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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

22/07/2020

Número: 0704794-02.2020.8.07.0018
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF
Última distribuição : 21/07/2020
Valor da causa: R$ 500.000,00
Assuntos: Fornecimento de insumos, Tratamento médico-hospitalar
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL (AUTOR)
WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA (RÉU)
DISTRITO FEDERAL (RÉU)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
68244180 22/07/2020 Decisão Decisão
16:26
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF

Número do processo: 0704794-02.2020.8.07.0018

Classe judicial: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

AUTOR: DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL

RÉU: DISTRITO FEDERAL, WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - COM FORÇA DE MANDADO

DESTINATÁRIOS

WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA


Endereço: SIA Trecho 3, 1125, Zona Industrial (Guará), BRASÍLIA - DF - CEP: 71200-030

DISTRITO FEDERAL (CNPJ: 00.394.601/0001-26)


Nome: PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
Endereço: SAM Bloco I, Edifício Sede, Brasília/DF – CEP: 70620-090

SECRETÁRIO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL (SES-DF)


Endereço: Setor de Áreas Isoladas Norte - SAIN - Fim da Asa Norte Bloco B - (antigo prédio da Câmara
Legislativa) - CEP: 70770-200

NÚCLEO DE JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO


FEDERAL
Endereço: Setor de Áreas Isoladas Norte - SAIN - Fim da Asa Norte Bloco B - (antigo prédio da Câmara
Legislativa) - CEP: 70770-200

CENTRAL DE REGULAÇÃO DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR DA SECRETARIA DE


SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
Endereço: Setor de Áreas Isoladas Norte - SAIN - Fim da Asa Norte Bloco B - (antigo prédio da Câmara
Legislativa) - CEP: 70770-200

Número do documento: 20072216261806600000064725328


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20072216261806600000064725328
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DECISÃO

Cuida-se ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, ajuizada pela DEFENSORIA PUBLICA
DO DISTRITO FEDERAL em face do DISTRITO FEDERAL e da WHITE MARTINS GASES
INDUSTRIAIS, ID 68214629.

Anexou aos autos cópia do processo administrativo com a lista de espera dos pacientes com condições
para alta, ID 68214630, e atestado quanto à urgência da desospitalização, ID 68214632.

A autora relata que (I) a inclusão de pacientes no Programa de Oxigenoterapia Domiciliar foi
interrompida em razão da recusa de prestação de serviços pela segunda requerida; (II) a interrupção gerou
demanda reprimida de cerca de 155 pacientes hospitalizados; (III) há elevado risco de contaminação
desses pacientes com o vírus da COVID 19, especialmente perigoso para os pneumopatas; (IV) o contrato
emergencial 65/2020 disciplina o atendimento emergencial do serviço até a contratação regular, mas vem
sendo descumprido; (V) a ineficácia do DF em promover a desospitalização desses pacientes, haja vista o
descumprimento do contrato.

Narra ainda que (I) nos autos da Ação Civil Pública 0702226-13.2020.8.07.0018, em trâmite nesta vara,
foi determinada a inclusão de 127 pacientes no Programa de Oxigenoterapia Domiciliar; (II) em
cumprimento à determinação judicial, foi firmado o contrato emergencial 65/2020, mediante dispensa de
licitação, entre a empresa WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA e o Distrito Federal; (IV)
todos os pacientes que se encontravam na lista de espera foram atendidos e foi prevista a inclusão de
novos pacientes; contudo, a partir de 15/05/2020, foram informadas diversas ocorrências de não
implantação para alguns pacientes; (V) de acordo com a WHITE MARTINS, após diversas solicitações
para regularização, sem sucesso, das pendências de pagamento existentes no serviço prestado de
oxigenoterapia desde novembro/2019, passou a ter dificuldade em ofertar o serviço, (VI) de acordo com a
Secretaria de Saúde, as pendências mencionadas pela WHITE MARTINS referem-se a
contrato anterior e também dependem da colaboração da empresa quanto ao envio dos documentos
necessários.

Conclui que a "2º Requerida (White Martins) está criando obstáculo ao fiel cumprimento do contrato
emergencial 65/2020. Faz isso ao não apresentar documentos essenciais para a efetivação do
pagamento das parcelas em aberto, tanto no contrato anterior como no atual contrato emergencial; bem
como ao exigir adimplemento de débitos referentes a um outro contrato anterior".

