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O ArcngoLo¢o Porrucuts 185 sejam obrigados de pagar quallquer moeda em que se obrigarem//. salulo nos dotes e casamentos e tengas e puras doagdes e mergees que nos ou as sobreditas pesoas fizermos como ja declarado teemos// E os contractos. @ quaees quer outras convencas que per liuras contra esta ordenacam forem feytas sejam néhilas ¢ defendemos aos taballyaes que as nd facam e os que as fizerem per ese feyto percam os offigios// feyta em a Qidade deuora a xiij dias de marco Martim Lopes a fez &no. de noso Senhor Jhesu Crista de j iiij‘lxxiij anos. Poy pobricada esta ordenacam pollo Senhor Bispo de Coinbra Conde darganyll aos xx dias do mes de marco de J iiij*bexiij em ho moesteyro de Sam Francisco aos procuradores dos fidalgos ¢ aos das cidades e villas que vierom aas cortes eu Afonso garges que esto escreuy ! [por mandado do ditto Senhor. Da qual ordenagam Joam Lopes de Almeida do nosso, concelho nos pedio por meres que Ihe mandassemos dar o treslado della em publica forma em hiia nossa Caria para hauer de ter ¢ Ihe ser com- prida e guardada e nos visto seu dizer 0 pedir lhe mandamos dar a ditta ordenagam toda encorporada em esta nossa carta im e pella guisa como no ditto segundo livro se conthem e porem, mandamos a to- dolos nossos Gorregedores juizes e justicas officiaes e pessoas de nossos Reynos que em todo lhe cumpram e guardem a ditta ordenacam assim © por a guisa como aqui em esta nossa carta he eseripta e decrarada sem outro algum embargo que lhe sobre ello ponham e al nom fa- eades. Dada em a nossa cidade dEuora a vinte e seis dias do mes dabril El Rey o mandou por Ruy gomes daluarenga Doutor em leis cavaleiro Conde pelatino do seu Concelho e seu chanceler mor Fernam Rodrigues por Fernam dAlmeida fidalgo da casa do ditto Senhor e escrivam da chancellaria a fes anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatro centos © outenta e tres annos]. Estagées prehistoricas dos arredores de Setubal Habitagdes. prehistoricas ao longo da costa maritima (Conttnaagio, Vid. 0 Arel. Port, 1x, 145) A bahia de Setubal, formada na reintrancia da costa entre os Cabos Espichel.e de Sines, ¢ um dos logares mais propicios para a pesca, niio ' A parte que se segue entre colehetes acha-se apenas a fis. 41 v. ¢ 42 do Livro do Regisio de Proprios do Almozarifado de Torres Novas. 186 O ARCHEOLOGO PorTuGUES , 86 pelos abrigos que the dio as suas costas ¢ a Serra da Arrabida, que a protege dos ventos predominantes do norte, mas ainda pela abundan- cia e variedade de peixes que ahi vio attrahidos quer pela qualidade de alimento, que encontram no plancton em suspensiio nas aguas do oceano, quer pelos bons comedouros existentes nas areias e lodos do fundo do mar. Para a existencia das muitas especies de peixes, que vivem na bahia de Setubal, coneorre tambem a variedade de zonas bathymetricas, que so ahi de todas as especies. Na direcg&o SO, do Cabo Espichel, e como que continuande em sentido inverso a configurac&o da Serra da Arrabida, encontra-se a zona abyssal cujo fundo orga por 1:000 metros © onde os pescadores do alto vao ha muito com os seus espinheis colher 0 peixe-lixa!. Nas proximidades da costa, ¢ em profundidades de 30 a 60 metros, vem a sardinha aos cardwmes cair tanto nas armacies fixas como nos apparelhos volantes chamados cercos de galedes. 2 Nas cabegas e baixos, tanto da costa como do estuario do Sado, vac, © varino © 0 marisqueiro apanhar os peixes ¢ molluscos, que pullulam na zona litoral de pouca profundidade. Quando © vento sopra do sudoeste, o que é frequente na estacio hibernal, e pde em tumulto furioso as ondas do oecano, nao péde o pes- cador da costa ou do alto sair do estuario Sado; mas os varinos e ma- risqueiros, mesmo dentro d'este estuario © nos esteiros © albufeiras em que se ramifica 0 estuario, continuam a colher 0 peixe e mariscos que ahi abundam. + Koi nestas profundidades abyssaes que os pescadores do alto encontraram @ especie de esponja chamada chicote do mar (Hyalonema