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COLONIALIDADE DO SER E CORPORA- LIDADE: O RACISMO BRASILEIRO POR UMA LENTE DESCOLONIAL Juliana Moreira Streva Doutonenda em Dire na Prot Universtt Bri, bla da Ensen Foundation Ber da Ger Ima Ressarch Foundtin, Meteo Tenia do Betade Dire Constuciona pela Porc Unt vrtdade Cars do Ris de over, olista CNP Peequsedoe wit ntertianal Ving Fellow na Brown Univers em 2015, com aust deblsa da PUC-Rio. Greduade em Ditto com enfse em Estado e Sociedade na mesma institu, com Bolsa PIC da PAPERE ial: sea Hanacigmailcom RESUMO Este artigo prope abordar o racismo como mecanismo social de manu- tengo das relagbes coloniais de poder no Brasil. Argumentar-se-4 que a colonialidade em sua categoria “colonialidade do ser” € responsavel pela ‘constituigao da corporalidade negra (colonizado), assim como da branca (colonizador), por meio de um modelo humanista eurocéntrico vincula- do a um processo de objetificagio racista que se mantém atualizado nos dias de hoje, Para isso, serdo analisados conceitos centrais do pensamento FOUCAULT, Michal. im deed sacedade, Caro no Calige de France (1975-1970, Traducto Maria Ermantina de Almeid Prado Calvo. 2 dio Slo Palo: Martins Fontes, 2010. 26-1 + FOUCAULT, Michel. Op. Cit, 2010 p.24-25. Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 ‘abstrai’ ‘mascara’, ‘esconde’” (ibidem, 218)° Seria preciso caracterizar © po- der pela sua positividade, isto é, pela sua produtividade, como uma relagio «que produzalgo, pois, em suas palavras: “o poder produ; ele produz realida- de; produz campos de objetos e rituais da verdade. 0 individuo e 0 conheci- mento que dele se pode terse originam nessa produgao” (2010:16-18).° Logo, ‘© que faz com que um corpo, gestos, discursos, desejos sejam identificados e constituldos como individuos, sio precisamente as relagbes de poder. Nestes, termos, o individuo é um efeito do poder e é, a0 mesmo tempo, seu interme- jo: © poder transita pelo individuo que ele constituiu (ibidem,16)? ‘Tendo vislumbrado brevemente as nogdes de corpo ¢ poder, podemos adentrar no efeito das relagées de poder colonial na produgio dos corpos co- Tonizados, Em 1950, 0 pensador e poeta da Martinica Aimé Césaire enuncia 4 seguinte equagio em seu livro Discourse on Colonialism: “colonizaga cago” (CESAIRE 2000: 42).* Segundo Césaire, a “colonizacao” nao se trata de evangelizagio, ou de um empreendimento filantrépico, ou projeto tomado pela gléria maior de Deus, ou ainda de uma tentativa de estender a tegra do Diet (ibidem, 32-34)” A colonizagio diz respeito a coisificagio, dos corpos colonizados, ao ter suas “culturas espezinhadas, |. insttuigdes, ‘minadas, [.] terras confiscadas, [..] religides assassinadas, [..] magnificén- ias artisticas aniquiladas, (| extraordinarias possibilidades suprimidas > FOUCAULT Mich Viger Pani: Nascimento da prio [1975}.Tradasio Raquel Ramalhet, 20+ igo, ato: EaltoraVoos, 1999. p.218, (idem, FOUCAULT, Michel. Op Cit, 2010p. 16-18, © modelo “contrto-opresso” &o stems ALENCASTRO, Li Flpe 0 Tat doe Viens Forma do Brain Aliant Sl SS Pal Companhia das Letras, 2000, 9.53, 2 SCHWARCZ, Lila Motz. Op. C2 2012.p.5, % idem. p10 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 deveriam ser temidos e respeitados.* Em outras palavras, eram colocados na situagdo plena de objeto passivel de ser violentado a qualquer momento pelo poder absoluto do “senhor’, Darcy Ribeiro explicita que foi a espoliacao das Américas que possibi- litou as cidades europeias recuperar o brilho, implantando-se como metré- poles suntuosas e opulentas, e conferindo aos europeus um sentimento de superioridade e de destinagio civilizadora que passou a ser empregado para justificar 0 colonialismo como um “exercicio necessério do papel de agentes civilizadores, convictos de que representavam uma ordem moral superior € ‘© motor do progresso humano"™ Percebemos, assim, @ existéncia de uma ‘mio dupla: ao mesmo tempo que € construida a inferioridade do corpo ne- ‘810, € consagrada a superioridade do corpo branco. Neste sentido, 0 milagre da revolugao industrial curopeia, assim como. ‘ Renascimento eo Ihumi smo (Auufklérung)” estio baseados na reducio de homens ¢ mulheres escravizados & condigao de propriedade. Nestes termos, as primeiras maquinas da Revolugio Industrial nfo foram nem a maquina vapor, oua imprensa, ou ainda a guilhotina, mas sim o corpo escravizado, AA espoliago colonial passa a ser legitimada por um imaginério que esta- belece profundas diferengas entre o colonizador (soberano) e 0 colonizado (6iidito), como se fossem opostos, enquanto 0 segundo é caracterizado como. > ALENCASTRO, LaitFelipe. Op Git p14 RIBEIRO, Darcy.Op Gt, 197 p. 182. Apesir do Brasil no sustentarnotoriament lin inte ‘yal domovimento pe colonial ds Amrita, cabeescaresr a sproximaciodopensamento de Dare tendo om ist a perspactvn rte» desclonalempregnda polo str bral 8. nhecid por Walter Mignolo (em Hutéislocas’Projeos Clots. Clonalidae,saberes sub foros pensainent lina como intesocatr que extra 2 ado de Heariqae Dustel¢ Anibal ‘Qujano, por exemplo. Contorme realizado por Adela Hibeio,aalisar-se- acbra O proceso lati, de 1968, em se desaio as postulades da moderidadeocdental qu colonizaram 6 saber. 0 poder eo er dos povosdominadot. RIBEIRO, Adsia Miglvich, Darcy Ribeiro ea critica pi ccidental de Walter Mignl:notas sobre pracsox ciizatirios nas Amerieas, Revista Dien er wl. 29, 2012p. 282.283, Sepundo Focal, 0 Auflarang pode sri, 30 mesmotempo,como umn acontimentosingulat ‘Inaugurador da moeridade europea e come proceso permanente ue se manifest na hstria MENDES, joo Peo. Condenser sobre Humanima. HVMANITAS, Vo XLVI, 1995. p79. GONZALEZ, Enrique Gone, Hace na defini del tino humaine, Valen: Spars ela Revista Estas 15,1989... 