Fundamenta o seu pedido na impossibilidade de aplicação pela empresa contratada da "exceção do


contrato não cumprido", na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Lei Orgânica do Distrito
Federal, na orientação jurisprudencial em conformidade com os princípios da universalidade de acesso
aos serviços públicos de saúde e da integralidade da assistência.

Em síntese, requer a concessão de tutela de urgência para impor (I) à WHITE MARTINS GASES
INDUSTRIAIS LTDA, 2ª Requerida, que cumpra o contrato emergencial 65/2020, no prazo máximo de 5
dias, para: (a) iniciar a prestação de serviços e efetivar a entrega de equipamentos necessários a todos
os 155 pacientes incluídos na lista fornecida no processo administrativo SEI nº
00401-000014400/2019-15 (em anexo) relativo ao Programa de Oxigenoterapia Domiciliar da Secretaria
de Saúde do Distrito Federal que ainda não tiveram seu atendimento iniciado; (b) que se abstenha de
interromper o serviço contratado sob o argumento da pretensa regularização das pendências de pagamento
existentes no serviço prestado de Oxigenoterapia Domiciliar enquanto o contrato estiver vigente
e perdurar a decretação oficial da pandemia de COVID-19); (II) ao Distrito Federal às obrigações de fazer
consistentes em: (1) juntar aos autos a atual lista dos pacientes que têm indicação de inclusão no
Programa de Oxigenoterapia Domiciliar e não tiveram seu atendimento iniciado por recusa de prestação
do serviço pela empresa contratada; (2) tomar as sanções administrativas previstas no artigo 87 da Lei
8.666/93 e, no caso de reiterado descumprimento, efetivar a Requisição Administrativa, conforme
previsto no artigo 3º, VII, lei13.979/2020, dos bens e produtos necessários ao cumprimento ao contrato

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emergencial 65/2020 e continuidade do funcionamento do Programa de Oxigenoterapia Domiciliar; (III)
aplicação de multa diária pelo descumprimento; (V) publicação de edital a fim de viabilizar a intervenção
dos interessados como litisconsortes; (VI) intimação do MP; (VII) no mérito, a confirmação das tutelas
antecipadas e a condenação das partes demandadas ao pagamento das custas e honorários advocatícios em
favor do Fundo de Apoio e Aparelhamento da Defensoria Pública do Distrito Federal.

É o relatório. DECIDO.

I _ DA TUTELA DE URGÊNCIA

De acordo com o artigo 2º da Lei n.º 8.437/1992, quando cabível, a liminar na ação civil pública deve ser
precedida da oitiva do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se
pronunciar no prazo de 72 horas. Todavia, a situação de calamidade pública reconhecida oficialmente e o
grave risco de contaminação viral de pacientes do grupo de risco justificam a análise da liminar,
independente da oitiva prévia da Fazenda.

A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Confira-se:

"Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou
fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser
dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão."

No caso concreto sob análise, os fundamentos apresentados pela Defensoria Pública são relevantes e
amparados em prova idônea.

De fato, o descumprimento do contrato emergencial 65/2020 implica na persistência injustificada da


hospitalização de pacientes com problemas respiratórios. Se em situações de normalidade a demora em
promover a desospitalização já representa elevado risco à saúde e à vida, que dirá no cenário de pandemia
provocado pelo coronavírus.

Nesse sentido, o atestado emitido pelo médico Francisco Job Neto, CRM 20515, ID 68214632, abaixo
transcrito:

"ATESTO que, durante a emergência mundial pela pandemia do coronavirus os hospitais são pontos de
alta contaminação e circulação do vírus, com grande quantidade, inclusive, de médicos, enfermeiros e
outro profissionais de saúde infectados (registrados 3.300 em Wuhan, China), além, obviamente, dos
enfermos por outras patologias que se encontrem internados e expostos ao ambiente e a visitantes e
funcionários diversos potencialmente contaminantes.

A população com risco especial de morte pela Covid 19 inclui os pneumopatas crônicos, os diabéticos
(principalmente aqueles em procedimento dialítico), coronariopatas e cardiopatas em geral, pessoas com
deficiências imunológicas de qualquer tipo, como os nefropatas (em especial aqueles submetidos a
procedimento dialítico), hepatopatas, pessoas com desnutrição crônica, etc.

Com a finalidade de proteger a vida destas pessoas, os doentes que se encaixem nas definições acima
devem ser desospitalizadas, se a condição clínica atual permitir a alta para cuidados extra-hospitalares,

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IMEDIATAMENTE, devendo ser-lhes fornecida a oxigenioterapia domiciliar, o procedimento dialítico
ambulatorial, suporte do NRAD, cuidados paliativos, homecare ou assemelhado, sejam eles providos por
serviço público, conveniado ou privado.