Lusitaniea) e de que se no conheciam exemplares sento provenientes do mar do Japio. Antes de 1864, anno em que o Sr. José Vicente Barbosa du Bocage publicou sobre © chieote do mar, achado no oceano proximo de Setubal, a sua Notieia actrea da descoberta nas costus de Portugat de um zoophito da familia lyalochae- tides. Ibrandt, seguin-se'a opinitio de Edward Forbes, que, apoiado no facto de a luz solar niio passar alem de 200 metros de profiudidade no mare de hiio haver plantas abaixo de 400 metros, stppunha que os abysmos alem de 500 metros cram solidbes deshabitadas, onde as trevas ¢ as grandes pressbes no permittiam a existencia.de nenhum ser vivo. Por isso a noticia apresentada pelo Sr. Bocage impressionow tanto © mundo scientifico, que desde entie comegaram as explo- ragdes oveanographieas, que tanto tem adeantado 0 conhecimento dos phenome- nos que se passam no scio dos mares. Tambem desde 1898 8. M. El-Rei 0 Senhor D. Carlos tem feito notaveis ex- ploragies nos mares que banham as costas portuguesas, dando a conheeer melhor a fauna d'esses mares, especialmente entre 6 Cabo da Roca ¢ 0 de Sines. Quando porém 0 vento sopra do noroeste, que é habitual no esti es as aguas do mar, abrigadas pela Serra da Arrabida, apresentam-se tran- quillas como num lago, e entio 0 pescador vae afoito a -vasta bahia de Setubal colher as myriades de peixes, que, sendo actualmente expor- tados ¢ consumidos em larga eseala, constituem uma das melhores fontes de riqueza da localidade. Setubal e a piscosa Cezimbra', que siio as principaes povoagdes que ficam nas costas. d’esta bahia, devem a sua existencia e prosperidade a industria da pesca. Desde 0s tempos mais.remotos, a colheita de peixes e molluscos tem sido activa nesta bahia, cujas costas foram sempre habitadas por abun- dante populagao piscatoria. Do tempo dos Romanos ha na margem esquerda do estuario do Sado as ruinas de uma povoagio em Troia, onde se encontra grande quan- lade de pesos de redes ¢ innumeras ceturias, que segundo André de Resende? serviam para a salga de peixe. Nas proximidades de S."* Ca- tharina (Moinho Novo e Ponta da AAreia), na Sr.* da Graga, Cachofarra, Pedra Furada, Commenda ¢ Creiro, todos situados na margem direita do estuario do Sado e costa do lado do norte da bahia de Setubal, tambem te- nho encontrado muitos vestigios de cetarias ¢ numerosos fragmentos de utensilios, que pelos seus caracteres attestam o muito desenvolvimento que tinha nesta localidade a industria da pesca no tempo dos Romanos. Dos tempos prehistoricos tenho encontrado restos de habitagdes junto da costa maritima no sopé do Monte Vaqueiro proximo da Commenda, em Onutao © cm Galapos. Em todos estes logares encontrei fragmentos de louga muito grosseira trabalhada sem o auxilio da roda de oleiro, machados de pedra polida, profusa quantidade de valvas de molluscos, caseas de crustaceos, ossos de peixes, ete., objectos estes que se podem considerar como vestigios da industria humana na epoca neolithica. Os restos de peixes, que cncontrei nestas estagdes prehistoricas, pertencem quasi todos 4s especies que tem o scu habitat em zonas ba- thymetricas pouco profundas e que pouco se afastam da costa como: a dourada, o sargo, a tainha, 0 mugem, ete. Nem sempre pois seria necessario hos p adores primitivos defron- tarem as ondas, nem correrem os perigos das aventuras em mares afas- tados da costa, para poderem fazer abundante colheita de peixes, muitos dos quaes sem receio se introduziriam pelas partes mais reconditas das reintrancias do litoral ¢ albufeiras das proximidades de Setubal. ' Como the chama Camies nos Lusiadas, 111,.65, * Vid. De Anquitatibus Lusitaniae, vol. 1, pag. 188 O ARCHEOLOGO Portueuis Mesmo sem apparelhos de pesea de grande engenho, bastaria para apanhar o peixe que, depois de elle ter entrado nos esteiros com a maré enchente, se impedisse a sua saida na corrente da vasante. Eo que se faz ainda hoje na pesca de travessa, que 08 marisqueiros empregam nos esteiros do Carviio e da Troia. A travessa é wm