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Ciho FlaMagion S Anrso A “brecha camponesa” : : a Pp no Brasil: realidades, Break ov G man interpretacdes O fur OMesinte Milo MS Ant Ras e polémicas SC. Brssritest, 7. ‘A“brecha camponesa” no Brasil Ailuz de fontes primirias ¢ estudos recentes E muito dificil redigir uma sintese relativa ao nosso tema, no tocante ao caso brasileiro, devido a que o estado atual dos conhecimentos lembra mais o que vimos para o Caribe espanhol do que o mencio- nado para o Sul dos Estados Unidos ou o Caribe britanico e francés: isto é, apresenta um carater fragmentério e notérias insuficiéncias. Sendo assi preferiremos passar em revista uma amostra signi cativa da documentagio disponivel e/ou dos comen- tarios dos pesquisadores sobre a mesma, antes de arriscar algumas conclusoes ¢ interpretacdes — que sero influenciadas, também, pelo que se viu no ca- pitulo precedente. Jacob Gorender mostra que os portugueses em- | Pregavam j4 o sistema de conceder parcelas de terra, | aosescravos, antes mesmo da colonizagao do Brasil, na ilha de Séo Tomé. Nada mais natural, entio, do que a transferéncia desse costume A nova area colo- nial, que, por sua vez, foi foco de sua difusiio ao 2 CIRO FLAMARION S. CARDOSO Caribe — donde a designagao comum de “sistema do Brasil”. Em 1663, as instrugdes a um administrador de uma fazenda de Pernambuco mencionavam a pre- senga dos lotes cultivados por escravos.* Algumas décadas depois, em 1700, escrevia 0 jesuita Benei:? “..,eu nao condeno (antes louvo muito) o costume, que praticam senhores neste Brasil, os quais achando grand dade em dar o sustento aos escravos, que os s¢ das portas a fora nas la- vyouras dos Engenhos, thes dao em cada semana um dia, em que possam plantar e fazer seus manti- mentos, com os quais os que se néo dio a preguiga tém com que passar a vida”. © que o autor condenava era que o tempo con- cedido aos escravos para produzir mantimentos coineidisse com os domingos e dias santos. No con- junto, isto significava quase noventa dias por ano de tempo livre para atividades auténomas — pelo me- nos teoricamente, dependendo de que 0 acesso dos escravos a tal tempo livre fosse respeitado. ‘A posicdo da Coroa Portuguesa da Igreja diante do sistema do Brasil era ambigua. Por um lado, de inicio tenderam a querer forcar os senhores a que alimentassem diretamente os cativos, argu- mentando ser sua obrigacao e, também, constituir uma crueldade querer que 0s negros continuassem

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