2% MENDES, Joo Podru. Op. Gp 792. % Tidem.p.792, GONZALEZ, Enrique Goailer Op Cit 53 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 individuo. Explica-se que, no Renascimento, foi ciada a palavra wmanista, que era aplicada por certos homens de estuco que haviam criado o ensina- mento escolar das humanidades.® De forma complementar, a Encyclo Philosophique Universelle aponta que o termo untanistas aparece na Itslia no inicio do Cinguecento, cunhado por um professor de retérica."* Neste periodo histérico constitui-se como tema corrente no movimen- to humanista 0 menosprezo da filosofia identificada essencialmente com a dialética e a tradigdo escobistica.® Explica-se, juntamente com a pensadora descolonial jamaicana Sylvia Wynter, que Copérnico, a0 propor uma nova astronomia na qual a Terra esté em movimento ¢ o homem no esté no centro do universo, mas sim o sol, ompe com o pensamento escolistico hegeménico, teolbgico ¢ absoluto de sua época." Por meio desta virada copernicana, surge ‘© movimento humanista ~ studia humanistatis ~ que rechagava a escoléstica, nio por querer dar um nao & filosofia, ao direto e & teologia, mas sim a per- versio destas disciplinas. Foram, assim, em busca de um método capaz. de sistematizar o mundo dos conhecimentos optativos, questionsveis, dos juizos incertos, isto é, capaz de englobar as massas de novas informagdes que esta- vam surgindo.” Contra a “obscuridade” dos modernos ~ referente ao periodo. gtico e medieval -, enalteciam a “claridade” das letras, uma re-vivificagio, € no uma repeticio, do saber dos antigos.* Esta primeira nogio é nomeada por Sylvia Wynter como “Mant” (Homem!), responsével por relacionar a studia Ihumanistatis com a reinvencao do homo religiosus em homo politicus.” © idem. paz > MINAZZOLI A. Humanisme In: Encyelopée Phlsophique Universele/ Les Notions Plosophes. Dictionnate Tome 1. Volume rig par Sylvain Aurous. PUE, 1990p 1173 OSORIO, forge A Mumantsmo eHistria. Coimbra: Congress laternacioal Hvmanitas: Hume smo Portugués na Epoca dos Descobrimesto,.XLIN-XLIV, 1991p 47 % WYWTER, Sylva; MCKITTRICK, Katherine. Unparalleled Catastrophe for out Species? Or, t0 Give Huntanness Ditbren Future: Conversations. In: MCKITTRICK, Katherine (el). Syva Wynter: On Hing Hume as Praxis: Durham and London: Dake University Pros, 2035.9. 115 2% GONZALEZ, Enrique Gonziler. Op. Gitsp.58. idem > WYNTER, Syvia, Towards the SocigentcPrntple: Fanon, The Pusle of Conscious Experience, of Ide” and What Leto be “Black” Callstion of essy National entity and Sactopo lic Change: Latin America Between Margiizalzation and Integration, edited by Mercedes Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 A segunda vertente de leitura humanista (filoséfica) € atemporal ¢ informadora de pensamento, visio de mundo ¢ idealizagdes centradas no ser do homem, Apresenta, uma forma mais geral e representa a tomada do sujeito como tema filoséfic, isto é, a sua promocio teérica e a sua defesa de “natureza humana’, introduzida pelo humanismo clissice, que designa uma ética contra os riscos da opressio e da alienagao. No entanto, 0 con cesséncia estavel preenchida por atributos determinados, se vé abandonada em beneficio do conceito de “condigao humana’, “liberdade”, que reforgam ‘ tornar humano e sua capacidade dinmica do sujeito agir ivremente."*Syl- via Wynter nomeia a figura inserida neste segundo momento, localizado a partir do final do século XIX, como “Man2” (Homem2), que se articula com ‘© monohumanismo ocidental liberal, sendo considerado como o nico mo- delo de “ser humano” o homo veconomicus. A idia de ser humano, tida como 0 “Homem”, era assim construida na Buro- .pa como um modelo supracultural e universal. Sob a ligica binéria dle um monohu- ‘manismo, a figura tnica de “ser humano” se opunha a0 “Outro™, ito &, aquele {que no seinsore nos pads liberaiseutocéntricos, como o nativo, o primitivoe o selvagem. Segundo Césaire, autor com quem Wynter dialoga em seusescritos, ‘© pseudo-humanismo europeu foi responsivel por reduzir os direitos do ho- mem e de ter tido e ainda ter deles uma concepcio estreita, parcial, facciosa e sordidamente racista. Defende assim que, © pensamento racista europeu estaria mesclado ao pensamento iluminista intencionado a inferiorizar ra- ‘88, categorizar a sociedade em hierarquias tidas como racionais, exereendo ‘dominio na relagio colonial sem que houvesse sinal de protestos."" urin-Coga and Antonio Gomer Mariana Univers of Minnesota Pes, 199. p. 21-22. WYN, TER, Sas MCKITTRICK, Katherine. Op. Ci, 2015.10 © BAQUE, D; DUMAS, LL. Humanisme. In: Enjlopede Masaphigue Vivre / es Nouns Phlorphes Dictionnaire Tome. Volume drip Syain Auroux PUR, 190-p.1171-MENDES, Foto Pro. Op Git. p. 72. ‘© WYNTER, Spa, Op. it, 199.222. WYNTER, Sylvia; MCKITTRICK, Katherine. Op. City 201s.p. 192122. ‘© WYNTER, Sylva. Op. Ch, 199. 9.22. © CESAIRE, Aimé.Op.Ci-p. 37.38 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 Contudo, segundo Foucault, deve ser evitada a relacao simplista e con- fusa entre o humanismo ¢ 0 Iluminismo, De acordo com o pensador francés, o Iluminismo é um conjunto de eventos e de processos histéricos complexos, que est localizado em determinado momento do desenvolvimento das so- ciedades europeias. Jd o humanismo, em sua perspectiva, seria algo inteira- mente diferente, sendo conceituado como um conjunto de temas relaciona- dos com julgamento de valores, que tem reaparecido em diferentes ocasibes, ao longo des tempos, nas sociedades europeias."' Foucault defende como um fato que, pelo menos desde o século XVII, o “humanismo” foi obrigado a se apoiar em certas concepgdes de homem emprestadas da religido, da ciéncia ‘ou da politica, Além disso, acrescenta que o humanismo serviu e ainda serve “para colorir [racializar]e para justificar as concepgdes de homem recorridas Ipelos curopeus|"** Sobre a perspectiva critica quanto ao tema do humanis- mo, Foucault escreve: © que ex tenho medo sobre o humanismo é que ele apresenta