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Os ni is de estrégeno comegam a se clevar na puberdade, a partir da qual ha variagio ciclica. Os ciclos persistem duran- t€ 0 periodo reprodutivo, exceto na gravider, quando o nivel de estrégeno cleva-se abruptamente, voltando a normalizar- se no puerpério, assim que recomecam as ciclos menstruais. O periodo de transigao entre a fase de menstruagio regular ea completa cessagao de menstruagio chama-se perimenopausa, ‘que antecede em cinco a sete anos a menopausa. Na meno- pausa, a terapia hormonal pode restaurar os niveis de estré- geno, equiparando-os aos dos anos reprodutivos (Figura 6) (STAHL, 2008). Foi descrito por Stahl (2001) que ha maior probabilidade para a depressdo ferminina na medida em que se acentuam os- cilagbes nos niveis do estrégeno ao longo da vida, a partir da ‘menarca, Risco aumentado de depressio também é observado quando ocorre sitbita elevagao dos niveis de estrégeno na gra- vider, seguida por acentuada queda no puerpério, Subsequen- temente, hd um periodo critico para inicio ou recorréncia de episédios depressivos associados & infertilidade, & ocorréncia De Depresta & Dis Secale Vee Virsa) Esnigere | ° Pram Figura 6 - Nivels de estrogeno variam drasticamente ao longo do ciclo de vida da mulher, de acordo com os eventos reprodutivos. TRH = terapia de ‘eposigéo hormonal (adaptada de STAHL, 2008), de abortos ou de perdas perinarais. A iiltima etapa de risco aumentado € 0 perfodo perimenopausal, quando os niveis de estrdgeno oscilam, declinando gradualmente. Histétia fami- liar de depresso ou episddios pessoais prévios, relacionamen. tos conflituosos, gravider nao desejada e estressotes recentes predispoem & depressio 20% das gestantes (KITAMURA et «al, 1993). Esses mesmos fatores de risco aumentam as chances de depressio pés-parto, que acomete entre 10% ¢ 15% das puérperas (WITTCHEN et al., 2002). Aquelas que ao lo da vida tiveram transtorno disfé pré-menstrual, depressio gestacional e/ou puerperal tém risco aumentado de depres- sd na menopausa (FREEMAN er al, 2004; ABDO et aly 1997; STEWART; BOYDELL, 1993). ” Por outro lado, a incidéncia de depressio € basicamente constante nos homens, durante a vida, aps a puberdade, € os niveis de testosterona declinam suavemente depois dos 30 anos. Nao se identifica ncles relacio tio estreita entre depressio © nf- veis hormonais. Associagio entre periodos de oscilagio hormonal intensa € maior prevaléncia/exacerbacao de doenga psiquidtrica foi apon- tada por Soares, Poitras e Prouty (2003), que destacaram a ocor- réncia de disforia pré-menstrual, depressio puerperal ¢ sintomas depressivos durante a perimenopausa, Esses autores fetomaram a hipdtese de que os esteroides sexuais, tais como os estrdgenos, a progesterona, a testosterona e a deidroepiandrosterona (DHEA), desempenham papel importante na modulagio do funcionamen- to cerebral, provavelmente pelas interagies com os varios sistemas ncurotransmissores. Alteracio abrupta nos nfveis desses hormé- nios interferiria no humor no comportamento. Dados de estu- dos sugerem que intervengées hormonais também podem promo- ver alivio ou mesmo remissio de sintomas depressivos (SOARES: POITRAS; PROUTY, 2003). Entretanto, esse nio deve ser 0 tra- tamento eleito para quadros depressivos femininos, especialmen- te em casos moderados e graves. A depressdo requer tratamento antidepressivo sistematizado, uma vez feito 0 diagndstico. A siibita ocorréncia de altos niveis de estrégeno na puberdade altera a sensitividade dos sistemas neurotransmissores. Além disso, a oscilagio constante de niveis de estrdgeno ¢ progesterona durante ‘0s anos reprodutivos da mulher provoca modificagbes constantes De Diprei & Dasfo Ss esses sistemas neurotransmissores, Essa atividade ou sensitividade alterada pode causar sindromes pré-menstruais, A vulnerabilidade aumentada & depressio durante a gravider ¢ o parto seria atribui- da is enormes mudancas nos niveis de estrigeno ¢ progesterona, somadas & supressio significativa no eixo hipotdlamo-hipéfise adrenal. Na menopausa, os niveis de estrégeno diminuem pa- ralelamente ao aumento do horménio lutcinizante (LH) ¢ do horménio foliculo-estimulante (FSH). Desordens de humor na mulher perimenopdusica mais vulnerivel podem ser desencadea das pela perda dos efeitos moduladores do estrigeno e da pro- Besterona. A associacio entre a eclosio de episédios depressivos © ciclo reprodutivo da mulher est esquematizada na figuta 7 i Period reprodutivo 1 a | eccrine tail $388 8 3 © earstoin isto pré-menstnel | © deposi duane a gravider | © dss opin © vvpressio associa ainfrtcade, abr ou pera purine © deessio no period permenopaisal Figura 7 — Depressao ao longo do ciclo reprodutivo da mulher (adaptada de STEINER, 2008). 