appa- relho de estacada, isto ¢é, uma rede sem pesos nem boias, segura por meio de estacas postas no fundo do mar em linha, que atravessa a boca do esteiro. Emquanto dura o fluxo da maré, a rede esta pros- trada no fundo e deixa entrar o peixe. Logo porem que comega 0 re- flaxo da maré, os peseadores levantam a orla da rede, suspendendo-a nas estacas @ impedem assim a saida do peixe. De modo semelhante ¢ com os mais rudes apparelhos de pesca poderia 0 homem primitivo, por assim dizer instigado pelas circuns- tancias locaes, fazer larga colheita de peixes, e para mais commodidade formaria povoagdes junto da costa da bahia de Setubal e estuario do Sado onde exercia a industria da pesca. Seria talvez assim a origem das estagdes prehistoricas da Com- menda, de Outdo e de Galapos, que passamos a descrever. Estagho prehistorica da Commenda Aravil & 0 nome de uma ribeira, que depois de ter percorrido 0 valle do Picheleiro, entre as serras da Arrabida o as de Azeit&o, 8. Luis e Viso, vae langar-se no estuario do Sado junto a um aleantil da sua margem dircita, graciosamente coroado pela casa e forte de S. Jo%o, que para defesa do porto de Setubal foi edificado em 1650! na Commenda de Mouguellas pertencente 4 ordem de §. Tiago (figs. 181.* e 182.%), Proximo d’esta casa ficava a ermida de N. S.* da Ajuda, que desde 1573 até 1845? ficou sendo a egreja parochial de uma freguesia ins- tituida naquelle anno com os poves da Rasea, Ribeira de Aleube e Gralhal’, * Segundo a inserieHo lapidar que ainda existe no forte de Mouguellas. {0 ultimo baptismo que se effectuou nesta igreja foi em 1 de junho de 1845. Em 1853 a igreja foi abandonada e hoje acha-se eonvertida em adega da quinta aa Commenda, propriedade do Sr. Conde de Armand, *: ? Segundo o slivro da visitagio da ordem de Santiago da freguesia de nossa Sora da Juda cita no tormo de Setubal», que se conserva no aichivo da freguesin da Aunnneiada de Setubal, foi D. Diogo de Gouveia, Prior-mér do convento de Palmella da ordem de 8. Tiago que deu licenga aos moradores da Rasea, Ribeira de Alcube ¢ Gralhal, que residiam distante da matriz (em Palmella) «duas leguas de serras @ de mao caminho ¢ aspero ¢ no meo a ditta ribeira d'aleuber, «para se esmembraré da Matriz», Be. eer np re en SOS EE ee) Bs 10:00 ESCALA ESBOGO DA PLANTA DO TERRENO ADJACENTE A COMMENDA NA FOZ DA RIBEIRA DA AJUDA ina da agua da presa para as ectarias. a. da Aju a foz da ribeira da Rasea, O ARCHEOLOGO PortuauEs 189 Por esta cireunstancia a ribeira de Aravil tambem tomon a designa- gio de Ajuda, nome porque é mais conhecida. O valle por onde corre a ribeira, ao abrir-s da logar a um pequeno esteiro por onde ent ne estuario do Sado, © oceano na preamar. Na baixamar porém o leito do pequeno esteiro fica completamente acima do nivel do mar, bem como um pequeno delta formado junto da fox pelo deposito a areias arrastadas pela ribeira. Na margem esqnerda e no leito deste esteiro (figs. 181.4 ¢ 1 encontrei as ruinas de cetarias romanas, igual ellas destinadas & salga de peixe e molluscos par ahi encontrei muitos f ds de Troia e como exportacio. Tambem ‘agmentos de objectos da industria romana, como fragmentos de amphoras, de tegulas, de imbrices, mocdas de imperado- Big. 182.8 res do seculo rv, bem como uma infinidade de valvas de molluscos ma- rinhos, que attes m que os Romanos exploravam neste logar a pesca € conserva de peixe @ mari: Para a lavagem das cetarias ou salgadeiras os Romanos serviam-se da agua da Ponte Velha, que represavam no sitio da Presa por um dique de alvenaria, apoiado por um gigante de argamassa signina (opus Si- grinum), que ainda existe mascarado com um reboco de data muito re- cente. Da Presa a nalizag&o de argama 208. agua era conduzida para as cetar as por uma ca- ‘a signina, de que tambem ainda restam v estigios nas bases dos montes do Carvalhal e Cruz. Na margem direita da ribeira, uns 400 metros a montante das ce- tarias romanas e no sopé do monte Vaqueiro, encontrei os destrogos de wma estagdo, 0s quaes, a julgar pelos classificar de neolithicos. 