uma certa forma da nossa ética como um modelo universal para qualquer tipo de lberdade. Eu acho que hi mais segredos, mais liberdades possiveis, e mais invengdes em nosso futuro do que podemos ima- giner no humanismo por ser representado dogmaticamente como todos os ladas do arco-irs politico". “FOUCAULT, Michel, Whats Ealghtenment In: LOTRINGER,Syivere Lotringer, HOCHROTH, ya (ed) Polis of Truth: Miche Foucault. Translated by Catherine Porter. New York: Semtex tig, 097 pint idem p23 “+ -Tadugioliveedoinglis “What am afiid of about humanism that presents a certain form of ‘er ethice a univral modal fr any Lind of fcadom I hin that there are more weet, mote posible resdoms, and more inventions in ove fate than we can imagine in humanism ate opraticallyepresented on every side ofthe political rainbow.” FOUCAULT, Michel. Truth, Pow: «Self An Interview wth Michel Foucault 1980) In: MARTIN, Lather Hs HUTTON, Patrick Hs (GUTMAN; Huck (ed, Teshnolaglesofthe Sef A Seminar with Mickel Fouult London: Teac, 1988. p.15, Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 © pensamento foucaultiano evita o questionamento abstrato sobre se «existe ow ndo uma natureza humana. Ao invés disso, centra-se na investiga- «0 sobre como o conceito de natureza humana tem funcionado em nossa sociedade, segundo uma histériae priticas sociais.* Nestes termos, Foucault ‘std interessado na anslise nas relagdes de poder nomeada de “sistemas pri- ticos", perspectiva também adotada por esse ensaio. Logo, ao analisar as relagies de poder coloniais pode-se apontar esta construgdo do “humano” racista como © homem europeu, branco, catéli- co, heterossexual, cisgénero, que constr6i nao s6 a imagem do “colonizador” como também a do “colonizado”, que & a negativa bindria da imagem do co- onizador (civilizado-primitive).* Na mesma dirego, Maria Lugones apre- senta a “dicotomia hierdrquica” entre o humano ¢ o nao-humano imposta as colonizados das Américas ¢ do Caribe pelos “homens ocidentais’, como. um elemento central da modernidade colonial, que opera por meio do bi- “© RABINOW, Paul Te Fouceult Reader NewYork: Pantheon Books, 1984.4, Assim, come defen sor inlectaal e polite da garatia de dterminidos diets humanos ~advogoabertamente ‘em defesa dos dirt dos prsiirios da comunidade LGBT e contro racsme -Fovcaut sla ce que apesr de ser cro ao humanismoe&univerelidade, reconhece a imporincapitica efetiva dos diveitos hunanos, Em suas plavas "Eu tento consieru os dicilos human em fa hist cea enguanto ato aditindo que exetauia natuesa humans”. FOUCAULT, Mi ll. Interview wth Jean Francois and John de Wi, 2 de mato de 98. ne HARCOURT, Berra RION, Fabienne (ed). Michel Faucaul-Wrong-Deng Tah Telling: The Function of Aso Isic. Trans Stephen W. Sawyer: Chicago: University of Chica Pres, 2014 p. 265. Tradasio lize do inglés “ryt consider human rights in thei istrial ely while not admitting that theresa human nature” Porto este reforgade por Foucault em seu debate com Chomsky gravado para um canal detelvio hoa ntl ima Nature Justice versus Power. Cf. ERIBON, Didier Michel Foucsuls wn bingrate Sb Palo: Companhia das Letts, 1990p. 223 p.208-209 €¢213, RASMUSSEN, Kim So, Foucoul's Ceneslogy of Racism. Theory, Culture & Society Vo. 28 (6,200. p. 35. GOLDER, Ben. Human rights wthou human. Cec Legal Thinking: Law & the Political. 28 de outubvo de 2015. Disponivel ems chtp/rtcallegalthinking com/2015/10/2/ human 1ights without umanism/> Acesso em: 20 de deembeo de 205. FOUCAULT, Michel Op. Cit, 1997p. 129-130. Estes sistemas patica dcortem de ets grandes seas lags de conttolesobeas cosas; lags de a0 sore os outros i) elagBesconsigo smosmo. E bem conhecide que contol sobre ascot medias por rages com or outros © rages com os outros, por sua vez mplca sempre reloiesconsigo mesmo. views Porta ‘sss ses poser se inerconectar Paalelamente srs ea, hi ts einos cv xpeciiade cujsinterconedes também devem er anallsados 0 exo do conhecimento,0 0 pode, 0e0 acti en. © QUIIANO, AnbalOp. Cx, 200.p. 42 An reo Revit tpi. 40, Ne sam 2016 narismo: tradigio-modernidade, emosio-razio, negro-branco, mulher-ho- mem, por exemplo. Sob a perspectiva da dualidade, acrescentamos © conceito de “dupla consciéncia” cunhado em 1903 pelo socislogo ¢ intelectual negro WEB. Du Bois, que representa o dilema de subjetividades formadas na diferenga colonial, experiéncias de quem viveu a modernidade na colonialidade. Essa dualidade (negro-branco) gera a sensagio no corpo negro de ter duas almas, duas formas de pensamento, dois esforyos inconciliéveis, “dois ideais em guerra em um s6 corpo escuro, cuja forga tenaz & apenas o que o impede de se dilacerar’** Fanon 0 acompanha em seus escritos, mostrando que de um dia para o outro, o(a) negro(a) teve que se situar em dois sistemas de referencia a elefa) imposto. Ontologicamente, 0 ser negro diante do branco er-para-o-outro). E em sua metafisica, isto é em seus costumes ¢ referén- cias que foram abolidos por estarem supostamente em contradi¢éo com uma ivilizagao” que Ihe foi imposta ¢ que no conhecia.* Nestes termos, configura-se a “colonialidade do ser” — termo sugeri- do pelo pensador descolonial Walter Mignolo” -, responsével por relacio- LUGONES, Maria. toward a Declonal Pom. Hypatis vl. 25, 24,2010, "+ Traducioivee do itioma eign “one eee el his two-nes, a American, Negros two souls ‘wo thoughts, wo uncon stings; two warting Wels i one dark Body, whose dogged strength ale kop from Being torn anunder™ DU BOIS, WEB. The Sols of lack Fak 903} Neve York: Dover Publications. 1994 9.2 FANON, Frantz. Op. Cit, 2008p 104, MIGNOLO, Walter. Dcolonizing Westen Epistemoo ‘piBaikding Decolonal Fpstemologhs. Tn ISASL-DIAZ, Ada Maras MENDIETA, Edtardo ed). Devolnising Epttomolagies Latino Thealogy and Plaaphy. New York: Fordhars Univerty Press, 2012 p.26, A cololalidade decabo arabo-ohemisiroccidental no horizonte conceital ‘éamodernidade. In: LANDER, Edgardo ong) cololalidade do saber erocentriem ecincias sects, Prspectivas Latino- Americana. Coleccion Sur Sut. Buenos Aes CLACSO, 2005. . 