A desospitalização é muito urgente, existindo altíssimo risco de morte destes pacientes na ocorrência de
surtos hospitalares do novo coronavirus SARS2."- (grifei) "

O artigo 196 da Constituição Federal dispõe que "a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".

A Lei Orgânica do Distrito Federal, por seu turno, garante a todos, assistência farmacêutica e acesso aos
medicamentos necessários à recuperação de sua saúde, nos termos do art. 204, a seguir transcrito:

Art. 204 A saúde é direito de todos e dever do Estado, assegurado mediante políticas sociais, econômicas
e ambientais que visem:

I - ao bem-estar físico, mental e social do indivíduo e da coletividade, a redução do risco de doenças e


outros agravos;

II - ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, para sua promoção, prevenção,
recuperação e reabilitação:

§ 1º A saúde expressa a organização social e econômica, e tem como condicionante e determinantes,


entre outros, o trabalho, a renda, a alimentação, o saneamento, o meio ambiente, a habitação, o
transporte, o lazer, a liberdade, a educação, o acesso e a utilização agroecológica da terra.

§ 2º As ações e serviços de saúde são de relevância pública e cabe ao Poder Público sua normatização,
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita, preferencialmente, por meio de
serviços públicos e, complementarmente, por intermédio de pessoas físicas ou jurídicas de direito
privado, nos termos da lei”.

A concretização deste direito social fundamental, acesso à saúde, tem como prioridade absoluta o
atendimento dos pacientes hospitalizados, sob tutela do Estado.

De outro lado, embora o gestor público tenha liberdade para determinar a política pública, não há como
permitir que a inobservância de obrigações contratuais impeça a imediata desospitalização desses
pacientes, todos do grupo de risco. Em outras palavras, no pico de uma pandemia viral, com situação de
calamidade pública decretada oficialmente, é impensável sequer cogitar a manutenção de pacientes
especialmente vulneráveis dentro do ambiente hospitalar, devido a entraves contratuais.

Conforme narrado na inicial, no mês de março do ano em curso, foi determinada a imediata retomada do
Programa de Oxigenoterapia Domiciliar pelo Distrito Federal, nos autos da ação civil pública
0702226-13.2020.8.07.0018. Em cumprimento, o ente Distrital celebrou o Contrato Emergencial nº 65/
2020 com a Empresa WHITE MARTINSGASES INDUSTRIAIS LTDA, para "contratação de serviços
de fornecimento de CONCENTRADOR DE OXIGÊNIO DOMICILIAR DE BAIXO e ALTO FLUXO e
CONCENTRADOR DE OXIGÊNIO PORTÁTIL, fornecimento de GÁS MEDICINAL e DESCARTÁVEIS
PARA OXIGENOTERAPIA, com COMODATO DE CILINDROS DE OXIGÊNIO e LOCAÇÃO DOS
CONCENTRADORES para atender às demandas da Secretaria de Saúde - DF, (cláusula 3.1)", vigente
"ATÉ 180 (cento e oitenta) dias corridos, por se tratar de CONTRATAÇÃO por Dispensa de Licitação,
enquadrando-se no artigo 4º, inciso IV, da Lei 13.979/2020 ou até a conclusão do Processo
Regula 00060-00007427/2019-33, o que ocorrer primeiro (cláusula 8)".

Todavia, de acordo com o despacho datado de 13/07/2020, ID 68214630 - fls. 44/45, a Secretaria de
Saúde notificou a contratada das diversas ocorrências de não implantação para alguns pacientes, a partir
do dia 15/05/2020, e obteve como resposta:

Número do documento: 20072216261806600000064725328


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"(...) em virtude das diversas solicitações para regularização sem sucesso das pendências de pagamento
existentes no serviço prestado de Oxigenoterapia pela White Martins, foi realizado reunião no dia
27/04/2020 com o Secretário de Saúde do DF, Sr. Francisco Araújo. Ratificamos o compromisso firmado
com a SES-DF e solicitamos posicionamento em relação aos processos de pagamento que se encontram
parados desde de Novembro de 2019. Reforçamos que tal cenário trouxe desequilíbrio e comprometeu as
aplicações de novos equipamentos. Ficou agendado nova reunião no dia 03/06/2020 onde o Secretário de
Saúde ficou de apresentar a White Martins solução definitiva para regularização das pendências
existente."

