You are on page 1of 6
ERIC WILLIAMS Capitalismo e escravidao Tradugao Denise Bottmann Prefiicio a edigao brasileira Rafael de Bivar Marquese ’ Tontpannia Das LETRAS Copwright © 1944, 1994 by The University of North Carolina P Teas, renovade, em i972 por Er Willams, Gnafia atwalioada eegundo 0 Aconte Ortey que entrow em vigor no Rraal ¢ fico da Lingua Portuguesa de syyn 2009, Titulo oreginel Capitalism and Slavery Cape Vietor Burton Fote do autor The Eric Williams Memorial Collection, The Alma Jordan Library, The University of the West Indie Preparagao Osvaldo Tagliavini Filho St. Augustine, Republic of ‘Trinidad and Tobago Indice remissivo Luciano Marchiori Revisao Marise Leal Ana Maria Barbosa Dados Internacionais de Catalogacdo na Publicagio (ctr) (Camara Brasileira do Livro, sp, Brasil). Williams, Eric Capitalismo ¢ escravidio / Eric Williams ; tradugio Denise Bottmann ; preficio Rafael de Bivar Marquese. — 1. ed, — Sao Paulo : Companhia das Letras, 2012. ‘Titulo original: Capitalism and Slavery. 1SBX 978-85-359-2050-5 2. Capitalismo ¢ escravidao 2. Comércio de escravos ~ Gri- -Bretanha 3. Industria ~ Grd-Bretanha ~ Histéria 1. Titulo. 12-0839 094 Indice para catélogo sistemtico: 1. Estados Unidos : Capitalismo e escravidio Economia: Historia 338.0941 [2012] Todos os direitos desta edigdo reservados & EDITORA SCHWARCZ S.A. Rua Bandeira Paulista, 702, ¢j. 32 4532-002 — So Paulo — sP Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 Wane camnanhiadaclatens nase he isso, constitufam “os ativos mais titeis” de uma fazenda.”* Segun do Eddis, os negros estavam “em quase todos os casos em condi- ges mais confortaveis do que o curopeu miserdvel, sobre o qual © fazendeiro rigido exerce um rigor inflexivel” Os fazendeiros viam os engajados como “lixo branco’, e eram agrupados com os Negros na mesma condigao de trabalhadores bragais. “Nenhuma dessas coldnias teve ou terd qualquer methoria consideravel sem um abastecimento de negros e engajados brancos”, declarou o Conselho de Montserrat em 1680.”> Numa sociedade europeia que considerava essencial a subordinacao, na qual Burke podia falar dos trabalhadores como “rebanho miseravel” e Voltaire co- mo “ralé”, e Linguet condenava o trabalhador apenas ao uso dos musculos, pois “tudo estaria perdido se ele soubesse que tem in- telecto””® — nessa sociedade nao é preciso procurar muitas expli- cagoes para a condi¢ao do engajado branco nas colénias. Defoe declarou sumariamente que o engajado branco era um escravo.”’ Nao era. A privacao da liberdade do engajado era por tempo limitado, o negro era escravo por toda a vida. A condi¢ao do engajado nao se transmitia aos filhos, os filhos dos negros her- davam a condigao da mae. O senhor jamais teve controle abso- luto sobre a pessoa e a liberdade do engajado, tal como o tinha sobre 0 escravo. O engajado possufa direitos — limitados, mas re- conhecidos por lei e especificados em contrato. Tinha, por exem- plo, um direito limitado a propriedade. Na lei positiva, 0 engaja- do nunca foi equiparado a um bem mével ou imével. As leis nas colénias mantinham essa disting4o rigida entre pessoa e coisa, € impunham penalidades severas & coabitacao das duas ragas. O en gajado, ao término do contrato, podia esperar receber um lote de terra, embora, como Wertenbaker aponta no caso da Virginia, iss0 nao fosse um direito garantido por lei,” e as condigées variasse™ conforme as coldnias. Assim, o engajado europeu podia esperar na América uma liberdade que a servidao feudal nao lhe concedia. Ao se desobrigar a a At dO COntrate. ine saeaae HON Ke tornavam peque Os AHLALLES HO Inte cr id ' MUNLEHION UM Longa demo Hatori num, a At Ht sociedade de grandes fazendeios ATISLOCTALICOR, @ for ve 4M 08 pioneiros na ex- 4 Por isso que Jefl span Crson, na Améri Savoy em Cuba, preteriam ayados sem ajados curopeus em pois cles apont erdelay CNYO para a avistocracia,” pansado para o Oeste, Ee entrada de eng vez de eseravos africanos avam para a demo- A instituigao do contrato de servigo a termo de brancos, po- ava sérios inconyenientes, Postlethwayt, rigido mer- cantilista, sustentava que os engaj deriam a rem, Apresent jadlos brancos nas coldnias ten- ar Concorréncia com o reino no setor manufatureiro, cravos Negros na agricultura do que engajados brancos na indstria, que incentivariam as aspiragées de independéncia.” Além disso, 0 fornecimento estava ficando cada vez mais dificil, e a demanda das fazendas superava 0 nttmero de condenagées na Inglaterra, Ademais, os negociantes de mao de obra estavam en- volvidos em muitos processos caros e