38, © Segundo Nelson Maldonato‘Tores,oconceta de colonalidade dose supa aolongo de conyers esenvolvids por um grupo de scadimics das Amnticas sobre a eagh entre 4 modernidade ‘ea experitaca colonial Ete estes acadeicos estavata Sango Casto-Gone, Fernando Co oni, Enrig Dass, Arturo Escobar, Ramin Grow, Eduardo Lander, Edsardo Mendicta, ‘Walker Mignolo, Anibal Quino, Ana Margatita Cervantes Rodger Joss David Saliva Frogs Schiwy e Catherine Walsh, entre outros. Walter Mignolo teria sido primero sugerroconeeto ‘de colonia do sr. CE MALDONADO-TORRES, Nelson, Sobre a colonalidad de se: en ‘ribucones al desarrollo de un concptn, In: CASTRO-GOMFZ, 5; GROSFOGUEL,R. (org) Fl sr decolonilReflsones praunadiversidad epistémica més all del captalimo global. Bogtk An reo Revit tpi. 40, Ne sam 2016 nar o colonialismo 8 nio existéncia do “outro”, que passa a ser submetido a ‘uma negagio sistemtica e a uma sobredeterminagio constante de sua es- séncia ¢ do seu ser. Conforme aponta Fanon, tanto a inferiorizaga0 quanto © sentimento de superioridade so construgies socioculturais impostas na colonizagio ~ e nao esséncias humanas -, que passam a fazer parte da colo- nialidade do ser mantida apés 0 periodo colonial. Conforme escreve 0 pen- sador martinicano: “precisamos tera coragem de dizer: 0 racista que cria © inferiorizado” (itélico do original)*evidenciando a construgio artificial, cultural e social ~ e ni no sentido de uma verdade empirica ou biol6gica -, nomeado por Fanon de “sociogeny’.* termo trabalhado com profundidade pela pensadora jamaicana Sylvia Wynter. Acolonialidade do ser atualizada ‘Tinka apenas sete anos,/ Que soto ancsl/ Nao chegava a cinco s9- quer!/ De repente umas voues na rua gritaram: Negralf Negra! ‘Negra! Negra! Negral Negra! Negralf “Por acaso sou negra” - me disse SIMY "Que coisa & ser negra2"/ Negral/ Eu no sabia a tris te vordade que aquiloesconcia/ Negral/ E me senti negra,! Nograll Como eles diziasn/ Negral/ Como eles dizi! Negral/ E retroced ‘Negral/ Como eles queriam/ Negral/ E odiei meus cabelos e meus ‘Universidad Jverlan-Istitto Pensa, Universidad Cental-IESCO, Siglo del Hombre Editors, 2007p 131 A topooga do Ser ea geopolitca de conhecimente, Modeemdade, mpi colonia dade, Revista Critica de Gitcias Soin, 8, Marg 200. PANON, Frastz.Op. Git, 2008.27.00 101. PESANTIZ, Catalina Lan. Aimé Cisse ylacons tui de los sues modenos dela caonizacion. In Hlclor de a ani Pesaro eco elas Americas. Universidad Andina Sin Bolivar, Sade Equador Corporacién Editors Nacional Roca, 2013. p97 © PANON, Frnt. Op. Cit 2008h p.x% WYNTER, Sylvia TomadstheSociognic Principle: Fann, The Pusle of Cnscious Bxperionseof “Ident” and What we Lieto be “Black” Colleton of essay National Identity and Sociopolital Change: Latin America Retwsen Margnialittion and Intgrtion, eid by Mencedes Dorin ‘Cogan and Antonio Ger Moriana, University of Minnesota ress, 199. p19 628 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 bios grossos/e olhei condenada minha carne tostadal E reteocedil Nogral/E retrocedi [1 Victoria Santa Cruz” Conforme visto na introdusao, diferentemente do colonialism, as for- ‘mas coloniais de poder nio se restringem ao periodo da colonizaglo, mas se atualizam ¢ so mantidas em diferentes modalidades no decorrer do tempo. Nestes termos, a “colonialidade do ser” desenvolvida no tépico anterior nao se limita a0 periodo de reyéncia portuguesa no Brasil, mas se mantém para além da independéncia e da aboligdo da escravatura, © argumento da harmonia entre as “ragas” passou a servir como co- rolirio da ideia de democracia racial, em defesa de uma almejada paz social, popularizada por Gilberto Freyre.*Logo, o medo branco da insurreigdo ne- {512 ps aaboligao da escravatura alavancou a camuflagem de um pats imer- so em discriminagées e desigualdades sociorraciais, para que fosse apresen- ~ ema “Me gritaron Negra, radu live do orignal em espanol: “Tenia sete aoe apenas pens site alos /,Que sete afost/NoIeyaba a cinco sgueral/De pronto unas voces ena calle! smegitaron;NegraliNeqra Nagel Nepal Nagra Negra! Negra |Negtall" Soy caso nagar re dij SI 171Qu cos ex sr negra" NepralY yo no sabi a trite verdad que agulloexcon ia. ea ne see negra Negra Camo ellos deci Negra cetrocediiNepraConna ellos geval odie mincabellosymislabios gracroly mize apenas mi carne tostada/Y str cxiNogralY teteoced "CRUZ, Vieoria Sata, Me grtaron Negra. Disponivl em hit. arguivoglodesongbftantica-noroatrolatinos-caribenhowperul21236-me-gitaron-negra-a. post-vctora-santa-rin>,Acesi em: 2 de novembro de 2015, FREYRE, Gilberto, Casa: Grande Sonal formagan da fal brater obo regine dae. noma pstlacal 1933) St edo tevisada, Sto Pal, Global, 2006. expresso “democrac racial” stribuida «Gubero Frere, contd, ela ado ¢ mencionads em suas obras spor antes. Ao que parece, o temo teria sido usado pea primeira vex por Roger Baste num artigo publicado no Didrio de Paulo em 31 de margo de 194, no qual se eporta a uma visita fits 2 Citberto Freye, em Apipucos.Apoata-se que Gtbero Fey, em suas confertacias na Univer sidade do tstado de tadtana, no outono de 1944, tert usado expresso sndnima de” democra ia dtnice’ Conform sponta Antonia Sérgio, a primeira utiliagio da enpronso parece caer Cures Wage. que esreve em 195270 Brasil renomada mundmente por sa democracis racial" na “Tntrodusio" do primeira volume de ma sri de estos sobre eagbe aia n0 Bras patrocinador pla UNESCO, GUIMARAES, Antonio Sérgio Alfredo, Democraca rc: ‘desl, opactoeo.mito, In: Claes, Rogar e Democracia. 1 eiypressi, So Pall: Elton 34, 2006. p. 137-138, An reo Revit tpi. 40, Ne sam 2016 tado, rapidamente, com uma imagem de “paraiso racial”, conforme apontam, as historiadoras Albuquerque, Schwarez.