Depreende-se do comunicado que a principal justificativa para a paralisação no fornecimento de


equipamentos aos novos pacientes é a existência de processos de pagamento pendentes desde novembro
de 2019. Nos termos do artigo 78 da Lei 8.066, se o atraso dos pagamentos for superior a 90 (noventa)
dias, é lícito ao particular suspender o cumprimento de suas obrigações até a normalização.

Todavia, em juízo de cognição sumária, com base nas informações acostadas aos autos, tudo indica que a
empresa contratada se vale de pendências financeiras relativas a contrato diverso para descumprir as
obrigações assumidas no contrato emergencial 65/2020, o que é inadmissível. Ora, não é lícito ao
particular descumprir obrigações de contrato vigente para pressionar o pagamento de dívidas anteriores.

Como cediço, os contratos com administração submetem-se a regras próprias, vinculadas à supremacia
do interesse público. De tal sorte que a empresa contratada não pode simplesmente parar de fornecer os
produtos essenciais objeto do contrato, sem prévia comunicação, tampouco o Administrador pode
acompanhar inerte o inadimplemento contratual.

Resta evidente, portanto, a ausência de razoabilidade e proporcionalidade no descumprimento contratual


e na inércia do Distrito Federal em aplicar as cláusulas de coerção estipuladas. Nesse contexto,
principalmente considerando o grande risco de infecção de pacientes bastante vulneráveis à doença,
verifica-se que a resolução do impasse contratual transcende o mérito administrativo e, por isso, se
caracteriza como ilegalidade, passível de controle judicial.

O número de pacientes hospitalizados que aguardam em lista de espera o fornecimento de equipamentos,


155 pessoas conforme informado pela própria Secretaria de Saúde, ID 68214630, evidencia a gravidade
da questão, bem como a probabilidade do direito.

Assim, em face da injustificável inércia do Distrito Federal em adotar medidas para o imediato
cumprimento das cláusulas contratuais e da ausência de justificativa válida para a cessação do
fornecimento de novos equipamentos pela empresa contratada, não resta outra alternativa ao Poder
Judiciário senão atender prontamente ao pedido formulado pela Defensoria Pública, sobretudo em face do
seguinte trecho do atestado anexado aos autos: “A desospitalização é muito urgente, existindo altíssimo
risco de morte destes pacientes na ocorrência de surtos hospitalares do novo coronavirus SARS2.”

Não é demais salientar que, muito embora o Estado não disponha de recursos ilimitados, atualmente
prevalece na jurisprudência dos Tribunais Superiores o entendimento de que o direito à saúde deve se
sobrepor aos interesses de cunho patrimonial, sendo, portanto, dever do Poder Judiciário garantir ao
cidadão a aplicabilidade imediata e eficaz dos direitos à saúde assegurados pela Constituição Federal.

Quanto à reversibilidade da medida – um dos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência
(art. 300, § 3º, do CPC) -, a hipótese dos autos caracteriza a chamada “irreversibilidade recíproca”,
porquanto, na ponderação dos valores conflitantes, o direito fundamental à vida há de prevalecer.

1 _ Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, para
determinar:

1.1 _ à WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA que, no prazo de 05 (cinco) dias:

a) cumpra o contrato emergencial 65/2020;

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b) inicie a prestação de serviços e efetive a entrega de equipamentos necessários a todos os 155 pacientes
incluídos na lista fornecida no processo administrativo SEI nº 00401- 000014400/2019-15 (em anexo),
relativo ao Programa de Oxigenoterapia Domiciliar da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que ainda
não tiveram seu atendimento iniciado;

c) se abstenha de interromper o serviço contratado sob o argumento da pretensa regularização das


pendências de pagamento existentes no serviço prestado de Oxigenoterapia Domiciliar enquanto o
contrato estiver vigente e perdurar a decretação oficial da pandemia de COVID-19;

1.2 _ ao DISTRITO FEDERAL que, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas:

a) anexe aos autos a atual lista dos pacientes que têm indicação de inclusão no Programa de
Oxigenoterapia Domiciliar e não tiveram seu atendimento iniciado por recusa de prestação do serviço
pela empresa contratada;

b) adote as sanções administrativas previstas no artigo 87 da Lei 8.666/93 e, no caso de reiterado


descumprimento, efetive a Requisição Administrativa, conforme previsto no artigo 3º, VII, lei
13.979/2020, dos bens e produtos necessários ao cumprimento ao contrato emergencial 65/2020 e
continuidade do funcionamento do Programa de Oxigenoterapia Domiciliar, sob pena de sequestro de
verba pública e responsabilização administrativa e criminal das autoridades competentes.

