanente, Como se saiu desta situagdo? Em outras palavras, como se chegou a veneer ai (Social) garantindo a protegio (So 1) de todos ou de quase todos os membros de uma sociedade “‘modema para i \ ede todas as va lo protegdes fortes ao trab; n novo tipo de propriedade, concebida emp a reabi Flos, a propriedade social. Ou seja, esquemat sto dessas duas proposigSes que coineidem protecoes ¢ direitos & condigiio do de ser uma relagi0 c, a exposi- trcitamente, treum empregador todo-poderoso ¢ um assa trabalho tomnou-se emprego, isto &, um Estado dotado de um esta \ tudo que ine ias nao comerciais, como o dircito a um saki- ii 0,38 protegdes do dreto do trabalho, a cobertura dos ie sonia: angustiada com o ama- -Ninseguran hi. Ela tomow-se a condigdo salarial: de recursos € d los. partir do tral sociedad na q lagao do estatuto do trat Segunda maneira de qu jal que representa vada, uma propriedade nte somente eram propiciadas pela propriedade privada, Suponhamos, por exemplo, a aposentadoria. de seg, i A inseguranga social partir do trabatho. Ela éa propriedade do trabalhador, co io segundo a ldzica domercado, (0). Poderiamos dizer que lade para a s ranga, que garante a seguranga do trabalhador fora do trabi Eevidente quea apenas um exemplo dos be- neficios da propriedade so jos exire temodestos (a camponeses, si mesmos, na ldgica da propriedade privada). Pode-se compreendera exte ma forma de propriedade social como a aposentadoria vem assegurar a grain~ de maioria dos membros da sociedade salariada. Paralelamente ao ar aqui 0 conjunto lano completo de seguridade social visando assegurar a todos os cidadios meios de vida em todos os casos em que eles sio incapazes de prové-los por seu trabalho, com gestio gue sssados ¢ do Estado”, ositivos. O deser ‘mente cocxtensivo a expansio das protegies. O Estado em seu pa- ‘A inseguranga social pel social opera essencialmente como um redutor de riscos, Por intermédio das obrigagdes que ele impde e garante pela le mos entioa que “o Estado seja el Uma sociedade de semethantes assou Portando, da. P igoes soc igualmente evocada por Harmand. A socie fortemente diferenciada c, pa tempo forte trabalho ¢ protegao so Sociedade mostro1 ndo-proprietiri proprie! jos.as condigdes de sua protesio. O o que permitiu a c Entre 1953 ¢ 0 comeco dos ai vvezes maior da prod iades c da inseguranca wradeum sindi- A insep de satisfacito adiad gressiva ede precaric progresso so (0 como a poss fsturo, Uma erenga como esta s lade de tomar ini 0: farer empreé programar o ingresso dos filhos tivas ¢ desenvolver nya social crever-se numa trajetéria ascendente que maximiza o estoque dos recursos comuns e reforgs o papel do Estado como regulador des- sas transformagoes. Pois este periodo dle crescimento econdmico Wo forte do crescimento do Estado que garante ssforga-se para pilotara econo- noe elaborar compromissos entre os di- ferentes parceiros implicados no processo do eresci Vere- mos como o questionamento desta dindmica péde ter como efeito nddo-se de descobrir os fatores que permitiram estrangu- E preciso colocar 0 acento numa segunda determinante, desta vez estrutural, a saber, que a aquisigao das protegdes soci inserigao dos individuos n ele pertence. O ter tem menos importincia do que 9 es- tatuto coletivo definido por um conjunto de regras™ quase nada, razio pela q de vender sua forga de 1 profindamente desigual entre dois individuos, em que um pode impor seus condigées porque possui recursos para levar anegocia sto 1 totalmente ao outro. duo isolado que contrata. Ele se apdia num conjunto de regras que anteriormente € coletivamente negociadas, e que sio a ¢x- fi 1misso entre parceiros sociais coletivamente iduo insereve-se num grupo pré-constit ante do empregador. Segundo a expressio consa- 26, H.Manefeld “Ladifctema dlastcunté propria Scuite dit’ a. 30 nsepuranga social ndo se tem questdes a fica que nao io mais em relagio uns com os 0 Pode-se ‘goes dasocie pertenga a conju cia de las por regulamentagdes ¢ que sociagdes de trab: do direito do 16m geralmente um estatuto ju dicatos, regt pareceram completamente, esto muito enfraquccidas, éa cia do grupo que pode dar seguranga ao so complexos, frigeis de alto iretamente 0 individwo como fi ma forte de- custo, Eles nao c ziam as Brotegdes pro) suscitam também ‘compreender que os Estado social ligados ao enfraquecimento, to das associagdes, decorrentes do creseimet to da forga dos processos de individualizagao, possam contentar-se com uma clevagio maciga da inseguranga social 40 O CRESCIMENTO DA INCERTEZA Podemos interpretar globalmente a “grande transformagio" que afeta nossas sociedades ocidentais, ha mais ou menos um coletivas que se desenvolveram desde o fim do séeulo XIX para da modemidade, a di sociedade os princi igualdade dos direitos, Uma sociedade nao pode fundar-se ex- ices contratuais entre indivi- (0 bem Durkheim, test lo XIX, da Fal ives dela mse opel

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