¢ Azevedo.” Ao longo das décadas, os estereétipos raciais foram revitalizados a0 mesmo tempo que novos surgiam, identificando 0 “liberto” como “negro” & ‘© “negro” como “vagabundo’, “desordeiro”, “cachaceiro”, “perigoso”, “eri- ‘miinoso” etc. O negro aparece como ameaga ao decoro, & propriedade e & seguranga das pessoas, conforme critica Florestan Fernandes em 1964.°O. fentipo negro era ridicularizado e tido como feio, como o “cabelo de ne- 10”, ‘pixaim de negro”, “beigo rombudo”, “negro beicudo”, entre outros. O importante destas duras mengdes é que através desta representagao e estig- matizagio socialmente construidas da corporalidade e performatividade do negro, dificultava-se ainda mais a accitagao livre e franca como um igual, submetendo-o a um cruel circulo de exclusio e infer wo, que afeta di- retamente a sua autoestima, assim como a sua vida profissional e social. Per- cebe-se, com evidéncia, que a estética & sim um fator politico, padronizada pelo modelo normalizador colonial eurocéntrice branco. A cor continua sendo empregada como um ferrete que marca a pele classifica, identificando 0 negro e a negra como procedentes da senzala. Conforme aponta Florestan, “dentro desse contexto psicossocial ecultural.o ‘escravo’ ¢0‘liberto’ nao desapareceram: subsistia no ‘negro’ como categoria um tempo racial e social” (itilico do original) logica do branqueamen- to ainda rege a sociedade, transformando o corpo “negro” em um dever ser ALBUQUERQUE, Wlamyra. “A vole comum da tage emarcipeda”: boli acilla;40 no Br si breve comentario. Revista “Mistora Social" 19, UNICAME, 200,102. AZEVEDO, Cella [Maria Marino Onde Negra, Med Branco: O negro n iano das lites ~ Século XIX Rio de Fanci Pane Teva, 1087p. 161 Evo tlembvaroexempl,trazido pr Schwatcr do quilombo 4e abaquara que formou maior cldni defugitivos da histva do piso do Laon. He, por sus ‘ver, insti candi como simbolo antiscrevsts pr excléncia eno foram poucas ss perso lidar do io deansira que, come Rai Harbors, xtntavam a fons apts os ulna no jan de sas casas como forma de protesto, SCHWARCZ, Lika Moritz Op. Cit 2012.p.26 FERNANDES, Horestan. A ntgrgio do negro na soiedade de class (1964 Volume I, Ensaio de Immerpretago soiligca.Preficio Antonio Sérgio Alfedo Guimardes. seo, reimpresso, So Palo iblotce Arl/Giobo, 2013 9.08 #374 iden. p38 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 da construsio social do que seria a norma corporal e estética “branca”. Con- forme desenvolve Florestan no segundo volume da obra: A estereotipacao negativa produrin: suscitow uma barreira invisivel universal, que tolhia qualquer redefinicao rpida da imagem do “ne- sro", que facilitasse a transicao do trabalho escravo para o trabalho livre e acelerasse pelo menos a proletarizacio do “homem de cor”. No gral, tais a .cbes sio coerentes com estereétipos que conver gem o “negro” na negagdo do “branco” ou na propria imagem do “antibranco”.** Nestes termos, 0 sociélogo Guerreiro Ramos publica artigo intitulado A patologia social do “branco” brasileiro, em 1957. Neste trabalho, Ramos ar- gumenta que devido a um padrio estético branco, nomeado de “arquétipo estético europeu’y® produziu-se no Brasil uma negagio socialmente cons- vos na idedrio branco, truida da negritude e uma atribuigio de signos ps Guerreito Ramos argumenta, assim, que hi uma patologia social do “branco” brasileiro". A sua tese é pautada nos resultados do Recenseamento de 1940 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), no qual percebeu que, no que diz respeito aos brancos, o niimero apurado excede sensivel- ‘mente ao que constaria em uma classificagao realizada conforme um critério objetivo, Nesse sentido, explica: Melhor lagrante ado se poderia obter da perturbacdo psicolégica do brasileiro em sua auto avaliagdoestética, Todos aqueles informes rmostram o sentimento de inferioridade que Ihe suscita a sua verda- deira condicao étnica. Esse sentimento 6 ta forte no cidado brasi- 1 FERNANDES, Floresta. integra do megrona sociedad de clase [64 Volume neaiode Interpretagio wciolgica. Prefici Antonio Sérgio Alfedo Guimaries, # eimpresso, Sio Paulo blocs Azallobo, 2014p 165, "© RAMOS, Guerreiro Patlola social do “branco” bras I: Iiradu erica seco bra sir. Rio deJaneino-Eaitoial Andes Lima, 1572p. 18 © idem. p17 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 leiro que viet os dados do Recenseamento,levando estea resultados paradoxais. 0 caso, por exemplo, que se configura, em 1940, nestas palavras: “a mais elevada proporcao entre pretose pardos (148 para 100 pardos) se encontra na regio Sul, que tem a menor quota de populagio nto branco, ea mais baixa (18 pretos para 100 pardos) na regido Norte, que tem a maior quota de popatago nko branca”. Sio dados, evidentemente, inverossimeist* Ainda com Guerreiro Ramos, acrescenta-se seu texto O negro desde dentro no qual 0 autor destaca os privilégios estético, religioso elinguistico construidos pelos brancos europeus: Num pats como o Brasil, colonizado por europens, os valores mais prestigiados e, portanto, aeitos, so os do colonizador. Entre estes valores estéo da brancura, como simbolo do excelso, do sublime, do belo. Deus é concebido em branco em branco sto pensadas todas as perfeigdes.[...] Nao tém conta as expressdes correntes no comércio vvorbal em que se inculca no espirito humano a reserva contra a cor negra. “Destino negro’ “lista negra’ “cambio negro", “missa negra’, “alma nogra’,“sonho nogro”,“miséria negra”, “caldo negro”, “asa no- {ga etantos outros ditos implicam sempre algo execrivel Sob este viés, Lia Schueman explica que o termo “brancura” no Brasil diz respeito a determinadas caracteristicas fenotipicas que se referem & cor dda pele clara, tragos fines cabeloslisos de sujeitos que, na maioria dos casos, so europeus ou euro-descendentes. Por meio desta aparéncia fenotipica, & construida.a “branquitude” que se refere ¢ “um lugar de poder, de vantagem sistémica nas sociedades estruturadas pela dominagao racial”, que tem “um "idem. p18, “RAMOS, Guereira O negro dese dentro, In Inrodusa erica @ sactologs bral. Rio de Janeiro: Edtorial Andes Lmtd, 1957.9. 