2 _ Intimem-se, por Oficial de Justiça e com urgência, o Distrito Federal, o Secretário de Saúde do DF,
ou quem o substitua, o Núcleo de Judicialização da Saúde da Secretaria de Saúde do DF, a Central de
Regulação de Internação Hospitalar da Secretaria de Saúde do DF, o representante legal da
empresa WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA para cumprirem imediatamente a presente
decisão.

II _ DO CUMPRIMENTO DA TUTELA

3 _ Noticiado pelas requeridas o cumprimento da tutela deferida, intime-se a parte autora para se
manifestar no prazo de 5 (cinco) dias.

Todavia, noticiado o descumprimento, retornem os autos imediatamente conclusos, para determinação


de medidas coercitivas.

III _ DA TRAMITAÇÃO DO FEITO

4 _ Fica dispensada a marcação de audiência de conciliação e mediação, nos termos do art. 334, § 4º, inc.
II do NCPC, ante a situação de suspensão das reuniões e audiências pelo e. TJDFT, Portaria Conjunta n.
37/20.

5 _ Fica o réu, DISTRITO FEDERAL, CITADO para integrar a relação processual e ciente desta
decisão, do conteúdo do presente processo e de que, caso queira, poderá oferecer contestação e
indicar as provas que pretende produzir, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data da
efetiva consulta eletrônica neste sistema judicial, nos termos dos artigos 6º e 9º da Lei 11.419/2006.

5.1 _ Na oportunidade deverá indicar, de maneira específica e fundamentada, as provas que


pretende produzir.

5.2 _ A referida consulta eletrônica deverá ser efetuada em até 10 (dez) dias corridos, contados da
remessa eletrônica, sob pena de considerar-se automaticamente realizada no dia do término deste prazo,
conforme artigos 5º e 9º da referida Lei.

6 _ Cite-se a WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS LTDA, para integrar a relação processual e
ficar ciente desta decisão, do conteúdo do presente processo e de que, caso queira, poderá oferecer
contestação e indicar as provas que pretende produzir, no prazo de 15 (quinze) dias úteis.

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7 _ Dê-se ciência ao Ministério Público da presente decisão e do presente processo, a fim de viabilizar sua
atuação como fiscal da lei.

8 _ Juntadas as defesas, intime-se a parte autora a oferecer réplica, no prazo de 15 (quinze) dias, também
com eventual confirmação das provas requeridas na inicial.

9 _ Após, ao Ministério Público para parecer final, no prazo de 05 (cinco) dias.

IV _ DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

10 _ Defiro a gratuidade de justiça. Anote-se.

V _ DO CADASTRAMENTO DO FEITO

11 _ Atualize a Secretaria o cadastramento no PJE, com correção da classe judicial (ação civil
pública) e cadastramento do assunto COVID.

12 _ Autorizo o Senhor Diretor do Cartório Unificado a firmar em nome próprio eventuais expedientes de
comunicação da presente decisão às autoridades acima referidas, se necessário.

13 _ DOU À PRESENTE DECISÃO FORÇA DE MANDADO. CUMPRA-SE POR OFICIAL DE


JUSTIÇA E EM REGIME DE PLANTÃO.

Brasília - DF, data e horário conforme assinatura eletrônica.

HENALDO SILVA MOREIRA


Juiz de Direito

5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do Distrito Federal


Ed. Fórum Des. Joaquim de Sousa Neto, 3º andar – Lote M – Brasília – Distrito Federal
Horário de funcionamento 12h00 às 19h00

Obs: Os documentos/decisões do processo, cujas chaves de acesso estão abaixo descritas, poderão
ser acessados pelo link: https://pje.tjdft.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam (ou
pelo site do TJDFT: "www.tjdft.jus.br" > item "Processo Eletrônico - PJe" (lateral direita) > item
"Autenticação de documentos - 1ª Instância".

Documentos associados ao processo

Título Tipo Chave de acesso**


Petição Inicial - Ação Civil Pública Petição Inicial 20072119462301500000064699898
ACP - petição inicial em pdf - Oxigenoterapia
Petição 20072119462323200000064699901
Domiciliar - WHITE MARTINS
Processo administrativo Procedimento
20072119462354300000064699902
SEI_00401_00014400_2019_15-1 Investigatório
Parecer Médico - Importância da
Laudo 20072119462410400000064699904
desospitalização

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