76 A itvitabilidade, 0 choro, a ansiedade, 0 humor depressive ¢ libil, a falea de motivagio e de energia, a pouca concentrasio ¢ © sono intertompido slo sintomas prevalentes de depressio na perimenopausa. Revisando resultados de varios estudos, Steiner, Dunn e Born (2003) concluiram que os “calores” noturnos pro- ‘yocam um sono cronicamente alterado, levando a ietitabilidade, ansiedade ¢ disforia. Alm disso, reconheceram que o padrio dos eventos neuroenddctinos relacionados a0 processo repro- dutivo feminino & dependente das mudangas, provavelmente por sensibilidade feminina aos fatores psicossociais, ambientais ¢ fisiol6gicos. Auribui-se aos sintomas vasomotores a responsabilidade pelo mecanismo desencadeador de sintomas depressivos perimeno- pausais: a diminuigio do estrégeno provocaria fogachos, que, por sua ver, levariam & insOnia e, consequentemente, a sin- tomas depressivos perimenopausais, somando-se & causalidade decorrente da diminuigao estrogénica (COHEN, 2004) No climatério ¢ especialmente na menopausa, esses sinto~ mas se sobrepoem aos proprios dessa fase da vida da mulher, mascarando muitas vezes a depressao (Figura 8). © Harvard Study of Moods and Cycles (HARLOW et al., 2003) identificou que mulheres com histético de depressio haviam tido menarca mais precoce, menor niimero de filhos, maior indice de massa corpérea no inicio do estudo, con- flitos conjugais e maior probabilidade de serem tabagistas. Considerando-se uma possivel associagao entre transtorno a Dees a Disfimgio Saal Vie-Vona) Alteragies Depressao do humor Sintomas ‘nedonia ord de enargia | # Menopausa isteza Détict de concentragio Fogachos Falta deesperanga Diminuigdo dado gudrasenaturna | lagi sucan Marto depo) Sr ag Distros do sono _/ eee _______] igura 8 — Sobreposicao de sinlomas de depresséo e de menopausa(adap- {ada de JOFFE etal, 2003; SOARES ef al, 2008), depressive maior ¢ decli © precoce da fungao ovariana, ou Sela, uma transigao antecipada para a perimenopausa, aven- tou-se a possibilidade de essas mulheres estarem expostas por ‘mais tempo a um estado hipoestrogénico, com perda'da den. sidade dssea, disfungao xual, comprometimento da fun so cognitiva e risco aumentado para doenga cardiovascular. Analisadas essas virias condig6es, concluiu-se que mulheres Com histérico de transtorno depressivo maior foram expostas m sendo asso. 4 um maior periodo perimenopausal, 0 que iado A maior vulnerabilidade para novo episédio depressivo 7 | Aaa ON imi iitteRitciesiscsatsc bisa Valotizando a associagéo entre depressio e deficitncia estro ics Steiner 2004) sistematizou resultados de alguns est dos recentes: * modifcagoes induridas pela imipramina no receptor 5-H'T «la seroronina dependem da presenga de estrigeno: * extrdgeno pode melhorar o estado psicoligico de mulhe- Fes p6s-menopausadas; * ssurigeno apresentou efeito semelhante ao antidepressivo (AD) em teste de natasao forcada; * estrdgeno oral conjugado em altas doses promoveu re- lusao de sintomas em mulheres deprimidas resistentes 40 tratamentos + adepressio © 0 nio uso de terapia de reposigao strogénica sao farores de risco para doenga de Alzheimer Fsse autor se referiu a outros estudos recentes, relatando que, em mulheres com menopausa cirurgicamente induzida, 3 terapia de reposicao hormonal (TRH) melhora o humor ¢ o fancionamento cogs nopausica, fatores psicossociais, culturais ¢ ‘elacionais também tém importincia na disponibilidade femi- nina para lidar com as alteragSes biolbgicas préprias dessa cta- Pa, notadamente © envelhecimento © as oscilagées hormonais (ABDO; FLEURY, 2005), © bem-estar fsico © sade mental, mais que a condigio ‘menopéusica, sio extremamente importantes para a ercepeao 7% Dia Dapreste 2 Dif Soa (Vs) da intimidade sexual dessa populagao (BERMAN ef al., 1999; NAPPI et al,, 2002) A histria prévia de cada mulher define sua percepgio do com- portamento sexual. Aquelas que valorizaram a atividade sexual, quando mais jovens, tendem a manter essa qualidade. Algumas inclusive aumentam o interesse pelo sexo na perimenopausa (PENTEADO et al., 2000; FRACKIEWICZ; CUTLER, 2000). Resultados de estudos populacionais como 0 Melbourne Women Midlife Health Project confirmam a asso ptometimento da fungio sexual fe ina e meia-idade, atribuin. do as mudangas hormonais apenas um papel parcial no impacto multfatorial sobre a sexualidade. Relacionam-se, entre os fatores pre- senga de sintomas desconfortiveis, 0 bem-cstar geral, o estresse predisponentes, 0 nivel prévio de funcionamento sexual a presenca/qualidade do relacionamento sexual com o parceiro (DENNERSTEIN, 2003). Com as evidéncias de que perimenopausa é um periodo em que as mulheres podem estar potencialmente mais vulnersveis a episddios de humor e disfungdes sexuais, torna-se portante a atengio dos profissionais da satide aos primeiros indicios de preo- cupagdes relacionada ssas duas condigdes, muito frequente ‘mente apresentadas como queixas sexuais. Recomenda-se uma avaliagio ampla, envolvendo aspectos bioldgicos, psicoligicos, relacionais ¢ de condigdes sociais potencialmente relevantes, bilizando a participagao da propria mulher no desenvolvimento de habilidades adequadas a essa etapa da vida (ROMM, 2003). 0

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