193, (© SCHUCMAN, Lis Vane. Entre o“ecardido’ 0 "branco” eo brangulsimo"s raga, ieargua © Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 significado construido sécio-historicamente dentro da cultura ocidental’." Pereebemos, assim, @atualizayio ¢ a manutengao da colonialidade do ser. essa forma, apesar do intenso empenho da pessoa negra em niio ser posta a margem da vida econémica, social e politica, lutando tenazmente para se manter até nas ocupagdes que foram mais degradadas pela escravi- dio, ela permanece sendo marginalizada e invisibilizada. Tanto os poderes piiblicos, como a legislagao e os circulos politicamente ativos da sociedade ‘mantiveram a sua indiferenca e inércia diante de tais engendramentos, Flo- restan denuncia que “[tlodo o processo se orientava, pois, nio no sentido de converter, efetivamente, o ‘escravo’ (ou 0 ‘liberto’) em “trabalhador livre’ mas de mudar a organizagio do trabalho para permitir a substituigio do ‘negro’ pelo “branco”.* seguinte depoimento recolhido por Fernandes, de maio de 1951, per- tencente a um debate com cinco informantes da chamada “classe média de cor’, merece ser transcrito por condensar componentes centrais da resistén- ‘ia negra contra esse movimento voltado ao desaparecimento deles,a partir da substituigao de seus corpos, por corpos brancos europeus: “Nos nd somos contra a miscigenacdo, Mas nés somos contra a polit cade miscigenagio imposta, na vontade de faver desaparecera raga ne- ara. A politica do branco atualmente é de fazer desaparecer a raga ne- gra. [..] Oque quoremos é que se raconheca que somos cidados como ‘os outros e que temios direito& educagio; integrarmo-nos a sociedade €niloo nosso abandono voluntirio, & espera que desaparegamos".”” Conforme esclarece veemente Abdias do Nascimento, “o slogan da de- mocracia racial brasileira serve 8 discriminacao disfarcada e ao lento, porém, poder na constr da branqutudepalistan, So Pauly Toss Douro Programa de i Gradua om Pscolgi. Area de Concentra: Psicologia Socal -Inttate de Pega dt Uni versidade de Si Palo, 2012p 102 idem. p 103-108 (© FERNANDES, Forestan Op Ct, 203.p.32, 5152 » Ibidem. p56 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 inexoravel, desaparecimento do negro”, tendo sido tal discurso a “frmula «encontrada pelo Brasil para apagar a mancha' da escravidiéo"," Tal mito fora imposto de cima para baixo, tentando mascarar as técnicas de dominagio realizadas através de uma ideologia racial que mantinha a estrutura arcaica do sistema de castas. Assim, ainda que as oportunidades de competigao fos- sem formalmente abertas a todos e todas, na pritica, é possivel vislumbrar uma realidade bastante distinta® Negritude como Resisténcia Negra! Sim / Negra! Sou / Negra! Negra / Negral Negra sou / De hhoje em diante no quero / alisar mew cabelo / Nao quera / E vou rir daqueles, | que para eviter ~ segundo eles ~ / que para evitar= ‘mos alguma magoa / Chamam as negros de gente de cor / Ede que cor! NEGRO / E como soa lindo! NEGRO / E que ritmo tem!/ NE- GRO NEGRO NEGRO NEGRO J ..] Por fim /Por fim compreendi POR FIM J Ji no retrocedo POR FIM J 1 Avango e espero POR FIM / E bendigo os céus porque quis Deus / wvango seguro POR FIM {que negro retinto fosse minha cor / E jé compreendi POR FIM / Jé tenho a chave / NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO / ..] Negra sou! Victoria Santa Cruz Segundo Abdias do Nascimento, letor de Fanon e um dos pioneiros do movimento negro brasileiro, a situagio racial no Brasil foi ofuscada pela NASCIMENTO, Abas do O negro revoludo. Rio de Jane: Baigbes GRD, 1968 p52 "FERNANDES, Hovstan Op. Cit 2013p. 11 FERNANDES, Horestan Op. Cit, 2014 p. 5676572 > ‘raductoivee do orginal" Negra! il Neqra! Soy Neat Negra Negra! Nea soy / Delay eo sdlane no quiero Ica mscabello/ No gusto voy terme deaquells,/quepor evita ~ se tgincllo | que par evtsnosalginsineabor / aman aloe negro gent de calor ¥ depen! [NEGRO /:¥ gu lindo suena! NEGRO 1 qu ritmo ten!/ NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO / [L/ Alfin/ Al fn comprend ALFIN/ Yano retroced AL FIN/ Yavanzo segura ALFIN/ Avaazo Yespero ALFIN/Y bendlgoat ceo porque quso Dos que ng azabache Fuse mi color / ya “omprendi ALIN Ya tengolalse/ NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO |. ;Negrasoy”.CRUZ, ‘Victoria Santa. O9 Ci. Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 densa camada de estereétipos, estigmas e condicionamentos estratificados, que somente um grito de revolta teria a possibilidade de retirar a consciéncia brasileira do habito e do torpor no qual se encontrava. Explica, sob influéncia sartriana, a revolta: ‘Transferir ou canalizar o que poderia se tormar ressentimento noga- tivo, em estado de revota profundamente criador. Pois revolea nto se limita a expressar uma migoa, nem se esgota no ressentimento. Com Sartre acreditamos que ela vai maislonge:..a revoiaé que éo ‘amago da liberdade, pelo que ea apenas se realiza com o engajamen- tona revolt”, (itilico do original)" Nestes termos, a revolta é uma forma de resisténcia produtiva, um po- der que nao se limita & negatividade, mas que busca construir uma nova rea- lidade. Em uma tentativa de romper com a logica segregadora c objetficado- ra, Fanon, em 1952, reinvidica a negritude como possivel saida, movimento pelo qual faz.0 seu sangue, que estava dividido em trés partes, voltar a correr ‘em suas veins, recuperando poeticamente as “artérias do mundo arrancadas, desmanteladas, desenraizadas”.” Fanon escreve que uma tinica linha seria suficiente para transformar cesta realidade, ¢ esta seria a pergunta: “O que o homem negro quer?” qual acrescento