incémodos, movidos por pessoas que manifestavam disposi¢do de emigrar, aceitavam rou- pas e alimentos dados em adiantamento e depois ingressavam com uma agio judicial por detengao ilegal."' Os engajados nao chega- vam a América em quantidade suficiente para substituir os que haviam cumprido o prazo do contrato. Nas fazendas, para 0 en- gajado branco era facil fugir; mais facil do que para ° mele ° qual, se era alforriado, costumava, por uma questo de autode- i ido e estaria fesa, continuar na mesma localidade onde era conhecido e gitivo ou vagabundo. O en- Melhor es menos sujeito a ser capturado como fu Te pnegesnuifh gajado esperava receber terra ao termo do contra 5 facets ambiente estranho, destacando-se pela cor € Pe - ia jamats vir rando a lingua e os costumes do homem branco, P vaciaie ficava a ter acesso a um lote de terra. Com as ce ec orranedt mais facil justificar e racionalizar 4 escravi cdo ou afumi ca uma obediéncia mecanica como a um bo! de trag: ale de carga exqaraquela Feaynagde 6 aquels vahy de morale intetectaal indispenebeer: paca a erie cecravo Bor fin, e este era e Paton deciiva, « mais harato, OF dinero por des anos de tery Come deca comprava toda a vida de um negro nador de Barbados, as fazendeiros locais descobrig yn nena que “tres pretos trabalham melhor e mass um branco"* Mas a experiéncia com o engayamento branco tinh, preciosa, O sequestro na Africa nao enfrentava as dificulds de surgiam na Inglaterra, Os capitaes ¢ os navios tinham a¢ Xp cia de um para orientd-los no outro. Bristol, o centro do traf de engajados, tornou-se um dos centros do trafico de escravos. capital acumulado num financiou 0 outro. O servigo forcado bran co foi a base histérica sobre a qual se edificou a escravidio negra Os feitores dos degredados nas fazendas nao tiveram dificuldade em se tornar feitores de escravos. Escreve o professor Phillips: “Em larga medida, os africanos chegaram depois, inserindo-se num sistema jd desenvolvido”™ Eis ai, portanto, a origem da escravidao negra, A razio {ol econdmica, nao racial; nao teve nada a ver com a cor da pele do tabalhador, e sim com 0 baixo custo da mao de obra, Compatt™ da av trabalho indigena e branco, a escravidao negra era muite Superior, “Em todos os aos’, escreve Bassett sobre a Carolina do Norte, “fo sobrevivéncia do mais apto, A escrayidao do indie Coenpai do “Déajamento do branco cederam diante da maior resisténe! mcilidade €ta cabelo, pacidade de trabatho do negra.” Suas teigoe amplan “ore a denticao, suas Caracterfsticas “sub-humanas” "? : heme invocadas, nao Passaram de racial savam de mao de obra e recorreram ao trabalho negro porque era o melhor eo mais barato. Nao cra uma teoria; era uma conclu- sao pratica extraida da experidncia pessoal do fazendeiro. Ele iria até a Lua, se precisasse, para conseguir mao de obra. A Africa fi- cava mais perto do que a Lua, mais perto também do que as terras mais populosas da India e da China. Mas estas também teriam sua vez. O engajamento de mao de obra branca é de importancia fun- damental para entendermos o desenvolvimento do Novo Mundo eo lugar do negro nesse processo. Ele destréi o velho mito de que os brancos nao aguentariam os rigores do trabalho bragal no cli- ma do Novo Mundo e que por isso, e apenas por isso, as poténcias europeias tiveram de recorrer aos africanos. E um argumento to- talmente insustentavel. Um ditado do Mississippi diz que “s6 ne- gros e mulas conseguem encarar 0 sol de julho”. Mas os brancos encararam 0 sol por mais de um século em Barbados, ¢ os salz- burgueses da Georgia ficavam ofendidos a insinuagao de que o plantio do arroz podia lhes fazer mal.** As ilhas do Caribe ficam em plena zona do Trépico, mas o clima € mais ameno do que tropical; a temperatura raramente sobe acima de 26 °C e se man- tém constante ao longo do ano, ao sopro das brisas do mar. A umi- dade intoleravel de um dia de agosto em algumas partes dos Esta- dos Unidos nao encontra nada que se compare nas ilhas. Além disso, apenas o extremo sul da Flérida é realmente tropical, e ape- sar disso o trabalho negro floresceu na Virginia e na Carolina. O sul dos Estados Unidos no é mais quente do que o sul da Itélia ou da Espanha, e Tocqueville perguntava por que 0 europeu nao trabalhava ali tio bem quanto nesses dois outros paises.” Quan- do Whitney inventou a descarocadora de algodao, esperava-se que o algodao fosse produzido por homens livres em Pequenos sitios, ® Se o sitiante branco era desalojado de al- © que de fato ocorreu. . ra 0 clima, e sim a fazenda escravista, gum lugar, o inimigo nao

You might also like