1S caracteres se podem 190 O ARcHEOLOGO PortTuGuES A natureza d'estes vestigios ¢ a proximidade do estuario e bahi do Sado levam-me a crer que houve aqui um pequeno porto e povoa- gio de peseador diferente da rocha local, e este logar ps Alem de muitas pedras de substanci que provavelmente foram trazidas par: a eonstrucgao de paredes das habitagdes, havia cinzas, carvao e muitos destrogos de objectos onde se exercen a actividade do homem. D’estes destrogos « dignos de nota sio os seguintes: A) Uma serra de silex de secg%o triangular, que se acha represen- tada na fig. 183." Um instrumento ponteagudo de silex, talvez destinado a furador, fig. 184.* R) Diversos machados de pedra polida, dois dos quaes tem 0 gume muito bem afiado, como representam as figs. 185. ¢ 186.* bal Pig, 188." Fig. 184.4 Fig, 185. mail Fig. 187.4 C) Fragmentos de louga igual pelo seu fabrico 4 da Rotura. Um d’estes fragmentos conserva uma das a ma de mamillos, como se vé na fig. 187." D) Um fragmento de vaso de louga a que pelo atrito na orla se deu a forma de disco (fig. 188.*). Apesar d’este disco nfo estar perfu- rado, talvez fosse 0 esbogo.de um peso destinado a servir de volante de fuso (fusaiola) ou cossoiro, £) Vertebras e outros ossos de peixes. A maior parte d’estes ossos parecem pela sua forma pertencer 4 familia Sparidae, enjos indivi- duos pouco se afastam do litoral ¢ se alimentam de molluscos, crus- taceos e plantas marinhas. Alguns intermaxillares e dentes, que colhi, sao de grandes dimensdes e julgo serem da grande dourada (Chry- s que eram em for- ERP eee O ArcHEoLogo Porruauis 191 sophris aurata), que fei muito apreciada pelos Gregos © Romanos. Esta especie de peixes ainda hoje é colhida no estuario do Sado e lagoa de Melides. Para obter estes peixes no tinham os pescadores da antiga estacao da Commenda necessidade de sair do esteiro da Ajuda, que noutros tempos era menos assoreado do que é hoje. Bastava por qualquer meio impedir que 0 peixe saisse do esteiro com a corrente da maré vasante para se obter peixe em abundancia. Nesta estagiio no encontrei, como na Rotura, ossos de pescada, (lerluccius vulgaris) ¢ de outros peixes, que vivem em zonas profundas (zonas dos coraes com a cota bathymetrica de 70 a 500 metros) e sé podem ser colhidas com o anzol, como fariam os habitantes da Rotura que empregavam para isso anzoes de cobre da grandeza dos que hoje se usam nos espinheis. Por este motivo e ainda por nio encontrar nenhum objecto de co- bre, supponho que a estacio da Commenda nao chegou 4 epoca eome- tallica como a da Rotura. F) Grande quantidade de valvas de molluscos das mesmas especies achadas na Rotura, Alguns d’estes molluseos, como as navalhas (Solen vagina) e berbigdes (Cardium edule, L.), ainda hoje se podem colher em abundancia sob a areia do delta da Commenda e na proxima praia de Albarquel na baixa maré. @) Dois pedagos de barro cru com canaes de forma conica. Estes pedagos de barro sio os estilhagos de um banco onde viviam os mol- Iuscos chamados langueirdes ou calampanas (Pholas dactylus. L.), ma- riseo muito apetecido, que ainda hoje os marisqueiros colhem partindo 4 pieareta os bancos, que se encontram na baixamar das proximas praias de Albarquel e Rasca. Os canaes sio perpendiculares 4 super- ficie superior, que tinha 0 barro quando fazia parte do banco, super- ficie na qual se abriam os orificios por onde os pholax faziam sair os seus syfdes. Estes fragmentos de barro parecem-se 4 primeira vista com os acha- dos na lapa da Rotura de que jd fallei; porém um exame mais attento leva-me a concluir que so de origem differente. Com effeito, emquanto os canaes feitos nas estilhas de barro achadas na Commenda sio conicos e perpendiculares 4 superficie lisa do barro, nos fragmentos achados na Rotura so cylindricos ¢ parallelos 4 superficie, que tinha 0 barro antes de ser partido. Alem d'isto nos fragmentos achados na Rotura a superficie plana foi alisada com as miios, como se deprehende dos ves- tigios deixados pelos dedos, 0 que niio suecede com os estilhagos achados na Commenda, que so de um producto perfeitamente natural. 