aqui de forma inclusiva: “O que o homem e a mulher negra querem?”, Essa passagem revela um desafio provocativo da intersegio da fi- losofia e da critica do racism, pois ao levantar a questio do desejo, Fanon também levanta a questo da subjetividade negra. £ etravés dessa proposta que defende a afirmagao de fazer-se conhecer,ressignificando © conceito ra- cial empregado para oprimir, objetficar e inferiorizar, e transformando-o emalgo aberto ¢ néo pré-determinado. NASCIMENTO, Abie do.Op Cit, 1968 p 2. > FANON, Frantz. Op. Cit. 2008p 15, > FANON, Fats fa in, white masks [09], Translated hy Richa Philo. New York: Grove Press, 20088 px Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 Como assim? Quando entio eu tinha todas os motivos para odiar, detestar reetavam-me? Quand entio devia ser adlado,solictado, recusavam qualquer reconhecimento? Desde que era impossivel li vrar-medeum complexo iato, decid meafirmar como Negro. Uma ‘ver que 0 outro hesitava em me reconhecer, $6 havia uma solve: faver-me conhecer (itilico do original)” Compreende-se, entio, que a problemitica da alienagao da pessoa ne- {gra nao é relativa A uma questo individual e nao pode ser explicada pu- ramente em termos ontolégicos comuns ao paradigma psicoanalitico, que busca adaptar o individuo & sociedade (normalizar). Pelo contratio, esse processo alienador demanda uma outra forma de compreensio baseada no coletivo e nos modos de “ser humano” socializados (sociogeny), o que requer, portanto, um “sociodiagnéstico”, conforme explica Sylvia Wynter, isto sig- nifica: uma transformacio social.” Sobre esse reconhecimento do problema e a decisio de fazer-se conhe- cer; como uma forma de resisténcia ¢ de afirmagio da negritude, chega-se A questio do ser negro, isto &, da subjetividade negra que & considerada por Fanon como elemento transformador de lnta. Nestes termos, o pensador da ‘Martinica enfrenta 0 escrito de Sartre em Orphée Noir, trecho este que Ihe teria causado ini jalmente grande desilusio: De fato, a negrtuce aparece como o tempo fraco de uma progressio dialética: a afirmagao tedricae pritica da supremacia do branco éa tese; a posigdo da negritde como valor anttético &0 momento da negatividade, Mas este momento negativo nfo &autossuficiente, 08 fnegros que. utlizam a sabem bem; saber que ole visaapreparacso da sintese ou a realizagdo do humano em uma sociedade sem ragas bidem.p. 108 © WYNTER, Sylvia. Op. Cl, 19.12 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 ‘Assim, a negritude existe para se destrui; 6 passagem e ponto de chegada, meio ¢ nao fim tltimo.” Ainda que reconhega a obra de Sartre como marco do intelectualismo do existir negro, Fanon o critica, escrevendo que o existencialista francés “se esqueceu que 0 negro sofre em seu corpo de outro modo que o branco” e acrescenta que ‘[elntre o branco e eu, hd irremediavelmente uma relagio [sic] de transcendéncia” Ao mesmo tempo que reconhece a atribui¢ao da negatividade & negritude como um “golpe imperdodvel” de Sartre, Fanon afirma ter sido por ele profundamente influenciado, principalmente acerca da nogio de existencialismo, em conferéncia de 1946, intitulada O existen- ialismo é um humanismo. Nela, Sartre esclarece que a defesa inicial do exis- tencialismo reside no fato da existéncia preceder @ eséncia." Sob este viés, Fanon rompe coma visao da negatividade, do “nao” bran- co, “no” europen, de ser sobredeterminado pelo exterior. isto da situagio de ser limitado pela “ideia” que 0s outros fazem do negro. Anuncia que a sua consciéncia negra ndo se assume como a falta de algo ou como uma negativi- dade, mas a0 contrério, ela se afirma através da positividade do ser. Almeja, portanto, uma consciéncia que ignora as esséncias ou determinagdes, ¢ que se engaje na experiéncia, afirmando que a “pele negra nao é depositaria de valores especificos”" Abdias do Nascimento esclarece que os termos “raga” e “racismo” pas- sam a ser empregados pela resisténcia em uma sentido popular eacientifico, como sindnimo de etnia, nfo se referindo de forma alguma a um purismo biologie." Assim, a afirmagio negra, longe de reforgar um modelo cientifi- cista racial, busea desconsteuir os estigmas pejorativos atributdos. categoria SARTRE, Jean-Paul, “Orphde Noe”, prticio 8 Anthalgiede a posi nig malace, pp Xe gs apud FANON, Frantz Op Ci, 20083 p12. FANON, Frantz. Op. Ci. 2008 p12 2. SARTRE, Jan- Pal, Ocxistenciaiomo humanism Tra, Rts Corsa Ges, Pais Les tons Naga 1970.9. (© PANON, Franz. Op. Cit. 2008p 1081222188, © NASCIMENTO, Abdias do. Op. Cit. 1968 p.202 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 “negra” ao se apropriare subverter tais termos em um sentido de afirmagao e unio de um grupo que vem sendo historicamente marginalizado ¢ excluido. Este movimento empoderador manifestou-se “no plano das ideias, dos com- portamentos individuais e da acio politica” Conforme esclarece Abdias, ‘© que unifica 0 negro nao é uma caracteristica individual ow estereotipada, mas a espoliagio ea opressio sofridas: Nossa revoliaesté plenamente consciente de que a opressio dos ne- 105 nos Estados Unidos, na Africa do Sul, em Angola ¢ Mocambi- «que, ou na Rodésia de Yan Smith, sio formas partculares da mesma copressio que atiage indistintamente a todos 0s povos de cor, em «qualquer pais de predominancia branca. Podem variar de grav, tais ‘opressbes, mas a sua essénciaésemprea mesma, Dafessaconstincia singularizando 0 nogro ~ espaliagio ¢ apressdo ~ dentro dos qua- dros nacionais e culturais os mais diversos.(itiico do original)® Conforme esclatece Gilroy, a ideia da dispora oferece uma alternativa imediata & disciplina severa do parentesco primordial e do pertencimento enraizado. Ela rejeita a nogdo popular de nagdes naturais, assim como de ragas biolégicas. Como uma alternativa & metafisica da “raga”, da nagao & a cultura delimitada e codificada no corpo, a diéspora é um conceito que problematiza a mecdnica cultural ehistérica do pertencimento. Fla perturba © poder fundamental do territério (Soberania) na definigdo da identidade (isciplina) a0 quebrar a sequéncia simples de elos explanatérios entre lugar, localizagao e consciéncia. No mesmo sentido, Abdias defende esta nova dimensio da luta pés -aboligo com a “negritude”. Tratava-se nao apenas de uma referéncia a0 mo- CARNEIRO, Apurevida Sui, A Constrago do Outro come Nao-Sr come fundamenta do Ser Tess {e Doutoramento em Eas. io Paulo: EUSP, 2008, p 149-150 > NASCIMENTO, Abdi do. Op. Ci, 1968 p. 2. GILROY, Pal. tr campor: nates, culture fscun dara. Tradasio de Celis Maris Marino de Azevedo etal. Sto Palo: Ansabine, 2007. 9.15 Ane Revit tpi. 40, Ne sam 2016 ‘vimento postico dos africanos de lingua francesa, mas também de toda uma ‘dentificago com a origem africana no contexto brasileiro.” A negritude en- volve, portanto, construgdes elaboradas, cuja Fungdo primaria & a de amor- tecer as injurias e desvi se delas. Conforme destaca Gilroy, a negritude foi muito além da simples garantia de protesio, invertendo as polaridades do insulto, brutalidade e desprezo no sentido da sua transformagao inesperada ‘em importantes fontes de solidariedade e forga coletiva." Em busca de romper com o mito da democracia racial promulgador de invisibilidade e da marginalizagio dos corpos negros, se afirma no Brasil ‘© movimento organizado de uniao politica negra. Por volta dos anos 1920 ~ periodo da descolonizagio da Asia e da Africa e do inicio da formagao racis- ta que daria lugar & Segunda Guerra Mundial” -,solidifica-se no seio social miicleos que questionam ¢ buscam solugdes econémicas, sociais, culturais ¢ politicas para o contexto negro. neste cendrio que se insere o Movimento Negro brasileiro,” se organizando para enfrentar os resquicios da escravatu- 1a mantidos pela discriminagao racial ea inferioridade pela qual o negro e a negra ainda eram enxergados, meio século depois da Aboligio. Contudo, mesmo com o fortalecimento do movimento negro e suas importantes vitérias, ainda ha um longo caminho de lutas, resistencias e "NASCIMENTO, Abdias do; e NASCIMENTO, Ese Laskin. Reflexes sobre o Movimento Negro 10 Brasil 1938-107 In: GUIMARAES, Antonio Sergio Alfredo; e HUNT _Masear: Ensaio sole 0 raismo nla So Palo: arc Terr, 200.204 207 ' GHLROY, Paul, Op. Ci 2007p. 30. 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Trina riscas- Ensios obreracimo ao Baal Sto Palo, Pate Tere, 2000, Lynn, Tiando a as oguoruiriaem ums An reo Revit tpi. 40, Ne sam 2016 afirmagio, em busca de desnaturalizar a ainda existente colonialidade do ser — que inferioriza, estigmatiza, invisibliza ¢ extermina a cada dia 0 corpo. negro no Brasil. Consideracées finais ‘A reflexao pés-colonial nio se limita a pensar 0 periodo colonial, mas preocupa-se com a relagio incessante entre o passado eo presente, através da colonialidade que se mantém até os dias de hoje no Brasil. Os encadeamen- tos factuais da “colonialidade do ser” apresentados nio buscaram meramen- te explicar o passado”, mas explicitar neste curto ensaio, ainda que parcial- mentee de forma recortada, 0 processo de produsio do racismo colonial que se mantém ativo até os dias de hoje Recorda-se aqui o que W.E.B. Du Bois ja mencionava em 1903, isto & 0 fato de que o corpo negro vem sendo encarado como “o prablema’, pergun- tando ironicamente no inicio do livro: “como é se sentir um problema?” Com esse questionamento, podemos interpretar que Du Bois est sinalizan- do 0 fato de que o racismo é um problema social, cultural eestrutural, e nio tum problema da esséncia dos negros e negras que sofrem com a sua perpe- tuagio, Em sentido semelhante, recordamos @ relato de Lélia Gonzalez a0 contaro caso no qual um candidato politico enxergava o problema da diseri- ‘minacio racial como “um problema dos negros”e no um problema social.” ‘Ainda sob este viés, mencionamos Frantz Fanon que escreve: “do ponto de vista adotado aqui, no ha nenhum problema negro”s* e depots acrescenta “eu ndo concordo que o problema negro é meu problema, ¢ apenas mew”. Por meto dessas remigoes, esclarecemos que 0 corpo negro € o corpo «que foi inserido em um sistema objetficador colonial, em um estado de vio- lencia simbdlic, fisica e psiquica, sistema este que privilegia outra parcela FOUCAULT, Michelle POL-DROIT, Roger. Entrovists “zou um pretcnies’ Sobre o mitodae atrajeria cde Michal Foucault 175) In: Op. Cit 2006p. 98. > DUBOIS, WE. Op. Ct.p.1 ® GONZALEZ, Léa. Op. Cit 982. 7.55 FANON, Frantz. Op.Cit.2008h p13 idem. 67 Ane ea hii 0 Mem 216 da populagio devido a cor de sua pele. Logo, este fato nao tem relago com znenhum problema da esséncia do negro, mas baseia-se em um sistema cons- truido e pautado na epidermizagio e na inferiorizagio colonial destes corpos, conforme foi explicitado ¢ demonstrado ao longo deste trabalho. Portanto, reforgamos que o racismo & que ¢ 0 problema, ponto este que beira a obvie- dade, mas, infelizmente, ainda nao é assim tratado, Este artigo buscou, portanto, desenvolver uma leitura critica da colo- nialidade do ser e do racismo a partir da construgio de dislogo entre as teo- tias descoloniais latino americanas entre sie também com o pensamento de Michel Foucault. Por im, mencionamosas palavras de Balibar:“adestruigio do complexo racista nao supée unicamente a rebeligo de suas vitimas, mas transformagio dos proprios racistas e, por conseguinte, a decomposigao interna da comunidade instituida pelo racismo”.% Concluimos, portanto, que esta questio e sua urgéncia de transformagao dizem respeito a todos e todas que vivemos em uma sociedade operada por esse mecanismo racista da co- lonialidade do ser. BIBLIOGRAFIA 1. ALBUQUERQUE, Wlamyra.“A vala comum da ‘raga emancipada: aboligdo e racializagio no Brasil, breve comentirio. 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