18 192 O ArcuroLogo Porrucuss s stagdes de Outdo e Galapos Quem de Setubal quiser fazer uma excursio 4 Arrabida pela mar- gem do Sado segue a pittoresca estrada macadamizada de Outio, que passa pela Commenda ¢ praia da Ras Esta estrada termina em Outio, ¢ ¢ pena, pois que, se continuasse para o portinho da Arrabida, onde ha uma pequena poyoagie de pes- eadores, poderiamos com facilidade reyelar tanto aos nacionaes como aos estrangeiros um dos pontos, onde no pais 0 bello se manifesta da maneira mais impressionante. Para continuar 0 itinerario para ‘a Arrabida ha dois caminhos: um mandado construir a meia encosta da serra pelos frades da Arrabida, © outro é wma estreita ¢ tortuosa vereda por onde é preciso ora trepar pelos rochedos, que se debrugam sobre deseer até 4 al- vissima areia da praia. tie Pig. 189." Fig. 190.8 Pig. 19,8 ondas, or: Seguindo por esta vereda uns 400 metros alem de Outi, fiea-nos do lado direito a lapa dos Morcegos, formada pelo afastamento de duas camadas do calcareo jurassico, ¢ onde os pastores da serra costumam afilhar o gado. Em diferentes pontos nas proximidades (esta lapa achei, aflorando uperficie da terra, diferentes vestigios da industria humana, taes como: fragmentos de louga grosseira de barro, mal escolhido e nao afeigoado com o auxilio da roda de oleiro, fragmentos de machados de pedra polida, cascas de molluscos, ete., os quaes pela sua natur fabrico julgo serem da epoca neolithica. Continuando pela yereda, e depois de passar junto de diversas grutas ainda nao exploradas uns 2:000 metros alem de Outio, a costa deixa se uma praiasinha chamada de Galapos, pro- ximo da qual ha uma locanda construida recentemente e onde se ven- dem generos para consume dos habitantes do Portinho. a ae de ser escarpada e depa O ArcHEoLoce Porrugubs 193 Para a consiruegio Weste easal foi preciso explorar uma pedreira de calcareo miocenico que esti proxima, ¢ na occasido da exploracdo foram encontrados, entre os entulhos que preenchiam as eavidades da rocha, grande quantidade de cascas de molluscos das mesmas especies que encontrei na Rotura, cascas de crustaceos, principalmente do cir- ropode chamado yulgarmente craca (Balanus tintinnabulum. L.), wn machado de, pedra (fig. 189.) com 0 gume muito afiado-¢ fragmentos de grandes potes, feitos sem 0 auxilio de roda de oleiro com a grossura de 0",02, ¢ de barro t&o mal escolhido que se encontram no sen inte- rior pedagos de quartzo da grandeza de grios de milho. Julgo que estes potes cram destinados & salga ¢ conser peixe e molluseos. Tambem foram achados diversos dentes de javardo, um dos quaes foi cortado transversalmente talvez com destino a amuleto (fig. 190.*), e uma valva perfurada (fig. 191.4) talvez para servir de Incerna. (Continéia). fo de A, I. Marques pa Cosra. Mudanga do nivel do Oceano! 8. Cabo de Espichel No Boletim da Sociedade Geologica de Franga publicou o Sr. G. Dollfus e 0 signatario d’estas linhas um artigo sobre arcias congluti- nadas em grés rijo, com conchas marinhas actuaes,—que se acham na escarpa de N.* S.* dos Navegantes e tambem ao pé do semapho- rieo do Cabo do Espichel?. Os pontos onde as conchas foram colhidas acham-se a 6, 15, 62 e 70 metros acima do nivel actual do Oceano. Ellas apparecem geralmente partidas, como acontece nas praias ; as que estiio em estado de conservagio que permitta determinagao certa sdo naturalmente mais raras nos niveis superiores que nos infe- Tiores, visto a erosio ter-se exercido durante mais tempo nos jazigos que esto mais altos. * Veja-se O Arch. Port, vol. 11, p. 801,—convite para se enviarem para este periodico elementos referentes a este assunto; © 02° artigo, vol. ay, p: 62. ? «Quelques cordons littoraux marins du Pleistocéne du Portugal», in Bol. Soe. Géol. France, tomo rv, 1904, pp. 739-752. —Reprodurido nas Communicagdes da Commissiio do Servigo Geologico, tomo vi.

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